1450 - um ho_mem in_comum -j h

Upload: suelen3

Post on 05-Apr-2018

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 7/31/2019 1450 - Um Ho_mem In_comum -J H

    1/96

    Julia Histricos 1450

    Um homem incomum

    (To tease a Texan)

    Georgina Gentry

    Digitalizadora:NiaRevisora:Mel

    Oklahoma, E.U.A., 1890...Uma mulher especial... e uma paixo explosiva!Caroline sabe cuidar de si mesma... mas tomar conta de outras pessoas algo que no pode se dar ao

    luxo de fazer. No entanto, quando v um homem, atraente e sedutor, sendo roubado no jogo, ela decide fazer-lheum favor.

    1

  • 7/31/2019 1450 - Um Ho_mem In_comum -J H

    2/96

    Exatamente quando Lawrence resolve querer uma revanche nas cartas, uma garonete desastradaderruba cerveja no seu colo. Ela mesma foi culpada por perder o emprego, e ele espera no v-la mais muitomenos num assalto a banco e menos ainda, casada com ele. Unir-se a uma jovem bonita e de esprito livre est serevelando uma situao complicada e perigosa. O mundo parece no ser suficiente para ambos mas talvez o amorseja!

    Sobre a autora:Georgina Gentry considerada uma das melhores escritoras americanas da atualidade.

    Seus livros, amplamente elogiados pelas tramas envolventes e pelas descries ricas em detalhes; lherenderam vrios prmios, e ela participa d e conferncias e seminrios sobre a arte de escreverromances.

    "Irreverente, dinmico e sensual... Um Homem lncomum o romance mais delicioso destatemporada!"

    - Romantic Times

    "Um Homem lncomum rene uma herona audaciosa, um homem maravilhoso sem um

    centavo no bolso, falsas identidades e o estilo cativante caracterstico de Georgina Gentry."- Access My Library

    "O romance, a aventura e a caracterizao dos personagens fazem deste livro uma leituragratificante."

    - Harriet Klausner

    Querida leitora, uma alegria saber que este romance delicioso vai chegar s suas mos e ao seu

    corao! Uma herona corajosa e um homem lindo de morrer se envolvem numa aventurainesquecvel e vivem uma gloriosa paixo!

    Leonice Pomponio Editora

    Copyright 2006 by Lynne Murphy Originalmente publicado em 2006 pela Kensington Publishing Corp.PUBLICADO SOB ACORDO COM KENSINGTON PUBLISHING CORP. NY, NY - USA Todos os direitos reservados.Todos os personagens desta obra so fictcios. Qualquer semelhana com pessoas vivas ou moitas ter sido meracoincidncia.TTULO ORIGINAL: To Tease a TexanEDITORA Leonice Pomponio

    ASSISTENTE EDITORIAL Patricia ChavesEDIO/TEXTO Traduo: Claudia Gerpe Duarte Copidesque: Fbio Maximiliano Reviso: Luiz Chamadoira

    ARTE Mnica MaldonadoILUSTRAO Thomas SchlckMARKETING/COMERCIAL Silvia Campos

    PRODUO GRFICA Snia SassiPAGINAO Dany Editora Ltda. 2007 Editora Nova Cultural Ltda.Rua Paes Leme, 524 - 10e andar - CEP 05424-010 - So Paulo - SPwww.novacultural.com.brPremedia, impresso e acabamento: RR Donnelley Moore

    2

    http://www.novacultural.com.br/http://www.novacultural.com.br/
  • 7/31/2019 1450 - Um Ho_mem In_comum -J H

    3/96

    Captulo I

    Last Chance Saloon, territrio de Oklahoma, Abril de 1890

    Estavam roubando o caubi na mesa de pquer naquela noite. O homem deve sercego ou ento est muito embriagado para no ver Snake Hudson pegando as cartasdebaixo da mesa. Caroline sentia-se quase nua no diminuto vestido azul quando parou pertoda mesa, com a bandeja na mo. Dixe, uma das moas do bar, postara-se atrs do caubi, e,enquanto observava as cartas dele, fazia sinais com as mos para Snake, seu mais recenteamante.

    Caroline hesitou. No era da sua conta que aquele jogador estivesse sendoenganado; afinal, ele era um homem alto, de cabelos castanhos, adulto. Alm do mais, elaprecisava do emprego.

    Ei, garota chamou Snake! No vai servir as bebidas antes que a gente morrade sede?

    Neste minuto. Caroline comeou a colocar bebidas na mesa, e o caubi sorriupara ela. Canhota como eu afirmou ele, em um tom arrastado. Tambm sou texana replicou Caroline, reconhecendo o sotaque do homem.Snake bebericou o usque e deu um sorriso afetado.Full house. Sinto muito, caubi, mas acho que voc perdeu de novo disse

    Snake, estendendo a mo para pegar o dinheiro. Que tal outra partida, Larado? Quemsabe sua sorte muda. Caroline continuou a servir bebidas.

    No sei, Snake replicou Larado. Voc acaba de me limpar. S mais uma rodada insistiu Snake. Talvez voc consiga recuperar tudo.O caubi hesitou, e Caroline prendeu a respirao. Tudo o que me resta o meu cavalo, a sela e o relgio de ouro disse Larado,

    olhando para o relgio como se tentasse tomar uma deciso. Ora, por que no arriscar? pressionou Dixie. Larado ainda hesitava. No sei se deveria.No posso deixar que ele perca o relgio. Sem pensar duas vezes, Caroline derrubou

    um copo de cerveja no colo do caubi. Oh, sinto muito!Larado levantou-se cambaleando e limpando as mos na cala. Acho que vou parar por esta noite declarou ele, colocando o relgio de volta no

    bolso e saindo do bar. Droga! rugiu Snake. Eu deveria demiti-la por isso! Eu foi um acidente replicou Caroline, pondo de lado a bandeja e seguindo o

    caubi at a calada. Ei, voc! gritou Caroline para o texano. Precisa ficar fora delugares como o Last Chance!

    Ora, ora, doura disse Larado, reconhecendo-a. Se voc pretende derramarcerveja em mim sempre que eu entrar l, talvez seja o melhor que tenho a fazer.

    Apenas tentei evitar que voc se metesse em confuso. Larado apoiou-se na cercade uma varanda e soluou.

    Acho que consigo cuidar de mim, doura declarou, dando-lhe uma palmadanas ndegas.

    3

  • 7/31/2019 1450 - Um Ho_mem In_comum -J H

    4/96

    No faa isso. E no me chame de "doura"! Muito bem. Voc tem um nome? Eu me chamo Larado. Larado de qu?_Doura comentou ele sorrindo , como voc texana, deveria saber que no

    educado fazer perguntas demais a um desconhecido. Qual o seu sobrenome?Ah....Smithrespondeu Caroline, estendendo a mo. Como era uma fugitiva, no

    seria inteligente da sua parte fornecer ao caubi o seu nome completo. Muito bem, Caroline, querida... Gosto de morenas altas e bonitas. H outras

    assim na sua casa? Tenho uma gmea especular respondeu sem pensar. Tem o qu? Quero dizer, tenho uma covinha do lado esquerdo, ela tem uma do lado direito.

    Sou canhota... E sua irm destra. Entendi. Bem, que tal irmos para o seu quarto? Eu apenas sirvo as mesas aqui, mais nada replicou Caroline, tentando soltar a

    mo que Larado segurava. De qualquer modo, no tenho dinheiro. Voc aceitaria um relgio de ouro? Quer que eu derrame outra cerveja em voc? perguntou Caroline, sacudindo a

    mo e conseguindo soltar-se. Agora, v curar essa bebedeira em algum lugar. Acho que talvez tenha bebido um pouco demais. Um pouco? Voc devia estar cego para no ver as cartas marcadas naquele jogo.Larado tropeou e sentou-se pesadamente na beirada da calada. Ora, Snake parecia um hombrebem cordial. No seja tolo. Ele roubaria o ltimo biscoito de um mendigo doente. Caubi,

    garanto que melhor ficar longe daqui. Cheguei na cidade com um rebanho h alguns dias, mas agora os animais foram

    vendidos, e ainda no encontrei outro emprego. Achei que poderia ganhar o suficiente nojogo para pagar o transporte do meu cavalo e a minha passagem de volta para o Texas.

    Ento est no lugar errado, companheiro. Jamais ganhar alguma coisa jogandono Last Chance.

    Bem... Talvez eu deva voltar l e exigir meu dinheiro de volta.Caroline balanou a cabea. Eu no faria isso se fosse voc. No tem idia de como os rapazes do Last Chance

    podem ser dures. Sei cuidar de mim mesmo, doura... Ele tentou se levantar, mas tropeou e

    apoiou-se no brao de Caroline para se firmar. Est com frio? perguntou ao tocar nobrao dela.

    Claro que estou! replicou a jovem, afastando-se dele. Tenho que voltar parao bar. Esto gritando o meu nome l dentro. Agora v embora e tente dormir. Talvez

    amanh voc consiga um trabalho.Larado balanou a cabea. Impossvel. J tentei. Acho que terei que voltar a cavalo para o Texas. Boa idia. E aceite o meu conselho. Fique longe das mesas de pquer quando

    estiver embriagado declarou Caroline, virando-se e entrando no bar.Caroline entrou correndo no bar barulhento e enfumaado. Viu Joe, o proprietrio,

    de cara feia ao lado da mesa de pquer, com um charuto entre os dentes. Caroline, onde voc estava?

    4

  • 7/31/2019 1450 - Um Ho_mem In_comum -J H

    5/96

    L fora. Snake me disse que voc o fez perder um homem que ele estava prestes a

    depenar. Derrubei, sem querer, uma bebida no colo do caubi replicou Caroline com

    calma, pois precisava do emprego. No acredite nela afirmou a prostituta Dixie, sentando-se na mesa. O relgio

    era de muito boa qualidade. Caroline disse Joe , voc uma pssima garonete. Se fizer outra bobagem,

    est demitida. Mas, Joe... Voc me ouviu declarou Joe, enquanto ia para o outro lado da sala.Dixie comeou a afastar-se da mesa, mas Caroline a alcanou. Voc estava

    ajudando Snake a passar a perna naquele caubi! E da? Aquele texano adulto. De qualquer modo, o que voc tem a ver com isso?Caroline segurou o brao de Dixie. Eu deveria lhe dar um tapa. Faa isso, e puxarei os seus lindos cachos castanhos. J lhe contei que uma vez

    briguei com a sua irm?Caroline esqueceu tudo o mais. Conhece a minha irm? Conheo. Acho que no acredito em voc. Para mim tanto faz que voc acredite ou no. Ela se chama Lacey, e afetada e

    puritana. Jamais trabalharia em um bar.Tratava-se sem dvida de sua irm gmea. Onde? No quero mais conversa com voc! Dixie comeou a se afastar.Dixie, diga-me onde a viu! Caroline correu atrs da colega e segurou-lhe o

    brao. Solte-me, sua idiota! exclamou Dixie, virando-se para dar um tapa em

    Caroline. Esta deu um passo atrs, mas Dixie avanou novamente. Caroline era uma jovemdo Texas, e sabia brigar muito bem. Enterrou os dedos no cabelo descolorido da prostituta epuxou-o com fora.

    Briga! Briga! o grito ecoou pelo salo superlotado, e todos os homensaproximaram-se correndo.

    Caroline esqueceu que precisava do emprego e s pensou em bater em Dixie. Foramprimeiro de encontro ao piano e depois caram sobre uma mesa de bilhar.

    Nate, o barman, aproximou-se correndo e tentou segur-las, mas Caroline deu-lheum soco no olho.

    Parem, o chefe est chegando! algum avisou; mas Caroline encontrava-se porcima da outra, e continuava a puxar-lhe o cabelo.Joe aproximou-se, agarrou as duas jovens pelo brao e as colocou em p. O que est acontecendo? Ela comeou lamentou-se Dixie. S estava me defendendo! Caroline protestou. E verdade confirmou a assistncia. Joe tirou o charuto da boca e franziu o

    cenho.

    5

  • 7/31/2019 1450 - Um Ho_mem In_comum -J H

    6/96

    Caroline, eu avisei! Eu sei disso, mas sou texana, e o pobre caubi do Texas estava sendo lesado... E da? Vocs o depenaram protestou Caroline.Joe olhou para a jovem e suspirou, como se estivesse falando com uma criana. isso que fazemos no Last Chance, tiramos o dinheiro das pessoas, voc no

    sabia? E voc est demitida. Quero-a fora daqui pela manh! declarou Joe, dando meia-volta e marchando para o seu escritrio.

    Cus, o que deu em mim ? Fui demitida por causa de um caubi embriagado e semum tosto. De cabea erguida, Caroline dirigiu-se ao seu quarto. O que iria fazer agora?

    Verdade que experimentara certa satisfao ao puxar o cabelo amarelo desbotado deDixie, mas isso no pagaria suas contas. Poderia mandar um telegrama para o tio Tracepedindo dinheiro, mas era orgulhosa demais para isso. Alm do mais, tia Cimarron viriaatrs dela e a levaria de volta para a fazenda. Fora criada pelos tios desde que seus paistinham sido mortos e seu av rico chegara concluso de que no seria capaz de cuidar dasgmeas. Caroline j estava fugindo havia uns dois anos. Tinha vontade de saber onde Dixieteria topado com Lacey. A ltima coisa que soubera era que Lacey estava de casamentomarcado com aquele modelo de virtude, Homer no-sabia-de-qu. quela altura, Laceycertamente j deveria ter um beb perfeito. Bem, Caroline seguiria adiante, como semprefazia. Era mais fcil do que enfrentar as prprias imperfeies.

    Sentou-se na cama e ficou ouvindo a msica e os risos do andar inferior. Para ondeiria agora? A sua importante famlia de fazendeiros ficaria no mnimo aborrecida sesoubesse que trabalhara em um bar. Alis, estavam aborrecidos com ela desde queabandonara a escola sofisticada da srta. Priddy, em Boston, enquanto Lacey formou-se comdistino.

    Pensou no texano. Que audcia a dele dar-lhe uma palmada nas ndegas! E pensarque ainda quisera comprar uma noite com ela com um relgio de ouro. Jamais se deitaracom um homem, e um caubi bbado e sem um tosto no ia ser o primeiro.

    Caroline soprou a chama da luminria e se deitou. No dia seguinte pensaria no quefazer. Tinha saudade de casa, mas no poderia voltar para l. Enquanto perdia aconscincia, perguntou-se o que teria acontecido com o caubi.

    Ao amanhecer do dia seguinte, Larado estava sentado diante de uma pequenafogueira, tomando o que restava do caf e curando sua ressaca. Decidira ir para o sul, a fimde arranjar um emprego temporrio conduzindo gado. O seu verdadeiro sonho era ser donode um pedao de terra, mas no via como poderia um dia conseguir isso.

    Ele ouviu um barulho e virou a cabea. Na luz fraca do amanhecer, por um instanteno teve certeza de quem montava o cavalo que estava sua frente, mas logo reconheceuSnake.

    Posso me sentar? gritou o homem.

    Claro replicou Larado. Estava com uma forte dor de cabea devido bebida davspera, mas um texano era sempre hospitaleiro, -- Quer um pouco de caf? Tem outra xcara?Larado assentiu com a cabea e serviu uma xcara para Snake. Nada como uma bebida quente em uma manh fria como esta comentou

    Snake, dando um gole no caf. Vocs, texanos, sempre fazem o caf forte assim? Sempre respondeu Larado, olhando para a cicatriz vermelha na testa de Snake.

    6

  • 7/31/2019 1450 - Um Ho_mem In_comum -J H

    7/96

    Est imaginando como obtive esta marca, no mesmo? Larado sentiu o rostoficar vermelho.

    No, amigo. No me importo. Parece uma cobra, no mesmo? H muito tempo entrei em

    uma briga de chicote com outro sujeito. Desde ento, aprendi a usar a pistola; mais seguropara mim. Larado riu, mas Snake ficou quieto.

    Oua, texano. Snake bebericou novamente o caf. Eu me senti mal porontem noite percebi que voc deixou a mesa quase liso.

    Essas coisas acontecem quando se joga pquer retrucou Larado, enrolando umcigarro. No estou ressentido porque perdi.

    Talvez eu possa compens-lo um pouco. Tenho um negcio em andamento etalvez possa inclu-lo nele, pois o meu ltimo parceiro morreu em uma briga de faca.

    Mesmo? No creio... Escute o que tenho a dizer. H um banco gordo nesta cidade, quase to gordo

    quanto o dono. Voc no faz idia de quanto dinheiro os bares depositam l. Ah... Larado balanou a cabea. Nunca fiz nada muito errado. No quero ir

    parar na priso. Voc tem dinheiro para voltar para o Texas? No, tudo o que me resta so meu relgio e meu cavalo. Oua Snake inclinou-se na direo de Larado , roubar esse banco seria uma

    brincadeira de criana. O xerife est fora da cidade, e o banco a essa hora ainda estfechado.

    Como pretende entrar? Explodindo o banco? Snake cuspiu na fogueira. Uma exploso chamaria muita ateno. Tenho observado o local, e verifiquei que

    o banqueiro gorducho examina o caixa os livros de manh bem cedo, antes de o banco abrir.Larado voltou a balanar a cabea. No sou ladro e gostaria de viver um pouco mais. Nunca ouvi falar em um texano covarde declarou Snake.

    E melhor no dizer isso, meu caro. Um texano no foge da luta. No tive a inteno de ofender. Voc poderia ir comigo at l e ver o que acha. No sou assaltante de bancos e, para ser totalmente sincero, no sou muito bom

    com um revlver. Ei, caubi. No estou pedindo para voc atirar em algum. S quero que me ajude

    a carregar os sacos de dinheiro, porque devem ser pesados. Bem pesados Larado comentou. Apenas venha comigo e caminhe pelo banco para que eu possa examin-lo

    insistiu Snake.Talvez voc me d algumas idias a respeito do que devo fazer quandoconseguir um parceiro. Voc parece um hombre esperto.

    No tenho muito estudo, mas a minha me me ensinou a ler.

    Reconheo um hombre inteligente quando vejo um disse Snake, sorrindo. Por isso quero o seu conselho. Eu pagaria uma guia de ouro para descobrir o que vocpensa.

    Larado tragou a fumaa do cigarro e contemplou o fogo. Uma moeda de ouro devinte dlares era muito dinheiro para um caubi duro.

    Tudo que terei que fazer examinar o banco e lhe dar a minha opinio? Parecefcil. Mas ainda no vi a cor do seu dinheiro.

    7

  • 7/31/2019 1450 - Um Ho_mem In_comum -J H

    8/96

    Muito justo. Voc mesmo esperto, caubi declarou Snake, pegando umamoeda e atirando-a na direo de Larado. Ele agarrou a moeda e a ficou observando.

    No tem medo de que eu fuja com este dinheiro? Dizem que os texanos so muito honrados. Isso l verdade! Larado no gostava nem um pouco daquilo, mas precisava

    demais do dinheiro. Muito bem, irei com voc e darei uma olhada no banco. Mas no vouassalt-lo com voc.

    Claro, claro. Mas vamos logo, enquanto cedo e quase no h ningum nas ruas.Larado colocou a moeda de ouro no colete, jogou o cigarro na fogueira e se levantou. Vou selar Chico disse, comeando a assobiar sua msica predileta. Odeio essa msica resmungou Snake. Larado parou de assobiar e comentou: Ontem noite tive muita vontade de ter uma moeda de ouro de vinte dlares.

    Acho que seria quanto teria que pagar por aquela garota. Dixie? perguntou Snake rindo. Ela minha. Vai se encontrar comigo mais

    tarde, nesta manh. Eu lhe cederei alguns minutos no cobertor com ela. No falava de Dixie, e sim da morena. Em silncio, Larado perguntou-se que

    homem ofereceria a sua mulher a outro como se fosse um pedao de torta. Talvez Snake nosoubesse que ele estivera com a loura na sua primeira noite na cidade.

    Oh, refere-se a Caroline? No sei muito sobre ela, a no ser que tambm doTexas. Caroline nos provoca, mas tudo. S serve as mesas. No se deita conosco como asoutras.

    Mesmo? Pena, ela tem alguma coisa que fez o meu sangue esquentar. Voc no o nico disse Snake com uma risada. Mas Caroline s serve

    bebidas, e no muito bem. Molhou as suas calas com cerveja.Larado sorriu, recordando a cena. Depois que voc foi embora prosseguiu Snake , Caroline e Dixie tiveram uma

    briga feia, e Caroline arrancou um pouco do cabelo da loura. No sei o que Dixie falou paraprovoc-la.

    As texanas no levam desaforo para casa. Caroline uma mulher diferente. H vrias semanas passei uma cantada nela e

    levei um tapa. Ela age como uma dama, mas nenhuma dama trabalharia em um bar. Acho que nisso voc est certo comentou Larado, mais para si mesmo.Os dois homens montaram e dirigiram-se para a cidade. Como Snake previra, as

    ruas estavam quase desertas s primeiras horas do amanhecer. Vamos amarrar os cavalos nos postes na frente do banco, texano.Larado olhou na direo do banco. No estou vendo nenhum poste. O qu? Droga. Esqueci que os retiraram ontem. Vo alargar a rua ou algo assim.

    O que vamos fazer ento?

    Ei! exclamou Larado, sorrindo. Veja quem vem l!Caroline vinha andando pela calada, carregando a pequena valise. Sabia que adiligncia parava diante do aougue perto do banco e esperaria ali por ela. No sabia bempara onde iria. O barulho de cavalos interrompeu os seus pensamentos. Virou-se e avistou otexano da vspera e o sujeito mau, Snake. Como era mesmo o nome do texano? Oh, sim,Larado. Fora depenado por Snake, na vspera, na mesa de pquer, e agora montava ao ladodele.

    8

  • 7/31/2019 1450 - Um Ho_mem In_comum -J H

    9/96

    Ela estava quase ao lado do banco, tentando decidir se demonstrava ter visto ocanalha do Snake e o homem que lhe custara o emprego, quando ouviu os dois homensdesmontarem.

    Senhorita chamou Larado.Caroline se virou, sem saber ao certo o que esperar. O olhar do texano revelou o que

    ele gostaria. S porque trabalhava em um bar, todos os homens precisavam achar que iriapara a cama com eles por algumas moedas?

    Sim?Larado tocou a beirada do chapu. Bom dia.Caroline teve vontade de gritar para ele: voc me custou o meu emprego, seu idiota,

    e agora vem falar comigo? Em vez disso, trincou os dentes e mal fez um movimento com acabea.

    Larado sorriu. A senhorita no o tipo de mulher que costumo ver trabalhando em um bar.Caroline sentiu-se enrubescer. Isso no da sua conta. Alm disso, as mulheres precisam comer. Vamos parar com o papo furado! exclamou Snake. Temos coisas a fazer. Srta. Caroline disse Larado, tirando o chapu. Retiraram os postes para fazer

    consertos na rua. Ser que poderia cuidar dos nossos cavalos enquanto tratamos de umnegcio?

    Acho que posso fazer isso respondeu Caroline. O texano no era apenas bonito:aquele sorriso derrubaria qualquer mulher.

    Os dois homens entregaram-lhe as rdeas. Muito obrigado disse Larado. No vamos demorar. Caroline depositou a

    valise na calada, pegou as rdeas e os observou enquanto entravam no banco. Noconseguia imaginar que tipo de negcio poderiam ter que tratar ali. Sabia que o caubiestava sem dinheiro devido ao que acontecera na vspera, e Snake no era exatamente o tipo

    de pessoa que depositava grandes quantias em bancos.De repente, o silncio da manh foi quebrado pelo som de tiros vindos do interior

    do banco.Os dois cavalos recuaram e relincharam. Pessoas saram apressadas dos prdios,

    gritando e correndo. Caroline a custo conseguiu controlar os cavalos.Em nome de Deus, o que est acontecendo no banco?Larado ainda sofria com a ressaca ao entrar com Snake no banco. O caixa levantou

    os olhos quando os dois se aproximaram do balco. Alarmado, percebeu que no estavam debrincadeira.

    Sr. Barclay, venha at aqui. Estamos sendo assaltados! O qu? Amigo, est cometendo um grande erro! comeou a dizer Larado,

    enquanto o banqueiro gordo aproximava-se correndo, agitando uma espingarda de caa.Pelo canto do olho, Larado viu Snake pegar o seu Colt, e instintivamente tambm pegou oseu; mas sua mo estava trmula por causa da bebida da vspera, e ele deixou cair a arma,que disparou ao tocar o cho. A bala atingiu a base da grande lmpada de querosene, o queprovocou um estrondo e uma chuva de vidro quebrado.

    No atire! implorou o caixa. Ns lhe entregaremos o dinheiro! S se for sobre o meu cadver! gritou o proprietrio. Snake apontou a pistola

    para o dono do banco.

    9

  • 7/31/2019 1450 - Um Ho_mem In_comum -J H

    10/96

    Sr. Barclay, acho que isso pode ser providenciado. Ficou louco, Snake? perguntou Larado, entre o pasmo e a indignao. Ns

    no est... Cale a boca! exclamou Snake. Voc! Abra o cofre! acrescentou, dirigindo-

    se ao banqueiro.O homem gordo tremia enquanto depositava a arma no balco e se virava para abrir

    o cofre. Retirando de l dois sacos de couro, jogou-os por sobre o balco, dizendo: Por favor, no nos mate!Snake agarrou os sacos enquanto Larado se abaixava e apanhava a pistola que cara

    no cho. Ouviam-se na rua os gritos e a correria das pessoas, que a essa altura j deveriamter imaginado o que se passava.

    Vamos dar o fora! ordenou Snake.Larado no precisava de estmulo para fazer isso. Como fora se envolver em

    tamanha confuso? Viu o homem gordo pegar novamente a arma, e tratou de se apressarainda mais. Quando saam pela porta, a espingarda de caa trovejou e Snake gritou.

    Fui atingido!Snake tropeou. Larado parou para ajud-lo, e apanhou um saco de dinheiro que o

    outro deixara cair. O banqueiro saiu do banco aos gritos: Segurem esses assaltantes! Acabam de matar o meu caixa! Temos de sair daqui! dizia Larado, muito nervoso, enquanto ajudava Snake a

    montar.Os olhos de Caroline arregalaram-se de surpresa. O que vocs dois...Nesse momento, o banqueiro atirou de novo, e Snake disse: Vamos nos encontrar no meu acampamento, na curva de Rock Creek. Sabe onde

    ?Larado assentiu com a cabea. Ento, vamos cair fora!

    Caroline permanecera na calada, boquiaberta, enquanto os dois arrancavam-lhe asrdeas das mos, montavam os cavalos e partiam a galope.

    Aqueles dois assassinos mataram meu pobre caixa a sangue-frio! exclamou obanqueiro gordo. Depois de eu ter dado o dinheiro para eles!

    Vamos linch-los! gritou o barbeiro. No precisamos esperar pelojulgamento.

    Outro homem olhou para Caroline. Ei, essa moa participou do assalto! Vi-a segurando os cavalos e montando

    guarda. No, voc est enganado replicou Caroline. No tenho nada a ver com isso. Cuidaremos dela depois disse o ferreiro. Vamos selar os cavalos e persegui-

    los antes que o rastro desaparea. Maldito texano! murmurou Caroline. Se no tivesse um sorriso to atraente,eu no tentaria ajud-lo ontem noite e no teria sido demitida. Veja agora em queconfuso ele me meteu!

    O que vai ser de mim?Quando a diligncia chegasse, estaria algemada e engaiolada. Pense, Caroline, pense. Essa multido no vai ouvir a sua explicao. O que a sua

    irm inteligente faria?

    10

  • 7/31/2019 1450 - Um Ho_mem In_comum -J H

    11/96

    Caroline chegou concluso de que Lacey no se meteria em uma confuso dessetipo. Por um momento, a rua ficou deserta. Pegando a pequena valise, Caroline caminhouapressada em direo ao beco mais prximo para se esconder.

    Atrs da barbearia, um velho cavalo cinzento cochilava. Bem, um transporte qualquer melhor do que nada. Pelo menos nisso

    superava Lacey. Caroline sempre tivera jeito de rapaz e sabia montar, laar e atirar como umhomem. Era muito feliz na fazenda do tio, mas, na tentativa de transform-la em uma dama,a famlia a enviara para a escola feminina da srta. Priddy com a irm. No dera certo, e porisso fugira.

    Sem saber exatamente para onde ir, foi trotando a esmo, at que, quase no final dodia, chegou periferia de uma pequena cidade e decidiu entrar.

    Este lugar parece bastante isolado. Talvez possa me esconder aqui at que ascoisas se acalmem.

    Desmontou, virou o velho cavalo na direo da qual tinham vindo, e deu-lhe umapalmada no traseiro. O animal partiu, seguindo a estrada que levava a Buck Shot.

    Pelo menos no me prendero como ladra de cavalos.Se tivesse sorte, arranjaria trabalho um trabalho respeitvel e comearia tudo

    de novo.Larado entrou a galope no acampamento de Rock Creek e desmontou. Dixie

    aguardava no frio da manh. Perguntou a ela: Viu Snake? No. O rosto pintado revelou-se cauteloso. Bem, ele me disse para encontr-lo aqui. Estamos muito encrencados, Dixie.

    Fiquei com medo que Snake no conseguisse fugir por causa do tiro que levou no brao.Dixie no pareceu preocupada com a sorte do amante. Parece que voc est com todo o dinheiro. Larado deu de ombros. Uma parte, eu acho. Para dizer a verdade, caubi, Snake j esteve aqui e foi embora. Voc e eu temos

    que fugir juntos.Ele praguejou e balanou a cabea. No imaginei que Snake fosse me enganar. O que ele disse? Pouca coisa. Acho que foi procura de um mdico. Pediu para dizer-lhe que no

    tinha aparecido por aqui, e afirmou que se encontraria comigo mais tarde.Larado amarrou o cavalo em uma rvore, pegou o saco do banco e jogou-o no cho,

    perto do fogo.Nunca pretendi me envolver com um assalto a banco. Apenas aconteceu. Agora

    temos um bando de homens atrs de ns.Os olhos de Dixie brilharam quando ela apanhou o saco. Est leve.

    Acho que so s notas. No tenho a inteno de ficar com elas. Pretendiaconversar com Snake a respeito de endireitar as coisas devolvendo tudo. Voc deve estar louco! J pensou no que pode comprar com esse dinheiro? Mas no sou um bandido. No creio que Snake tivesse a inteno de que as coisas

    acontecessem desse jeito. Voc no conhece Snake. Ele conseguiu pegar muito dinheiro? Um saco, como eu. Acho que h um grupo atrs de mim, Dixie. melhor voc ir

    embora.

    11

  • 7/31/2019 1450 - Um Ho_mem In_comum -J H

    12/96

    Venha comigo. No quer saber onde est Snake? Larado balanou a cabea. Como ele me enganou, no tem importncia. Vou pensar num modo de devolver

    o dinheiro, e depois voltarei para o Texas.Dixie deslizou a lngua lentamente pelos lbios. Seu vestido vermelho estava to

    justo que mostrava as curvas voluptuosas. Leve-me com voc. O qu? Pensei que voc fosse a garota de Snake. Gostei da noite que passamos juntos. Eu e voc formaramos um belo par.Antes que ele pudesse falar, Dixie escorregou os braos ao redor do pescoo do

    caubi e o beijou. Larado ficou surpreso e deixou cair a xcara de caf. Por um momentopensou em jogar Dixie no cobertor ao lado da fogueira, mas a imagem de Caroline surgiu nasua cabea. Precisava pedir desculpas a ela.

    Levantou-se e retirou os braos de Dixie do seu pescoo. Isso no est certo, Dixie. Que bobagem. Eu lhe disse que Snake o abandonou, provavelmente imaginando

    que o grupo logo estaria aqui. Sou texano, Dixie. Costumo cumprir a minha palavra. Dixie praguejou e pegou o

    saco do banco. Bem, vamos ver quanto dinheiro voc tem. No adianta olhar. No vou ficar com ele.Sem dar ateno a Larado, Dixie puxou a corda que fechava o saco e o virou de

    cabea para baixo. Um monte de papel picado caiu no cho. Que... No pode ser disse Larado, ajoelhando-se. Por que um banco iria guardar

    papel picado no cofre?Dixie deu de ombros. Acho que a brincadeira com voc. Parece que no roubou nenhum dinheiro. Puxa, que alvio. Talvez quando o banqueiro explicar que no trouxemos

    dinheiro, tudo no passe de uma grande piada. Eu no contaria com isso. Voc acha que o saco de Snake tem dinheiro de

    verdade? Como posso saber? Ele no o abriu aqui? Ah... no,'estava com muita pressa. Ento melhor ir com ele, Dixie. Snake talvez seja um homem rico. Larado

    encaminhou-se para o seu cavalo. Prefiro ir com voc. H um grupo atrs de mim, e voc no precisa desse tipo de problema. Estou lhe

    dando um bom conselho; suma antes que os homens apaream. E quando voc vir a moaalta do Texas...

    Sim? Larado montou. No importa. Ela deve estar muito zangada por causa do transtorno que lhecausei.

    Refere-se ao fato de Caroline ter perdido o emprego? indagou Dixie. No. Falo do que aconteceu esta manh. Mas o que houve com o emprego de

    Caroline? Oh, voc no sabia? Joe demitiu-a ontem noite. Que pena. Por que ele fez isso?

    12

  • 7/31/2019 1450 - Um Ho_mem In_comum -J H

    13/96

    Dixie decidiu no dizer nada sobre a briga das duas. Porque ela derramou cerveja em voc. Caroline era uma pssima garonete. At

    logo, Larado. Se mudar de idia, provavelmente estarei trabalhando no Last Chance. A noser que algo melhor acontea.

    Larado fez um aceno com a cabea e afastou-se a galope. Dixie ficou parada,observando-o, at que o caubi transformou-se em um ponto no horizonte. O que devofazer?

    Snake no aparecera. Larado dissera que ele fora atingido por um tiro, mas estavacom um saco do banco. Sempre havia a chance de que estivesse cheio de dinheiro. Dequalquer maneira, jogou o saco vazio e o papel picado na fogueira. As chamas saltaram en-quanto a prova desaparecia.

    Poucos minutos depois, Snake apareceu. Ol! Pode vir! gritou Dixie. Estou sozinha!Snake aproximou-se e desmontou, atirando o saco do banco aos ps de Dixie. Aqui est, meu bem. Oh, voc foi ferido! exclamou Dixie, fingindo-se preocupada ao ver o sangue na

    manga da camisa de Snake, mas com o olhar fixo no saco de dinheiro. No foi nada. Bem melhor do que imaginei no incio. Larado apareceu? No... Deveria ter aparecido? Snake comeou a praguejar. Ele parecia bem honesto, ou talvez apenas idiota. Deixei cair um dos sacos

    quando samos correndo do banco, e Larado o pegou. Bem, querido, vamos examinar o produto do roubo. ela disse, e sorriu de modo

    sedutor.Snake levantou o saco. E pesado... comentou, enquanto derramava o contedo sobre o cobertor. Em

    seguida, comeou a praguejar. Droga, aqui s h moedas e papel picado. As moedas nodevem somar mais de cinqenta dlares!

    Nesse momento, ouviram tiros a distncia. melhor ir embora, Snake. Voc tambm. No, no faro nada comigo, porque no me ligaro ao assalto. Agora v. Alm

    disso, a metade desses homens respeitveis so meus clientes. Certamente no gostariamque eu tivesse uma conversa de mulher para mulher com suas esposas. V embora, e eu osretardarei para que voc possa escapar.

    Voc maravilhosa, Dixie. Voltarei para v-la um dia. No se preocupe comigo. Vou sobreviver, como sempre. Em seguida, pegou o

    saco vazio e atirou-o no fogo. Agora no h nada neste acampamento que possa relacion-lo com um assalto a banco.

    Muito inteligente de sua parte, Dixie. No me esquecerei de voc! Claro, claro. No estava interessada em Snake. Ele no tinha dinheiro, e elaqueria um homem que pudesse lhe dar coisas boas, uma carruagem bonita e uma casagrande. Agora, desaparea!

    O grupo de homens entrou no acampamento e desmontou. O subxerife acariciou obigode grisalho e perguntou:

    O que faz aqui sozinha? Esperando que vocs aparecessem.

    13

  • 7/31/2019 1450 - Um Ho_mem In_comum -J H

    14/96

    Voc no aguardava ningum, no mesmo? J disse que estava esperando por vocs. No brinque conosco, Dixie replicou, agressivo, o subxerife. Houve um

    assalto na cidade e o caixa foi atingido nas costas. Estamos procurando dois assassinos.Dixie esforou-se para que seus lbios no tremessem. Nem Larado nem Snake

    haviam mencionado a morte de um homem. Isso tornava o caso muito mais srio. Se ogrupo pegasse um dos dois, certamente o enforcaria na hora.

    Acho que est mentindo, garota. Vamos lev-la conosco e voc vai dormir em umabela cela.

    Vocs podem me levar, rapazes, mas eu talvez comece a contar a todas as esposasda cidade o que alguns de vocs fazem enquanto elas pensam que esto na igreja.

    Vrios homens olharam para o outro lado, arrastaram as botas e pigarrearam.O subxerife declarou: Est claro que Dixie no sabe de nada; apenas uma prostituta comum. Vamos

    embora. Como ousa, Cliff Rainey? exclamou Dixie, furiosa. Sou a melhor mulher que

    voc j teve! Voc no acha que eu sou to comum quando sobe sorrateiramente para o meuquarto enquanto sua mulher visita a irm.

    O rosto do subxerife ficou vermelho como um pimento, e os outros homens deramgargalhadas. Mas de repente se lembraram de que tambm tinham passado algum tempo noquarto de Dixie.

    Voc est certo. Lev-la s vai nos causar problemas com as nossas mulheres argumentou o barbeiro. Acho melhor irmos embora.

    A no ser que tenham algum tempo para se divertir em minha companhia... provocou Dixie.

    Eu tenho! afirmaram dois homens, dando um passo frente. O que esto pensando? rugiu o subxerife. No temos tempo para pensar em

    mulheres agora. Estamos caando homens. Agora montem!

    Relutantes, os homens encaminharam-se para os cavalos. Dixie, em um momentoou outro, tinha ido para a cama com quase todos.

    Bem, rapazes, ento os vejo depois, na cidade disse a moa.Dixie os observou enquanto se afastavam. Em algum lugar, havia um homem que

    lhe compraria roupas bonitas e uma casa elegante. Depois, olhou para a fogueira e seperguntou: se nem Larado nem Snake estavam com o dinheiro do banco, com quem estaria?Pensou no assunto por um longo tempo enquanto arrumava suas coisas. De repente, acerteza surgiu-lhe na cabea, como se algum tivesse acendido nela uma lmpada. claro!Cantarolando, preparou a charrete alugada e partiu em direo cidade. Afinal, agora sabiaque conseguiria roupas bonitas e jias cintilantes.

    14

  • 7/31/2019 1450 - Um Ho_mem In_comum -J H

    15/96

    Captulo II

    Caroline entrou na cidade e logo avistou o velho hotel. No tinha muito dinheiro, de

    modo que teria de encontrar depressa um trabalho. O homem idoso na recepo pareceucurioso. Um desconhecido, sobretudo se fosse uma mulher desacompanhada, era umanovidade em qualquer parte do oeste.

    Como esto as oportunidades de emprego por aqui? ela perguntou.Os culos de armao de ouro escorregaram pelo nariz do velho. Para uma dama?Fiquei noiva, por correspondncia, de um fazendeiro do condado vizinho, e

    quando cheguei l ele me rejeitou. Consegui carona em uma carruagem, e estou encalhadaaqui.

    Que tipo de homem faria isso com uma dama? comentou velho, em tomsolidrio.

    Acho que no sei julgar bem os homens. De qualquer modo, talvez eu possaconseguir um emprego e ganhar o bastante para comprar um bilhete de trem de volta para oTexas.

    O velho coou a cabea branca. Acho que o caf est precisando de uma cozinheira. Caroline suspirou. Cozinhava

    muito mal, ao contrrio de Lacey, sua irm perfeita. Sou muito boa com cavalos. Sei laar e atiro melhor do que quase todos os

    homens.O velho riu. Sinto muito, senhorita, mas mesmo que um fazendeiro a contratasse, onde iria

    dormir? No iria querer dividir o alojamento com um bando de vaqueiros. O melhor quetem a fazer ir at o caf, que no l grande coisa, e ver se consegue o emprego decozinheira.

    No l grande coisa o que todo mundo pensaria se ela comeasse a cozinhar.Virou-se para ir embora, quando o velho acrescentou: Oh, e a sra. Jones est procurando uma governanta. Ela tem a maior casa da

    cidade, mas muito exigente. Obrigada. Trabalhar como governanta tambm no lhe agradava. Vou dar

    uma olhada. Agora, preciso comer alguma coisa.

    15

  • 7/31/2019 1450 - Um Ho_mem In_comum -J H

    16/96

    Comeu um sanduche no caf e voltou para o hotel. Contou quanto dinheiro tinha efoi cedo para a cama.

    Na manh seguinte, comeou a procurar trabalho. A notcia de que estava na cidadej tinha se espalhado, porque a mulher de um fazendeiro a interpelou para oferecer-lhe afuno de cozinheira de um alojamento. Caroline suspirou. Estava desesperada, mas notanto.

    Encontrou alguns homens no caf e tentou ser contratada para trabalhar na fazendacomo vaqueira. Um dos mais velhos riu tanto que quase engoliu a dentadura. Os outrospareceram achar que ela estava brincando. Desanimada, foi para a calada. O que faria?

    Havia um bar na rua, mas jurara que nunca mais trabalharia nesse tipo deestabelecimento.

    Tentou a venda da cidade, mas o dono lhe disse que ele e a mulher cuidavamsozinhos do negcio, e que se Caroline precisava de um emprego deveria se casar. Ela tevevontade de saltar em cima do homem, mas conseguiu se controlar.

    Ainda era cedo. Voltou ao lobby do hotel e perguntou ao encarregado da recepo sea cidade tinha um jornal. O homem lhe disse que havia um, semanal, e emprestou-lhe umacpia. Caroline no encontrou ofertas de emprego, apenas uma coluna de noivas porcorrespondncia. Mas o desespero ainda no se apossara dela.

    Nesse momento, um homem elegante desceu a escada carregando um gato preto ebranco.

    Ah, uma donzela em apuros. Posso ajud-la, mademoiselle'! Caroline contemplouo homem. Parecia ter cerca de cinqenta anos, estava bem vestido, tinha um pequenobigode e uma barbicha. O sotaque era estrangeiro.

    Como vai?O homem parou, fez uma profunda mesura, pegou a mo de Caroline e beijou-lhe o

    dorso. Muito bem, obrigado. E a senhorita? Caroline puxou a mo. Sou nova na cidade. Por acaso tem conhecimento de ofertas de emprego?

    Hum murmurou o homem, acariciando a barbicha. Venha comigo e a srta.Mew Mew at a minha loja para que possamos conversar. Ao menos poderei oferecer-lheuma xcara de ch.

    Aceito com prazer. A manh est fria. O homem passou a gata para o outro brao. Eu me chamo Pierre. Tenho uma chapelaria mais adiante nesta rua. Imagino que

    uma bela mulher como voc deva usar chapus de qualidade, certo? s vezes mentiu Caroline. Na verdade, quase sempre usava um chapu de

    vaqueiro, mas enrubesceu com o elogio. E eu sou... Lacey. Lacey van Schuyler. Decidiuadotar o nome da irm, para o caso de a justia estar procurando por Caroline.

    Uma bela mulher sempre tem muitos chapus, oui declarou Pierre,acompanhando-a at a pequena loja no final da rua. Aqui confecciono belos chapeaux

    para damas encantadoras acrescentou, abrindo a porta e conduzindo Caroline para o ladode dentro, onde colocou a srta. Mew Mew na vitrine. A gata prontamente enrolou-se paracochilar ao sol, enquanto Pierre punha uma chaleira com gua para ferver.

    Caroline olhou em volta. Era uma loja pequena com elegantes chapus femininosexpostos na vitrine.

    So lindos ! ela exclamou, admirando os chapus.Voc parece to deslocadonesta cidade. Acho que combina mais com uma cidade como Nova York ou Chicago.

    16

  • 7/31/2019 1450 - Um Ho_mem In_comum -J H

    17/96

  • 7/31/2019 1450 - Um Ho_mem In_comum -J H

    18/96

    Em menos de um ms, Caroline tornou-se uma excelente modelo de chapus para asdamas. Os homens tambm comearam a entrar na loja para comprar presentes para asesposas, e para dar uma espiada na nova habitante da cidade. Caroline era inteligente e maistalentosa do que Pierre imaginara. Ele logo a ensinou a acrescentar a um chapu vus, floresou plumas, e transform-lo em um belo objeto. O negcio comeou a florescer quando otempo esquentou.

    Vrios caubis tentaram cortejar Caroline, mas ela deixou bem claro que no estavainteressada. Nenhum parecia to atraente quanto o texano alto de Buck Shot.

    Certo dia, no caf, Caroline pegou um jornal do Texas que um clienteaparentemente esquecera. Por curiosidade, comeou a folhe-lo. Nos annciosmatrimoniais, leu o seguinte:

    Dama de meia-idade, com prendas culinrias, procura homem vivo com uma boafazenda. Jovem procura rapaz de boa famlia para fins matrimoniais. Caroline ia colocar ojornal de volta na mesa quando um anncio lhe chamou a ateno: Xerife em prsperacidade do oeste do Texas, ex-guarda-florestal tambm no Texas, gostaria de conhecer umajovem respeitvel para fins matrimoniais.

    Um xerife. Se a justia procurava por ela, que melhor proteo poderia ter do queser casada com um xerife? E claro que Caroline no se interessou, mas levou o jornal para aloja e falou sobre o anncio com Pierre.

    Um caipira? Um xerife? Est brincando, no?Claro que estou. Se bem que mais Cedo ou mais tarde gostaria de voltar para o

    Texas. Texas! Pierre fungou. O que foi mesmo que o General Sherman disse? "Se eu

    fosse dono do inferno e do Texas, moraria no inferno e alugaria o Texas." Mas os verdadeiros texanos nunca so realmente felizes em outro lugar. Hum... Ele jovem, talvez bonito. E voc linda, minha querida. Acho que

    deveria se casar. No sei cozinhar e nem cuidar da casa. Por que um homem iria querer se casar

    comigo?Mademoiselle,voc to ingnua que me d dor de cabea. Vai se corresponder

    com esse policial caipira? Acho que no. Foi apenas uma idia. Quem no arrisca no petisca, querida. Alm disso, quem sabe no h uma viva

    rica na famlia dele? comentou Pierre, sorrindo.Caroline esqueceu-se da conversa at alguns dias depois, quando Pierre entregou-

    lhe uma carta. Veja, querida, ele respondeu. Abra logo a carta para que possamos saber o que

    diz. Do que voc est falando? perguntou Caroline, pegando o envelope, surpresa.

    No esperava nenhuma correspondncia. Era endereada a Lacey, mas porque ela fingia sera irm. O que voc fez, Pierre? Escrevi uma carta melosa para o texano caipira. Abra logo, querida, vamos vez o

    que est escrito!Caroline ficou furiosa, mas a curiosidade foi mais forte, e ela decidiu abrir o

    envelope. A letra era grande e desajeitada, como se o autor no se sentisse vontade com apalavra escrita.

    18

  • 7/31/2019 1450 - Um Ho_mem In_comum -J H

    19/96

    Cara srta. Van Schuyler,Estou feliz por ter recebido sua resposta ao meu anncio, e pelo fato de talvez estar

    procurando um marido. Eu? Como ele ousa pensar isso? exclamou Caroline, profundamente indignada.

    Mesmo assim, continuou a ler em voz alta.Sou alto e tenho cabelos castanhos. Eu disse que voc bonita comentou Pierre. No estou interessada. Ela rasgou a carta em duas partes e a jogou no lixo. No quer saber quantos anos ele tem? Pouco me importa a idade dele. Caroline comeou a aplicar um vu em um

    chapu de palha. Detesto pensar que perdi o meu tempo, ouil - Pierre recolheu a carta do lixo,

    juntou as partes e em seguida leu:Eu me chamo Lawrence Witherspoon. Sou o novo xerife de Rusty Spur, no oeste do

    Texas. J ouvi falar dessa cidade informou Pierre. Fica no fim do mundo, e as leis l

    so inexistentes. Ah, o xerife tem quase trinta anos. Diz que espera conseguir poupar osuficiente para um dia comprar uma fazenda. Parece o seu tipo de homem, minha cara.

    Caroline no queria admiti-lo, mas o que Pierre dissera era verdade. Sentiu derepente muita saudade da vida no Texas.

    Pelo menos voc no mais velha' do que ele. No oeste, talvez j esteja ficandomeio passada.

    Tenho apenas vinte e cinco anos, Pierre! No Texas, j passou muito da idade de se casar. Continuo desinteressada. Os homens s querem algum que limpe a casa, cozinhe

    e faa as vontades deles. melhor que o nosso xerife carente de amor procure outranamorada declarou Caroline, jogando a carta na lixeira pela segunda vez.

    No entanto, mais tarde naquela noite, ela no conseguia dormir pensando na carta.

    Levantou-se da cama e acendeu a lmpada. Pegou a carta na lata de lixo, releu-a e sentou-sena pequena escrivaninha para redigir uma resposta.

    Caro sr. Witherspoon,Recebi sua carta e apreciei a leitura.Para ser sincera, no creio que o senhor estaria interessado em mim. As minhas

    habilidades femininas no so muito boas. Prefiro andar a cavalo e caar a limpar umacasa. Sou pssima cozinheira, mas sei lidar com um lao melhor do que a maioria doscaubis. Agora que j sabe de tudo isso, provavelmente no desejar mais se correspondercomigo, o que entenderei perfeitamente. No entanto, tambm sou texana e realmente amo oEstado da Estrela Solitria. Lembre-se do Alam!

    Sinceramente,

    Lacey van SchuylerNo dia seguinte, Caroline colocou a carta no correio e foi trabalhar na chapelaria,deixando de pensar no assunto durante vrios dias. Afinal, o negcio ia bem e estava muitoocupada.

    Um dia, Pierre entrou na loja, agitado, abanando um envelope. Veja, querida, o seu xerife escreveu de novo! Ele no o meu xerife. Provavelmente escreveu para me agradecer por ter

    respondido e dizer que resolveu procurar sua noiva em outro lugar.

    19

  • 7/31/2019 1450 - Um Ho_mem In_comum -J H

    20/96

    Os olhos do francs se iluminaram. Voc respondeu carta?Caroline detestou ter que admiti-lo. Escrevi avisando que era pssima dona de casa e cozinheira. Bem, abra logo a carta e vamos ver o que ele disse. Caroline pegou a carta da mo

    do francs e a abriu.Cara srta. Van Schuyler,Est sendo muito modesta a respeito dos seus predicados. Toda mulher nasce

    sabendo cozinhar e limpar a casa. o que ele pensa! exclamou Caroline, furiosa. Na certa esse xerife um

    desses homens que acham que as mulheres devem ser obedientes e ficar na cozinhacomentou, continuando a ler:

    Aprecio as mulheres que gostam de cavalos e da vida na fazenda. A senhorita disseque bonita?

    Caroline continuava furiosa. Na primeira carta, eu disse ao xerife que voc bonita confessou Pierre.

    Acho que deve continuar a se corresponder com ele. Parece um bom homem. No, isso j foi longe demais! No escreverei novamente. Oh, ia me esquecendo. Tambm recebi uma carta. Pierre agitou um envelope.

    Uma velha ricaa com quem me correspondi no passado convidou-me para ir a NovaYork.

    Caroline sentiu seu mundo desabar. Jamais pensei que voc iria embora. Gosto muito de voc. E eu de voc. E srta. Mew Mew tambm, no mesmo, gatinha? A gata preta e

    branca piscou e balanou a cauda. De qualquer modo acrescentou Pierre , a vidacontinua. J encontrei uma compradora para a loja, j que voc no est interessada. Talveza nova dona queira ficar com voc, apesar de ter duas filhas.

    Caroline foi at a janela e olhou para fora.

    Tambm tenho pensado em me mudar. Pierre alisou o bigode. E ir ao encontro do xerife? Claro que no! Voc um romntico incurvel. Suponha que eu fosse at l e o

    odiasse primeira vista. E se ele ficasse desapontado? Na vida, preciso aventurar-se. E acredite em mim, querida, quando

    verdadeiro, o amor faz o risco valer a pena! Pierre suspirou, como se estivesse selembrando de algo.

    Naquela noite, Caroline ficou acordada durante um longo tempo. O que faria?Talvez se desse bem com a nova dona, mas seu corao no se prendia chapelaria. Ansiavapelas plancies ensolaradas do Texas, mas no poderia voltar para casa enquanto no tivessexito na vida.

    O que aconteceu na manh seguinte ajudou-a a tomar uma deciso. Fora buscar acorrespondncia e passou pelo escritrio do xerife. Era incio de maio, fazia calor e a portaestava aberta. Uma pilha de psteres de "procura-se" estava no cho ao lado da mesa, e bemem cima havia um com um desenho que lembrava mais ou menos Caroline, com o ttulo:Recompensa: 500 dlares. Cmplice do assalto ao banco de Buck Shot.

    Caroline agarrou os psteres. Mais embaixo na pilha, havia outro com um esboo deSnake e Larado. Recompensa: mil dlares. Assaltantes de banco e assassinos. Caixaatingido no banco de Buck Shot. Punio: enforcamento.

    20

  • 7/31/2019 1450 - Um Ho_mem In_comum -J H

    21/96

    Cus... Caroline no imaginara que Larado atiraria em um homem. E em brevetodos a reconheceriam. Depois de olhar em volta, pegou os psteres bem devagar. Conseguiaouvir a voz do velho xerife conversando com um preso em uma das celas, no fundo dadelegacia. Foi at a porta, certificou-se de que ningum olhava, e rasgou os psteres. Estavamuito perto de Buck Shot e no queria ir parar em uma priso.

    No final da tarde, disse a Pierre que partiria na manh seguinte. J? Mas a srta. Mew Mew e eu no queremos que v embora enquanto no

    estivermos prontos para deixar a cidade. Vou sentir a sua falta, mas tenho planos. Ah, o jovem xerife. Escreveu para ele de novo, no? Escrevi confessou, dando a entender que se comprometera. Na verdade, apenas

    continuara a conversa, mas agora parecia que no tinha muitas alternativas.Jantaram juntos naquela noite pela ltima vez. Pierre ainda tentou dar a Caroline

    um pouco mais de dinheiro, mas ela recusou. Na manh seguinte, com muitas lgrimas eabraos, Caroline em-' arcou em uma diligncia. Posteriormente, pegou um trem para o sul.Em Dalas, enviou um telegrama para o xerife de Rusty Spur, pensando que era a coisa maislouca que j fizera em toda a vida:

    Caro xerife Witherspoon. Ponto. Breve visitarei sua cidade. Ponto. Senhor no temnenhuma obrigao. Ponto. Pretendo arranjar emprego e preciso apenas amigo. Ponto.Sinceramente, Lacey van Schuyler.

    Depois de enviar o telegrama, embarcou em outro trem, rumo ao oeste. Apesar deter pensado vrias vezes durante a viagem em desistir da idia de ir para Rusty Spur,precisava de um lugar para e esconder at que as coisas se acalmassem. E talvez os psteresno fossem enviados para o Texas. O trem s ia at quinze quilmetros da cidade, e de lteria que pegar outra diligncia.

    Uma multido estava reunida na calada quando a empoeirada diligncia seguiupela rua principal. O que era aquilo? Foi quando viu a faixa pendurada no meio da rua:

    SEJA BEM-VINDA, LACEY VAN SCHUYLER.

    Oh, cus! Ela nem sonhava com tal recepo.A diligncia parou diante do hotel de dois andares e a multido comprimiu-se em

    volta do veculo. Quando Caroline desceu, sacudindo a poeira da saia azul-marinho, umhomem aproximou-se claudicando.

    Srta. Van Schuyler?O homem no era nem um pouco jovem, e lhe faltava um dente da frente. O corao

    de Caroline afundou. Teve uma vontade enorme de dizer: No, sou Jane Smith. A srta. VanSchuyler saltou na parada anterior. Mas no poderia fazer isso, j que Rusty Spur era altima parada e estava quase sem dinheiro. De fato, sou Lacey van Schuyler.

    O homem sorriu e disse: Lawrence vai ficar furioso comigo por ter escrito para a senhorita e assinado o

    nome dele, mas quando puser os olhos na senhorita, deixar de se importar. O senhor... no o xerife Witherspoon? O homem balanou a cabea. Sou apenas Bill, amigo dele, e trabalho nos correios e telgrafos. Ali vem

    Lawrence.Todos se viraram para olhar para o homem que avanava no meio da multido. Ol, xerife cumprimentaram todos. bom v-lo, xerife.

    21

  • 7/31/2019 1450 - Um Ho_mem In_comum -J H

    22/96

    Caroline se virou para entrar de novo na diligncia e fugir, mas o veculo j estavaandando, deixando-a presa em uma calada e rodeada por desconhecidos. A multido seapartou, e ela ouviu uma voz grave perguntar:

    Por que toda essa agitao?Caroline reconheceu a voz. No podia ser, mas era. Pouco antes de desmaiar, ela

    reconheceu o patife. No havia erro. Era Larado.Quando voltou a si, Caroline percebeu que estava nos braos de Larado, que parecia

    genuinamente preocupado enquanto a carregava para o hotel. Decidiu manter os olhosfechados. A camisa de Larado cheirava a homem, a tabaco e a luz do sol. Caroline tevevontade de aconchegar-se ainda mais naqueles braos.

    Caroline Durango, voc enlouqueceu?, pensou. Este o patife que fugiu do bancocomo um gato escaldado e a deixou para trs para que levasse a culpa.

    Pegue um copo de gua para a dama ordenou o homem. Sente-se bem, seorita? perguntou o jovem mexicano que lhe trouxe gua em

    uma xcara de estanho.Perplexa, ela apanhou a xcara. Estranho, Larado no parecia t-la reconhecido.

    Ser que o impressionara to pouco? Essa idia a deixou furiosa. Em seguida, lembrou-seque estava fingindo ser a sua irm gmea.

    Estou bem, apenas o calor. Permita-me que me apresente. Sou Lacey vanSchuyler.

    Lacey? comentou Larado. um nome bonito. Exato. O meu nome Lacey, e tenho uma irm gmea chamada Caroline.Caroline esperou que ele reagisse ao ouvir o nome, mas o xerife apenas se ajoelhou

    ao lado do canap. Engraado, tambm sou gmeo. S que o meu irmo a ovelha negra da famlia.

    Uma espcie de canalha.Uma espcie de? Esse era o atenuante do ano. Lawrence? Larado? Seria possvel

    haver dois texanos to bonitos? Caroline, voc est fora de si? No poderia haver dois patifes

    iguais. Oh, este o xerifedisse o mexicano a Caroline.Aquele sobre quem Bill lhe

    falou. Bill fez o qu? Lawrence tirou o chapu. O mexicano arrastou as botas. Hum... talvez seja melhor voc conversar com Bill,? O velho desdentado deu um

    passo frente. Planejvamos uma surpresa para voc, Larry. Isso me parece um pouco mais do que uma surpresa. Virando-se para o

    mexicano, perguntou: Paco, voc tambm est envolvido nessa histria? O jovem respondeu:S, assim como metade da cidade. No h moas aqui, e queramos que voc se

    sentisse feliz e decidisse ficar por aqui.O rosto do xerife ficou branco como o de um cadver. Ento o senhor no sabia do anncio? indagou Caroline. Anncio? exclamou Larado, Lawrence, ou fosse qual fosse o nome dele. Que

    anncio? Hum... resmungou Paco. Acho que melhor o xerife levar a dama para o

    quarto e conversarmos sobre isso mais tarde.

    22

  • 7/31/2019 1450 - Um Ho_mem In_comum -J H

    23/96

    Pode ter certeza de que conversaremos, seu maldito subxerife! rugiu o xerife.Em seguida, enrubesceu.

    Desculpe-me, senhora, por praguejar na sua frente. Caroline pestanejou. Essehomem quase tmido era muito diferente do canalha que dava palmadas nas ndegas dasmulheres e as chamava de "doura". Ser que havia mesmo dois irmos?

    Ento o xerife no mandara busc-la. E pelo seu olhar, no tinha a menor intenode se casar. Que humilhao.

    Apenas vim travar conhecimento declarou Caroline, engolindo em seco. Acalme-se, Larry disse Bill. Foi apenas um pequeno anncio na seo de

    noivas por correspondncia. O qu? retrucou o xerife. Senhorita acrescentou, voltando-se para

    Caroline. Acho que foi trazida para c por engano. Obviamente ela respondeu, lanando um olhar gelado para o xerife. O

    senhor me parece vagamente familiar. No me lembro de t-la visto antes, senhorita. Certamente me lembraria de uma

    moa to bonita. Talvez tenha conhecido meu irmo gmeo, Larado.Seria possvel? Bem, qualquer coisa era possvel. Uma mulher rechonchuda, com

    jeito maternal e cerca de cinqenta anos, aproximou-se do sof. Sou Mildred Bottoms, proprietria deste estabelecimento, o melhor hotel de

    Rusty Spur. O nico hotel da cidade observou um menino magro. Prazer em conhec-la disse Caroline. Sou Lacey van Schuyler.A mulher pareceu solidria. Acho que os rapazes fizeram uma brincadeira, mas a inteno deles foi boa. Agora

    vamos para o seu quarto, para que voc se lave e descanse um pouco. Estou de fato cansada. No recebemos muitas jovens por aqui declarou a mulher rechonchuda.

    Acho que em homenagem sua chegada, srta. Van Schuyler, daremos um baile no celeiro

    hoje noite. Virando-se para o xerife, perguntou: Lawrence, voc vir buscar a dama para o baile? O xerife hesitou. Bem, algum precisa patrulhar a cidade. Talvez Paco possa vir busc-la. Muitos

    rapazes ficaro felizes em danar com ela. Eu! Eu! Gritaram vrios homens. Paco sorriu. Terei mucho gusto em vir apanh-la, seorita.Bem, talvez o xerife no fosse Larado. Caroline no conseguia imaginar o homem

    que conhecera dispensando a chance de danar e se divertir. Para mim parece timo disse Caroline. A que horas comea o baile? s oito informou a sra. Bottoms. Isso dar tempo para as damas prepararem

    a comida. Dirigindo-se ao grupo apinhado no hall, disse: Agora, todo mundo para fora.

    O xerife tocou a beirada do chapu com dois dedos. Tenha um bom dia, srta. Lacey. Espero que aproveite a sua estada em Rusty Spur.Caroline subiu a escada com a proprietria do hotel. Pouco depois, estava sentada

    na cama, confusa, tentando entender tudo que acontecia. Se o xerife era Larado, certamenteperdera o charme fcil que tinha antes. Aquele representante da lei era desajeitado napresena das mulheres. Ser que Larado tinha de fato um irmo gmeo? Caroline seperguntou se o honrado Lawrence teria alguma idia de que o irmo era um criminoso eassaltante de bancos.

    23

  • 7/31/2019 1450 - Um Ho_mem In_comum -J H

    24/96

    Seus pensamentos foram interrompidos por Jimmy, o menino magro que fizerapouco antes o comentrio sobre o hotel; ele lhe trazia uma jarra de gua.

    A sra. Bottoms pediu-me que lhe trouxesse isso, para que pudesse se lavar. Obrigada. Voc neto dela? No. Os meus pais morreram de tifo no ano passado, e ela ficou tomando conta

    de mim. Levantando os olhos curiosos para Caroline, Jimmy perguntou: Vai se casarcom o nosso xerife?

    Caroline sentiu-se enrubescer e balanou a cabea. Creio que no, foi tudo um engano. Oh! exclamou o menino, parecendo desapontado. Todo mundo gosta muito do xerife. Achei que se ele se casasse, poderia me adotar. Sem dvida ele adoraria ter um filho como voc, Jimmy, mas talvez no por

    enquanto. Agora acho melhor voc ir ajudar a sra. Bottoms.Era um menino to bonzinho. Caroline esperava um dia ter um filho como ele.

    Encheu a bacia com gua e se lavou.Na verdade, no estava realmente com vontade de ir ao baile no celeiro e ter que

    enfrentar todos os olhares curiosos. A notcia sobre o que os amigos do xerife haviam feito jdevia ter se espalhado, e todos iriam sentir pena dela.

    Tentou decidir o que vestir. S tinha dois vestidos bonitos, alm do traje de viagem;preferia as calas masculinas e as botas de caubi. Escolheu o vestido azul e branco de finoalgodo, com renda ao redor do decote. Olhando no espelho, beliscou as mas do rosto emordeu os lbios para que ficassem vermelhos.

    Uma batida se fez ouvir porta. Querida? perguntou a sra. Bottoms. Est pronta? Paco j chegou. S um instante respondeu Caroline, pegando um xale azul da valise e saindo

    para o corredor.Est muito bonita, srta. Van Schuylercomentou a mulher. Vai virar algumas

    cabeas esta noite. Depois que a virem, acho que alguns desses caubis colocaro anncios

    no jornal procurando noivas.Caroline sentiu o rosto arder. No que eu no tenha recebido outras ofertas... No tenho dvida disso, querida, mas um homem com um distintivo e um

    revlver certamente pode ser muito atraente. Sei disso porque o meu Sam era um oficial emAbilene. Vim para c depois que foi assassinado.

    Sinto muito disse Caroline, enquanto desciam a escada. Agora estou bem, mas tenho as minhas lembranas. Acho que Lawrence

    Witherspoon muito parecido com o meu Sam. A senhora acha? Consigo julgar bem as pessoas. Voc no acreditaria agora, mas at Lawrence vir

    para c e usar esse distintivo, esta era uma cidade selvagem e sem limites. Rusty Spur? No me diga. Isso mesmo. Assaltantes passavam por aqui a caminho do Mxico para se

    esconder e roubar rebanhos nas fazendas isoladas. O nosso xerife no usa a sua arma, masas pessoas o respeitam. Dizem at que foi um Texas Ranger.

    H quanto tempo ele est aqui? Lawrence? Pouco tempo. Ouvi dizer que veio de El Paso. Por acaso mencionou alguma vez que tem um irmo gmeo? indagou Caroline.

    24

  • 7/31/2019 1450 - Um Ho_mem In_comum -J H

    25/96

    A sra. Bottoms franziu o cenho. No tenho certeza. Talvez. Sim, acho que sim. Caroline deu um suspiro de alvio.

    Talvez conseguisse parar de pensar no patife do irmo do xerife.Paco aguardava no p da escada, com o chapu na mo. Usava na camisa o

    distintivo de subxerife.Est muito bonita, seorita. Sinto-me honrado em conduzi-la ao baile.Paco ajudou todos a subir na carruagem aberta, colocando Caroline sentada ao seu

    lado. Em seguida, estalou as rdeas do baio. Gostou do nosso xerife? Paco perguntou a Caroline, de repente. Eu... eu no sei... mal troquei duas palavras com ele. Paco! repreendeu-o a sra. Bottoms. Que pergunta! Assim deixa a dama

    constrangida.Jimmy se manifestou. Acho que o xerife gostou dela. Vo se casar? Jimmy! ralhou de novo a sra. Bottoms. Por que, o que o faz pensar que ele gostou de mim? Paco deu um risinho. O xerife Witherspoon no fala muito, mas estava sorrindo quando saiu do hotel. Todo mundo diz que ele foi um Texas Ranger em El Paso, seorita comentou

    Paco. Ento, o que ele faz em uma cidade como Rusty Spur?Paco baixou a voz. Dizem que matou um homem por engano, e isso realmente o afetou. Como se no

    bastasse, tem um irmo que trouxe vergonha para a famlia.Quando a carruagem parou diante do grande celeiro vermelho, parecia que o

    condado inteiro estava presente. Havia cavalos, carroas e charretes por toda parte, e oceleiro estava todo iluminado. Caroline podia ouvir a msica que vinha do lado de dentro.

    Cus! exclamou a dona do hotel enquanto Paco a ajudava a descer. Quantagente!

    Quanto mais gente, maior a chance de que algum tenha visto o pster de "procura-se", pensou Caroline, mas, teria de correr o risco. Afinal, encontrava-se em uma regioisolada.

    Caubis avanaram apressados para cumpriment-la. Como vai, dona? Ento a noiva por correspondncia. Foi tudo minha culpa e de Bill, seores declarou Paco, parecendo constrangido.

    O xerife nem mesmo sabia que a senhorita viria para c.Vrios caubis falaram ao mesmo tempo: Quer dizer que no esto comprometidos. Agradeo muito se puder guardar uma

    dana para mim, senhorita!Caroline nunca se sentira to popular.

    Tentarei reservar uma dana para cada um de vocs respondeu graciosamente.Mas ela no sabia se sentia alvio ou desapontamento com o fato de o xerife ficarpatrulhando a cidade em vez de ir ao baile. O interior do grande celeiro estava fortementeiluminado com lanternas e era invadido pelo aroma de feno fresco e da carne que assava emum espeto do lado de fora. Na lateral, alguns colonos tocavam violinos.

    As damas estavam reunidas em grupos, conversando, enquanto os homensnarravam histrias e golpeavam o joelho quando algum contava uma boa piada. As

    25

  • 7/31/2019 1450 - Um Ho_mem In_comum -J H

    26/96

    crianas corriam pela multido, gritando e brincando. A cena fez Caroline sentir saudade dafazenda do tio Trace Durango.

    Como prometera, ela fez o possvel para danai" com todos os caubis.Finalmente, foi a vez de Paco, e Caroline aceitou com prazer. Juro que vou me arrepender por ter prometido danar com todos, mas farei o

    possvel.O jovem mexicano sorriu. Agora a senhorita percebe por que mandei busc-la. Todo mundo tem medo que o

    xerife no fique aqui se no arranjar uma esposa, e a cidade precisa dele. No me parece que o xerife esteja muito interessado comentou Caroline,

    enquanto se colocavam em posio para a quadrilha seguinte. Oh, Lawrence apenas tmido e leva o trabalho muito a srio, sf!Uma hora depois, algum gritou que a carne estava pronta, e os msicos pararam de

    tocar. Todos foram para fora comer. Havia tortas, bolos, biscoitos e mais churrasco do que acidade inteira conseguiria comer em uma semana. Caroline no havia se dado conta de queestava to faminta.

    Quando acabavam de comer, e os msicos j assumiam a sua posio para voltar atocar, teve lugar na porta uma comoo. As pessoas comearam a se afastar para o ladoquando um grupo de homens entrou pela porta. A sra. Bottoms cutucou-a.

    Cus, so trabalhadores da ferrovia e fazem parte da turma do bar.O lder do grupo precisava com urgncia fazer a barba e tomar um bom banho,

    pensou Caroline. Santa Maria madre de Dios murmurou Paco. melhor que eu v chamar o

    xerife.O homem mau caminhou lentamente pelo salo e parou diante de Caroline. Ento voc a boneca de quem todo mundo fala? Eu me chamo Otto. Venha,

    benzinho, vamos danar.Caroline hesitou.

    Meu Deus, o que vou fazer agora?

    26

  • 7/31/2019 1450 - Um Ho_mem In_comum -J H

    27/96

    Captulo III

    No quero danar com voc! Caroline soltou-se do abrao e deu um tapa comfora na cabea do homem. Otto pareceu aturdido e chocado.

    Nenhuma mulher vai...O homem avanou para Caroline, que agarrou um forcado e o balanou

    perigosamente. Se der mais um passo, eu o atravesso com este forcado, bem na parte do seu

    corpo que voc mais gosta. Vamos l, benzinho... disse Otto, sorrindo. Abaixe essa coisa antes que

    algum se machuque, e vamos terminar a nossa dana. .

    O meu carto de dana est todo preenchido declarou Caroline, chutando-o emseguida entre as pernas. Quando Otto se dobrou com um gemido, Caroline bateu-lhe com oforcado no alto da cabea. O homem tropeou e caiu. A multido comeou a rir. At mesmoos homens do seu grupo gargalhavam.

    Muito bem gritou Caroline , a festa acabou. Agora, seus canalhas, tirem o seuchefe daqui e caiam fora antes que eu enfie este forcado nele vocs sabem aonde.

    27

  • 7/31/2019 1450 - Um Ho_mem In_comum -J H

    28/96

    Embora os intrusos estivessem armados, ningum avanou para Caroline. Era bvioque nunca tinham visto uma mulher fazer algo parecido. Otto levantou-se cambaleando erecuou.

    Voc ainda vai ouvir falar de ns, sua vadia metida a valente.Caroline correu na direo dele com o forcado. Fora, j disse!Otto se virou e saiu correndo, com seus homens seguindo-o em desordem.As pessoas aplaudiram. Que garota! exclamou um homem. Algum j viu tanta coragem? Essa a mulher certa para o nosso xerife! Nesse momento, o xerife entrou no

    celeiro.Acabo de ver os trabalhadores da ferrovia saindo daqui como se estivessem

    fugindo de um incndio. O que aconteceu?Imediatamente, o texano alto e esbelto se viu cercado pelas pessoas que queriam

    descrever os detalhes do incidente, e como a dama corajosa salvara todo mundo.O xerife abriu caminho no meio da multido e se aproximou de Caroline. Est bem, sita. Van Schuyler?Na verdade, agora que tudo terminara, Caroline estava trmula. Muito bem, obrigada. Neste caso, gostaria de danar? perguntou o xerife, tirando o chapu e fazendo

    uma mesura.Se fosse Larado, certamente estaria piscando e dando palmadas nas ndegas de

    todas as moas, pensou Caroline. Claro, xerife, ser um prazer.O xerife danava bem, e Caroline nunca se sentira to protegida e feminina. Todos esto olhando para ns disse o xerife, enrubescendo. Gostaria de ir

    para o lado de fora e respirar um pouco de ar fresco?

    Naturalmente. Saram pela porta dos fundos e ficaram admirando a paisagem.Caroline estremeceu e puxou o xale para mais perto do corpo.

    Oh, a senhorita est com frio? Talvez eu no devesse t-la trazido para o lado defora.

    Estou tima. Na verdade, o simples fato de estar perto daquele homemeducado a fazia estremecer de emoo. Contemplavam um lindo vale banhado pela luacheia.

    Bonito, no mesmo? comentou o xerife. Os texanos dizem que no oitavodia Deus criou o Texas, e que foi a sua melhor obra.

    Caroline riu. Isso talvez seja um sacrilgio.

    Voc no conseguiria fazer com que um texano pensasse dessa maneira. Estavam prximos, prximos demais. Por um longo momento, olharam nos olhos um dooutro, e Caroline sentiu no brao o aperto das mos grandes do xerife. Teve a sensao deque ele ia beij-la, e queria que o fizesse. Ficou na ponta dos ps e levantou o rosto,fechando os olhos.

    Caroline ouviu o xerife suspirar profundamente. Em seguida, ele pigarreou e deuum passo atrs. Ela piscou e abriu os olhos. O xerife parecia inseguro.

    28

  • 7/31/2019 1450 - Um Ho_mem In_comum -J H

    29/96

    No gostaria que a senhorita tivesse uma impresso errada de mim. No costumotomar liberdades com as damas.

    Droga, o xerife era um perfeito cavalheiro. Nesse momento era uma pena que nofosse mais parecido com o canalha do irmo. Caroline sentia uma terrvel necessidade de serabraada e ardentemente beijada.

    Para quebrar o silncio embaraoso, Caroline se virou e contemplou a pradariadistante.

    E realmente muito bonito disse. Algumas moas ianques talvez no apreciassem todas essas plancies, mas uma

    jovem do Texas diferente. Eu gosto... gosto muito daqui. Tenho economizado, mas um policial no ganha muito. Aquele vale est venda,

    e gostaria de compr-lo para comear a criar gado. barato porque a terra muito pobre.Alm disso, h aquele leo sujo que sobe ao solo e torna a terra imprestvel para aplantao. Mas, mesmo assim, o preo est um pouco alm do que posso pagar.

    Sei que um dia vai conseguir juntar o dinheiro.O xerife ficou alguns segundos em silncio, e em seguida disse: Vamos entrar? Se ficarmos aqui mais tempo, as pessoas vo comear a falar. Claro. Caroline desejou que o xerife tivesse feito alguma coisa que realmente

    desse motivo para mexericos.Caminharam de volta para o celeiro. Talvez... quero dizer, a senhorita acha que gostaria de dar um passeio de charrete

    um dia desses? Claro, adoraria! respondeu Caroline. H uma coisa que gostaria de lhe

    perguntar. Preciso trabalhar. Por acaso sabe se h empregos disponveis para uma mulherem Rusty Spur?

    Um emprego? Lawrence mostrou-se surpreso. As mulheres no trabalhammuito por aqui, exceto no Crosseyed Buli Saloon, e o tipo de trabalho que fazem... No

    importa. Uma dama no saberia nada a respeito disso.Lawrence Witherspoon desmaiaria se soubesse que ela costumava servir bebidas no

    Last Chance, um dos piores antros do territrio de Oklahoma. Fui criada em uma fazenda. Sei laar, montar e atirar. Lawrence riu. A senhorita poderia ajudar o seu marido no incio do casamento se ele no tivesse

    dinheiro para contratar mo-de-obra, mas nenhum texano vai contratar uma dama paratrabalhar como caubi.

    Ser que a venda da cidade no est precisando de uma vendedora?Lawrence parou e pareceu refletir. O dono da loja talvez apreciasse a idia, mas a mulher dele, sra. Snootley, no. Se

    bem que grande parte do tempo ela no fica na loja. Est sempre indo a Abilene comprar

    vestidos e chapus.Caroline teve uma idia. Trabalhei durante algum tempo em uma chapelaria. Acha que haveria mercado

    na cidade para esse tipo de negcio?O rosto de Lawrence se iluminou. Bem, talvez. Afinal, a linha de trem chegar aqui em breve, e mais pessoas se

    mudaro para Rusty Spur. A sra. Snootley sempre se queixa de que precisa sair da cidadepara fazer compras porque a loja do seu marido no oferece coisas do agrado das damas.

    29

  • 7/31/2019 1450 - Um Ho_mem In_comum -J H

    30/96

    verdade! Certamente haver procura, com os novos colonos. De repente,Caroline pensou em algo e esmoreceu. Acabo de me lembrar que no tenho capital paraabrir uma loja. Talvez o banco...

    Ainda no temos banco por aqui.Caroline ficou pensativa por um momento. Poderia pedir o dinheiro emprestado ao

    tio Trace. No, no faria isso. S queria aparecer quando pudesse ser to admirada quanto asua irm gmea. Quando tivesse uma loja de sucesso e um marido bonito.

    Est preocupada, srta. Lacey? perguntou Lawrence, segurando delicadamenteas mos de Caroline. Tenho alguns dlares guardados para comprar a fazenda. Teriamuito prazer em emprestar-lhe dinheiro.

    No poderia aceitar sua oferta. O senhor mal me conhece. Sei que posso confiar na senhorita. Mas o dinheiro que est guardando para comprar a fazenda. A loja pode no dar

    certo. Sei que posso confiar na senhorita. E a loja vai dar certo, sim. Vou pensar na sua proposta, est bem assim? Tenho muitas coisas a considerar.Gosto muito da senhorita. Estou feliz porque os meus amigos colocaram o anncio

    no jornal. Acho que tambm estou. Agora vamos danar, e depois deixarei que me leve de

    volta ao hotel. Foi um longo dia.A sra. Bottoms, Jimmy e Paco entraram no hotel, deixando o xerife e Caroline

    sozinhos ao lado da charrete. Eu me diverti muito disse Caroline, sorrindo. Lawrence brincou com a estrela

    no colete. Eu tambm. Seguiu-se um longo silncio. Lawrence pigarreou. Talvez eu a veja amanh. Caroline assentiu com a cabea. O senhor talvez se lembre do que a sra. Bottoms disse, quando voltvamos para

    casa, que vai levar-me para conhecer todos os comerciantes da cidade, porque talvez alguns

    queiram investir na minha chapelaria. Eu me lembro. Mas, srta. Lacey, eu... eu posso lhe emprestar o dinheiro, se

    quiser. No posso aceitar. No correto e... Seria, se estivssemos... Bem, no importa. Mesmo assim, sou-lhe muita grata, sr. Witherspoon. Gostaria que me chamasse de Lawrence. Farei isso. E pode me chamar de L-Lacey. Caroline quase se esqueceu da farsa. Oh, no. Eu no poderia. No quero parecer atrevido. Caroline suspirou. Nesse

    ritmo, a mulher com quem Lawrence se casasse teria que esperar uns dez anos para que eletivesse coragem...

    Ento est bem. Boa noite, Lawrence. Durma com os anjos.Ela entrou no hotel e subiu a escada. Depois de deitada, custou a dormir. Estava

    gostando da cidadezinha, e mais ainda do xerife. Talvez a sua sorte pudesse enfim mudar.No dia seguinte, Mildred Bottoms levou Caroline para conhecer alguns negociantes.

    Primeiro apresentou-a ao ferreiro, que era proprietrio de uma loja vazia, e convenceu-o adeixar Caroline usar a loja de graa durante dois meses. Se a chapelaria desse certo, noterceiro ms ele comearia a cobrar o aluguel.

    30

  • 7/31/2019 1450 - Um Ho_mem In_comum -J H

    31/96

    Em seguida foram a vrios outros estabelecimentos. Os homens no ficaraminteressados, mas as esposas sim. Caroline saiu dos lugares sem nenhum dinheiro, mas commuitas promessas de futuras clientes.

    Por ltimo, foram venda.Abner Snootley era um homem srio e azedo. J ouvi os boatos pela rua resmungou ele. Pode esquecer o assunto, Mildred.

    A minha mulher j gasta dinheiro demais em roupas e chapus.Caroline entrou na conversa. Olhe para a coisa da seguinte maneira, sr. Snootley. A sua esposa no se

    ausentar da cidade o tempo todo para ir a Abilene se puder comprar o que deseja por aqui.Snootley franziu ainda mais o cenho. Isso seria pssimo. Os nicos momentos em que Bertha no est me atazanando

    quando sai da cidade.A sra. Bottoms sorriu. Muito bem; Abner, mas voc est perdendo uma excelente oportunidade de

    investimento. Depois no diga que no o avisei.Quando saram, toparam com a corpulenta esposa de Abner, elegantemente vestida.

    A sra. Bottoms apresentou Caroline e explicou sra. Snootley a idia da loja.A dama empinou o nariz e olhou para as duas com desdm. Estou certa de que nada que essa... essa moa possa criar seria do nvel das coisas

    que costumo comprar em Abilene. Pelo contrrio replicou Caroline. Trabalhei com um requintado estilista

    chamado Pierre, que me ensinou a profisso. Vou fabricar chapus muito elegantes. Todasas damas da cidade iro us-los.

    A sra. Snootley fungou, como se tivesse sentido um cheiro desagradvel. Se essas caipiras vo usar os seus chapus, provavelmente no me interessarei

    por eles.Caroline respirou profundamente para controlar o desejo de dar uma lio naquela

    mulher arrogante. Quando eu inaugurar o French Chapeau, peo-lhe que venha dar uma olhada na

    mercadoria. Gostaria da opinio de uma pessoa com um gosto to apurado.A pedante dama pareceu se acalmar. Bem, talvez eu d uma passada por l. Tenham um bom dia. As trs se

    despediram, e Caroline e a sra. Bottoms comearam a caminhar de volta para o hotel. Voc no iria mesmo querer ter Bertha Snootley como cliente. Por que no? Bem a dona do hotel baixou a voz , dizem que ela usa as coisas que compra

    algumas vezes e depois as devolve. Dessa maneira, sempre tem roupas bonitas. Carolineficou horrorizada.

    Isso deselegante! Depois no diga que no a avisei sobre Bertha Snootley. Voc poderia pensar queela vem da alta sociedade, mas sei que o seu pai era um aougueiro em Cleveland.

    Caroline suspirou. Detesto pegar dinheiro emprestado. Se houvesse um banco na cidade, poderia

    conseguir um emprstimo. Lawrence ofereceu-se para me emprestar um pouco, mas hesitei.A sra. Bottoms sorriu.

    31

  • 7/31/2019 1450 - Um Ho_mem In_comum -J H

    32/96

    Cus. Isso significa que as intenes dele so srias. Se est precisando, aceite,minha jovem. E agora, o que precisamos fazer em seguida?

    Caroline mordeu o lbio, pensando. Preciso elaborar uma lista do material e depois encomend-lo. Em seguida, tenho

    que limpar a loja e prepar-la para receber clientes. Vou pedir a Jimmy e a algumas das criadas do hotel que a ajudem disse a sra.

    Bottoms.Quando chegaram ao hotel, a sra. Bottoms conduziu Caroline cozinha e pegou o

    pote de biscoitos, retirando dele quase cinqenta dlares em notas velhas. pouco, mas deve ajud-la. Caroline ficou surpresa. Oh, no poderia aceitar o seu dinheiro. A senhora j fez muito por mim. Sei julgar bem as pessoas, e acho que voc alcanar um grande sucesso. Vou aceitar, mas prometo que no perderei o seu dinheiro. Bem, prepare o seu pedido e o levaremos para o velho Bill, no escritrio dos

    telgrafos. Em seguida comearemos a fazer a faxina na sala.Uma hora depois, Caroline estava com a lista pronta, e as duas damas

    encaminharam-se para os telgrafos. Na volta, atravessaram a rua intencionalmente epassaram pelo escritrio do xerife.

    O dia estava quente, e a porta encontrava-se aberta. Sentado, e com as botas emcima da mesa, Lawrence examinava psteres de pessoas procuradas pela justia.

    Caroline prendeu a respirao. Ser que o seu estava entre eles? Afastando essaidia, disse:

    Ol, xerife Witherspoon, como vai passando? Boa tarde, srta. Van Schuyler, sra. Bottoms. Belo dia, no mesmo? Certamente. Todos foram muito gentis e dispostos a me ajudar. Eu lhe disse que gostaria de investir o pouco que tenho no seu empreendimento. Oh, eu no poderia... comeou Caroline. Eu insisto. Quando a sua chapelaria for um grande sucesso, em vez de receber o

    dinheiro de volta, quero ter uma participao nela. Eu... no sei o que pensar... Eu insisto. Est bem, vou aceitar.A dona do hotel sorriu para ele. Se tivesse um filho, gostaria que fosse como voc! O xerife enrubesceu. A senhora boa demais para mim. S estou fazendo o meu trabalho.Tambm modesto, pensou Caroline, e sentiu-se ainda melhor com relao a

    Lawrence. Como poderia esse exemplo de virtude, esse pilar de fora, ser irmo do canalhaLarado?

    Estamos indo para o velho prdio para ver o quanto precisamos limp-lo disse

    Caroline. Bem, acho que vou acompanh-las e ajud-la a levar essas coisas pesadas quecarrega, senhorita. De qualquer modo, est na hora de fazer a ronda para ver se hinfratores por a.

    Caroline deu uma olhada ao redor. No parecia provvel. Alm deles, na rua, shavia um sabujo adormecido na porta de uma loja e dois cavalos amarrados diante do bar.Lawrence procurava uma desculpa para caminhar com elas, pensou Caroline, e ficou feliz.Quando chegaram ao velho prdio, a sra. Bottoms exclamou:

    32

  • 7/31/2019 1450 - Um Ho_mem In_comum -J H

    33/96

    Meu Deus... Vamos ter que trabalhar muito para colocar este local em condiesde uso.

    Pode deixar comigo afirmou Caroline. S preciso de uma vassoura, umesfrego e um balde.

    O xerife empurrou o chapu para trs. Uma moa frgil como a senhorita fazendo um trabalho pesado como esse? No

    enquanto houver um homem por perto. A tarde est tranqila vou ajud-la.Caroline ficou impressionada. No tem medo de que os homens o vejam fazendo um trabalho de mulher? Senhorita, nenhum hombre no pas ousaria rir de mim, e no tenho medo de

    nada. Vou buscar Jimmy e algumas criadas informou a sra. Bottoms. Xerife,

    poderia nos trazer um pouco de gua? Qualquer coisa para ajudar damas to encantadoras.A proprietria do hotel afastou-se, e os dois entraram na loja. Ah, j ia me esquecendo! Lawrence enfiou a mo no bolso. Aqui est o

    dinheiro que tenho para investir. Detesto aceit-lo, j que sei que o est poupando para comprar uma fazenda.Lawrence colocou as notas amassadas na mo de Caroline, e fechou suas mos sobre

    as dela.Fez-se um silncio embaraoso enquanto olhavam nos olhos um do outro.

    Finalmente, Caroline obrigou-se a recuar, quando era a ltima coisa que desejava fazer. Muito obrigada pela sua ajuda, xerife. Foi um prazer. Estavam sozinhos na loja escura, e por um momento Caroline

    se perguntou se Lawrence tentava reunir coragem para beij-la. Bem comentou Lawrence, pigarreando. Acho melhor ir buscar o balde com

    gua.Droga! Como seria tornar-se a sra. Lawrence Witherspoon?

    No teriam muito dinheiro, mas havia coisas mais importantes na vida. Ficoupensando nas noites que passaria nos braos do marido. No tinha muito conhecimentodessa parte, mas deixaria que aquele homem bonito a ensinasse. Lawrence era um homemhonrado. Nem um pouco parecido com o canalha do irmo, que nunca perdia umaoportunidade para tirar as roupas ntimas de uma mulher. Apostava como o virtuoso irmopoderia ser um amante to bom quanto Larado.

    A sra. Bottoms voltou com duas mexicanas e Jimmy, todos carregando sabo,escoves e vassouras. Em seguida, o xerife chegou com dois baldes com gua. Juntos,conseguiram limpar o lugar relativamente rpido.

    A sra. Bottoms enxugou o rosto suado. Acho que est bom. Vou voltar para o hotel com as meninas para preparar o

    jantar. Vamos, Jimmy.O menino olhou para Caroline e o xerife e sorriu. Quero ficar com eles. Nada disso. Preciso de voc para descascar as batatas. Esses dois podem terminar

    o trabalho sozinhos. Claro que podemos afirmou Lawrence.Caroline suspirou e enxugou as mos molhadas no avental.

    33

  • 7/31/2019 1450 - Um Ho_mem In_comum -J H

    34/96

    No vamos demorar. Estou ficando com fome. Quando o grupo se afastou, oxerife disse:

    Bom menino. Eu o adotaria se fosse casado. O senhor um bom homem. Talvez possamos lev-lo para andar de trem quando

    ele finalmente chegar cidade. Farei qualquer coisa pela senhorita disse Lawrence. Em seguida, acrescentou:

    a senhorita mesmo bonita... Muito bom que tenha resolvido vir para a cidade, srta.Lacey.

    Tambm acho.Caroline sentia-se a pior pessoa do mundo, pois enganar umhomem no correto.

    Posso lhe fazer uma pergunta? Naturalmente. Ser que Lawrence ia pedir permisso para beij-la? Sim, gritou

    Caroline na sua mente, sim! Eu pensava se poderia acompanh-la at em casa amanh, depois da igreja. O qu?Lawrence arrastou os ps. Sei que h muitos homens querendo cortej-la, mas, afinal de contas, Bill e Paco

    escreveram para a senhorita em meu nome. Est pedindo para me cortejar? No diga "no" ainda, srta. Lacey implorou Lawrence. Sei que no sou rico,

    mas talvez um dia consiga juntar o suficiente para dar a entrada naquela fazenda...No dizer no? Tudo que Caroline queria naquele momento era agarr-lo e beij-lo. Terei muito orgulho que me acompanhe at o hotel depois da igreja, Lawrence.

    Vamos servir torta de ma no hotel.O xerife sorriu. A minha predileta. Feita com as suas mozinhas, suponho. Hum... na verdade, no. A sra. Bottoms pediu-me que fizesse outras coisas. De

    fato, ela no sabia cozinhar um ovo para um cachorro comer nem mesmo um co faminto.

    Bem, acho melhor conduzi-la ao hotel, senhorita. No gostaria de comprometer asua reputao retendo-a depois de escurecer sem acompanhante.

    Oh, por favor, comprometa a minha reputao, pensou Caroline, esperanosa. Claro, tem razo concordou em voz alta. Realmente o aprecio, sr.

    Witherspoon. J lhe pedi que me chamasse o tempo todo de Lawrence. Ficarei feliz em faz-lo, desde que me chame sempre de... Lacey. Oh, no... O xerife brincou com o chapu. No poderia ser to ousado com

    uma verdadeira dama, especialmente uma que ainda no conheo muito bem.Caroline suspirou e se apoiou no brao do xerife, e comearam a se dirigir para a

    porta.

    Lawrence, acho que gostaria de conhec-lo bem melhor.

    34

  • 7/31/2019 1450 - Um Ho_mem In_comum -J H

    35/96

    Captulo IV

    No dia seguinte, como combinado, Lawrence ofereceu-se para acompanhar Carolineao hotel depois do servio religioso.

    No sei se devo. Afinal, vim na companhia da sra. Bottoms disse Caroline, noquerendo parecer muito atirada. Compreendo. O xerife pareceu desapontado. Bem, ento... Sinto, mas ofereci uma carona srta. Wiggly avisou a sra. Bottoms. Temo

    que a srta. Van Schuyler tenha de voltar a p. Neste caso, terei muito prazer em acompanh-la. Lawrence sorriu, feliz. Naturalmente concordou Caroline, abrindo o guarda-sol. As duas mulheres

    partiram com Jimmy, na charrete, e o casal comeou a afastar-se da igreja. Sabe de uma coisa? comentou Caroline, olhando para Lawrence de relance.

    Vocs devem ser gmeos idnticos. O senhor igual ao seu irmo.O xerife fez uma pausa, e sua expresso estava sombria.

    Conhece o meu irmo? Cus, o que ela fizera? Hum... Claro que no, mas acredito que o ouvi dizer que tem um irmo gmeo. Srta. Lacey, se no se importa, prefiro no conversar sobre o meu irmo. No nos

    vemos h muito tempo, e no nos separamos exatamente como bons amigos. Bem, tambm havia uma certa rivalidade entre mim e minha irm. Eu e meu irmo... O que existe entre ns mais do que isso. Era evidente que

    Lawrence no desejava discutir a questo. Sinto ter trazido o assunto baila.

    35

  • 7/31/2019 1450 - Um Ho_mem In_comum -J H

    36/96

    O xerife olhou para Caroline de soslaio. Bem, se a senhorita no sabe... ningum por aqui sabe, mas meu irmo um

    canalha da pior espcie! No me diga! Isso mesmo. um vagabundo, e no faz nada alm de andar atrs das mulheres,

    jogar e beber.Caroline teve vontade de dizer: Voc est absolutamente certo! Na verdade, sempre foi doloroso para mim suportar o meu irmo. E as damas

    ficam cadas por ele. Se meu irmo estivesse aqui, a senhorita no olharia duas vezes paramim.

    De jeito nenhum. Pela sua descrio, ele me parece bastante vazio edesinteressante.

    Oh, que Deus no a atingisse com um raio por contar tanta mentira!Lawrence a fitou com cuidado. Est dizendo que me preferiria a ele? Claro que estou. Toda mulher deseja um homem srio, sensato, em quem possa

    confiar. Um homem que chegue em casa todos os dias s seis da tarde, no beba, no corraatrs de mulheres e no jogue.

    Lawrence sorriu feliz. E como a sua gmea?Caroline no queria falar muito sobre Lacey, com receio de revelar demais e se

    confundir. Bem, digamos que ela muito diferente de mim. Caroline um pouco

    masculinizada e gosta de montar, laar e atirar. No nem um pouco refinada. Parece um desafio para qualquer homem comentou Lawrence.Chegando ao hotel, sentaram-se uma mesa perto da janela ensolarada do

    restaurante.O hotel era merecidamente famoso pelo seu almoo de domingo. Havia uma enorme

    quantidade de travessas cheias de galinha frita e carne assada, alm de tigelas com legumescozidos da horta da sra. Bottoms, po de milho e manteiga fresca batida com o leite dasvacas do local.

    Ah, ch gelado! Lawrence sorriu, satisfeito. O leite do sul.Caroline notou que o xerife comia como um homem de verdade, enquanto ela se

    esforava para comer com delicadeza. Finalmente, foram servidos pudim de po, bolo dechocolate e torta de ma com sorvete caseiro.

    Sra. Bottoms declarou Lawrence quando, depois do almoo, a simpticasen