144 - conjur - darwin deixa grande legado filosófico com a origem das espécies

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    27/7/2014 ConJur - Darwin deixa grande legado filosfico com A Origem das Espcies

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    EMBARGOS CULTURAIS

    29 de junho de 2014, 08:00h

    Por Arnaldo Sampaio de Moraes Godoy

    A Origem das Espcies, de Charles Robert Darwin(1809-1882), um dos livros mais emblemticos ediscutidos de nossa cultura, foi publicado em 1859.Suscitou intenso debate, temperado por ironias eagressividades, a exemplo do clrigo que teriaperguntado a Darwin se o cientista descenderia dossmios pelo lado paterno, ou materno... Jornaispublicavam caricaturas de Darwin mostrando-ocomo um primata. Muita maldade.

    Darwin resistiu e rebateu as crticas que recebeu.Sua teoria, de alguma forma, rejeitava ocriacionismo dominante. Ainda que violentamenteatormentado pelo sofrimento de uma filha, Anne Elizabeth, que morreu aos 10anos, tragdia que se atribuiu indignao justificada de uma iratranscendente, Darwin permaneceu firme, centrado em sua inabalvelconvico. Sua esposa, Emma Wedgwood, sugerem os bigrafos de Darwin,

    teria admitido que a morte de Anne seria o nmese que a desafiadoraconcepo do cientista ingls causara.

    A parte introdutria da Origem das Espcies leitura obrigatria para todosquantos nos preocupamos com questes de epistemologia. So cinco pginasde sinceridade intelectual. A simplicidade com a qual Darwin inicia essa obra cativante:

    Charles Darwin deixa grande legadofilosfico com A Origem das Espcies

    Quando de minha viagem a bordo do H.S.M. S. Beagle, nacondio de naturalista, fiquei deveras impressionado com certosfatos relativos distribuio dos seres vivos existentes na

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    Em seguida, Darwin anuncia tambm com clareza impressionante, os motivosde sua pesquisa:

    Para Darwin, o ncleo da questo estaria na compreenso da independncia(ou no) do processo criador. Na singularidade dessa dvida, o grande mistrioque provoca quem quer que se interesse pelas explicaes sobre a existnciahumana. Prossigo com Darwin:

    Amrica do Sul e s relaes geolgicas entre a fauna e a floraatual e extinta desse continente[1].

    Tais fatos pareceram lanar alguma luz sobre a origem dasespcies, mistrio dos mistrios, de acordo com a definio de umdos nossos maiores filsofos. Assim que voltei ao lar, em 1837,ocorreu-me que talvez pudesse auxiliar nos esclarecimento dessaquesto por meio do estudo e da acumulao pacienciosa de todosos fatos que porventura estivessem ligados ao tema. Desta forma,aps cinco anos de trabalho, achei que pudesse elucidar essa

    questo e redigi algumas breves notas, ampliadas em 1844,quando esbocei algumas concluses sobre o que me parecia assimsuscetvel de verificao. Desde ento, tenho-me empenhado semcessar para esse propsito. Espero que o leitor me perdoe o fato decitar pormenores de carter pessoal; fao-o to somente paramostrar que as minhas concluses no so o resultado de umaatitude precipitada.[2]

    Quando analisamos o problema da origem das espcies,

    compreendemos facilmente que o naturalista que analisa asafinidades mtuas dos seres vivos, suas relaes embriolgicas,sua distribuio geogrfica, a sucesso geolgica e demais fatossemelhantes chegue concluso de que as espcies no devam tersido criadas de maneira independente, mas que, da mesma formaque as variedades, descendam de outras espcies. Todavia, essaconcluso, mesmo sendo bem fundamentada, seria insatisfatria,a no ser que se pudesse mostrar como as incontveis espcies

    que existem nesse mundo teriam sido modificadas, atalcanarem a perfeio estrutural e de coadaptao que te formato efetiva excita a nossa imaginao.[3]

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    Darwin mostrava-se absolutamente seguro das concluses que sua pesquisaindicou. o que se infere da concluso da parte introdutria do livro aquimencionado:

    Aceite-se ou no as ideias de Darwin, acredite-se ou no na mutabilidadedas espcies, rejeite-se ou no o monismo ou o criacionismo, socircunstncias pessoais e substancialmente subjetivas absolutamenteindiferentes ao respeito que se deve pessoa e aos propsitos e mtodosde pesquisa do cientista ingls, ou de qualquer outro pesquisador. Porm,e aqui o grande legado filosfico de Darwin, a fora e a coragemintelectual de quem contraria o pensamento dominante, anunciando-seum mundo intelectual menos acomodado. Isso tambm valeria para as

    cincias sociais aplicveis, embora aqui haja menos evolucionistasnormativos, e muito mais criacionistas jurdicos, ainda que nem docriacionismo estes ltimos entendam.

    [1]Darwin, Charles R.,A Origem das Espcies, So Paulo: Martin-Claret, 2004, p.29. Traduo de John Green.[2]Darwin, Charles R.,A Origem das Espcies, cit., loc. cit.[3]Darwin, Charles R.,A Origem das Espcies, pp. 30-31.

    [4]Darwin, Charles R.,A Origem das Espcies,cit., p. 33.

    Arnaldo Sampaio de Moraes Godoy livre-docente em Teoria Geral do Estadopela Faculdade de Direito da Universidade de So Paulo, doutor e mestre emFilosofia do Direito e do Estado pela Pontifcia Universidade Catlica de SoPaulo e ps-doutor em Teoria Literria pela Universidade de Braslia.

    Revista Consultor Jurdico, 29 de junho de 2014, 08:00h

    Estou totalmente convencido de que as espcies no so

    imutveis, e que aquelas pertencentes ao que chamamos demesmo gnero so descendentes diretas de uma outra espcie jextinta; do mesmo modo que as variedades constatadas de umaespcie descendem de um dos tipos daquela espcie. Finalmente,estou convencido tambm de que a seleo natural foi o meioprincipal de modificao, porm no o nico.[4]