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COMPREENDENDO OS SETE SELOS Apocalipse 6 Os comentadores da Bíblia com freqüência equiparam a estrutura paralela dos 7 selos em Apocalipse 6 com o discurso profético de Jesus nos Evangelhos sinóticos. Beasley-Murray fala por muitos quando diz: "Nenhuma passagem no Novo Testamento está mais intimamente relacionado a este elemento [os selos] dentro do livro do Apocalipse que o discurso escatológico dos Evangelhos, Marcos 13 e as passagens paralelos (Mat. 24 e Luc. 21)". 1 Colocando as duas seqüências proféticas em forma paralela, elas mostram que os 7 selos apresentam as mesmas características e a mesma ordem consecutiva do o discurso do Monte das Oliveiras. Marcos 13 (E PARALELOS) APOCALIPSE 6 1. Guerras v. 7. Mar. 24:6 2. Luta internacional. V. 8; Mat. 24:7 3. Terremotos v. 8; Mat. 24:7 4. Fomes v. 8; Mat. 24:7 Guerra v. 2 Luta v. 4 Fome vs. 5.6 Pestilência

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COMPREENDENDO OS SETE SELOS Apocalipse 6

Os comentadores da Bíblia com freqüência equiparam a estrutura paralela dos 7 selos em Apocalipse 6 com o discurso profético de Jesus nos Evangelhos sinóticos. Beasley-Murray fala por muitos quando diz: "Nenhuma passagem no Novo Testamento está mais intimamente relacionado a este elemento [os selos] dentro do livro do Apocalipse que o discurso escatológico dos Evangelhos, Marcos 13 e as passagens paralelos (Mat. 24 e Luc. 21)".1 Colocando as duas seqüências proféticas em forma paralela, elas mostram que os 7 selos apresentam as mesmas características e a mesma ordem consecutiva do o discurso do Monte das Oliveiras.

Marcos 13 (E PARALELOS) APOCALIPSE 61. Guerras v. 7. Mar. 24:62. Luta internacional. V. 8; Mat. 24:73. Terremotos v. 8; Mat. 24:74. Fomes v. 8; Mat. 24:75. Perseguição vs. 9,10; Mat. 24:96. Pregação do evangelho vs. 10,13; Mat. 24:147. Eclipses, queda de estrelas vs. 24,25; Mat. 24:29 8. Temor pela vinda v. 19; Luc. 21:25,26; de Cristo Mat. 24:30

Guerra v. 2Luta v. 4Fome vs. 5.6Pestilência v. 8Perseguições vs. 9,10Tempo de Espera v. 11 Eclipses, queda de estrelas vs. 12,13Temor pela ira do Cordeiro vs. 15-17

Esta comparação mostra que devemos considerar os selos consecutivos em Apocalipse 6 como a exposição ulterior de Cristo de seu discurso anterior no que tinha resumido a seus discípulos o que lhes aconteceria durante sua missão no mundo. Isto significa que os selos predizem não só os juízos do tempo do fim mas também os juízos

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Compreendendo os Sete Selos. Apoc. 6messiânicos durante toda a época da igreja. Em Mateus 24 Jesus adotou o estilo apocalíptico de Daniel de repetição e ampliação. Duas vezes Jesus começou seu esboço com sua própria geração e depois passou rapidamente adiante na história até o fim da era da igreja, como se pode ver por Mateus 24:1-4 e 24:15-31. Jesus anunciou que as guerras que viriam, as fomes, as perseguições e a apostasia não precederiam imediatamente a sua volta:

"Quando ouvirdes falar de guerras e revoluções, não vos assusteis; pois é necessário que primeiro aconteçam estas coisas... E cairão a fio de espada e para todas as nações serão levados cativos; e Jerusalém será pisada pelos gentios, até que os tempos dos gentios se completem" (Luc. 21:9, 24).

Jesus lhes advertiu especificamente contra uma expectativa iminente:

"Respondeu ele: Vede que não sejais enganados; porque muitos virão em meu nome, dizendo: Sou eu! E também: Chegou a hora! Não os sigais" (Luc. 21:8).

Se os selos desenvolvem em forma adicional Mateus 24, então os selos igualmente se estendem sobre os séculos do período da era cristã. Esta perspectiva histórica dos selos expressa o fluxo estrutural do livro do Apocalipse da época histórica até o juízo final.

O Significado da Era Cristã

É instrutivo refletir sobre o significado das predições de Cristo de guerras, desastres na natureza, perseguições dos santos e uma crescente apostasia da verdade, o amor e a moral. Os selos de Apocalipse 6 assinalam o significado de toda a história ao colocá-los em uma perspectiva do tempo do fim, isto é, à luz dos destinos eternos. Tanto a igreja como a história mundial recebem seu significado transcendental da soberania e os juízos de Cristo (cap. 5). Ele coloca a história do homem no contexto mais amplo do conflito espiritual entre Deus e Satanás e

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Compreendendo os Sete Selos. Apoc. 6seus respectivos princípios de governo. O apóstolo Paulo reconheceu isto:

"Porque a mim me parece que Deus nos pôs a nós, os apóstolos, em último lugar, como se fôssemos condenados à morte; porque nos tornamos espetáculo ao mundo, tanto a anjos, como a homens" (1 Cor. 4:9).

O crisol da história humana é o meio pelo qual Cristo santifica os que aceitam seu senhorio e testemunho de verdade sob as circunstâncias mais adversas. Por outro lado, demonstra sobre a terra os amargos frutos da rebelião contra ele, perdoando as vistas de seus inimigos, desde Caim para frente. Ellen White oferece esta profunda revelação:

"Satanás está constantemente em atividade, com intensa energia e sob mil disfarces para representar falsamente o caráter e governo de Deus. Com planos extensos e bem organizados, e com poder maravilhoso está ele a agir para conservar sob seus enganos os habitantes do mundo. Deus, o Ser infinito e todo sabedoria, vê o fim desde o princípio, e, ao tratar com o mal, Seus planos foram de grande alcance e compreensivos. Foi o Seu intuito não somente abater a rebelião, mas demonstrar a todo o Universo a natureza da mesma. O plano de Deus estava a desdobrar-se, mostrando tanto Sua justiça como Sua misericórdia, e amplamente reivindicando Sua sabedoria e justiça em Seu trato com o mal".2

Cada calamidade proporciona uma nova oportunidade para que o homem caído se volte para Deus. Cristo ensinou esta lição a partir dos acontecimentos de seu próprio tempo (ver Luc. 13:1-5; também João 9:2, 3).

No passado do Israel, Deus tinha enviado quatro juízos sobre seu povo do pacto, que era rebelde: guerra, praga, fome e morte (ver Lev. 26:23-26; Deut. 32:23-25, 42 ["minhas setas"]; Ezeq. 14:12-14, 21). Mas esses juízos nunca foram o juízo final de Deus. Serviram como juízos preliminares, para motivar seu povo rebelde a voltar-se para Deus (ver Osé. 5:14, 15; 6:1-3). Quanto a isto também o Antigo Testamento é um livro de lições para a igreja (1 Cor. 10:11 ).

Cristo deseja que a igreja compreenda que os juízos vindouros ainda estão limitados por sua vontade. Deus ainda está no comando mesmo que seus filhos morram como mártires. Também coloca limites ao

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Compreendendo os Sete Selos. Apoc. 6cavaleiro amarelo sob o quarto selo (Apoc. 6:8). De igual maneira, Apocalipse 12 e 13 afirmam que o anticristo recebe não mais de 3 ½ tempos proféticos, enquanto que à última rebelião é concedida apenas "uma hora" (Apoc. 17:12).

Apocalipse 5 ensina que a responsabilidade pelos juízos de Deus foi transferida a Cristo. Os selos apocalípticos, e por extensão as trombetas e as pragas, todos devem entender-se como juízos messiânicos. O Cristo entronizado é o Senhor da história, ou como Leão de Israel ou como o Cordeiro de Deus (Apoc. 5:5, 6). Isto significa que os que rechaçam o sangue do Cordeiro terão que enfrentar a "ira do Cordeiro" (Apoc. 6:16, 17). Pela fé em Cristo os homens podem confiar que a era cristã tem significado, porque leva a humanidade adiante, a seu destino glorioso.

Desenrolando o Livro da Providência

Em Apocalipse 6, os selos desenvolvem a visão da coroação de Cristo como o Cordeiro imolado que aparece no capítulo 5. O Cordeiro só abre os selos do rolo da escritura da providência. Sempre que Cristo abre um dos 4 primeiros selos, um dos 4 serafins diz "como com voz de trovão": "Vem e vê!" Em resposta aparecem 4 cavalos em forma consecutiva, cada um com uma cor diferente: branco, vermelho, preto e amarelo. Estes cavalos levam cavaleiros diferentes. São enviados à terra um depois que o outro cumpriu sua missão atribuída. Entendemos que cada cavalo se une aos prévios já enviados, de maneira que finalmente os 4 cavalos cavalgam juntos sobre a terra até o fim da era cristã.

Isto quer dizer que os primeiros 4 selos ainda não estão completos, inclusive no tempo do fim. João está em dívida com o Antigo Testamento para esta linguagem figurada de cavalaria celestial. Em suas visões, Zacarias descreve 4 cavalos com cores diferentes (Zac. 1:8-17 e 6:1-8). Isto indica que devemos considerar o significado dos 4 cavalos simbólicos do Zacarias antes de interpretar os 4 cavaleiros apocalípticos.

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Compreendendo os Sete Selos. Apoc. 6Em Zacarias 1 atribuiu-se aos cavaleiros o dever de inspecionar o

mundo gentio com o fim de observar qualquer movimento para restaurar Jerusalém e Judá (1:10). Este relatório foi frustrante: nada estava acontecendo (v. 11). Entretanto, Deus assegura ao profeta que apesar das aparências contrárias, ele estava trabalhando por Jerusalém e Sião com grande zelo (v. 14), enquanto que ao mesmo tempo estava irado contra as nações (v. 15). O Deus do Israel voltaria para Sião, e seu templo e sua cidade seriam reconstruídos. Seriam estabelecidas paz e prosperidade permanentes (8:12).

No capítulo 6, o profeta apresenta o complemento de sua primeira visão. Esta vez vê 4 cavalos diferentes com carros de guerra [merkaba], cada um enviado pelo Deus do céu em todas as direções da terra, para levar a cabo o plano redentor de Deus para Jerusalém. O anjo que interpreta, explica que os 4 carros significam "os quatro ventos dos céus" que são enviados como ministros do Senhor para cumprir a vontade redentora de Deus em todo mundo hostil (Zac. 6:5; cf. Sal. 104:3, 4; Jer. 49:36; Isa. 66:15).

A "terra do norte", ou Babilônia, é escolhida como um lugar exemplar onde o Deus de Israel deseja governar e estabelecer seu descanso (Zac. 6:8). Isto significa que os 4 carros de guerra da visão foram enviados ao mundo com uma missão dupla: (1) submeter todos os poderes políticos do mundo à vontade do Deus de Israel (ver Ag. 2:7-10, 20-23); (2) reunir a todos os crentes israelitas e gentios em Jerusalém e no monte Sião (Zac. 8:8, 20-23). O propósito fundamental é a realização do plano de redenção de Deus e a restauração da verdadeira adoração (vs. 22, 23).

No Apocalipse, Cristo envia seus cavaleiros apocalípticos à terra, desta vez com uma missão do novo pacto (Apoc. 6:2-8): para conquistar os corações humanos a Cristo com o arco e as flechas do evangelho, e para levar a humanidade à reflexão por meio de alguns juízos limitados como antecipações do castigo final de Deus por sua rebelião contra Cristo.

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Compreendendo os Sete Selos. Apoc. 6O Primeiro Selo

"Vi, então, e eis um cavalo branco e o seu cavaleiro com um arco; e foi-lhe dada uma coroa; e ele saiu vencendo e para vencer" (Apoc. 6:2).

O cavalo branco leva um cavaleiro com um arco e uma coroa de vencedor, saindo como "vencendo e para vencer". Alguns expositores modernos interpretam este cavaleiro apocalíptico como símbolo da avidez do homem para conseguir poder e domínio mundial. O argumento é que os 4 cavaleiros de Apocalipse 6 iniciam juízos, de modo que parece "inapropriado ao contexto" ver aqui a conquista de Cristo por meio do evangelho. Os cavalos se usavam para liberar a guerra. Entretanto, cada símbolo deve receber seu significado de seu próprio contexto e nele podemos descobrir a natureza dessa guerra.

Os selos desenvolvem mais amplamente a visão do trono de Apocalipse 5, onde Cristo é descrito como o Senhor ressuscitado, simbolizado pelo Leão que tinha triunfado (Apoc. 5:5). Estabeleceu sua vitória por sua morte na cruz, simbolizado pelo Cordeiro imolado (V. 6). Depois enviou os discípulos, dando-lhes autoridade, para ir a todas as nações e fazer discípulos (Mat. 28:19). Deu-lhes o poder do Espírito Santo para conquistar para ele, até os fins da terra (At. 1:8), assim como conquistou a seu "inimigo" Saulo perto da porta de Damasco (cap. 9). Continua conquistando através do poder do evangelho e a "espada de dois fios" de sua Palavra (Heb. 4:12), com o fim de ganhar para seu reino os corações sinceros de homens e mulheres até o fim do tempo de prova.

Além disso, a estrutura quiástica do Apocalipse coloca a Cristo como o Guerreiro em Apocalipse 19:11-16, como a contraparte significativa e como a consumação do tempo do fim de Apocalipse 6:2. As profecias messiânicas do Antigo Testamento representavam ao Rei davídico como conquistando com arco e flechas (ver Sal. 45:4, 5; Deut. 32:23; Hab. 3:8-11; Sal. 7:12; 21:12). Cristo anunciou que veio trazer a "espada" para todos os que rechaçam sua paz (Mat. 10:34; Luc. 12:51-53). Portanto podemos interpretar o cavalo branco do primeiro selo como

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Compreendendo os Sete Selos. Apoc. 6o cavalo do evangelho que oferece a todos os homens a justiça perfeita de Cristo. Este cavaleiro evangélico ainda conquista homens e mulheres ao redor do globo (1 João 5:4, 5). A última confissão de fé de Paulo ilustra o poder do cavaleiro do cavalo branco: " Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé" (2 Tim. 4:7).

O Segundo Selo

"Quando abriu o segundo selo, ouvi o segundo ser vivente dizendo: Vem! E saiu outro cavalo, vermelho; e ao seu cavaleiro, foi-lhe dado tirar a paz da terra para que os homens se matassem uns aos outros; também lhe foi dada uma grande espada" (Apoc. 6:3, 4).

Os três seguintes cavaleiros apocalípticos têm autoridade para trazer consigo juízos severos sobre a terra. Não devemos considerar estas incursões que produzem morte, fome e praga como os resultados das guerras seculares. Durante séculos houve paz no Império Romano, a "pax romana", desde Armênia até a Espanha.

O cavalo vermelho representa o espírito de oposição ao cavaleiro do evangelho, ou guerra contra o povo de Cristo. Jesus tinha advertido que o testemunho de seus seguidores causaria uma oposição encarniçada: "Não pensem que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, senão espada" (Mat. 10:34; ver a conexão com os vs. 32 e 33 e Luc. 12:51-53). Isto foi o que experimentou a igreja apostólica, como pode ver-se nas cartas de Cristo às igrejas em Esmirna e Pérgamo (Apoc. 2:10, 13). Por outro lado, só Cristo traz a paz do coração: "Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como a dá o mundo" (João 14:27); "E a paz de Deus, que ultrapassa todo entendimento, guardará os vossos corações e as vossas mentes em Cristo Jesus" (Filip. 4:7).

Os césares romanos não toleravam nenhum pensamento de Cristo como o supremo Rei e Senhor. Tentaram erradicar todas as testemunhas públicas cristãs até o tempo da conversão do Constantino no século IV. A interpretação de que o cavalo vermelho significa a perseguição

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Compreendendo os Sete Selos. Apoc. 6religiosa-política por causa de Cristo fica confirmado pela carta de Cristo à igreja da Esmirna (Apoc. 2:8-11 ) e o clamor dos mártires degolados sob o quinto selo (6:9).

Em qualquer lugar que se rechaça o Príncipe da paz, os resultados são luta e violência, não só dentro da igreja mas também na sociedade. O derramamento de sangue nos selos se cumpre em dois níveis: primeiro, dentro da igreja de Cristo e segundo, contra a igreja ao executar os seguidores de Cristo durante toda a época da igreja.

O Terceiro Selo

"Quando abriu o terceiro selo, ouvi o terceiro ser vivente dizendo: Vem! Então, vi, e eis um cavalo preto e o seu cavaleiro com uma balança na mão. E ouvi uma como que voz no meio dos quatro seres viventes dizendo: Uma medida de trigo por um denário; três medidas de cevada por um denário; e não danifiques o azeite e o vinho" (Apoc. 6:5, 6).

A cor "preta" do terceiro cavalo apocalíptico é o contrário exato do primeiro cavalo. Isto sugere que agora se rechaça ou se desconhece a justiça de Cristo. Uma situação assim resulta em fome espiritual, o que nos recorda do juízo predito por Amós (8:11). A palavra de Deus e o testemunho de Jesus chegaram a ser tão escassos que podem simbolizar-se pelo fato de pesar o principal alimento do homem em uma balança (Apoc. 6:5, 6). Este símbolo está tomado de Levítico 26:26, onde primeiro se refere ao juízo de Deus sobre um povo rebelde que sofreria uma fome literal (ver também Ezeq. 4:16). A Escritura também usa a balança para simbolizar um veredicto celestial (Dan. 5:27). O terceiro cavaleiro apocalíptico anuncia uma fome da Palavra e o Espírito de Deus na igreja pós-apostólica, sugerindo que chegará a ser fraco na verdade do evangelho, substituindo-a por um sistema de crenças doutrinais chamado ortodoxia. Mas as doutrinas e cerimônias não podem alimentar a alma, tal como Cristo admoestou em sua carta à igreja de Pérgamo (Apoc. 2:14-16). O terceiro selo se aplica especialmente a esse período da

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Compreendendo os Sete Selos. Apoc. 6história da igreja quando a Igreja e o Estado se uniram e começaram a impor a ortodoxia sobre a consciência humana. A ordem: "Não danifiques o azeite e o vinho" (6:6), sugere um juízo limitado de Deus, que Deus protege seu evangelho em um tempo de escassez espiritual. Revela que Deus cuida ternamente de seu povo.

O Quarto Selo

"Quando o Cordeiro abriu o quarto selo, ouvi a voz do quarto ser vivente dizendo: Vem! E olhei, e eis um cavalo amarelo e o seu cavaleiro, sendo este chamado Morte; e o Inferno o estava seguindo, e foi-lhes dada autoridade sobre a quarta parte da terra para matar à espada, pela fome, com a mortandade e por meio das feras da terra" (Apoc. 6:7, 8).

O cavaleiro do cavalo amarelo é chamado Morte, seguido pelo Hades (a tumba). Os quatro juízos foram enviados antes pelo Deus de Israel a seu povo do antigo pacto (ver Ezeq. 14:21). A cor de um pálido mortal sugere um estado contínuo de decadência espiritual e de um endurecimento maior do coração. O resultado é a apostasia da alma. Podemos pensar nas heresias e enganos como uma conseqüência de rechaçar a verdade do evangelho (ver Apoc. 2:20-23). É o caminho à morte eterna. Então, as "feras da terra" são uma antecipação simbólica das bestas perseguidoras de Apocalipse 13, as quais também receberam permissão de "fazer guerra contra os santos e vencê-los" (vs. 7, 14, 15). O quarto cavaleiro concentra os resultados do trabalho dos cavaleiros anteriores: morte e condenação. Representa a situação prolongada da igreja medieval.

Os primeiros 4 selos seguem o esboço do discurso profético do Jesus em Mateus 24:6-8. A diferença entre Mateus 24 e os selos apocalípticos está no fato de que no Apocalipse pode detectar-se um significado mais profundo porque o primeiro cavaleiro é o evangelho de Cristo.

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Compreendendo os Sete Selos. Apoc. 6Os selos 2 a 4 mostram um endurecimento crescente da

incredulidade dos habitantes da terra, ao rechaçar a mensagem do evangelho do cavaleiro do cavalo branco. Sua morte espiritual será selada finalmente na morte eterna quando receberem a "ira do Cordeiro" durante o sexto selo (Apoc. 6:15-17).

Embora haja uma progressão histórica, os selos refletem a experiência de todos os que aceitam ou rechaçam o evangelho de Cristo. Isso significa que a história pode repetir-se e que o passado outra vez pode chegar a ser o futuro. Ellen White faz esta aplicação pastoral do terceiro e quarto selos:

"Hoje se vê o mesmo espírito que o que está representado em Apocalipse 6:6-8. A história se repetirá. O que foi, voltará a ser. Este espírito trabalha para confundir e desconcertar. Ver-se-á dissensão em cada nação, tribo, língua, e povo; e os que não tiveram um espírito para seguir a luz que Deus deu por meio de seus oráculos viventes, através de suas agências assinaladas, chegarão a confundir-se. Seu juízo revelará debilidade. Na igreja se verão a desordem, a luta e a confusão".3

Em resumo, os cavaleiros apocalípticos dos selos 2 a 4 encontraram seu cumprimento da igreja pós-apostólica que se corrompeu, mas a apostasia e a perseguição não estão limitadas à história passada. Como declara Roy C. Naden: "Uma vez solto, cada cavalo contínua até a segunda vinda".4

O Quinto Selo

"Quando ele abriu o quinto selo, vi, debaixo do altar, as almas daqueles que tinham sido mortos por causa da palavra de Deus e por causa do testemunho que sustentavam. Clamaram em grande voz, dizendo: Até quando, ó Soberano Senhor, santo e verdadeiro, não julgas, nem vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra? Então, a cada um deles foi dada uma vestidura branca, e lhes disseram que repousassem ainda por pouco tempo, até que também se completasse o número dos seus conservos e seus irmãos que iam ser mortos como igualmente eles foram" (Apoc. 6:9-11 ).

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Compreendendo os Sete Selos. Apoc. 6Esta imagem simbólica deve interpretar-se pela Escritura. Jesus

tinha anunciado que depois das revoltas políticas e os cataclismos naturais, seus discípulos seriam perseguidos (ver Mat. 24:9-11, 21).

Depois de abrir o quinto selo, escuta-se o clamor para que se faça justiça divina de todos os que morreram uma morte violenta "por causa da palavra de Deus e por causa do testemunho que sustentavam" (Apoc. 6:9). Este clamor não sai de crentes vivos, e sim simbolicamente de suas "almas" depois de ter sido derramado seu sangue, assim como no caso de Abel, o primeiro mártir. Deus pediu contas a seu assassino com estas palavras: "Que fizeste? A voz do sangue de teu irmão clama da terra a mim" (Gên. 4:10). Isto nos ensina que o Criador nunca esquecerá seus filhos fiéis e faz responsáveis a seus assassinos! Considera o lugar onde suas testemunhas morreram como um "altar" onde foi derramado o sangue de seu sacrifício (cf. Lev. 4:7). De igual maneira, Paulo considerou que sua iminente decapitação pela ordem do imperador Nero, era uma morte como sacrifício a Deus (2 Tim. 4:6).

A visão do quinto selo serve como um paralelo esclarecedor de pisotear e pisar os santos que aparece nas visões do Daniel (Dan. 7-12). A visão do Daniel 7 se estende dos impérios mundiais sucessivos, através da divisão de Roma, até o surgimento do chifre pequeno e a perseguição dos santos durante a Idade Média, até o tempo do fim com a cena de seu juízo majestoso na sala do trono de Deus. Naquele tempo, o "Ancião de dias" pronunciará seu veredicto em favor dos santos (v. 22).

O significado do quinto selo deve ser aberto com a chave de Daniel. Especialmente a visão de Daniel da prevaricação assoladora e do pisar dos verdadeiros adoradores aparece no antecedente do quinto selo. O clamor dos mártires: "Até quando... não julgas, nem vingas o nosso sangue" (Apoc. 6:10), corresponde ao mesmo clamor em Daniel 8: "Até quando durará a visão...entregando o santuário e o exército para serem pisoteados?" (v. 13).

O quinto selo revela que o momento para a vindicação deve esperar "um pouco de tempo", porque incluso não chegou a perseguição do

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Compreendendo os Sete Selos. Apoc. 6tempo do fim. A resposta de Deus à pergunta das testemunhas assassinadas em Apocalipse 6 é: "Então, a cada um deles foi dada uma vestidura branca, e lhes disseram que repousassem ainda por pouco tempo..." (v. 11). As vestimentas brancas dadas aos mártires expressam o cumprimento da predição de Daniel de uma vindicação forense dos santos caluniados (ver Dan. 7:22, 25). Isto dá segurança ao povo de Deus de que ele cuida deles, ouve seu clamor por justiça divina e os vindicará publicamente. Esta consideração leva à conclusão de que o quinto selo alcança até o fim da era cristã, quando Deus executará seus juízos com respeito aos santos e seus perseguidores (Apoc. 11:15, 18). O clamor dos mártires cristãos evoca "a ira do Cordeiro" sobre os que mataram os seguidores de Cristo.

A Palavra de Deus e o Testemunho de Jesus

Antes de passar ao sexto selo, devemos prestar atenção à causa declarada pela qual morreram todos os verdadeiros mártires. O quinto selo diz que morreram "por causa da palavra de Deus e por causa testemunho que sustentavam" (Apoc. 6:9). À primeira vista, podemos pensar que o "testemunho" que tinham se refere ao testemunho pessoal de sua fé em Cristo e na palavra de Deus. Isto certamente é verdade. Mas uma comparação com as referências cruzadas que há no Apocalipse indica que "o testemunho" pelo qual deram sua vida foi o testemunho da própria revelação de Jesus, transmitida pelo Espírito de profecia através dos apóstolos (ver 19:10).

João usa usualmente o termo "testemunho" para referir-se ao testemunho dado pelo próprio Jesus. O próprio livro do Apocalipse é chamado "o testemunho destas coisas [de Jesus] nas igrejas" (Apoc. 22:16). João escreve que estava na ilha de Patmos "por causa da palavra de Deus e o testemunho de Jesus Cristo" (1:9). Isto indica que o sentido mais amplo da frase "o testemunho de Jesus Cristo" é "o evangelho como a revelação da vida e obra de Cristo".5 Isto significa que os

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Compreendendo os Sete Selos. Apoc. 6Evangelhos do Novo Testamento estão incluídos no testemunho de Jesus.

O Apocalipse se abre com a declaração que continua a revelação que Deus deu a Jesus para a igreja (Apoc. 1:1). Portanto, no Apocalipse, João dá testemunho sobre "a palavra de Deus e o testemunho de Jesus Cristo" (v. 2). O Apocalipse como um todo, junto com a proclamação do evangelho do Novo Testamento é parte do testemunho de Jesus. Identifica a igreja remanescente que aparece na profecia do capítulo 12 por esta dupla característica: "Os que guardam os mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus Cristo" (v. 17). O Apocalipse chama à igreja a ser fiel a esta dupla norma da verdade. Esta expressão repetida no livro do Apocalipse serve como uma linha de demarcação entre a adoração verdadeira e falsa de Deus durante toda a era cristã (ver 20:4). Dentro deste amplo contexto chega a ser claro que os mártires durante a era cristã sofreram uma morte violenta por causa de ter mantido a palavra de Deus e do testemunho do Jesus (6:9). Os mártires se aferraram [éijon] ao testemunho que tinham recebido de Jesus e dessa forma foram testemunhas fiéis. "Aceitaram-no, recusaram renunciar a ele, e por conseguinte foram executados. O 'testemunho' não menos que a 'palavra' era uma posse objetiva dos mártires".6 Para um estudo mais amplo do termo apocalíptico "o testemunho de Jesus", ver mais adiante, no capítulo XXI desta obra, sobre Apocalipse 12:17.

O Sexto Selo

"Vi quando o Cordeiro abriu o sexto selo, e sobreveio grande terremoto. O sol se tornou negro como saco de crina, a lua toda, como sangue, as estrelas do céu caíram pela terra, como a figueira, quando abalada por vento forte, deixa cair os seus figos verdes, e o céu recolheu-se como um pergaminho quando se enrola. Então, todos os montes e ilhas foram movidos do seu lugar. Os reis da terra, os grandes, os comandantes, os ricos, os poderosos e todo escravo e todo livre se esconderam nas cavernas e nos penhascos dos montes e disseram aos montes e aos rochedos: Caí

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Compreendendo os Sete Selos. Apoc. 6sobre nós e escondei-nos da face daquele que se assenta no trono e da ira do Cordeiro, porque chegou o grande Dia da ira deles; e quem é que pode suster-se?" (Apoc. 6:12-17).

A abertura do sexto selo descreve a resposta final de Cristo ao clamor das almas "debaixo do altar" (Apoc. 6:10). Anuncia sua chegada como o Guerreiro divino com os mesmos sinais cósmicos no céu e na terra como as que fez Deus quando apareceu como o Rei de Israel. Moisés descreveu a manifestação do Jeová no monte Sinai dizendo:

"Houve trovões, e relâmpagos, e uma espessa nuvem sobre o monte, e mui forte clangor de trombeta, de maneira que todo o povo que estava no arraial se estremeceu. ... Todo o monte Sinai fumegava, porque o Senhor descera sobre ele em fogo; a sua fumaça subiu como fumaça de uma fornalha, e todo o monte tremia grandemente. E o clangor da trombeta ia aumentando cada vez mais" (Êxo. 19:16,18, 19).

Esta vinda de Deus sobre o monte Sinai esteve acompanhada por um terremoto violento, o escurecimento do sol com uma nuvem espessa e fumaça, e um som forte de trombeta. Fez com que todo o povo tremesse com temor (Êxo. 20:18, 19). Esta descrição de Moisés foi adotada pelos profetas de Israel como o arquétipo de todas as teofanias seguintes. Descreveram cada visitação do Senhor em favor de seu povo com sinais cósmicos similares às da teofania do monte Sinai.

Além do terremoto e dos trovões, acrescentaram granizo, uma forte chuva, o secamento repentino de um rio, um pânico aterrador entre os inimigos de Deus e seu povo, e até o sol, a lua e as estrelas como participando da guerra santa de Deus a favor de seu povo do pacto (ver Jos. 3:13; 4:22-24; 5:1; Qui. 5:20, 21; 1 Sam. 7:10; 14:15, 20; Jos. 10:11-14). Este aspecto cósmico proveu uma prova dramática de que o Deus do pacto também era o Criador do céu e da terra. Fez com que as nações pagãs reconhecessem que o Deus vivente estava do lado do Israel (Êxo. 14:25). Raabe de Jericó disse: "Ouvindo isto, desmaiou-nos o coração, e em ninguém mais há ânimo algum, por causa da vossa presença; porque o Senhor, vosso Deus, é Deus em cima nos céus e embaixo na terra" (Jos. 2:11 ).

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Compreendendo os Sete Selos. Apoc. 6Um grande terremoto, chuva e tormenta de granizo e o

obscurecimento do sol e das estrelas chegaram a ser parte dos anúncios da aparição de Deus nas predições do "dia de Jeová" (Yom Yahveh) como o dia do juízo (ver Ezeq. 38:19-23; Joel 2:30, 31; Isa. 24:1-4, 13, 18-23; Jer. 4:23-28).

A Teologia Hebraica dos Sinais Cósmicos

A predição de sinais cósmicos no céu e na terra não tinha o propósito de ser uma predição de alguns fenômenos isolados e intermitentes. Os sinais cósmicos têm um significado teológico na teologia hebraica porque foram descritas como manifestações do Criador vindo como Rei e Guerreiro santo em favor de seu povo do pacto (ver o estudo de 8 exemplos no cap. VI, sob o subtítulo: "A teologia de Cristo dos sinais cósmicos"). Joel declara que o obscurecimento do sol ocorrerá "antes que venha o dia grande e espantoso de Jeová" (Joel 2:31). Entretanto, em suas outras duas predições Joel não indica nenhuma perspectiva dos sinais celestes fora do ponto de vista padrão profético: que os sinais introduzem e acompanham a manifestação do dia do juízo (2:10, 11; 3:15, 16).

Os profetas nunca sugeriram que podemos esperar para ver algum sinal insólito no céu ou na primeiro terra, antes de nos converter ao Senhor. Seu simbolismo cósmico tinha o propósito de motivar o povo de Deus a arrepender-se agora (ver Joel 1:15; 2:1, 10-17). Os profetas nunca estiveram preocupados em ensinar uma ordem determinada de sinais cósmicos. De fato, sentiram-se livres para mudar o modelo dos sinais, algumas vezes deixando que o terremoto precedesse aos cataclismos celestes e outras vezes que o seguisse (Joel 2:10 e 3:15, 16; também Isa. 13:10-13 e 24:18-23; além disso, Jer. 4:23-28).

O profeta Ageu inclusive menciona um terremoto apocalíptico como um sinal cósmico: "Porque assim diz Jeová dos exércitos: daqui a pouco eu farei tremer os céus e a terra, o mar e a terra seca; e farei tremer

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Compreendendo os Sete Selos. Apoc. 6a todas as nações..." (Ag. 2:6, 7). Este futuro terremoto universal não se apresenta como um desastre isolado para informar o mundo da presciência de Deus a respeito de um terremoto vindouro. Ageu apresenta sua predição de uma maneira similar a que houve no Monte Sinai para anunciar a visitação final de Deus sobre a terra, para julgar o mundo e para estabelecer sua glória messiânica sobre a terra (v. 7). A carta aos hebreus aplica a predição do Ageu ao terremoto cósmico ao fim da era cristã:

"Agora, porém, ele promete, dizendo: Ainda uma vez por todas, farei abalar não só a terra, mas também o céu. Ora, esta palavra: Ainda uma vez por todas significa a remoção dessas coisas abaladas, como tinham sido feitas, para que as coisas que não são abaladas permaneçam. Por isso, recebendo nós um reino inabalável, retenhamos a graça, pela qual sirvamos a Deus de modo agradável, com reverência e santo temor; porque o nosso Deus é fogo consumidor" (Heb. 12:26-29).

Esta aplicação do terremoto profetizado por Ageu mostra que o Novo Testamento toma sua linguagem descritiva literalmente para falar de um terremoto cósmico de todas as "coisas criadas" que ocorrerá no fim da era cristã. Isto corresponde exatamente com a abertura do sexto selo em Apocalipse 6:12: "Houve um grande terremoto..." Não será alguma sinal de advertência que proporcionará lugar para um período de arrependimento. Simplesmente introduzirá a era vindoura de glória messiânica (ver Ag. 2:7-9). O propósito moral tanto de Ageu como da carta aos Hebreus é claramente levar a um compromisso para adorar a Deus agora, não quando ocorrer o terremoto cósmico! Além disso, aprendemos a lição importante de que o terremoto apocalíptico não se apresenta como um precursor isolado do dia do juízo, mas sim como a mesma manifestação desse dia.

A Predição de Cristo de Grande Aflição para seus Escolhidos

O discurso profético de Jesus está apoiado no livro apocalíptico do Daniel (ver Mat. 24:15). Indicou a seus discípulos onde estavam no

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Compreendendo os Sete Selos. Apoc. 6esboço profético da história da salvação. Naquele tempo Jerusalém e seu templo estavam a ponto de ser destruídos pelo inimigo de Israel que se aproximava (Luc. 21:21-24), em cumprimento da profecia de Daniel (Luc. 21:22; Dan. 9:26, 27). Além disso, Jesus ressaltou uma preocupação ulterior para seus discípulos que ficariam depois da destruição de Jerusalém. "Porque nesse tempo haverá grande tribulação [thlípsis], como desde o princípio do mundo não tem havido até agora e nem haverá jamais" (Mat. 24:21). Esta maneira de expressar também se deriva da profecia de Daniel e exige um olhar mais detido:

Mateus 24:21 DANIEL 12:1"Porque nesse tempo haverá grande tribulação [thlípsis megále], como desde o princípio do mundo até agora não tem havido e nem haverá jamais".

"Nesse tempo, se levantará Miguel, o grande príncipe, o defensor dos filhos do teu povo, e haverá tempo de angústia [kairós thlípsis], qual nunca houve, desde que houve nação até àquele tempo".

Existe um consenso comum de que Cristo em sua predição da "grande tribulação" referiu-se à tribulação do tempo do fim do povo de Deus em Daniel 12:1, a que será abreviada pelo levantamento de Miguel como o Guerreiro divino. Entretanto, Jesus aplicou essa tribulação vindoura a seus próprios seguidores durante toda a era cristã (ver Mat. 24:21, 22, 29). Jesus não restringiu sua aplicação da tribulação do tempo do fim de que fala Daniel a um período determinado dentro da época da igreja.

O contexto imediato em Mateus 24 (e em Mar. 13) conecta a "tribulação" diretamente com a destruição de Jerusalém (Mat. 24:21; ver Mar. 13:18, 19). Jesus cobre todos os períodos de angústia para seus verdadeiros seguidores, começando com a tribulação sob o judaísmo e Roma imperial (ver Mar. 13:9; Apoc. 2:10), e depois com a morte de seus discípulos "por todas as nações" (Mat. 24:9, CI) durante os séculos da Idade Média aos quais tinha indicado Daniel 7:25. Mas agora Jesus

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Compreendendo os Sete Selos. Apoc. 6usou a frase "grande tribulação" (Mat. 24:21, 22) não de Daniel 7 mas sim de Daniel 12:1 (ver o gráfico anterior). Assim como em Daniel 12:1, Jesus enfatizou também a natureza sem precedentes da tribulação na história humana (Mat. 24:21). Anunciou que a tribulação seria "abreviada” por causa dos escolhidos naqueles dias ou nenhum sobreviveria àquela aflição (Mat. 24:22; Mar. 13:20). Este "abreviar" os dias corresponde exatamente com a promessa que apresenta Daniel, que Miguel se levantaria "naquele tempo” (o "tempo do fim", Dan. 11:40-45) para liberar a seu povo por meio de sua intervenção sobrenatural (Dan. 12:1). A libertação de Miguel abrevia a última aflição, ou não sobreviveria nenhum do povo de Deus.

A divina "interrupção" da aflição global para prevenir a aniquilação completa dos escolhidos dos quais Jesus fala no Mateus 24:22, pode aplicar-se como um cumprimento parcial do surgimento do protestantismo e do seguinte período do Iluminismo ou o "século das luzes", que obteve gradualmente a liberdade religiosa e o fim da perseguição.

Em resumo, Jesus predisse dias de "aflição" para seus seguidores não singularizando um tempo particular de perseguição sob o judaísmo, sob Roma imperial, sob Roma papal ou sob a cristandade apóstata. Abrange todo o período entre os dois adventos, com uma ênfase especial sobre a aflição universal e intensiva no fim da história, a qual assinala em Mateus 24:21 com palavras derivadas de Daniel 12:1. Este alcance exaustivo dos dias de aflição é também o alcance do quinto selo em Apocalipse 6:9-11. O clamor dos mártires mortos não provém exclusivamente de um período de perseguição, mas sim de todo o tempo da era cristã "até que se completasse o número de seus conservos, que também tinham que ser mortos como eles" (Apoc. 6:11). A aflição final para os seguidores de Cristo será abreviada pela intervenção e a libertação divinas.

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Compreendendo os Sete Selos. Apoc. 6Os Sinais Cósmicos Seguem-se à Aflição Final

Jesus terminou sua predição profética com esta promessa:"Logo em seguida à tribulação daqueles dias, o sol escurecerá, a lua

não dará a sua claridade, as estrelas cairão do firmamento, e os poderes dos céus serão abalados. Então, aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem..." (Mat. 24:29, 30).

Nesta metáfora cósmica, Jesus também usa as palavras dos profetas. Inclusive combina em uma imagem o que Isaías descreveu em dois conceitos sobre o dia do Senhor (Isa. 13:10 e 34:4). Como a perspectiva de Isaías não se enfocava nos sinais astronômicos em si, a não ser sobre a aparição do Jeová como o Santo guerreiro, assim a mensagem central do Jesus no Mateus 24 não se centra sobre os sinais celestiais como tais, a não ser no "sinal" de que virá como o designado "filho de homem" da profecia do Daniel (Mat. 24:30), e que ele juntará não a nação escolhida, a não ser seus próprios escolhidos de todas as tribos da terra (V. 31; Mar. 13:27; cf. Mat. 8:11, 12).

A frase, "logo em seguida à tribulação daqueles dias" (Mat. 24:29), ou "naqueles dias, após a referida tribulação" (Mar. 13:24), encaixa no tempo do fim de Daniel 12:1, o qual também assinalava ao quinto selo de Apocalipse 6:11. Essa "tribulação" seria abreviada por causa dos escolhidos de Cristo mediante o resgate imediato de Miguel (Dan. 12:1), quem aparece com os sinais cósmicos como o Filho do Homem em seu carro de nuvens (Mat. 24:30; Mar. 13:27).

Toda a idéia-chave do discurso profético de Jesus é a nova reinterpretação cristológica do dia de Jeová, e esta foi uma notícia espantosa para o judaísmo. O dia do Senhor chegou a ser o dia do Senhor Jesus. Esta verdade fundamental chegou a ser uma parte essencial do evangelho apocalíptico (ver 1 Cor. 1:8; 2 Cor. 1:14; 2 Tes. 2:2; Filip. 1:10). O simbolismo cósmico padrão de Israel, centrado na teofania de Jeová, é reconstituído por Jesus como apoiando-se em sua própria

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Compreendendo os Sete Selos. Apoc. 6cristofania gloriosa. O segundo advento de Cristo revelará a todas as nações sua glória messiânica como o Filho de Deus.

Exegese Literal do Sexto Selo

Seguimos o método reconhecido para fazer uma exegese responsável quando examinamos o uso anterior da linguagem e o tema do sexto selo nos outros livros da Bíblia. Nenhum texto no Apocalipse deve ser interpretado isolado de seu contexto imediato e de seu contexto mais amplo. O procedimento contextual é nosso amparo contra qualquer exegese especulativa ou forçada. Permite lançar um olhar novo a nossas interpretações correntes com a possibilidade de descobrir uma compreensão mais adequada.

Temos descoberto uma teologia consistente dos sinais cósmicos nas profecias e teofanías do Antigo Testamento que estão enraizadas na narração da criação de Gênesis 1. O fato de que o Deus do pacto de Israel é ao mesmo tempo o Criador do céu e da terra proporciona a razão fundamental teológica para os fenômenos naturais excepcionais que ocorrem à aparição do Criador. Tais transtornos, literais e dramáticos, nas leis da natureza sobressaltam tanto a crentes como a incrédulos com um esmagador sentido de insegurança de enfrentar o Criador como o Juiz de toda a terra. Virtualmente, todas as profecias de condenação inclui a linguagem figurada cósmica como a introdução ao dia final da guerra santa a favor do Israel de Deus.

Aprendemos do discurso profético de Jesus (Mat. 24 e paralelos) que sua volta como o "filho de homem" de Daniel 7 foi o "sinal" designado (Mat. 24:30) para o qual olhar. Os sinais celestiais sobrenaturais introduzirão e acompanharão imediatamente sua vinda. Então se lamentarão todas as linhagens da terra, quer dizer, estarão cheios de um remorso amargo por causa dele (Mat. 24:30; Apoc. 1:7). Não há nenhuma sugestão em Mateus 24, Marcos 13 e Lucas 21 de que

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Compreendendo os Sete Selos. Apoc. 6os sinais celestiais são sinais de admoestação para arrepender-se e preparar-se para sua vinda.

Só o Evangelho de Lucas nos diz que quando acontecerem os cataclismos finais sobre a terra e nos céus, "exultai e erguei a vossa cabeça; porque a vossa redenção se aproxima" (Luc. 21:28). Esse não será o tempo para que os que não se prepararam recebam outro apelo ao arrependimento. George R. Knight o recapitula adequadamente: "Dessa maneira, o modelo do Mateus 24 parece ser que os sinais reais não são sinais da proximidade e sim sinais da vinda. Os sinais menos precisos são para animar os crentes a manter-se vigiando, esperando e trabalhando".7

No Apocalipse, Cristo reiteradamente coloca o evento de sua volta no centro, inclusive como a medula de todo o livro (Apoc. 1:7; 6:12-17; 14:14-20; 17:14; 19:11-21). O sexto selo começa com um estremecimento cósmico que sacode tanto a terra como os céus (6:12-14). Descreve o efeito universal sobre os moradores da terra que não têm refúgio contra a "ira do Cordeiro" (vs. 15-17).

O sexto selo nos deixa com a impressão de que haverá uma ruína universal de toda a humanidade. Todos exclamam: "Quem poderá ficar de pé?" (Apoc. 6:17, BJ). A resposta a esta pergunta cheia de ansiedade se apresenta em forma extensa no capítulo 7, um dos capítulos mais consoladores no livro do Apocalipse. Ali encontramos a verdadeira motivação para o arrependimento em preparação para sua vinda: precisamos ser selados com o selo do Deus vivo antes que se soltem os ventos finais de juízo (7:1-3).

O Terremoto Apocalíptico

O sexto selo se abre com: "E sobreveio grande terremoto" (Apoc. 6:12). Este característico requer uma atenção cuidadosa olhando as referências recíprocas em outros livros da Bíblia. No Antigo Testamento, um "terremoto" tem um significado teológico. Constitui uma

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Compreendendo os Sete Selos. Apoc. 6característica regular da aparição de Deus a Israel (uma teofania), do tempo quando desceu sobre o monte Sinai com um terremoto (Êxo. 19:18; Sal. 68:7, 8; ver também Sal. 144:5; Isa. 64:1, 3).

Enquanto o Antigo Testamento fala freqüentemente de terremotos locais como manifestações das visitações de Jeová como Santo Guerreiro em favor de Israel, os profetas descrevem o último terremoto na história da salvação como um estremecimento cósmico que sacudirá a terra e todos os corpos celestiais (ver Joel 2:10, 11; Isa. 2:19-21; 13:10, 11, 13; Sof. 1:2, 3). Este estremecimento global do céu e da terra como a introdução à glória messiânica de uma nova terra se apresenta na perspectiva apocalíptica de Ageu:

"Porque assim diz o Senhor dos Exércitos: Ainda uma vez, daqui a pouco, e farei tremer os céus, e a terra, e o mar, e a terra seca; e farei tremer todas as nações, e virá o Desejado de todas as nações, e encherei esta casa de glória, diz o Senhor dos Exércitos " (Ag. 2:6, 7).

A predição de Ageu se aplica a um tremor literal cósmico que introduz a segunda vinda de Cristo em Hebreus 12:26 e 27. Este terremoto apocalíptico se distingue claramente de todos os terremotos locais anteriores que Jesus tinha anunciado como o "princípio de dores" (Mat. 24:7, 8; Mar. 13:8). Todos os terremotos locais podem ser interpretados como chamados a despertar para preparar-se para a vinda de Cristo; como fortes motivações para arrepender-se antes que seja muito tarde (ver Luc. 13:4, 5).

A qual das duas categorias pertence o "grande terremoto" do sexto selo (Apoc. 6:12), à cósmica ou a local? Não todos os terremotos que aparecem no Apocalipse se descrevem com o tremor cósmico que sacode tanto o mundo como os corpos celestiais. Por exemplo, o "grande terremoto" em Apocalipse 11:13 está caracterizado por sua colocação em "o segundo ai", durante a sexta trombeta, como um sinal preliminar de advertência, com o propósito de levar ao arrependimento. Além disso o descreve como um tremor local, porque "a décima parte da cidade se

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Compreendendo os Sete Selos. Apoc. 6derrubou, e pelo terremoto morreram em número de sete mil homens; e todos outros se aterrorizaram e deram glória ao Deus do céu" (Apoc. 11:13). Este tremor local se distingue do terremoto universal que ocorrerá durante a sétima trombeta ou o "terceiro ai" em Apocalipse 11:19, que ulteriormente se amplia na sétima praga (16:17-21).

O Grande Terremoto do Sexto Selo (Apoc. 6:11-14)

Menciona o sexto selo dois terremotos diferentes, um local (Apoc. 6:12) e um cósmico (v. 14)? Nem a sétima trombeta nem a sétima praga mencionam dois terremotos. Em Mateus 24, Jesus não se referiu a nenhum terremoto particular no tempo do fim. Entretanto, a resposta a nossa pergunta pode encontrar-se no mesmo contexto do sexto selo. O estilo literário de Apocalipse 6:12-14 e 15-17 assinala a seu significado. A primeira unidade dos versículos 12-14 mostra o modelo do ABB1A1, a estrutura típica do paralelismo inverso:

A. Há um grande terremoto.B. O sol, a lua e as estrelas funcionam mau.B1. O céu se desvanece como um pergaminho que se enrola.

A1. Todo monte e toda ilha se remove de seu lugar.O argumento literário descreve uma sacudida do céu e da terra,

exatamente como haviam predito Ageu (2:6) e Hebreus (12:26, 27). "Porque assim diz Jeová dos exércitos: daqui a pouco eu farei tremer os céus e a terra, o mar e a terra seca". Nenhum terremoto local pode igualar a finalidade e as dimensões universais das descrições de Ageu, de Hebreus e a do sexto selo.

Apocalipse 6:12-14 descreve em primeiro lugar os sinais cósmicos na terra e no céu (A e B); depois continua descrevendo os efeitos destes sinais na ordem inversa: no céu (B1) e na terra (Ao terremoto mencionado em "A" é a origem dos efeitos universais mencionados em "A1: o desaparecimento dos montes e das ilhas. Uma descrição similar

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Compreendendo os Sete Selos. Apoc. 6de causa e efeito pode ver-se na sétima praga, onde se menciona primeiro um terremoto tremendo e universal (ver Apoc. 16:18), seguido por seu efeito sobre Babilônia e sobre os montes e as ilhas (vs. 19, 20). A descrição da sétima praga é um paralelo literário surpreendente com a do sexto selo! Precisamos entender ambos da mesma maneira. Este paralelo indica que o sexto selo não projeta dois terremotos diferentes, com centenas de anos entre eles (em Apoc. 6:12-14).

Para entender a composição literária que João apresenta dos cataclismos no céu durante o sexto selo, é instrutivo observar sua adoção da descrição que faz Isaías do juízo mundial devastador de Deus:

"Todo o exército dos céus se dissolverá, e os céus se enrolarão como um pergaminho; todo o seu exército cairá, como cai a folha da vide e a folha da figueira" (Isa. 34:4).

"Porque as estrelas dos céus e os astros não deixarão brilhar a sua luz; o sol se escurecerá ao nascer, e a lua não fará resplandecer a sua luz... Pelo que farei estremecer os céus; e a terra se moverá do seu lugar, por causa do furor do Senhor dos Exércitos e por causa do dia da sua ardente ira" (Isa. 13:10, 13).

Nesta linguagem figurada tão vívida que formula os aspectos espantosos do dia do Senhor, não temos à vista uma ordem de acontecimentos e tampouco há indicação bíblica de que o sexto selo tenha o propósito de ensinar uma ordem específica de eventos (ver no cap. VI a seção "A teologia de Cristo dos sinais cósmicos").

Na unidade seguinte (Apoc. 6:15-17), João descreve o impacto universal do estremecimento cósmico sobre o mundo político, militar, econômico e social. Em vão tratam de procurar refúgio ante o Juiz da terra. Dessa maneira o sexto selo descreve a ordem progressiva de causa e efeito. Se compararmos as descrições do terremoto apocalíptico do Apocalipse, observamos uma ampliação gradual do mesmo na sétima trombeta e na sétima praga:

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Compreendendo os Sete Selos. Apoc. 6APOC. 6:12-14 APOC. 8:5 APOC. 11:19 APOC. 16:18,20,21

"E sobreveio grande terremoto. O sol se tornou negro como saco de crina, a lua toda, como sangue, as estrelas do céu caíram pela terra, como a figueira, quando abalada por vento forte, deixa cair os seus figos verdes, e o céu recolheu-se como um pergaminho quando se enrola. Então, todos os montes e ilhas foram movidos do seu lugar".

"E houve trovões, vozes, relâmpagos e terremoto".

"e sobrevieram relâmpagos, vozes, trovões, terremoto e grande saraivada."

"E sobrevieram relâmpagos, vozes e trovões, e ocorreu grande terremoto, como nunca houve igual desde que há gente sobre a terra; tal foi o terremoto, forte e grande ... Todas as ilhas fugiram, e os montes não foram achados;também desabou do céu sobre os homens grande saraivada".

Este desenvolvimento progressivo do terremoto cósmico não é, obviamente, a predição de dois ou mais terremotos. A composição literária do Apocalipse ensina um terremoto final e cósmico, que se amplia na descrição de cada série seguinte, em harmonia com a crescente severidade dos juízos das trombetas e as pragas à medida que se aproxima o fim.

É significativo que João se apropria em forma consistente das antigas profecias do dia do Senhor para sua descrição do sexto selo. Isto

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Compreendendo os Sete Selos. Apoc. 6é especialmente verdade de sua adoção dos sinais cósmicos de Isaías (13:10, 13; 24:18, 19, 23; 34:4, 8) e do Joel (2:10, 11, 30, 31; 3:14-16). João não encontrou nos profetas uma lista uniforme de sinais cósmicos! Inclusive troca o arranjo de sua fonte principal, Isaías 34:4, em sua própria descrição em Apocalipse 6:12-14. A preocupação dominante de João não é criar uma ordem cronológica determinada de sinais cósmicos, a não ser colocá-as ao redor de Cristo como o novo centro e meta dos cataclismos finais no universo, em harmonia com o próprio entendimento de Jesus em Mateus 24:29-31. Este empréstimo penetrante do Antigo Testamento destaca a unidade teológica de ambos os Testamentos e seu panorama apocalíptico comum. Ambos os Testamentos revelam um Criador-Redentor e um dia de juízo (ver Heb. 1:1, 2; Apoc. 6:17). .

Em conclusão, o sexto selo não pode ser entendido corretamente por si mesmo, divorciado dos cinco selos anteriores. O sexto selo é a consumação dos selos anteriores. O clamor dos mártires por vindicação foi respondido só em um sentido preliminar com a vindicação celestial ("as vestimentas brancas") sob o quinto selo. Têm que "esperar um pouco de tempo", até que se complete a tribulação do tempo do fim para o povo de Deus (Apoc. 6:11). O sexto selo não se abre com outro período de espera para os santos mortos e vivos, a não ser com a chegada do dia de ajuste de contas, o dia de justiça e vindicação.

O Sétimo Selo

O sétimo selo não acrescenta nenhum evento adicional, só "silêncio no céu como por meia hora" (Apoc. 8:1). Este silêncio sugere que a justiça de Deus foi plenamente apoiada sobre as expectativas de Israel (Isa. 62:1; 65:6, 7; Sal. 50:3-6). É interessante notar que o 4° livro de Esdras, escrito na última parte do século I de nossa era, relata uma crença judaica que menciona que o fim da história trará um "silêncio" correspondendo ao silêncio antes da criação do mundo:

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Compreendendo os Sete Selos. Apoc. 6"E o mundo voltará para silêncio primitivo por sete dias, como foi no

primeiro princípio; de maneira que ninguém ficará".8

O sétimo selo parece declarar um "silencio no céu" como o fim da "grande voz" dos mártires por justiça divina. Dessa forma, o ciclo profético dos selos ressegura à igreja que Cristo é o Senhor da história e um fiel guardador do pacto. As bênçãos do pacto prometidas à igreja em Apocalipse 2 e 3 serão outorgadas aos que perseveram na fé ou no testemunho de Jesus até o fim! Este tema de cumprimento chega a ser o enfoque principal de consolo na visão de João de Apocalipse 7.

ReferênciasPara a Bibliografia, ver na página seguinte.

1. Beasley-Murray, Revelation, p. 129.2. Ellen White, PP 78.3. Ellen White, Carta 65, 1898; citado em Simpósio sobre o

Apocalipse, t. 1, pp. 371, 372.4. Naden, The Lamb Among the Beasts. Finding Jesus in the Book

of Revelation, p. 110.5. Pfandl, Simpósio sobre o Apocalipse, t. 2, P. 310.6. Ibid., p. 313.7. Knight, Matthew. Bible Amplifier, p. 237.8. Charlesworth, The Old Testament Pseudepigrapha, t. 1, p. 537 (4

Esdras 7:30).

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Compreendendo os Sete Selos. Apoc. 6FONTES BIBLIOGRÁFICAS PARA APOCALIPSE 6

LivrosBeasley-Murray, George R. Revelation [O Apocalipse]. New Century

Bible Commentary [Comentário da Bíblia do Novo Século]. Grand Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans, 1983.

Charlesworth, J. H., ed., The Old Testament Pseudepigrapha [Os Livros Pseudoepigráficos do Antigo Testamento]. Garden City, New York: Doubleday, 1983-1985. 2 ts..

Ellul, Jacques. Apocalypse. The Book of Revelation [Apocalipse: O livro da Revelação]. Nova York: Seabury Press, ET 1977.

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Compreendendo os Sete Selos. Apoc. 6Schlier, H. "Thlipsis" [Thlípsis], Theological Dictionary of the New

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