13 - joaquim barbosa

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    SENADO FEDERALCOMISSO DE CONSTITUIO, JUSTIA E CIDADANIA

    Ata da 13 Reunio Ordinria da Comisso de Constituio, Justia eCidadania, da 1 Sesso Legislativa Ordinria, da 52 Legislatura, realizada em14 de maio de 2003, Quarta-feira, s 10 horas.

    s dez horas e vinte minutos, do dia quatorze de maio de dois mil e trs, na sala dereunies nmero trs, da Ala Senador Alexandre Costa, sob a Presidncia doSenhor Senador Edison Lobo, com a presena dos Senhores Senadores PapaloPaes, Serys Slhessarenko, Csar Borges, Jefferson Pres, Joo Alberto Souza,Demstenes Torres, Renildo Santana, Juvncio da Fonseca, Marcelo Crivella, JooCapiberibe, Antnio Carlos Magalhes, Almeida Lima, Sib Machado, JosMaranho, Amir Lando, Arthur Virglio, Aloizio Mercadante, Joo Batista Motta,Garibaldi Alves Filho, Luiz Otvio, Joo Ribeiro, Eduardo Suplicy, Tasso Jereissati,Tio Viana, Magno Malta, Romero Juc, Pedro Simon, Ramez Tebet, Jos Jorge,Ana Jlia Carepa rene-se a presente Comisso. Registra-se a presena do

    Senador Jos Agripino. Deixam de comparecer, por motivo justificado, o SenadorAntnio Carlos Valadares. Havendo nmero regimental, o Senhor Presidentedeclara aberta a Reunio, propondo a dispensa da leitura da Ata da Reunioanterior, que dada por aprovada. A Presidncia comunica que est Sobrestada adeliberao das matrias terminativas, no mbito desta Comisso, em virtude dano deliberao, pelo Plenrio do Senado Federal, das Medidas Provisrias ns 94e 101, de 2002, 103, 104 e 107, de 2003, que se encontram sobrestando a Pauta,nos termos do 6 do art. 62, da Constituio Federal. A Presidncia comunica queo Senador Ney Suassuna, deixa de integrar a Composio da Comisso, comunicaainda que o Senador Papalo Paes passa a integrar como membro titular, o blocodo PMDB, em vaga do Senador Luiz Otvio, que passa constituir o Bloco do PMDBcomo membro Suplente; que o Senador Efraim Morais foi deixa de ocupar a vaga deSenador Suplente do Bloco de PFL, passando esta ao Senador Paulo Octvio, navaga ocupada de Senador Suplente da Comisso do bloco do PFL e SenadorRenildo Santana substitui o Senador Jos Jorge, como membro Suplente e oSenador Jos Jorge, como membro Titular. A Presidncia convida para compor amesa Doutor Rubens Approbato Machado, Presidente do Conselho Federal daOAB, o Ministro Sidney Sanches, do Supremo Tribunal Federal e o Senador JooAlberto Souza. Passa-se deliberao do ITEM 1) MENSAGEM (SF) N 94, DE2003 (Mensagem n 164, de 2003, na origem) - NO TERMINATIVO - "Submete considerao do Senado Federal o nome do Senhor ANTONIO CEZAR PELUSO,

    para exercer o cargo de Ministro do Supremo Tribunal Federal. Autoria:Presidncia da Repblica. Relatoria: Senador Joo Alberto Souza. Parecer:Votao Secreta. Resultado: A Comisso aprova a escolha do nome do SenhorAntonio Cezar Peluso, para exercer o cargo de Ministro do Supremo TribunalFederal, por 19 (dezenove) votos favorveis, e 2 (dois) votos em branco. ITEM 2)MENSAGEM (SF) N 95, DE 2003 (Mensagem n 165, de 2003, na origem) - NOTERMINATIVO - "Submete considerao do Senado Federal o nome do SenhorCarlos Augusto Ayres de Freitas Britto, para exercer o cargo de Ministro do SupremoTribunal Federal. Autoria: Presidncia da Repblica. Relatoria: Senador MarceloCrivella. Parecer: Votao Secreta. Resultado: Adiado para a ReunioExtraordinria convocada para esta data, 14/05/2003, a realizar-se s 16 horas e 30

    minutos. ITEM 3) MENSAGEM (SF) N 96, DE 2003 (Mensagem n 166, de 2003,na origem) - NO TERMINATIVO - "Submete considerao do Senado Federal o

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    nome do Senhor JOAQUIM BENEDITO BARBOSA GOMES, para exercer o cargode Ministro do Supremo Tribunal Federal. Autoria: Presidncia da Repblica.Relatoria: Senador Csar Borges. Parecer: Votao Secreta. Resultado: Adiadopara a Reunio Ordinria da prxima quarta-feira, dia 21/05/2003, s 10 horas. Peloadiantado da hora, a Presidncia declara encerrada a presente Reunio, squatorze horas e trinta e cinco minutos, ficando adiada para a prxima Reunio

    Ordinria a deliberao dos demais itens constantes da pauta, a saber: 4)Substitutivo ao PLS N 392, DE 1999; 5) PLS N 38, DE 2003; 6) PLS N 28, DE2002; 7)PLC N 7, DE 2003; 8)PLS N 624, DE 1999; 9)PRS N 34, DE 1999; 10)PEC N 30, DE 2001; 11)PEC N 27, DE 1999; 12)PEC N 39 DE 2001; 13)PECN 7, DE 2003; 14)PEC N 18, DE 2001 (Tramita Em Conjunto Com a PEC N 26,DE 2001); 15)PLC N 96, DE 2001; 16)PLC N 15, DE 2002; 17)PLC N 71, DE2000; 18)PLC N 104, DE 2002; e 19)RQS N 490,DE 2002; e para constar, eu,Gildete Leite de Melo, Secretria da Comisso, lavrei a presente Ata, que aps lidae aprovada, ser assinada pelo Senhor Presidente e publicada no Dirio do SenadoFederal, juntamente com a ntegra das notas taquigrficas.

    SenadorEDISON LOBOPresidente da Comisso de Constituio, Justia e Cidadania

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    NOTAS TAQUIGRFICAS

    O SR. PRESIDENTE (Edison Lobo)Havendo nmero regimental, declaroaberta a 13 reunio ordinria da Comisso de Constituio, Justia e Cidadania da1 Sesso Legislativa Ordinria da 52 Legislatura.

    Antes de iniciarmos nossos trabalhos, proponho a dispensa da leitura da ata

    da reunio anterior.As Srs e os Srs. Senadores que a aprovam queiram permanecer sentados.

    (Pausa)Aprovada.A Presidncia comunica ao Plenrio da Comisso de Constituio, Justia e

    Cidadania que est sobrestada a deliberao das matrias terminativas no mbitodesta Comisso em virtude da no-deliberao pelo Plenrio do Senado Federaldas Medidas Provisrias ns 94 e 101, de 2002, 103, 104, 107, de 2003, que seencontram sobrestando a pauta, nos termos do 6 do art. 62 da ConstituioFederal.

    A Comisso recebeu os seguintes expedientes:- do Lder Renan Calheiros, do PMDB: nos termos regimentais, comunico a

    V. Ex que o Senador Ney Suassuna deixar de integrar, como membro suplente, aComisso de Constituio, Justia e Cidadania;

    - do Lder Renan Calheiros: nos termos regimentais, comunico a V. Ex oremanejamento do Senador Luiz Otvio para a suplncia da Comisso deConstituio, Justia e Cidadania;

    - do Lder Renan Calheiros: nos termos regimentais, comunico a V. Ex aindicao do Senador Papalo Paes como membro titular em vaga anteriormenteocupada pelo Senador Luiz Otvio na Comisso de Constituio, Justia eCidadania;

    - do Lder Jos Agripino: nos termos regimentais, solicito a substituio doSenador Efraim Morais pelo Senador Paulo Octvio como suplente da Comisso deConstituio, Justia e Cidadania;

    - do Lder Jos Agripino: nos termos regimentais, solicito a substituio doSenador Renildo Santana pelo Senador Jos Jorge, como titular, na Comisso deConstituio, Justia e Cidadania. O Senador Renildo Santana passar a ocupar avaga de suplente.

    O SR. JEFFERSON PRES (PDT AM) Sr. Presidente, peo a palavrapela ordem.

    O SR. PRESIDENTE (Edison Lobo) Concedo a palavra ao SenadorJefferson Pres.

    O SR. JEFFERSON PRES (PDT AM) Sr. Presidente, comunico a V.Ex que terei de retirar-me porque tenho um compromisso em meu Estado, masserei substitudo pelo meu suplente, Senador Almeida Lima. Alm disso, registroque h hoje, na pauta da reunio, a indicao e apreciao dos trs nomesindicados para o Supremo Tribunal Federal. H pouco, informalmente, V. Ex j meadiantou que ser ouvido apenas um pela manh e outro, se possvel, tarde. Dequalquer modo, oficialmente, consta a argio dos trs, o que no me pareceadequado.

    Se for submetido ao Plenrio da Comisso e a maioria concordar, gostariaque ficasse estabelecido, como praxe, que sempre seja feita, na reunio, apenas aapreciao de um nome indicado para tribunais superiores. No h condies de

    argir, a srio, trs nomes numa nica reunio. extremamente cansativo. No final,a argio seria de mentirinha, de faz-de-conta, e no deve ser assim, Sr.

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    Presidente. Certamente, a maioria, seno todos os membros da Comisso, levaessa indicao a srio. Eu mesmo j mudei meu voto na Comisso, Sr. Presidente.Na Legislatura passada, ouvimos e argimos um indicado para um dos tribunaissuperiores. As respostas no me convenceram e pareceram muito dbeis, e acabeivotando contra. Creio que um comportamento responsvel exige essa atitude dens.

    Portanto, Sr. Presidente, no h condies efetivas de argir dois ou trsnomes numa nica reunio. Era o registro que gostaria de fazer, para que minharetirada da Comisso no seja encarada erroneamente como um protesto.

    O SR. PRESIDENTE (Edison Lobo) Senador Jefferson Pres,seguramente, esta a primeira vez em que um Presidente da Repblica submete,ao exame do Senado Federal, trs nomes, de uma s vez, para o Supremo TribunalFederal.

    Houve manifestao no sentido de que fossem todos sabatinados de umas vez, em razo da necessidade de que rapidamente pudessem, uma vezaprovados pela Comisso de Constituio, Justia e Cidadania e pelo Plenrio doSenado, ser nomeados pelo Presidente para assumirem suas funes novas na

    Corte Suprema do Pas.Esta Presidncia, ento, atendendo s solicitaes, pautou os trs nomes

    para a sabatina de hoje. Todavia, tanto quanto V. Ex, entendo que, de fato,devemos manter a liturgia, nesta Comisso, a solenidade, no sentido de sabatinarrealmente apenas um indicado de cada vez. Afinal, trata-se da Suprema Corte doPas, que merece, at por isso, ter um tratamento especial da Comisso deConstituio, Justia e Cidadania.

    Aqui esto os convidados, entre os quais reponta o prprio Presidente daOrdem dos Advogados, que nos honra com a sua presena, e por isso mesmo,atribuo s palavras de V. Ex inteira procedncia.

    Ontem noite, j acertei com o Dr. Joaquim Benedito Barbosa Gomes, deofcio, a transferncia da sabatina de S. Ex para a prxima semana. Conversei umpouco com o Dr. Carlos Augusto Ayres de Freitas Britto tambm sobre o assunto e,em princpio, combinei com S. Ex, dependendo da aprovao desta Comisso, quea sabatina de S. Ex se faa na tarde de hoje, aps a Ordem do Dia, ou amanh,pela manh, numa sesso extraordinria.

    Consulto a Comisso se est de acordo com as decises que,preliminarmente, a Presidncia tomou: a primeira, a transferncia da sabatina do Dr.Joaquim Benedito Barbosa Gomes para quarta-feira, e a segunda, a transfernciada sabatina do Dr. Carlos Augusto Ayres de Freitas Britto para a tarde de hoje oupara a manh de amanhtalvez fosse melhor para a tarde de hoje.

    Se as Srs e os Srs. Senadores que compem a Comisso esto de acordo,assim fica estabelecido. (Pausa)Proponho tambm a votao da sugesto de V. Ex, Senador Jefferson

    Pres, no sentido de que daqui para frente se estabelea como norma ouvir-seapenas um candidato a Ministro de Corte Superior de cada vez.

    As Srs e os Srs. Senadores que o aprovam queiram permanecer sentados.(Pausa)

    Aprovado.O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PL RJ) Sr. Presidente, peo a

    palavra pela ordem.O SR. PRESIDENTE (Edison Lobo) Tem a palavra, pela ordem, o

    Senador Marcelo Crivella.O SR. MARCELO CRIVELLA(Bloco/PLRJ)Sr. Presidente, gostaria depropor a V. Ex que a sabatina fosse hoje tarde e no amanh de manh, tendo

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    em vista que sou o Relator e, amanh de manh, no mesmo horrio, haver reunioda Comisso de Relaes Exteriores e Defesa Nacional, o que me deixaria numasituao difcil.

    O SR. PRESIDENTE (Edison Lobo) A Comisso j deliberou nessesentido, Senador Marcelo Crivella.

    Ento, ficar para a tarde de hoje.

    Convido os Senadores Antnio Carlos Magalhes e Marcelo Crivella atrazer, at o recinto, o Dr. Antnio Cezar Peluso.Convido o Relator, Senador Joo Alberto Souza, a tomar assento Mesa,

    bem como o Dr. Rubens Approbato, para que tambm nos d a honra de suapresena aqui Mesa. (Pausa)

    O SR ANTONIO CARLOS MAGALHES (PFLBA)Sr. Presidente, peoa palavra pela ordem.

    O SR. PRESIDENTE (Edison Lobo) Concedo a palavra a V. Ex pelaordem.

    O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHES (PFL BA) Encontra-se naCasa, nesta sala, o Ministro Sydney Sanches, que veio presenciar a sabatina do

    futuro Ministro. Agradeceria se V. Ex o convidasse para compor a Mesa dos nossostrabalhos. At pouco tempo, S. Ex foi um Ministro muito atuante no SupremoTribunal Federal.

    O SR. PRESIDENTE (Edison Lobo) Pois, no. A Presidncia no tinhaconhecimento da presena honrosa do Ministro Sydney Sanches. Portanto, solicito Secretaria que providencie mais uma cadeira e peo ao Vice-Presidente, JosMaranho, que acompanhe o Ministro Sydney Sanches at a Mesa. (Pausa)

    Concedo a palavra ao Senador Joo Alberto Souza, para proferir a leitura dorelatrio.

    O SR. JOO ALBERTO SOUZA (PMDBMA)Sr. Presidente, Srs e Srs.Senadores, o Sr. Presidente da Repblica, por meio da Mensagem n 94, de 2003,submete apreciao do Senado Federal a escolha do Sr. Antnio Cezar Peluso,para exercer o cargo de Ministro do Supremo Tribunal Federal.

    Nascido em Bragana Paulista, no dia 03 de setembro de 1942, filho deDaniel Diordete Peluso e Maria Aparecida Bueno Peluso, o Sr. Antnio CezarPeluso concluiu o bacharelado em Cincias Jurdicas na Faculdade Catlica deDireito de Santos e doutorado em Direito Processual Civil na Faculdade de Direitoda Universidade de So Paulo, em 1974.

    Ainda em relao sua formao, o candidato concluiu os seguintes cursos:especializao em Filosofia do Direito, na Faculdade de Direito da Universidade deSo Paulo; especializao em Direito Processual Civil, na Faculdade Paulista de

    Direito da Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo; mestrado em Direito Civil,na Faculdade de Direito da Universidade de So Paulo; mestrado em Direito Civil,na Faculdade Paulista de Direito da Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo emestrado em Direito Processual Civil, na Faculdade Paulista de Direito da PontifciaUniversidade Catlica de So Paulo.

    Em janeiro de 1968, o Sr. Antnio Cezar Peluso iniciou a sua carreira namagistratura, como juiz substituto da 14 Circunscrio Judiciria do Estado de SoPaulo, com sede em Itapetininga, decorrente de aprovao em concurso pblico.Em novembro daquele ano, foi promovido, por mrito, a juiz de Direito da comarcade So Sebastio.

    Em 1970, pelo critrio de antiguidade, passou a ser juiz de Direito da

    comarca de Igarapava. Por merecimento, foi sucessivamente promovido a 47 juizsubstituto da capital, a juiz de Direito da 7 Vara de Famlia e de Sucesses dacapital, a juiz do 2 Tribunal de Alada Civil e para desembargador do Tribunal de

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    Justia do Estado de So Paulo, cargo que ocupa desde abril de 1986, alm de sermembro efetivo do rgo especial desse tribunal.

    No perodo de 1 de janeiro de 1978 a 31 de dezembro de 1979, o indicadofoi convocado pelo Conselho Superior da Magistratura para o cargo de juiz auxiliarda Corregedoria Geral da Justia. No magistrio superior, o Sr. Antnio CezarPeluso vem atuando em conceituadas instituies de ensino de So Paulo nas

    reas de Direito Civil e de Direito Processual Civil, em cursos de graduao e deps-graduao, desde 1974. Ministrou aulas tambm em cursos de preparao magistratura e ao Ministrio Pblico. Ainda foi membro de bancas examinadoras deconcursos de ingresso magistratura do Estado de So Paulo.

    Dentre as funes por S. Ex desempenhadas, de salientar a dePresidente da Comisso de Concursos para Provimento das ServentiasExtrajudiciais do Tribunal de Justia de So Paulo e de Vice-Diretor e Diretor daEscola Paulista da Magistratura, respectivamente nos binios 1998/1999 e2000/2001, eleito pelo rgo especial do Tribunal de Justia do Estado de SoPaulo.

    Como conferencista, em eventos jurdicos, o indicado j proferiu mais de

    uma centena de palestras sobre temas relacionados a Direito Civil e a DireitoProcessual Civil. Desde 1969, vem apresentando intensa produo cientfica nessesramos do Direito, mediante a publicao de inmeros estudos jurdicos. tambmautor de quatro livros publicados pertinentes sua rea de atuao.

    Dentre os vrios congressos na rea jurdica, dos quais participou, destaca-se o IX Congresso Mundial de Direito Judicirio, realizado em Coimbra, em 1991,como representante da Associao Paulista dos Magistrados. Foi orador emdiversas homenagens oficiais.

    Atualmente, o indicado desempenha, tambm, a funo de Diretor daRevista Dilogos y Debates, da Escola Paulista de Magistratura, desde maro de2002, alm de ser professor regente contratado de Direito Processual Civil naFaculdade Paulista de Direito da Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo,desde 1975.

    de realar que o exame do seu curriculum vitae revela que o indicadorene os atributos necessrios para o pleno desempenho do cargo de ministro doSupremo Tribunal Federal.

    Ante o exposto, e em cumprimento ao disposto no art. 52, inciso III,alnea a, combinado com o art. 84, inciso XIV, da Constituio Federal,submeto apreciao e julgamento desta douta Comisso a indicao donome do Sr. Antnio Cezar Peluso, certo de que os seus ilustres integrantesj dispem de elementos suficientes para deliberar sobre a indicao

    presidencial.Sr. Presidente, esse o relatrio.O SR. PRESIDENTE (Edison Lobo) Concedo a palavra ao Dr. Antnio

    Cezar Peluso para sua exposio.O SR. ANTNIO CEZAR PELUSOSr. Senador Presidente Edison Lobo;

    Sr. Senador Vice-Presidente Jos Maranho; Senador Joo Alberto Souza, dignorelator; Ministro Sidney Sanches; Dr. Rubens Approbato Machado; Srs e Srs.Senadores; Srs e Srs. Deputados; minhas senhoras e meus senhores, com a suaveaquiescncia do Senador Presidente eu assentei, na oportunidade desta introduo,de faz-la de modo oral. Se V. Exs me permitissem nesta solenidade recorrer linguagem jurdica prpria dos processualistas e, ousando interpretar o Regimento

    Interno desta Casa e, sobretudo, desta Comisso, diria que esta audincia, que uma das novidades aps o incio de vigncia da atual Constituio da Repblica,est sob o signo do princpio da oralidade e dos seus subprincpios.

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    A mim me parece e aqui est a ousadia da minha interpretao que afinalidade ltima desta audincia permitir que, pela concentrao dos atos numanica oportunidade, com todos os ilustres integrantes da Comisso e dos demaisSenadores que compaream, V. Exs, a quem a Constituio outorgou esta graveobrigao de julgar no os Ministros do Supremo, mas os indicados para o exercciodessa alta e nobre funo, possam conhecer, nos limites em que um dilogo

    permite, alm dos elementos documentais e outras informaes que a Comissopossa recolher, a personalidade do candidato, o seu modo de ser, enfim, a suasinceridade, que o que me parece fundamental neste contato. De modo que, combase nesse propsito, dentro das possibilidades de uma fala poder serabsolutamente transparente a V. Exs, eu me permiti fazer essa pequena introduooral, sem prejuzo, evidentemente, do alto respeito que devoto ao Senado Federal e,em especial, nesta oportunidade, a V. Exs.

    Nesse propsito, Sr. Presidente, Srs e Srs. Senadores, embora V. Exs jtenham alguns dados da minha vida profissional, gostaria muito de recordar umpouco da minha vida, porque no tenho sido, nos ltimos 35, 36 anos, outra coisa ano ser um servidor da Justia. Formei-me com 23 anos de idade na Faculdade

    Catlica de Direito de Santos, fui contemporneo do Deputado Vicente Cacione, queme d a honra da sua presena nesta oportunidade. Como no Estado de So Paulo,naquela poca, havia uma lei que restringia o acesso aos concursos da magistraturaaos 25 anos de idade, tive de aguardar, cerca de um ano, para prestar o concurso,porque essa sempre foi a minha inteno, sempre foi o meu desejo. Nesse ano, ouum pouco mais, trabalhei num escritrio de advocacia e me preparei para prestar oconcurso.

    Uma vez aprovado, fui designado para a Circunscrio Judiciria deItapetininga, que compreendia, naquela poca e de certo modo ainda compreendehoje, um conjunto de comarcas constitudo por cidades extremamente pobres, queeram conhecidas como ramal da fome. Ali tive, como juiz substituto, a primeiraexperincia da judicatura com os jurisdicionados, mas, em especial, com aquelesque, de certo modo, esto margem dos frutos do desenvolvimento econmico.

    Depois fui nomeado juiz titular da comarca de So Sebastio, com duasparticularidades, que a mim me parecem de relevo. A primeira das quais queestvamos sob a vigncia dos atos excepcionais, as garantias da magistraturaestavam suspensas. Em segundo lugar, aquela comarca era considerada cidade desegurana nacional e, portanto, no dispunha de prefeito, mas de interventor e, pelaproximidade com alguns organismos militares, era sempre palco de incurses,investigaes, realizadas sob a gide desses atos, sobretudo do ato institucional.

    Aprendi ali a conviver com a exceo e, embora estivesse dispensado de

    decidir algumas causas que a lei exigia para garantia dos jurisdicionados, ospredicados integrais da magistratura, jamais deixei de decidir as causas, porqueentendia que o povo no tinha culpa da situao poltico-institucional e deveriareceber a prestao como se nada tivesse existido. Aprendi muito nessaconvivncia, numa poca extremamente difcil da vida poltica brasileira.

    Da fui nomeado juiz de uma pequena cidade do interior, a ltima cidade davia Anhangera, no Estado de So Paulo, s margens do rio Grande, na fronteiracom Minas Gerais, onde, de certo modo, me senti um juiz algo transestadual e tinhamuita convivncia com advogados e outros operadores jurdicos do Estado de MinasGerais. Ali fiquei por trs anos.

    Tive uma experincia extremamente particular, e devo relat-la porque ela

    me forneceu os fundamentos para um projeto que, um pouco mais frente, se tiveroportunidade, ser objeto de uma considerao especfica. Fui juiz em Igarapavadurante trs anos ou um pouco mais. A comarca de Igarapava tinha, ento, a sede

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    do frum num prdio de uma cadeia velha. As dependncias do frum ficavam noandar superior e, no andar inferior, ficavam as selas. Tnhamos 14 presos. Umpouco atrs do edifcio do frum, ficava a delegacia de polcia e um pequenodestacamento da Polcia Militar. Foi ali que tomamos a deciso, uma das primeiras e a iniciativa no foi minha, mas de outro juiz do Estado , de no mantermos presonenhum dos condenados. Durante trs anos, mantivemos em atividades de

    trabalho, fora do pequeno presdio, todos os condenados. No tivemos, durante ostrs anos, nenhum incidente. Ou melhor, tivemos um pequeno incidente, que, se V.Exs me permitem, para quebrar um pouco a formalidade da audincia, at pararetratar de um modo algo pitoresco o relacionamento que tnhamos, promotor, juiz edelegado de polcia, passo a relatar.

    Os presos tinham a obrigao de retornarem, a cada dia do seu trabalho, s18h, ou seja, tinham que se recolher s selas s 18h. Como a sala de audinciasera a sala imediata aps a escada, e o andar inferior da cadeia dava acesso aoandar superior, quem subia a escada, evidentemente, se defrontava logo com amesa de audincia, com o juiz, o promotor, os advogados, as partes e astestemunhas em uma audincia. Numa tarde, por volta de 18 horas e 15 minutos, o

    carcereiro subiu, com toda a ingenuidade e a simplicidade de um carcereiro de umapequena cidade do interior, interrompeu a audincia e, dirigindo-se ao juiz, disse:Meritssimo, V. Ex me permite? Todos paramos. Pois no, disse-lhe. O presofulano de tal ainda no voltou. E o promotor de justia, com muito esprito, disselogo: Ento avise que, quando chegar, ele vai dormir na rua. (Risos)

    O clima de relacionamento entre juiz, promotor e delegado de polcia, queera um homem especial, porque tinha sido professor primrio numa pequena cidadedo interior, formada por muitos descendentes de imigrantes, pessoas de extremasimplicidade, mas de grande cortesia, nos permitiu o reconhecimento da atuaodecisiva nesse sentido, da contribuio que todos esses operadores jurdicos deram vida da cidade de Igarapava. Durante esses trs anos e quatro mesesexatamente, no houve nenhum crime de homicdio na Comarca. E por consideraressa atividade extremamente difcil, eu s tive o privilgio de fazer apenas dois jrisna minha vida. Um deles em So Sebastio, que foi uma tentativa de homicdio, eoutra em Igarapava, que foi uma tentativa branca, em que um jovenzinho de poucomais de 21 anos, com um pequeno canivete, ferira a vtima. Foi levado a jri porminha insistncia junto ao advogado, que temia que o jri o condenasse. Ele foiabsolvido e desclassificado pelo crime de leses corporais e tomou uma pena demulta.

    Isso me mostrou que o comportamento das autoridades pblicas um fatorimportante na normalidade social. Aprendi muito com essa experincia de Igarapava

    e ela me serviu para uma idia de uma concepo a que, se tiver oportunidade, fareireferncia em seguida.Dali fui chamado Comarca da Capital, como juiz auxiliar, e um pouco mais

    adiante fui nomeado juiz titular da 7 Vara da Famlia e Sucesses, onde, devoconfessar, que aprendi um pouco mais a ser juiz. Aprendi que as pessoas procuramos juzes, em certas circunstncias, valendo-se do processo e dos instrumentosprocessuais, mas de certo modo tambm, de todos quanto, enfim, atuam noprocesso, como um substituto de um mecanismo psicolgico para superao dosseus dramas pessoais. E foi ali que aprendi que o juiz no chega a ser um ouvidor,eu diria que uma espcie de contrafator de psicanalista. Aprendi a ouvir. Aprendi ater pacincia e, sobretudo, aprendi a ser um pouco mais humano no exerccio da

    minha profisso. Digo que fui abenoado por ter tido a oportunidade de colaborar,no digo para a soluo do conflito porque seria uma pretenso, mas para umacerta tranqilidade das pessoas que me procuravam.

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    Estava no exerccio dessas funes quando fui textualmente convocadopelo ento Corregedor-Geral da Justia, hoje falecido, Desembargador Humberto deAndrade Junqueira para a funo de assessor, e a exerci durante dois anos, numapoca extremamente difcil e dolorosa para a magistratura do Estado de So Paulo.Extremamente dolorosa e difcil porque tivemos, durante esses dois anos, de cortara prpria carne e instaurar processos que resultaram na exonerao ou no pedido

    de exonerao de nove magistrados, dois dos quais condenados criminalmente, eum deles cumpriu pena e ainda cumpre por crime posterior. Aprendi ali mais umpouco o amor e a devoo da magistratura e o respeito que a magistratura deve-sea si mesma esse vigiar.

    Retornei Vara, onde fiquei por mais um ano e, depois de cinco indicaespor merecimento, quatro das quais fui rejeitado, na discrio que tinha o Sr.Governador do Estado, promoo ao 2 Tribunal de Alada Civil. Evidentemente,jamais acreditei, mas corria sob o pretexto de que eu era um juiz de esquerda ouento um juiz comunista. Fui nomeado na quinta indicao, porque era obrigatria esob a ameaa velada, mas extremamente forte do ento Presidente do 2 Tribunalde Alada Civil, Dr. Jos Guille Carvalho Pinto, de que a magistratura tinha pronto

    um mandado de segurana contra o Governador do Estado se eu no tivesse sidonomeado. Ento, fui nomeado para o 2 Tribunal de Alada Civil, cuja matria,aparentemente, era muito pobre do ponto de vista das teorias jurdicas e daslucubraes, mas extremamente rica do ponto de vista das suas repercussessociais; tratava-se de locao e acidente de trabalho.

    Fui convidado vrias vezes para transferir-me para o 1 Tribunal de AladaCivil, que tinha competncia ento considerada extremamente nobre das demaismatrias. Mas aprendi, mais uma vez, que o exerccio da magistratura nos deixamais realizado quando h proximidade com o povo. Ali fiquei at que, pormerecimento, fui promovido para o Tribunal de Justia de So Paulo, onde, pelaprimeira vez na histria da magistratura paulista, sem ser membro do rgo especialdo Tribunal, encarregado da alta direo do Poder Judicirio Estadual, fui nomeadoDiretor da Escola Paulista da Magistratura. At ento, todos os diretores da EscolaPaulista de Magistratura eram exclusivamente eleitos apenas dentre oscomponentes do rgo especial. Recebi essa eleio como uma honraextraordinria, como um precedente, e essa espcie, permita-me dizer, deautoridade moral, me permitiu, nos dois anos em que exerci o cargo, que consideroda mais alta relevncia, de Diretor da Escola Paulista da Magistratura, abrir aescola.

    A Escola Paulista da Magistratura, hoje, serve no apenas aos magistradosnomeados, que ali fazem o seu estgio durante alguns meses, mas serve aos juzes

    mais antigos, aos promotores, aos advogados e aos estudantes de Direito, e at aterceiros interessados. Naquela escola, chegamos, em alguns cursos que nsconseguimos no Conselho Estadual de Educao, a elevar categoria de ps-graduao, lato sensu. E os cursos hoje so considerados de nvel semelhante aosanlogos das universidades estaduais, mas, mais do que isso, o que me honrasobremaneira foi ter institudo o curso de estgio, pelo qual necessariamente osjuzes nomeados do Estado de So Paulo passam hoje antes de comearem aexercer as suas funes de magistrado, e justifico a V. Exs: talvez a estranheza que no Estado de So Paulo hoje no poderia generalizar o fenmeno , osnossos juzes so jovens recm-egressos das faculdades, porque a remunerao damagistratura paulista j no atrai, infelizmente, como fazia h alguns anos, os

    advogados j experientes, alguns dos quais famosos no exerccio da advocacia.Mas considero que isso um destino histrico. Tenho uma imensaesperana na juventude. E para muitos jovens, que no tinham nenhuma

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    experincia e, em certos casos, no chegavam e no chegam sequer a ter contatocom uma audincia, criamos um mdulo especial dentro do curso em que os juzesso obrigados a conviver com a realidade social mais crua. Alm de terem aulas dematrias no-jurdicas, so obrigados, durante o estgio, a ter um tirocnio nasVaras que esto nas periferias da Grande So Paulo e, sobretudo, nos centrosintegrados de cidadania.

    Considero isso uma contribuio relevante para a mudana da mentalidadeda magistratura. A magistratura, como qualquer organizao, tambm precisa depassos, quem sabe no muito longos, mas significativos de mudanas, e consideroeste de extrema relevncia.

    Passei, ento, a integrar o rgo especial, encarregado da alta direo doPoder Judicirio estadual, de onde recebi esta honrosa indicao do ExcelentssimoSenhor Presidente da Repblica. Sei que o Supremo Tribunal Federal no umdegrau na carreira de um magistrado, mas eu no poderia deixar de fazer referncia magistratura, por dois motivos: porque eu a exerci com tamanha devoo, com talamor, que os meus dois filhos mais novos so, hoje, magistrados, da magistraturade So Paulo, quem sabe a mais complexa das magistraturas e uma das mais

    competentes.Fiz essas referncias iniciais para testemunhar a V. Exs a minha

    dedicao, reverncia e respeito magistratura do meu Pas e, em segundo lugar,para justificar a postulao de um magistrado de provncia ao alto cargo de Ministrodo Supremo Tribunal Federal.

    Tomei emprestado do Senador Jos Sarney, Presidente desta Casa, quetambm um literato, uma pequena frase de seu discurso em homenagem aoegrgio Supremo Tribunal Federal pelo centenrio em que S. Ex diz que Osescolhidos no vm ao Supremo para fazer carreira, mas trazem ao Supremo oprestgio do seu saber e consagrao.

    Provavelmente, eu no trago o prestgio de um grande saber, menos aindade uma consagrao, mas trago o testemunho de uma vida, porque o Tribunal deJustia de So Paulo tem dado ao egrgio Supremo Tribunal Federal, no curso daRepblica, os seus maiores Ministros, desde Costa Manso, Lauro de Camargo,Mrio Guimares, Rafael de Barros Monteiro, Jos Geraldo Rodrigues de Alckmin permita-me, Desembargador Sidney Sanches, apenas para falar dos falecidos.

    Ainda nesse memorvel discurso, S. Ex trouxe uma considerao quereputo importante, em que, na criao do Supremo Tribunal Federal, pela instalaoda Repblica, no art. 5 da Constituio provisria, se dizia que os Ministros doSupremo Tribunal Federal deviam ser homens de reputao que possuamcondies de elegibilidade para o Senado.

    S. Ex discorre longamente sobre as semelhanas e as analogias entre osmembros do Senado, deste augusto Senado, e os membros do Supremo TribunalFederal, que tm realizado um papel histrico e importante na vida poltica destePas e que, no dizer de uma historiadora isenta, jamais faltaram Repblica. Tersido a Repblica que, em alguns momentos, falta de leis adequadas, ter faltadocom o egrgio Supremo Tribunal Federal.

    Tenho conscincia, ainda, Srs. Senadores, da importncia poltico-institucional do egrgio Supremo Tribunal Federal como guardio da Constituio e,no exerccio dessa tarefa, como guardio das instituies, das liberdades pblicas,dos direitos e garantias individuais, enfim, do Estado democrtico de direito.

    Por isso mesmo, Sr. Presidente, Srs. Senadores, apresento-me a V. Exs

    com muita tranqilidade, com a tranqilidade do meu testemunho de vida, perante oqual a conscincia no me acusa de jamais ter faltado com os meus deveresprofissionais. Confesso a V. Exs e V. Exs podero comprov-lo pelo meu

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    currculo que sacrifiquei uma, quem sabe, promissora carreira universitria emduas das grandes universidades do Pas: a Universidade de So Paulo e a PontifciaUniversidade de So Paulo, para no sacrificar o exerccio profissional. Em segundolugar, com uma grande tranqilidade porque conheo e a Nao toda conhecetambma dignidade desta Comisso e do egrgio Senado, composto por homensdo mais alto esprito pblico e que tem tido uma atuao extraordinria nesse

    processo dialtico de colaborao do nosso sistema de nomeao de Ministros parao egrgio Supremo Tribunal Federal. E mais do que isso, uma tradio da extremacortesia com que tenho sido tratado at este momento e tinha certeza de queseria.

    Gostaria de encerrar e acredito, Sr. Presidente, que j estou exagerandoum pouco , mas vou permitir-me uma espcie de traio aos meus propsitosiniciais. Devo narrar a V. Exs que, ontem, recebi uma surpresa da minha mulher,que est presente. Ela me trouxe, ontem noite, algo que tinha esquecido comoescrito, mas que jamais esqueci como ideal de vida. Trata-se do discurso queproferi, mas no vou l-lo todo.

    Em 30 de dezembro de 1982, quando tomei posse como juiz do Segundo

    Tribunal de Alada Civil de So Paulo, entre outras coisas, permitam-me V. Exs, fizuma profisso de f, que gostaria de renovar perante V. Exs, e disse o seguinte:

    Creio num Deus pessoal, absoluto e exigente e, por isso, creio na angstiados juzes que procuram conciliar o exerccio de uma profisso, que o tratamentodas determinaes objetivas do mundo social, cristalizadas nas normas, pe emcontato diuturno com o esprito do tempo, conflituado entre os fatos e os cdigos, osinteresses e os conceitos, com as exigncias irredutveis de uma opo religiosa oude uma aguda conscincia humana, cujo ponto comum de gravidade,situado naentrega ao ideal vivo de um compromisso permanente com a causa da justia e dapessoa humana, a ningum distingue nem discrimina no cristianismo annimo.

    Buscando fugir a uma viso ingnua e cmoda, quando no superficial emesquinha, da ateno, escrupulosamente, doentia e a regras, preceitos e prticasexteriores, refratrios e gestos concretos de misericrdia, mas de granderessonncia e considerao social, quantos juzes no vivenciam o drama do preoda fidelidade aos seus compromissos pessoais e funcionais, absorvendo asincompreenses sinceras, as sutilezas do escrnio disfarado, as crticas dasapincia oficial e os percalos de injustias bem individualizadas.

    O discurso competente no lhes concede sequer o benefcio da dvida e dasinceridade e, no maniquesmo que fermenta sob todas as formas da prepotncia edo arbtrio, no faz conta [disse eu, ento, em 1982] de que a razo pode estar umpouco em toda parte [a frase do atual Ministro da Justia, ento advogado,

    Mrcio Thomaz Bastos, publicada na Folha de S. Paulo, de 27 de novembro de1982, num artigo chamado A OAB, hoje].Um pouco mais, afirmei:Na temtica caracterstica das grandes profecias, o conhecimento de um

    Deus transcende a confisso e o culto nico de Jav, para implicar oreconhecimento efetivo de sua soberania, pela mediao do amor ao prximo, quecorporifica as exigncias de justia. Que interessa a mim o vosso sacrifcio?, dizJav. Estou farto de holocaustos de carneiros..., no continueis a trazer-me oblaov: -me detestvel o fumo do incenso... Ainda que multipliqueis splicas, no asouo, vossas mos esto cheias de sangue..., deixai de fazer o mal, aprendei afazer o bem, buscai a justia, dai seus direitos ao oprimido, fazei justia ao rfo e

    defendei a viva.Ozias insistir nesta temtica que se radicaliza no Novo Testamento: Que

    farei de ti, Efraim? Que farei de ti, Jud? Vossa compaixo como nuvem da

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    manh, como orvalho matinal que passa. Por isso que os tratei duramente pelosprofetas, matei-os pelas palavras de minha boca. Porque quero compaixo, nosacrifcios; conhecimento de Deus, mais que holocaustos.

    A parbola do juzo final que conclui o discurso escatolgico de Mateusparece a muitos resumir o essencial da mensagem evanglica. Por isto, creio naangstia dos juzes que concebem e vivem o Direito como celebrao da vida e da

    justia. Creio no exerccio do testemunho, que reclama postura crtica diante dainstituio e capaz de no silenciar s imperfeies que entravem a prestao deJustia.

    Com elegncia, disse o juiz Fonseca Tavares [um juiz do meu tribunal]:Colocam-se, assim, alguns juzes na posio de melhor estimar as crticas s suasinstituies que os louvores. Quem as critica deseja-as melhores, estima-as, as quersem mculas. Quem as lisonjeia, com defeitos e vcios, as quer defeituosas.

    No relatrio final de sua gesto, de cuja assessoria no abdico o ttulo de tersido um de seus colaboradores mais modestos, o ento Corregedor-Geral daJustia, Humberto de Andrade Junqueira justificou: No participo do entendimento

    de que se deva ocultar as mazelas do Poder Judicirio, sob pretexto de resguardaro seu prestgio e, assim, no sou propenso ao uso de panos quentes...

    E eu acrescentei:Sbias palavras. As imperfeies do Poder Judicirio so inerentes

    condio precria de todas as estruturas humanas e, se a prpria Igreja seconfessa, publicamente, santa e pecadora, que espcie de auto-suficincianos aliviaria de pecados? Suponho que as crticas construtivas, que seexprimam nos condutos legais, embora transbordem intimidade dainstituio, no fazem o dano que lhe advm do trnsito das acusaes que,fluentes, se propagam nas conversas ou circulam, levianamente, na opiniopblica. E panos quentes tendem a apodrecer tudo quanto cobrem!

    E finalizei:E creio, sobretudo, na conscincia esclarecida do papel social da jurisdio,

    enquanto caminho fundamental para o reordenamento jurdico da sociedade e oreencontro do povo com suas aspiraes mais legtimas, principalmente quando secelebra o esforo coletivo para restituir ao Direito a certeza que lhe d aespecificidade tica.

    Como no vos posso enriquecer de cincias e sabedoria, repito, com oApstolo, que, ao me receberdes, vos ofereo tudo o que tenho, que aquilo emque acredito. Por isso, meus pares, aceitai o entusiasmo de minhas crenas!

    Srs. Senadores, se eu tambm no posso oferecer a V. Exs o meu

    prestgio e a minha considerao, gostaria que V. Exs recebessem o meutestemunho de vida e de f no Poder Judicirio deste Pas.Muito obrigado.O SR. ARTHUR VIRGLIO (PSDBAM) Sr. Presidente, peo a palavra,

    pela ordem.O SR. PRESIDENTE (Edison Lobo)Tem V. Ex a palavra, pela ordem.O SR. ARTHUR VIRGLIO (PSDB AM) Sr. Presidente, tenho profundo

    respeito pela instituio do Supremo Tribunal Federal. Pelas demais, claro. Poressa, muito especialmente, at por, acacianamente, se tratar da mais alta Corte deJustia do nosso Pas. Por isso e a minha opinio e sugesto valeria para oSenador Eduardo Suplicy, Presidente da Comisso de Relaes Exteriores e

    Defesa Nacional, se S. Ex estivesse ainda aqui neste momento...O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PTSP)Estou.

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    O SR. ARTHUR VIRGLIO (PSDBAM)Est?O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PTSP)Claro que estou.O SR. ARTHUR VIRGLIO(PSDBAM)Muito bem! que V. Ex quando

    no est vista, ainda assim, eu o mantenho perto do corao.O SR. EDUARDO SUPLICY(Bloco/PTSP)Est bom. Obrigado.O SR. ARTHUR VIRGLIO (PSDBAM)Mas o que quero dizer a V. Ex

    que, para mim, quando se faz uma argio de trs embaixadores de uma s vezapequena o embaixador, certamente preparado para o exerccio do cargo a que odestina o Presidente da Repblica e o Ministro das Relaes Exteriores; apequena aperspectiva de uma inquirio mais ampla e, sem dvida alguma, termina, pelamesma via acaciana, apequenando o resultado poltico e histrico da reunio. Aqui,da mesma maneira. E pergunto a V. Ex se a argio do segundo Ministro seriahoje tarde. Isso para mim no ideal. O ideal seria que fosse na outra tera-feira,para que ns pudssemos dedicar o mximo de tempo ao estudo de tudo enfim queenvolva o papel que S. Ex haver de exercer no Supremo Tribunal Federal; e oterceiro Ministro, na outra semana tera-feira. Os trs juntos V. Ex j tomou umaatitude que, para mim, absolutamente lcida no; os trs juntos significaria

    atropelarmos o processo de exposio de cada um e retirarmos a solenidade dealgo que absolutamente solene, que um momento importante na vida do Dr.Peluso, importante na vida do Dr. Britto, importante na vida do Dr. Gomes.

    Retira-se a solenidade quando se fazem as coisas de maneira aodada, demaneira atropelada.

    Eu estava vendo aqui a inquirio feita ao Ministro Gilmar Mendes. AlgunsSenadores protagonizaram momentos que, se os revissem agora, com oamadurecimento do tempo, talvez se envergonhassem do que fizeram. Eu noenveredaria por esse mesmo caminho.

    Preparei-me para argir o Ministro Peluso e os demais Ministros, e tenhocerteza de que o Senhor Presidente da Repblica merece confiana na indicaoque faz, pois, certamente, quando indica algum o faz sabendo de sua reputaoilibada e notrio saber jurdico. Eu no estaria aqui para fazer panfletos, no fariapanfleto, muito menos envolvendo um Ministro do Supremo Tribunal Federal.

    Digo-lhe da forma ideal pela qual eu veria a argio, e digo-lhe, Sr.Presidente, que imaginamos que as decises que saem cercadas de liturgia, desolenidade, cercadas da gestualstica completa so aquelas que, ao fim e ao cabo,redundaro no prestigiamento do Congresso, no prestigiamento do embaixador oudo ministro inquirido e, eventualmente, aprovado pela maioria da Casa.

    A propsito disso, reiterando o meu respeito ao Supremo Tribunal Federal,que, para mim, est acima de tudo quando se julga qualquer coisa, acima, por

    exemplo, da Comisso de tica desta Casa, quero dizer a V. Ex que aceitei, commuita honra, a incumbncia que V. Ex me deu, de relatar o Projeto de Resoluodo Senador Tio Viana, Lder do PT, que prope a extino da Comisso de tica.Aceitei! Ser um dos trabalhos que farei com mais gosto, com mais apego achegarmos a uma boa verdade aqui. Aceitei!

    Digo isso porque, em algum momento, se questionava se o SupremoTribunal Federal estaria, quem sabe, abaixo do julgamento tico da Comisso detica. Penso que no est, tampouco o Plenrio ou a Mesa. Ou seja, preciso quecoloquemos cada coisa e cada fato no seu devido lugar, com a coragem de assumir,s vezes, posies que no so bem a posio da mar, da opinio pblica. Enfim,no me sinto como algo perdido no mar ou no rio para ficar indo ao sabor das

    mars; procuro, s vezes, remar contra a corrente uma destinao. Fiz issocontra a ditadura, fao isso toda vez que imaginar que uma verdade minha deve serdefendida.

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    Procurarei demonstrar na matria o meu apreo pela Comisso de tica,mas, sobretudo, o meu profundo respeito pela instituio do Supremo TribunalFederal. Ou seja, no correto, no justo que algum imagine que qualquer casoque vai para o Supremo Tribunal Federal l teria o destino do engavetamento, teriao destino do menosprezo, do menoscabo. No! Procurarei, portanto, aceitando aincumbncia que V. Ex me deu, desempenhar da maneira mais justa e com prazer.

    Ser uma atividade prazerosa, como costuma ser a atividade das pessoas quecrem no que dizem.No mais, fao a sugesto no sentido de que se V. Ex pudesse, em

    atendimento a este seu modesto colega, fazer uma reunio hoje, a outra no muitoprxima do horrio da Ordem do Dia o que causa pressa em se fazerem asperguntas e, ao ministro, em respond-las, ficando incompleto o resultado , mas naprxima tera-feira; e, a terceira, na tera-feira seguinte. Creio que seria umatendimento tanto nobreza e ao tamanho, relevncia do Supremo TribunalFederal, quanto s pessoas que querem levar a srio o seu papel de inquirir comconscincia, para que se chegue ao melhor resultado.

    Muito obrigado, Sr. Presidente.

    O SR. TIO VIANA (Bloco/PTAC)Sr. Presidente, pela ordem.O SR. PRESIDENTE(Edison Lobo)Pela ordem, o Lder Tio Viana.O SR. TIO VIANA (Bloco/PT AC) Sr. Presidente, desejo expressar

    muito respeito pela manifestao que faz o Senador Arthur Virglio, neste momento,que tem como propsito o melhor aprofundamento do debate, da sabatina e doconhecimento que possamos ter dos valores apresentados pelo nossoDesembargador, valores muito bem colocados aqui, inclusive de forma brilhante, nasua primeira exposio.

    S gostaria de fazer uma ponderao ao nobre Senador Arthur Virglio,concordando com S. Ex. Devemos aproveitar o mximo o nosso tempo de relao,de sabatina, para aprofundar as grandes diretrizes e os grandes desafios queenvolvem hoje o Supremo Tribunal Federal.

    A Lei n 9.882, de 1999, estabelece que o Supremo Tribunal Federal spode julgar matria constitucional com um quorum mnimo de oito Ministros. E nstemos, neste momento, oito Ministros atuando no Supremo Tribunal Federal. Ento,estamos no limite da linha dgua. Entendo que se pudermos, sem quebrar ainteno e o propsito que apresenta aqui o Senador Arthur Virglio, esgotar todosos debates junto ao nosso Desembargador Peluso, possamos valorizar apossibilidade de, hoje tarde, aps amplo e profundo debate com o atualDesembargador, trazermos ao plenrio da CCJ o prximo Ministro e, na prximatera-feira, o outro Ministro. Com isso, asseguraramos certa tranqilidade ao

    Supremo Tribunal Federal no que diz respeito s suas responsabilidadesconstitucionais.Concordo integralmente com a anlise que fez o Senador Arthur Virglio. A

    nica ponderao que fao : se no esgotarmos hoje as perguntas aoDesembargador Peluso, poderemos perfeitamente concordar em adiarmos, para aprxima tera-feira, a vinda do segundo Ministro. Mas se esgotarmos as indagaeshoje, poderemos ainda neste dia ouvir o segundo Ministro.

    O SR. ALMEIDA LIMA (PDTSE)Pela ordem, Sr. Presidente.O SR. PRESIDENTE (Edison Lobo) Concedo a palavra a V. Ex pela

    ordem.O SR. ALMEIDA LIMA (PDT SE) Sr. Presidente, particularmente,

    compreendo as razes de mrito levantadas pelo Senador Arthur Virglio e concordocom elas. No entanto, pretendo contra-argumentar no sentido de que elas poderoser devidamente cumpridas medida que V. Ex, salvo engano, no tendo ainda

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    designado a hora da reunio desta Comisso para o segundo turno deste dia, o faaaps a Ordem do Dia. Assim, estar atendida a preocupao justa e correta doSenador Arthur Virglio.

    Dito isso e indo ao encontro de suas colocaes, em segundo lugar, at emhomenagem ao que fazemos aqui neste instante e em ateno tambm processualstica expresso utilizada pelo nosso indicado, Dr. Antnio Cezar

    Peluso , que V. Ex faa valer, atendendo primeira colocao, que vai aoencontro das palavras do Senador Arthur Virglio, o princpio da precluso. matriavencida. V. Ex j acatou a deliberao deste Plenrio, no incio da reunio,definindo exatamente os dias para a realizao das sabatinas respectivas.

    s, Sr. Presidente.O SR. ARTHUR VIRGLIO(PSDBAM)Sr. Presidente, pela ordem.O SR. PRESIDENTE (Edison Lobo) Sr. Senadores, atormentada esta

    Presidncia pela necessidade real de prover o Supremo Tribunal Federal de 1/3 desua composio, que pautou os trs Srs. Ministros para a sabatina de hoje.Todavia, no incio desta reunio, j deliberamos que o Ministro Peluso seriasabatinado, como est sendo neste momento, e tarde, logo aps a Ordem do Dia

    peo a ateno de todos os Srs. Senadores , ns procederamos sabatina doDr. Carlos Augusto Ayres de Freitas Britto. Na prxima semana, quarta-feira, sersabatinado o Dr. Joaquim Benedito Barbosa Gomes. Essa j uma deliberao daComisso. No incio desta reunio, assim foi decidido.

    Portanto, agradeo a V. Ex, ao Senador Arthur Virglio e ao Senador TioViana pelas intervenes, mas a deciso j foi estabelecida pela prpria Comisso.

    Concedo a palavra ao Senador Arthur Virglio pela ordem.O SR. ARTHUR VIRGLIO (PSDBAM)Sr. Presidente, procuro ser uma

    pessoa razovel. Neste caso, s-lo-ei uma vez mais.O SR. PRESIDENTE (Edison Lobo)V. Ex sempre .O SR. ARTHUR VIRGLIO (PSDBAM)Em alguns momentos, fao uma

    autocrtica mais dura do que a no crtica que a sua amizade no deixa V. Ex fazerem relao a mim. Eu, s vezes, sou pouco razovel, sim. Procuro ser razovel otempo inteiro e s-lo-ei desta vez. Se assim, se eu estou falando em servir aoSupremo, dignificar o Supremo, lamentarei que o prazo no seja o ideal para sefazer aquilo a que se refere o Lder Tio Viana, ou seja, uma exaustiva inquirio eum exaustivo debate sobre o tema, mas deixo de usar o que seria uma prerrogativaminha e que foi usado de maneira um tanto mesquinha pelo ento Lder do PT noSenado, Senador Jos Eduardo Dutra, quando para c vinha um dos grandesjurisconsultos deste Pas, o Ministro Gilmar Mendes. Refiro-me ao recurso do pedidode vista, ou seja, a situao de fato seria criada se eu me dispusesse a pedir vista

    do relatrio para, em conseqncia, obter o adiamento da apreciao da matria poralgum tempo. No o farei. Registro que pretendo no seguir caminhos que julgomesquinhos, menores, pequenos, canhestros, flbeis, frgeis, e me curvo ao que aComisso havia deliberado e, sobretudo, necessidade do Supremo.

    Portanto, vamos ver se tiramos o melhor proveito do pouco tempo quetemos longe de ser isso o ideal, porque isso no honra a ritualstica, a liturgia, aimportncia solene que devemos conferir ao Supremo, no honra. Desta vez, estouconseguindo ser razovel: cada vez que consigo isso, Sr. Presidente, sinto-me comoalgum dos Alcolicos Annimos; cada vez que consigo isso, digo que estouavanando, um processo de amadurecimento que a gente busca; cada vez queconsigo, um dia a mais de abstinncia do radicalismo.

    Mas, saiba V. Ex que me curvo, embora ressaltando dois pontos. Oprimeiro: eu poderia no me curvar e pedir vista do processo, mas no o farei;segundo: lamento que no estejamos podendo dar importncia mxima, importncia

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    tima, importncia perto do perfeito a algo to solene, to importante, to relevantecomo a inquirio que levar conseqente nomeao de figuras ilustres quepostulam e tenho a melhor impresso dos trs candidatos , pela indicao doSenhor Presidente da Repblica, o apoio do Senado para irem representar a Justiabrasileira no seu mais alto ponto, que a nossa Suprema Corte.

    Obrigado, Sr. Presidente.

    O SR. TIO VIANA (Bloco/PTAC)Sr. Presidente, pela ordem.O SR. PRESIDENTE (Edison Lobo)Pela ordem, tem a palavra V. Ex.O SR. TIO VIANA (Bloco/PTAC) Sr. Presidente, usarei apenas trinta

    segundos. Como houve a citao do Senador Jos Eduardo Dutra entendo que,com razes, o Senador Arthur Virglio o faz , gostaria de citar as palavras doMinistro Gilmar Mendes a respeito do Senador Jos Eduardo Dutra e da condutaque ele teve na Comisso: Essa a luta de que gosto, esse tipo de luta clara, noessa luta de bastidores, no essa discusso fora de determinado contexto. Essesadversrios eu admiro de fato, esses fazem jus minha biografia.

    Como hbito nosso no deixar um amigo na chuva, quero, ao repetir aspalavras do Ministro Gilmar Mendes, dizer que o Senador Jos Eduardo Dutra um

    patrimnio. O Senador Arthur Virglio discutiu apenas o procedimento, no apersonalidade do Senador Jos Eduardo Dutra, e para ressaltar essapersonalidade que fiz questo de enriquecer a interveno de S. Ex com essaspalavras.

    O SR. ARTHUR VIRGLIO (PSDBAM)Sr. Presidente, gostaria de fazerum adendo.

    De fato, eu no teria como discutir a pessoa do Senador Jos EduardoDutra, porque a pessoa dele me interessa menos do que a pessoa pblica noestou aqui para fazer coluna social. Estou aqui para me preocupar com as atitudespblicas de homens pblicos, e dizer que no foi a pessoa generosa do Senadorque aqui denominei de mesquinha naquele episdio. Na verdade, foi a figurapblica, certamente generosa, do Senador que aqui denominei, naquele episdioespecfico, s naquele, de mesquinha, at porque motivada no por razes de servirao Supremo Tribunal Federal, mas por razes polticas, num combate que eraquase que desestabilizador em relao ao governo que estava l.

    Entendo que estamos falando em seqncia: o Senador Tio Viana fala, eucompleto e estamos quase fazendo uma fuso. Daqui a pouco teremos umaidentidade s.

    O SR. PRESIDENTE (Edison Lobo)Senador Antnio Carlos Magalhes.O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHES (PFL BA) Acredito at que

    seja dispensvel salientar, porque o assunto est plenamente resolvido com a

    deciso anterior de V. Ex, mas realmente deveramos sempre fazer um indicado decada vez, inclusive na Comisso de Relaes Exteriores e Defesa Nacional achoque o Senador Suplicy tambm j adotou essa medida.

    Agora, como sabemos procurei saber agora dos Lderes que noteremos Ordem do Dia hoje em virtude da pauta trancada, solicitaria a V. Ex quemarcasse a reunio, digamos, para as 16h30min, porque a poderamos ficar maistempo na discusso sem prejudicar o andamento dos nossos trabalhos. Essa asugesto que fao. Entretanto, se V. Ex quiser fazer em outra hora, nada a opor,contanto que no seja nesta manh.

    O SR. PRESIDENTE (Edison Lobo) A presidncia desde logo aceita acontribuio de V. Ex e marca reunio extraordinria para as 16h30min de hoje.

    O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PTSP)Pela ordem, Sr. Presidente,gostaria de fazer um breve esclarecimento.

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    Gostaria de informar, esclarecer, recordar ao Senador Arthur Virglio que adeciso de ouvirmos trs indicados a embaixadores na Comisso de RelaesExteriores decorreu do grande acmulo de indicaes havidas desde o anopassado, inclusive do Presidente Fernando Henrique Cardoso. Esse esforo j foirealizado e no houve a diminuio de qualquer dos indicados, que foram argidoscom o tempo necessrio e suficiente. Amanh, estaremos trabalhando num ritmo

    normal de apenas um embaixador por reunio, conforme expresso pelo SenadorAntonio Carlos Magalhes, inclusive por consenso da Comisso.Obrigado.O SR. ARTHUR VIRGLIO (PSDB AM) Vou deixar para a reunio de

    amanh, na Comisso de Relaes Exteriores e Defesa Nacional, o debate com oSenador Eduardo Suplicy. Minha homenagem de novo ao nosso Ministro.

    O SR. PRESIDENTE (Edison Lobo) A Presidncia agradeceencarecidamente a V. Ex.

    O SR. ARTHUR VIRGLIO (PSDBAM)E eu a V. Ex pela gentileza desempre.

    O SR. PRESIDENTE (Edison Lobo) visvel o interesse dos Srs.

    Senadores pela sabatina do Ministro Antnio Cezar Peluso. Temos 12 inscries.Peo aos Srs. Senadores que sejam parcimoniosos no tempo que havero de usarnas suas indagaes ao Ministro.

    Concedo a palavra, em primeiro lugar, ao Senador Joo Capiberibe.O SR. JOO CAPIBERIBE(Bloco/PSBAP)Sr. Presidente, Srs e Srs.

    Senadores, Sr. Desembargador Antnio Cezar Peluso, Srs. Ministros, ouviatentamente as palavras do Dr. Antnio Cezar Peluso e fiquei analisando, voltandoo filme ao perodo em que eu era governador e tive dificuldades em funo de umaconcepo extremamente arraigada de direito e de justia.

    Encontrei no Supremo Tribunal Federal a guarida para as minhas agruras edificuldades no Tribunal de Justia do meu Estado. Encontrei a tutela jurdica queme foi negada. Houve situaes polticas de extrema gravidade, em funo de quens, em determinado momento, detectamos que a composio original do Tribunalde Justia do Amap no havia preenchido os requisitos da lei. O Colgio deDesembargadores, na sua maioria, foi composto ao arrepio da lei. Uma vezdescoberto que os desembargadores no eram juzes de carreira, juzes de direito,alguns foram nomeados j aposentados, o que a lei no permite.

    Entrei com uma ao no Supremo Tribunal Federal pedindo a destituio doColgio de Desembargadores e aguardo deciso. A discusso de que, se houvecrime, ele prescreveu porque j se passaram dez anos. Isso s foi descobertomuitos anos depois. Ento, at hoje, aguardo uma posio do Supremo Tribunal

    Federal sobre se houve ou no crime e se prescreveu ou no. Eu gostaria de ouvi-losobre a prescrio de crimes envolvendo o Tribunal de Justia.Uma outra questo em relao ao Estatuto da Criana e do Adolescente,

    que reputo uma das leis mais bem elaboradas e que nunca foi colocada em prtica.Analisando a situao dos menores em regime de recluso na Febem de SoPaulo, onde se gasta R$1,7 por ms por interno, temos visto na televiso rebelies,situaes dramticas, por falta de cumprimento da lei. Muitas vezes, o nossoproblema a falta de cumprimento da lei. Tive problemas graves porque, comogovernador, decidi fazer cumprir o estatuto, porque o considero uma lei irretocvel.E aqui, nesta Casa, tramitam vrias propostas para reduzir a idade deimputabilidade da lei de 18 para 16 anos.

    O Estatuto da Criana e do Adolescente uma lei irretocvel, mas quasenunca foi aplicada. Conheo raros casos de aplicao dessa lei. Sou testemunhadisso, fui acusado por adolescentes, levado diante do juiz, por armao poltica. Em

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    duas oportunidades, dois adolescentes acusaram-me de chefiar a quadrilha denarcotrfico no Estado do Amap exatamente por insistncia minha em cumprir oEstatuto. O resultado que obtivemos com o cumprimento do Estatuto de umareincidncia baixssima, no maior do que 10% dos internos.

    Portanto, essa questo da reduo da idade tambm um aspecto quegostaria de ouvir de V. Ex.

    Muito obrigado.O SR. PRESIDENTE (Edison Lobo)Adotaremos agora um procedimentoque j foi tambm utilizado na ltima vez. Dois interpelantes inicialmente falam paraque o Sr. Ministro responda a ambos. Isso por economia processual.

    Concedo a palavra ao Senador Sib Machado.O SR. SIB MACHADO (Bloco/PT AC) Sr. Presidente, Srs e Srs.

    Senadores, Ministro Sydney Sanches, Dr. Peluso: em primeiro lugar, desejoparabeniz-lo pela simplicidade da sua abordagem. E, em segundo lugar, dizer quetambm fiquei passando um filme da vida, imaginando aqui que hoje estamosfazendo o seu primeiro julgamento, pelo lado positivo; julgando a maneira como V.Ex vem conduzindo a sua carreira.

    V. Ex deve ter sentido uma alegria muito grande quando da defesa de suamonografia, em seu curso de Direito e muito mais agora, ao ser convidado peloPresidente Lula para assumir o cargo que lhe trouxe a esta Casa no dia de hoje.

    A primeira pergunta que quero fazer relativa Constituio Federal.Nestes poucos dias de experincia no Senado Federal, tenho visto que quasedirio o debate sobre as emendas constitucionais. Fico a duvidar se algum hoje, noBrasil, tem em mos uma verso acabada da Constituio Federal, por causa detantas emendas que ela sofre no decorrer dos debates aqui no Congresso. Dentreesses debates, esto todas as reformas apresentadas no apenas pelo atualGoverno, mas pelos anteriores. E, dentro desse contexto, h um tema muitoimportante, do meu ponto de vista, que diz respeito ao direito adquirido daspessoas.

    Com relao a esse tema, indago a V. Ex se o Congresso Nacional podeapresentar emendas constitucionais e se tais emendas podem retroagir a direitosindividuais, inclusive do prprio Poder Judicirio?

    A outra pergunta, ainda sobre a Constituio, se seria possvel pensarnuma reforma da Constituio por completo, vez que clusulas transitrias daConstituio de 1988 previam uma reforma da Constituio em cinco anos. Querosaber ser V. Ex pensa se est na hora da reforma completa da Constituio.

    Sobre o Judicirio, debates feitos em vrios lugares, o que V. Ex pensa docontrole externo do Judicirio, quando a sociedade no tem acesso nem chegada

    dos magistrados aos postos do Poder Judicirio e nem mesmo sua exonerao? Asociedade no participa. A sociedade, como tem um controle maior sobre oExecutivo e o Legislativo, no querendo mais determinado representante, toma umaprovidncia na eleio seguinte. Sobre a situao do exerccio vitalcio domagistrado, possvel pensar num tempo determinado para o exerccio damagistratura?

    O terceiro eixo de pergunta sobre a personalidade do juiz, da pessoa queest julgando. Quero saber a respeito da jurisprudncia. No momento em que o juiztem que usar de conhecimentos tcnicos, dos aspectos tcnicos para fazer ojulgamento, e, quando a lei omissa, se no bastam os aspectos tcnicos, obrigado a usar tambm os aspectos morais. Segundo muitos cientistas, ningum

    apoltico quando o julgador precisa usar tambm informaes polticas. Nestemomento, gostaria de saber como foi, como tem sido a sua atuao durante toda asua carreira.

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    O quarto, apresentado aqui tambm pelo Senador Joo Capiberibe, asituao da prescrio. Pergunto se possvel imaginar que est na hora de o Brasilextinguir a questo da prescrio para crimes mais brbaros, hediondos ou outrosmais?

    Por ltimo, a pergunta sobre a questo da unio entre as pessoas demesmo sexo. Como V. Ex v uma situao como essa?

    Era isso, Sr. Presidente. Obrigado.O SR. PRESIDENTE (Edison Lobo) Com a palavra o Desembargadorpara as devidas respostas.

    O SR. ANTONIO CEZAR PELUSO Agradeo, Senador Joo Capiberibe,as perguntas. V. Ex h de me perdoar se entendi mal, mas eu tive a impresso deque a questo que V. Ex suscitou est posta perante a jurisdio do SupremoTribunal Federal. Por isso, embora o Regimento Interno do Supremo TribunalFederal no reconhea neste caso o impedimento, do ponto de vista jurdico, achoque h um impedimento de ordem tica, porque eu estaria fora do juzo adequadoexpendendo um julgamento preliminar. De modo que peo escusas a V. Ex, nopara fugir de sua questo, mas para, em homenagem ao Supremo Tribunal Federal,

    no adiantar nenhum ponto de vista extremamente pessoal, porque, eventualmente,se V. Ex me aprovar, terei que me defrontar com essa questo e l terei que dar aV. Ex a resposta em termos de colegiado.

    Em relao prescrio em si, tambm se entendi bem a pergunta, o queme parece que no h, do ponto de vista das razes normativas, um motivoparticular para que a prescrio de delitos cometidos por autoridades seja diferentede outros delitos cometidos por outras pessoas. As normas que dizem respeito prescrio no tm aquela qualidade que bsica para o Estado e, sobretudo,bsica perante o princpio da igualdade e, salvo algum motivo racional, jurdico,especfico, haja um tratamento privilegiado no apenas no sentido de concederdireitos, mas no sentido de agravar situaes simplesmente porque a pessoa exerauma autoridade. Em outras palavras, se V. Ex me permite, eu diria que a prescriode eventual crime cometido por desembargadores deve continuar a ser regido pelasnormas, evidentemente sem prejuzo do rigor que, pelo fato de serem autoridades,deva, por parte dos rgos acusadores e at por parte dos rgos julgadores, serobservado.

    Em relao menoridade penal, eu tambm, se entendi bem, estou depleno acordo com V. Ex. Tenho um ponto de vista pessoal. Penso que asconjunturas sociais no devem ditar regras que contrariem a concepo daspessoas. As pessoas humanas so o que so, qualquer que seja o tempo. Emborao seu esprito evolua muitoo esprito do tempo diferente de poca para poca,

    a pessoa humana basicamente a mesma a despeito das dificuldades de ordemestrutural e social. Em outras palavras, o Estado brasileiro vive, de fato, uma pocade crise, por causas cuja anlise decerto no caberia nesta oportunidade nemseria eu um especialista nessa matria. Mas, enfim, reconhecemos todos que socausas difusas, de responsabilidade mltipla. Usando um termo da Teologia daLibertao, um caso de pecado social, porque os pecadores so vrios, no ums.

    No penso que os menores, que esto num processo de formao comopessoa humana, possam ser submetidos, numa idade em que ainda h grandeesperana de recuperao, a um regime carcerrio que, do ponto de vista prtico todos o conhecemos , degradante, desumano, algo que considero,

    particularmente, uma pena acessria, no prevista no ordenamento. As condiesmateriais dos crceres brasileiros, a mim parecem uma pena acessria que imposta. Muitas vezes, isso causa escndalo a quem no afeito ao mundo jurdico

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    ou maneira de o juiz raciocinar; causa tambm aos juzes certa repulsa,absolutamente natural, porque no conseguem superar suas inibies de ordemtica e moral, de imaginar que se coloque uma pessoa humana em certas situaesque, em alguns casos, uma condenao certa pena de morte.

    Sou um homem otimista o lema da minha vida sempre foi a esperana ,e a vivncia na Vara de Famlia tornou absolutamente slida essa convico de que

    sempre podemos ser um pouco melhores. A sociedade e, portanto, tambm oEstado tm a responsabilidade de permitir que cada pessoa, dentro das limitaes,evidentemente, possa tentar realizar o seu projeto de vivncia histrica e o de setornar um pouco melhor como ser humano. Acho que o Estado que nega spessoas as condies materiais para que realizem, em certos casos, a suaconverso no tem a pessoa humana como seu objetivo primrio. E considerariaque a reduo da idade penal como uma soluo conjuntural para um problemaespecfico da nossa poca uma soluo que visa mais conjuntura e menos pessoa e, de certo modo, desestimula as tentativas de fazer com que o Estadoassuma a sua responsabilidade de dar aos adolescentes o tratamento que, de modoexemplar, est previsto no Estatuto da Criana e dos Adolescentes.

    Em princpio, sou absolutamente contrrio. So pessoas em formao, e aobrigao do Estado permitir que se afastem. O que se diz que o Estado notem condio, mas ele precisa fazer fora para responder, de modo mais concreto,s suas obrigaes para com o ser humano. Afinal de contas, o Estado, no fundo,no mais do que uma abstrao, porque, na verdade, somos ns. De modo queestaria de pleno acordo com o que me pareceu que seria a posio de V. Ex.

    Tambm agradeo ao Senador Sib Machado as referncias de carterpessoal, muito gentis, muito elegantes, muito corteses.

    Eu diria que a Constituio tem at um texto expresso sobre ainviolabilidade das clusulas ptreas. Os direitos adquiridos tm hoje um perfildogmtico e reconhecido pela jurisprudncia, o que, eventualmente, est sendoposto em crtica. No quero estabelecer nenhum compromisso com o que direiagora, at porque no me considero ainda em condies de expender um juzodefinitivo a esse respeito, mas h estudos hoje de um constitucionalista portugusmuito conhecido, Vital Moreira, que prope o reexame do conceito dogmtico dedireito adquirido luz da experincia histrica, isto , condicionando a idia dedireito adquirido s necessidades do Estado. Esse um caminho aberto, mas ajurisprudncia hoje mais ou menos estratificada no sentido de que o que forreconhecido como direito adquirido realmente no pode ser ofendido.

    Evidentemente, a idia de direito adquirido uma idia fundamental para avida em sociedade. Se as pessoas que recebem da ordem normativa o

    reconhecimento de certos direitos no puderem contar com a subsistncia dessesdireitos durante a sua existncia, a vida vira um inferno, porque estaramos sempresujeitos s modificaes das circunstncias. Nenhum de ns, provavelmente, teriaalgum projeto de vida, porque teramos que reformular as nossas aes a cadacircunstnciae, portanto, as nossas aes deixariam de ser fiis a si mesmas.

    Considero isso algo absolutamente contrrio s condies bsicas desubsistncia e de realizao de cada pessoa.

    O SR. DEMSTENES TORRES(PFLGO)Pela ordem, Sr. Presidente.O SR. PRESIDENTE (Edison Lobo) Concedo a palavra ao Senador

    Demstenes Torres, pela ordem.O SR. DEMSTENES TORRES(PFLGO)Sr. Desembargador, parece-

    me que o Senador Sib Machado pergunta especificamente se V. Ex entende queas alteraes constitucionais podem ferir o chamado direito adquirido. Por exemplo,agora se manda uma proposta de reforma previdenciria em que se prev a taxao

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    dos inativos. Os inativos j enfrentaram uma regra constitucional que agora seralterada. Ento me parece que a pergunta do Senador Sib Machado nessesentido.

    O senhor entende que uma alterao constitucional pode ferir direitoadquirido? bvio que o senhor no precisa tratar especificamente desse tema,mas, em tese, parece-me que foi isso que o Senador Sib Machado quis questionar.

    Uma alterao constitucional pode ferir o direito de quem o adquiriu em regimeanterior?O SR. ANTNIO CEZAR PELUSO Nos quadros atuais, no quero

    comprometer-me com a resposta definitiva, at porque isso implica o exame dacontribuio que eventualmente os advogados traro ao Supremo Tribunal Federal.Aqui, o que me parece que h alguns pronunciamentos especficos do SupremoTribunal Federal e, portanto, limito-me a relatar, pura e simplesmente, as posiesatuais daquela Corte de que as emendas que violem as clusulas ptreas soconsideradas inconstitucionais. J vi at um julgamento cujo Relator foi o MinistroJos Celso, se no me engano, dizendo que a garantia das clusulas ptreasimpede at mesmo a tramitao de um procedimento legislativo tendente a viol-las.

    Essa me parece ser a posio do Supremo Tribunal Federal.Quanto s questes especficas, teramos que examin-las. E digo mais:

    como V. Ex j antecipou, um tema palpitante e no vou fugir dele. Para mim, aquesto de taxao dos inativos no uma questo estritamente jurdica, pelomenos a priori. uma questo poltica, cuja soluo depende das instnciaspolticas, como o Senado Federal, por exemplo. preciso avaliar, do ponto de vistapoltico, se convm ou no taxar os inativos; se atende ou no atende a justiasocial taxar os inativos; se atende ou no atende as necessidades degovernabilidade, num certo momento histrico, taxar os inativos.

    possvel que, em nome de salus populi suprema lex esto eventualmentese pea ao cidado algum sacrifcio, mas no compete ao Supremo Tribunal decidirou avaliar. Isso compete a V. Exs. no exerccio da competncia constitucional. Ficaao Supremotambm, por fora da competncia constitucionaldizer se a soluoproposta ou no compatvel com a Constituio, ou no compatvel com a ordemjurdica. Em outras palavras, a posio do Supremo um pouco mais cmoda; aresponsabilidade maior de V. Exs. V. Exs que devem dar sociedade aresposta de se convm ou no taxar os inativos, se isso corresponde ou no snecessidades do momento histrico do Pas, s exigncias de governabilidade e desade financeira do Estado. O Supremo Tribunal Federal, provavelmente, dir,como diriam alguns colegas: de res internas nec ecclesia. Desta matria, nem aIgreja participa, muito menos o Supremo.

    Quanto ao controle externo, quero ser absolutamente claro. Alis, ser clarono uma qualidade; eu, hoje, j na minha idade, considero um certo defeito sermuito direto. E vou s-lo nesta oportunidade. Eu sou - e suponho que toda a pessoasensata o sejaabsolutamente contrrio a qualquer modalidade de controle externoou interno que ponha em risco, prximo ou remoto, a independncia funcional dosjuzes. Qualquer medida, por mais generosa que seja a inteno, por mais justo queseja o seu propsito, que ponha em risco a independncia funcional dos juzes,significa a morte da magistratura como funo do Estado e, portanto, um retorno aoregime de arbtrio em que no h juzes, mas prepostos de ditadores que no ditama lei, mas fazem o que os ditadores querem, o que o Estado quer. De modo que,qualquer proposta qualquer uma que no ponha em risco a independncia do

    juiz passvel de discusso. Est no terreno retrico. questo de examin-la ediscutir sua convenincia, de discutir da sua compatibilidade com a Constituio e,mais do que isso, de rev-la num contexto que a mim me parece muito mais amplo.

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    O meu receio que certos temas de extrema complexidade sejamresolvidos com medidas, por assim dizer, setoriais, de quem examina apenas umaspecto que, do ponto de vista da soluo imediata daquele aspecto, pode parecerextremamente saudvel, mas que pode, exatamente pelo conceito estrutural daestrutura -, em que a modificao de um elemento implica, automaticamente, amodificao de outros elementos que lhes esto ligados, comprometer todo o

    sistema. Em outras palavras, isso tambm no matria do Supremo TribunalFederal que, na sua competncia, no tem a iniciativa de fazer uma proposta nessesentido. deciso das instncias legislativas, de V. Exs, portanto, encontraremsolues de controle para o Judicirio. Evidentemente, nenhum Ministro doSupremo Tribunal Federal nem de outro tribunal, da magistratura, contanto queconvocado pessoalmente para dar uma contribuio ao estudo e ao debate daquesto, se furtaria a isso. Mas a responsabilidade histrica do Poder Legislativo e, tambm, de certo modo, do Poder Executivo. O que quero dizer que, sobretudo,seria indispensvel e quando digo isto, digo isto tendo em vista mais a minhainstituio que a magistratura faa a sua catarse. A magistratura precisa fazer asua catarse. Ela precisa sentar-se, refletir, dar uma olhada para trs, ver a si prpria

    e fazer, portanto, um diagnstico das suas falhas. Creio que seria um passoextremamente importante. E isso no exclui a atuao de outros rgos como, porexemplo, parece-me, vem sucedendo agora com o Ministrio da Justia, que, hpoucos dias, segundo eu soube, criou uma secretaria especial encarregada deestudos para a modernizao do Judicirio, que se vai debruar sobre esseproblema e vai analisar uma srie de dados para estabelecer previamente odiagnstico.

    Considero muito importante podermos perceber os pontos crticos dosistema, de tal modo que, tendo uma viso ampla de todo o sistema, proponhamossolues factuais, do ponto de vista econmico. Por exemplo, no uma afirmaominha, mas do Ministro da Justia da Frana, que disse textualmente que umareforma do Judicirio que no implique dinheiro algo arriscadssimo. Ento, preciso levar em conta tambm os aspectos financeiros de certas modificaes. Mascreio que tudo isso deva ser examinado do ponto de vista estrutural e, depois, deum ponto de vista de hierarquizao de valores. Os vcios, as deficincias do PoderJudicirio, que so to naturais como a de qualquer outra organizao humana ningum teria a pretenso de pensar num Judicirio, por ser Judicirio, isento depecado; afinal, somos todos, de algum modo, gravados por essa precariedade ,esses vcios e defeitos do Poder Judicirio tm significados diferentes, depende decomo se examine.

    Darei a V. Exs um ponto de vista absolutamente pessoal. No estou

    propondo o incio de um diagnstico, mas estou apenas fazendo uma avaliaoperfunctria, quase superficial porque no fruto de uma elaborao meditadasobre essa matria; creio que poderamos examinar a crise do Judicirio. E digo aV. Exs que, desde que meus olhos passaram a enxergar um pouco acima da mesade refeio da minha casa, sempre ouvi falar que o Judicirio estava em crise.Sempre ouvi, assim como sempre ouvi dizer que o Brasil precisa de reformas. Noentanto, considero que essa crise permanente do Poder Judicirio pode seranalisada, para um incio de discusso, sob dois pontos de vista: primeiro, do pontode vista estrutural, isto , as falhas da sua organizao interna, do ponto de vistaadministrativo e com respeito a tudo aquilo que a administrao implique; tambmh que ser analisado o ponto de vista sistmico, porque o Poder Judicirio um

    Poder que serve ao povo. Esse o grande compromisso do Poder Judicirio, e preciso repensar se o Poder Judicirio est servindo ao povo.

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    Eu no faria a indelicadeza de indagar a V. Exs at porque o inquiridoaqui sou eu a quem o Poder Judicirio serve neste Pas. Para quem ns, juzes,trabalhamos? Provavelmente, no trabalhamos para as multinacionais, para astransnacionais, para as grandes empresas nacionais, por variados motivos, at porpreocupaes internas de no permitir que um processo devasse algumas dessasempresas. Do ponto de vista da agilidade negocial, celebram contratos com

    clusulas compromissrias, e, quando tm dvidas, essas so resolvidas por umrbitro, rapidamente, s vezes, no exterior. No vo ao Judicirio.A classe mdia brasileira vai ao Judicirio totalmente? A classe mdia tem

    acesso ao Judicirio? Que classe mdia? Alta, baixa, mdia? A pequena classemdia brasileira. E os milhes de brasileiros que no tm conscincia da existnciados seus direitos e que no conhecem sequer os mecanismos de acesso ao PoderJudicirio vo ao Poder Judicirio? A pergunta, portanto, esta: a quem serve oPoder Judicirio deste Pas? Vou fazer uma afirmao, cuja leviandade assumo,porque mera especulao: eu diria que uma estatstica sriaprovavelmenteo Poder Judicirio serve a pouco mais de 10% ou 15% da populao brasileira. E V.Exs vo me permitir, pois de vez em quando eu dizia, quando Diretor da Escola

    Paulista da Magistratura, aos novos juzes: previnam-se porque, s vezes, tero aidia de que esto na Ilha da Fantasia.

    Ento, este um problema sistmico: permitir que essas pessoas possamter acesso ao Poder Judicirio. Se ns pudssemos imaginar que a vida fosseresolvida por atos de magia e no fosse esse contnuo desenvolvimento do espritoe das conquistas histricas, e, num passe de mgica, os milhes de deserdadostivessem oportunidade de vir ao Poder Judicirio, diramos o seguinte: eles viriam eseus bisnetos, provavelmente, receberiam os resultados dos julgamentos, porque oPoder Judicirio no tem estrutura hoje para responder sequer s demandas dopequeno grupo de populao a que ele serve. Imaginem servir a essa populaofaminta de direitos!

    Creio que esse um problema grave da reforma do Judicirio e que deve, ameu ver, ser tratado com tanta paixo, porque nada se trata sem paixo nssomos tambm paixo e, de certo modo, j estou respondendo a pergunta de V. Exde como que o juiz decide?. Ento, no h juiz que decida com puraracionalidade, assim como no h homem que haja com pura racionalidade. Alis,Freud teria descoberto que ns no somos indivduos. Ns, na verdade, somosdivididos e agimos por algumas razes conscientes e outras absolutamenteinconscientes.

    Mas, voltando indagao, eu diria que esse um problema que tem queser tratado com tanta ou superior paixo com que se debate outros aspectos

    estruturais do Poder Judicirio. Precisamos ter um olhar generoso quanto a essapopulao que precisa ter acesso ao Poder Judicirio. Estudar formas de viabilizaresse acesso sem mutilar e desfigurar a independncia funcional do juiz; seno nohaveria necessidade do Poder Judicirio, e ns resolveramos todos os problemasou conflitos sociais de acordo com as convenincias das pessoas que fossemdesignadas para faz-lo.

    De modo que eu diria a V. Ex, se que posso resumir, que a minharesposta seria esta: estou, como cidado, como integrante do Poder Judicirio,inteiramente pronto at para discutir solues chamada crise do Judicirio, mastendo por premissa que, a menos que tenhamos outra concepo do que seja oPoder Judicirio, a independncia funcional do juiz est fora de discusso. O resto

    tudo discutvel, e vamos discuti-las.Quanto questo de vitaliciedade entre ns, ns que no estamosnos Estados Unidos, onde de fato os juzes da Suprema Corte so vitalcios

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    alguns chegaram a morrer no cargo, com 92 anos de idade, como WilliamDouglas, que chegou at a ser convidado, em certa poca, a se aposentar,porque j no estava mais... No Brasil, no temos. Vitaliciedade o nomeque encobre a perseverana do cargo at completar 70 anos de idade. Demodo que ns, de fato, no temos a vitaliciedade como tal. Mas j que V.Exs me do essa inteira liberdade de ser sincero acho que isso que V.

    Exs desejam , penso que alguma coisa que deve ser considerada naeconomia do Estado o proveito que certos funcionrios qualificadosrepresentam para o Estado em certa idade. O Estado investe nas pessoas,nos seus funcionrios, e elas, durante muitos anos, vo aprendendo, vo sequalificando e, quando atingem o auge das suas foras fsicas e mentais,portanto, o auge da sua capacidade de trabalhar pelo Estado, o Estado diz:preciso retir-lo para colocar outro no seu lugar, para pagar duas vezes,para vir algum e aprender. Quem sabe fosse importante, do ponto de vistano da economia financeira, mas da economia como equilbrio do Estado,que se comeasse a pensar que o Estado no pode prescindir dessaspessoas, no apenas porque essas pessoas so qualificadas, mas porque,

    do ponto de vista econmico-financeiro, no proveitoso para o Estado.Alguns de V. Exs so mais jovens do que eu, mas os que so um

    pouquinho mais velhos tero lembrana de que o ento Deputado Franco Montoroteria proposto um aumento da idade da chamada aposentadoria compulsria,utilizando exatamente esse argumento. Quem sabe no seria o caso, j queestamos pensando abertamente, de pensar um pouco nisso tambm.

    Quanto personalidade do juiz, no tenho muito que dizer a V. Exs. O que um juiz seno um homem como outro qualquer, que tem os defeitos como outroqualquer? At imagino que, se no tivessem defeitos, seriam pssimos. Eu, porexemplo, no gostaria nunca de ser julgado por um anjo, provavelmente no iriaentender nada dos meus problemas.

    Fui seminarista e, durante o seminrio, discutia-se muito uma questo queilustra bem o que estou querendo dizer a V. Exs. Discutia-se muito se, como todoseminarista deveria ter um diretor espiritual, era melhor ter um diretor espiritual quefosse sbio ou se era melhor ter um diretor espiritual que fosse santo. Naqueladiscusso, chegamos concluso de que era melhor ter um diretor espiritual quefosse sbio, porque iria compreender os nossos pecados e nos orientaria muitobem. O santo, como no tem idia dos pecados, provavelmente nos daria respostasabsolutamente impertinentes, que no serviriam para nada.

    Diria que a funo do juiz exatamente essa. Existe um artigo a respeito dagrandeza do juiz, que considero uma das obras primas da literatura jurdico-

    processual, de um jurista italiano, Capograssi, que, examinando a obra deChiovenda, dizia que a grandeza, a dignidade do processo est em que ele uminstrumento criado pelos homens para servir aos homens, por meio dos homens.Essa a grandeza do processo e essa, penso eu, a grandeza do juiz: poderdecidir, com as suas paixes, com seu id, com seu inconsciente, tentando entenderas pessoas como so e no a partir de um modelo abstrato, puramente racional,que existe apenas nas especulaes acadmicas, mas que no visto pelas ruas.

    So vistas pelas ruas e caem nas nossas mos pessoas humanas, que tmdramas idnticos aos nossos, e s podemos compreend-las usando das mesmascategorias, de modo que o juiz decide a si mesmo, com a sua cultura, com toda asua maneira de ser. Reiterando, eu diria que essa constitui a grandeza do juiz. E,

    como no podia deixar de ser, tambm pagamos o nosso preo pelo pecado eerramos muitas vezes. Alis, por isso que existem as instncias revisoras, paramostrar quando erramos.

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    O SR. PRESIDENTE (Edison Lobo) Concedo a palavra ao SenadorAlmeida Lima.

    O SR. PEDRO SIMON (PMDBRS)Sr. Presidente, peo a palavra pelaordem.

    O SR. PRESIDENTE (Edison Lobo) Concedo a palavra, pela ordem, aoSenador Pedro Simon.

    O SR. PEDRO SIMON (PMDB RS) Peo desculpas, mas ouvi comrapidez o Sr. Ministro afirmar que a Justia brasileira atende 15% da populaobrasileira.

    O SR. PRESIDENTE (Edison Lobo)No mximo.O SR. PEDRO SIMON (PMDBRS)E que, se a Justia atendesse toda a

    populao brasileira, a quarta gerao que teria o resultado das decises daJustia. isso que V. Ex afirmou?

    O SR. ANTONIO CEZAR PELUSO Parti de uma suposio e agradeo ainterveno de V. Ex por permitir esclarecer. Parti de uma suposio, no tenhonenhum dado cientfico, nenhuma estatstica, mas, com alguns anos demagistratura e pelo nmero de processos, para no usar uma linguagem sofisticada

    de extrapolao, podemos induzir que a populao que vem ao Poder Judicirio eisso deveria ser objeto de uma estatstica at do diagnstico da crise do Judicirio -no vai muito alm de 15% ou 20%. A minha grande preocupao : se, de um diapara outro num quadro de suposies , todos tivessem acesso ao PoderJudicirio brasileiro, a sua estrutura atual no conseguiria responder a essasdemandas. Isso o que me parece.

    V. Ex abordou um assunto que considero de extrema relevncia e que mepreocupa profundamente. Respondendo basicamente ao Senador Sib Machado,aproveito a oportunidade at porque essa interrupo poder frustrar, maisadiante, a necessidade de outras questes , para relatar a V. Ex uma experinciahistrica. Infelizmente no tive o prazer de v-lo no momento em que fiz uma breveintroduo e referi-me minha experincia como juiz de uma pequena cidade dointerior do Estado de So Paulo.

    H aproximadamente dez anos, fui convidado por um grupo de estudiosospara preparar um pequeno diagnstico inteiramente setorial a fim de elaborar umprojeto na rea da justia e da segurana que pudesse ser apresentado a quemfosse eleito governador do Estado. Desse grupo participavam juzes edesembargadores aposentados, advogados, oficiais da Polcia Militar e delegadosde polcia. Era um grupo de dimenso razovel. Convidaram-me a participar dasdiscusses, e eu aceitei o convite. Depois de muita elucubrao o que umatradio, pois as nossas discusses s vezes perdem-se nas teorias , uma lder

    popular que freqentava as reunies interrompeu a discusso. Era uma lder debairro que no poderia deixar de estar presente por ser representante dosdestinatrios do servio de justia e de segurana. Ela questionou: Doutores, porque V. Exsno vo saber o que o povo pensa? Essa uma pergunta irrespondvel.

    Ento fomos todos saber o que povo pensava. Ela organizou uma pequenareunio num bairro muito afastado de So Paulo que eu no conhecia, identificadocomo Cidade Kemel. H pouco tempo, eu soube que se chamada Cidade Kennedy,Vila Kennedy. Senador Sib Machado, o bairro era to longe que ficava alm docampo do Corinthians; passamos o Parque So Jorge. Fomos num sbado tarde,e a lder comunitria reuniu num prdio de ginsio do Estado as pessoasrepresentativas daquela pequena comunidade. O bairro no possua ruas

    asfaltadas, embora estivesse localizado na cidade de So Paulo; as ruas eram deterra e na frente das casas havia alguns anteparos que me lembravam do tempo de

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    faroeste. Eu disse: Provavelmente, ainda amarram cavalo aqui. Tudo na cidade deSo Paulo.

    O SR. LUIZ OTAVIO (PMDB PA) Sr. Presidente, peo a palavra pelaordem.

    O SR. PRESIDENTE(Edison Lobo)Concedo a palavra ao Senador LuizOtvio.

    O SR. LUIZ OTAVIO(PMDBPA)Sr. Presidente, pela nica vez na vida,terei a oportunidade de interromper um ministro do Supremo Tribunal Federal.Sr. Presidente, tendo em vista que o PMDB receber hoje o Senador

    Romero Juc e todas as Lideranas do Partido num almoo, peo a V. Ex que melibere a votao. Deixo consignado o voto favorvel ao novo ministro do Supremo,Dr. Antnio Cezar Peluso.

    O SR. PRESIDENTE (Edison Lobo) Senador Luiz Otavio, em verdade,so 12h30min e ainda no falaram os dois primeiros Senadores que se propuserama fazer indagaes ao ministro. Alm disso, vrios ainda desejam inscrever-se. APresidncia permitir, ento, que os Srs. Senadores titulares da Comisso votem e,por razes pessoais, retirem-se. Os suplentes votariam ao final. Ento, V. Ex pode

    votar.Eu pediria apenas ao Ministro Peluso, orador brilhante e possuidor de

    absoluta capacidade de conciso, que abreviasse um pouco mais sua exposio,para a nossa tristeza, em razo do adiantado da hora e do nmero de Senadoresinscritos, alm de outros que ainda desejariam inscrever-se.

    O SR. PEDRO SIMON (PMDB RS) Discordo de V. Ex. Penso que oministro no pode resumir sua exposio. S. Ex est sendo brilhante.

    O SR. PRESIDENTE(Edison Lobo)Registrada a discordncia de V. Ex.O SR. ANTNIO CEZAR PELUSO Fiz aquela introduo de maneira

    pausada porque me conheo. Como filho de italiano, sei que, quando comeo afalar, tenho um pouco de dificuldade de parar, sobretudo quando o assunto meempolga.

    Em sntese, fomos ouvir as pessoas do povo que estavam l. Haviasenhoras com crianas no colo, adolescentes, senhores. Comeamos a fazerindagaes para saber o que elas imaginavam. Qual no foi nossa surpresa quandoverificamos que no tinham idia do que era um juiz de direito. Promotor pblico,ento, era uma palavra completamente desconhecida. O smbolo da autoridade aliera a Polcia Militar, quando tinha a ousadia de comparecer ao local. Esse er