1228439217 medidas de_conservação

129
SISTEMAS DE MOBILIZAÇÃO DE CONSERVAÇÃO DO SOLO Por sistemas de mobilização de conservação do solo, e no caso das culturas herbáceas, entende-se o conjunto de operações de mobilização do solo, e de maneio dos resíduos das culturas, que permitam que pelo menos 30% da superfície do solo estejam cobertos em permanência pelos resíduos das culturas, e assim protegidos do impacto directo da chuva. Figura 1- Diferença no grau de cobertura proporcionado por um sistema de mobilização reduzida (Esq.) e sementeira directa (Dta.). Da definição de sistemas de mobilização de conservação do solo, vem que o valor mínimo admissível para a taxa de cobertura do solo é de 30%. Este valor, embora aparente alguma arbitrariedade, e tenha que ser considerado com espírito crítico, é o resultado de um grande número de experiências, levadas a cabo em muitas partes do mundo, que mostram que, para taxas de cobertura do solo superiores a este mínimo, há uma grande redução da degradação do solo. A importância dos resíduos das culturas que ficam à superfície do solo após as operações de mobilização, e sementeira, reside no facto de: protegerem o solo dos processos de degradação; aumentarem a água disponível para a cultura; melhorarem a estrutura do solo; aumentarem a fertilidade do solo; contribuírem para o aumento da biodiversidade dos sistemas agrícolas. A protecção do solo contra os processos de degradação resulta, principalmente, da intercepção das gotas de água da chuva. O impacte das gotas de água nos agregados da superfície do solo provoca a sua ruptura, produzindo partículas de solo, agregadas ou não, mais pequenas,

Upload: pelo-siro

Post on 15-Jun-2015

1.175 views

Category:

Documents


55 download

TRANSCRIPT

Page 1: 1228439217 medidas de_conservação

SISTEMAS DE MOBILIZAÇÃO DE CONSERVAÇÃO DO SOLO

Por sistemas de mobilização de conservação do solo, e no caso das culturas herbáceas, entende-se o conjunto de operações de mobilização do solo, e de maneio dos resíduos das culturas, que permitam que pelo menos 30% da superfície do solo estejam cobertos em permanência pelos resíduos das culturas, e assim protegidos do impacto directo da chuva.

Figura 1- Diferença no grau de cobertura proporcionado por um sistema de mobilização reduzida (Esq.) e sementeira directa (Dta.).

Da definição de sistemas de mobilização de conservação do solo, vem que o valor mínimo admissível para a taxa de cobertura do solo é de 30%. Este valor, embora aparente alguma arbitrariedade, e tenha que ser considerado com espírito crítico, é o resultado de um grande número de experiências, levadas a cabo em muitas partes do mundo, que mostram que, para taxas de cobertura do solo superiores a este mínimo, há uma grande redução da degradação do solo. A importância dos resíduos das culturas que ficam à superfície do solo após as operações de mobilização, e sementeira, reside no facto de: protegerem o solo dos processos de degradação; aumentarem a água disponível para a cultura; melhorarem a estrutura do solo; aumentarem a fertilidade do solo; contribuírem para o aumento da biodiversidade dos sistemas agrícolas.

A protecção do solo contra os processos de degradação resulta, principalmente, da intercepção das gotas de água da chuva. O impacte das gotas de água nos agregados da superfície do solo provoca a sua ruptura, produzindo partículas de solo, agregadas ou não, mais pequenas, transportáveis em suspensão no escorrimento superficial, é a erosão. Um outro efeito da ruptura dos agregados é a redução da macroporosidade, cujo exemplo extremo é o da formação de crostas, que, diminuindo a infiltração, aumentam o volume de escorrimento superficial.

Page 2: 1228439217 medidas de_conservação

Figura 2- Para além da evidente perda de solo, há quebras na produção, tanto pelo arrastamento de plantas e sementes, como por soterramento nas áreas de deposição.

O aumento da água disponível para a cultura resulta, como se viu no parágrafo acima, de uma maior infiltração de água (menor formação de crosta), de uma maior quantidade de poros capazes de reter a água que infiltra a tensões que as plantas a possam utilizar (diâmetros entre 0,2 e 50 m), bem como de uma menor evaporação da água do solo, pela redução do fluxo de energia solar que chega à superfície do solo.

A melhoria da estrutura do solo, pelos resíduos das culturas, tem origem nas substâncias a que dão origem por decomposição, genericamente chamadas de húmus. O maior ou menor teor de húmus confere propriedades distintas do ponto de vista físico, aos solos. É amplamente reconhecido o efeito destes materiais orgânicos sobre a agregação das partículas de solo. Assim, temos: Nos solos de textura grosseira, um maior teor em matéria orgânica conduz

a um maior poder de retenção da água por adsorção. À retenção da água por adsorção, devido à atracção electrostática que se forma entre as superfícies dos colóides (partículas de diâmetro inferior a 2 m) e as moléculas de água, segue-se o “engrossar” destas camadas de água por coesão com novas moléculas de água, preenchendo os espaços intersticiais de dimensão compatível com fenómenos de capilaridade. Nos solos de textura mais fina, um maior teor de matéria orgânica conduz a

uma agregação maior, e mais estável, das partículas de solo. Como resultado de uma maior agregação, a infiltrabilidade do solo aumenta, o crescimento das raízes é mais fácil, a transitabilidade é melhorada, nomeadamente em condições de maior humidade, há um maior arejamento do solo, e aumento da actividade microbiana.Um outro efeito dos resíduos sobre a estrutura do solo, indirecto, é o de favorecer a presença e/ou o estabelecimento de diversos organismos que se alimentam dos resíduos, nomeadamente as minhocas (Lumbricus terrestris L.), que, ao construírem as suas galerias (luras) ao longo do perfil do solo, favorecem a rápida infiltração da água. Alguns investigadores relatam números de luras que atingem 150 por m². Importante também é o facto dos excrementos das minhocas serem, eles próprios, agregados estáveis.

2

Page 3: 1228439217 medidas de_conservação

Figura 3- Aspecto do perfil de um solo, e do crescimento das raízes, em sementeira directa.

O aumento da fertilidade do solo reside no facto de os resíduos serem uma fonte de nutrientes para as culturas, principalmente de azoto. Durante a decomposição dos resíduos há a libertação de nutrientes, alguns prontamente assimiláveis pelas plantas, no entanto, no cálculo das necessidades de fertilização há que levar em conta as características dos resíduos da cultura anterior, nomeadamente no que concerne a relação C/N, uma vez que pode haver a imobilização de parte do azoto mineral do solo pelos micróbios, deixando de estar disponível para a cultura. Voltaremos a este assunto quando tratarmos os aspectos da fertilização. Dos resíduos que são transformados em húmus, substâncias excepcionalmente estáveis, a libertação dos nutrientes é lenta (taxas de mineralização na ordem de 1 a 2% ano, dependendo das condições de temperatura e humidade), pelo que há uma acumulação no solo, principalmente em sistemas de mobilização reduzida e sementeira directa, libertando de ano para ano quantidades cada vez maiores de nutrientes.A matéria orgânica do solo também contribuí para o aumento da fertilidade do solo pela sua elevada capacidade de troca catiónica (C.T.C.), i.e., a capacidade de reter, por adsorção, catiões e cedê-los às plantas pelo processo de troca catiónica. Isto é tanto mais importante quanto menor o teor de argila do solo (em termos comparativos os minerais de argila do grupo da montmorilonite apresentam uma C.T.C. de 80 a 150 m.e./100 g, enquanto a C.T.C. do húmus pode ser de 100 a 300 m.e./100 g). Ainda um outro aspecto do aumento da fertilidade do solo pelos resíduos, reside no poder tampão da matéria orgânica, nomeadamente em relação a variações bruscas de pH.

No que concerne o aumento da biodiversidade dos sistemas agrícolas, a presença de resíduos, para além de ser fonte de alimento para inúmeras espécies, oferece protecção a muitas outras.

3

Page 4: 1228439217 medidas de_conservação

Figura 4- Ninho em resíduos de uma cultura.

Relação entre o tipo de alfaia e a mobilização do solo.Com os sistemas de mobilização de conservação do solo, para além da manutenção de uma cobertura do solo pelos resíduos da cultura anterior, é também objectivo, a redução da intensidade da mobilização, i.e., as alfaias utilizadas, a sua regulação, e o número de passagens, devem ser ponderadas por forma a que não haja uma pulverização excessiva dos agregados, nem uma compactação excessiva dos solos (função do peso das alfaias e tractores, e dos stresses a que os solos estão sujeitos pela passagem dos órgãos activos das alfaias).A partir da definição proposta de mobilização de conservação do solo, é óbvio que a utilização de charruas está interdita, uma vez que, ao produzirem o reviramento da camada superficial (ao formarem a leiva), o grau de cobertura da superfície do solo pelos resíduos, após a mobilização, é geralmente inferior a 2-3%. Também, em muitos solos, a lavoura com charrua de aivecas conduz ao aparecimento, à profundidade de passagem da relha, de uma zona extremamente compactada, o “calo de lavoura”, que diminui a passagem da água e impede o crescimento das raízes. A utilização de cultivadores rotativos (frezas) está interdita em sistemas de mobilização de conservação do solo. Este tipo de máquinas pulveriza muito finamente o solo, deixando-o muito susceptível aos processos de degradação, e enterra a quase totalidade dos resíduos que se encontram à superfície do solo.

Figura 5- Tanto o uso da charrua como de cultivadores rotativos de eixo horizontal estão interditos em sistemas de mobilização de conservação do solo.

Tradicionalmente, a grade de discos é utilizada após a lavoura, por forma a nivelar o terreno e desterroar. Outros trabalhos em que geralmente se utiliza a grade de discos são: destroçar os resíduos das culturas; enterrar sementes,

4

Page 5: 1228439217 medidas de_conservação

adubos, etc., distribuídos a lanço; e mobilizações “ligeiras” do solo, com fins diversos, tais como o controlo de infestantes, romper crostas superficiais, etc.. A possibilidade de utilizar grades de discos em sistemas de mobilização de conservação do solo depende do objectivo que se pretende alcançar. Assim, e como instrumento de mobilização do solo, não deverá ser usado, exceptuando nos casos em que a massa de resíduos à superfície seja muito elevada, situação em que o agricultor deverá regular a grade por forma a manter um nível adequado de resíduos à superfície. Também, a sua utilização no maneio dos resíduos, trabalhando com a grade fechada, por exemplo para derrubar e destroçar caules de milho ou girassol, é uma opção a ter em conta.

Figura 6- A utilização da grade de discos, em sistemas de mobilização de conservação, deve ser reservada unicamente para as situações em que a quantidade de resíduos à superfície seja muito elevada.

Os escarificadores são, de um modo geral, as alfaias utilizadas em sistemas de mobilização de conservação do solo. Dentro deste grupo, existe uma grande variedade de alfaias que diferem entre si no que concerne à forma e número de braços, tipos de mola e bicos.

Figura 7- Os escarificadores são as alfaias utilizadas em sistemas de mobilização reduzida e na zona.

A definição de sistemas de mobilização de conservação do solo apresentada, permite formular um número bastante grande de sistemas de mobilização do solo que podem receber o epíteto “de conservação”. Assim, e para melhor

5

O grau de cobertura do solo pelos resíduos das culturas depende do tipo de alfaia utilizado mas também do número de passagens, da regulação, da profundidade e da velocidade de trabalho.

Page 6: 1228439217 medidas de_conservação

perceber os vários tipos de sistemas, distinguem-se as seguintes categorias: mobilização reduzida, mobilização na zona e sementeira directa.Por mobilização reduzida, no contexto de sistema de mobilização de conservação do solo, entende-se normalmente um sistema que, embora intervindo em toda a superfície do terreno, mantém uma quantidade apreciável dos resíduos da cultura anterior na superfície do solo. Estes sistemas baseiam-se na utilização de alfaias de mobilização vertical (escarificadores), ficando interdita a utilização da charrua e da fresa. A utilização da grade de discos só poderá ser encarada de forma muito limitada e, apenas em situações em que uma quantidade muito elevada de resíduos o exija. No entanto, o seu uso deve ficar sempre condicionado à manutenção da quantidade desejável de resíduos na superfície do terreno.

Figura 8- Em sistemas de mobilização reduzida, a utilização de conjuntos de alfaias poderá resultar numa redução significativa do número de passagens (Esq.). A utilização de escarificadores é privilegiada (Dta.).

O termo mobilização na zona é reservado a sistemas de mobilização do solo que intervenham apenas em parte da superfície do terreno. A área mobilizada corresponde a faixas de largura variável sendo a sementeira da cultura realizada no interior destas. Esta intervenção tanto pode ser realizada antecipadamente em relação à sementeira, como em simultâneo com esta. O recurso a estes sistemas de mobilização conduz à utilização indispensável de herbicidas de pré-sementeira, como forma de controlar infestantes nas zonas não mobilizadas. É também frequente, mas não indispensável, a utilização de semeadores especiais.

Figura 9- Sementeira em sistema de mobilização na zona, com aplicação de herbicida em simultâneo (Esq.); subsolador com disco corta-palha (Dta.).

6

Page 7: 1228439217 medidas de_conservação

Por sementeira directa entende-se o sistema em que não existe mobilização do terreno previamente ao acto de sementeira. É o próprio semeador e, apenas na linha de sementeira, que provoca a mobilização do solo mínima necessária para a introdução e o enterramento da semente. Assim, estes sistemas exigem, normalmente, não só a aplicação de herbicidas de pré-sementeira, como também a utilização de semeadores especiais, designados por semeadores de sementeira directa.

Figura 10- A utilização de semeadores especialmente desenhados para trabalhar sem a mobilização prévia do solo permite a realização da chamada sementeira directa.

A adopção dos sistemas de mobilização de conservação: uma aposta de médio prazo.A adopção de sistemas de mobilização de conservação do solo, em solos anteriormente lavrados, implica, normalmente, uma fase de transição de 3 a 5 anos em que as condições de estrutura e fertilidade do solo vão melhorando até atingirem o patamar de estabilidade próprio do sistema de mobilização adoptado. Do ponto de vista do escorrimento superficial e erosão, os benefícios podem ser visíveis logo a partir do ano de adopção. Em termos da produtividade potencial dos solos, esta vai aumentando de ano para ano. De um modo geral, nunca deverá realizar uma das operações interditas em sistemas de mobilização de conservação (lavoura com charrua, ou freza) após a adopção de um sistema de conservação, isto será desperdiçar todo o investimento realizado na recuperação da estrutura e fertilidade do solo (primeiros anos da adopção do sistema), remetendo-o ao estado inicial.

7

Page 8: 1228439217 medidas de_conservação

Módulo: Introdução à Mobilização de Conservação

Texto de apoio e consulta 2.

AGRICULTURA DE CONSERVAÇÃO

Uma definição para agricultura de conservação pode ser conseguida por oposição aos efeitos nefastos da agricultura tradicional sobre o ambiente. Assim, entende-se por agricultura de conservação o conjunto de práticas agrícolas que, permitindo uma agricultura sustentável e competitiva, “alteram o menos possível a composição e estrutura do solo, protegendo-o da erosão e degradação, e aumentam a biodiversidade do espaço rural”.

Figura 1- Colza em sementeira directa. A manutenção dos restolhos e a não mobilização do solo contribuem para uma melhor estrutura e fertilidade do solo.

Os objectivos da agricultura de conservação são, num sentido lato, a conservação dos recursos naturais (solo, água, e ar) e a sustentabilidade da actividade agrícola. Estes dois objectivos, ao contrário do que por vezes se pensa, não são incompatíveis: Do ponto de vista da conservação dos recursos naturais, a prática de

sistemas de mobilização de conservação do solo (mobilização reduzida, na zona e sementeira directa), a realização de culturas de cobertura, a não queima de palhas e restolhos, entre outros, todos contribuem para a melhoria e/ou manutenção da estrutura e fertilidade do solo. A manutenção dos resíduos das culturas anteriores, e as culturas de cobertura, protegem o solo do impacto directo das gotas de água da chuva, defendendo-o assim da erosão e da formação de crostas. Contribuem também para aumentar o nível de matéria orgânica do solo, e assim a fertilidade, a estabilidade dos agregados, etc.. A diminuição da erosão tem um impacto muito grande em termos da conservação da água, ao diminuir a carga de sedimentos, nutrientes, pesticidas, metais pesados, e outros, em suspensão na água dos rios, ribeira, barragens, etc.. Outro efeito importante da manutenção dos resíduos, e da não queima das palhas e restolhos, é a diminuição da emissão de dióxido de carbono (CO2) para a atmosfera a partir dos terrenos agrícolas. O CO2 é, de entre os gases responsáveis pelo efeito de estufa, o mais importante.

8

Page 9: 1228439217 medidas de_conservação

Figura 2- A queima de palhas e restolhos é uma prática totalmente desaconselhada, deixando o solo desprotegido, susceptível à erosão, e é responsável pelo aumento das emissões de CO2 para a atmosfera.

Do ponto de vista da sustentabilidade da actividade agrícola, esta pode ser considerada tanto em termos económicos como da possibilidade “material” de a realizar. Em termos económicos, a adopção de sistemas de mobilização de conservação do solo permite: diminuir os custos de investimento em maquinaria diversa (especialmente o sistema de sementeira directa); poupar em mão-de-obra (menos horas de trabalho por ha); poupar na manutenção dos equipamentos; menor potência de tracção; a poupança de combustível; um período mais largo para a realização das sementeiras; etc.. Os custos acrescidos com alguns sistemas (e.g. semeadores de sementeira directa, ou ainda a aplicação de herbicidas de pré-sementeira) são, salvo raras excepções, mais que compensados pelas poupanças já referidas, resultando num saldo largamente positivo. Se tomarmos em linha de conta que, em muitos solos e para muitas culturas, a produção praticamente não se ressente com a transição de um sistema de mobilização tradicional para um de conservação (e.g. milho, ou ainda o trigo), o interesse económico é ainda maior. Em termos “materiais”, i.e. a possibilidade física de poder continuar a produzir num determinado solo, só poderá ser possível, num futuro não muito distante, se adoptarmos desde já as práticas da agricultura de conservação. A erosão dos solo conduz não só a uma perda directa da produção, observável pelos próprios agricultores, na forma de manchas sem vegetação originadas tanto pela erosão como pela deposição de sedimentos, como a uma perda acumulada de solo, ano após ano, que conduz a solos esqueléticos e de fertilidade quase nula. Para aqueles que vêm no regadio, e na aplicação de doses maciças de nutrientes, uma forma de restaurar o potencial produtivo dos solos, sem atenderem aos aspectos de conservação do solo e da água associados aos diferentes sistemas de mobilização de conservação, mais não fazem que antecipar ainda mais a destruição do potencial produtivo dos solos. Uma vez um solo completamente erodido, a sua recuperação poderá levar séculos.

9

Page 10: 1228439217 medidas de_conservação

Figura 3- A erosão é responsável pela diminuição da produção dos solos agrícolas, tanto pelo arrastamento de plantas e sementes, e por soterramento nas áreas de deposição, como pela perda de solo, substrato de crescimento das plantas.

Diferença no maneio dos resíduos das culturas. Salvo raras excepções, os resíduos das culturas sempre foram enterrados, não tanto devido a uma necessidade identificada para o fazer mas como o resultado das práticas utilizadas para atingir outros fins, como o controlo das infestantes, facilitar as operações de sementeira, etc.. Com o advento da mecanização da agricultura, e principalmente a rápida vulgarização do tractor e da charrua, cedo o homem se apercebeu da importância de manter o solo resguardado dos agentes da erosão (a água e o vento), pela manutenção de um coberto. No entanto, a impossibilidade técnica de conciliar o controlo de infestantes, e a sementeira da cultura, com a manutenção de um coberto de resíduos, devido à inexistência de semeadores robustos e de herbicidas apropriados, adiou a resolução do problema da cobertura do solo até ao início dos anos 70, altura em que apareceram no mercado os herbicidas paraquato e glifosato.Com a mobilização tradicional, os resíduos das culturas são enterrados aquando da realização das operações de mobilização que provocam o reviramento da camada superficial do solo, normalmente com charruas ou ainda com grades de discos. A razão porque essas operações eram efectuadas são: o controle de infestantes; permitir o trabalho das alfaias e semeadores convencionais, sem o seu empapamento pelos resíduos das culturas; o enterramento de fertilizantes, restolhos, etc.; a criação de uma melhor estrutura do solo para o desenvolvimento das culturas, que é apenas aparente e temporário, desaparecendo rapidamente; entre outros. As razões porque ainda se praticam o enterramento dos resíduos da cultura anterior são: o desconhecimento da existência de meios alternativos para alcançar os mesmos objectivos, a relutância em abandonar sistemas que, bem ou mal, vão funcionando; a falta de conhecimentos técnicos, etc..

A instalação de culturas de cobertura. Uma das práticas de agricultura de conservação é a realização de culturas de cobertura. Estas realizam-se no período Outono/Inverno, sempre que o solo vá passar este período sem nenhuma cultura. Com o fim do Inverno, a cultura é controlada com um herbicida (não residual, e de baixa toxicidade). A razão de ser das culturas de cobertura reside no facto de no período Outono/Inverno concentrarem-se as chuvas, sendo o perigo da erosão bastante grande. Convém, no entanto, não esquecer que esta prática não substitui os resíduos da cultura anterior. Assim, não é de todo recomendado o

10

Page 11: 1228439217 medidas de_conservação

pastoreio intensivo dos restolhos, por exemplo de um cereal de Inverno, durante o Verão, na expectativa que a cultura de cobertura proporcione a protecção do solo desejado no período Outono/Inverno. Outros efeitos das culturas de cobertura são: o aumento do teor de matéria orgânica do solo; um melhor controlo das infestantes; retenção pela cultura de nutrientes mineralizados, que de outra forma seriam lavados (nitrato); trazer para a superfície nutrientes de camadas mais baixas; manter e/ou melhorar a estrutura do solo; etc..

Com a agricultura tradicional não há nenhuma prática equivalente. Por vezes recorre-se à realização de culturas, principalmente tremocilha, para posterior sideração. Embora isto mostre uma preocupação com a manutenção da fertilidade do solo, não ataca o problema uma vez que: quando a tremocilha é enterrada apresenta um valor C/N bastante baixo (aproximadamente 13), pelo que é rapidamente mineralizada, acrescendo o facto de, sendo enterrada, aumentar ainda mais a taxa de mineralização e não contribuir para a protecção da superfície do solo contra a erosão.

Figura 4- Cultura de cobertura (aveia) após o corte.

Mobilização dos solos e formação de crosta. Suas implicações.A mobilização dos solos, principalmente com os sistemas tradicionais que enterram os resíduos das culturas na totalidade, dá muitas vezes origem ao aparecimento, após as primeiras chuvas, de crostas. As crostas são muito finas (da ordem de 1-2 mm), extremamente compactadas, e com valores de condutividade hidráulica extremamente baixos quando comparados com os valores do solo sem crosta.

11

As culturas de cobertura podem ser constituídas por vegetação espontânea ou serem semeadas. Quando naturais, poder-se-á utilizar, após a emergência, herbicidas selectivos por forma a manter apenas as infestantes de folha estreita, muito mais fáceis de controlar no final do Inverno. Quando semeadas, as culturas como a aveia e a cevada prestam-se particularmente bem para esse papel.

Page 12: 1228439217 medidas de_conservação

A formação de crosta depende da textura e teor de matéria orgânica do solo. De um modo geral, pode-se dizer que os solos francos e franco-arenosos são os mais susceptíveis, e que a tendência a formar crosta diminui com o aumento do teor de argila e matéria orgânica. A formação da crosta é devida a dois mecanismos complementares: (i) a desintegração física dos agregados e a sua compactação pelo impacto das gotas de água; (ii) a dispersão química e o movimento de partículas de argila para a camada de 0,1 a 0,5 mm de profundidade. Assim, é obvio que qualquer sistema que promova a cobertura da superfície do solo com resíduos diminui, em maior ou menor extensão, a formação de crosta, uma vez que a superfície está protegida do impacto directo das gotas de água da chuva. Se, com a sementeira directa, e a partir da definição, o solo está relativamente bem protegido, não é possível eleger, a priori, entre os sistemas de mobilização reduzida e na zona, qual oferece uma melhor protecção ao solo, em virtude das grandes diferenças que pode existir dentro de cada sistema, sendo, no entanto, em grande medida, função do grau de cobertura do solo. No entanto, e para as mesmas condições de solo e cultura, a mobilização na zona oferece mais protecção que a reduzida.

Figura 5- A formação de crostas tem implicações fundamentalmente ao nível da infiltração de água, e da emergência das culturas quando secam.

A estrutura do solo e a retenção de água. Factores a contribuir para uma maior infiltração e retenção.Embora os sistemas de mobilização tradicional resultem em camadas superficiais relativamente soltas e com grande porosidade, este efeito é pouco duradouro, diminuindo ao longo do ciclo da cultura, havendo casos em que, passado algum tempo sobre a realização das operações de mobilização, a porosidade é menor que a inicial. O facto de após as operações de mobilização, na camada mobilizada, a porosidade ser normalmente superior ao verificado com o sistema de sementeira directa (em relação aos sistemas de mobilização reduzida e na zona depende de muitos factores), isto não significa que o volume de água infiltrado com os sistemas de mobilização tradicional seja superior. Como vimos no ponto anterior, a formação de crosta pode levar a uma redução importante da infiltração, e são numerosos os estudos realizados, inclusive em Portugal, que mostram que embora possa haver um maior volume infiltrado logo na 1ª chuvada após as mobilizações, nas seguintes, os sistemas

12

Page 13: 1228439217 medidas de_conservação

de sementeira directa e reduzida normalmente apresentam um maior volume infiltrado. Convém aqui referir que, do ponto de vista físico, sempre que há ruptura de um agregado, há diminuição da microporosidade, embora possa aumentar a macroporosidade.Outro factor importante a ter em conta com os sistemas de mobilização tradicional é o aparecimento, na base do perfil mobilizado, de uma camada extremamente compactada, o calo de lavoura, que para além de dificultar, ou mesmo impedir, o crescimento das raízes, é muito pouco permeável à água. O principal efeito do calo de lavoura é provocar o encharcamento da camada superficial, o que equivale a problemas de arejamento e à asfixia das raízes, o que pode ter reflexos graves sobre a produção. Este problema não se põe com os sistemas de mobilização de conservação do solo.Os sistemas de mobilização de conservação do solo, e em especial a sementeira directa, conduzem, geralmente, ao aparecimento de uma camada superficial com agregados mais estáveis, e nos solos de textura fina e média, favorece o desenvolvimento de uma rede estável de macroporos que promove uma maior continuidade entre as matrizes da superfície e do sub-solo. Esta rede de macroporos, que tem origem na actividade da macrofauna (minhocas, etc.), na decomposição das raízes das plantas, e nas fendas que surgem com a secagem do solo, é desfeita na camada atingida pela mobilização. A importância desta rede de macroporos é que consegue transmitir uma quantidade de água considerável através do perfil.

Figura 6- Com os sistemas em que não há mobilização do solo, os poros criados pelo crescimento das raízes da cultura anterior não são destruídos, permitindo um aumento da infiltração.

Com os sistemas de mobilização de conservação do solo, os resíduos das culturas diminuem o fluxo de radiação solar que incide sobre o solo, diminuindo a temperatura do solo, e assim, a evaporação. Apenas a título comparativo, o albedo, ou coeficiente de reflexão (radiação recebida/ radiação reflectida 100), é de 7 a 10 % com os solos cultivados escuros (sem resíduos), podendo atingir os 30 %, ou mais, em solos cobertos com restolhos e palhas. Resta acrescentar que a condutividade térmica dos resíduos é baixa, pelo que a energia disponível para o aquecimento do solo é ainda menor que a simples diferença entre a energia recebida e a reflectida.Em termos da retenção da água, para posterior utilização pelas plantas, esta ocorre nos espaços intersticiais de reduzida dimensão, os mesoporos (entre 0,2 e 50 m). Como já vimos no 1º texto de apoio, o maior teor de matéria orgânica com os sistemas de mobilização de conservação do solo conduz, nos

13

Page 14: 1228439217 medidas de_conservação

solos de textura grosseira, a um maior poder de retenção da água por adsorção, devido à atracção electrostática que se forma entre as superfícies dos colóides (partículas de diâmetro inferior a 2 m) e as moléculas de água, seguindo-se o “engrossar” destas camadas de água por coesão com novas moléculas de água, preenchendo os espaços intersticiais de dimensão compatível com fenómenos de capilaridade. Nos solos de textura mais fina, um maior teor de matéria orgânica conduz a uma agregação maior, e mais estável, das partículas de solo. Como resultado de uma maior agregação, a infiltrabilidade do solo aumenta, o crescimento das raízes é mais fácil, a transitabilidade é melhorada, nomeadamente em condições de maior humidade, há um maior arejamento do solo, e aumento da actividade microbiana.Os sistemas de mobilização de conservação do solo, e especialmente a sementeira directa, conduzem a uma mudança na proporção relativa de cada classe de tamanho de poros, com aumento da mesoporosidade (ver gráfico).

Tabela 1- Distribuição da porosidade.

MobilizaçãoProfundi-

dade (cm)

> 50 µm (%)

50 -10 µm (%)

10-0. 2 µm (%)

< 2µmPorosidade

Total (%)

Água utilizável

(%)

SD

10 3.2 2.22 2.7 38.37 46.52 4.92

20 0.86 3.91 5.22 36.16 46.15 9.13

30 1.86 2.63 11.48 29.44 45.4 14.11

Lav

10 15.08 2.34 4.36 29.95 51.73 6.71

20 2.67 1.32 2.31 35.95 42.25 3.63

30 1.47 1.56 3.29 35.62 41.94 4.85

O controlo de infestantes: mobilização vs. monda química. Custos, cumprimento de objectivos. A necessidade do saber técnico.Com os sistemas de mobilização tradicional, o controlo das infestantes presentes nas parcelas antes da sementeira, é realizado mecanicamente com a preparação da “cama” para a sementeira. Com os sistemas de mobilização de conservação, e à excepção dos sistemas de mobilização reduzida, este controlo é realizado com herbicidas de pré-sementeira. No que respeita o controlo das infestantes após a sementeira, não há diferenças formais entre os sistemas de mobilização tradicional e de conservação.Se o objectivo das mobilizações for apenas o controlo de infestantes, não são precisos grandes cálculos para verificarmos que o controlo com herbicidas é uma opção muito mais barata.Em termos do cumprimento dos objectivos, o controlo eficaz das infestantes, ambos os sistemas são eficazes se forem cumpridas todos os requisitos próprios de cada um. Em termos dos conhecimentos técnicos, seria desonesto afirmar que ambos os sistemas requerem o mesmo nível de conhecimentos. Para o controlo das infestantes com herbicidas de pré-sementeira torna-se necessário que o agricultor, ou o seu consultor, conheça os herbicidas, e as características da

14

Page 15: 1228439217 medidas de_conservação

aplicação dos herbicidas em sistemas de mobilização de conservação, saiba o que é um programa de controle de infestantes, e a flexibilidade que deve ter, que faça o reconhecimento da flora, e do grau de infestação em cada parcela, que promova uma rotação de culturas conveniente, que proceda a um maneio conveniente do resíduo das culturas, etc.. Voltaremos a este assunto no módulo “A produção vegetal com sistemas de Mobilização de Conservação”, onde faremos uma análise exaustiva.

Figura 8- A mobilização dos solos para o controlo de infestantes pode ser substituída pela aplicação de herbicidas apropriados.

Os sistemas de mobilização e as pragas. A necessidade do saber técnico.Há quem aponte as culturas realizadas com sistemas de mobilização de conservação como estando particularmente expostas às pragas, e assim, levarem a um consumo maior de pesticidas, devido à menor ou não mobilização dos solos, e aos resíduos das culturas. No entanto, muitos estudos mostram que em várias regiões do mundo, onde houve uma extensa conversão dos sistemas tradicionais para formas de agricultura de conservação, o consumo de pesticidas não sofreu um acréscimo significativo. Para estes resultados, por certo não foi alheio o esforço por parte dos agricultores e seus consultores em conhecer as pragas a que estão sujeitas as diferentes culturas, a sua maior ou menor presença em resultado dos diferentes sistemas de mobilização, e a uma utilização mais racional dos pesticidas quando adoptaram os sistemas de mobilização de conservação face à utilização que faziam anteriormente.Para um controlo eficaz e correcto das pragas, torna-se necessário conhecer quais as pragas a que as culturas estão sujeitas, qual a relação entre a biologia da praga e as condições criadas pelos diferentes sistemas de mobilização, no que concerne às condições de sobrevivência da praga, os pesticidas que as controlam e modos de aplicação, os cuidados a ter quando em sistemas de mobilização de conservação, quais os níveis económicos de ataque, isto é, a partir de que número de organismos presentes os prejuízos são superiores ao custo de aplicação de um determinado pesticida, etc..

15

Page 16: 1228439217 medidas de_conservação

Figura 9- O conhecimento da biologia das pragas é essencial para desenvolver uma estratégia de protecção eficaz das culturas.

Voltaremos a este assunto no módulo “A produção vegetal com sistemas de Mobilização de Conservação”, onde faremos uma análise exaustiva.

Sofismas.Muitos agricultores que adoptam os sistemas de mobilização de conservação, entusiasmam-se com os excelentes resultados, nomeadamente no que concerne a redução de custos, que podem ter desde o início mas mantêm um certo receio sobre a evolução da produtividade dos solos. Este receio é fundamentado não em razões objectivas mas na incerteza e desconhecimento de quais as necessidades em termos de solos para obter boas produções, de forma continuada e sustentada, e de qual a evolução do solo, do ponto de vista da estrutura, da fertilidade, das pragas, das infestantes, etc., com os sistemas de mobilização de conservação. Como veremos nos outros módulos, grande parte destes receios não tem fundamento, e que é com o tempo que os benefícios que advêm desses sistemas, a todos os níveis, mais se fazem sentir. Os argumentos utilizados pelos detractores dos sistemas de mobilização de conservação são: Trabalho medíocre dos semeadores, com um mau contacto da semente

com o solo, tendo como resultado más emergências. As culturas terem problemas com o crescimento das raízes, por causa da

maior densidade do solo não mobilizado. Um controlo deficiente das infestantes. Uma maior incidência de pragas, com o argumento que a mobilização dos

solos ajuda a destruir as pragas, e que os resíduos são alojamento das formas de hibernação, ovos e larvas das pragas.

Menos água disponível para as plantas, com o argumento que a mobilização do solo cria uma descontinuidade com a matriz sub-superficial, o que diminui a evaporação, e que promove também uma maior infiltração.

Etc..

Embora alguns desses argumentos possam ter uma aparente validade como hipótese, outros são falsos, mas o que é um facto é que tanto os agricultores que adoptaram sistemas de mobilização de conservação, como os investigadores que têm os sistemas de mobilização do solo como objecto de estudo, ou não sentiram estes problemas, ou quando os sentiram, verificaram que a sua resolução não acarretava mais meios que com os sistemas de mobilização tradicional, não comprometendo o sucesso das culturas.

16

Page 17: 1228439217 medidas de_conservação

Módulo: Introdução à Mobilização de Conservação

Texto de apoio e consulta 3.

DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL

Conceito de desenvolvimento rural sustentável.Não há uma definição para desenvolvimento rural sustentável que seja universalmente aceite. Uma definição para desenvolvimento sustentável é “o desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras para fazer face às suas necessidades”, proposto pela World Commission on Environment and Development (Comissão Mundial para o Desenvolvimento e o Ambiente). No entanto, há que manter o espírito crítico em relação à adopção de modelos de desenvolvimento, e não esquecer que aquilo que é sustentável para um país, região ou sociedade, pode não ser para outro.

Quando falamos em desenvolvimento rural sustentável, os sistemas de mobilização de conservação do solo já surgem, não como os sistemas do futuro, mas como os sistemas que urge implementar, devido às vantagens inequívocas em termos ambientais e económicos. No entanto, do ponto de vista social, as menores necessidades de mão-de-obra que resultam destes sistemas de mobilização lançam o espectro de uma ainda maior diminuição do emprego na agricultura. Isto levanta a questão da existência de uma verdadeira política de desenvolvimento rural sustentável, que antecipe e dê respostas atempadas aos problemas.

A conservação do solo e da água. A população em crescimento e a garantia alimentar.(Os números apresentados neste texto seguidos de (*), foram colhidos na publicação “Agricultura de Conservação na Europa: Aspectos Ambientais, Económicos e Políticos da UE", uma edição conjunta da APOSOLO e da ECAF.)

Recentemente, a FAO anunciou que a Terra contava aproximadamente 6 mil milhões de pessoas. A evolução da população nas ultimas décadas (ver

17

“O desenvolvimento sustentável tem uma natureza tri-partida: a ambiental, a económica e a social. O desafio em que consiste o desenvolvimento rural sustentável é conciliar estes 3 componentes, com cedências de parte-a-parte, por forma a manter um equilíbrio dinâmico entre eles. São poucas as situações em que todos lucram com o desenvolvimento, invariavelmente, alguém ou alguns grupos ficam em desvantagem com a mudança de políticas, e resistem à mudança.”(Este parágrafo é uma adaptação livre, de um texto da FAO, Use of Indicators in Sustainable Agriculture and Rural Development, de Jeff Tschirley).

Page 18: 1228439217 medidas de_conservação

gráfico), só foi possível devido aos avanços registados no âmbito do melhoramento de plantas e animais, da mecanização, da expansão do regadio e na melhoria das técnicas de rega, e na utilização de fertilizantes e produtos fitofarmacêuticos, que permitiram um aumento substancial da produtividade dos solos agrícolas (ver gráficos de produções). No entanto, cedo começaram a aparecer os sinais de degradação dos solos e da qualidade das águas, e da não sustentabilidade a longo prazo de certas práticas como a utilização excessiva de fertilizantes, de produtos fitofarmacêuticos de elevada persistência e ecotoxicidade, da mobilização intensiva dos solos, deixando-os sem resíduos de culturas à superfície, etc.. Por outras palavras, os conhecimentos que possibilitaram o crescimento da população conduziram também a uma pressão sobre os recursos naturais que, a não serem corrigidos, acarretarão um futuro sombrio para a humanidade.

A conservação do solo e da água é uma preocupação que atinge a dimensão da Terra. Com efeito, formas graves de erosão dos solos estão presentes em todos os continentes. Estimativas apontam para a perda de aproximadamente 10 milhões de ha por ano(*) de solo com aptidão agrícola devido à erosão. Ora, sabendo que apenas aproximadamente 20 % da superfície das terras emersas, 3000 milhões de ha, são verdadeiramente cultiváveis, e que a grande maioria destes está sujeito a condicionalismos que limitam a sua exploração, então o motivo para preocupação aumenta. Na Europa, calcula-se que aproximadamente 157 milhões de ha(*) são afectados em maior ou menor grau pela erosão, adquirindo proporções particularmente graves nos países da orla mediterrânea. Os quadros políticos para operar as mudanças necessária para um desenvolvimento rural sustentável existem, e devem ser usados. Assim, e por exemplo, Portugal é signatário da Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação desde Outubro de 1994. O significado que este facto tem é de reconhecer que vastas regiões do país estão sujeitas a uma degradação acelerada das terras, principalmente a sul do rio Tejo, e da necessidade da “implementação de programas de acção, a nível local, nas áreas afectadas”. Nos termos da convenção, o desenvolvimento sustentável das áreas afectadas passa por “(Artigo 2º, ponto 2) – A consecução deste objectivo (o desenvolvimento sustentável nas zonas afectadas) exigirá a aplicação, nas zonas afectadas, de estratégias integradas de longo prazo que se centrem, simultaneamente, no aumento de produtividade da terra e na reabilitação, conservação e gestão sustentada dos recursos em terra e hídricos, tendo em vista melhorar as condições de vida, particularmente ao nível das comunidades locais.”. A mobilização de conservação é, neste contexto, parte óbvia de qualquer estratégia integrada de longo prazo, tanto em Portugal como em outras regiões do globo, pelos benefícios que proporciona tanto em termos da conservação do solo como da água.

A biodiversidade e os sistemas de MC.(Dentro das molduras, adaptação livre do texto “Agricultura de Conservação na Europa: Aspectos Ambientais, Económicos e Políticos da UE", edição conjunta da APOSOLO e da ECAF.)

18

Page 19: 1228439217 medidas de_conservação

A agricultura não deverá ter apenas como objectivo a produção de alimentos a preços competitivos mas também cumprir um papel na preservação da natureza. Os espaços agrícolas são habitat de diversas espécies animais que, quando em equilíbrio, não representam um grande perigo para as culturas, podendo estas beneficiarem até da manutenção do nível das pragas abaixo dos níveis económicos de ataque – ver o texto de apoio do módulo correspondente. Para o efeito dos sistemas de mobilização de conservação do solo sobre a fauna, ver moldura:

O solo é um meio onde vive uma grande comunidade de microorganismos, microartrópodes, nemátodos, moluscos, etc.. Esta massa viva desempenha um papel muito importante na decomposição e transformação dos resíduos das culturas em matéria orgânica estável, e na formação e manutenção de uma estrutura do solo favorável ao desenvolvimento das plantas. A manutenção do tamanho das populações de pragas potenciais nos solos em sistemas de mobilização de conservação, contrariando o que se conhece da biologia de algumas espécies (é suposto algumas espécies de pragas beneficiarem, por exemplo, da não mobilização dos solos), é explicada pela quantidade e diversidade de organismos que alberga, e pelas relações tróficas que se estabelecem (por exemplo, pragas controladas por outras espécies que não estariam presentes no solo, ou estariam em baixo número, se este fosse mobilizado).

Figura 3- O solo sob mobilização de conservação é mais rico e equilibrado.

19

Mais fauna - Os sistemas de mobilização convencional deixam o solo descoberto durante longos períodos de tempo. Este habitat não é o apropriado para muitas espécies de aves que procuram solos suficientemente cobertos para nidificar. Ao contrário, sistemas de produção agrícola que deixam grandes quantidades de resíduos fornecem alimentos e protecção para muitas espécies animais em fases críticas do seu ciclo de vida. É por isto que nos solos em sistema de mobilização de conservação prospera um grande número de espécies animais (aves, pequenos mamíferos, répteis e outros). Vários estudos demonstraram que campos não mobilizados apresentam densidade maiores de aves (e ninhos) e que há uma maior diversidade de aves que procuram estas condições para nidificar, em comparação com terrenos mobilizados. De facto, a agricultura de conservação fornece condições mais favoráveis para a alimentação de aves (insectos, sementes) durante um período mais longo, o que resulta numa população maior e mais diversificada.

Page 20: 1228439217 medidas de_conservação

Contributo dos sistemas de MC para a diminuição do aquecimento global. (CO2, maior eficiência energética, etc.).(Dentro das molduras, adaptação livre do texto “Agricultura de Conservação na Europa: Aspectos Ambientais, Económicos e Políticos da UE", edição conjunta da APOSOLO e da ECAF.)

Quando falamos em “aquecimento global” estamos geralmente a falar do aumento da temperatura média do planeta, em resultado do aumento da concentração na atmosfera dos chamados gases com efeito de estufa, principalmente o dióxido de carbono (CO2) e o metano (CH4), com origem nas actividades humanas. O CO2 é o gás com efeito de estufa mais importante, e tem origem na queima dos combustíveis fósseis e de outras substâncias orgânicas, no metabolismo dos seres vivos, e noutras fontes que, para o efeito deste texto, não são relevantes.Antes de vermos em que medida os sistemas de mobilização de conservação podem contribuir para a diminuição do aquecimento global, convém perspectivar o problema:O aquecimento global é, hoje em dia, dos problemas mais graves que o Homem enfrenta. Estudos recentes mostram que, embora a temperatura do planeta apenas tenha subido 0,6 C desde 1900, o aumento de temperatura durante a década de 90 indicia um aumento durável da temperatura do planeta a uma taxa de 2 a 3 C por século (para P=0,05) (Centro Nacional de Dados Climáticos de Asheville (E.U.A.)). Embora não haja uma resposta sobre a origem do aumento da temperatura, se se trata de uma flutuação natural, ou consequência do efeito de estufa dos gases que emitimos para a atmosfera, os efeitos serão forçosamente graves num futuro próximo, exigindo a adopção imediata de medidas que contrariem esse aquecimento. Um aumento significativo da temperatura, a concretizar-se, significará transtornos tão grandes a nível do clima (devido ao degelo dos pólos, que já é uma realidade, à paragem do Gulf Stream, etc.) que ainda ninguém se aventurou a traçar um cenário que não fosse de desastre para o Homem.

Figura 4- O aumento da temperatura da Terra tem como efeito o degelo dos pólos, com consequências devastadoras para todo o planeta.

20

Fauna do solo - Esta é composta por numerosas espécies em quantidades consideráveis, desde microorganismos (bactérias e fungos) que podem chegar aos 3 mil milhões de indivíduos por grama de solo, até às minhocas em quantidades que podem atingir 9.5 milhões por hectare. Os sistemas de mobilização de conservação do solo permitem que se desenvolva uma estrutura do solo estratificada, favorável à quantidade e diversidade dos organismos do solo como, por exemplo, microorganísmos, nemátodos, minhocas e microartrópodos (p. ex. insectos).

Page 21: 1228439217 medidas de_conservação

Com os sistemas de mobilização de conservação conseguimos uma diminuição das emissões de CO2 para a atmosfera, basicamente, de 2 formas: mantendo os resíduos das culturas à superfície do solo, diminuindo assim a rápida metabolização dos resíduos pelos microorganismos, com a respectiva libertação de CO2; diminuindo o consumo de combustíveis fósseis, devido à menor mobilização dos solos, menor número de passagens, etc. (por exemplo, a poupança em gasóleo, em culturas anuais com o sistema de sementeira directa, é calculado em mais de 30 litros por ha e por ano).

21

A temperatura média anual da Europa aumentou entre 0.3 e 0.6 °C desde 1990, esperando-se, segundo modelos climáticos, a continuação deste aumento. Está bem documentado que a queima dos combustíveis fósseis, devido às emissões de CO2, é a causa principal para o aumento do aquecimento global. De uma forma geral, o factor chave para este problema é a estabilização da concentração do CO2 na atmosfera.A agricultura é responsabilizada por contribuir, ao nível mundial, em cerca de 20% para o aumento de origem antropogénica do efeito de estufa, produzindo cerca de 50 a 75% das emissões de metano e de óxidos nitrosos e cerca de 5% do CO2. O desflorestamento, a queima de biomassa e outras alterações na exploração da terra provocam um aumento adicional de 14%.Sem dúvida, a agricultura convencional é um dos factores que mais contribuem para a mudança do clima. A lavoura ou inversão do solo representam a causa principal para as emissões de CO2 a partir das terras cultivadas. Foi comprovado cientificamente que a mobilização do solo tem contribuído significativamente para o aumento do teor de CO2 na atmosfera ocorrido durante as últimas décadas.Historicamente, a mobilização intensiva do solo tem provocado uma perda substancial de carbono do solo, atingindo entre 30 a 50%. Estas perdas de CO2 estão relacionadas com a fragmentação do solo, que facilita o movimento do CO2 para fora do mesmo e, ao mesmo tempo, a entrada de oxigénio. Operações culturais convencionais como a lavoura com charrua de aivecas, enterram quase na totalidade os resíduos e deixam a superfície do solo rugosa e solta; isto resulta numa perda máxima de CO2 e numa redução substancial do efeito sumidor do solo. Da mesma forma, a intensificação da agricultura é um factor importante para a emissão de gases que produzem o efeito estufa (CHG); estima-se que as actividades agrícolas provocam 20% do referido efeito de estufa. Tudo isto contribui para o aquecimento global.Ao contrário, na agricultura de conservação (sementeira directa/não mobilização) o teor de matéria orgânica no solo aumenta em 1 tonelada ou mais por hectare e ano. Daí, estima-se que os 17 milhões de hectares incluídos no Programa de Conservação dos EUA (áreas com um elevado risco de erosão que foram reconvertidos em pastagens permanentes não mobilizadas) contribuirão para uma redução em 45% das emissões de CO2 provenientes das zonas agrícolas deste país. Consequentemente, e baseado em estudos científicos, existe actualmente uma forte tendência a favor da adopção das técnicas de conservação a fim de prevenir as perdas de carbono do solo e as emissões adicionais de CO2 para a atmosfera, e, simultaneamente, aumentar o teor de carbono no solo.Quanto menos se mobiliza o solo, tanto mais carbono o solo consegue capturar e armazenar, elevando o teor em matéria orgânica e a produtividade do solo a longo prazo, diminuindo, ao mesmo tempo, a quantidade de CO2 libertado para a atmosfera. Solos com altos teores em matéria orgânica mantêm a produtividade e reduzem a poluição das águas por resistirem melhor à erosão, por reterem uma maior quantidade de água no solo, e, através da decomposição e imobilização de agro-químicos e outras substâncias poluentes. Há estimativas de que a conversão total para a agricultura de conservação na Europa poderia compensar a totalidade das emissões de carbono a partir de combustíveis fósseis por parte da agricultura europeia, correspondendo isto a apenas 4.1% do carbono sob a forma de CO2 produzido pelo homem na Europa e a 0.8% das emissões totais ao nível mundial.

Page 22: 1228439217 medidas de_conservação

Módulo: Introdução à Mobilização de Conservação

Texto de apoio e consulta 4.

A POLUIÇÃO DE ORIGEM AGRÍCOLA E A SOCIEDADE

A erosão dos solos e o assoreamento das estruturas de armazenamento de água e dos cursos de água. Custos de manutenção.(Dentro das molduras, adaptação livre do texto “Agricultura de Conservação na Europa: Aspectos Ambientais, Económicos e Políticos da UE", edição conjunta da APOSOLO e da ECAF.)

Figura 1- Os sedimentos estão na origem de diversos custos para a sociedade- na imagem, o assoreamento de uma barragem.

22

Os sedimentos provêm dos solos erodidos e são transportados nas águas de escorrimento para fora da área na qual se deu a erosão. Os danos provocados são diversos: danificação de estradas, canais e esgotos, depósitos de sedimentos, obstrução de redes de drenagem, aluimento de fundações e pavimentos, diminuição da capacidade de armazenamento de água das barragens, destruição de sistemas ecológicos aquáticos, perigos para a saúde pública e maiores custos no tratamento das águas. Além disso, a elevação dos leitos e a sedimentação nas margens húmidas dos rios podem aumentar a probabilidade e a gravidade de inundações. Estima-se que cerca de 40% dos custos da erosão devem-se ao prejuízo causado pelos sedimentos nas infra-estruturas públicas anteriormente referidas. Desta maneira, estima-se também que levando a cabo as técnicas de conservação, a sociedade beneficiaria com a diminuição dos danos provocados fora dos locais de erosão em cerca de 32 Euros/ha de superfície agrícola e ano. Os prejuízos causados pela erosão no seu conjunto, isto é, nas zonas agrícolas afectadas e, fora destas, nas infra-estruturas públicas referidas, foram estimados nos EUA em cerca de 85.5 Euros por ha de superfície agrícola e ano.

A mobilização de conservação reduz a erosão do solo até 90% na sementeira directa e em mais de 60% na mobilização reduzida, em comparação com a mobilização convencional. Desta maneira, melhora-se consideravelmente a qualidade das águas superficiais devido à redução dos sedimentos.

Page 23: 1228439217 medidas de_conservação

O transporte de pesticidas e fertilizantes. Pesticidas e fertilizantes em solução. A fauna aquática e a eutrofização de lagos, barragens, etc...(Dentro das molduras, adaptação livre do texto “Agricultura de Conservação na Europa: Aspectos Ambientais, Económicos e Políticos da UE", edição conjunta da APOSOLO e da ECAF.)

Figura 2- Os pesticidas em solução na água de escorrimento superficial, embora invisíveis, constituem uma grave ameaça aos ecossistemas aquáticos e à saúde pública.

O tratamento de águas para consumo humano. Outras utilizações da água.A saúde das populações depende em grande medida da qualidade da água que consomem. A qualidade da água para consumo humano obedece a um conjunto de normas no que concerne as suas características químicas, físicas e bacteriológicas. Assim, e quando as fontes de água que abastecem as populações não obedecem às normas estabelecidas, torna-se necessário, à falta de fontes alternativas, construir e operar instalações para o tratamento das águas que são dispendiosas e muitas vezes incapazes de tratar determinados poluentes. Estas estações de tratamento constituem um custo para a sociedade, que poderia ser evitado se fossem adoptadas um conjunto de medidas eficazes na protecção das fontes de água.A agricultura tem a sua quota parte de responsabilidade na poluição da água, a que não pode e não deve fugir. Neste contexto, longe de acusar, os governos da União Europeia apoiam os agricultores que adoptam medidas de protecção dos recursos, nomeadamente através das medidas agro-ambientais, em sinal de reconhecimento do papel positivo que os agricultores podem ter na protecção do ambiente. A adopção de algumas medidas, como os sistemas de mobilização de conservação do solo, contribui, significativamente, como temos vindo a ver, na redução da carga de poluentes de origem agrícola transportados pelas águas que drenam os campos agrícolas, diminuindo os custos de manutenção e operação das estações de tratamento de água.Outras utilizações da água têm exigências de qualidade que são, com excepção de algumas utilizações industriais e outras, menores que as requeridas para consumo humano; falamos da água para a rega, para determinadas lavagens, para o combate a incêndios, etc..

23

Page 24: 1228439217 medidas de_conservação

Figura 3- A rega é das actividades que consome mais água. No entanto, a qualidade da água que drena os campos agrícolas não deve ter como referência a qualidade da água para a rega mas sim a conservação dos ecossistemas dos cursos de água.

24

Os fertilizantes e pesticidas provenientes de zonas agrícolas podem chegar a contaminar as águas superficiais, ao serem arrastados pelas águas de escorrimento para fora das zonas agrícolas onde se aplicaram. Por vezes, os nitratos e pesticidas transportados para as águas superficiais podem, inclusivamente, ultrapassar as concentrações limites das águas potáveis. Concentrações relativamente elevadas de pesticidas podem ser prejudiciais para os peixes, plantas e outros organismos aquáticos. O azoto em forma de amónia pode ser tóxico para os peixes e os nitratos e fosfatos intensificam o crescimento de plantas e algas, levando a uma eutrofização acelerada de lagos e barragens.

O restolho, ou restos vegetais da colheita anterior sobre o solo, que caracteriza a agricultura de conservação, retêm em grande parte os fertilizantes e pesticidas na zona agrícola onde foram aplicados, até serem utilizados pela cultura ou decompostos noutros componentes menos prejudiciais. Assim, as técnicas de conservação não só reduzem, consideravelmente, o escorrimento mas também proporcionam uma forte redução de sedimentos que, por sua vez, transportam pesticidas, amónia e fosfatos adsorvidos. Em consequência disto, a mobilização de não-inversão do solo consegue reduzir substancialmente a perda de herbicidas na água de drenagem e, de forma semelhante, os óxidos de azoto (>85%) e fosfatos solúveis (>65%). A este respeito, uma comparação abrangente dos diversos métodos de mobilização, mostra que através da sementeira directa/não mobilização se reduz o transporte de herbicidas em 70%, dos sedimentos em 93% e o escorrimento superficial em 69%, em comparação com a mobilização convencional de inversão. Conclui-se, assim, que as técnicas de conservação melhoram, substancialmente, a qualidade da água.

Na agricultura de conservação usam-se diferentes métodos de aplicação de agro-químicos e, em termos gerais, pode-se reduzir a quantidade total dos mesmos. Assim, por exemplo, em vez de se aplicar os fertilizantes a lanço, podem-se localizar em bandas ou sulcos, a uma certa distância da semente, ou ser injectados directamente no solo, minimizando, desta forma, o risco de serem dispersados pela chuva ou pelo vento para fora da zona onde se aplicaram. Da mesma maneira, o controlo de infestantes pode não necessitar em muitas situações de uma quantidade maior de herbicidas que na agricultura convencional. Para além disso, os herbicidas mais apropriados para aplicação nas infestantes emergidas, têm um período de vida curto, não são activos no solo e exibem uma ecotoxicidade extremamente baixa. Outros métodos de maneio de infestantes, tais como a utilização de entrelinhas menores e/ou o aumento de densidade de plantas por unidade de superfície e o estabelecimento de culturas intercalares fazem parte das técnicas de conservação.

Page 25: 1228439217 medidas de_conservação

Mesmo na eventualidade da água que drena dos campos agrícolas não ter uma utilização humana posterior, seguindo o seu curso em direcção ao mar, há o dever de garantir que estas águas sejam isentas de poluentes, por forma a preservar tanto os ecossistemas que se estabelecem nos cursos de água e em seu redor, bem como os aquíferos (a água que circula nos cursos de água também infiltra).

Figura 4- A preservação dos cursos de água é uma prioridade.

25

Page 26: 1228439217 medidas de_conservação

Módulo: Introdução à Mobilização de Conservação

Texto de apoio e consulta 5.

A POLÍTICA AGRÍCOLA COMUM

Os desafios da agricultura europeia.

A Política Agrícola Comum (PAC) é o instrumento que serve de referência à agricultura europeia, e ao seu desenvolvimento futuro. Num mundo em permanente mudança, a PAC tem sofrido reformas por forma a acompanhar as novas tendências com o objectivo último de preservar o sector agrícola, tornando-o mais competitivo, tanto a nível dos países que constituem a União Europeia (UE), como a nível internacional. Os desafios que são postos à PAC a nível interno são: o desenvolvimento dos mercados internos; repensar a gestão dos mecanismos de apoio. A nível externo: o alargamento da UE a novos países; as conversações sobre as trocas comerciais.

Figura 1- O desenvolvimento dos mercados internos da U.E., as conversações sobre o alargamento a novos países, e a regulamentação das trocas comerciais a nível mundial, constituem os desafios na origem da nova PAC.

As propostas da Comissão europeia. O sector dos cereais.(Dentro das molduras, adaptação livre do texto “Agricultura de Conservação na Europa: Aspectos Ambientais, Económicos e Políticos da UE", edição conjunta da APOSOLO e da ECAF.)

Propostas para a reforma da PAC: Redução dos preços de intervenção- visa beneficiar o consumidor, obrigar

o sector agrícola da comunidade a explorar novos mercados, facilitar a integração dos novos candidatos à UE, e preparar as bases para a nova ronda de conversações sobre as trocas comerciais. Só no sector dos cereais, em 2001/2002 é esperado um excesso de produção em relação às necessidades dos países da EU superior a 26 milhões de toneladas, com a agravante da exportação com preços subsidiados estar limitada, o que

26

Page 27: 1228439217 medidas de_conservação

originará gastos enormes com a intervenção no mercado, para garantir os preços, e com a armazenagem.

Aumento das ajudas directas aos agricultores para compensar a diminuição de preços- visa a estabilidade do rendimento dos agricultores.

Pacote de medidas visando o desenvolvimento rural- este pacote permite que os diferentes estados membros criem um pacote de medidas que se adapte às necessidade específicas de cada um.

Propostas para o sector dos cereais: Redução dos preços de intervenção e aumento das ajudas directas ao

rendimento dos produtores- ao deixar que os preços internos se aproximem dos preços mundiais, deixa de haver necessidade de limitar a produção (não há limites para exportação quando a produção não é subsidiada), e também de constituir set-aside.

As ajudas directas aos produtores não serão proporcionais ao corte nos preços de intervenção- a Comissão acredita que os preços de mercado manter-se-ão acima dos preços de intervenção.

Existirão valores máximos para todas as ajudas directas recebidas de todas as Organizações do Mercado Comum. Os estados membros terão também as ferramentas legais para dirigir a ajuda directa àqueles que mais dela necessitam. No que respeita a protecção ambiental, os estados membros poderão associar, à sua própria descrição, pagamentos directos pelo respeito pelo ambiente.

Figura 2- Com a nova reforma da PAC, deixa de haver a necessidade de diminuir a produção na EU, logo da realização do chamado set-aside.

Destas propostas, a que tem maior alcance é sem dúvida a redução do preço de intervenção, apesar do aumento das ajudas directas ao rendimento dos agricultores. Esta proposta traz a necessidade de uma maior competitividade para o sector. Como temos vindo a ver, os sistemas de mobilização de conservação do solo trazem vantagens económicas inegáveis, podendo significar a sobrevivência do sector.

Subsídios à produção vs. ajudas ao rendimento do produtor.A redução dos preços de intervenção, para valores próximos dos preços dos mercados internacionais, faz com que este instrumento volte ao seu papel original, funcionando como uma rede de segurança para os agricultores. Assim, os preços de intervenção sofrem um corte de 20%, passando de 119,19 para 95,35 Euros/t para os cereais, oleaginosas e proteaginosas. As proteaginosas,

27

Page 28: 1228439217 medidas de_conservação

terão direito a um prémio adicional de 6,5 Euros/t. A perda de rendimento é compensada pelo aumento das ajudas directas ao rendimento dos agricultores (passando de 54 para 66 Euros/t).A compensação pelo set-aside é fixada nos 66 Euros/t.

As modulações. O financiamento das medidas agro-ambientais.Devido às diferenças no rendimento dos agricultores, e como já vimos atrás, os estados membros da UE terão ferramentas legais para dirigir a ajuda directa àqueles que mais dela necessitam, i.e. o montante das ajudas directas ao rendimento pagas serão função da área semeada, sendo as ajudas tanto menores quanto maiores forem as áreas semeadas- são as modulações.

A inclusão de questões ambientais na reforma da PAC não é novidade. No entanto, as novas propostas dão uma resposta mais sistemática e alargada aos problemas ambientais. De acordo com as propostas, cabe aos estados membros da UE, associar o pagamento das ajudas directas aos produtores ao cumprimento de regras ambientais que estes considerem apropriados. O financiamento destas medidas agro-ambientais, para além de um orçamento próprio, contarão com o dinheiro poupado pelos estados membros que optarem pela modulação do pagamento das ajudas directas, bem como aquele dinheiro que não for despendido devido ao desrespeito das condições ambientais.As medidas agro-ambientais que constam do Plano de Desenvolvimento Rural 2000-2006, respeitantes aos sistemas de mobilização de conservação do solo encontram-se em anexo.

28

Do ponto de vista global, as diferentes modalidades da agricultura de conservação cresceram de uma forma drástica durante os últimos 15 anos. Relativamente a culturas anuais, em 1996 foram utilizadas as técnicas de conservação em 78 milhões de hectares, com uma tendência a aumentar. Ao nível mundial, a sementeira directa/não mobilização aumentou de 6 para 47.5 milhões de hectares nos últimos dez anos.Os EUA têm sido o país pioneiro neste domínio e continuam a liderar a agricultura de conservação em termos da sua adopção. Este desenvolvimento deve-se, em grande parte, aos apoios recebidos por parte de sucessivas administrações dos EUA sob a forma da implementação dos chamados “Farm Bills” de 1985, 1990 e 1996. Em 1997, 37% dos 120 milhões de hectares foram cultivadas utilizando as técnicas de conservação, mantendo pelo menos 30% do solo coberto com resíduos, enquanto a agricultura convencional (com menos de 15% de cobertura do solo) diminuiu em 36.5%. Mais de 18 milhões de hectares foram semeados em sementeira directa/não mobilização.Outros países pioneiros na agricultura de conservação são a Austrália, Canadá, Brasil e Argentina. É de realçar que nestes últimos dois países, onde a agricultura não recebe subsídios governamentais, a sementeira directa aumentou de poucos milhares de hectares em 1992 para mais de 12 e 7 milhões de hectares, respectivamente, em 1998.Lamentavelmente, neste momento, a agricultura de conservação está muito pouco desenvolvida na Europa (estimativas variam entre <1% até 2%), estando muito longe dos países atrás referidos. Actualmente, a França e a Espanha são os dois países europeus onde se encontram mais divulgadas estas técnicas de conservação, com cerca de 1 e 0.6 milhões de hectares de culturas anuais, respectivamente, em 1998. Todavia deve-se mencionar que a aplicabilidade das técnicas de conservação foi amplamente demonstrada na maior parte dos ambientes agrícolas na Europa.

Page 29: 1228439217 medidas de_conservação

Módulo: A produção vegetal com sistemas de Mobilização de Conservação

Texto de apoio e consulta 1.

DESENVOLVIMENTO VEGETAL

A sementeira, o contacto da semente com o solo e a germinação.O sucesso de uma cultura é muitas vezes determinado aquando da sementeira. Com os sistemas de mobilização de conservação do solo, e apesar dos semeadores especiais utilizados com alguns sistemas, todos os cuidados têm de ser tomados por forma a garantir um bom contacto da semente com o solo. Assim, torna-se necessário o conhecimento das características do solo, a quantidade, tipo e tamanho dos resíduos de culturas à superfície do solo, e as características e tipo de trabalho produzido pelas alfaias e semeadores em cada solo.O conhecimento dos solos é essencial por forma a relacionar o teor de humidade dos solos, e outras características, com o trabalho do semeador. Com um teor de humidade não adequado, a largura e/ou a profundidade do sulco criado pelo semeador podem não servir para alojar convenientemente a semente, bem como conduzir a um enterramento deficiente, o que poderá originar um mau contacto da semente com o solo, e uma emergência irregular. A este respeito, as dificuldades aumentam com o teor de argila do solo, pois não só a resistência à penetração do semeador é maior em condições de solo seco, como também a sua plasticidade em condições húmidas dificulta o fecho do rego de sementeira, havendo o risco da semente ficar exposta. Para este tipo de solos é necessário a utilização de semeadores mais pesados e que tenham órgãos de abertura que apresentem um bom desempenho em condições plásticas.

Figura 1- Emergência heterogénea de um cereal por deficiente controlo da profundidade de sementeira.

No que concerne os resíduos das culturas à superfície do solo, os cuidados dividem-se entre o funcionamento correcto dos semeadores e os problemas de emergência que podem resultar do excesso de resíduos. Com os semeadores convencionais, o problema mais comum é o arrastamento e envolvimento pelos órgãos activos do semeador de resíduos, que causam problemas vários, inclusive podem impedir a deposição da semente. Com os semeadores de

29

Page 30: 1228439217 medidas de_conservação

sementeira directa, e em condições de excesso de resíduos (por exemplo, cordões de palha da cultura anterior), os problemas mais comuns são o corte e afastamento deficientes dos resíduos, ficando parte dos resíduos embutidos no sulco, o que origina um contacto directo da semente com os resíduos e/ou um mau contacto da semente com o solo. O bom funcionamento deste tipo de agricultura exige assim que as palhas estejam uniformemente distribuídas na superfície do terreno. Em função do tipo de semeador e do tipo de palha, poderá haver ainda a necessidade de esta se encontrar traçada.

Figura 2- Resíduos da cultura anterior embutidos nos sulcos podem dar origem a uma má germinação.

Por vezes, os resíduos de algumas culturas, quando em excesso, podem originar a inibição da germinação das sementes da cultura seguinte. Este fenómeno (efeitos alelopáticos dos resíduos) fica-se a dever à libertação, aquando da degradação dos resíduos, de substância neles contidos e/ou de substâncias do metabolismo dos micróbios que os degradam, que são tóxicos para as sementes, inibindo a sua germinação. Voltaremos a este assunto quando discutirmos as rotações.Em relação ao trabalho do semeador, e levando em conta as características do solo, dos resíduos à superfície, e da sementeira, ter-se-á que garantir tanto a homogeneidade da distribuição da semente, como a profundidade e o enterramento adequado. Assim, para realizar uma boa sementeira, a selecção do semeador deverá ter em conta o tipo de elementos de corte e/ou afastamento na linha dos resíduos que melhor se adapta ao sistema de mobilização e a quantidade e forma dos resíduos deixados pelas culturas da rotação, ao tipo de órgãos que fazem a abertura do sulco, que é em grande medida função do tipo de solo, e ao tipo de órgãos que fazem o enterramento das sementes. Saber regular os semeadores é fundamental.

A retenção de água e a germinação.A mobilização dos solos conduz a uma secagem rápida da camada superficial. Esta secagem fica-se a dever ao grande arejamento do solo, aliado ao maior aquecimento a que ficam sujeitos por não estarem protegidos da radiação solar pelos resíduos. Assim, e em sequeiro, quanto maior for o intervalo de tempo que decorrer entre a mobilização do solo e a sementeira, maior será o risco das

30

Page 31: 1228439217 medidas de_conservação

sementes não germinarem ou a cultura emergir de forma heterogénea por o teor de água da camada superficial do solo ser insuficiente.Com os sistemas de mobilização de conservação do solo em geral, e com os sistemas de sementeira directa em particular, tanto a presença de resíduos das culturas como um menor arejamento contribuem para a manutenção de um teor de humidade mais elevado da camada superficial do solo. Salvo raras excepções, e nas nossas condições climáticas, um menor arejamento e temperatura da camada superficial do solo não modificam de forma notável a germinação. O efeito do teor de humidade mais elevado da camada superficial sobre a germinação com os sistemas de mobilização de conservação tem sido atestado por vários agricultores e especialistas.

Figura 3- Perda de água da camada superficial após rega em sementeira directa e mobilização tradicional.

A formação de crostas.Em solos mobilizados, sem resíduos à superfície, o impacto das gotas de água da chuva ou da rega leva, em alguns solos, à ruptura dos agregados da superfície e à formação de crostas. As crostas tem um efeito negativo tanto ao nível da infiltração de água no solo como na emergência das culturas. Quando ocorre a formação de uma crosta bem desenvolvida, logo após a sementeira, e esta endurece por secagem, a emergência da cultura pode ser bastante afectada porque as plântulas podem não conseguir exercer a pressão necessária para romper.Existem grandes diferenças entre os solos no que respeita a susceptibilidade à formação de crosta. Estas diferenças são devidas principalmente ao teor e tipo de argila. Regra geral, solos com pouca ou com muita argila dão geralmente lugar a crostas pouco desenvolvidas, as primeiras por não terem argila suficiente para formar uma crosta coesa, as segundas pela estabilidade, normalmente grande, dos agregados. Assim, grosso modo, são os solos com uma textura franca a franco-arenosa os mais susceptíveis à formação de crosta, logo aqueles que requer um cuidado maior no maneio dos resíduos.

31

Page 32: 1228439217 medidas de_conservação

Figura 4- As crostas, para além de diminuírem a infiltrabilidade dos solos, podem causar problemas na emergência da cultura.

Compactação da camada superficial e desenvolvimento das raízes. Os bioporos (minhocas, raízes, etc.) e a sua destruição pela mobilização.Com os sistemas de não mobilização dos solos, sistemas de sementeira directa, a superfície do solo apresenta-se compacta, por vezes com uma densidade aparente de 20%, ou mais, superior aos sistemas em que há mobilização do solo. Esta maior densidade, ver a tabela, leva a que os agricultores que adaptam estes sistemas temam que o crescimento das raízes seja menor, e que a produção diminua.

Figura 5- Densidade aparente em 2 solos após vários anos de mobilização diferenciada (SD – sementeira directa, Lav – Lavoura).

32

Page 33: 1228439217 medidas de_conservação

De um modo geral, e nos primeiros 2 a 3 anos do uso de sistemas de sementeira directa num determinado solo, é natural que haja um menor crescimento das raízes com estes sistemas. No entanto, o que resta saber é se este menor crescimento tem algum significado em termos da produção. Tanto as experiências científicas realizadas em Portugal e no estrangeiro, como a experiência prática dos agricultores, mostram que, à excepção de algumas culturas de Primavera em sequeiro, a diminuição da produção não é notável durante os primeiros anos da adopção destes sistemas.

Figura 6- Crescimento de raízes de uma cultura num solo em sementeira directa.

O facto de o solo não ser mobilizado permite que os poros criados pela fauna do solo (minhocas, etc.), e os resultantes da decomposição das raízes das culturas anteriores, se conservem, aumentando de ano para ano. Este aumento da porosidade por onde as raízes possam crescer, aliado ao aumento da fertilidade e água disponível, permitem que a produtividade dos solos com os sistemas de sementeira directa, com o passar dos anos, seja igual ou mesmo superior ao verificado com os sistemas de mobilização tradicional. Assim se compreende que é contraproducente a mobilização dos solos mantidos em sistemas de sementeira directa, seja qual for o número de anos em que o sistema venha a ser aplicado a um solo, uma vez que a mobilização dos solos destrói esta rede de poros.

33

Page 34: 1228439217 medidas de_conservação

Figura 7- Bioporosidade em 2 sistemas de mobilização do solo.

Tabela 1- Caracterização dos poros após vários anos de mobilização diferenciada (SD – sementeira directa, Lav – Lavoura)

MobilizaçãoProfundi-

dade (cm)

> 50 µm (%)

50 -10 µm (%)

10-0. 2 µm (%)

< 2µmPorosidade

Total (%)

Água utilizável

(%)

SD10 3.2 2.22 2.7 38.37 46.52 4.9220 0.86 3.91 5.22 36.16 46.15 9.1330 1.86 2.63 11.48 29.44 45.4 14.11

Lav10 15.08 2.34 4.36 29.95 51.73 6.71

20 2.67 1.32 2.31 35.95 42.25 3.6330 1.47 1.56 3.29 35.62 41.94 4.85

Culturas outonais. Culturas primaveris. A rega.Ensaios levados a cabo em Portugal continental com culturas outonais e primaveris permitiram estabelecer os valores da tabela abaixo. São valores médios, obtidos em ensaios de curta a média duração, pelo que podem não reflectir todo o potencial produtivo associados aos sistemas de mobilização de conservação estudados.

34

Page 35: 1228439217 medidas de_conservação

Figura 8- Ensaio de mobilizações conduzido na Herdade da Revilheira (Direcção Regional de Agricultura do Alentejo).

De acordo com o que temos vindo a expor, as culturas de Primavera em sequeiro (e.g. girassol) poderão apresentar produções mais baixas com os sistemas de mobilização de conservação devido à resistência do solo à penetração das raízes (ver figura)- há uma maior resistência à penetração do solo com a diminuição da humidade- principalmente nos primeiros anos após o início da utilização destes sistemas. Ainda assim, é necessário ter em mente que os problemas postos às culturas por uma maior resistência do solo à penetração, em termos do crescimento das raízes, varia bastante, havendo culturas mais susceptíveis que outras. No entanto, em termos económicos, a diferença nas produções é, mesmo assim, largamente compensada pela diferença de custos a favor dos sistemas de mobilização de conservação.

Figura 9- Resistência à penetração do solo sob 4 sistemas de mobilização diferentes

Quando a cultura de Primavera é regada (e.g. milho), vemos que a produção é sensivelmente igual entre os sistemas de mobilização tradicional e de conservação. Nestes casos, a diminuição da evaporação por causa dos resíduos, a maior capacidade de retenção de água do solo, e um mais fácil

35

Page 36: 1228439217 medidas de_conservação

crescimento das raízes devido à menor resistência do solo, são os factores determinantes. A experiência mostra, inclusive, que nas culturas de Primavera regadas, os sistemas de mobilização de conservação podem gerar uma importante poupança de água o que constitui por si só uma redução nos custos (custos com a água e energia (funcionamentos das bombas)).

Tabela 2- Média das produções de vários anos e em diferentes solos – valores expressos em % do sistema tradicional (valores de ensaios de projectos de investigação da Universidade de Évora, coordenados pelos Professores Mário Carvalho e/ou Gottlieb Basch).

Mobilização de ConservaçãoMobilização TradicionalSementeira Directa Mobilização

ReduzidaCevada 113 104 100Trigo 97 99 100Aveia 96 88 100Forragem 109 114 100Milho regado 107 90 100Girassol 74 88 100Grão-de-bico 79 88 100Ervilha 86 91 100

36

Page 37: 1228439217 medidas de_conservação

Módulo: A produção vegetal com sistemas de Mobilização de Conservação

Texto de apoio e consulta 2.

O CONTROLO DE INFESTANTES

Infestantes anuais/pluri-anuais.Antes de iniciar, convém definir planta infestante. Neste texto adoptaremos a definição do British Crop Protection Council (Comissão Britânica para a Protecção das Culturas), que é “qualquer planta a crescer onde não é desejada”. Assim, uma planta no campo não é forçosamente uma infestante, e uma espécie agrícola pode ser uma infestante importante, por exemplo para a cultura que a sucede numa rotação.As infestantes podem influenciar a produção de uma determinada cultura tanto do ponto de vista da qualidade como da quantidade. O seu controlo exige o conhecimento tanto da biologia das espécies como das culturas, e a sua relação com os aspectos agronómicos dos sistemas de produção (rotações, sistemas de mobilização dos solos, qualidades físicas e químicas dos solos, etc.).Pode-se distinguir entre as chamadas infestantes anuais, bi-anuais e pluri-anuais. As infestantes anuais, como o nome indica, germinam, crescem e passam as várias etapas do desenvolvimento em menos de 1 ano, morrendo após a formação e maturação das sementes. As infestantes pluri-anuais, como o nome indica, crescem e/ou passam as várias etapas do desenvolvimento em mais de 1 ano, podendo as sementes formadas serem férteis ou não, e podendo ter ou não, órgãos vegetativos que permitam a sua propagação e a sobrevivência da planta em condições adversas (por exemplo, tubérculos, rizomas, etc.). A importância de fazer esta distinção reside no facto dos diferentes sistemas de mobilização do solo influenciarem o tipo e a proporção de infestantes que se encontram nos solos sujeitos aos diferentes sistemas.

Figura 1- Exemplos de infestantes anuais (papoila, à dta.) e perenes (malvas, à esq.).

Tipo de infestantes em função do sistema de Mobilização. Há que distinguir entre os sistemas em que há mobilização do solo dos sistemas de sementeira directa. Nos sistemas em que há mobilização dos solos verifica-se um controlo efectivo das infestantes (anuais e pluri-anuais) mas criando as condições óptimas de germinação das sementes das infestantes, tanto pelo enterramento das suas sementes que se encontravam à

37

Page 38: 1228439217 medidas de_conservação

superfície do solo antes das mobilizações, como trazendo para a superfície sementes que se encontravam em latência (sem condições para germinar) em profundidade. Com os sistemas de sementeira directa, a não mobilização dos solos tem como consequência: o não enterramento das sementes das infestantes, o que favorece apenas as sementes das espécies infestantes pouco exigentes em termos do enterramento da semente, e não haver um controlo mecânico das infestantes presentes aquando da sementeira, o que obriga a utilização de herbicidas de pré-sementeira.

Figura 2- Embora haja um controlo efectivo das infestantes, a mobilização dos solos cria condições óptimas para a germinação de sementes das plantas infestantes.

As sementes das espécies infestantes apresentam condições óptimas de germinação diferentes. Uma característica importante, quando tentamos perceber o efeito dos diferentes sistemas de mobilização do solo sobre as populações de infestantes, é a profundidade máxima a que uma semente pode germinar e dar lugar a uma nova planta. Como vemos na figura 3, o peso das sementes das infestantes, i.e. a quantidade de reservas que a semente contém, determina a profundidade máxima a que uma semente pode germinar e dar lugar a uma nova planta. A grande maioria das espécies anuais germina a profundidades menores que 5 cm (peso da semente entre 0,1 e 5 mg).

Figura 3- Relação entre o peso da semente e a profundidade de germinação. (Adaptado de “Weed Control Handbook”)

38

Page 39: 1228439217 medidas de_conservação

A mobilização frequente dos solos faz com que essa camada superficial do solo contenha sempre uma quantidade razoável de sementes prontas a germinar: a lavoura enterra as sementes formadas recentemente, desenterrando as sementes que foram enterradas na lavoura anterior. Com os sistemas de sementeira directa, o controlo contínuo e eficaz das infestantes com herbicidas reduz, de ano para ano, o número de sementes de infestantes no solo uma vez que a renovação das sementes é menor tanto pelo menor grau de enterramento das sementes (as sementes não enterradas ficam mais sujeitas à morte e/ou destruição pelos organismos do solo, etc.), como pelo facto de não haver transporte de sementes de posições mais baixas no perfil para a camada superficial.

Tabela 1- Infestantes comuns em sementeira directa, após 3 a 5 anos de produção com este sistema. (Adaptado de “Guía de Agricultura de Conservación en Cultivos Anuales”, Publicação conjunta da AELC/SV e CTIC)

Anuais (Inverno e Primavera) Perenes e bi-anuaisNome científico Nome vulgar Nome científico Nome vulgarAlopecurus myosuroides Hudson.

rabo-de-raposa Cirsium arvense cardo-das-vinhas

Amaranthus spp. bredos Convolvulus arvensis corriolaBrassicas spp. mostarda-negra,

saramagos, etc.Cynodon dactylon grama

Bromus spp. bromus Cyperus rotundus junçaCapsella rubella Reuter bolsa-de-pastor Ecbalium elaterium Pepino-de-são-

gregório Chenopodium spp. quenopódios Malva spp. malvasDigitaria sanguinalis milhã-digitada Sorghum halepense sorgo bravoKochia scoparia ValverdeLactuca spp. alface brava,

virosa, etc.Panicum spp. escalracho, milho

míudo, etc.Solanum nigrum erva moiraStellaria media morugem-brancaSetaria spp. milhã amarelada,

milhã verde, etc.

O controlo mecânico das infestantes. Como vimos, a não mobilização dos solos (sistemas de sementeira directa) pode apresentar mais vantagens que os sistemas em que há mobilização dos solos no que concerne à redução do grau de infestação por espécies de propagação seminal. Que dizer em relação às espécies com mecanismos vegetativos de multiplicação?Com os sistemas em que há uma mobilização regular e mais ou menos intensa dos solos, salvo raras excepções, são poucas as espécies de infestantes perenes realmente problemáticas. A mobilização dos solos, embora numa primeira fase possa conduzir à divisão dos órgão que permitem a propagação dos indivíduos, e assim aumentar o número de infestantes, quando repetida (no quadro de um programa de controlo de infestantes perenes) conduz geralmente ao consumo das reservas presentes nos órgãos de propagação e à sua morte.

39

Page 40: 1228439217 medidas de_conservação

Com os sistemas de não mobilização (sementeira directa), e naqueles em que a mobilização dos solos compreende apenas parte da área (mobilização na zona) ou a intensidade de mobilização é baixa, não há uma destruição física dos órgãos de propagação das infestantes (separação e morte por dissecação ou esgotamento das reservas). Assim, o controlo de infestantes perenes com estes sistemas, e principalmente com os de não mobilização, exige a aplicação oportuna dos herbicidas certos, o que poderá implicar mexidas nas rotações tradicionais. Por exemplo, em parcelas onde os cereais sejam privilegiados na rotação, é muito provável que não haja controlo das espécies infestantes cujos órgãos de propagação vegetativa permaneçam dormentes no período Outono/Inverno e em que os lançamentos apareçam apenas na Primavera (e.g. Convolvulus arvensis (corriola)).

Os herbicidas: classificação dos tratamentos.Para além dos aspectos de natureza química, efeitos sobre os diferentes mecanismos fisiológicos das plantas, etc., os herbicidas podem ser classificados segundo uma perspectiva funcional . Assim, distinguem-se: Tratamentos herbicidas totais ou não selectivos, e selectivos. Com os

primeiros, a intenção é matar todas as plantas presentes, enquanto que com os tratamentos selectivos pretende-se matar as plantas infestantes poupando a cultura (há uma selecção).

Herbicidas de contacto e sistémicos. Os herbicidas de contacto afectam apenas as partes das plantas que recebem o herbicida, enquanto os sistémicos são absorvidos e transportados no interior das plantas afectando outros locais da planta para além dos locais onde ocorreu a absorção. Aqueles herbicidas aplicados ao solo que, após aplicação mantêm efeito herbicida, são ainda ditos residuais ou com efeito residual.

Aplicações de pré-sementeira, de pré-emergência e de pós-emergência, em relação à cultura. Como o nome indica, estes tratamentos realizam-se antes da sementeira, antes da emergência da cultura e após a emergência da cultura.

Características da aplicação dos herbicidas em sistemas de MC. Os resíduos das culturas e a intercepção dos herbicidas. O tamanho e distribuição dos resíduos à superfície do solo.Os tratamentos em pré e pós-emergência nos sistemas de mobilização de conservação não diferem, nos aspectos formais, daqueles realizados com os sistemas de mobilização tradicionais. No entanto, convém ter presente que com os tratamentos herbicidas de aplicação ao solo (herbicidas residuais), uma grande parte pode ficar retido pelos resíduos, pelo que, se não chover e/ou regar nos dias após a aplicação, a sua eficácia diminui bastante. Nestes casos, é preferível utilizar tratamentos em pós-emergência.

40

Page 41: 1228439217 medidas de_conservação

Figura 4- Com os tratamentos herbicidas de aplicação ao solo, herbicidas de efeito residual, uma proporção variável dos herbicidas aplicados pode ficar retido pelos resíduos da cultura anterior.

Com os sistemas de mobilização reduzida e tradicional, não se fazem normalmente tratamentos de pré-sementeira uma vez que as mobilizações eliminam só por si a quase totalidade das infestantes presentes. A realização de tratamentos de pré-sementeira com os sistemas de sementeira directa e de mobilização na zona é essencial uma vez que as plantas infestantes presentes competirão agressivamente com a cultura logo após a sua emergência. De uma forma geral utilizam-se herbicidas não selectivos (e.g. glifosato), sem efeito residual, permitindo assim a sementeira logo após a aplicação, sem risco para a cultura. A utilização de herbicidas residuais, que exijam a sua incorporação no solo devido a uma elevada volatilidade, como herbicidas de pré-sementeira, não é geralmente possível com os sistemas de mobilização de conservação uma vez que a maioria dessas substâncias só é eficiente se misturado vigorosamente no solo, situação não admissível com sistemas de mobilização de conservação. Assim, em situações em que as infestantes ainda não tenham emergido (situações estas em que a aplicação de um herbicida de contacto, não residual, não faz sentido), o controlo das infestantes deve ser feito em pré e pós-emergência.

Figura 5– Após o controlo das infestantes com um herbicida total, sementeira directa de milho sobre um manto vegetal espesso.

Os programas de controlo de infestantes. A sua flexibilidade. A importância do reconhecimento da flora, e grau de infestação, em cada parcela.Traços gerais, o programa de controlo de infestantes compreende um tratamento total em pré-sementeira, ou logo após a sementeira, com um

41

Page 42: 1228439217 medidas de_conservação

herbicida total e/ou com um herbicida residual, com vista ao controlo das infestantes presentes, e daquelas que emergirão entre a sementeira e a emergência da cultura; e um tratamento de pós-emergência para o tratamento de infestantes monocotiledónias, dicotiledóneas ou ambas (quando se utilizou apenas um herbicida total, sem efeito residual, em pré-sementeira). A selecção de um determinado número de herbicidas, e a sua utilização de acordo com um calendário pré-estabelecido, sem o menor espírito crítico, para além de poder significar um desperdício de dinheiro, pode trazer dissabores do ponto de vista do surgimento de infestantes de difícil controlo. Assim, antes de aplicar os herbicidas convém fazer o reconhecimento das espécies presentes, e o grau de infestação, para melhor poder ajuizar qual o herbicida mais indicado e em que doses deverá ser utilizado. O acompanhamento das culturas, e da evolução da flora infestante também fornece elementos sobre a adequação das rotações do ponto de vista do controlo das infestantes. As infestantes cujo o período de desenvolvimento coincide com períodos em que não se consegue um controlo adequado com herbicidas em nenhuma cultura da rotação, podem rapidamente constituir graves problemas.

Figura 6– É importante fazer o reconhecimento da flora existente nas parcelas, e grau de infestação, para melhor seleccionar os herbicidas, e respectivas doses.

A importância da rotação de culturas. Um aspecto importante a ter em conta aquando do estabelecimento de uma rotação de culturas numa parcela é o seu impacto sobre a flora infestante dessa parcela. Embora o período de germinação das diferentes espécies infestantes possa ocorrer em intervalos de tempo variáveis durante o ano, geralmente é possível associar diferentes infestantes a diferentes culturas. Assim, a rotação de culturas deverá permitir um controlo eficaz das diferentes infestantes que se desenvolvem em diferentes períodos do ano. Também, o facto de para as diferentes culturas existirem diferentes herbicidas homologados, com diferentes modos de acção, faz com que o controlo de certas infestantes seja mais fácil numa cultura que em outra, e aumenta a pressão sobre as infestantes, diminuindo o surgimento de fenómenos de resistência das infestantes a determinados produtos.

O movimento de herbicidas no solo e água.

42

Page 43: 1228439217 medidas de_conservação

A perda de herbicidas para as águas superficiais pode ocorrer no escoamento superficial, em solução na água e/ou adsorvido aos sedimentos, ou seja, adsorvido às partículas de solo erodido transportadas em suspensão na água do escoamento superficial. O transporte de herbicidas também ocorre em solução na água de percolação, dando origem à contaminação dos aquíferos. Os sistemas de mobilização de conservação do solo reduzem a quantidade de herbicidas transportados no escoamento superficial, tanto devido ao menor volume de escoamento superficial a que dão origem como à menor massa de sedimentos transportados em suspensão. No que respeita a contaminação dos aquíferos, as hipóteses levantadas de uma maior contaminação com os sistemas de mobilização de conservação, devido ao “escoamento preferencial” pelos macroporos contínuos, e especialmente com os sistemas de sementeira directa, levaram à realização de estudos que, no seu conjunto, não são conclusivos.O movimento dos pesticidas é fortemente afectado pela adsorção (ligação dos herbicidas às partículas de solo, principalmente argilas e materiais orgânicos) uma vez que apenas a fracção que não se encontra adsorvida é livre para ser transportada com a água do solo. Assim, herbicidas fortemente adsorvidos às partículas de solo, como o glifosato, são transportados principalmente nos sedimentos, em suspensão na água do escoamento superficial, não se movimentando no solo (a quase totalidade fica nos primeiros centímetros de profundidade do solo), e não havendo o perigo de contaminar os aquíferos; herbicidas com níveis de adsorção intermédios, como a atrazina, e a maioria dos herbicidas utilizados hoje em dia, são transportados parcialmente em solução na água do escoamento superficial e de percolação, havendo um perigo real de contaminação tanto das águas superficiais como das subterrâneas; e aqueles com níveis de adsorção extremamente pequenos, como o 2,4-D, são transportados principalmente em solução na água de percolação, contaminando aquíferos e águas superficiais.

A degradação de herbicidas e fenómenos de fitotoxicidade nas culturas que sucedem no terreno.A taxa de degradação dos herbicidas é maior se no campo estiverem reunidas as condições de humidade, arejamento e temperatura, adequados para a ocorrência das reacções químicas e actividade dos microorganismos. Na generalidade das condições de campo, a taxa de degradação dos herbicidas é proporcional à quantidade presente, sendo o perigo de acumulação das substâncias geralmente baixo. No entanto, nem todas os herbicidas têm o mesmo período de persistência no solo, que varia tanto em função da substância activa como da época do ano da aplicação, da cultura em que foi aplicado, etc., pelo que as recomendações que constam das embalagens devem ser respeitadas. Como exemplos, o metoxurão tem normalmente um período de persistência inferior a 3 meses, o linurão de 3 a 6 meses, e a atrazina superior a 6 meses. A não mobilização dos solos obriga a uma atenção redobrada na aplicação de herbicidas quando as culturas sucedem-se no terreno com um período de tempo curto entre elas. Isto fica-se a dever ao facto de, para a maioria dos

43

Page 44: 1228439217 medidas de_conservação

herbicidas com mobilidade pequena a “média” (e.g. atrazina), a não mobilização dos solos, e o teor de matéria orgânica muito elevada com estes sistemas nos primeiros centímetros, levar a uma concentração muito elevada dos herbicidas nessa camada, que não é diluída por mobilizações antes da cultura seguinte, podendo originar alguns fenómenos de fitotoxicidade. Assim, o conhecimento do tipo de solo (solos com um teor de argila relativamente elevado provocam uma maior concentração superficial dos herbicidas), a altura do ano da aplicação do herbicida, aspectos como a precipitação e/ou rega acumulada desde a aplicação, e as recomendações feitas pelo fabricante, nomeadamente o intervalo de tempo de segurança entre as culturas, deverão ser escrupulosamente observados.

Módulo: A produção vegetal com sistemas de Mobilização de Conservação

Texto de apoio e consulta 3.

44

Page 45: 1228439217 medidas de_conservação

PROTECÇÃO DAS CULTURAS: PRAGAS E DOENÇAS

Definição de Protecção Integrada.A protecção integrada das culturas, mais do que um conceito, é uma forma de estar na agricultura. A protecção integrada pode ser definida como “a utilização racional dos meios de luta conhecidos, ponderando os factores económicos, toxicológicos e ecológicos da sua utilização, fomentando a limitação natural dos inimigos das culturas, e respeitando os níveis económicos de ataque, com vista à diminuição dos prejuízos causados pelos inimigos das culturas”.

Figura 1- A utilização racional de pesticidas pressupõe a salvaguarda das espécies úteis.

Níveis económicos de ataque (NEA).Os níveis económicos de ataque podem ser definidos como “a intensidade do ataque do inimigo da cultura a partir do qual o custo de não tomarmos nenhuma medida, i.e. os prejuízos causados na cultura, são superiores ao custo combinado da medida de luta a adoptar (e.g. aplicação de um pesticida) mais os efeitos indesejáveis que estes possam originar”.

A biologia das espécies: o ciclo de vida. Exemplos.O conhecimento da biologia das espécies é essencial para o seu controlo. Assim, é importante distinguir em que estado do desenvolvimento as diferentes espécies provocam prejuízos (estado adulto ou estados imaturos); quais as espécies que atacam uma determinada cultura; em que condições algumas espécies, normalmente neutras em relação à cultura, se tornam pragas, causando elevados prejuízos; quais as condições climáticas propícias ao desenvolvimento das diferentes pragas; qual o estado de desenvolvimento da praga próprio para o seu controlo pelos meios de luta disponíveis; etc..Da mesma maneira, em relação às doenças, há que saber qual a susceptibilidade da cultura aos diferentes agentes patogénicos, quais as condições ambientais favoráveis ao seu desenvolvimento, e se os agentes estão presentes ou não.

Efeitos da não mobilização dos solos sobre a incidência das pragas e doenças. Exemplos de pragas afectadas/ beneficiadas pela não mobilização.

45

Page 46: 1228439217 medidas de_conservação

Efeito dos resíduos das culturas sobre a incidência das pragas e doenças. Exemplos.De um modo geral, a experiência adquirida em vários pontos do globo onde houve uma reconversão de sistemas de mobilização tradicional para sistemas de conservação mostra que as grandes diferenças entre estes sistemas, no que concerne às pragas e doenças, é fundamentalmente na expressão de cada praga ou doença, i.e. a incidência de cada praga ou doença aumenta ou diminui em função do sistema de mobilização, não se registando um aumento ou diminuição generalizada de todas as pragas e doenças (ver tabelas).

Tabela 1– Relação entre insectos prejudiciais, culturas e sistemas de mobilização de conservação. (Adaptado de A. Fereres Castiel. 1998. Control de Insectos-Plaga en el laboreo de conservacion. In “Agricultura de conservación: fundamentos agronómicos, medioambientales y económicos”. L. García Torres e P. González Fernández (eds.), AEAC/SV)

Praga Cultura Risco de ataque em sistemas de mobilização de conservação

Nome comum

Agriotes spp. alfinete cereais e hortícolas maiorAgrotis spp. nóctuas cereais e hortícolasMelolontha spp. melolontas cereais e hortícolas menorDiabrotica spp. milho igualPseudaletia unipuncta

milho maior

Heliothis spp. algodão e tabaco igualOstrinia nubilalis broca, pirale

do milhomilho igual

Schizaphis graminum

cereais maior

Mayetiola destructor

mosquito do trigo

trigo maior

A acção dos resíduos sobre a maior ou menor incidência das pragas relaciona-se com o seu papel como sítio de postura de ovos de algumas espécies de insectos (e.g. Agriotes) e/ou pela protecção e condições criadas (e.g. lesmas).

Figura 2- Algumas espécies nocivas para as culturas beneficiam da não mobilização dos solos e da presença de resíduos. Na imagem, ovos de lesmas.

Apesar do aumento do risco potencial, gerado pela não mobilização dos solos e pelos resíduos das culturas, este não se manifesta de forma espectacular nos campos. É mais provável formar-se um equilíbrio com espécies predadoras das

46

Page 47: 1228439217 medidas de_conservação

pragas que também são favorecidas pelos sistemas de mobilização de conservação (formigas, aranhas, escaravelhos predadores).

Figura 3- A protecção das espécies predadoras é fundamental para diminuir a pressão das pragas sobre as culturas.

Outro aspecto a ter em conta com os sistemas de mobilização de conservação, são eventuais problemas como a podridão das sementes em condições de humidade excessiva do solo, normalmente em solos muito argilosos com problemas de drenagem, e em casos em que as paredes do rego aberto pelos discos, em sementeira directa, ficam compactadas.

Os hóspedes alternativos. O controle de infestantes.É de enorme importância o conhecimento do hábito alimentar das pragas. Há espécies que alimentam-se apenas de uma espécie de plantas, outras de um grupo restrito de plantas, e outros ainda de uma grande variedade. O mesmo é válido em relação às doenças, falando-se neste caso, em quais as espécies vegetais que são hóspedes.O conhecimento dos inimigos das culturas e dos seus hábitos alimentares e/ou plantas hospedeiras pode ajudar a controlar a intensidade dos ataques, mantendo-os abaixo dos NEA. Quando determinada praga ou doença apenas se alimenta da cultura ou a tem por planta hóspede, a utilização de rotações adequadas, conjuntamente com outras medidas que abordaremos em seguida, pode ser suficiente para diminuir a intensidade dos ataques. Quando uma determinada espécie se alimenta ou tem por hóspede um grupo de plantas, espontâneas e/ou culturas, os cuidados devem incidir tanto na rotação, evitando a existência permanente de hospedeiros, como no controlo das infestantes que poderão garantir a sobrevivência da praga ou doença até à posterior instalação da cultura.

Figura 4- O controlo das infestantes e plantas adventícias é necessário para “quebrar” o ciclo de algumas pragas ou doenças.

Também importante é o controlo das plantas que surgem (por germinação de sementes caídas) de uma cultura anterior. Por exemplo, a germinação de sementes de cereais no final do Verão pode dar lugar ao aparecimento de uma população de pulgões vermelhos do trigo (Diuraphis noxia), ou de ácaros do

47

Page 48: 1228439217 medidas de_conservação

trigo, que constituam um problema para a cultura que emerge – a data de sementeira torna-se um factor de grande importância.

A importância da rotação de culturas.Como temos vindo a observar, a rotação de culturas pode ser um instrumento poderoso no controlo de determinadas pragas e doenças, quando algumas culturas da rotação não são susceptíveis, o que cria uma descontinuidade na manutenção da praga ou doença numa parcela. Também, o controlo mais eficiente das infestantes numa rotação equilibrada, pode reduzir o número plantas hospedeiras alternativas, espontâneas.

As cultivares resistentes. Os OMG’s.A observação que nem todas as plantas de uma espécie apresentavam o mesmo grau de susceptibilidade ao ataque das pragas e doenças permitiu, através de programas de melhoramento, a obtenção de variedades comerciais com diferentes graus de resistência para as diferentes pragas e doenças. Assim, uma medida facilmente ao alcance do agricultor por forma a minorar os prejuízos causados pelas pragas e doenças é a utilização de cultivares resistentes ou tolerantes.

Para aquelas plantas cuja produção tem grande interesse económico, e para as quais não foi possível identificar na natureza variedades resistentes a determinadas pragas e doenças, o desenvolvimento das biotecnologias tem permitido ir buscar os factores de resistência a outras espécies e mesmo a bactérias e outros – são os organismos modificados geneticamente (os factores de resistência vão para além das pragas e doenças, havendo organismos tolerantes a herbicidas totais, etc.). São testadas hoje em dia milhares de plantas transgénicas, principalmente de milho, tomate, batata, soja, algodão, etc.. Nos EUA, onde o cultivo destas variedades para fins comerciais já é uma realidade, a área utilizada no cultivo destas plantas atingiu os 25 milhões de ha (principalmente soja e milho) em 1998. No entanto, ainda existe uma falta de consenso na comunidade científica dos possíveis efeitos nefastos que a utilização destas variedades pode trazer para o homem e para a natureza. O cultivo destas variedades modificadas geneticamente em Portugal ainda não é possível, por falta de enquadramento legal.

O tratamento das sementes. A utilização de sementes certificadas.A utilização de sementes (ou outras estruturas de propagação: tubérculos, bolbos, bolbilhos, etc. ) deve ser feita sempre tendo em atenção que estes podem ser um veículo de pragas e doenças. A melhor forma de contornar qualquer duvida que possa surgir é proceder à desinfecção das sementes, ou utilizar sementes certificadas.

48

Uma medida facilmente ao alcance do agricultor por forma a minorar os prejuízos causados pelas pragas e doenças é a utilização de cultivares resistentes.

Page 49: 1228439217 medidas de_conservação

A importância da identificação correcta das espécies. As espécies benéficas vs. prejudiciais.A identificação correcta das pragas é um aspecto muito importante para o seu controlo, não só porque permite uma escolha racional dos meios a usar mas também permite julgar a oportunidade de usar uma ou outra medida. Devido à pouca formação, os agricultores, ao mais pequeno sinal, iniciam medidas de combate (geralmente aplicação de pesticidas) sem a menor preocupação de salvaguarda das espécies polinizadoras e das predadoras da praga. A este propósito convém sublinhar que não estamos a advogar “a não utilização da luta química”, que tem o seu espaço próprio na protecção das cultura pelos excelentes resultados que pode proporcionar quando enquadrada por conhecimentos técnicos sólidos. Assim, o uso irracional de pesticidas pode conduzir a situações de ineficácia dos produtos (utilização em altura não apropriada, sem se ter verificado o NEA, etc.), ou ainda conduzir a desequilíbrios no ecossistema que conduzam à proliferação de outras espécies cujos prejuízos não atingem normalmente dimensão económica.

Exemplo de pragas e doenças comuns numa cultura Outonal (e.g. trigo).No caso dos cereais de Inverno, como o trigo, e nas nossas condições, os fungos e os afídeos são as principais causas de preocupação. Em relação aos fungos, o tratamento das sementes com fungicida, e a aplicação foliar de fungicidas quando o risco de epidemia é grave (por exemplo, pelas Septoria spp.), poderá ser suficiente para o seu controlo desde que as outras boas práticas fitossanitárias sejam cumpridas (rotação de culturas, eliminação de hospedeiros alternativos, etc.). No que concerne os afídeos, pode-se distinguir 2 situações, logo a seguir à emergência, se a sementeira foi realizada muito cedo e existem plantas germinadas de sementes caídas da cultura anterior, e no início da Primavera. No 1º caso, destaca-se a necessidade de controlar atempadamente as plantas germinadas da cultura anterior por forma a não sustentarem a praga até à emergência da nova cultura, sendo necessário o ajuste da data de sementeira por forma a evitar as últimas gerações de afídeos. No 2º caso, a aplicação de um insecticida ao surgimento da praga pode ser suficiente.

Figura 5– Ataque de piolho.

Exemplo de pragas doenças comuns numa cultura Primaveril (e.g. milho).Na cultura do milho, os insectos do solo (como as nóctuas, os alfinetes, as melolontas, e outros artrópodes como os miriápodes), e as brocas são as

49

Page 50: 1228439217 medidas de_conservação

maiores causas de preocupação. A utilização de insecticidas de aplicação ao solo à sementeira, e a pulverização da cultura com um insecticida recomendado, são suficientes para o seu controlo.

Figura 6- Broca do milho (Fotografia de Marlin E. Rice).

Programas de tratamento das culturas. A necessidade da sua flexibilidade.A partir do conhecimento das culturas e das espécies de pragas e doenças a que são susceptíveis, é possível delinear estratégias gerais para conter os prejuízos que as pragas e doenças possam causar. As rotações equilibradas, o controlo específico de infestantes, o uso de cultivares resistentes, todos estes aspectos devem contribuir para o delineamento de uma estratégia de controlo das pragas e doenças.Estas estratégias não devem ter como princípio e fim a luta química. A luta química só deve ser utilizada quando são atingidos os NEA. Assim, é indispensável a monitorização atenta e em permanência das culturas, observando e registando as pragas e doenças presentes, e estado de maturação, taxas de crescimento, e os danos causados.Uma vez que a susceptibilidade de uma cultura a uma determinada praga ou doença, depende em grande medida do maneio da cultura (maneio dos nutrientes (carências e/ou excessos de nutrientes, nomeadamente de N, etc.), maneio da água (deficit, solos saturados, qualidade da água, etc.), e outros (controlo de infestantes, podas, nº de plantas por unidade de área, etc.)), convém criar as condições óptimas de crescimento da cultura, i.e. as condições fisiológicas das plantas que lhes permitam resistir aos ataques.

50

Page 51: 1228439217 medidas de_conservação

Módulo: A produção vegetal com sistemas de Mobilização de Conservação

Texto de apoio e consulta 4.

FERTILIDADE E FERTILIZAÇÃO

Diferença entre os sistemas de mobilização de conservação e tradicional.Um aspecto importante dos sistemas de mobilização de conservação, especialmente dos sistemas de sementeira directa e mobilização na zona, é, ao contrário do que sucede com os sistemas de mobilização tradicionais e reduzida, a impossibilidade de distribuir e incorporar de seguida os adubos pela mobilização dos solos. Este facto obriga à utilização, com estes sistemas, de semeadores com acessórios para a aplicação localizada de adubos, ou ainda a aplicação a lanço, ficando os adubos à superfície. Entre estas duas técnicas, a aplicação localizada dos adubos em sulcos é preferível uma vez que com as aplicações a lanço, há maiores riscos ambientais associados ao transporte destes adubos pelas águas de escorrimento superficial.

Figura 1- Semeador monogrão com acessórios para aplicação localizada de adubo (seta).

As necessidades em N,P e K.A necessidade de aplicar fertilizantes às culturas está associado à possibilidade que cada planta tem de ir buscar ao solo a quantidade certa de elementos nutritivos, e no momento oportuno, que conduza ao seu crescimento e desenvolvimento de acordo com o seu potencial genético. Neste contexto, o solo pode ser observado como um reservatório de nutrientes, e o cálculo das necessidades das culturas é feito com base nas quantidades de elementos nutritivos exportados pelas culturas (nos frutos, sementes, folhas, etc.), da quantidade de nutrientes existentes no solo nas formas assimiláveis pelas plantas, nas características dos fertilizantes, técnicas e épocas de aplicação. Assim, é fundamental a realização de análises do solo, e procurar aconselhamento junto de técnicos competentes. (Tabela 1).

51

Page 52: 1228439217 medidas de_conservação

Tabela 1- Exemplo de parâmetros e respectivas unidades de uma análise de solo (Laboratório Químico-Agrícola da Universidade de Évora).

Parâmetro Unidade ResultadoFósforo P2O5 ppm 18Azoto NO3 ppm 15Potássio K2O ppm 158Textura finapH (H2O) 6,00Nec. Cálcio ton/haCond. Eléctrica mmhos/cm 0,04Cálcio Ca meq/100g 5,29Magnésio Mg meq/100g 2,50Sódio Na meq/100g 0,35

Quando há a conversão de sistemas de mobilização tradicionais para sistemas de conservação, embora as necessidades em nutrientes se possam manter iguais, partindo do princípio que há manutenção dos níveis de produção das culturas, alguns ajustes nas técnicas e quantidades de fertilizantes aplicadas são por vezes necessárias para ir de encontro às novas condições criadas. Com sistemas de sementeira directa, a não mobilização conduz a solos mais frios e húmidos, e há a necessidade de seguir mais atentamente a reacção do solo, devido à imobilização de nutrientes a pH’s mais ácidos, corrigindo-a com mais frequência que em sistemas de mobilização tradicional. A diminuição da temperatura e arejamento com o sistema de sementeira directa poderá originar uma redução da taxa de mineralização da matéria orgânica o que, se por um lado diminui a quantidade de nutrientes disponíveis com origem na matéria orgânica, por outro lado contribui para o aumento dos teores de matéria orgânica do solo, com todos os benefícios que daí advêm; também, o aumento do teor de matéria orgânica tem como consequência, com o passar dos anos, uma libertação cada vez maior de nutrientes. Um outro aspecto com os sistemas de sementeira directa é a de uma estratificação da matéria orgânica, e consequentemente dos nutrientes a que dá origem por mineralização, devido à não mobilização dos solos e incorporação dos resíduos. Este aspecto, em princípio, não trará consequências negativas para a cultura uma vez que a camada superficial é eficientemente explorada pelas raízes se as condições de humidade forem favoráveis, o que geralmente acontece com estes sistemas.

Os fertilizantes azotados de libertação progressiva.Estes fertilizantes, como o nome indica, libertam o azoto de forma controlada ao longo do ciclo da cultura, o que, em princípio, traz vantagens do ponto de vista da disponibilidade do nutriente. Esta libertação progressiva é conseguida tanto pelo recurso a inibidores da nitrificação como por moléculas com taxas de transformação lentas no solo, que veiculam azoto. Estes adubos são, em tese, muito prometedores para uma agricultura de conservação uma vez que permitem: diminuir o número de aplicações; diminuir as perdas por lixiviação; fornecer o azoto à cultura à medida das suas necessidades.

52

Page 53: 1228439217 medidas de_conservação

A sua utilização começa a dar os primeiros passos entre nós, havendo muito poucos resultados que permitam a sua avaliação.

Localização dos adubos (técnicas de aplicação, etc.). A distribuição e disponibilidade de P e K no solo.Ao adoptar sistemas de mobilização de conservação, e principalmente sistemas de sementeira directa, deve-se dar uma atenção especial às técnicas de aplicação dos adubos pois delas depende a disponibilidade dos nutrientes para as plantas. O azoto é dos nutrientes que exige um maneio mais cuidado por forma a garantir o sucesso das culturas. No entanto, e pela sua mobilidade, as técnicas de aplicação não são muito exigentes, pelo que não há grande inconveniente em distribuí-lo à superfície. Sempre que exista o perigo de ocorrer elevados volumes de escorrimento superficial após a sua aplicação, é desejável que ele seja colocado abaixo dos resíduos, ou enterrado (na linha ou em toda a superfície), para diminuir as perdas.No caso do fósforo, a sua distribuição à superfície coloca o problema da sua pequena mobilidade no solo, pelo que deve-se exercer uma certa vigilância no que concerne a evolução da reacção do solo, corrigindo a acidificação. Isto fica-se a dever ao facto de em solos ácidos, para além de ficarem fortemente adsorvidos aos óxidos e hidróxidos de ferro e alumínio, precipitarem com os iões de Fe e Al livre, formando fosfatos pouco solúveis dos respectivos compostos para pH baixos. Sempre que os valores de fósforo nos primeiros 20 cm de profundidade não tenham sido corrigidos antes de se iniciar os sistemas de mobilização de conservação, é de todo vantajoso a aplicação localizada, em sulcos, junto das zonas exploradas pelas raízes das plantas (mas não em contacto, principalmente se o adubo for cáustico). Quando localizado, a mesma quantidade de fósforo fica em menor contacto com o solo, diminuindo assim a capacidade do solo para o imobilizar.

Tabela 3- Variação do pH do solo após 7 anos de sementeira directa.Profundidade do solo (cm) pH inicial pH final

0 a 5 6,14 5,775 a 10 6,03 5,96

10 a 20 5,86 5,87

No caso do potássio, o seu maneio é fortemente dependente do tipo de solo. Em solos com uma pequena capacidade de troca catiónica, solos arenosos com baixo teor de matéria orgânica, não se pode proceder a uma correcção dos teores do solo em K com efeitos duradouros, porque haverá grandes perdas por lixiviação. Nestes solos não haverá problemas com a aplicação superficial de K. Nos solos com um teor relativamente elevado de argilas e/ou matéria orgânica, dever-se-á adoptar os mesmos procedimentos que para o fósforo, i.e. sempre que o teor em K não tenha sido corrigido antes do início do sistema de mobilização de conservação, deve-se optar pela adubação localizada.

53

Page 54: 1228439217 medidas de_conservação

Os teor de m.o., a relação C/N dos resíduos da cultura, e a adubação azotada.Em relação à adubação azotada e aos sistemas de mobilização de conservação, é muitas vezes referido que há a necessidade de aplicar uma maior quantidade de azoto às culturas. Esta necessidade de uma maior quantidade de azoto, segundo os autores dessas afirmações, ficar-se-ia a dever a uma maior competição entre as plantas e os micróbios do solo pelo azoto, porque estes últimos imobilizariam uma maior quantidade de azoto mineral para decompor a maior quantidade de resíduos de grande relação C/N (e.g. palhas). No entanto, e embora essas afirmações sejam verdadeiras em relação aos sistemas de mobilização mínima e tradicional (quando não se retiram as palhas), em sistemas como a sementeira directa as palhas e restolhos não são prontamente degradados, permanecendo longos meses à superfície do solo, pelo que a imobilização suplementar de azoto é insignificante ao longo do ciclo, quando comparadas com outras perdas. O aumento da fertilidade do solo com os sistemas de mobilização de conservação do solo reside no facto de os resíduos serem uma fonte de nutrientes para as culturas, principalmente de azoto. Dos resíduos que são transformados em húmus, substâncias excepcionalmente estáveis, a libertação dos nutrientes é lenta (taxas de mineralização na ordem de 1 a 2% ano, dependendo das condições de temperatura e humidade), pelo que há uma acumulação no solo, libertando de ano para ano quantidades cada vez maiores de nutrientes, o que significa uma poupança em adubos a médio/longo prazo.

Figura 2- Os resíduos das culturas são, por transformação em húmus e a médio/longo prazo, uma fonte importante de nutrientes para as culturas.

Cuidados a ter com a aplicação de estrumes e chorumes (problemas no controle de infestantes, etc.).Em determinadas regiões ou explorações, a existência de uma actividade pecuária intensa leva a que existam volumes elevados de estrumes e/ou chorumes que são distribuídos nos campos agrícolas. Muitas vezes, o problema posto pelo armazenamento e/ou tratamento destes estrumes e chorumes é de tal forma grave que é esquecido o seu valor na fertilização dos solos (ver tabela 4).

54

Page 55: 1228439217 medidas de_conservação

Tabela 4- Teores médios de macronutrientes principais de alguns estrumes, e chorume (adaptado de Quelhas dos Santos).

Macronutrientes principais (kg/1000 kg)

N P2O5 K2OAves 16.3 15.4 8Bovinos 3.4 1.6 4Equídeos 5.8 2.8 5.3Ovinos 8.3 2.3 6.7Suínos 4.5 1.9 6Chorumes 1.5 0.25 4

A aplicação de estrumes e chorumes com sistemas de mobilização de conservação, e mais propriamente com os sistemas de mobilização na zona e sementeira directa, obriga a uma escolha ponderada do momento oportuno para realizar estas aplicações. Assim, convém ter presente que a aplicação destes produtos sobre plantas infestantes pode criar uma barreira que as proteja de herbicidas de contacto que sejam aplicadas posteriormente, pelo que a aplicação destes produtos deve ocorrer após a aplicação dos herbicidas, ou muito antes, se houver a certeza que ocorrerão chuvas capazes de “limpar” as infestantes. Também, e embora a aplicação superficial não apresente constrangimento em relação ao funcionamento da sementeira directa, há que ter em conta que: não enterramento origina cheiros desagradáveis, e perda de azoto por

volatilização; como no caso dos fertilizantes minerais, traz problemas de estratificação

dos nutrientes; existem soluções técnicas para injectar chorumes mesmo em sistemas de

mobilização de conservação.

Figura 3- Injecção de chorumes, em restolhos de milho.

55

Page 56: 1228439217 medidas de_conservação

Módulo: A produção vegetal com sistemas de Mobilização de Conservação

Texto de apoio e consulta 5.

ROTAÇÃO DE CULTURAS

As vantagens da rotação de culturas.As vantagens da rotação de culturas verificam-se a vários níveis: económico, agronómico, ambiental, e mesmo social. A nível agronómico destacam-se: um melhor controlo do tamanho das populações das plantas infestantes e das pragas, e da incidência de doenças; menor desgaste da fertilidade natural do solo e maior rendimento dos fertilizantes utilizados; uma melhor gestão dos resíduos das culturas; etc..Ao nível económico temos: diminuição do risco económico associado às monoculturas, tanto de origem financeira (preços dos produtos) como as contrariedades normais da actividade agrícola (anos de seca, pragas, etc.); ganhos de produtividade das máquinas agrícolas- culturas diferentes permitem uma maior distribuição pelo tempo das operações culturais, o que leva à constituição de parques de máquinas menores; diminuição dos custos no controlo de infestantes e pragas; diminuição dos custos na manutenção da fertilidade dos solos; etc..Ao nível ambiental temos: uma maior diversidade de culturas permite a subsistência de um número mais elevado de espécies selvagens, e ao mesmo tempo diminuir a pressão que algumas destas espécies podem causar às culturas por falta de alternativa alimentar; a existência de culturas diferentes, em diferentes estados de desenvolvimento, oferece refúgio e protecção a inúmeras espécies (e.g. para a nidificação das aves); etc..A nível social temos: a dedicação de grandes espaços, e mesmo regiões inteiras, a uma só cultura, é feita a par de uma grande especialização e mecanização, por forma a manter a competitividade das explorações, o que geralmente acarreta a diminuição da mão-de-obra necessária ou concentra-a em períodos curtos. A rotação de culturas permite uma maior distribuição ao longo do tempo das necessidades de mão-de-obra, permitindo um rendimento de carácter mais contínuo, e criando condições para a fixação das populações.

Rotação de culturas e fertilização.Um aspecto importante da rotação de culturas é a maximização do proveito obtido pela aplicação de adubos, pela introdução nas rotações culturas que explorem camadas diferentes de solo.Também, a introdução na rotação de culturas capazes de fixar azoto, as leguminosas, como cultura de cobertura ou para produção, podem ser uma fonte valiosa de azoto para a cultura que a sucede na parcela.

56

Page 57: 1228439217 medidas de_conservação

Figura 1- Exemplos de culturas que maximizam o aproveitamento dos fertilizantes (girassol, esq.) ou contribuem para a fertilidade do solo (tremoço, dta.).

O controle de infestantes e a rotação de culturas em sistemas de MC.Ver texto de apoio e consulta 2, do módulo “A produção vegetal com sistemas de Mobilização de Conservação”.

As pragas e a rotação de culturas em sistemas de MC.Ver texto de apoio e consulta 3, do módulo “A produção vegetal com sistemas de Mobilização de Conservação”.

As culturas de cobertura na rotação de culturas.Como já vimos, as culturas de cobertura são realizadas no período Outono/Inverno como forma de proteger o solo contra a erosão, para reter o azoto, impedindo que seja lavado, para aumentarem o teor de matéria orgânica do solo, e por contribuírem para a manutenção ou melhoria da estrutura do solo (ver texto de apoio e consulta 2, do módulo “Introdução à mobilização de conservação”). A introdução de culturas de cobertura numa rotação permite também: “criar” uma rotação quando o sistema de produção é em monocultura, com

todas as vantagens associadas, nomeadamente no que concerne o controlo das infestantes, pragas e doenças;

aumentar a fertilidade do solo, tanto do ponto de vista dos nutrientes como por uma estrutura mais favorável ao desenvolvimento das raízes;

aumentar a fonte de alimento nos sistemas de produção com componente animal.

Apesar das vantagens já enunciadas, é preciso ter em conta o seguinte: qual a cultura que sucede a cultura de cobertura, e qual o seu maneio?

responder a esta pergunta é importante para estabelecer qual a melhor cultura de cobertura, e quando é que deve ser controlada (com herbicida não residual); por exemplo, se a cultura que a sucede é uma cultura de Primavera em sequeiro, é importante que a água armazenada no solo seja a maior possível: pelo que, nas nossas condições e salvo raras excepções, as culturas de cobertura estão largamente confinadas ao regadio e a culturas perenes;

a maior ou menor facilidade com que se controla a cultura de cobertura; a sensibilidade que as diferentes espécies mostram aos herbicidas varia, logo as doses de herbicidas também variam, pelo que os custos com herbicidas no controlo da cultura de cobertura tem de ser levado em conta.

57

Page 58: 1228439217 medidas de_conservação

sensibilidade da cultura de cobertura a herbicidas residuais utilizados na cultura principal.

Figura 2– A aveia é uma excelente cultura de cobertura- aveia após o corte.

Alelopatias, o maneio dos resíduos e rotação de culturas.Como já vimos, os resíduos de algumas culturas, quando em excesso e/ou em contacto directo com a semente, podem originar a inibição da germinação das sementes e/ou o desenvolvimento das plântulas (e.g. caso do trigo semeado em resíduos de azevém (Lolium spp.)). Este fenómeno, efeito alelopático dos resíduos, fica-se a dever à libertação, aquando da degradação dos resíduos, de substância neles contidos e/ou de substâncias do metabolismo dos micróbios que os degradam, que são tóxicos para as sementes, inibindo a sua germinação e/ou o desenvolvimento das plântulas, e será tanto mais visível quanto maior a humidade e temperatura do solo, as condições óptimas para a degradação dos resíduos.

Figura 3– Na fotografia, cultura de trigo em resíduos de milho: não há alelopatia associada as resíduos de milho. Um bom maneio dos resíduos é essencial para evitar os problemas mencionados acima. Assim, algumas práticas que devem ser seguidas são: sempre que o volume de resíduos seja muito elevado, dever-se-á diminuir esta quantidade (enfardando, etc.); consoante os sistemas, afastar os resíduos da linha de sementeira, ou não permitir a formação de palha embutida no sulco (depende das características do semeador, sua regulação, estado do solo e quantidade de resíduos à superfície). Com a rotação de culturas conseguimos:

58

Numa 1ª fase, logo após a adopção de sistemas de mobilização de conservação, as culturas de cobertura devem ser compostas por espécies cujos resíduos tenham uma elevada relação C/N (e.g. gramíneas), para que a mineralização seja mais lenta, e a protecção máxima.

Page 59: 1228439217 medidas de_conservação

Introduzir na rotação culturas cujos resíduos não produzem efeitos alelopáticos- casos do milho ou do girassol;

Introduzir na rotação culturas com resíduos pouco persistentes, criando o tempo necessário para uma maior decomposição dos resíduos persistentes (ver tabela).

Tabela 1- Grupo de culturas de acordo com a persistência dos resíduos. (Adaptado de “Guía de Agricultura de Conservación en Cultivos Anuales”, Publicação conjunta da AELC/SV e CTIC)Resíduos persistentes Resíduos pouco persistentesLuzernaAlgodão ErvilhaAveia BatataCenteio SojaMilho BeterrabaSorgo GirassolTabaco AmendoimTrigo* A maioria dos hortícolasTriticale**Resíduos pouco persistentes quando destroçados e espalhados sobre o terreno.

59

Page 60: 1228439217 medidas de_conservação

Módulo: A engenharia e mecanização dos sistemas de Mobilização de Conservação

Texto de apoio e consulta 1.

EQUIPAMENTOS AGRÍCOLAS/MANEIO DOS RESÍDUOS

As alfaias de mobilização vertical.Como já vimos (texto de apoio e consulta 1 do módulo “Introdução à mobilização de conservação”), os escarificadores são de um modo geral, as alfaias utilizadas em sistemas de mobilização de conservação do solo, sejam estes sistemas de mobilização reduzida ou de mobilização na zona.

Figura 1- Os escarificadores são as alfaias utilizadas em sistemas de mobilização de conservação do solo.

Dentro deste grupo, existe uma grande variedade de alfaias que diferem entre si no que concerne à forma e número de braços (vibráteis ou rígidos), tipos de mola e bicos. Estas diferenças traduzem as múltiplas aplicações práticas associadas ao seu uso. Quando se utilizam estas alfaias na preparação do solo para a sementeira, no âmbito dos sistemas de mobilização de conservação, convém ter em atenção o tipo de bicos instalados pois poderão influenciar de forma muito marcada o grau de cobertura do solo pelos resíduos (ver figura 2).

Figura 2- Bicos de escarificadores.

60

Page 61: 1228439217 medidas de_conservação

Outros factores que deverão ser ponderados é a velocidade de trabalho, o número de passagens, a profundidade, o ângulo de ataque, a direcção da mobilização em relação às linhas da cultura anterior, etc.. Quanto maior for a velocidade de trabalho, mais vigoroso será a interacção da alfaia com o solo, conduzindo a uma maior pulverização e projecção do solo, que tem como consequência o enterramento dos resíduos. Da mesma forma, quanto maior o número de passagens, ou a profundidade de trabalho, maior será o enterramento dos resíduos.

Um aspecto importante que as alfaias para sistemas de mobilização de conservação devem apresentar é o desafogo que existe entre os braços, entre a superfície do solo e o quadro, e entre os grupos de braços, por forma a permitir uma boa passagem dos resíduos, sem o seu arrastamento.

A grade de discos.A possibilidade de utilizar grades de discos em sistemas de mobilização de conservação do solo depende do objectivo que se pretende alcançar. Assim, e como instrumento de mobilização do solo, não deverá ser usado, exceptuando nos casos em que a quantidade de resíduos à superfície seja muito elevada, situação em que o agricultor deverá regular a grade por forma a manter um nível adequado de resíduos à superfície. Também, a sua utilização no maneio dos resíduos, trabalhando com a grade fechada, por exemplo para derrubar e destroçar caules de milho ou girassol, é uma opção a ter em conta.

Tabela 1– Potências necessárias para as diferentes alfaias. (Várias fontes)

Alfaia Profundidade de trabalho Potência requerida (valores de orientação)

Charrua 0,2 a 0,25 m e.g 3 ferros de 14 polegadas = mais de 54 kW

Subsolador 0,35 a 0,45 m e.g. 30 a 40 kW por braçoGrade de discos 0,10 a 0,15 m e.g. 22 discos de 24

polegadas = mais de 60 kWEscarificador 0,15 a 0,20 m e.g. com 13 braços = mais

de 54 kWCultivador 0,05 a 0,10 m e.g. com 11 dentes

vibráteis = 34 a 54 kW

O maneio de resíduos.O maneio dos resíduos das culturas deve iniciar-se logo à colheita, não adiando as operações necessárias para antes da sementeira seguinte. São vários os factores a ponderar, nomeadamente: o tipo de resíduo e sua persistência; a quantidade de resíduos; qual é o período que medeia entre a colheita e a sementeira seguinte; quais as alfaias disponíveis; entre outros.

61

Para aumentar o grau de cobertura em sistemas de mobilização reduzida: diminuir o número de passagens e a velocidade de trabalho, trabalhar a menor profundidade, mobilizar na direcção das linhas da cultura anterior.

Page 62: 1228439217 medidas de_conservação

Durante a colheita, os resíduos produzidos devem ser espalhados de forma homogénea sobre a superfície, e se possível já com o tamanho adequado. Consoante a cultura, o seu aproveitamento, e a produção obtida, haverá um maior ou menor volume de resíduos produzidos que teremos de tratar. Por exemplo, a produção de uma cultura para aproveitamento forrageiro originará uma massa de resíduos muito inferior se a mesma cultura tivesse sido realizada para grão (e.g. milho), e da mesma forma, um cereal que produza 4 ton/ha de grão dará origem a um volume de resíduos muito maior que se a produção fosse de 2 ton/ha. Se a colheita é feita com ceifeiras, existem acessórios para acoplar à ceifeira que promovem a distribuição, e nalguns casos também o corte, dos resíduos. A escolha do equipamento certo depende do tipo e volume de resíduos e largura da barra de corte. Uma das preocupações que deve existir é impedir a concentração em faixas dos materiais mais finos resultantes da colheita dos cereais, pelos efeitos alelopáticos a que podem dar origem. Se parte dos resíduos vão ser enfardados, estes podem ficar em cordão, sendo conveniente, no entanto, após o enfardamento, passar uma alfaia que destroce os restolhos sempre que o grau de cobertura fique muito baixo após o enfardamento.

Figura 3- Ceifeira equipada com acessório para a distribuição dos resíduos da cultura.

Outros factores a levar em conta são a persistência dos resíduos, o intervalo que medeia entre a colheita e a cultura que segue na parcela, as condições de temperatura e humidade que os resíduos vão estar sujeitos, e as mobilizações a realizar- ver tabelas. Equacionando estes factores, podemos optar por deixar um maior ou menor volume de resíduos, numa forma que permita uma maior ou menor facilidade de decomposição (troços maiores ou mais pequenos).

62

Não deixar os resíduos em cordões à superfície do solo por forma a evitar: funcionamento deficiente das alfaias e semeadores; efeitos alelopáticos dos resíduos, sobre a germinação da cultura; tratamentos herbicidas deficientes; heterogeneidade na germinação; maior incidência de pragas, etc.

Page 63: 1228439217 medidas de_conservação

Tabela 2– Percentagem de resíduos da cultura que se mantêm à superfície do solo (de uma quantidade inicial arbitrária) após cada operação, em função da menor ou maior persistência dos resíduos. (Adaptado de “Guía de Agricultura de Conservación en Cultivos Anuales”, Publicação conjunta da AELC/SV e CTIC)

Tipo de resíduo Resíduos persistentes Resíduos pouco persistentes

(% de resíduos) (% de resíduos)Alfaia e operação:Escarificação (bico

escarificador convencional)

50-70 30-40

Escarificação (bico escarificador

revirado (helicoidal))

40-60 20-30

Rojão de dentes flexíveis

60-80 50-70

Grade de discos 40-70 25-40Subsoladores 80-90 75-80

Adubação localizada:

Disco cortador e relha

65-75 50-70

Relha para fertilização e sementeira

40-70 35-50

Abre-sulcos de semeadores em

linha:Relha (dente) 50-80 40-60Disco simples 85-100 75-85Disco duplo 80-100 60-80

Semeadores em linha, de precisão, com abre-sulcos e equipados de disco

duplo:Discos cortadores

estriados75-90 70-85

Discos cort. ondulados

65-85 55-80

Separador de resíduos

60-80 50-85

Efeitos do clima:Sementeira na Primavera após

colheita no Outono80-95 70-80

Sementeira no Outono após

colheita no Verão90-95 75-90

63

Page 64: 1228439217 medidas de_conservação

Medição do grau de cobertura do solo pelos resíduos. Métodos.As operações de mobilização do solo que deixam a superfície do solo com uma cobertura pelos resíduos da cultura anterior de pelo menos 30 % são chamados sistemas de mobilização de conservação do solo. Com os sistemas de sementeira directa estes graus de cobertura podem ascender aos 90% e mais, à sementeira, dependendo da cultura anterior. Como já vimos, a manutenção de uma taxa mínima de cobertura de 30 % é essencial para que os benefícios destes sistemas sejam os melhores. Assim, e no sentido de garantir que trabalhamos dentro deste limite, torna-se necessário avaliar a taxa de cobertura do solo pelos resíduos. Existem para isso vários métodos de fácil utilização, que exporemos de seguida, no entanto, convém sublinhar a ideia que a simples avaliação visual está reservada apenas àqueles com bastante experiência (que já fizeram centenas de medições).De momento, o método mais simples é estender uma fita métrica sobre a superfície do solo, formando um ângulo de 45º com as linhas da cultura, e contar a cada 10 cm, sempre do mesmo lado da fita, quantas marcas coincidem com resíduos. Se utilizarmos uma fita de 10 m, temos 100 pontos de amostragem pelo que podemos comunicar os resultados directamente em %. Para que estas medições sejam representativas, devem ser repetidas em diferentes locais da parcela (4 a 5 locais são suficientes), respeitando-se sempre a representatividade do local, i.e. não escolher os sítios que apresentem uma maior massa de resíduos só porque darão taxas de cobertura maiores (estaremos a enganarmo-nos).Existem outros métodos, como a utilização de imagens fotográficas ou o peso de resíduos numa determinada área, no entanto, são métodos mais complexos, e de um rigor desnecessário para a actividade agrícola. De um modo geral, convém determinar as taxas de cobertura do solo pelos resíduos: durante e depois da colheita; durante e depois de qualquer operação de mobilização; antes de qualquer operação que proceda a sementeira, durante e depois da sementeira. A importância de realizar estas medições durante as operações têm a ver com o facto de podermos estar a enterrar mais resíduos do que pretendemos, permitindo-nos corrigir o que estivermos a fazer de forma inconveniente.

Figura 4- A medição do grau de cobertura do solo é essencial como forma de controlar a qualidade do trabalho à medida que vai sendo realizado.

Os pulverizadores. A aplicação dos herbicidas de pré-sementeira. A regulação do pulverizador. Doses e volume de calda.A experiência mostra que a aplicação de glifosato de pré-sementeira com pulverizações de baixo volume (e.g. 100 l/ha) traz mais vantagens tanto do

64

Page 65: 1228439217 medidas de_conservação

ponto de vista económico (poupança de produto), como de eficiência (ver tabela). Quanto menor for o volume de calda utilizado por ha, maior a eficiência.

Tabela 3– Doses recomendadas de herbicidas de pré-sementeira (e.g. glifosato). Infestantes Volume de pulverização

400 l/ha 100 l/haCereais, balanco, Bromus, alpista, Fumaria e outras com menos de 12 folhas.

0,75 l/ha 0,5 l/ha

Anuais de folha estreita e algumas de folha larga.

1,5 l/ha 1,9 l/ha

Infestantes de folha larga como as malvas,

saramagos, e outras.2 a 2,5 l/ha 1,5 a 2 l/ha

Infestantes perenes bem desenvolvidas ou em

floração como a junça, a grama, a corriola, e outras.

6 a 8 l/ha 5 a 7 l/ha

Para realizar aplicações a baixo volume, deve-se regular o pulverizador para pressões de trabalho inferiores a 2 kg/cm², mas garantindo a formação do leque, por forma a diminuir oscilações no débito dos aspersores causados pela variação na pressão. Um outro aspecto das aplicações a baixo volume é a utilização de bicos aspersores com orifícios muito pequenos, o que obriga à utilização de filtros capazes de reter as partículas finas, que de outro modo entupiriam os bicos.

Figura 5– Para aplicações de baixo volume há que ter em atenção tanto a pressão de trabalho (<2 kg/cm²), como os filtros, para evitar o entupimento dos orifícios dos bicos que são muito finos.

Pela importância que a regulação dos pulverizadores adquire, expomos de forma resumida os passos necessários para a regulação para uma aplicação de baixo volume:1- Instalar os bicos e filtros convenientes.2- Regular a pressão para o valores abaixo de 2 kg/cm², mas que garantam a

formação do leque.3- Medir o débito de alguns aspersores ao longo da barra (litros/min.).4- Calcular o volume de calda aplicado por ha para a regulação feita, e para a

velocidade de avanço do tractor:

65

Page 66: 1228439217 medidas de_conservação

Volume de calda (l/ha) = (10000/(16,7VL)) B DB, em que V é a velocidade de avanço em km/hora, L é a largura de trabalho (em m), B é o número de bicos, e DB é o débito dos bicos (em litros/min.).

5- Tendo o valor do volume de calda mínimo que se consegue aplicar, calcula-se o número de ha que o depósito do pulverizador cheio consegue realizar, e adiciona-se a quantidade de produto comercial recomendado para aquele número de ha.

Figura 6- O cálculo do volume de calda a aplicar por ha com uma determinada regulação do pulverizador é uma operação simples que pode poupar muitos dissabores e dinheiro.

Os semeadores para sementeira directa. Os elementos principais.Funcionamento dos semeadores em sistemas com grande volume de resíduos. Problemas (sementeira em palha embutida no sulco).Pelo facto de não haver nenhuma mobilização do solo com os sistemas de sementeira directa, os semeadores para estes sistemas têm que ser capazes de semear em condições de muitos resíduos à superfície, abrir um sulco e criar condições para um bom contacto entre o solo e a semente, à profundidade desejada. Para isso, e de um modo geral, os semeadores de sementeira directa apresentam as seguintes características: peso: o peso do semeador deve ser suficiente para que os discos

cortadores de palha (ver tabela) realizem um bom trabalho, e os elementos sulcadores (discos ou bicos) abram o sulco à profundidade desejada. Valores médios, é necessário um peso de 160 a 180 kg por unidade semeadora;

robustez: pelas condições em que trabalham, toda a estrutura dos semeadores está sujeita a esforços superiores àqueles a que estão sujeitos os semeadores convencionais

controlo individual de profundidade das linhas: para poder fazer face à irregularidade do terreno;

capacidade de trabalhar com diferentes quantidades e tipos de resíduos: pela remoção dos resíduos da linha ou pelo corte;

capacidade de trabalhar com diferentes teores de água no solo: desde solos secos a quase plásticos.

capacidade de trabalhar numa superfície com pedras; estes semeadores poderão ainda contar com acessórios para a aplicação

de fertilizantes e insecticidas.

66

Page 67: 1228439217 medidas de_conservação

Tabela 4– Discos cortadores. (Adaptado de “Guía de Agricultura de Conservación en Cultivos Anuales”, Publicação conjunta da AELC/SV e CTIC)Tipo de disco cortador Características Condições de funcionamentoEstriado e lisos Penetra o solo facilmente

criando uma ranhura estreita. Utiliza-se sobretudo em pastagens e à frente dos órgãos de fertilização.Auto-afiantes.Largura de trabalho: 0,8-1,25 cm.

Lançam menos solo para fora do sulco que os outros tipos.Trabalham melhor em solos pesados, quando não é necessário uma grande “actuação”.São os que trabalham melhor em solo húmido.

Superfície do disco com “Boleados”

Presentam o bordo afiado, que corta os resíduos. As paredes boleadas empurram os resíduos para o lado e espalham o solo desagregado.Geralmente auto-afiantes.Nº de “boleados”: 18Largura de trabalho: 2,5-3 cm.

Trabalham melhor em solos arenosos e em condições secas.Podem causar a compactação das paredes do sulco em solos húmidos.

Ondulado Existe uma grande variedade. Necessitam ser afiados.Largura de trabalho: 1,5-5 cm.Nº de ondas: 8, 12, 13, 24 e 25.

Pode-se usar em quase todo o tipo de solos. Quanto maior o nº de ondas maior a pulverização do solo. Podem lançar solo para fora do sulco em condições húmidas ou se se semeia a grande velocidade.

Figura 7- Os discos podem ter várias formas, por forma a ir ao encontro às diferentes condições de solo, resíduos, etc., de cada utilizador (Fotografia Carlos Crovetto Lamarca).

Existem semeadores que não possuem discos corta-palha, e em que a abertura do sulco é feita por um bico (ver figura). Nestes casos, tanto a concepção do semeador como o maneio dos resíduos podem desempenhar um papel importante na qualidade do trabalho que produzem. Assim, no que concerne a concepção do semeador, é necessário que haja um desafogo entre os corpos por forma a que os

67

Page 68: 1228439217 medidas de_conservação

resíduos possam circular (ver figura), e os braços devem apresentar uma configuração que evite a acumulação dos resíduos (ver figura). Os resíduos devem ter um tamanho reduzido por forma a diminuir o arrastamento.

Figura 8– A concepção deficiente dos semeadores e/ou a quantidade e tamanho dos resíduos pode conduzir a um trabalho deficientes dos semeadores, como o arrastamento dos resíduos da cultura.

Figura 9– Existem várias soluções para abrir o sulco onde será depositada a semente. Apresentamos, como exemplo, algumas soluções (da esquerda para a direita): Semeador “Amazone”- dente; “Semeato”- disco duplo desfasado; John Deere- disco único.

Existem várias soluções no que concerne os discos abridores de sulcos, na tabela apresentamos apenas os mais divulgados.

Tabela 5– Discos abridores.Tipo de discos abridores Características e funcionamentoDisco único (ver figura ) Trabalham com um pequeno ângulo em relação ao avanço,

tendo uma pequena relha que ajuda a abrir o sulco. Podem trabalhar sem discos corta-palha. Corta mal a palha, havendo a tendência para a empurrar para o fundo do rego. Tem uma capacidade de penetração em solos secos relativamente pequena e, em condições de solo plástico, tem dificuldade em fechar o rego de sementeira.

Disco duplo (ver figura ) Formam um sulco mais largo que o de disco único.Disco duplo descentrado (ver figura )

Tem uma grande capacidade de corte de palha, havendo muito pouco ou nenhum contacto entre esta e a semente colocada dentro do solo. São capazes de trabalhar em condições de solo plástico de forma mais eficaz que os

68

Page 69: 1228439217 medidas de_conservação

semeadores de disco simples.

Conselhos gerais para um correcto funcionamento dos semeadores:1- Nivelar correctamente o semeador.2- Os discos cortadores, quando existem, devem trabalhar a uma

profundidade superior à dos discos abridores (2 ou mais cm’s), cortando os resíduos e garantindo que não fazem embutidos de palha no sulco criado.

3- Regular a pressão do semeador sobre o solo em função da sua humidade.4- Verificar se as rodas compactadoras estão reguladas correctamente e se a

pressão exercida é suficiente para promover um bom contacto entre o solo e a semente.

69

Quando a quantidade de resíduos da cultura anterior é excessiva ou a sua distribuição à superfície não é homogénea, o funcionamento dos semeadores pode ser deficiente, podendo conduzir a quebras na produção. Isto fica-se a dever, principalmente, a palha embutida no sulco, que diminui o contacto entre o solo e a semente, a efeitos alelopáticos dos resíduos, e problemas com os fertilizantes. Um bom maneio dos resíduos é fundamental, nomeadamente em termos da sua distribuição na superfície do solo (não semear com cordões de resíduos à superfície), e tamanho.

Page 70: 1228439217 medidas de_conservação

Módulo: A engenharia e mecanização dos sistemas de Mobilização de Conservação

Texto de apoio e consulta 2.

OS SISTEMAS DE MOBILIZAÇÃO DE CONSERVAÇÃO E OS SOLOS

Sistemas de mobilização de conservação e grandes grupos de solos. Horizontes de diagnóstico. A textura dos solos. Susceptibilidade à compactação; formação de crostas; outros. A drenagem.O conhecimento que a maior parte dos agricultores tem dos seus solos é empírico, isto é, é um conhecimento acumulado, baseado na observação e na prática. Este conhecimento empírico, embora extremamente útil na tomada de decisões em sistemas de mobilização tradicionais, não é suficiente para julgar a adequação de um ou outro sistema de mobilização de conservação do solo se não for corroborado por dados sobre as características mensuráveis dos solos. Algumas destas características são: A textura do solo, ou seja, a proporção relativa das partículas minerais do

solo (argila ( <2 m), limo (2 a 20 m), areia fina (20 a 200 m) e areia grossa (200 m a 2 mm). É muito importante para aferir a fertilidade potencial dum solo, a sua susceptibilidade à erosão, as necessidades de potência de tracção para as operações de mobilização, etc..

O perfil, e profundidade do solo. Permitem-nos saber se o solo é homogéneo desde a superfície até à rocha, ou se existe alguma camada de solo (horizonte) que mereça alguma atenção em especial. Dá-nos a conhecer a profundidade provável de enraizamento.

A estrutura, ou seja, o arranjo, tamanho e forma, das partículas do solo (partículas simples e compostas (agregados)) e dos vazios. Existem várias medidas que podem ser feitas que ajudam a compreender qual a estrutura de um solo como: a densidade aparente, que nos dá uma ideia da compactação de um solo quando temos conhecimento da sua textura; a porosidade, ou seja, o tamanho dos poros, que nos dá informação sobre a capacidade de armazenamento de água do solo; a condutividade hidráulica, que traduz tanto a porosidade como a continuidade entre os poros; etc..

A capacidade de troca catiónica do solo, grau de saturação, e composição relativa em termos das bases de troca (Ca, Mg, Na, K), essencial para o conhecimento da fertilidade do solo, e para o seu maneio.

O teor em matéria orgânica, que nos permite ter uma ideia da fertilidade do solo, não só no que concerne a componente nutrientes mas também a estabilidade dos agregados, retenção da água, poder tampão do solo, etc..

O pH, ou reacção do solo, que nos fornece informação sobre a composição iónica da solução do solo. Com os sistemas de mobilização de conservação, e principalmente com a sementeira directa, é importante seguir a sua evolução.

Teor de nutrientes assimiláveis. etc..

70

Page 71: 1228439217 medidas de_conservação

Se não considerarmos outros factores, como o controlo de infestantes, o enterramento de resíduos, ou ainda o funcionamento de semeadores e outros equipamentos, a mobilização dos solos prende-se essencialmente com a necessidade, real ou não, de mudar a estrutura do solo, nomeadamente aumentar a porosidade para um maior arejamento e mais rápido crescimento das raízes. No entanto, e como já vimos, essa mudança é, na maior parte das situações, momentânea, e conduz a uma maior exposição do solo aos processos de degradação.Em relação às outras características do solo, o seu conhecimento é essencial, principalmente os nutrientes (o fósforo e potássio) e pH. Ao adoptar sistemas de mobilização de conservação, e principalmente sistemas de sementeira directa, deve-se dar uma atenção especial às técnicas de aplicação dos adubos pois delas depende a disponibilidade dos nutrientes para as plantas.

Figura 1- Diferentes perfis de solos.

Como já vimos, a razão principal para a mobilização dos solos é a modificação da sua estrutura. Assim, importa saber quais as condições que os solos devem reunir para que a produção com os sistemas de mobilização de conservação do solo, principalmente com a sementeira directa, apresente mais benefícios.De um modo geral, e para as culturas de Outono/Inverno, os sistemas de mobilização de conservação dão melhores resultados em solos com uma boa drenagem, solos com texturas do tipo arenoso-franco. Solos muito argilosos, ou solos com uma camada e/ou horizonte pouco permeável, em regiões planas (com uma má drenagem externa), são de evitar. No entanto, solos que apresentem fendilhamento, mesmo que muito argilosos, também se adaptam muito bem à sementeira directa. Mesmo nos solos com menor aptidão, à partida, para a prática da sementeira directa, esta é possível desde que se adoptem as estratégias necessárias para uma melhoria gradual da estrutura. O recurso à mobilização reduzida ou na zona, a introdução de culturas de cobertura e o aumento do teor do solo em matéria orgânica são os aspectos mais importantes a ponderar na fase de transição.

Solos com baixo teor em matéria orgânica (a generalidade dos nossos solos), e com grande susceptibilidade à formação de crosta (solos com uma percentagem relativamente grande de limo), poderão beneficiar bastante com a utilização continuada de sistemas de mobilização de conservação, e principalmente com a sementeira directa. Com efeito, o aumento do teor de matéria orgânica da camada superficial, melhorando a agregação das partículas, e a protecção dos agregados superficiais ao impacto directo das

71

Page 72: 1228439217 medidas de_conservação

gotas de água da chuva ou rega por aspersão conferido pelos resíduos, diminuem a formação de crosta, o que aumenta o sucesso na emergência da cultura e a água disponível.A escolha do sistema de mobilização que mais convém a um agricultor não obedece a nenhuma fórmula, no entanto, há alguns aspectos que devem ser tomados em consideração quando se opta por um ou outro sistema. Assim:

Em relação aos sistemas de mobilização reduzida, são adequados a: situações em que não se queira, ou possa, realizar investimento nos equipamentos para a sementeira directa ou a mobilização na zona; sistemas que produzam elevadas quantidades de resíduos ou em que haja a necessidade de incorporar elevadas quantidades de correctivos (e.g. estrumes), produtos fitofarmacêuticos (e.g. tratamentos herbicidas de pré-sementeira que necessitem de incorporação), etc.; solos com elevada heterogeneidade, que pudesse conduzir a manchas de emergência e/ou crescimento diferentes por exemplo com a sementeira directa; etc.. Com estes sistemas, o agricultor deverá permanecer vigilante em relação ao grau de cobertura do solo.

Figura 2- Sistema de mobilização reduzida.

Com os sistemas de mobilização na zona pode-se ultrapassar alguns constrangimentos da sementeira directa nas situações em que os solos não aconselham a sua realização. A utilização destes sistemas pode envolver, ou não, a realização de investimentos elevados, caso se opte pela aquisição de equipamento específico para a mobilização na zona ou se adapte o equipamento existente na exploração, respectivamente. Como para a mobilização reduzida, estes sistemas implicam também uma vigilância muito grande em termos da cobertura do solo.

Figura 3- Sistema de mobilização na zona.

Com a sementeira directa, se os solos forem apropriados (bem drenados), e se o maneio das culturas for o mais correcto (rotações apropriadas,

72

Page 73: 1228439217 medidas de_conservação

controlo eficaz das infestantes e pragas, maneio adequado dos resíduos das culturas, etc.), é o sistema que permite rendimentos mais elevados (pela redução dos custos) e que traz mais benefícios em termos da conservação do solo. No entanto, implica o investimento em, pelo menos, o semeador (ou a aquisição do serviço de sementeira).

Figura 4- Sistema de sementeira directa.

73

Page 74: 1228439217 medidas de_conservação

Módulo: A engenharia e mecanização dos sistemas de Mobilização de Conservação

Texto de apoio e consulta 3.

DECLIVE, IRREGULARIDADE DA SUPERFÍCIE, AGRICULTURA DE PRECISÃO

Noção de declive. Quando se fala em declive, estamos a falar do pendor dos terrenos, que é medido pela tangente do ângulo que a superfície do solo forma com a horizontal- para ângulos pequenos, e quando o rigor exigido não é grande, tgsen, i.e. a diferença de cota a dividir pela distância percorrida. Conhecer o declive dos terrenos é essencial tanto em termos dos projectos de engenharia (projectos de rega, construção de estruturas várias, etc.), como de planeamento e gestão (adequação de culturas, maneio das culturas, etc.), pois permite-nos conhecer de antemão se estamos a trabalhar dentro dos limites de segurança dos equipamentos agrícolas, se estes funcionam de forma conveniente (e.g. máquinas de rega), e se não existem riscos de natureza ambiental ou outros.

Figura 1- O conhecimento do declive dos terrenos é essencial.

O declive e a segurança dos operadores de máquinas agrícolas.Em Portugal ainda é frequente os acidentes, muitas vezes fatais, devido ao capotar das máquinas agrícolas a trabalhar em terrenos com declive acentuado. A maioria destes acidentes, senão a totalidade, poderiam ser evitados se os operadores e gestores das explorações cumprissem as regras de segurança mais básicas, nomeadamente, conhecer e respeitar os ângulos de segurança em trabalho dos equipamentos.

O declive máximo: função dos sistemas de MC.De um modo geral, quanto maior for o declive, até um determinado limite, maior é a erosão, tanto devido a uma maior velocidade e volume do escoamento superficial como ao facto da projecção das partículas de solo destacadas ocorrer em maior extensão no sentido do escoamento.

74

Page 75: 1228439217 medidas de_conservação

A produção de culturas em terrenos com elevado declive depende em grande medida do sistema de mobilização adoptado: com os sistemas de sementeira directa, e desde que se mantenha uma elevada taxa de cobertura do solo pelos resíduos das culturas, as restrições devido ao declive dependem essencialmente da necessidade de cumprir as normas de segurança dos equipamentos, e do trabalho que os semeadores produzem com estes declives; com os sistemas de mobilização reduzida, há uma menor taxa de cobertura do solo, que em determinados solos conduz a menores taxas de infiltração, o que, associado à perturbação do solo pela mobilização, conduz à formação de escoamentos concentrados e forte erosão. Em sistemas de sementeira directa, quando os declives são grandes, e se semeia segundo as curvas de nível, os semeadores poderão não funcionar convenientemente devido à inclinação lateral, que faz com que haja uma distribuição não uniforme do peso pelos diferentes conjuntos semeadores (ver figura). Nestes casos, e desde que o semeador não abra um sulco muito grande, nem afaste uma grande quantidade de resíduos de cima da linha de sementeira, poderá haver vantagem em semear na direcção do maior declive.

Figura 2- Quando os declives são grandes, e os semeadores trabalham segundo as curvas de nível, o trabalho do semeador poderá não ser o mais adequado (situação b).

O declive e a drenagem dos solos.A drenagem dos solos é essencial para um bom arejamento e crescimento normal das raízes, para lá dos efeitos benéficos em termos de temperatura e nutrição das plantas. Como já vimos, os sistemas de mobilização de conservação, e principalmente os sistemas de sementeira directa, produzem melhores resultados em solos com uma textura grosseira a mediana, pelo menos nos primeiros anos da adopção destes sistemas, do que os solos de textura fina e pobres em matéria orgânica. Nos nossos solos mediterrâneos, a uma camada superficial relativamente permeável, sucedem horizontes menos permeáveis que, em áreas relativamente planas e nas depressões, dão lugar a problemas graves de encharcamento. Em solos com algum declive, ocorre a drenagem, tanto por via do escoamento superficial como sub-superficial, o que permite bons resultados com os sistemas de mobilização de conservação.

75

Page 76: 1228439217 medidas de_conservação

Figura 3- Os solos em zonas planas, e com má drenagem, apresentam características pouco propícias para os sistemas de mobilização de conservação.

A microtopografia da superfície e o funcionamento dos semeadores.Antes de adoptar sistemas de mobilização de conservação, e principalmente a sementeira directa, deve-se proceder à regularização da superfície sempre que esta apresente uma grande “rugosidade” causada pela alfaias, rodados de tractores e outras equipamentos, sulcos de erosão criados pela água do escoamento superficial, pisoteio do gado, etc., de forma a permitir um correcto funcionamento dos semeadores, com a deposição das sementes à profundidade certa, e com um bom contacto entre o solo e a semente. Uma outra opção, e se a irregularidade do terreno o permitir, é semear a velocidades mais baixas, deixando que a superfície regularize com o tempo. Também, com os sistemas de sementeira directa, poderá ser vantajoso do ponto de vista económico e da facilidade de trabalho, a remoção das pedras de maiores dimensões que se encontrem à superfície do solo, diminuindo o desgaste e danos causados nos semeadores pelas pedras, e permitindo maiores velocidades de trabalho. A vantagem da despedrega na sementeira directa é que, não havendo novo transporte de pedras para a superfície do terreno, ela só tem de ser feita uma única vez. .

Figura 4- O pisoteio do gado, em condições de excesso de humidade do solo, cria uma irregularidade no terreno que pode dificultar ou mesmo impedir o funcionamento dos semeadores de sementeira directa. (Na imagem, buracos com mais de 30 cm.)

76

Um bom maneio do solo significa: evitar o trânsito de alfaias e outros equipamentos, ou a entrada do gado nas parcelas, quando a humidade do solo é grande. É fundamental manter a superfície em condições para a realização das sementeiras em sistemas em que não há mobilização do solo.

Page 77: 1228439217 medidas de_conservação

Perspectivas para a agricultura do futuro. A agricultura de precisão.As pressões às quais os agricultores estão sujeitos, nomeadamente no que concerne a diminuição dos preços dos produtos da exploração e o aumento dos preços dos factores de produção (combustíveis, fertilizantes, etc.), exige que este pense cada vez mais em termos de melhorar a eficiência da sua exploração, i.e. que o valor da produção por unidade de área a dividir pelos custos por unidade de área seja o maior possível, para um mesmo produto. Quando inspecciona-se uma parcela podemos observar que o desenvolvimento de uma cultura raramente é homogénea, apresentando manchas onde é mais evidente a falta de azoto, ou ainda manchas onde é necessário um maior ou melhor controlo das infestantes, etc.. Estas diferenças têm origem nas diferenças espaciais do solo, na sua exposição, drenagem, etc., e têm como consequência diferenças acentuadas na produção. No entanto, mesmo que uma parcela apresente zonas com potenciais de produção muito diferentes, as várias zonas são, na grande generalidade dos casos, tratadas da mesma maneira: adubação excessiva onde não vai haver utilização, ou abaixo do necessário noutras; aplicação de herbicidas sobre toda a superfície, onde só seria necessário em parte; etc.. Isto, é claro, implica custos acrescidos e perda de rendimento. Mas, quando pensamos nas dificuldades técnicas por trás de um maneio individualizado das zonas de acordo com o potencial produtivo, grau de infestação, ou outro, vemos que, pelos métodos tradicionais, isto nunca será possível. No entanto, o desenvolvimento tecnológico, nomeadamente os sistemas de posicionamento por satélite (GPS), permitem, conjuntamente com outros equipamentos relativamente simples, resolver estes problemas. Assim, e por exemplo: Um ceifeira debulhadora equipada com um sistema GPS e um medidor do

débito de semente colhida, permite elaborar mapas que dividem uma parcela em manchas de igual potencial produtivo. Estes mapas podem ser posteriormente usados num semeador com regulação automática da densidade de sementeira, para semear com a densidade apropriada para o potencial de produção de determinada zona, ou ainda para distribuir adubos em doses diferenciadas.

A inspecção de um campo, com um sistema GPS, permite identificar as zonas em que há necessidade de aplicar herbicidas ou outros. Com estes dados constroem-se mapas que permitem, através de um sistema GPS e de um computador que controle o pulverizador, que apenas sejam tratadas as zonas infestadas.

Figura 5– Os sistemas de posicionamento por satélite (GPS) são uma ferramenta do presente, com grandes possibilidades no futuro.

77

Page 78: 1228439217 medidas de_conservação

Módulo: A engenharia e mecanização dos sistemas de Mobilização de Conservação

Texto de apoio e consulta 4.

A REGA

A necessidade de regar. A rega e os sistemas de mobilização de conservação do solo.Torna-se necessário regar as culturas sempre que a água da chuva e/ou a água armazenada no solo não é suficiente para garantir uma produção economicamente viável. Os sistemas de mobilização de conservação, via uma menor evaporação e maior retenção da água do solo, são sistemas que permitem uma diminuição na quantidade de água a aplicar e/ou do número de regas. No entanto, e das várias soluções que se pode adoptar para regar uma cultura, nem todas têm a mesma compatibilidade com a produção de culturas em sistemas de mobilização de conservação do solo.

Os métodos de rega de superfície.Existem vários sistemas de rega de superfície, distinguindo-se os sistemas em que há escorrimento da água à superfície (rega por sulcos, e faixas) dos sistemas em que há submersão da superfície a regar (rega em canteiros, em caldeiras).

Figura 1- Rega por sulcos.

Condições para a realização de rega de superfície. Os sistemas de MC e a rega de superfície.As condições para a realização de rega de superfície dependem, naturalmente, dos métodos a utilizar. No entanto, regra geral, são métodos exigentes em termos de regularização dos terrenos e de declive o que, em determinadas situações, os torna impraticáveis devido aos elevados investimentos no movimento de terras. Assim, e sem se pretender estabelecer quais as condições necessárias para a realização de rega de superfície, por fugir ao âmbito deste curso, ficam alguns pontos para considerar:

78

Page 79: 1228439217 medidas de_conservação

Em relação à rega por sulcos e faixas, sistemas que permitem um bom controlo da rega, o declive necessário dos terrenos varia bastante com o método de rega, sendo, no entanto, geralmente pequeno (à excepção dos sulcos ruga e de nível, o declive será sempre inferior a 1 ou 2 %), por forma a evitar a erosão dos solos. Em função da textura e estrutura do solo, há uma exigência em termos da dimensão da parcela, no sentido do escorrimento da água, para que se possam praticar estes métodos de rega, que vai de valores na ordem dos 60 m (rega em faixas, em solos arenosos) até os 800 m (rega em sulcos, em solos argilosos). Um outro factor é o caudal de água disponível, que pode em muitas situações limitar a aplicabilidade destes sistemas.

A rega em canteiros é utilizada, entre nós, praticamente apenas na cultura do arroz. Outros métodos de rega, como os sulcos pequenos bloqueados, utilizados muitas vezes em horticultura, ou ainda a utilização de caldeiras em árvores de fruto, são também métodos de rega por submersão, muito difundidos em Portugal. São métodos de rega que exigem o solo nivelado, sem declive, e a armação do terreno para conter a água enquanto esta infiltra.

A utilização simultânea de sistemas de rega de superfície e de sistemas de mobilização de conservação do solo não é vulgar, devido ao maneio mais exigente que obriga. Com os sistemas de mobilização de conservação, e especialmente com os sistemas de sementeira directa, os sistemas de rega de superfície, como a rega por sulcos, pressupõem a armação do terreno e a sua manutenção de ano para ano, sem mobilizar o solo, tarefa difícil. A principal dificuldade reside na bitola de todas as máquinas que tiverem de transitar no terreno, particularmente as colhedoras. É necessário que as suas rodas funcionem no fundo do rego de forma a evitar a destruição da armação do terreno. Esta tecnologia é utilizada com sucesso em várias regiões do mundo, com particular destaque nos Estados Unidos da América. Para estes sistemas em particular, para além das vantagens que temos vindo a referir, ainda são apontadas 2 outras adicionais: 1) a nivelação do terreno tem maior duração; 2) é possível regar logo após a sementeira, resolvendo-se assim problemas de irregularidade na emergência que por vezes acontecem nestes sistemas de rega. Em relação à rega por faixas, desde que o terreno se encontre correctamente nivelado antes de adoptar os sistemas de mobilização de conservação, e calculado correctamente a largura e comprimento das faixas, tendo em atenção não somente os aspectos como a textura do solo, o declive, o caudal disponível, etc., mas também os resíduos à superfície, poderá ser um sistema de rega viável.

Os sistemas de rega sob pressão.São vários os sistemas de rega com água sob pressão, distinguindo-se os sistemas em que a água é distribuída em toda a superfície por aspersão (e.g. center pivot), dos sistemas de rega localizada (e.g. gota-a-gota).

79

Page 80: 1228439217 medidas de_conservação

Figura 2- Sistemas de rega sob pressão.

Condições para a realização de rega sob pressão. Os sistemas de MC e a rega sob pressão.Estes sistemas de rega não são tão exigentes em termos de regularização do terreno e declive como os sistemas de rega de superfície mas, por sua vez, são mais exigentes em termos de equipamento. Apresentam muitas vantagens em relação aos sistemas de rega de superfície, tanto em temos de versatilidade de operação (aplicação de volumes de água variáveis, de agro-químicos, etc.), como de automatização. De uma forma geral, não há constrangimentos pela sua utilização tanto em termos de solos, de topografia, ou das culturas.

É nos sistemas de produção agrícola com sistemas de rega sob pressão, que se verifica uma maior adopção de sistemas de mobilização de conservação do solo, devido à inexistência de incompatibilidades e benefícios associados. Com efeito, a utilização de sistemas de rega não adequados, por exemplo, center pivots excessivamente grandes, em que a intensidade de rega, nos aspersores mais exteriores, é muito superior à taxa de infiltração de água no solo, são por vezes causa de uma importante erosão do solo. A utilização de sistemas de mobilização de conservação do solo, e especialmente os sistemas de mobilização na zona e a sementeira directa, podem em certos casos remediar a situação, ou mesmo permitir a instalação de equipamentos de rega em áreas onde, com os sistemas de mobilização tradicionais, seriam desaconselhados. Isto fica-se a dever à protecção que estes sistemas conferem ao solo, devido aos resíduos à superfície, e à melhoria da estrutura, que contribuem, no seu conjunto, para valores maiores de infiltração. Também, a maior poupança de água gerada com os sistemas de mobilização de conservação do solo, devido a uma menor evaporação e maior retenção de água no perfil, permite diminuir o número de regas, e assim obter importantes ganhos económicos, tanto directamente pelo valor da água, como na energia necessária para regar (gasóleo, electricidade, etc.).

80

Page 81: 1228439217 medidas de_conservação

Figura 4- Milho, em sistema de mobilização tradicional, regado com center pivot: estes sistemas de produção podem levar à ocorrência de importante erosão do solo (imagem da direita: atente-se à quantidade e cor da água que drena do campo, que traduz a pequena infiltração e quantidade de sedimentos transportados).

81

Page 82: 1228439217 medidas de_conservação

Módulo: Aspectos económicos dos sistemas de mobilização de conservação

Texto de apoio e consulta 1.

ASPECTOS ECONÓMICOS

A origem dos custos. A sua repartição em cada sistema de MC.Qualquer actividade económica tem custos associados, variáveis e fixos, e é essencial o seu conhecimento para que o empresário possa avaliar de forma racional o seu sistema de produção.

Os custos variáveis de um sistema de produção podem ser agrupados em: Custos com o trabalho: são os custos associados à mão-de-obra

necessária à realização de todas as operações que contribuem para o sucesso da cultura (são os custos com o tractorista para a realização das mobilizações do solo, transporte de adubos, mondas, etc.; é o custo com o pessoal para fazer a carga e descarga de adubos e sementes; etc.).

Custos com a tracção: são, basicamente, os custos de manutenção, dos combustíveis e lubrificantes, associados à utilização de tractores e/ou outras máquinas (na mobilização do solo, no transporte, nas mondas, na distribuição de adubo, etc.).

Custos com os materiais: são os custos de aquisição dos materiais e serviços necessários (sementes, fertilizantes, produtos fitofarmacêuticos, contratação de serviços de sementeira, de colheita, etc.).

Figura 1- Da esquerda para a direita: custos com o trabalho, com a tracção, e com os materiais.

As culturas têm estruturas de custos diferentes, i.e. as necessidades em mão-de-obra, trabalho e materiais, são diferentes. Os sistemas de mobilização de conservação, e especialmente os sistemas de sementeira directa, caracterizam-se por necessidades de tracção menores que os sistemas de mobilização tradicional. Assim, regra geral, quanto maior for o “peso” da tracção na estrutura de custos de uma cultura, mais atraente, do ponto de vista económico, se tornam os sistemas de mobilização de conservação. Isto resulta tanto dos menores custos com a tracção mas também das menores necessidades de mão-de-obra associada. No que concerne aos materiais, a aplicação adicional de um herbicida total em pré-sementeira normalmente realizada em sistemas de mobilização na zona e sementeira directa tem um

82

Page 83: 1228439217 medidas de_conservação

custo associado geralmente muito inferiores aos custos da mobilização com os sistemas de mobilização tradicional.Tomando por exemplo a cultura do trigo, podemos ver, na figura 2, a repartição dos custos em função de 4 sistemas de mobilização do solo, tendo como referência os custos com o sistema de mobilização tradicional (lavoura).

Figura 2- Dados colhidos na Herdade da Revilheira, da Direcção Regional de Agricultura do Alentejo, no âmbito de um projecto coordenado pelo Prof. Mário Carvalho (Universidade de Évora).

O custo dos equipamentos e a sua amortização. A área e a produtividade.A conversão para sistemas de mobilização de conservação poderá implicar, ou não, a realização de investimento em equipamentos. A adopção de um determinado sistema, em detrimento de outro, prende-se essencialmente com a sustentabilidade desse sistema para as condições de solo, topografia e clima, em que a exploração está inserida. As exigências em equipamento diferem, para além dos sistemas de mobilização, com as culturas, e o seu maneio. Por exemplo, em sistemas de sementeira directa, para além dos semeadores especiais, volumes relativamente grandes de resíduos da cultura anterior poderão obrigar à aquisição de equipamento para espalhar e/ou destroçar estes resíduos. Em oposição ao exemplo anterior, a conversão para um sistema de mobilização reduzida poderá não envolver a aquisição de nenhum equipamento. Assim, o que é importante reter é a necessidade de uma identificação cuidada das exigências em equipamento de cada sistema.Quando se fala em equipamentos para sistemas de mobilização de conservação do solo, e especialmente para sistemas de sementeira directa, os semeadores ocupam lugar de destaque, tanto por serem imprescindíveis como pelo seu preço. Assim, a escolha do modelo e a decisão de comprar, ou não, pode optar pela aquisição do serviço, devem ser ponderados com base em resultados económicos e nas condições existentes na exploração. A realização de um investimento em equipamento pressupõe que a actividade a desenvolver consegue cobrir o custo deste investimento, pagar outros custos, e ainda gerar lucro. A amortização do equipamento, i.e. a forma como a

83

Page 84: 1228439217 medidas de_conservação

actividade “paga” o investimento em equipamento, é calculado com base na vida útil do equipamento. Por exemplo:

É feito um investimento de 3000000 Esc. (15000 Euros) num semeador, com uma vida útil esperada de 10 anos, qual é o valor da amortização anual a imputar às culturas que são semeadas com ele? 3000000 Esc. / 10 anos = 300000 Esc. /ano (1500 Euros/ano).

Como é lógico, e no caso do semeador, quanto maior for a área semeada, menor será o valor da amortização por unidade de área semeada. No entanto, a utilização da área semeada por si só não é suficiente: dois agricultores podem ter uma mesma área mas a aquisição do semeador ser economicamente viável a um e não a outro, tudo depende, em última análise, da produtividade do solo (a produção que se obtém por ha). Por exemplo:

Tomemos uma cultura qualquer, e suponhamos que os custos totais (fixos e variáveis) por ha são 100000 Esc. (500 Euros), e que os proveitos (venda da produção e ajudas ao rendimento) por ha são 150000 Esc. (750 Euros). Então o resultado bruto será de 50000 Esc. (250 Euros), e o resultado líquido será igual ao resultado bruto menos o valor das amortizações. Suponhamos ainda que o agricultor só tem o semeador, do exemplo acima, para amortizar, e que necessita de um resultado líquido de pelo menos 40000 Esc. por ha. Qual é a área mínima que permite suportar o investimento? O valor para amortizações por ha e por ano é 10000 Esc. (50 Euros) = Resultado bruto (50000 Esc.) - Resultado líquido (40000 Esc.). O valor total da amortização é de 300000 Esc./ano, logo são necessários 30 ha = 300000 (Esc. / ano) / 10000 (Esc./ha).

Suponhamos agora que os proveitos não eram 150000 mas 200000 Esc. /ha, devido a uma maior produtividade da terra, mantendo-se tudo o resto igual. Qual seria agora a área mínima necessária? O valor para amortizações por ha e por ano passa agora a 60000 Esc. (300 Euros) = Resultado bruto (100000 Esc.) – Resultado líquido (40000 Esc.), e logo são necessários no mínimo 5 ha = 300000 (Esc. / ano) / 60000 (Esc./ha).

84

De uma forma geral, os sistemas de mobilização de conservação permitem: Uma grande poupança em combustível, tempo e mão-de-obra, e na

manutenção dos equipamentos, devido a uma menor mobilização dos solos.

Uma redução no número de tractores e da sua potência, devido às menores necessidades de potência e tracção.

Uma melhoria da produtividade a médio/longo prazo, devido à acumulação de matéria orgânica no solo, à redução da erosão, à melhoria da estrutura do solo pela redução na mobilização (menor compactação, maior porosidade, etc.).

Ganhos ambientais e da qualidade de vida de quem habita os espaços rurais, e de quem os visita, devido à redução da poluição do ar (CO2 e pó), das águas superficiais (erosão), e aumento da fauna.

Page 85: 1228439217 medidas de_conservação

A adopção de sistemas de MC sem aquisição de equipamentos. (As empresas prestadoras de serviços, os agrupamentos de produtores, etc.)Quando, feitas as contas, a aquisição do equipamento não é economicamente viável, existe a possibilidade de recorrer a prestadores de serviços, sejam eles empresas privadas, agrupamentos de produtores, ou outros. O importante a considerar é o preço, a natureza e qualidade do serviço prestado, e a disponibilidade para executar o serviço no momento mais oportuno do ponto de vista da cultura. Em relação ao preço do serviço prestado, e como já vimos anteriormente, este serviço passa a ser um custo real (uma despesa) para a exploração, sendo conveniente refazer os cálculos da conta de exploração e verificar se é viável a contratação do serviço.A natureza do serviço prestado poderá ser fonte de muitos dissabores se não forem acauteladas as posições tanto dos prestadores de serviços como dos agricultores. Assim, deverá haver um reconhecimento das parcelas por parte do prestador de serviços, em que este fará o levantamento das intervenções necessárias, que deve orçamentar e dar a conhecer ao agricultor. Por exemplo, ao contratar uma sementeira, a existência de cordões de resíduos da cultura anterior sobre o solo poderá implicar a necessidade de destroçar e espalhar estes resíduos – um custo acrescido que poderá não estar orçamentado. No que concerne à disponibilidade para executar o serviço no momento mais oportuno do ponto de vista da cultura, é obvio que tem de ser dadas garantias que as faltas da responsabilidade do prestador de serviços não representem despesa adicional para o agricultor. Por exemplo, se for contratado a aplicação

de um herbicida total e a sementeira de um cereal, e se por razões da exclusiva responsabilidade do prestador de serviços houver um atraso entre a aplicação do herbicida e a sementeira, que obrigue a uma nova aplicação do herbicida ou de outros, este custo adicional não deve ser imputado ao agricultor.

Contas de cultura.As contas de cultura são instrumentos essenciais na gestão agrícola. A sua realização permite estabelecer a estrutura de custos, e calcular o resultado económico de cada actividade.A título de exemplo, nas páginas seguintes vai encontrar contas de cultura de trigo, para os sistemas de mobilização tradicional e sementeira directa.

85

Os prestadores de serviços deverão ter conhecimentos mínimos de sistemas de mobilização de conservação do solo, i.e. conhecimentos sobre solos, infestantes, maneio de resíduos, semeadores mais adequados, etc..Quando em dúvida, obtenha conselho técnico das entidades competentes.

Page 86: 1228439217 medidas de_conservação

CONTA DE CULTURA de: Trigo (mobilização tradicional)

Natureza Data período Mão-de-obra Tracção Materiais diversos Total por

das média da empate horas preço unit. valor horas preço unit. valor quan- un. preço unit. valor operaçãoC x N /12

despesas operação (meses) (esc.) (esc.) (esc.) (esc.) tidade (esc.) (esc.) (esc.) MO Traccção Diversos

Antes da sementeira

Lavoura (2F - 14") (70%) 1, mar 18,5 3,5 640 2.240 3,5 812 2.842 5.082 3.453 4.381

Escarificação (11B) 1, out 11,5 1,2 640 768 1,2 812 974 1.742 736 933

Gradagem (22D - 24") 15, out 11 1 640 640 1 812 812 1.452 587 744

Gradagem (22D - 24") 1, nov 10,5 1 640 640 1 812 812 1.452 560 711

Á sementeira

Semente 15, out 11 180 kg 60 10.800 10.800 9.900

Adubo de fundo (14:36:0) 15, out 11 250 kg 47 11.750 11.750 10.771

Desinf. da sem. (Malatiâo) 15, out 11 0,5 490 245 0,35 kg 150 53 298 225 49

Transp. sement. + adubo 15, nov 10 0,25 490 123 123 103

tractorista 15, nov 10 0,25 640 160 0,25 812 203 363 133 169

Sementeira (sem. 17 L) 15, nov 10 1,4 640 896 0,7 812 568 1.464 747 473

Após a sementeira

Adub. cob.(nitro-amon. 26%) 15, jan 8 250 kg 32 8.000 8.000 5.333

Transporte do adubo 15, fev 7 0,5 640 320 0,25 812 203 523 187 118

Distr. adubo (distr. centrif.) 15, fev 7 2 640 1.280 1 812 812 2.092 747 474

Monda 15, fev 7 0,6 640 384 0,6 812 487 30 g 171 5.130 6.001 224 284 2.993

Colheita

Ceifa 15, jul 2 1,5 640 960 1,5 1.267 1.901 2.861 160 317

Transporte do grão 15, jul 2 2 640 1.280 2 812 1.624 2.904 213 271

Enfardação 1, ago 1,5 1,5 640 960 1,5 812 1.218 2.178 120 152

Transporte da palha 1, ago 1,5 1,5 490 735 735 92

tractorista 1, ago 1,5 1,5 640 960 1,5 812 1.218 2.178 120 152

Outros variáveis

Seguro de colheita 15, jan 8 1.101 734

Rep. Cons. CE Fixo 15, mar 6 14.147 7.074

Rep. Cons. CF Construções 15, mar 6 600 300

Gastos gerais (3% desp. ant.) 4,6 2.335 895

Amortização CE Fixo 0 34.446Amortização CF Construções 600Reserva para riscos não seguráveis (2% dos custos anteriores) 2.305Remuneração do Empresário (5% das despesas anteriores) 4.009

Despesas Efectivas de

121.541 8.407 16.253 30.975

Page 87: 1228439217 medidas de_conservação

Exploração

87

Page 88: 1228439217 medidas de_conservação

Proveitos Quant. Preço ValorRend. bruto:A - Prod. principal 3424 29 99.296

co-financiada 3424 0Estrutura de Custos

Valor %

99.296 Trabalhosub-total

12.591 9,4%

B - Outros especializado 12.223 9,1%prod. secundários 90 120 10.800 não especializado 368 0,3%

subsídios 1 25000 25.000 Combustiveis e lubrificantessub-total

13.674 10,2%

35.800 Materiais e diversossub-total

35.733 26,7%

Total 135.096 sementes / plantas 10.800 8,1%Juros Taxa Capital Valor fertilizantes 19.750 14,7%JCE Circulante MO 5% 30.975 1.549 fitofarmacos 5.183 3,9%

JCE Circulante Tracção 5% 16.253 813 Conservações e reparaçõessub-total

14.747 11,0%

JCE Circulante Diversos 5% 8.407 420 máquinas e equipamentos 14.147 10,6%JCE Fixo Inanimado 3% 176.845 5.305 construções 600 0,4%

JCF Construções 3% 15.000 450 Amortizaçõessub-total

35.046 26,2%

JCF Terra (valor locativo) 3% 5.000 máquinas e equipamentos 34.446 25,7%C - Total 13.537 construções 600 0,4%

Encargos Valor Juros de capitalsub-total

13.537 10,1%

D - Variáveis 80.181 Outrossub-total

8.649 6,5%

E - Fixos 54.897 gastos gerais 2.335 1,7%F - Total 135.078 reserva p/ riscos ñ seguráveis 2.305 1,7%

Custo de Produção / ha esc. / ha remuneração do empresário 4.009 3,0%

Custo base (DEE - RE) 117.532 Total 133.977100,1%

Custo completo (DEE + Juros) 135.078

Custo Unitário do Prod. Princ. esc. / kgCusto base (DEE - RE - B) 24

Custo completo (DEE + Juros - B) 29

Resultado Económico / ha esc. / haMargem Bruta (Prov. - Enc. var:) 54.915

Margem Líquida (M B - Enc. fixos) 18

Page 89: 1228439217 medidas de_conservação

CONTA DE CULTURA de: Trigo (sementeira directa)

Natureza Data período Mão-de-obra Tracção Materiais diversos Total por

das média da empate horas preço unit. valor horas preço unit. valor quan- un. preço unit. valor operação C x N /12

despesas operação (meses) (esc.) (esc.) (esc.) (esc.) tidade (esc.) (esc.) (esc.) MOTraccção

Diversos

Antes da sementeira

Monda 1, nov 10,5 0,4 640 256 0,4 812 325 1 l 2.770 2.770 3.351 224 284 2.424

Á sementeira

Semente 15, out 11 180 kg 60 10.800 10.800 9.900

Adubo de fundo (14:36:0) 15, out 11 250 kg 47 11.750 11.750 10.771

Desinf. da sem. (Malatiâo) 15, out 11 0,5 490 245 0,35 kg 150 53 298 225 49

Transp. sement. + adubo 15, nov 10 0,25 490 123 123 103

tractorista 15, nov 10 0,25 640 160 0,25 812 203 363 133 169

Sementeira (sem. 17 L) 15, nov 10 1 640 640 0,5 812 406 1.046 533 338

Após a sementeira

Adub. cob.(nitro-amon. 26%) 15, jan 8 250 kg 32 8.000 8.000 5.333

Transporte do adubo 15, fev 7 0,5 640 320 0,25 812 203 523 187 118

Distr. adubo (distr. centrif.) 15, fev 7 2 640 1.280 1 812 812 2.092 747 474

Monda 15, fev 7 0,6 640 384 0,6 812 487 30 g 171 5.130 6.001 224 284 2.993

Colheita

Ceifa 15, jul 2 1,5 640 960 1,5 1.267 1.901 2.861 160 317

Transporte do grão 15, jul 2 2 640 1.280 2 812 1.624 2.904 213 271

Enfardação 1, ago 1,5 1,5 640 960 1,5 812 1.218 2.178 120 152

Transporte da palha 1, ago 1,5 1,5 490 735 735 92

tractorista 1, ago 1,5 1,5 640 960 1,5 812 1.218 2.178 120 152

Outros variáveis

Seguro de colheita 15, jan 8 892 595

Rep. Cons. CE Fixo 15, mar 6 10.825 5.413

Rep. Cons. CF Construções 15, mar 6 600 300

Gastos gerais (3% desp. ant.) 5,8 2.026 979

Amortização CE Fixo 26.918Amortização CF Construções 600Reserva para riscos não seguráveis (2% dos custos anteriores) 1.941

Page 90: 1228439217 medidas de_conservação

Associação Portuguesa de Mobilização de Conservação do SoloRemuneração do Empresário (5% das despesas anteriores) 3.477

Despesas Efectivas de Exploração

102.482 3.081 7.972 33.344

Proveitos Quant. Preço ValorRend. bruto:A - Prod. principal 3424 29 99.296 co-financiada 3424 0 Estrutura de Custos Valor %

99.296 Trabalhosub-total

8.303 7,5%

B - Outros especializado 7.935 7,2%prod. secundários 90 120 10.800 não especializado 368 0,3%

subsídios 1 25000 25.000 Combustiveis e lubrificantessub-total

8.397 7,6%

35.800 Materiais e diversossub-total

35.733 32,3%

Total 135.096 sementes / plantas 10.800 9,8%

Juros Taxa Capital Valor fertilizantes 19.750 17,9%JCE Circulante MO 5% 33.486 1.674 fitofarmacos 5.183 4,7%

JCE Circulante Tracção 5% 7.972 399 Conservações e reparaçõessub-total

11.425 10,3%

JCE Circulante Diversos 5% 3.081 154 máquinas e equipamentos 10.825 9,8%JCE Fixo Inanimado 3% 135.328 4.060 construções 600 0,5%

JCF Construções 3% 15.000 450 Amortizaçõessub-total

27.518 24,9%

JCF Terra (valor locativo) 3% 5.000 máquinas e equipamentos 26.918 24,3%C -

Total11.737 construções 600 0,5%

Encargos Valor Juros de capitalsub-total

11.737 10,6%

D - Variáveis 69.761 Outrossub-total

7.465 6,8%

E - Fixos 44.689 gastos gerais 2.032 1,8%F - Total 114.449 reserva p/ riscos ñ seguráveis 1.946 1,8%

Custo de Produção / ha esc. / ha remuneração do empresário 3.488 3,2%

Custo base (DEE - RE) 99.224 Total 110.578 100,0%

Custo completo (DEE + Juros) 114.449

Custo Unitário do Prod. Princ. esc. / kgCusto base (DEE - RE - B) 19Custo completo (DEE + Juros - B) 23

Resultado Económico / ha esc. / haMargem Bruta (Prov. - Enc. var:) 65.335

Margem Líquida (M B - Enc. fixos) 20.647

90

Page 91: 1228439217 medidas de_conservação

Módulo: Ambiente e sistemas de Mobilização de Conservação

Texto de apoio e consulta 1.

ASPECTOS AMBIENTAIS

Formas de erosão hídrica: laminar, por sulcos e ravinar.(Os números apresentados neste texto seguidos de (*), foram colhidos na publicação “Agricultura de Conservação na Europa: Aspectos Ambientais, Económicos e Políticos da UE", uma edição conjunta da APOSOLO e da ECAF.)

Quando se fala em sistemas de mobilização de conservação do solo, associa-se imediatamente a ideia da protecção do solo contra a erosão, embora este não seja o único efeito benéfico destes sistemas. Como já vimos, é a presença de resíduos que confere as características necessárias a estes sistemas para reduzir os valores de erosão pela água, protegendo a superfície do impacto directo das gotas de água da chuva, e aumentando a infiltrabilidade dos solos.

A erosão dos solos é, por definição, o destacamento e o transporte de partículas de solo para fora de um limite por nós estabelecido, seja ele uma parcela agrícola ou toda uma bacia de um rio. Quando se começou a estudar a problemática da erosão, cedo se percebeu que havia a necessidade de estabelecer uma noção de escala uma vez que os processos envolvidos, embora operassem em conjunto, adquiriam diferente expressão e significado conforme estivéssemos a referir a um pequeno talhão ou a um campo agrícola ou a algo ainda maior. A erosão laminar (um termo mais apropriado é erosão inter-sulcos) é a remoção e transporte de camadas finas de partículas pelo escoamento superficial. A denominação laminar traduz um falso conceito, o de uma remoção uniforme resultado de um escoamento “em camada fina”, não concentrado - hoje em dia sabe-se que há formação de pequenos sulcos, no entanto, o uso do termo laminar está tão arreigado que não é abandonado. O impacto das gotas de água da chuva destacam as partículas de solo, o que diminui a infiltração pela colmatação dos poros, e aumenta a turbulência do escoamento superficial, o que aumenta a capacidade de transporte do escoamento superficial. A erosão laminar é função da intensidade da precipitação, do declive e das propriedades do solo.A erosão por sulcos é o destacamento e o transporte de partículas de solo por um escoamento concentrado de água. Esta forma de erosão pode originar resultados desastrosos em solos com uma camada superficial de textura muito susceptível à erosão, sempre que estiverem criadas as condições propícias

Na Europa, estima-se que a taxa média de erosão dos solos agrícolas é de 17 t ha-1 ano-1 (*), registando-se, nas regiões mediterrâneas, perdas que podem ascender entre 20 e 40 t (*) numa só chuvada. Estes valores contrastam claramente com os valores de formação de solo, estimados em cerca de 1 t ha-1 ano-1 (*).

Page 92: 1228439217 medidas de_conservação

Associação Portuguesa de Mobilização de Conservação do Solo

para a ocorrência de elevados volumes de escoamento superficial (ver figura). A erosão por sulcos é função da força de cisalhamento hidráulico do escoamento no sulco, da erodibilidade do sulco, e da força de cisalhamento crítica (ver figura).A erosão ravinar distingue-se da erosão por sulcos pelo facto de os canais abertos não poderem ser removidos por simples mobilizações do solo. Podemos dizer que uma ravina é o resultado do escoamento periódico, da água da chuva que não infiltra, por canais naturais estreitos, havendo a remoção, entrada em suspensão, e transporte, do solo desta superfície estreita; uma ravina pode assim atingir profundidades consideráveis (função do tipo de solo, e capacidade de transporte do escoamento (função da velocidade do escoamento e do caudal)).

Figura 1- Da esquerda para a direita: erosão por sulcos e ravinar.

Factores que contribuem para uma maior ou menor expressão das diferentes formas de erosão (cobertura do solo, teor em m.o., etc.).A erosão laminar é função da intensidade da precipitação, do declive e das propriedades do solo. Os sistemas de mobilização de conservação defendem o solo da erosão laminar tanto por via da cobertura do solo pelos resíduos das culturas como pela maior estabilidade dos agregados, devido ao maior teor de matéria orgânica e ao facto de haver uma menor ruptura dos agregados pela menor intensidade da mobilização. Assim, com estes sistemas, conseguimos uma redução do destacamento tanto devido à acção directa dos resíduos das culturas como, devido a uma maior infiltração, que tem como efeitos uma menor saturação do solo da superfície e logo um menor destacamento. Também, a uma maior infiltração corresponde um menor escoamento superficial, e uma consequente redução da capacidade de transporte.A erosão por sulcos é função das forças de cisalhamento hidráulico do escoamento no sulco, da erodibilidade do sulco, e da força de cisalhamento crítica. Os sistemas de mobilização de conservação, ao reduzir a intensidade da mobilização, aumentam a estabilidade do solo e a resistência às forças de cisalhamento do escoamento superficial. Uma maior infiltração com estes sistemas resulta também num menor escoamento superficial.A erosão ravinar depende de um grande número de factores, sendo os processos envolvidos em grande medida desconhecidos. Além das

92

Page 93: 1228439217 medidas de_conservação

Associação Portuguesa de Mobilização de Conservação do Solo

características do solo, como a textura, outros factores, como a altura da toalha freática, parecem não ser de somenos importância. O efeito liquido dos sistemas de mobilização de conservação sobre a erosão ravinar é desconhecido.

Figura 2- A cobertura do solo (pelos resíduos ou culturas de cobertura) desempenha um papel essencial na redução da erosão nos sistemas de mobilização de conservação, tanto pelo menor destacamento das partículas de solo como pela maior infiltrabilidade dos solos.

O transporte de sedimentos.(Dentro das molduras, adaptação livre do texto “Agricultura de Conservação na Europa: Aspectos Ambientais, Económicos e Políticos da UE", edição conjunta da APOSOLO e da ECAF.)

Os sedimentos provêm dos solos erodidos e são transportados nas águas de escorrimento para fora da área na qual se deu a erosão. Os danos provocados são diversos: danos em estradas, canais e esgotos, depósitos de sedimentos, obstrução de redes de drenagem, aluimento de fundações e pavimentos, diminuição da capacidade de armazenamento de água, destruição de sistemas ecológicos aquáticos, perigos para a saúde pública e maiores custos no tratamento das águas. Além disso, a elevação dos leitos e a sedimentação nas margens húmidas dos rios podem aumentar a probabilidade e a gravidade das inundações.

Figura 3- O assoreamento dos cursos de água tem como consequência uma maior probabilidade e severidade das inundações.

93

Page 94: 1228439217 medidas de_conservação

Associação Portuguesa de Mobilização de Conservação do Solo

Com os sistemas de mobilização de conservação melhora-se consideravelmente a qualidade das águas superficiais devido à redução dos sedimentos.

A adsorção de pesticidas aos sedimentos. Os pesticidas em solução na água de escoamento superficial. Ecotoxicologia. O transporte de nutrientes em solução na água de escoamento superficial. A eutrofização dos corpos de água.(Dentro das molduras, adaptação livre do texto “Agricultura de Conservação na Europa: Aspectos Ambientais, Económicos e Políticos da UE", edição conjunta da APOSOLO e da ECAF.)

A mobilização de conservação reduz a erosão do solo até 90% na sementeira directa e em mais de 60% na mobilização mínima, em comparação com a mobilização convencional. Estima-se que cerca de 40% dos custos da erosão se devem ao prejuízo causado pelos sedimentos nas infra-estruturas públicas. Estima-se também que levando a cabo as técnicas de conservação, a sociedade beneficiaria com a diminuição dos danos provocados fora dos locais de erosão em cerca de 32 Euros/ha de superfície agrícola e ano. Os prejuízos causados pela erosão no seu conjunto, isto é, nas zonas agrícolas afectadas e, fora destas, nas infra-estruturas públicas, foram estimados nos EUA em cerca de 85.5 Euros por ha de superfície agrícola e ano.

94

Page 95: 1228439217 medidas de_conservação

Associação Portuguesa de Mobilização de Conservação do Solo

A lixiviação de nutrientes e pesticidas (altura da toalha freática, etc.).Tem-se sugerido que com os sistemas de sementeira directa, devido a uma maior continuidade dos poros, há um movimento rápido da água e solutos para, e abaixo, da zona de enraizamento. Este escoamento pelos macroporos, designado por «by-pass flow» ou «short-circuiting flow», ou ainda «escoamento preferencial», caracteriza-se pelo facto de a solução que infiltra, ao não entrar em contacto com a matriz do solo, poder transportar concentrações importantes de substâncias potencialmente poluentes para os aquíferos. Embora alguns compostos tenham sido encontrados a grande profundidade no solo, a maior parte dos resíduos de pesticidas é encontrado, geralmente, a

Os sedimentos são os contaminantes mais importantes das águas superficiais e dos ecossistemas aquáticos. Dificultam a transmissão da luz na água que as plantas aquáticas necessitam para a fotossíntese e deterioram os habitats de peixes e outros organismos. Outros contaminantes dos ecossistemas aquáticos são, por ordem decrescente, os seguintes: nutrientes, microorganismos patogénicos, matéria orgânica, metais pesados e pesticidas.Os fertilizantes e pesticidas provenientes de zonas agrícolas podem chegar a contaminar as águas superficiais, ao serem arrastados pelas águas de escorrimento para fora das zonas agrícolas onde se aplicaram. Por vezes, os nitratos e pesticidas transportados para as águas superficiais podem, inclusivamente, ultrapassar as concentrações limites das águas potáveis. Concentrações relativamente elevadas de pesticidas podem ser prejudiciais para os peixes, plantas e outros organismos aquáticos. O azoto em forma de amónia pode ser tóxico para os peixes e os nitratos e fosfatos intensificam o crescimento de plantas e algas, levando a uma eutrofização acelerada de lagos e barragens.

O restolho, ou restos vegetais da colheita anterior sobre o solo, que caracteriza os sistemas de mobilização de conservação, retêm em grande parte os fertilizantes e pesticidas na zona agrícola onde foram aplicados, até serem utilizados pela cultura ou decompostos noutros componentes menos prejudiciais. Assim, as técnicas de conservação não só reduzem, consideravelmente, o escorrimento mas também proporcionam uma forte redução de sedimentos que, por sua vez, transportam pesticidas, amónia e fosfatos adsorvidos. Em consequência disto, a mobilização de não-inversão do solo consegue reduzir substancialmente a perda de herbicidas na água de drenagem e, de forma semelhante, os óxidos de azoto (>85%) e fosfatos solúveis (>65%). A este respeito, uma comparação abrangente dos diversos métodos de mobilização, mostra que através da sementeira directa/não mobilização se reduz o transporte de herbicidas em 70%, dos sedimentos em 93% e o escorrimento superficial em 69%, em comparação com a mobilização convencional de inversão. Conclui-se, assim, que as técnicas de conservação melhoram, substancialmente, a qualidade da água.

Com os sistemas de mobilização de conservação usam-se diferentes métodos de aplicação de agro-químicos e, em termos gerais, pode-se reduzir a quantidade total dos mesmos. Assim, por exemplo, em vez de se aplicar os fertilizantes a lanço, podem-se localizar em bandas ou sulcos, a uma certa distância da semente, ou ser injectados directamente no solo, minimizando, desta forma, o risco de serem dispersados pela chuva ou pelo vento para fora da zona onde se aplicaram. Da mesma maneira, o controlo de infestantes pode não necessitar em muitas situações de uma quantidade maior de herbicidas que com os sistemas de mobilização convencionais. Para além disso, os herbicidas mais apropriados para aplicação nas infestantes emergidas, têm um período de vida curto, não são activos no solo e exibem uma ecotoxicidade extremamente baixa. Outros métodos de maneio de infestantes, tais como a utilização de entrelinhas menores e/ou o aumento de densidade de plantas por unidade de superfície e o estabelecimento de culturas intercalares fazem parte das técnicas de conservação.

95

Page 96: 1228439217 medidas de_conservação

Associação Portuguesa de Mobilização de Conservação do Solo

menos de 1 m de profundidade, e no caso das substâncias com menor mobilidade, estas encontram-se largamente confinadas aos primeiros centímetros. No entanto, e sempre que a toalha freática esteja muito superficial, alguns cuidados devem ser tomados com os sistemas de mobilização de conservação, e em especial com os sistemas de sementeira directa e mobilização na zona, por forma a evitar o risco de um transporte extenso e rápido dos pesticidas e nitratos para a toalha freática. Estes cuidados são: Utilizar, sempre que possível, substâncias com pequena mobilidade no

solo. Não aplicar os pesticidas se se prevê a ocorrência de precipitação após a

aplicação. No caso dos nitratos, fraccionar o tanto o quanto possível as aplicações

dos adubos azotados, evitando aplicar sempre que é esperada a ocorrência de precipitação importante após a aplicação.

A emissão de CO2 e o aquecimento global.Ver texto de apoio e consulta 3 do módulo “Introdução à mobilização de conservação”.

A mobilização e os aerossóis (pó, agro-químicos adsorvidos aos aerossóis, etc.).Um dos problemas ambientais causado pela mobilização dos solos, que é muitas vezes esquecido, é a formação de aerossóis (pó). Estes aerossóis, transportados pelas massas de ar em movimento, têm agro-químicos, e outras substâncias, adsorvidos, encontrando-se vestígios de pesticidas em zonas onde nunca foram aplicados. Acresce, que estas substâncias são causa de alergias, e outros problemas de saúde.

96