12 raja yoga o caminho real

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5/22/2018 12RajaYogaoCaminhoReal-slidepdf.com http://slidepdf.com/reader/full/12-raja-yoga-o-caminho-real 1/113 Raja Yoga - O Caminho Real Título original: Raja-Yoga. Escrito por Swami Vivekananda. E-book gerado automaticamente em 29/12/2009 09:25:37. Baixe a versão mais recente em: http://hadnu.org/permalinks/publications/12  Acesse todo o acervo do Hadnu em: http://hadnu.org/ 1

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  • Raja Yoga - O Caminho RealTtulo original: Raja-Yoga.

    Escrito por Swami Vivekananda.

    E-book gerado automaticamente em 29/12/2009 09:25:37. Baixe a verso mais recente em:

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  • Raja Yoga - O Caminho Real 3 ............................................................................................................... Prefcio do Autor 4 ................................................................................................................................ Introduo 6 .......................................................................................................................................... Os Primeiros Passos 12 ......................................................................................................................... Prana 17 ................................................................................................................................................ O Prana Psquico 23 .............................................................................................................................. O Controle do Prana Psquico 27 ........................................................................................................... Pratyahara e Dharana 30 ...................................................................................................................... Dhyana e Samadhi 34 ............................................................................................................................ Resumo Sobre Raja-Yoga 39 .................................................................................................................. Introduo aos Aforismos de Patanjali 42 ............................................................................................. A Concentrao: seu Uso Espiritual 45 ................................................................................................. Concentrao: sua Prtica 63 ................................................................................................................ Os Poderes 81 ........................................................................................................................................ Independncia 91 .................................................................................................................................. Apndice - Referncias Yoga 99 .........................................................................................................

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  • Raja Yoga - O Caminho RealDespertai! Levantai-vos! E no vos detenhais enquanto no alcanardes a meta!

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  • Prefcio do AutorDesde a aurora da Histria, vrios fenmenos extraordinrios registraram-se entre os sereshumanos. No faltam testemunhas, nos tempos atuais, para atestar desses acontecimentos, atmesmo onde a cincia moderna impera, em toda sua efulgncia. O grande acervo de tantasevidncias duvidoso, pois vm de pessoas ignorantes, supersticiosas ou desonestas. Em muitoscasos, os chamados milagres so imitaes. O que imitam? No prprio da mente sincera ecientfica descartar nada, sem primeiro investigar. Cientistas superficiais, incapazes de explicar osvrios fenmenos mentais extraordinrios, pretendem ignorar-lhes a existncia. So, por isso, maisculpados que os que crem que suas preces so atendidas por um ser ou seres acima das nuvens, oudos que acre ditam que por seus pedidos, tais seres modificaro o curso do universo. Os ltimos tma desculpa da ignorncia, ou, ao menos, de um sistema defeituoso de educao, que os ensinou aserem dependentes de tais seres, dependncia que se tornou parte de sua natureza debilitada. Osprimeiros no tm tal desculpa.

    Esses fenmenos foram estudados, investigados e generalizados, h milhares de anos; todo o campodas faculdades religiosas do homem foi, assim, analisado; o resultado prtico desses estudos acincia chamada Raja-Yoga. A Raja-Yoga, no nega, maneira imperdovel de algumas cinciasmodernas, a existncia de latos difceis de serem explicados; ao contrrio, gentil, mas firmemente,ela declara aos supersticiosos que os milagres, as respostas s oraes, os poderes da f, conquantofatos verdadeiros, no se tornam compreensveis pelas explicaes supersticiosas, que os atribui interveno de um ser ou seres dissimulados pelas nuvens. Declara que cada homem somente umconduto para o oceano infinito de conhecimento e potncia que existe por trs da Humanidade.Ensina que os desejos e as necessidades esto no homem, que o poder de satisfaz-los tambm dohomem e que onde e sempre que um desejo, uma necessidade ou uma prece satisfeita, foi daqueledepsito infinito que veio a satisfao e no de um ser sobrenatural. idia de seres sobrenaturaispode acirrar, at certo grau, o poder de ao no homem, mas traz consigo, tambm, a decadnciaespiritual. Traz dependncia, medo, superstio. Degenera na terrvel crena que o homem naturalmente dbil. No existe o sobrenatural, lis o yogui. Na natureza, h manifestaes densas esutis. As sutis so as causas, as grosseiras, os efeitos. Estas podem ser facilmente percebidas pelossentidos; aquelas, no tanto. A prtica de raja-yoga conduz obteno das percepes sutis.

    Todos os sistemas ortodoxos da filosofia hindu tm um mesmo objetivo: a liberao da alma pelaperfeio, O mtodo a yoga. A palavra joga abarca um campo vasto. Tanto a filosofia Samkhyacomo a Vedanta referem-se voga, sob urna forma ou outra.

    O assunto deste livro a forma de yoga conhecida como Raja Yoga. Os Aforismos de Patanjaliconstituem a mais excelsa autoridade sobre Raja-Yoga. So o seu manual. Os outros filsofos,ocasionalmente diferindo de Patanjali sobre alguns pontos de filosofia, aceitam, regra geral, omtodo de prtica por ele preconizado. A primeira parte deste livro compreende vrias aulas dadaspelo autor, em Nova York. A segunda parte traduo algo livre dos Aforismos (Sutras) de Patanjali,com um breve comentrio. Fez-se um esforo para evitar tecnicismos tanto quanto possvel, atendo-se forma livre e cmoda do estilo de conversao. Na primeira parte do-se diretivas simples eespecificas aos estudantes interessados em praticar; mas tais estudantes so especialmente esinceramente advertidos que, salvo algumas excees, Raja-Yoga somente pode ser aprendida semriscos, pelo contato direto com um instrutor. Se estas conversaes conseguirem despertar o desejode maiores esclarecimentos sobre o assunto, o instrutor no faltar.

    O sistema de Patanjali baseia-se sobre a filosofia Samkhya, sendo bem poucos os pontos dedivergncia. As duas maiores diferenas so: a primeira, que Patanjali admite o Deus Pessoal, sol a

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  • forma do Primeiro Instrutor, enquanto que o nico Deus que a. Samkhya admite um ser quase-perfeito, a cargo, temporariamente, de um ciclo de criao. A segunda, os yoguis afirmam que amente igualmente onipenetrante como a Alma ou Purusha, o que a Samkhya no admite.

    VIVEKANANDA

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  • IntroduoTodo nosso conhecimento repousa sobre a experincia O que chamamos conhecimento inferente, noqual se vai do particular para o geral ou vice-versa, tem a experincia por base. Nas chamadascincias exatas, chega-se facilmente verdade, porque eia diz respeito s experincias especficas detodo ser humano. O cientista no exige que acreditemos em algo, cegamente; obteve certosresultados, que so fruto de suas prprias experincias e quando, fazendo delas a base de seuraciocnio, deseja que aceitemos suas concluses, ele faz apelo a alguma experincia universal daHumanidade. Em toda cincia exata h uma base que pertence a toda Humanidade, de modo quepodemos imediatamente perceber a verdade ou a falsidade de suas concluses. A pergunta, agora, esta: possui a religio tal base? Responderei tanto afirmativa, como negativamente.

    A religio, como geralmente ensinada, fundamenta-se na f e na crena, e na maioria dos casos,consiste somente de diferentes esquemas de teorias; eis porque vemos religies contra religies.Essas teorias tambm repousam sobre crenas. Algum me diz que existe um grande Ser sentadosobre as nuvens, governando todo o universo e pede-me que acredite no que diz, smente pelaautoridade de sua afirmativa. Posso, da mesma maneira, ter minhas prprias idias, que tentoimpingir aos outros; se perguntam por uma razo, no poderei dar nenhuma. por isso que areligio e a filosofia religiosa gozam, atualmente, de mau conceito. Parece que todo homem cultodiz: Essas religies so feixes de teorias sem qualquer ponto de apoio slido, cada qual pregando asidias que mais lhe convm. No obstante, existe na religio, uma: base de crena universal, de quedependem todas as diferentes teorias e idias das diferentes seitas, em diferentes pases. Sebuscarmos essa base, encontraremos que elas tambm esto baseadas sobre experinciasuniversais.

    Em primeiro lugar, ao analisarmos as diversas religies do mundo, encontramo-las divididas em doisgrupos: as que possuem um livro e as que no tm nenhum. As primeiras so mais fortes e contamcom maior nmero de adeptos. As que no tm livro desapareceram quase por completo e as novas,pouco numerosas, contam com nmero pequeno de seguidores. Entretanto, em todas encontramosuma opinio geral: que as verdades apregoadas so o resultado das experincias de determinadaspessoas. Os cristos pedem que acreditemos em sua religio, em Cristo, nele, corro Encarnao deDeus; num Deus, numa alma e em seu estado melhor. Se lhes perguntarmos por que, dizem,simplesmente que crem nisso. Mas se formos fonte do Cristianismo, veremos que est baseado naexperincia. Cristo disse que viu Deus; os discpulos afirmaram que O sentiram. Assim por diante.Da mesma maneira, no Budismo, trata-se da experincia do prprio Buddha, que experimentoucertas verdades, viu-as, esteve em contato direto com elas e as pregou ao mundo. Tambm com osHindus: os rishis, ou sbios, que escreveram seus livros, declaram que experimentaram certasverdades, que predicam.

    Vemos, pois, claramente, que todas as religies do mundo foram construdas sobre o universal eadamantino fundamento de todo nosso conhecimento: a experincia direta. Todos os instrutoresviram Deus, viram suas prprias almas, o futuro dessas almas e sua eternidade, e o que viram,pregaram. Existe apenas uma diferena. Na maioria dessas religies, especialmente nos temposmodernos, uma queixa peculiar se faz: que tais experincias so impossveis de serem repetidasatualmente. Foram possveis somente para alguns, os fundadores das religies que levam seu nome.Hoje em dia essas experincias tornaram-se obsoletas e portanto, temos que tomar tais religies sobf.

    Nego, absolutamente, tal coisa. Se houve uma experincia neste mundo, em qualquer ramoparticular de conhecimento, certamente segue-se que essa experincia foi possvel milhes de vezes

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  • antes e repetir-se- eternamente. A uniformidade a lei rigorosa da natureza: o que ocorreu umavez poder ocorrer sempre.

    Os instrutores da cincia denominada Raja-Yoga declaram, portanto, no s que a religio se baseiasobre as experincias de outrora, mas tambm que nenhum homem pode ser verdadeiramentereligioso enquanto no passar, ele prprio, pelas mesmas experincias. Raja-Yoga a cincia quenos ensina a alcanar essas experincias. De pouco vale discorrer sobre religio, a menos que se atenha sentido. Por que existe tanta desarmonia, tanta luta e agitao em nome de Deus? J sederramou mais sangue em Seu nome que por outra causa qualquer, porque as pessoas nuncabuscavam a fonte, contentando-se apenas em dar o assentimento mental aos costumes de seusmaiores, desejando que todos fizessem o mesmo. Que direito tem um homem de dizer que possuiuma alma, se no a sentiu, ou que h um Deus, se no O viu? Se h um Deus, devemos v-Lo; se huma alma, devemos perceb-la; do contrrio, melhor no crer. E prefervel ser um ateu confessoque um hipcrita.

    A idia que prevalece, de um lado, entre os letrados que a religio, a metafsica, e toda busca deum Ser Supremo, so fteis; de outro lado, entre os semi-educados, a idia consiste em que essascoisas, realmente, carecem de base, e cujo nico valor reside no fato de se constiturem em fortemotivo para fazermos bem ao mundo. Se os homens acreditam num Deus, podem tornar-se bons,morais, e perfeitos cidados. No podemos culp-los de alimentarem essas idias, pois todo oensinamento que recebem simplesmente o de acreditar num eterno palavreado sem contedosubstancial. Pede-se-lhes que vivam de palavras. Podem faz-lo? Se pudessem, eu no teria a mnimaconsiderao pela natureza humana. O homem deseja a verdade, quer experiment-la por si mesmo.Quando ele a possuir, realiz-la, senti-la no profundo de seu corao, s ento, declaram os Vedas,as dvidas sero dissipadas, desaparecer a escurido e toda sinuosidade endireitar-se-. filhosda imortalidade, , vs que morais na mais alta esfera, o caminho foi encontrado. H uma veredaque conduz para bem longe das trevas e essa vereda perceber Aquele que est alm de todaescurido. No existe outro caminho.

    A cincia chamada Raja-Yoga prope-se colocar frente Humanidade um mtodo prtico ecientificamente elaborado para alcanar essa verdade. Inicialmente, toda cincia deve possuir seuprprio mtodo de investigao. Se desejamos nos tornar astrnomos e nos sentamos a gritar:Astronomia! Astronomia!, jamais o seremos, O mesmo com a Qumica. Um mtodo determinadonecessita ser seguido. Devemos ir a um laboratrio, tomar diferentes substncias, mistur-las,examin-las, fazer, com elas, experimentos; de tudo isso advir o conhecimento da Qumica. Sequisermos ser astrnomos, iremos a um observatrio, tomaremos o telescpio, estudaremos asestrelas e os planetas. Assim poderemos nos tornar astrnomos. Cada cincia ter seu prpriomtodo. Posso pregar mil sermes, porm eles no tornaro ningum religioso, a menos que sepratique o mtodo. Esta verdade foi predicada por sbios de todos os pases, de todos os tempos, porhomens puros e inegostas, imbudos unicamente do desejo de fazer bem ao mundo. Todos afirmamhaver encontrado verdades mais elevadas que aquilo que os sentidos podem trazer-nos e propemsua verificao. Convidam-nos a seguir a disciplina e a praticar honestamente. Se no conseguirmosencontrar essa verdade mais alta, teremos o direito de dizer que a proposta no tem fundamento;mas antes de agirmos assim, no seremos racionais em negar a verdade de suas assertivas. Devemostrabalhar fielmente, utilizando os mtodos recomendados: a luz h de chegar.

    Para adquirir conhecimentos, recorremos generalizao, que se baseia na observao. Primeiro,observamos os fatos, depois generalizamos e enfim conclumos ou formulamos princpios, Oconhecimento da mente, da natureza interna do homem, do pensamento, jamais ser conseguido seno tivermos, antes, desenvolvido o poder de observar o que acontece dentro de ns. comparativamente fcil observar fatos no mundo externo, porque muitos instrumentos foram

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  • inventados para esse propsito; mas para o mundo interior, carecemos de instrumentos que nosajudem. Todavia, sabemos que necessitamos observar, a fim de fazermos, realmente, cincia. Sem adevida anlise, qualquer cincia ser impotente, pura e simples teorizao; eis porque os psiclogostm discutido tanto entre si, desde os mais remotos tempos, exceto aqueles poucos que encontraramos meios de observao.

    A cincia denominada Raja-Yoga prope-se, em primeira instncia, fornecer-nos os adequados meiosque nos possibilitem a observao dos estados interiores. O instrumento empregado a prpriamente, O poder de ateno, acertadamente guiado e conduzido para o mundo interior, analisar amente e nos iluminar os fatos. Os poderes da mente assemelham-se a raios luminosos difusos;quando concentrados, iluminam. este o nico meio de conhecimento de que dispomos. Todos outilizamos, tanto no mundo externo como no interno; mas, a mesma mincia de observao que ocientista dirige ao mundo externo, o psiclogo deve dirigir para o interno, o que requer muito treino.Desde a infncia fomos sempre ensinados a prestar ateno smente s coisas externas, nunca sinternas; da que atrofiamos nossa capacidade de observar o mecanismo interno. Virar a mente, porassim dizer, para dentro, faz-la cessar de se dirigir para fora, concentrar toda sua fora e projet-lasobre si mesma, a fim de que ela conhea sua prpria natureza e se analise, tarefa rdua.Entretanto, o nico caminho, a verdadeira aproximao cientfica ao assunto.

    Para que esse conhecimento? Primeiramente, o conhecimento , em si mesmo, sua mais altarecompensa. Em segundo lugar, dissipar nossa infelicidade. Analisando sua prpria mente, ohomem chega face a face, por assim dizer, com algo que jamais destrudo, algo que, por suanatureza, eternamente puro e perfeito. Ento, jamais ser infeliz. Toda infelicidade emana domedo, do desejo no gratificado. Ao descobrir que nunca morrer, o homem no mais temer amorte. Quando souber que perfeito, no mais ter vos desejos. E ambas causas, estando ausentes,no existir mais o sofrimento, mas sim a felicidade mais perfeita, ainda neste corpo.

    H somente um mtodo para atingir-se esse conhecimento: a concentrao. O qumico, nolaboratrio, concentra todas as energias de sua mente sobre um nico foco, dirigindo-as para assubstncias que analisa. Assim, descobre-lhes os segredos. O astrnomo concentra todas as energiasde sua mente e as projeta, atravs do telescpio, para os cus; e as estrelas, o sol e a lua entregam-lhe seus segredos. Quanto mais eu puder concentrar meus pensamentos sobre o assunto de nossapalestra, tanto mais luz projeto sobre esse assunto. Vs me escutais e quanto mais concentrardesvossos pensamentos, tanto mais claramente conseguireis entender o que vos tenho a dizer.

    Como pode ser adquirido todo o conhecimento que existe neste mundo, seno pela concentrao dospoderes da mente? O mundo est pronto a revelar seus segredos se soubermos como bater, comodar-lhe o primeiro impulso. A extenso e a fora do impulso vm atravs da concentrao. No hlimite ao poder da mente humana. Quanto mais concentrada, maior poder convergir sobre umponto s. Eis o segredo.

    fcil concentrar a mente sobre coisas externas. Ela vai, naturalmente, para o exterior. O mesmono ocorre em religio, psicologia ou metafsica, onde o sujeito e o objeto so um s. O objeto interno: a prpria mente o objeto; ela que se necessita estudar. A mente estuda a mente.Sabemos de uma propriedade da mente chamada reflexo. Estou falando convosco, mas, ao mesmotempo, fico de lado, como uma segunda pessoa, que ouve e conhece o que estou dizendo. Trabalhaise pensais simultaneamente, enquanto uma poro de vossa mente se posta de lado e v o que estaispensando. Os poderes da mente devem ser concentrados e dirigidos de volta sobre ela; e assim comoos mais obscuros recantos revelam seus segredos ante os penetrantes raios de sol, assim tambm amente concentrada descobrir os seus segredos mais recnditos. Chegaremos assim base mesmada crena, religio real. Perceberemos, por ns mesmos, se ou no temos alma, se a vida duracinco minutos ou toda a eternidade, se h ou no um Deus. Tudo isso nos ser revelado.

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  • o que Raja-Yoga prope-se ensinar; o escopo de seus ensinamentos mostrar-nos como concentrarnossa mente; depois, como descobrir-lhe os ltimos recessos; depois, como generalizarmos seuscontedos e formar, a partir deles, nossas prprias concluses. No nos pergunta qual o nosso credo se somos destas, ateus, cristos, judeus, budistas. Somos seres humanos: basta. Todo ser humanotem o direito e a capacidade de buscar a religio; o direito de perguntar o porqu e ver sua perguntarespondida por si mesmo se apenas quiser dar-se ao trabalho de faz-lo.

    Portanto, vemos que para o estudo de Raja-Yoga, no se exige f ou crena prvia. No creias emnada que no possas descobrir por ti mesmo, eis o que nos ensina. A verdade no carece de suportealgum para ficar de p. Direis ento que os fatos de nosso estado de viglia devem ser provados porsonhos ou imaginaes? Claro que no. O estudo de Raja-Yoga demanda muito tempo e prticacontnua. Uma pequena parte dessa prtica fsica, a maior parte, mental. Veremos, medida queprosseguirmos, quo ntima a ligao da mente ao corpo. Se crermos que a mente simplesmenteuma frao mais sutil do corpo e que atue sobre ele, concluiremos que o corpo deve reagir sobre amente. Se o corpo est enfermo, a mente torna-se enferma tambm. Se o corpo est saudvel, amente ser saudvel e forte. Quando estamos zangados, a mente fica perturbada; e quando a menteest conturbada, o corpo tambm o est. Na maioria das pessoas, a mente permanece,principalmente, sob o domnio do corpo; so mentes muito pouco desenvolvidas. A maior parte daHumanidade est bem pouco longe dos animais, pois, em muitos casos, o poder de controle quepossui um pouquinho maior que o daqueles. Temos pouco poder sobre nossas mentes. Portanto,para obter esse comando, para conseguirmos controlar corpo e mente, devemos tornar ajudasfsicas; quando o corpo est suficientemente controlado podemos tentar a manipulao da mente.Manipulando a mente, estaremos aptos para t-la sob nosso controle, faz-la trabalhar comodesejarmos e compeli-la a concentrar seus poderes a nosso bel-prazer.

    De acordo com o raja-yogui, o mundo externo somente a forma densa do interno ou sutil. O maisfino sempre a causa e o mais grosseiro, o efeito. Portanto, o mundo externo o efeito, e o interno,a causa. Desta forma, as foras externas so apenas- mente os elementos mais densos daquilo deque as internas so os mais finos. O homem que descobriu e aprendeu a manipular as forasinternas ter toda a natureza sob seu controle. O yogui se prope uma tarefa no inferior dedominar o universo inteiro, de controlar totalmente a natureza. Deseja chegar ao ponto onde o quechamamos leis da natureza no tero nenhuma influncia sobre ele, onde ser capaz de ultrapass-las a todas. Ser o mestre de toda natureza, interna e externa. O progresso e a civilizao da raahumana significam, puramente, o controle da natureza.

    Raas diferentes dedicam-se a processos diferentes de controlar a natureza. De igual maneira quenuma mesma sociedade, alguns indivduos desejam controlar a natureza externa e outros a interna,da mesma forma h, entre as raas, as que desejam controlar a natureza externa enquanto queoutras, a interna. Dizem que controlando-se a natureza interna, controlamos tudo; dizem tambm,que controlando-se a natureza externa, controlamos tudo. Afinal, ambas opinies esto certas,porque na natureza no existe diviso alguma. So limitaes fictcias. Os externalistas e osinternalistas esto fadados a encontrar-se no mesmo ponto, onde atingem, ambos, os limites de seuconhecimento. Como um fsico, ao levar o conhecimento aos ltimos limites, descobre que aquele sefunde na metafsica, tambm um metafsico descobre que o que denomina mente e matria soapenas distines aparentes, que desaparecero, por fim.

    O objetivo de toda cincia descobrir a Unidade, o Uno, do qual o mltiplo provm, o Uno que semanifesta como muitos. Raja-Yoga determina-se iniciar partindo do mundo interno, estudando anatureza interna, e atravs dela, controlar tudo tanto interno como externo. tentativa muitoantiga. A ndia tem sido a sua mantenedora especial, mas tambm houve tentativas feitas por outrasnaes. Nos pases ocidentais esse estudo foi considerado como sendo ocultismo e as pessoas que

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  • desejavam pratic-lo, ou foram queimadas, ou mortas como feiticeiras e bruxas. Na ndia, por vriasrazes, caiu nas mos de pessoas que destruram noventa por cento de seu conhecimento e tentaramfazer um grande segredo do restante. Nos tempos atuais, no Ocidente, encontram-se falsos mestres,que so piores que os da ndia, porque estes conheciam algo, ao passo que aqueles modernosexpoentes nada sabem.

    Tudo o que for secreto e misterioso, neste sistema de Yoga, deve ser imediatamente rejeitado. Omelhor guia na vida a fora. Em religio, como em qualquer outro assunto, descartemos tudo o quenos enfraquece; nada temos a ver com isso. O mercadejar com mistrios enfraquece o crebrohumano. Quase destruiu a Yoga, umas das mais sublimes cincias. Desde o tempo de sua descoberta,mais de quatro milhares de anos atrs, a Yoga foi perfeitamente delineada, formulada, e ensinada,na ndia. fato digno de nota que quanto mais moderno seu comentarista, mais erros comete, aopamo que quanto mais antigo o escritor, mais racional seu ensinamento. A maioria dos escritoresmodernos cerca-se de toda espcie de mistrio. Assim, a Yoga caiu nas mos de algumas pessoasque fizeram dela um segredo, ao invs de deix-la sob o esplendor da luz do dia e da razo, com onico propsito de conservar si todos os poderes.

    Em primeiro lugar no h mistrio algum no que ensino. O pouco que sei vo-lo direi. Tanto quantopossa utilizar o raciocnio, assim farei; aquilo que no sei, repetirei simplesmente o que dizem oslivros. E um erro crer cegamente. Devemos exercitar nossa razo e julgamento; devemos aprenderpela prtica, se tais coisas ocorrem ou no. Assim como tomamos qualquer cincia, da mesmamaneira devemos tomar esta para estudo. Nela no h mistrio, nem perigo. At o ponto em que verdadeira, deve ser predicada nas vias pblicas, plena luz do dia. Toda tentativa de mistificaodestas coisas suscetvel de produzir grandes riscos.

    Antes de prosseguirmos, gostaria de dizer algo a respeito da filosofia Samkhya, sobre a qual sebaseia toda a Raja-Yoga. De acordo com a filosofia Samkhya, a gnese da percepo a seguinte: asimpresses dos objetos externos so levadas, pelos instrumentos externos, a seus respectivoscentros cerebrais, ou rgos; os rgos levam as impresses mente; a mente, faculdadedeterminativa; desta, o Purusha, a Alma, recebe-as, resultando da a percepo. A seguir o Purushad a ordem de volta aos centros motores, para executarem o necessrio. Com exceo do Purusha,todos os outros so materiais; mas a mente matria muito mais sutil que os instrumentos externos.O material de que a mente se compe torna-se mais grosseiro e forma os tanmatras. Estes seadensam mais ainda e formam a matria exterior. E esta a psicologia samkhya. Vemos assim queentre o intelecto e a matria densa externa h apenas uma diferena de grau. O Purusha o nicoprincpio inteligente. A mente um instrumento, por assim dizer, nas mos da Alma, atravs de quea Alma percebe os objetos externos.

    A mente est continuamente mudando pula de objeto a objeto. Liga-se, s vezes, a diversos rgos,s vezes a um, outras a nenhum. Por exemplo, se escuto o relgio cora muita ateno, posso no vercoisa alguma, apesar de ter meus olhos abertos o que demonstra que a mente no estava ligada aorgo da viso, mas sim ao auditivo. A mente, s vezes liga-se a todos os rgos simultaneamente.Tem, tambm, o poder reflexivo de voltar-se sobre suas prprias profundezas. Este poder, o yoguideseja obter; concentrando os poderes da mente e dirigindo-os para dentro, ele busca saber o queest acontecendo ali, Nisto no h meno algum de crena; resultado da anlise feita por certosfilsofos, Os fisiologistas modernos nos dizem que os olhos no so o rgo da viso, mas que orgo est num dos centros nervosos do crebro. Assim com todos os sentidos. Afirmam, tambm,que tais centros esto formados do mesmo material que o prprio crebro. A filosofia Samkhya nosensina igual coisa, mas enquanto os fisiologistas fazem uma afirmao do ponto de vista fsico,aquela f az idntica observao sob o ponto de vista psicolgico; entretanto, ambas so uma nicaafirmativa.

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  • O campo de nossas pesquisas est alm. O yogui se prope atingir aquele estado perceptivo sutilonde pode perceber todos os estados mentais. Deve haver percepo mental de todos eles. Pode-seperceber, logo que um rgo externo entra em contato com um objeto, como surge uma sensao,como a sensao levada por um nervo particular ao centro nervoso, como a mente a recebe, comoela apresentada faculdade determinativa e como esta ltima a conduz ao Purusha. Todos estesdiferentes estgios devem ser observados, um a um. Toda cincia requer certo preparo e possuimtodo prprio, que deve ser seguido antes de poder ser entendido. O mesmo se d com a Raja-Yoga.

    Certas regras quanto comida so necessrias: devemos utilizar alimentos que nos proporcionemestados mentais mais puros. Se visitarmos um jardim zoolgico teremos a demonstrao dissoimediatamente. Vemos os elefantes: enormes animais, mas calmos e meigos; se vamos s jaulas doslees e tigres encontramo-los inquietos o que mostra a diferena ocasionada pela alimentao.Todas as foras que atuam no corpo foram produzidas pela alimentao; constatamo-lo diriamente.Se comearmos a jejuar, primeiro o corpo se enfraquecer; declinaro as foras fsicas. Depois,passados alguns dias, as foras mentais tambm sero afetadas: logo falha a memria; depoischegamos ao ponto de no poder pensar, muito menos tentar qualquer espcie de raciocnio.Devemos, portanto, cuidar a qualidade de alimento que ingerimos, ao comeo; e quando tenhamosadquirido bastante fora, quando nossa prtica estiver bem avanada, ento podemos abandonar oscuidados a esse respeito. Enquanto a planta est crescendo, deve ser cercada, a menos de serdanificada; porm, quando se transforma em rvore, a cerca pode ser retirada porque a rvore setornou bastante forte para suportar qualquer agresso.

    Um yogui deve evitar os dois extremos da luxria e da austeridade. No deve jejuar, nem torturarsua carne. Aquele que age assim, diz o Gita, no pode ser um yogui; aquele que jejua, aquele quefica acordado, aquele que dorme muito, aquele que trabalha muito, aquele que no trabalha nenhum deles pode ser um verdadeiro yogui.

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  • Os Primeiros PassosA Raja-Yoga divide-se em oito estgios. O primeiro yama, que consiste em no matar, veracidade,no roubar, continncia, e no receber ddivas. A seguir niyama, consistindo de limpeza,contentamento, austeridade, estudo e auto-entrega a Deus. Depois vem asana, ou postura;pranayama, ou controle do prana, pratyahara, ou retirar os sentidos de seus objetos; dharana, oufixao da mente num s ponto; dhyana, ou meditao; e samadhi, ou experincia ultra-sensria.Yama e niyama so treinos morais, sem o que nenhuma prtica de yoga ter sucesso. A medida que oyogui se estabelece nestas, principia a colher os frutos de sua prtica; sem elas essa prtica jamaisfrutificar. Um yogui no deve ofender ningum por pensamento, palavra ou ao. Sua compaixono deve ser apenas para seres humanos; deve ir alm e estender-se a todo o mundo.

    O passo seguinte asana, postura. Devemos cumprir, diariamente, uma srie de exerccios, fsicos ementais, at alcanarmos estados mais elevados. Portanto absolutamente necessrio queencontremos uma postura na qual possamos permanecer durante muito tempo. Essa postura, a maiscmoda, deve ser a escolhida. Para pensar, uma determinada postura pode ser muito cmoda parauma pessoa, enquanto que para outra pode ser desconfortvel. Saberemos mais tarde, que durante oestudo destes assuntos psicolgicos, o corpo se torna teatro de grande atividade. Correntes nervosassero deslocadas e encaminhadas atravs de um novo canal. Surgiro novas espcies de vibraes; aconstituio inteira ser remodelada, por assim dizer. Mas a parte essencial da atividadepermanecer ao longo da coluna vertebral; portanto a nica coisa necessria para a postura manter a coluna livre, sentando-nos eretos, de modo que as trs partes peito, pescoo e cabea fiquem em linha reta. Que o peso total dessas partes descanse nas costelas, e teremos uma posturanatural e cmoda, com a coluna reta. Notamos, facilmente, que no conseguiremos produzirpensamentos elevados, com o peito para dentro.

    Esta poro de yoga bastante similar hatha-yoga que trata exclusivamente do corpo fsico, e cujoobjetivo torn-lo muito forte. Nada temos a ver com isso aqui, mesmo porque sua prtica muitodifcil No pode ser aprendida num s dia e, alm do mais, no produz grande crescimentoespiritual. Muitas dessas prticas por exemplo, colocar o corpo em diferentes posies encontram-se nos ensinamentos de Delsarte e outros. Seu escopo no espiritual, mas fsico. No hum nico msculo do corpo sobre o qual no se possa estabelecer perfeito controle: podemos pararo corao ou ordenar-lhe que continue, nossa vontade. Cada parte do organismo pode sersimilarmente controlada.

    O resultado da hatha-yoga simplesmente permitir que se viva durante muito tempo; a sade aidia-mestra, o nico objetivo do hatha-yogui. Ele se decide a no ficar doente, e jamais fica. Vivelongo tempo. Cem anos nada significam para ele; jovem e saudvel aos cento e cinqenta, sem umcabelo grisalho. Mas tudo Um banyam vive, s vezes, cinco mil anos. Mas s uma rvore, nadamais. Se um homem vive muito tempo apenas um animal com sade. Entretanto, uma ou duaslies comuns dos hathayoguis so muito teis. Por exemplo, alguns de ns acharemos muito eficazpara dores de cabea inspirar gua fria pelo nariz, pela manh, ao levantar-se; por todo o dia ocrebro permanecer fresco, e nunca nos resfriaremos. muito simples faz-lo: colocai o narizdentro da gua, inalai-a pelas narinas, bombeando-a com a garganta.

    Depois de termos aprendido a sentar firmes e eretos, devemos executar, de acordo com certasescolas, uma prtica chamada purificao dos nervos. Alguns rejeitaram esta parte, como nopertencendo Raja-Yoga; mas, como aconselhada por uma autoridade to acatada como ocomentador Sankaracharya, creio adequado mencion-la, repetindo as mesmas palavras do seucomentrio ao Svetasvatara Upanishad: A mente, cujas impurezas foram descartadas por

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  • pranayama, toma-se fixa em Brahman; portanto, ensina-se pranayama. Em primeiro lugar, os nervosdevem ser purificados; depois, vem o poder de praticar pranayama. Fechando a narina direita com opolegar, inalar pela esquerda, de acordo com a capacidade; depois, sem qualquer intervalo, exalarpela direita, fechando a esquerda. Outra vez, inalar pela direita, de acordo com a capacidade,exalando pela esquerda. Esta prtica, feita trs ou cinco vezes por quatro perodos do dia antes daaurora, ao meio-dia, tarde e meia-noite - conduz pureza dos nervos, em quinze dias ou numms. Ento comea pranayama.

    A prtica definitivamente imprescindvel. Podeis vos assentar e escutar-me, uma hora,diriamente, mas se no praticais, no dareis um s passo adiante. Depende, tudo, da prtica. Nuncaentenderemos estas coisas enquanto no fizermos a experincia. Temos de v-las, senti-las, nsmesmos. Smente ouvir explicaes e teorias no basta.

    H diversos obstculos prtica. O primeiro um corpo no- saudvel; se o corpo no estiver apto,a prtica ser obstruda. Portanto, devemos conserv-lo em condies, devemos cuidar o quecomemos e bebemos, e o que fazemos. Poderemos aplicar sempre um esforo mental (o que usualmente chamado Cincia Crist), para conservar o corpo vigoroso. Isso tudo; nada mais arespeito do corpo. No nos esqueamos que a sade somente o meio, para um fim. Se a sadefosse o fim, seramos como animais, que s raramente no so saudveis.

    O segundo obstculo a dvida. Sempre duvidamos do que no vemos. No podemos viver depalavras, por mais que tentemos. Assim, a dvida chega quando desejamos saber se h ou noverdade nestes ensinamentos; at o melhor de ns duvida, s vezes. Com a prtica, dentro de algumtempo, uma centelha vir, o suficiente para insuflar-nos coragem e esperana. Como diz um certocomentador de filosofia Yoga: Quando conseguimos uma prova, por menor que seja, ela serbastante para dar-nos f em todos os ensinamentos de Yoga. Por exemplo, depois dos primeirosmeses de prtica notaremos que somos capazes de ler os pensamentos alheios, que nos aparecerosob a forma de imagens. Talvez possamos escutar algo que esteja ocorrendo a longa distncia,quando concentrarmos a mente com o desejo de ouvir. Essas centelhas viro, gradativamente noincio, mas o suficiente para nos incutir f, fora e esperana. Um exemplo: se concentrarmos opensamento na ponta do nariz, dentro de alguns dias comearemos a sentir uma fragrnciadeliciosa, que evidenciar a existncia de percepes mentais que dispensam o contato com objetosfsicos. Mas no devemos perder de vista que esses so apenas os meios; o fim, o escopo, o objetivode todo este treinamento a liberao da alma. Controle absoluto da natureza, outra no deve ser ameta. Temos que ser os amos, no os escravos, da natureza. Nem o corpo, nem a mente, devem sernossos senhores; tampouco podemos. nos esquecer que o corpo nosso e no ns dele.

    Um deus e um demnio procuraram um grande sbio que os instrusse sobre o EU. Sob sua direoestudaram por longo tempo. Por fim o sbio lhes disse: Vs mesmos sois o Ser que buscais. Ambospensaram que o corpo era o EU. O demnio retornou aos seus, muitos satisfeito e lhes disse:Aprendi tudo o que havia para ser aprendido: comei, bebei e sede felizes; ns somos o EU; alm dens, nada existe. O demnio era, por natureza, ignorante; no quis saber mais. Contentou-se com aidia que ele era Deus e que pelo EU entendia-se o corpo.

    O deus era de natureza mais pura. Inicialmente cometeu o erro de pensar: Eu, este corpo, souBrahman; devo conserv-lo forte, saudvel, bem abrigado, dar-lhe toda espcie de prazeres. Porm,logo descobriu que aquele no poderia ser o significado das palavras do santo, seu mestre;certamente existia algo mais elevado. Voltou, portanto, e lhe disse: Senhor, haveis ensinado queeste corpo era o EU? Se assim for, vejo que todos os corpos perecem; entretanto, o EU no devemorrer. O sbio retrucou: Descobre-o tu mesmo. Tu s Aquilo. Ento o deus pensou que as forasvitais que operam no corpo pudessem ser o EU. Mas, depois de algum tempo, descobriu que,alimentando-se, essas foras vitais permaneciam fortes, porm, jejuando, elas declinavam. Volveu

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  • ento ao sbio e perguntou: Senhor, quisestes dizer que as foras vitais so o EU? O sbiorespondeu: Busca-o tu mesmo. Tu s Aquilo. O deus voltou para casa, mais uma vez, pensando quetalvez a mente fosse o EU. Mas logo descobriu que seus pensamentos eram extremamente variados,ora bons, ora maus; a mente era mutvel demais para ser o EU. Retornou ao sbio e lhe falou:Senhor, penso que a mente no o EU. Por acaso insinuastes isto. No, retorquiu o sbio; tu sAquilo. Descobre-o por ti mesmo. O deus foi para casa e por fim descobriu o verdadeiro EU, almde todo pensamento, uno, sem nascimento ou morte, a quem a espada no pode transpassar, o fogoqueimar, a quem o ar no pode secar ou a gua dissolver, o Ser sem princpio e sem fim, inamovvel,intangvel, onisciente, onipotente no o corpo ou a mente alm de ambos. Finalmente o deusficou satisfeito; mas o pobre demnio, devido ao apego pelo corpo no conseguiu captar a verdade.

    Este mundo est- repleto dessas naturezas demonacas. Mas h alguns. deuses tambm. Se algumse prope ensinar uma cincia. para aumentar a capacidade de gozar pelos sentidos, encontramultides prontas para segui-lo. Se algum deseja indicar a meta suprema, encontra poucosinteressados em ouvir. Pouqussimos tm o poder de atingir o mais alto, menos ainda so os queperseveram. H alguns poucos, entretanto, que sabem que mesmo se o corpo durasse mil anos, oresultado, no fim, seria o mesmo. Quando as foras que o mantm agregado cessam de funcionar, ocorpo cal. Ningum nascido at hoje foi capaz de impedir que seu corpo mudasse. O corpo o nomede uma srie de mudanas. Como num rio, as massas dgua esto mudando aos nossos olhos, acada instante, e novas massas continuam a surgir, sob formas semelhantes, o mesmo acontece com ocorpo. Todavia, o corpo deve ser conservado forte e saudvel; o melhor instrumento de quedispomos.

    Este corpo humano o melhor corpo do universo, e o ser humano, o mais elevado. O homem superior a todos os animais, a todos os anjos; nada existe superior ao homem. At os devas, osdeuses, devero descer outra vez e tomar forma humana para atingir a salvao atravs dessaforma. Somente o homem realiza a perfeio, nem mesmo os devas. De acordo com os Judeus eMaometanos, Deus criou o homem depois de criar os anjos e tudo mais. Depois de criar o homem,ele pediu aos anjos para virem saud-lo, e todos o fizeram, exceto Iblis; ento Deus o amaldioou eele se tornou Sat. Atrs desta alegoria est a grande verdade que este humano nascimento omximo que podemos obter. A criao inferior, a animal, grosseira e constituda principalmente delamas. Os animais no podem ter pensamentos nobres; tampouco os anjos au os devas podem atingirdiretamente a liberdade, sem antes passar pelo nascimento humano. Do mesmo modo, em nossasociedade, muita riqueza ou muita pobreza so entraves grandes ao desenvolvimento mais elevadoda alma. das classes mdias que surgem os grandes homens, pois a as foras esto igualmenteajustadas e equilibradas.

    Voltando ao nosso assunto, chegamos a pranayama, controle da respirao. Qual a relao entre issoe a concentrao dos poderes da mente? O alento como o volante da mquina chamada corpo,Numa grande mquina, o volante move-se em primeiro lugar; esse movimento transmitido a partesmais e mais finas, at que o mais delicado e sutil mecanismo entra em ao. O alento esse volante,suprindo e regulando a fora central em todas as partes do corpo.

    Havia outrora o ministro de um grande rei. Aconteceu que caiu em desgraa. Como punio, o reiordenou que ele fosse preso na cspide de uma torre muito alta. Isso feito, o ministro foi deixado alipara que perecesse. Tinha, entretanto, uma esposa fiel, que, noite, veio ao p da torre e chamouseu marido para indagar o que podia fazer para ajud-lo. Em resposta, ele disse esposa quevoltasse na noite seguinte e trouxesse uma longa corda, fio tranado, forte, barbante, fio de seda,um escaravelho e um pouco de mel. Excogitando muito, a boa esposa obedeceu ao marido e trouxeos artigos pedidos. O marido ordenou que ela atasse firmemente o cordo de seda ao escaravelho;depois, que untasse seus chifres com uma gota de mel e o deixasse livre no muro da torre, com a

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  • cabea apontando para cima. Ela obedeceu todas estas instrues, e o escaravelho iniciou a sualonga jornada. Sentindo o cheiro do mel frente, vagarosamente se arrastava para diante, naesperana de atingir o mel. At que por fim chegou ao cimo da torre. O ministro agarrou-o eapanhou o fio de seda. Gritou, ento, sua esposa, para amarrar a outra extremidade do fio aobarbante e, depois de pux-lo, repetiu o processo com o fio tranado e, finalmente, com a corda. Da,o resto foi fcil, O ministro desceu da torre pela corda e escapou. Neste nosso corpo, o movimentoda respirao o fio de seda; conseguindo agarr-lo e aprendendo a utiliz-lo, lanaremos mo dobarbante das correntes nervosas, destas ao fio tranado de nossos pensamentos, e, finalmente, corda do prana, controlando o qual atingiremos a liberdade.

    Nada sabemos sobre nosso corpo. No podemos. O mais que conseguimos fazer cortar um cadverem pedaos; h pessoas que cortam em pedaos um animal vivo, para ver o que est dentro. Issoainda nada tem a ver com nossos prprios corpos. Continuamos sem saber quase nada a seurespeito. Por que? Porque nossa ateno no consegue discriminar o suficiente para captar osmovimentos muito sutis que se processam dentro dele. Chegamos a conhecer algo sobre essesmovimentos smente quando a mente se torna mais sutil e entra, por assim dizer, mais dentro docorpo. Para chegarmos s percepes sutis temos que comear com as mais grosseiras. Devemoslanar mo daquilo que pe em movimento toda a maquinaria: prana, de que a manifestao maisevidente i alento. Ento, com a respirao, vagarosamente entraremos dentro do corpo, o que nospossibilitar pesquisar as foras sutis, que so as correntes nervosas movendo-se por todo o corpo.Quando pudermos perceb-las e aprendermos a senti-las, comearemos a exercer controle sobreelas e sobre o corpo. A mente tambm posta em movimento pelas diversas correntes nervosas; porfim, atingiremos o estado de controle perfeito sobre corpo e mente, trans,formando-os em nossosservidores. Conhecimento poder. Temos de conseguir esse poder; portanto, devemos comear pelocomeo, com pranayama, refreando o prana. Pranayama um tpico extenso. Necessitaremosmuitas lies para poder explic-lo completamente. Vamos abord-lo, parte por parte.

    Gradualmente conheceremos as razes de cada exerccio e tambm as foras que, no corpo, sopostas em movimento. Tudo isso saberemos. Mas temos de praticar incessantemente. A prova virda prtica. Nem uma poro de argumentos ser prova bastante para ns, enquanto no tivermosexperimentado, ns mesmos. Logo que comearmos a sentir, dentro, essas correntes em movimento,as dvidas desvanecero; o que exige dura prtica, cada dia. Deveis praticar pelo menos duas vezesdiariamente, e as melhores horas so pela manh e tarde. Quando a noite rompe em dia, e o dia seesfuma na noite, um estado de relativa calma permanece. Cedo, pela manh, e o comeo da tardeso os dois perodos de tranqilidade. Nosso corpo tender a tornar-se calmo nessas horas. Devemostirar vantagem dessa condio natural e comear a praticar. Fazei regra de no comer enquanto notiverdes terminado a prtica; se o fizerdes, a simples fora da fome quebrar vossa preguia. Nandia, as crianas so ensinadas a no comer enquanto no tiverem terminado a prtica ou aadorao, e isso torna-se natural nelas, depois de um certo tempo; um menino no sentir fomeenquanto no tiver tomado seu banho e praticado as disciplinas de yoga.

    Aqueles de vs que tiverem meios, devem ter um aposento onde possam praticar a ss. No deveisdormir nesse aposento; deve ser conservado sagrado. No entrareis ali, a no ser banhados eperfeitamente limpos de corpo e mente. Colocai flores nessa pea, sempre elas formam o melhorambiente para um yogui e quadros agradveis. Queimai incenso pela manh e tarde. No brigueise no vos encolerizeis e no tenhais pensamentos profanos nesse local. Somente permiti a pessoasdo mesmo pensamento que o vosso, entrar ali. Ento, gradualmente, surgir uma atmosfera desantidade no aposento, que, quando sentirdes infelicidade, quando estiverdes tristes, ou tiverdesdvidas, ou quando vossa mente se conturbar, ao entrardes ali sentireis profunda e ntima paz. Eraesta a idia real atrs dos templos e das igrejas; em alguns, ainda as encontrareis; mas na suamaioria, essa idia se perdeu. O fato que preservando as vibraes espirituais de um lugar, ele se

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  • tornar santificado. Os que no puderem se permitir um aposento separado, podero praticar ondemais lhes convier.

    Sentemo-nos numa postura reta. Enviemos uma corrente de pensamento elevado a toda a criao.Mentalmente, repetiremos: Que todos os seres sejam felizes; que todos sejam em paz; que todossejam bem-aventurados. Faamo-lo para o leste, sul, norte, e oeste. Quanto mais o praticarmos,melhor nos sentiremos. Descobriremos, por fim, que a maneira mais fcil de nos tornarmos felizes saber que os outros so felizes e o melhor meio de nos tornarmos saudveis ver que os outros sosaudveis. Feito isso, os que acreditam em Deus devem orar no por dinheiro, sade, no pelaobteno do cu. Oremos por conhecimento e luz; toda outra orao egosta. A seguir, pensemosque nosso corpo firme, forte, saudvel; o melhor instrumento que possumos. Pensemos nelecomo to forte quanto o diamante, e que, com o seu auxlio, cruzaremos o oceano da vida. Aliberdade jamais ser alcanada pelos fracos; despojemo-nos de toda fraqueza. Digamos a nossocorpo que ele forte, digamos nossa mente que ela vigorosa e tenhamos f ilimitada e esperanaem ns mesmos.

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  • PranaPranayama, no concerne, como muitos pensam, somente respirao; esta, na verdade, tem muitopouco a ver com ele. A respirao um dos muitos exerccios, pelos quais chegamos ao pranayamareal. Pranayama significa: controle de prana. De acordo com os filsofos da ndia, o universo estconstitudo de dois princpios, a um dos quais chamam akasa e ao outro, prana. Akasa a existnciaonipenetrante. Tudo o que possui forma, tudo que o resultado de combinao, provm de akasa. akasa que Se torna o ar, os lquidos, os slidos; que se torna o sol, a terra, a lua, as estrelas, oscometas, akasa que se torna o corpo humano, o corpo animal, as plantas, cada forma que vemos,tudo que pode ser sentido, tudo que existe. No pode ser percebido; to sutil que est alm detoda percepo ordinria; somente visto quando se torna denso e toma uma forma. No incio dacriao h somente akasa; ao fim de um ciclo, os slidos, lquidos e todos os gases, fundem- se emakasa outra vez, e a prxima criao, similarmente, procede de akasa.

    Por qual poder, deste akasa manufaturado o universo? Pelo poder de prima. Da mesma forma queakasa a substncia infinita, onipresente, deste universo, tambm prana o poder manifestante,infinito, onipresente. No incio, e ao fim de um ciclo, todos os objetos tangveis resolvem-se emakasa, e todas as foras do universo, em prana. No ciclo seguinte, desse prana procede tudo o quechamamos energia, tudo que chamamos fora. prana que se est manifestando como movimento; prana que se manifesta como gravitao e magnetismo. prana que se manifesta como as aes docorpo, as correntes nervosas, como pensamento-fora. Do pensamento fora fsica, tudo somentemanifestao de prima. A soma total de todas as foras do universo, mentais ou fsicas, quandoresolvidas em seu estado original, chamada prana. Quando o nada era nada, quando a escuridoenvolvia as trevas, o que existia? Aquele akasa existia sem movimento, O movimento fsico de pranaparou, mas prana continuava a existir. Ao fim de um ciclo, as energias espalhadas pelo universoacalmam-se e se tornam potenciais. Ao comear o ciclo seguinte, elas se levantam de novo, lanam-se sobre akasa, e deste surgem as vrias formas; e medida que akasa se transforma, prana tambmse transforma em todas essas manifestaes de energia. Pranayama , em realidade, o conhecimentoe o controle de prana.

    essa a chave que nos abre as portas de poder quase infinito, Suponhamos, por exemplo, que umhomem tenha compreendido prana perfeitamente e o possa controlar; que poder, nesta terra, noseria o seu? Seria capaz de deslocar o sol e os astros, controlar tudo no universo, desde os tomosaos maiores sis. Eis a meta e o objetivo de pranayama. Quando o yogui se torna perfeito, nada nanatureza escapar a seu domnio. Se ordenar aos deuses ou s almas dos mortos que apaream, elesobedecero seu chamado. Todas as foras da natureza sero suas escravas. O ignorante, ao veresses poderes do yogui, chama-os milagres.

    Uma peculiaridade da mente Hindu buscar sempre a mais elevada generalizao, deixando osdetalhes para serem elaborados mais tarde. A pergunta lanada, nos Vedas: O que aquilo que,sendo conhecido, conheceremos tudo? Portanto, escreveram- se todos os livros e todas as filosofiascom o propsito de demonstrar aquilo, por cujo conhecimento todo o mais conhecido. Quemdesejar conhecer o universo inteiro, deve conhecer cada grozinho de areia, o que requer um tempoinfinito; no poder faz-lo. Ento como obteremos qualquer conhecimento? Como poderemosconhecer tudo, pelo conhecimento do particular? Os yoguis dizem que cada manifestao particularesconde uma generalizao. Atrs das idias particulares levanta-se um princpio abstrato,generalizado. Agarremo-lo e tudo teremos em nossas mos. Como, nos Vedas, este universo inteirofoi generalizado em uma Existncia Absoluta nica, e aquele que consegue aprender essa Existncia,compreender o universo inteiro, da mesma forma, todas as foras foram generalizadas em prana,quem governar o prana, ter sob controle todas as foras do universo, mentais e fsicas. Quem

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  • dominou o prana dominou sua prpria mente e todas as mentes que existem. Aquele que controlou oprana, controlou seu corpo e todos os corpos que existem. Porque o prana a fonte de toda energia.

    Controlar o prana, eis o nico fim de pranayama. Todo treinamento e exerccios a respeito, so feitosexclusivamente com esse propsito. Cada qual deve comear onde se encontra, e aprender acontrolar aquilo que est mais prximo. Este corpo est mais prximo de ns que qualquer outracoisa do universo exterior; e mais perto que o corpo, est a mente. Mas, o prana que est atuandonesta mente e neste corpo, o mais prximo. uma parte do prana que movimenta o universo. Nooceano infinito de prana, esta pequena onda de prana, que representa nossas prprias energias,mentais fsicas, est o mais perto de ns. Se conseguirmos controlar essa diminuta onda, s entopoderemos esperar controlar todo o prana. O yogui que assim fez, atinge a perfeio; no mais estsubmetido a poder nenhum. Torna-se quase todo-poderoso, quase onisapiente.

    Em todos os pases h seitas que tentaram o controle do prana. Neste pas h curandeiros pelamente, curandeiros pela f, espiritualistas, Cientistas Cristos, hipnotizadores, etc.. Se examinarmosessas seitas, encontraremos, como suporte de cada uma, o controle do prana, tenham ou noconscincia desse fato. Se ferverdes todas suas teorias, o resduo ser esse. a mesma e nica foraque esto manipulando, sabendo ou no. Tropearam na descoberta de uma fora e utilizam..nainconscientemente, sem lhe conhecer a natureza; mas a mesma que o yogui utiliza, e vem deprana.

    A fora vital em todos os seres prana. O pensamento a mais sutil e a mais elevada manifestaode prana. O pensamento consciente tal como o vemos, no constitui todo o pensamento. H tambmo que chamamos instinto, ou pensamento inconsciente, o plano mais baixo de pensamento. Se mepica um mosquito, minha mo procurar abat-lo automaticamente, instintivamente. E urnaexpresso de pensamento. Todas as aes reflexas do corpo pertencem a este piano de pensamento.H, tambm, outro plano de pensamento, o consciente: raciocino, julgo, penso, analiso os prs e oscontras de certas coisas. No tudo, porm. A razo limitada, vai apenas at um certo limite;alm, no pode avanar. O crculo, dentro do qual opera, muito restrito, na verdade. Entretanto, aomesmo tempo, encontramos que fatos penetram nesse crculo, como cometas na rbita da terra.Vm de fora, ainda que essa razo no possa ir alm. As causas desses fenmenos que seintrometem dentro desse pequeno circulo, esto fora dele. Os yoguis dizem que tambm esse nopode ser o limite do conhecimento; a mente pode funcionar num plano ainda mais elevado, osupraconsciente. Quando a mente alcana esse estado, chamado samadhi concentrao perfeita vai alm dos limites da razo e cega face a face com fatos que nenhum instinto ou razo poderjamais conhecer. Todas as manipulaes das foras sutis do corpo, diferentes manifestaes deprana, empurram a mente, ajudam-na a ir cada vez mais alto e tornar-se supraconsciente, de ondeela atua.

    Neste universo h uma substncia continua em cada plano de existncia. Fisicamente, o universo uno: no existe diferena entre ns e o sol. O cientista diz que sustentar o contrrio no faz sentido.No h diferena real entre esta mesa e eu: a mesa um ponto na massa de matria, eu, outro. Cadaforma representa, por assim dizer, um turbilho no oceano infinito de matria. Os redemoinhosesto sempre em mudana. Num curso dgua h milhes de redemoinhos, a gua em cada um deles, cada momento, diferente, girando e girando por alguns segundos, afastando-se depois, substitudapor nova quantidade; da mesma forma, o universo inteiro uma massa de matria transformando-secontinuamente, na qual todas as formas de existncia so outros tantos redemoinhos. Uma massa dematria entra num deles, digamos, um corpo humano, a permanece por certo tempo, transforma-se,vai para outro, um corpo animal desta vez, do qual, aps alguns anos, entra num outro redemoinho,qui um pedao de mineral. H constante mudana. Nenhum corpo permanece o mesmo. No htal coisa como meu corpo ou vosso corpo, exceto em palavras. D massa enorme de matria, um

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  • ponto chamado a lua, outro, o sol, outro, homem, outro, a terra, outro, uma planta, outro, ummineral. Nada permanente, tudo se transforma, a matria eternamente se formando edesintegrando-se.

    Verifica-se o mesmo no mundo interior. A matria representada pelo ter; quando a ao de prana mais sutil, esse ter, em estado mais fino de vibrao, representar a mente, e ainda ai continuaexistindo uma massa uniforme. Se pudermos criar em ns mesmos essa vibrao sutil, veremos esentiremos que o universo inteiro constitudo de vibraes sutis. As vezes, algumas drogas tm opoder de nos transportar a um estado supra-sensrio onde podemos sentir tais vibraes. Muitos devs vos lembrareis da clebre experincia de Sir Humphrey Davy, quando o gs hilariante seapoderou dele. Durante a conferncia, ele permaneceu imvel, atnito, e em seguida, declarou que ouniverso inteiro era constitudo de idias. Naquele momento, as vibraes grosseiras haviamcessado e smente as sutis, que ele chamou idias, permaneceram presentes. Ele conseguia verapenas as vibraes sutis, ao seu redor; tudo se tornara pensamento; o universo inteiro era umoceano de pensamento. Ele prprio e todos haviam se tornado pequenos redemoinhos depensamento.

    Portanto, at no universo do pensamento encontramos unidade; e por fim, ao chegarmos ao EUSuperior, saberemos que esse EU s pode ser um. Alm das vibraes da matria, em suas formasgrosseira e sutil, alm do movimento, h somente um. Mesmo no, movimento manifestado existesomente unidade. Estes fatos no mais podem ser negados. A fsica moderna demonstrou que a somatotal das energias do universo a mesma, por toda a parte. Ficou tambm provado que essa somatotal de energia existe em duas formas. potencial, imanifestada, e depois se manifesta como essasvrias foras; novamente volta ao estado de repouso e outra vez se manifesta. Assim continuaevoluindo e involuindo, por toda a eternidade. O controle deste prana, como j vimos, o que sechama pranayama.

    Pranayama tem muito pouco que ver com a respirao. Mas o controle do alento um meio para aprtica efetiva de pranayama. A manifestao mais tangvel de prana, no corpo humano, omovimento dos pulmes. Se cessa esse movimento, regra geral cessam todas as outrasmanifestaes de fora do corpo. Mas h seres que treinam de tal forma que o corpo continua aviver, embora tenha cessado aquele movimento. H pessoas que podem ficar enterradas por dias etodavia vivem sem respirar. Para alcanar o sutil devemos servir-nos do grosseiro e caminharvagarosamente para o mais sutil, at conseguirmos nosso objetivo.

    Pranayama, realmente, significa controlar o movimento dos pulmes, movimento associado aoalento. No que a respirao o produza; ao contrrio, ele produz a respirao. Esse movimento puxao ar para dentro, como se fosse uma bomba, O prana move os pulmes; o movimento dos pulmesbombeia o ar para dentro. Portanto, pranayama no respirao, mas controle do poder muscularque move os pulmes. Esse poder, transmitido atravs dos nervos aos msculos e destes aospulmes, fazendo-os mover de uma certa maneira, o prana, que buscamos controlar atravs depranayama. Quando esse prana for controlado, constatamos imediatamente que poderemoscontrolar todas as outras aes de prana no corpo. Vi, pessoalmente, homens que controlaram quasetodos os msculos do corpo e por que no? Se posso controlar alguns msculos, por que no todosos msculos e nervos do corpo? O que h de impossvel nisso? Hoje em dia, perdemos o controle e omovimento tornou-se automtico. No podemos mover as orelhas, vontade, mas sabemos que osanimais o fazem. No temos esse poder porque no o exercitamos.

    Tambm sabemos que movimentos que se tornaram latentes podem manifestar-se. Pelo trabalhorduo e prtica, certos movimentos corporais que esto fora de nosso controle podem serperfeitamente dominados. Assim raciocinando, encontramos que no de todo impossvel, mas aocontrrio, muito provvel, que cada parte do corpo pode ser mantida sob perfeito controle, o que o

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  • yogui consegue atravs de pranayama.

    Talvez alguns de vs lestes que no pranayama, durante a inspirao, deveis encher vosso corpointeiro com prana. Naturalmente, desejareis saber como isso pode ser feito. Ai existe uma falha, aotraduzir-se a palavra prana por alento. Cada parte do corpo pode ser enchida com prana, a foravital; quando formos capazes de faz-lo, poderemos controlar o corpo inteiro. Toda enfermidade edebilidade do corpo sero inteiramente vencidas. No apenas isso. Seremos capazes tambm decontrolar o corpo dos outros. Tudo contagioso neste mundo bom ou mau. Se vosso corpo estiverem certo estado de tenso, ter tendncia a motivar a mesma tenso em outros. Se sois fortes esaudveis, aqueles que vivem perto de vs tambm tero tendncia a se tornar fortes e saudveis;porm, se vs estiverdes doentes e fracos, aqueles que vos cercam tero tendncia a absorver omesmo estado. Quando uma pessoa tenta curar outra, o primeiro passo simplesmente procurartransferir-lhe sua prpria sade. E a forma primitiva da arte de curar. Consciente ouinconscientemente, a sade pode ser transmitida. Um homem muito forte, vivendo com um fraco,far este ltimo sentir-se um pouco mais forte, sabendo-o ou no. Quando feita conscientemente estaao se torna mais rpida e mais eficaz. H tambm os casos em que uma pessoa, ainda que nomuito saudvel, pode, entretanto, transmitir sade a outra. porque a primeira tem um pouco maisde controle sobre seu prana, e, temporriamente o estimula a um determinado estado de vibrao,transmitindo-o outra.

    Conhecem-se casos onde este processo foi executado distncia. Mas na realidade, no h distnciaque admita interrupo. Onde est a distncia com tais interrupes? H algum vazio entre vs e osol? O que h uma massa contnua de matria, o sol sendo uma parte e vs, outra. Existe algumalacuna entre uma parte de um rio e outra? Se no h, por que no se pode transmitir qualquerfora? No h razo para no poder. Os casos de cura distncia so perfeitamente verdadeiros. Oprana pode ser transmitido a uma distncia muito grande; mas para cada caso genuno, h umacentena de fraudes. Este processo de cura no to fcil como parece. Nos casos mais comuns, oscuradores, simplesmente, tiram vantagem do estado naturalmente saudvel do corpo humano. Oalopata vem, trata os enfermos de clera e lhes d seus medicamentos; o homeopata tambmprescreve seus remdios e talvez cure mais que o alopata, porque o homeopata no perturba seuspacientes, mas permite natureza lidar com eles. O curador pela f cura ainda mais, porque traz afora de sua mente sobre o paciente e nele desperta, pela f, o prana adormecido.

    Os curadores pela f cometem, sempre, o erro de pensar que a f que cura diretamente. Porm, af, sozinha, no cura. H doenas em que o pior sintoma o paciente no pensar que est doente.Essa f tremenda do paciente , em si mesma, um sintoma da doena e, geralmente, indica que elevai morrer em breve. Em tal caso, o principio de que a f cura, no se aplica. Se somente a fcurasse, tais pacientes tambm seriam curados. E o prana que, realmente, faz a cura, O homem dealma pura, que controlou o prana, tem o poder de lev-lo a um determinado estado de vibraotransmissvel a outros, provocando neles vibrao similar. Vemos isso em nossas aes dirias. Estoufalando convosco. O que procuro fazer? Em realidade, estou trazendo minha mente a um certoestado de vibrao, e quanto mais conseguir faz-lo, tanto mais sereis afetados pelo que eu digo.Todos sabeis que quando sinto mais entusiasmo, gozais da conferncia muito mais, e quando estoumenos entusiasmado, sentis falta de interesse.

    Os lderes da Humanidade, dotados de gigantesco poder de vontade, impulsionam seu prana a umaltssimo estado de vibrao; e esse prana to forte e poderoso que afeta outros num momento,milhares so atrados para eles, e metade do mundo pensa como eles. Os grandes profetas do mundotinham o mais maravilhoso controle do prana e tremenda fora de vontade; haviam trazido seu pranaao mais elevado estado de vibrao, o que lhes dava o poder de sacudir o mundo. Toda manifestaode poder procede desse controle. Os homens podem desconhecer o segredo, mas esta a explicao.

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  • s vezes, em nosso prprio corpo, o suprimento de prana gravita mais ou menos em torno dedeterminada parte; o equilbrio de prana se rompe. Manifesta-se, ento, o que chamamos doena.Eliminar o prana suprfluo ou suprir o que falta, curar a doena. Perceber quando h mais oumenos prana num ponto do corpo, faz tambm parte de pranayama. A capacidade de percepo damente se tornar to intensa, que sentir que h menos prana no artelho ou no dedo, do que deviahaver, e possuir o poder de suprir o prana que falta. Estas so algumas das vrias funes depranayama. Devem ser aprendidas vagarosa e gradualmente; como vedes, o grande objetivo de Raja-Yoga , realmente, ensinar a controlar e a dirigir o prana, de diferentes maneiras. Quando umhomem concentra suas energias, domina o prana que est em seu corpo. Quando se medita, tambmse exerce controle de prana.

    Num oceano h enormes ondas, como montanhas, tambm ondas menores e ainda menores, atborbulhas; mas atrs de todas est o oceano infinito. O oceano conecta-se com a borbulha, de umlado, e com a enorme vaga do outro. Um homem pode ser uma onda gigantesca, e outro, umapequena borbulha, porm cada qual est conectado com o infinito oceano de energia, heranacomum de toda criatura. Onde haja vida, o celeiro de energia infinita est por detrs, Comeandocomo simples fungo, diminuto, borbulha microscpica, e por todo tempo suprindo-se daquela infinitafonte de energia, uma forma se transforma vagarosa, porm firmemente, at que, com o correr dotempo, torna-se uma planta, depois um animal, um homem, e por fim Deus. Isso atingido atravsde milhes de eons. Mas que o tempo? Um aumento de velocidade, um aumento de luta, podemcobrir o abismo do tempo. O que naturalmente leva muito tempo para ser realizado, pode-seencurtar pela intensidade da ao, diz o yogui. Uma pessoa pode continuar vagarosamente a extrairesta energia da massa infinita que existe no universo, entretanto levar centenas de milhares deanos para se tornar um deva, e ento, talvez cinco centos de milhares para elevar-se ainda mais alto,e qui cinco milhes de anos para se tornar perfeito. O tempo se encurtar se houver crescimentorpido. Por que no possvel, com esforo bastante, alcanar esta perfeio em seis anos ou seismeses? No existe limite, mostra-o a razo. Se uma locomotiva, com certa quantidade de carvo,desenvolve duas milhas por hora, percorrer a mesma distncia em menos tempo com maiorsuprimento de carvo. De igual modo, por que a alma, intensificando sua ao, no alcana aperfeio nesta mesma vida? Todos os seres atingiro, por fim, aquela meta, ns o sabemos. Mas,por que esperar tantos milhes de eons? Por que no atingi-la imediatamente, ainda neste corpo,com esta forma humana? Por que no realizar esse ilimitado conhecimento, esse poder infinito,agora?

    O ideal do yogui, toda a cincia de Yoga, so dirigidos a ensinar a Humanidade como, intensificandoo poder de assimilao, encurtar o tempo para realizar a perfeio, ao invs de avanarvagarosamente, de etapa em etapa, aguardando que toda a raa humana se tenha tornado perfeita.Todos os grandes profetas, santos e videntes do mundo o que fizeram? Durante uma existnciahumana, viveram a vida inteira da Humanidade, atravessaram todo o imenso perodo de temponecessrio para que o homem comum chegue perfeio. Em apenas urna vida tornaram- seperfeitos; no pensavam outra coisa, no viveram um momento que fosse para outra idia, e assim ocaminho encurtou-se, para eles. este o significado de concentrao: intensificar o poder deassimilao, encurtando o tempo. A Raja-Yoga a cincia que nos ensina corno alcanar o poder deconcentrao.

    O que pranayama tem a ver com o espiritismo? O espiritismo tambm uma manifestao depranayama. Se verdade que os espritos dos mortos continuam a existir e que apenas no podemosv-los, mui provvel que haja centenas e milhes deles ao nosso redor, que no conseguimos ver,sentir ou tocar. Podemos estar continuamente passando e repassando atravs de seus corpos, e elesno nos vm ou sentem. plano dentro de plano, universo dentro de universo. Temos cinco sentidose representamos prana em um certo estado de vibrao. Todos os seres em idntico estado de

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  • vibrao vm-se uns aos outros; mas os seres que representam prana num estado vibratriosuperior, no sero vistos. Aumentando a intensidade de uma fonte luminosa, deixaremos de v-la,mas existem seres com olhos to poderosos que a podero ver. Se as vibraes forem muito baixas,tambm no veremos a luz, porm h animais, como os gatos e as corujas, que podero v-la. Nossacapacidade visual apenas um plano das vibraes do prana Tomemos a atmosfera, por exemplo:acha-se constituda de camada sobre camada: as camadas mais prximas da terra so mais densasque as mais afastadas, e conforme se vai mais para cima, a atmosfera se torna mais e mais fina. Outomemos o oceano: quanto mais fundo, mais aumenta a presso da gua, e os animais que vivem nofundo do mar nunca sobem tona, porque se despedaariam.

    Pensemos no universo inteiro como um oceano de ter, vibrando sob a ao de prana e consistindode plano aps plano em vrios graus de vibrao. Nos mais externos, as vibraes so maisvagarosas, e nos mais prximos do centro, so mais rpidas. Pensemos numa coisa inteira, como umcrculo, centro do qual a perfeio. Quanto mais longe estivermos do centro, mais vagarosas so asvibraes. A matria o plano mais externo; a seguir vem a mente; e o Esprito o centro. Agora,torna-se claro que aqueles que vivem num certo plano de vibrao tero o poder de reconhecer-seuns aos outros, mas no conhecero os que esto acima ou abaixo. Todavia, da mesma forma quecom o microscpio e o telescpio podemos aumentar o campo de nossa viso, similarmente, pelayoga, podemos transportar-nos ao estado de vibrao de outro plano e saber o que se passa ali.

    Suponhamos que esta sala esteja cheia de seres que no vemos. Eles representam prana num, certoestado vibratrio, enquanto ns representamos outro. Suponhamos que eles representem um estadomais rpido e ns, um mais lento. Prana o material do qual eles se compem, o mesmo que ns.Somos todos partes do mesmo oceano de prana, diferindo apenas na intensidade de vibrao. Se eupuder atingir um estado vibratrio mais intenso, este plano mudar imediatamente para mim. Nomais vos verei; eles aparecero. Alguns de vs, talvez saibam que isso exato. Todo este trazer amente a um estado superior de vibrao est includo num s vocbulo, em Yoga: samadhi. Todosesses estados de vibrao superior, vibraes supraconscientes da mente, so indicados por essanica palavra: samadhi; e os estados inferiores de samadhi nos do vises desses seressobrenaturais. Na espcie superior de samadhi vemos a coisa real, vemos a substncia de que secompem todas as espcies de seres. Conhecido um pedao de argila, conheceremos todos osobjetos feitos de argila, no universo.

    Vemos assim que pranayama inclui tudo o que verdadeiro, at no espiritismo. Similarmente,descobrireis que onde alguma seita ou grupo de pessoas, estejam tentando descobrir algo oculto,misterioso, escondido, na realidade praticam alguma espcie de yoga, buscando controlar o prana.Descobrireis, tambm, que onde houver qualquer exibio extraordinria de poder, manifestaode prana. Mesmo todas as cincias fsicas podem ser includas em pranayama O que move alocomotiva a vapor? O prana, agindo atravs do vapor, O que so todos os fenmenos deeletricidade, seno prana? O que a cincia fsica? A cincia de pranayama, por meios externos. Oprana, manifestando-se como poder mental, s pode ser controlado por meios mentais. A parte depranayama que procura controlar as manifestaes fsicas do prana por meios fsicos denominadacincia fsica, e a parte que se prope o controle das manifestaes do prana como fora mental, pormeios mentais, chama-se Raja-Yoga.

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  • O Prana PsquicoDe acordo com os yoguis h duas correntes nervosas na coluna vertebral: Pingala e Irha, e um canaloco, Sushumna, que percorre a medula espinal, Na parte inferior do canal est o que os yoguisdenominam o ltus da Kundalini. Descrevem-no como triangular. Nele, falando a linguagemsimblica dos yoguis, est enroscado o poder chamado Kundalini. Quando Kundalini desperta, foraa passagem atravs do canal oco; e, conforme sobe, passo a passo, por assim dizer, camada apscamada da mente desabrocha, e muitas vises diferentes e poderes maravilhosos chegam ao yogui.Ao atingir o crebro, faz com que o yogui se torne perfeitamente desligado do corpo e da mente; aalma realiza sua liberdade.

    Sabemos que a medula espinal tem uma forma peculiar. Tomando o nmero oito, horizontalmente,veremos duas partes, ligadas no meio. Se empilharmos uma poro de oitos, um sobre o outro,teremos uma representao da medula. O lado esquerdo irha, o direito, Pingala, e o canal oco quepassa pelo centro Sushumna. Onde a medula termina em algumas das vrtebras lombares, umtecido fibroso sutil projeta-se para baixo, e o canal passa at por essa fibra, somente muito mais fino.O canal fechado na extremidade inferior, situada prxima do que se chama o plexo sacro, que, deacordo com a fisiologia moderna, possui forma triangular. Os diferentes plexos, que tm seuscentros no canal espinal, podem perfeitamente ser o que os yoguis chamam ltus.

    O yogui descreve diversos centros, comeando com o Muladhara, o bsico, e terminando com oSahasrara, o ltus de mil ptalas, no crebro. Assim, se tomarmos os diferentes plexos, comorepresentando esse ltus, a idia dos yoguis pode ser facilmente explicada na linguagem dafisiologia. Sabemos que h duas espcies de ao nas correntes nervosas: uma aferente, outraeferente; uma sensitiva, a outra motora; uma centrpeta, outra centrfuga. Urna leva as sensaes aocrebro, a outra, do crebro s partes mais externas do corpo. Em ltima instncia, essas vibraesesto todas conectadas com o crebro.

    H outros fatos que devemos mencionar, a fim de tornar mais clara a explicao que vamos dar. Amedula espinal, termina numa espcie de bulbo, que no est fixado no crebro, mas flutua numlquido, de forma que se a cabea sofrer um golpe, a fora deste ser amortecida pelo liquido e noofender o bulbo. Este um fato muito importante, de que devemos nos lembrar. Devemos tambmrecordar que, de todos os centros, trs so particularmente importantes: o Muladhara (o bsico), oSahasrara (o ltus de mii ptalas no crebro), o Manipura (o ltus do umbigo)

    Tomemos, a seguir, um fato da fsica. Ouvimos falar de eletricidade e das outras vrias forasligadas a ela, O que a eletricidade, ningum sabe, mas sabe-se que uma espcie de movimento.H diversos movimentos no universo, O que os diferencia da eletricidade? Suponhamos que estamesa se move o que suas molculas tambm o faam, em diferentes direes; mas movimentando-sena mesma direo, esse movimento ser eletricidade. A eletricidade se manifesta quando asmolculas de um corpo se inovem numa nica direo. Se, numa sala, todas as molculas do ar sedeslocarem em uma s direo, o aposento se converter cm uma gigantesca bateria eltrica.

    Ainda no tocante fisiologia, devemos tambm nos lembrar que o centro nervoso, regulador dosistema respiratrio, tem uma ao de controle sobre todo o conjunto de transmisses nervosas.Agora sabemos por que a respirao rtmica deve ser praticada. Em primeiro lugar, ela imprime atodas as molculas do corpo, a tendncia de se moverem na mesma direo. Quando a mente, que distrada por natureza, torna-se concentrada e assim convertida em forte vontade, tambm ascorrentes nervosas transformam se num movimento similar eletricidade. Pois est provado que osnervos mostram polaridade sob a ao de correntes eltricas, o que indica que a vontade,transformada em corrente nervosa, apresenta-se como algo semelhante eletricidade. Portanto,

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  • quando todos os movimentos do corpo se tornarem perfeitamente rtmicos, o corpo ficatransformado em enorme bateria de vontade.

    Reproduo simblica de Kundalinisubindo atravs os diferentes centrosno Sushumna, at o Ltus de MilPtalas no crebro.

    Esta tremenda vontade exatamente o que o yogui deseja obter. Eis a explicao fisiolgica depranayama, que tende a trazer ao rtmica no corpo, ajudando-nos, atravs do centro respiratrio, acontrolar os outros centros, O objetivo de pranayama despertar o poder chamado Kundalini,enroscado no Muladhara.

    Tudo o que vemos, imaginamos ou sonhamos, percebemo-lo no espao, o espao ordinrio, chamadomahakasa, ou espao fsico. Ao ler os pensamentos de outras pessoas ou ao perceber objetos supra-sensrios, o yogui os v numa espcie diferente de espao, chittakasa, o espao mental. Quando apercepo se tornou sem objeto e a Alma brilha em Sua prpria natureza, temos Clzi1csa, oespao-Conhecimento. Quando Kundalini despertada e penetra no canal de Sushumna, todas aspercepes se processam no espao mental, e quando ela atinge a extremidade do canal que se abreno crebro, a percepo sem objeto ocorre no espao-Conhecimento.

    Voltando analogia da eletricidade, encontramos que um homem somente pode enviar corrente aolongo de um fio, porm a natureza no tem necessidade de fio para enviar suas formidveiscorrentes, o que prova que o fio no realmente necessrio; smente, somos incapazes de passarsem ele, obrigando-nos a utiliz-lo. Semelhantemente, todas as sensaes e movimentos do corpo

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  • so enviadas ao crebro, dai partindo, atravs dos fios das fibras nervosas. Os feixes de fibrassensitivas e motoras da medula espinal so Irha e Pingala dos yoguis, os canais principais por ondecirculam as correntes aferentes e eferentes. Por que a mente no envia notcias, sem fio, ou reagesem ele? Isso feito na natureza e o yogui afirma que, se conseguirmos faz-lo, livrar-nos-emos daservido da matria. Como podemos realiz-lo? Se pudermos fazer com que a corrente passe atravsdo Sushumna, o canal no centro da coluna espinal, teremos o problema resolvido. A menteconfeccionou essa malha, que o sistema nervoso, e deve romp-la, a fim de no necessitar de fiospara atuar. Somente ento todo o conhecimento nos vir desvanece a escravido ao corpo. Eisporque to importante obtermos o controle do Sushumna. O yogui diz que, se conseguirmos enviara corrente mental atravs desse canal oco, independentemente de quaisquer fibras nervosas quefaam o papel de fios, solucionamos o problema. Tambm ele declara que isso pode ser feito. Naspessoas comuns, o Sushumna fechado na extremidade inferior, o que evita a passagem dequalquer corrente. Os yoguis propem uma prtica pela qual esse canal pode ser aberto, deixandopassar as correntes nervosas, livremente.

    Quando uma sensao transmitida a um centro, este reage. A reao, nos centros automticos,segue-se o movimento e nos centros conscientes, primeiro a percepo e depois o movimento. Todapercepo uma reao ao externa. Como, ento, surgem as percepes, nos sonhos? Nointervm qualquer ao externa.

    As sensaes devem, entretanto, estar armazenadas em algum lugar. Por exemplo, vejo uma cidade.Minha percepo provm da reao s sensaes produzidas pelos objetos externos que. compemaquela cidade. Isto , um certo movimento nas molculas cerebrais foi provocado pelo movimentodos nervos aferentes, que, por sua vez, haviam sido excitados pelos objetos externos situados nacidade. Agora, mesmo depois de muito tempo, possa me recordar da cidade. Os sonhos soexatamente o mesmo fenmeno, apenas em forma mais suave. De onde vem, ento, a ao quemotivou, no crebro, as formas mais suaves de vibraes similares? No certamente das sensaesprimrias. Portanto, as sensaes devem ter sido enroladas em algum lugar, e, por sua. ao,provocaram a reao mais atenuada que chamamos percepo no estado de sonho.

    Ora, o centro onde todas essas sensaes residuais esto, por assim dizer, armazenadas, chamadoMuladhara, ou receptculo- raiz, e energia enrolada de ao, chamamos Kundalini, a enrolada.E muito provvel que a energia motriz residual esteja tambm em reserva no mesmo centro, pois,aps um estudo profundo ou meditao intensa sobre objetos externos, a parte do corpo onde estsituado o Muladhara provavelmente o plexo sacro se aquece. Se esta energia enroscada fordespertada, tornada ativa e conduzida, conscientemente, atravs do Sushumna, desencadear-se-uma reao tremenda, medida que ela age sobre centro aps centro. Quando uma diminuta fraode energia viaja ao longo de uma fibra nervosa e provoca uma reao dos centros, a percepo umsonho ou uma imaginao. Mas quando, pelo poder de longa meditao interna, a vasta massa deenergia armazenada circula ao longo do Sushumna e toca os diferentes centros, a reao formidvel, imensamente superior reao do sonho ou da imaginao, imensamente mais intensaque a reao da percepo sensorial: a percepo supra-sensria. E quando essa energia alcana ametrpole de todas as sensaes, o crebro, o crebro inteiro, por assim dizer, reage, e o resultado o brilho magnfico da iluminao, a percepo do Eu Superior. Conforme a fora Kundalini passa decentro a centro, as camadas da mente se abrem, por assim dizer, uma aps outra, e o yogui percebeo universo em sua forma sutil ou causal. Somente ento, as causas do universo, tanto como sensaoe reao, so conhecidas como tais; da vem todo o conhecimento. Ao conhecimento das causas,segue-se, certamente, o conhecimento dos efeitos.

    Despertar Kundalini , pois, o nico meio de atingir a sabedoria divina, a perceposuperconsciente, a realizao do Esprito. O despertar pode surgir de vrias formas: pelo amor a

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  • Deus, pela graa de sbios que alcanaram a perfeio, ou atravs do poder da vontade analtica dofilsofo. Onde tenha havido qualquer manifestao do que, geralmente, chamado podersobrenatural ou sabedoria, ali, urna pequena corrente de Kundalini deve ter encontrado o caminhopara o Sushumna. Porm, na grande maioria desses casos, as pessoas, sem o saber, tropearam emalguma prtica que tenha liberado uma diminuta poro da Kundalini enroscada. Toda adoraoreligiosa, consciente ou inconscientemente, leva a esse resultado. O homem que cr que suas precesesto sendo atendidas, ignora que a satisfao veio de sua prpria natureza, que, pela atitudemental da orao, ele conseguiu despertar um pouquinho desse infinito poder que est enroscadodentro dele mesmo. Portanto, aquilo que os homens, ignorantemente, adoram sob vrios nomes,atravs do medo e da tribulao, o yogui declara ao mundo que o poder real enrolado dentro detodos os seres, a Me de eterna felicidade. E a Raja-Yoga a cincia da religio, a explicaoracional de toda adorao, de toda prece, de todas as formas, cerimnias, e milagres.

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  • O Controle do Prana PsquicoEstudaremos agora os exerccios em pranayama, Vimos que o primeiro passo, de acordo com osyoguis, o controle do movimento dos pulmes. O que queremos, sentir os movimentos mais finosque se processam no corpo. Nossas mentes tornaram-se exteriorizadas e perderam de vista osmovimentos sutis do interior. e formos capazes de senti-los, podemos comear, tambm, a control-los. As correntes nervosas fluem atravs de todo o corpo, trazendo vida e vitalidade a cada msculo,mas no as sentimos. O yogui afirma que poderemos senti-las. Como? Controlando o movimento dospulmes. Fazendo-o, durante tempo suficiente, estaremos aptos para controlar os movimentos maisfinos do corpo.

    Vamos agora aos exerccios em pranayama. Sentai-vos direito o corpo deve ser conservado reto Amedula espinal conquanto no ligada coluna vertebral, est, todavia, dentro dela. Se vos sentaisdesleixadamente perturbareis a medula assim deixai-a livre Sempre que vos sentais de maneiradisplicente e tentais meditar vs vos prejudicais As trs partes do corpo o peito o pescoo e acabea devem estar sempre retos numa linha s. Com um pouco de pratica isto ser to fcilquanto respirar Depois vem o controle dos nervos. Dissemos que o centro nervoso que regula osrgos respiratrios exerce uma espcie de efeito controlador sobre os outros nervos eis porque arespirao rtmica e necessria A maneira pela qual geralmente respiramos no deve ser chamadarespirao de forma alguma e muito irregular Alem. disso existem diferenas naturais entre arespirao das mulheres e a dos homens

    A primeira lio . respirar de maneira ordenada, tempo igual tanto na inspirao como naexpirao. isto harmonizar o sistema. Praticando assim durante algum tempo, podereis repetir, coma respirao, a palavra OM ou qualquer outra palavra sagrada. Na ndia, ao invs de contar uni,dois, etc., costumamos usar palavras simblicas, para medir os perodos de inalao e exalao. Eisporque, ao praticar, deveis repetir mentalmente uma palavra sagrada. Que a palavra flua paradentro e para fora, com o alento, ritmicamente; ireis notando que o corpo inteiro se vai tornandortmico. Gozareis ento de um descanso real. Comparado com ele, o sono no representa descansoalgum. Uma vez conseguido, os nervos mais fatigados se acalmam. Sabereis ento que, antes, nohaveis, realmente, descansado.

    A mudana de expresso, no rosto, o primeiro efeito desta prtica. Desaparecero as linhas duras;com o pensamento tranqilo, a calma se espalha pelo rosto. Em seguida vem a beleza; da voz. Jamaisvi um yogui com voz rouquenha. Tais sinais chegam aps alguns meses de prtica.

    Depois de praticarmos a respirao mencionada acima durante uns poucos dias, devemos abordaruma forma mais elevada. Vagarosamente, enchei os pulmes, fazendo o alento passar atravs danarina esquerda, concentrando ao mesmo tempo a mente em Irha, a corrente nervosa esquerda.Estareis, por assim dizer, enviando a corrente nervosa para baixo, pela coluna espinal, fazendo-abater violentamente no ltimo plexo, o ltus bsico, ou assento de Kundalini, de forma triangular.Mantende a a corrente, por algum tempo. A seguir imaginai que estais gradualmente puxando acorrente nervosa, com o alento, atravs do outro lado, Pingala; ento, exalai bem devagar, atravsda narina direita. Encontrareis nisso alguma dificuldade. A maneira mais fcil tapar a narinadireita com o polegar e inalar lentamente pela esquerda; depois fechar ambas com o polegar e oindicador, imaginando enviar a corrente para baixo, tocando a base do Sushumna; depois, retirai opolegar, deixando o alento escapar atravs da direita. A seguir inalai, tambm vagarosamente peladireita, conservando a outra fechada com o indicador; ento fechai ambas, como antes.

    Os Hindus realizam esta prtica de uma forma bastante difcil para as pessoas deste pais, porqueesto habituados a faz-lo desde a infncia e seus pulmes esto preparados. Aqui, basta comear

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  • com quatro segundos e aumentar paulatinamente. Inspirai por quatro segundos, retendo dezesseissegundos, exalai em oito segundos. Isto completa um pranayama. Ao mesmo tempo, pensai no ltusbsico, de forma triangular; concentrai a mente nesse centro. A imaginao vos ajudar bastante.

    A respirao seguinte consiste em inalar vagarosamente e logo aps exalar, lentamente, parandoento a respirao de todo, utilizando os mesmos nmeros. A nica diferena que no primeiro casoo alento foi retido e, no segundo, o impedimos de penetrar. Esta ltima forma mais fcil, Oexerccio pelo qual o alento retido nos pulmes, no deve ser praticado freqentemente. Fazei-osomente quatro vezes pela manh e quatro vezes tarde. Depois, vagarosamente, aumentareis otempo e o nmero. Vereis que sois capazes de faz-lo e sentireis prazer nisso. Cuidadosa eprudentemente, aumentai o nmero, medida que sentis capacidade, para seis ao invs de quatro. Aprtica irregular vos ser prejudicial.

    Dos trs processos acima descritos para o controle do prana, e primeiro e o ltimo no so nemdifceis, nem perigosos. Quanto mais praticardes o primeiro, mais calmos sereis. Repeti OM, medida que respirais; podeis pratic-lo mesmo quando estiverdes sentados, trabalhando. Isso vosfar uni grande bem. Algum dia, se praticais tenazmente, Kundalini ser despertada. Praticandouma ou duas vezes por dia, apenas uma pequena calma de corpo e mente se far sentir, e uma belavoz. Kundalini despertar s- mente para os que puderem ir alm, na prtica. Ento, toda a naturezase transformar e abrir-se- a porta do conhecimento. No mais necessitareis recorrer aos livros;vossa prpria mente se tornar vosso livro, contendo infinito conhecimento.

    J falei das correntes Irha e Pingala, fluindo atravs ambos lados da coluna espinal, e tambm doSushumna, o canal no centro d. medula. Os trs esto presentes em todo animal qualquer criaturaque tenha uma coluna espinal. Mas os yoguis afirmam que nos seres comuns, o Sushumna estfechado e sua ao no evidente, enquanto que nos outros dois, sua ao leva fora s diferentespartes do corpo.

    O Sushumna abre-se smente para o yogui. Quando a corrente comea a elevar-se pelo Sushumna,vamos alm dos sentidos; nossa mente se torna supersensria, supraconsciente; vamos alm mesmodo intelecto; l onde no chega o raciocnio, Abrir o Sushumna o objetivo primordial do yogui. Deacordo com ele, ao longo do Sushumna esto alinhados os centros, ou ltus, na linguagem figuradada Yoga. O mais inferior est situado na extremidade da medula e chamado Muladhara, o seguinte,mais alto, chamado Svadhisthana, o terceiro Manipura, o quarto Anahata, o quinto Visuddha, osexto Ajna, e o ltimo, que est no crebro, chamado Sahasrara ou o ltus de mil ptalas. Todaenergia deve ser levantada de seu assento no Muladhara e levada ao Sahasrara.

    Os yoguis afirmam que de todas as energias do corpo humano, a mais elevada o que chamam olas.Olas est armazenada no crebro, e quanto mais ojas tem uma pessoa, tanto mais poderosa, maisintelectual, e mais espiritualmente forte. Um homem pode expressar belos pensamentos em formosalinguagem, mas no consegue impressionar as pessoas. Outro, pode no expressar belamente seuspensamentos, entretanto suas palavras encantam e cada movimento seu poderoso. Este o poderde ojas.

    Agora, em cada homem h armazenada, mais ou menos, ojas, A mais alta forma de todas as forasque operam no corpo ojas, Lembrai-vos que se trata somente de transformao de uma fora emoutra. A mesma fora que est operando fora de ns como eletricidade ou magnetismo, sertransformada em fora interna; a mesma fora que opera como energia muscular ser transformadaem ojas. Os yoguis dizem que aquela parte da ener