12 - gestação e personalidade

2

Click here to load reader

Upload: micas-cullen

Post on 06-Jul-2015

363 views

Category:

Documents


2 download

TRANSCRIPT

Page 1: 12 - Gestação e personalidade

De que forma os pais podem influenciar a personalidade do filho desde a gestação?

Os caminhos da afectividade, que são permeados pela rejeição e sentimento de

culpa, vivenciados numa gravidez indesejada, influenciam no vínculo mãe-filho,

tendo o feto, o bebé e o filho participação importante no desencadeamento e

intensificação dessa a partir da forma como a mãe interpreta seus comportamentos.

Assim, constatou-se que não apenas o trauma do nascimento marca

inconscientemente o indivíduo para sempre, como também o modo como o feto

percebe suas experiências pré-natais, vão se constituir no modelo das vivências

emocionais no decorrer de sua vida aérea e, mais imediatamente, na primeira

infância.

Podemos então dizer que, certamente, a vida psíquica não se inicia com o

nascimento, porém é uma continuidade da vida intra-uterina.

Desta feita, a visão que se tinha de que o útero era um lugar silencioso, pois os

ruídos externos não chegavam até ele e que o feto era um ser passivo,

completamente dependente, foi derrubada ante o desenvolvimento tecnológico e

psicanalítico.

Sabe-se, inclusive, que as atividades executadas por ele não são sem sentido.

Por sua vez, a visão de útero também se modificou, pois o feto escuta a voz materna

e paterna, os sons internos e viscerais da mãe.

Muito mais que tudo isto, foi a compreensão adquirida que o feto sofre com a

influência das emoções maternas e que o levam a participar na manutenção e

determinação do final da gravidez, seja prematuramente, através do aborto ou

gravidez a termo.

Diante disto, se o nível de angústia e ansiedade da gestante tiver intensidade

muito elevada ou mesmo se sofrer traumas emocionais ou stress, crônico ou agudo,

há de desencadear grande sofrimento fetal, marcando-o profundamente, podendo

mesmo acarretar problemas orgânicos e psíquicos, com decréscimo de seu

desenvolvimento físico.

Apesar de não haver conexão direta entre o sistema nervoso materno e fetal,

emoções como ira, medo e ansiedade fazem com que o sistema nervoso autônomo

materno liberte certas substâncias químicas na corrente sanguínea, alterando a

composição do sangue materno e que, transpondo a barreira placentária

modificarão a bioquímica do ambiente intra-uterino onde está se desenvolvendo o

feto.

Na busca do alívio das tensões, desenvolvem-se mecanismos psíquicos de defesa e

que são expressos através de movimentações hiperativas do corpo. São reações

parecidas com as do recém-nascido em sofrimento que se contorce, grita, chora,

esperneia, para livrar-se do que lhe causa desespero. Ou, ao contrário, se a situação

estressante torna-se crônica, o feto "substitui" o mecanismo de defesa que não

percebe mais como aliviador de tensão, e ocorre a diminuição das atividades

motoras ou hipoatividade, que sugere a possibilidade de depressão e de decréscimo

de energia vital.

Page 2: 12 - Gestação e personalidade

Enquanto durar o distúrbio emocional da gestante, a atividade fetal continuará a

um nível elevado. Se forem distúrbios breves, geralmente o aumento da

irritabilidade fetal durará algumas horas.

Sendo o feto e o bebê a mesma pessoa, as características de personalidade, de

comportamento, de preferências e respostas do feto mantêm-se na vida pós-natal.

Ao reviver situações estressantes semelhantes às da vida fetal, inconscientemente

buscará o mesmo padrão de comportamento que apresentava na vida intra-

uterina, para o alívio das tensões.

Acredita-se, atualmente, que por meio de sinais materno-filiais, é firmado um

compromisso entre a mãe e a criança e que desencadeia o trabalho de parto.

Assim, se o feto encontra-se em contínuo e profundo sofrimento, percebido por ele

como ameaça de morte ou de aniquilamento, envia uma mensagem avisando-a que

não podendo suportar por mais tempo, vai ser necessária a separação.

Deste modo, pode ocorrer o parto prematuro através de problemas com a placenta,

por ser o lugar das trocas entre a mãe e seu filho, na quantidade do líqüido

amniótico, hipertensão arterial e outras ocorrências. As ameaças de aborto

também são compreendidas de formas diversas, porém sempre ligadas à história

da gestante, do casal e do filho.

Estas experiências são percebidas pelo feto como catastróficas, verdadeiras

ameaças de morte e depressivas.

A grande freqüência de sono durante a vida fetal demonstra a presença de

depressão psíquica e imobilidade física, que acarreta um desenvolvimento

inadequado dos músculos, podendo levar à hipotonia, que é o rebaixamento do

tônus muscular.

Assim, a movimentação do feto é um fator importantíssimo que transmite como a

gravidez está se processando e oferece elementos valiosíssimos sobre seu estado

emocional.

Daí ressaltarmos a importância das emoções maternas no período da gestação e o

quanto é primordial o ambiente imediato como rede de apoio, segurança e

continente das angústias e ansiedades maternas.

Deste modo, a qualidade do vínculo entre os parceiros, no momento da concepção e

durante a gravidez, é fundamental para o equilíbrio da relação mãe-bebê, uma vez

que o feto consegue captar os estados afetivos maternos tanto os de felicidade,

tranqüilidade e satisfação quanto os de choques emocionais, ansiedades, raiva,

depressão e stress.