110439157 quatro ramos do mabinogion texto anotado

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PREFÁCIO

I Que é o Mabinogion?

O título O Mabinogion foi usado pela primeira vez por Lady Charlotte 

Guest em sua tradução de doze contos medievais galeses publicada entre 1838 

e 1849.

A forma Mabinogion  surge no fim do conto  Pwyll, Príncipe de Dyfed 

(Ac yuelly y teruyna y geing hon yma o'r Mabynnogyon, “Aqui termina este 

ramo  do  Mabinogion”,   frase  que   também  encerra  os  demais  Ramos),  mas, 

comumente,   admite­se   que   o   sentido   do   termo  mabinogi,   na   origem 

significando apenas "infância", tenha depois sido ampliado para abranger um 

conto sobre a  infância de um herói  em geral.  Mabinogion  seria  o plural  de 

mabinogi.    

Antes das traduções de Lady Guest, somente os quatro primeiros dentre 

os doze contos eram conhecidos como Pedeir Ceinc y Mabinogi, "Os Quatro 

Ramos do Mabinogi". Desde então, a palavra Mabinogion tem sido usada como 

um termo conveniente para designar todos os contos, com exceção de  Hanes 

Taliesin, "A História de Taliesin". 

Os textos anônimos foram preservados no  Livro Branco de Rhyderch 

(Llyfr Gwyn Rhydderch), escrito entre 1300 e 1325, e no  Livro Vermelho de 

Hergest  (Llyfr Coch Hergest), escrito entre 1375 e 1425, embora fragmentos 

desses   contos   já   tenham   sido   encontrados   em   manuscritos   do   séc.   XIII   e 

acredite­se que tenham existido muito antes sob a forma   oral. A questão da 

data de composição do Mabinogion é importante, pois pode demonstrar que é 

anterior à  História dos Reis da Grã­Bretanha (Historia Regum Britanniae) de 

Geoffrey de Monmouth, sendo a evidência de que o folclore e a cultura galeses 

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seriam muito mais antigos e resistentes. 

O  Mabinogion,   desconhecido   fora   de   Gales   até   a   época   de   Lady 

Charlotte Guest, é uma parte da longa, consistente e gloriosa tradição da poesia 

galesa  que merece  ser  melhor  conhecida.  Mesclada  em seu contexto  está  a 

magia dos druidas, esses misteriosos "sacerdotes" célticos que mantinham as 

antigas tradições e fizeram com que o  Mabinogion  sobrevivesse à  conquista 

saxônica e ao triunfo do cristianismo alcançado pela igreja romana e, depois, 

pela anglicana. 

II As lendas do Mabinogion

O  Mabinogion  propriamente  dito  consiste  de  quatro   lendas,   também 

chamadas Os Quatro Ramos do Mabinogion. Essas lendas são:

• Pwyll, Príncipe de Dyfed (Pwyll,  Pendeuic Dyuet,  Primeiro Ramo): 

durante   uma   caçada,   Pwyll   encontra  Arawn  (“Língua   Prateada”), 

Senhor   de  Annwn  (o   Outro   Mundo   da   tradição   céltica)   e,   como 

compensação por um insulto não intencional, oferece­se para trocar de 

lugar com Arawn e lutar contra seu inimigo Hafgan (“Verão Branco”). 

Pwyll passa um ano sob a forma de Arawn e ganha sua amizade graças 

a   suas   boas   maneiras   e   pelo   sucesso   em   sobrepujar   Hafgan,   assim 

obtendo o título de Penannwn  ("Senhor de Annwn"). Ele se casa com 

Rhiannon,   mas   somente   depois   de   derrotar   Gwawl,   o   antigo 

pretendente. O casal vive feliz até o nascimento de Pryderi.

• Branwen,   Filha   de   Llyr   (Branwen   uerch   Lyr,  Segundo   Ramo): 

Branwen casou­se com Matholwch, rei da Irlanda, e deu à luz Gwern, 

mas   os   irlandeses,   que   tinham   sofrido   um   grave   insulto   feito   por 

Efnyssien, meio­irmão de Branwen, quando a comitiva de Matholwch 

estava  na Grã­Bretanha,  vingaram­se obrigando Branwen a servir  na 

cozinha do castelo,  onde era agredida pelo cozinheiro.  Ela criou um 

pássaro   e   enviou   uma   mensagem   a   Bran,   seu   irmão,   rei   da   Grã­

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Bretanha,   que   veio   com   um   frota   para   resgatá­la.   Efnyssien   lançou 

Gwern   numa   fogueira   e   seguiu­se   uma   batalha   entre   britanos   e 

irlandeses; ela morreu de tristeza e foi supultada num "túmulo de quatro 

lados" nas margens do rio Alaw, em Anglesey. Seu mito, que tem uma 

forte   semelhança   com   o   de   Cordélia,   filha   de   Lear,   é   um   tipo   de 

Soberania,   como   fica   óbvio   quando   sua   história   é   investigada   com 

profundidade.  Quanto à   Irlanda,  ficaram vivas na ilha somente cinco 

mulheres grávidas, cujos filhos foram os fundadores dos Cinco Reinos.

• Manawyddan, Filho de Llyr (Manawydan uab Llyr, Terceiro Ramo): 

Manawyddan ap Llyr é mencionado no conto  Culhwch e Olwen como 

um seguidor de Arthur,  mas,  originalmente,  é  um deus  marinho que 

corresponde ao irlandês Mánannan mac Lir. No Mabinogion, é irmão de 

Bendigeid Fran  ("Bran, o Abençoado"), ficando sem terras depois da 

morte deste e tornando­se marido de Rhiannon. Ajudou a quebrar os 

encantamentos  lançados por Llwyd sobre Dyfed como vingança pelo 

tratamento   violento   dado   a   Gwawl   por   Pwyll,   primeiro   marido   de 

Rhiannon. Manawyddan é um homem engenhoso e um mestre artesão, 

capaz de ganhar seu sustento enquanto a terra está enfeitiçada. Como 

instrutor e homem de poder, ele fica no lugar do pai de Pryderi e herda 

as qualidades de Pwyll.

• Math, Filho de Mathonwy (Math uab Mathonwy, Quarto Ramo): o 

filho de Mathonwy é tio de Gwydion, Gilfaethwy e Arianrhod e irmão 

de Penardun. Ele era onisciente, possuindo, entre outras habilidades, o 

estranho dom de ouvir tudo que era dito em seus domínios tão logo as 

palavras fossem transportadas pelos ventos. Era muito sábio, um grande 

rei. Neste conto, ele somente pode viver enquanto seus pés estiverem no 

colo de uma virgem, Goewin,  a não ser em tempo de guerra.  Como 

Gwydion   provoca   uma   guerra   entre   Math   e   Pryderi,   Math   deixa­a 

temporariamente, sendo Goewin violada por Gilfaethwy, que nutria por 

ela uma paixão secreta. Para aliviar a vergonha da jovem, Math casa­se 

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com ela e pune seus sobrinhos, Gilfaethwy e Gwydion, transformando­

os   em   vários   animais.   É   com   a   ajuda   de   Gwydion   que   Math   cria 

Blodeuwedd   com   flores   como   noiva   para   Llew   Llaw   Gyffes,   seu 

sobrinho­neto.

 

Sete outros contos foram associados aos Quatro Ramos:

• O   Sonho   de   Macsen   Wledig:   um   imperador   romano,   Magnus 

Maximus (383­388 d. C.), conhecido na tradição galesa como Macsen 

Wledig. Geoffrey de Monmouth, que o chama Maximianus, diz que ele 

fez   de  Conan  Meriadoc  o  governante   da  Bretanha  Menor,   na   atual 

França. Neste conto,  o imperador sonha com uma mulher desconhecida 

por quem fica apaixonado. Por fim, mensageiros finalmente informam 

que  esta   realmente  existe  em  Cymru  (Gales),  de   forma que Macsen 

deixa  Roma   para   casar­se   com  ela.   Seu   nome   é   Elen.   O  Maximus 

histórico,  subjacente  à   lenda,   realmente  serviu na Grã­Bretanha,  mas 

levou muitas tropas da ilha em sua luta contra Gratianus, imperador do 

Ocidente,   assim  deixando  a  Grã­Bretanha   sem proteção.  Traços  dos 

fatos   permanecem   nas   lendas:   os   galeses   retiveram   seu   nome,   que 

aparece em várias genealogias de famílias nobres como uma conexão 

imperial.   Os   soldados   romanos   que   partiam   tomaram   esposas 

estrangeiras,  mas,  conta a  lenda,  cortaram suas  línguas para que não 

pudessem corromper o idioma britânico de seus filhos. Vemos assim 

como   é   antiga   e   poderosa   a   devoção   dos   Cymry  (galeses)   a   sua 

linguagem.    

• Lludd e Llefelys: Lludd é filho de Beli e irmão de Llefelys. Foi o rei da 

Grã­Bretanha que reconstruiu a cidade de Londres, cujo nome vem do 

rei:  Caer Lludd,  Caer London. Três pragas caíram sobre a ilha: uma 

raça   chamada  Coranianos  (genedyl   y   Coraneit,   “a   raça   dos 

Coranianos”),   que  podia   saber   tudo  que   era   dito;   um grito   que   era 

ouvido a cada Véspera de Maio e que fazia murcharem as  lavouras, 

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matava   os   animais   e   crianças   e   deixava   as   mulheres   estéreis   e   o 

desaparecimento  dos  mantimentos  do   rei.  Lludd  procurou   conselhos 

junto a  seu  irmão,  Llefelys,  que lhe disse que os Coranianos seriam 

vencidos  depois  de  beberem  uma   infusão  de   insetos   esmagados  em 

água; que o grito era provocado por dragões que seriam vencidos depois 

de se embebedarem com hidromel forte, sendo necessário enterrá­los 

exatamente no centro da Grã­Bretanha, e que o ladrão das provisões era 

um homem de poder capaz de lançar um feitiço de sono sobre a corte e, 

então, roubar toda a comida. Lludd venceu as três pragas e a paz da ilha 

foi restabelecida.    

• Culhwch e Olwen: Culhwch é o filho de Celyddon Wledig e sobrinho 

de Arthur. Sua mãe, Goleuddydd (“Dia Brilhante”), deu­o à luz depois 

de ficar apavorada com a visão de uma vara de porcos, de modo que ele 

foi   chamado  Culhwch,   ou   "Chiqueiro".   Seu   pai   casou­se   outra   vez 

depois da morte de Goleuddydd. A madrasta de Culhwch lançou um 

feitiço sobre ele para que não pudesse casar­se senão com  Olwen  (“a 

dos rastros brancos”), filha de Yspaddaden Pencawr (“espinheiro, chefe 

dos gigantes”), o gigante. Na corte de Yspaddaden, Culhwch recebeu 

trinta   e   nove  anoethu  ou   tarefas   impossíveis,   que   deveriam   ser 

cumpridas   antes   de   casar­se   com   Olwen,   todas   as   quais   foram 

cumpridas com a ajuda dos cavaleiros de Arthur. A principal tarefa era 

caçar o Twrch Trwyth, um javali gigante, para o que seria necessário o 

auxílio de vários cavalos específicos, cães de caça e homens, incluindo 

Mabon,   o   jovem   miraculoso,   cujo   encontro   é   narrado   nesse   conto. 

Outras missões incluem a viagem de Arthur ao Outro Mundo para obter 

alguns dos Objetos Sagrados, ou Treze Tesouros da Grã­Bretanha ­ um 

feito que é também relatado num poema galês do séc. IX, o  Preiddeu 

Annwn, "Os Espólios de Annwn", atribuído ao bardo Taliesin. O poder 

de Yspaddaden é vencido e Culhwch casa­se com Olwen.

• O Sonho de Rhonabwy:  Rhonabwy adormece a sonha que Arthur e 

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Owain estão jogando  gwyddbwyll  (um jogo de tabuleiro céltico) ante 

um campo de batalha. Durante o jogo, os cavaleiros de Arthur lutam 

com os corvos de Owain, mas os jogadores apenas continuam com seu 

passatempo, até que Arthur, impaciente por começar a perder, esmaga 

as peças. O jogo talvez simbolizasse uma batalha pela soberania.  

Os contos  Culhwch e Olwen  e  O Sonho de Rhonabwy  despertaram o 

interesse   dos   estudiosos   por   preservarem   tradições   mais   antigas   do   que   o 

material arturiano. A narração de  O Sonho de Macsen Wledig é uma história 

romântica sobre o imperador romano Magnus Maximus.

Três dos contos são versões galesas de romances arturianos que também 

aparecem no trabalho de Chrétien (ou Chréstien) de Troyes. Os críticos do séc. 

XIX acreditavam que os contos baseavam­se nos próprios poemas de Chrétien, 

mas as opiniões mais recentes inclinam­se a afirmar que as duas coleções são 

independentes, mas têm um ancestral comum: 

• A Dama da Fonte: Owain, inspirado pelo conto de Cynon (na tradição 

galesa, o filho de Clydno ­ um dos guerreiros de Arthur ­ e  amante de 

Morfudd, irmã gêmea de Owain), sai em busca do  Castelo da Fonte, 

que era guardado pelo Cavaleiro Negro. Ele atravessou o mais belo vale 

e viu um brilhante castelo numa colina.  Depois de entrar nesse lugar 

sobrenatural, Owain derrota o Cavaleiro Negro e casa com sua viúva. 

Após um começo difícil, ele vence seu ressentimento e guarda o reino 

até que sua sede por aventuras o faz partir, deixando para trás a esposa. 

Dama da Fonte é também o título da condessa misteriosa no Yvain, de 

Chrétien de Troyes.  

• Peredur, Filho de Efrawg: na mitologia galesa, Peredur era o sétimo 

filho de Efrawg e o único do sexo masculino a sobreviver. Seu pai e 

irmãos morreram antes que ele atingisse a maioridade. Isso não impediu 

Peredur   de   tornar­se   um   dos   cavaleiros   de   Arthur   e   suas   muitas 

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aventuras  formaram a base para o  Sir Percival  posterior.  Talvez  por 

causa de sua posição como sétimo filho,  Peredur era particularmente 

adepto  de  matar  bruxas,  que,   em Gales,   compareciam ao  campo  de 

batalha   trajando   armaduras   completas.   No   fim   de   seu   conto   no 

Mabinogion, Peredur enfrenta a “líder das bruxas” e, com sua espada, 

rompe elmo e armadura em duas partes, enquanto as demais feiticeiras 

fogem.  

• Gereint, Filho de Erbin: Gereint é o rei de Dumnonia (reino que, no, 

período pós­romano,  abrangia  Devon,  a  Cornualha  e  outras  áreas  do 

sudoeste da Inglaterra) cujas aventuras são contadas nesta narrativa. No 

romance  francês,  o  herói  deste  conto  é  Erec,  mas,  como este  não é 

comumente   conhecido   em   Gales,   substituíram­no   por   Gereint.   Este 

pode ser uma figura histórica, um primo de Arthur. Embora seja listado 

como   contemporâneo   desse   rei,   pode   ter   pertencido   a   uma   geração 

anterior, pois o conto O Sonho de Rhonabwy diz que Cadwy, seu filho, 

era um contemporâneo de Arthur. O nome do pai de Gereint é citado 

como Erbin, mas, na Vida de São Cyby, Erbin é chamado seu filho. Em 

Culhwch e Olwen, encontramos os nomes de dois de seus irmãos, Ermid 

e   Dywel.     Gereint,   suspeitando   que   sua   esposa   é   infiel,   força­a   a 

acompanhá­lo numa exaustiva jornada de aventuras para testar seu amor 

e  obediência  a  cada passo do caminho.  Como outras   fortes  heroínas 

célticas,   ela   suporta   calmamente   sua  provação,  permanecendo   leal   e 

amorosa   durante   todo   o   tempo.   Gereint   finalmente   sentiu   “duas 

tristezas”, do remorso por ter desconfiado de sua esposa  e por tratá­la 

tão mal.       

Lady   Guest   também   incluiu   em   sua   tradução   um   oitavo   conto 

(removido das traduções inglesas posteriores, que, no entanto, continuam a usar 

o termo Mabinogion), não encontrado nem no Livro Branco de Rhyderch, nem 

no Livro Vermelho de Hergest, mas em um manuscrito do séc. XVII:  

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• Taliesin – seu nome significa “Testa Brilhante”. Foi um bardo galês  e, 

de acordo com o mito,  a  primeira  pessoa a  adquirir  a  habilidade  da 

profecia.   Em   uma   versão   da   história,   ele   é   o   servo   da   feiticeira 

Cerridwen, uma deusa da fertilidade, mãe de Afagddu, o homem mais 

feio do mundo, e chamava­se  Gwion Bach. Cerridwen preparava uma 

beberagem  mágica  que,   depois   de  um ano   fervendo,   produziria   três 

gotas que dariam a quem as bebesse toda a sabedoria do mundo. Essa 

pessoa   conheceria   todos   os   segredos   do   passado,   do   presente   e   do 

futuro. Ela queria dá­las a Afagddu como compensação por sua feiúra. 

Enquanto Gwion Bach cuidava do fogo sob o caldeirão, uma parte do 

líquido quente caiu em seu dedo e ele a sorveu ao sentir a dor. Eram as 

três gotas da sabedoria.   Todo o líquido restante era veneno. A furiosa 

Cerridwen empregou todos os seus poderes mágicos para perseguir o 

menino. Durante a caçada, ele se transformou numa lebre, num peixe e 

num   grão   de   trigo,   que   Cerridwen,   metamorfoseada   em   galinha, 

engoliu, descobrindo­se então grávida. Mais tarde, Gwion, renascido de 

Cerridwen, foi jogado ao mar e apanhado numa armadilha para peixes, 

quando passou a chamar­se Taliesin por causa de sua testa brilhante.     

Os  Quatro   Ramos  são,   essencialmente,   histórias   medievais   e   seus 

personagens comportam­se, falam e vivem de modo muito semelhante a sua 

audiência  do   séc.  XIV.  Suas  maneiras   são   (em geral)   corteses   e   refinadas, 

invocam freqüentemente o deus cristão e suas roupas incluem brocados, sedas, 

toucados e outros itens medievais. Contudo, ainda que sejam produto de uma 

sociedade cristã da Idade Média, os  Quatro Ramos baseiam­se também numa 

visão de mundo profundamente pagã, proveniente de tradições e crenças das 

culturas neolíticas e da Idade do Bronze, bem como da Idade do Ferro céltica e 

da era romano­britânica.

O  Mabinogion  é  verdadeiramente uma peça encantadora da literatura 

galesa, que abre caminho a fantásticas narrativas dramáticas  capazes de encher 

a mente do leitor com a vibrante e imaginativa natureza do povo céltico. As 

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duras realidades históricas são transformadas por uma sensibilidade sonhadora, 

que submete a mente com um imaginário antigo e primitivo, verdadeiro para a 

percepção mítica dos celtas.  

III Sobre esta tradução

Os celtas são uma paixão antiga, que vem da infância, quando, aos sete 

ou oito anos, vi, pela primeira vez, em um livro de história, uma reprodução de 

uma página do famoso Livro de Kells. O fascínio por aquelas cores, curvas e 

espirais capazes de confundir os olhos foi imediato. Passei, desastradamente no 

começo,   a   copiá­las   e   criar   outros   padrões   de   inspiração   céltica   em   meus 

cadernos escolares no meio de aulas que me davam sono.

Embora desde pequeno fosse acostumado aos contos sobre os cavaleiros 

da Távola Redonda (que conheci de forma resumida numa edição do Tesouro 

da   Juventude  da   década   de   1920,   pertencente   a   uma   irmã   da   minha   avó 

materna), não podia de forma alguma imaginar que a imensa riqueza dos mitos 

célticos fosse tão estonteante quanto suas artes visuais. 

Derrotados em suas batalhas contra romanos e saxões, os celtas acharam 

nos mitos um local de refúgio onde seus velhos deuses, disfarçados de reis, 

cavaleiros e magos, encontraram abrigo seguro contra a passagem do tempo, 

atravessando  a   Idade  Média  e  chegando  à   era  dos  computadores   sem nada 

perderem de seu brilho e grandeza épica. 

Podemos   considerar  Os   Quatro   Ramos   do   Mabinogion  como   uma 

introdução ao imaginário  onírico dos celtas,  com suas muitas  referências  às 

crenças pré­cristãs: viagens ao Outro Mundo, contatos com seres sobrenaturais, 

montes e castelos encantados, caldeirões miraculosos, gigantes, metamorfoses 

mágicas   e  muitos  outros   elementos   ancestrais  que  permeiam  a  mente  mais 

recôndita do homem ocidental.

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Page 12: 110439157 Quatro Ramos Do Mabinogion Texto Anotado

Para   esta   tradução,   foram   utilizados   os   textos   originais   em   galês 

medieval  e  versões  para   a   língua   inglesa,   sobretudo  a  de  Lady  Guest  que, 

apesar de às vezes sofrer determinadas críticas, continua a ser considerada uma 

tradução clássica em língua inglesa e é sumamente esclarecedora pelo conteúdo 

de suas Notas aos Quatro Ramos. Resisti, tanto quanto possível, a transformar 

esta  obra  numa espécie  de “enciclopédia”   resumida sobre os  celtas.  Assim, 

observações   sobre   organização   social,   religião,   moradia   vestuário   e 

alimentação,   por   exemplo,   foram   grandemente   reduzidas   ou   mesmo 

suprimidas,  confiando­se que o Leitor   interessado saberá   informar­se por  si 

mesmo e garantindo seu prazer na descoberta de novos dados que irão agregar­

se e completar as variadas informações já contidas neste livro. 

Bellovesos Isarnos

O PRIMEIRO RAMO DO MABINOGION

PWYLL, PRÍNCIPE DE DYFED

Introdução

No Primeiro Ramo, Pwyll, governante do reino de Dyfed, no sul de Gales, troca de lugar com 

Arawn, Senhor de Annwn, literalmente, o Não­Lugar, o Mundo Inferior dos Mortos e do Povo 

das Fadas na tradição britânica. Pwyll trava uma batalha no lugar de Arawn, selando assim uma 

duradoura amizade entre sua terra e o Outro Mundo. Voltando ao mundo dos homens, Pwyll se 

casa  com uma mulher  chamada  Rhiannon,  que  ele   encontrou   inicialmente  num montículo 

gorsedd. Tais montes são antigos lugares tribais de reunião, freqüentemente montes artificiais 

de sepultamentos pré­históricos. Rhiannon é a evemerização de uma deusa eqüina   pré­cristã 

que encarna a soberania da terra. Eles têm um filho, Pryderi, nascido na Véspera de Maio, que 

continuará a aparecer em cada conto restante dos Quatro Ramos.

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I Pwyll encontra Arawn.

wyll1, príncipe de Dyfed2, era o senhor das Sete 

Províncias   de   Dyfed.   Certa   vez,   ele   estava   em 

Narberth, seu palácio principal,  e teve desejo de 

sair  e  caçar,   sendo Glyn Cuch3  a  parte  de  seus 

domínios em que lhe agradava caçar. Assim, ele 

partiu   de   Narberth   à   noite   e   foi   até   Llwyn 

Diarwyd, onde pernoitou. Levantou­se bem cedo 

pela   manhã   e   foi   a   Glyn   Cuch,   começando   a 

caçada tão logo soltou os cachorros no bosque e soou o chifre. Pwyll seguiu os 

galgos   e   acabou   perdendo­se   de   seus   companheiros.   Ele   escutava   ainda   o 

ladrido de seus cães de caça, mas ouviu outros cães latindo, diferentes dos seus, 

aproximando­se dele na direção oposta.    

Viu então uma clareira no mato formando uma área limpa. Quando seus cães 

chegaram à extremidade da clareira, Pwyll avistou um veado perseguido pelos 

outros cachorros. Assim que o veado chegou ao meio da clareira, esses cães 

alcançaram­no   e   o   derrubaram.   Olhando   a   cor   dos   cachorros,   Pwyll   nem 

prestou  atenção  ao  veado,  pois,  de   todos  os  mastins  que   já   tinha  visto  no 

mundo, nenhum era como estes. Seu pelo era de um branco lustroso, brilhante, 

e suas orelhas eram vermelhas, tão lustrosas quanto a brancura de seus corpos. 

Ele veio na direção dos cachorros que tinham derrubado o veado e afugentou­

os, açulando seus próprios cães contra a presa.

Enquanto   Pwyll   atiçava­os,   percebeu   vindo   em   sua   direção   um   cavaleiro 

montado num grande corcel cinza­claro, trazendo um chifre de caça ao redor do 

pescoço e trajando vestes de lã cinzenta próprias para caçar. O cavaleiro parou 

perto dele e falou­lhe então:

­ Príncipe – disse ele ­, sei quem sois e não vos saúdo.

­ Porventura – respondeu Pwyll – possuís dignidade tal que poderíeis não o 

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fazer.

­ Verdadeiramente, não é minha dignidade que me impede.

­ Que é então, ó príncipe? – perguntou Pwyll.

­ Pelos Céus, a razão é vossa própria ignorância e falta de cortesia!

­ Qual descortesia, príncipe, vistes em mim?

­ Jamais  vi  descortesia  maior  do que espantar  os  cães  alheios  que  estavam 

matando o veado e jogar sobre a presa os seus próprios. Isso foi descortês e, no 

entanto, posso não me vingar de vós pessoalmente, mas declaro ao Céu que hei 

de trazer­vos mais desonra que o valor de cem veados!

­ Príncipe, se procedi mal saberei recuperar vossa amizade.

­ Como a recuperareis?

­ De acordo com qual possa ser vossa dignidade, mas não sei quem sois.

­ Sou um rei coroado na terra de onde venho.

­ Senhor, possa o dia fazer­vos prosperar. E de qual terra vindes?

­ De Annwfyn – respondeu ele. – Arawn4, um rei de Annwfyn5, eu sou.

­ Senhor, como posso ganhar vossa amizade?

­ Depois de agir desse modo, vós ainda o podeis – disse. – Há um homem cujos 

domínios são opostos aos meus e que está sempre guerreando contra mim. É 

Hafgan,   um   rei   de   Annwfyn,   e,   por   libertar­me   de   tal   opressão,   o   que 

facilmente podeis fazer, ganhareis minha amizade.

­ Com prazer o farei. Mostrai­me como é possível.

­  Mostrar­vos­ei.  Vede,  então, como podeis fazer.  Farei  uma firme amizade 

convosco. Enviar­vos­ei a Annwfyn em meu lugar, dar­vos­ei a mais adorável 

mulher   que   jamais   vistes   para   dormir   convosco   toda   noite   e,   ainda   mais, 

colocarei sobre vós minha forma e minha semelhança, de modo que nenhum 

pajem da câmara real, nenhum oficial, nem qualquer outro homem que algum 

dia me seguiu saberá que não sou eu. Isso será pelo espaço de um ano a partir 

de amanhã e então nos encontraremos neste lugar.

­ Sim – disse Pwyll ­, mas, quando um ano se passar, como descobrirei esse de 

quem falais?

­ Em um ano a contar desta noite – respondeu Arawn – é o tempo marcado para 

que nos encontremos em campo; comparecei lá sob a minha aparência e, com 

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um só golpe que lhe deis, ele já não viverá. E, se ele pedir que lhe deis outro, 

não o façais, não importa o quanto insista convosco, pois, quando eu o atendi, 

ele lutou comigo no dia seguinte tão bem como antes.

­ Na verdade, que farei em relação ao meu reino? – perguntou Pwyll.

­  Farei  com que ninguém em todos  os vossos domínios,  nem homem,  nem 

mulher,   saiba  que  eu  não  sou vós  e   lá   estarei   em vosso   lugar  –  prometeu 

Arawn.

­ Então prazerosamente seguirei adiante.

­ Claro será vosso caminho, nada vos deterá até que entreis em meus domínios 

e eu próprio serei vosso guia.

II Na Corte de Annwfyn.

Assim, Arawn conduziu­o até avistarem o palácio e suas habitações.

­ Vede – disse Arawn – a corte e o reino em vosso poder. Entrai  na corte, 

ninguém lá  vos  reconhecerá  e,  quando virdes  os  serviços  lá   feitos,  sabereis 

quais são seus costumes.

Pwyll então se adiantou para a corte e, quando entrou, contemplou dormitórios 

e salões e câmaras e os mais belos edifícios jamais vistos. Ele entrou no salão 

para  desmontar,  vindo  jovens  e  pajens   auxiliá­lo,  os  quais  os   saudaram ao 

adentrarem as dependências do palácio. Vieram dois cavaleiros e tiraram­lhes 

as roupas de caça, vestindo­o com uma túnica de seda e ouro. O salão estava 

preparado e Pwyll viu a mansão e o anfitrião que nela entrava. Este era o mais 

gracioso dos anfitriões  e  o mais  bem equipado que Pwyll  havia  conhecido. 

Com eles entrou igualmente a rainha e ele nunca vira mulher tão formosa. Ela 

trajava uma túnica de brilhante cetim amarelo. Eles se lavaram, foram para a 

mesa e sentaram­se, a rainha a um lado de Pwyll e do outro um que parecia ser 

um conde.

Ele começou a conversar com a rainha e pensou, em razão de suas palavras, 

que ela era a senhora mais decente e de mais nobre conversação, bem como a 

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Page 16: 110439157 Quatro Ramos Do Mabinogion Texto Anotado

mais   alegre   que   já   houvera.   Partilharam   a   carne   e   a   bebida,   cantando   e 

festejando. De todas as cortes na terra, era esta a melhor provida de comida e 

bebida e recipientes de ouro e jóias reais.

Quando chegou a hora de dormir, Pwyll e sua rainha foram para o leito. Ele 

virou  seu   rosto  para  a  beira  da  cama e  deu­lhe  as  costas,  não  lhe  dizendo 

palavra alguma antes que amanhecesse. No dia seguinte, o carinho e a afeição 

voltavam   à   conversação   deles,   embora   durante   o   ano   que   se   seguiu   noite 

alguma fosse diferente da primeira.

III Pwyll mata Hafgan.

Pwyll levou o ano a caçar e ouvir os menestréis,  festejando, divertindo­se e 

tagarelando com seus companheiros até  chegar a noite fixada para a luta. E, 

quando essa noite chegou, lembraram­se dela até mesmo aqueles que viviam 

nas regiões mais distantes de seus domínios. Pwyll foi ao encontro e os nobres 

do reino com ele. Chegando todos ao campo, um cavaleiro ergueu­se e falou:

­ Senhores – disse ­, escutai bem. Este encontro é entre estes dois homens e 

entre eles apenas. Cada um reclama do outro sua terra e território, assim cada 

um de vós fique apartado e deixe que a luta se dê entre eles somente.

Logo após, os reis encontraram­se no meio do campo e, ao primeiro empurrão, 

o homem que estava no lugar de Arawn golpeou Hafgan bem no centro de seu 

escudo e este se partiu em dois, sua armadura quebrou­se e o próprio Hafgan 

foi lançado ao solo pela distância de um braço e uma lança por cima de seu 

cavalo, recebendo um ferimento mortal. 

­ Ó chefe – falou Hafgan ­, que direito tendes de provocar minha morte? Eu 

não vos estava prejudicando em nada e não sei, assim, porque me mataríeis. 

Mas, pelo amor do Céu, uma vez que começastes a matar­me, completai vosso 

trabalho.

­ Príncipe – replicou Pwyll ­, posso ainda arrepender­me por matar­vos. Faça­o 

quem o possa, pois eu não o farei.

­ Meus fiéis senhores – gemeu Hafgan ­, socorrei­me desde agora. Minha morte 

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chegou. Não mais serei capaz de apoiar­vos.

­ Meus nobres – também falou aquele que estava sob a semelhança de Arawn ­, 

deliberai e dizei quem deveriam ser os meus homens.

­ Senhor – disseram os nobres ­, todos poderiam ser vossos homens, pois já não 

há rei algum sobre Annwfyn além de vós.

­  Sim – disse Pwyll   ­,   está   certo  que aquele  que  vem com humildade  seja 

recebido   graciosamente,   mas   aquele   que   não   vem   com   obediência   seja 

compelido pela força das espadas.

Ele recebeu depois as homenagens dos homens e começou a conquista do país. 

No dia seguinte, por volta do meio­dia, os dois reinos estavam em seu poder. 

Logo depois, ele foi manter seu compromisso e chegou a Glyn Cuch.

Quando chegou  lá,  o  rei  de Annwfyn esperava para encontrá­lo  e  cada um 

regozijou­se ao ver o outro. 

­ Verdadeiramente – disse Arawn  ­, possa o Céu recompensar­vos pela vossa 

amizade por mim, eu ouvi falar disso! Quando vós mesmo chegardes a vossos 

domínios, vereis o que fiz por vós. 

­  O Céu possa premiar­vos por qualquer coisa que tenhais feito por mim – 

respondeu­lhe Pwyll.

Então,   Arawn   restituiu   a   Pwyll,   príncipe   de   Dyfed,   sua   própria   forma   e 

semelhança   e   ele   próprio   retomou   as   suas.   Arawn   partiu   para   a   Corte   de 

Annwfyn e alegrou­se ao contemplar os habitantes e o palácio que não vira por 

um tão longo tempo. Porém, como não chegaram a perceber sua ausência, não 

se espantaram de sua vinda mais do que o habitual. O dia da chegada foi gasto 

com alegria e divertimentos e Arawn sentou­se com sua esposa e seus nobres. 

Quando   já   era   mais   hora   de   dormir   que   de   divertirem­se,   foram   todos 

descansar. 

Pwyll, príncipe de Dyfed, veio igualmente ao seu país e domínios, começando 

a   indagar   dos   nobres   da   terra   como   fora   seu   governo   no   último   ano   em 

comparação com o que antes tinha sido.

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­ Senhor – disseram eles ­, jamais foi tão grande vossa sabedoria, nunca fostes 

tão gentil ou tão liberal ao distribuirdes vossos dons e em época alguma vossa 

justiça foi vista assim tão meritória quanto no último ano.

­ Pelo Céu! – exclamou Pwyll. – Por todo o bem de que desfrutastes deveríeis 

agradecer­lhe pelo que vos fez, pelo modo como se resolveu esse assunto.

E depois Pwyll relatou­lhes toda a aventura.

­ Em verdade,  senhor – disseram eles ­,   rendei graças ao Céu por haverdes 

alcançado tal amizade e não nos negueis o governo de que desfrutamos neste 

ano que passou.

­ Tomo o Céu como testemunha de que não vô­lo negarei – respondeu Pwyll.

E desde então fortaleceram a amizade que havia entre eles e cada um enviou ao 

outro cavalos, galgos, falcões e todas as jóias que pensaram poderiam agradar 

ao outro. Por motivo da sua permanência daquele ano em Annwfyn, por havê­

lo governado tão prosperamente, em um só dia unindo os dois reinos através de 

seu valor e coragem, desde aquela época em diante Pwyll perdeu seu título de 

príncipe de Dyfed e foi chamado de “Senhor de Annwfyn”.

IV Rhiannon.

Certa vez, Pwyll estava em Narberth, seu palácio principal onde uma festa fora 

preparada para ele, e com ele havia uma grande multidão de homens. Após a 

primeira refeição, Pwyll levantou­se e subiu ao topo de um monte6 que estava 

além do palácio, chamado Gorsedd Arberth. Disse­lhe um da corte:

­  Senhor,  é  próprio deste monte que qualquer um a sentar­se sobre ele  não 

possa   partir   sem   antes   receber   ferimentos   ou   golpes   ou   ainda   ver   alguma 

maravilha.

­ Eu – respondeu Pwyll – não temo receber ferimentos ou golpes no meio de 

uma multidão como esta. Agradar­me­ia muito, porém, ver essa maravilha de 

que falais. Lá irei então me sentar no monte. 

E  no  alto  do  monte   sentou­se.  Enquanto   lá   estava   sentado,  viu  uma dama 

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montada   num   grande   cavalo   puramente   branco,   envolvida   numa   veste   de 

dourado brilhante, vindo pela estrada que partia do monte.

­ Homens – disse Pwyll ­, há algum dentre vós que conheça aquela dama?

­ Não há, senhor – tornaram eles.

­ Vá um de vós e conheça­a para que possamos saber quem é.

Um deles  ergueu­se e  foi  até  a estrada para conhecê­la,  mas ela  passou.  O 

homem seguiu­a tão depressa quanto pôde estando a pé, e, quanto maior era sua 

velocidade, mais ela se distanciava dele. Ao perceber que de nada lhe adiantaria 

seguí­la, retornou a Pwyll e disse­lhe:

­ Senhor, é impossível a qualquer um no mundo seguí­la a pé.

­ Realmente, vai ao palácio, toma o cavalo mais rápido que vires e persegue­a – 

ordenou o príncipe.

Ele   tomou  então  um cavalo  e   seguiu  adiante.  Chegou a  um descampado  e 

esporeou seu cavalo. Contudo, quanto mais o apressava, mais ela se afastava 

dele, mantendo ainda o mesmo passo de antes. O cavalo dele começou a falhar 

e, quando as patas do animal deram sinal de que não prosseguiriam, o cavaleiro 

retornou ao lugar em que Pwyll estava. 

­  Senhor  –  disse ele   ­,  ninguém terá  proveito  em seguir  aquela  dama.  Não 

conheço nestes reinos qualquer  cavalo mais  rápido que este,  o qual  não foi 

capaz de ajudar­me a perseguí­la.

­ Na verdade – respondeu Pwyll ­, deve haver alguma ilusão aqui. Partamos 

para o palácio.

Partiram assim para o palácio e lá passaram aquele dia. Levantaram­se no dia 

seguinte e estiveram no palácio até a hora de comer. Depois da refeição, Pwyll 

determinou:

­ O mesmo grupo de ontem, nós iremos para o topo do monte. E tu – disse ele 

para um dos rapazes que o acompanhavam ­,   leva ao campo o mais rápido 

cavalo que conheceres.

Assim fez o  jovem e foram todos para o monte,   levando o cavalo consigo. 

Estando já sentados, viram a dama no mesmo cavalo, com as mesmas vestes e 

vindo pela mesma estrada.

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­ Vede – exclamou Pwyll ­, eis ali a mesma dama de ontem! Fica pronto jovem, 

para saber quem ela é.

­ Fá­lo­ei alegremente, meu senhor.

Logo depois,  veio a  dama na direção oposta à  deles.  E o rapaz montou no 

cavalo, mas ela passou antes mesmo que ele se houvesse acomodado na sela e 

havia um claro espaço entre eles, embora a velocidade dela não fosse maior que 

a do dia anterior. O jovem, pois, colocou­se a caminho e pensou que, apesar do 

passo suave de sua montaria,  haveria  de alcançá­la rapidamente.  Entretanto, 

isso não o serviu e ele deu de rédeas no cavalo. Ainda assim, não chegou mais 

perto dela do que se estivesse a pé e, quanto mais apressava seu cavalo, mais 

ela se distanciava dele. A dama, contudo, não cavalgava mais rápido do que 

antes. Ao ver que de nada lhe adiantaria seguí­la, retornou ao lugar onde Pwyll 

estava.

­ Senhor – disse ele ­, o cavalo não pode mais nada além do que já vistes.

­  Percebo sem dúvida que não seria  de auxílio  a qualquer  um que devesse 

seguí­la. E, pelo Céu, ela deve ter alguma tarefa a cumprir para alguém nesta 

planície, se sua pressa nos permite afirmá­lo. Mas voltemos ao palácio.

E para o palácio eles foram, passando aquela noite com canções e celebração, 

como lhes agradou.

No dia seguinte,  eles se divertiram até  chegar a hora de comer e, quando a 

refeição terminou, Pwyll disse:

­  Onde estão  todos aqueles  que ontem e no dia  anterior   foram ao cimo do 

monte?

­ Vede, senhor – responderam eles ­, aqui estamos.

­  Vamos ao monte  e  sentemo­nos lá.  E tu  –  ordenava Pwyll  ao pajem que 

conduzia seu cavalo ­, sela bem meu cavalo, apressa­te com ele para a estrada e 

traze também minhas esporas contigo.

Assim fez o jovem. E eles foram e sentaram­se no monte. Antes que estivessem 

lá por mais que um curto tempo, perceberam a dama vindo pela mesma estrada, 

da mesma maneira e com o mesmo passo.

­ Rapaz – disse Pwyll ­, eu vejo a dama chegando. Dá­me meu cavalo.

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Mas ela  passou  por   ele   antes  mesmo que houvesse  acabado  de  montar  no 

cavalo. Pwyll virou depois dela e seguiu­a. Ele deixou que seu cavalo saltasse 

alegremente e pensou que se aproximaria dela no segundo ou terceiro salto, 

mas não conseguiu chegar mais perto do que estava no princípio. Fez então o 

cavalo acelerar­se à velocidade máxima, porém percebeu que seria inútil para 

seguí­la.

­ Ó donzela – gritou­lhe Pwyll ­, pelo amor de quem mais amais, esperai­me.

­ Com prazer vos esperarei – disse ela – e seria melhor para o vosso cavalo que 

o tivésseis pedido desde logo.

Ela então deixou cair de sua cabeça a parte da veste que lhe cobria o rosto. 

Fixou seus olhos em Pwyll e começou a falar­lhe.

­ Senhora – perguntou ele ­, de onde vindes e para onde vos dirigis em vossa 

jornada?

­ Viajo a meu próprio serviço e estou certamente contente em vos ver.

­ Sejam para vós minhas saudações.

Pwyll então pensou que a beleza de todas as donzelas e de todas as damas que 

jamais vira não era nada em comparação com a dessa jovem.

­ Senhora, não quereis dizer­me algo acerca do vosso propósito?

­ Contar­vos­ei – disse ela. – minha principal busca era para encontrar­vos.

­ Ora, essa é para mim a mais agradável procura que vos poderia ter trazido. E 

não quereríeis dizer­me quem sois?

­ Eu sou Rhiannon7, filha de Hefeyd Hen8 e procuram dar­me um marido contra 

minha vontade. Mas eu não teria um marido em razão do meu amor por vós e 

nem terei um, a menos que me rejeiteis. E aqui eu vim ouvir vossa resposta.

­ Pelo Céu, esta é a minha resposta: pudesse eu escolher entre todas as damas e 

donzelas do mundo, a vós eu escolheria.

­ Verdadeiramente, se assim pensais, fazei a promessa de irdes conhecer­me 

antes que eu seja dada a outro.

­ Maior será meu prazer quanto mais cedo puder fazê­lo e irei encontrar­me 

convosco em qualquer lugar onde o desejeis.

­ Desejo que me encontreis em um ano a contar deste dia no palácio de Hefeyd. 

E   farei   com  que   seja   preparado   um  banquete,   de  modo   que   esteja   pronto 

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quando vierdes.

­ Com satisfação manterei meu compromisso.

­   Senhor,   permanecei   com   saúde   e   sede   cuidadoso   para   manterdes   vossa 

promessa. E agora eu me vou.

Assim  eles   se   separaram.  Pwyll   voltou  para   onde   estavam   seus   homens   e 

seguiu com eles para casa. E, ao ouvir quaisquer perguntas que lhe fizessem 

sobre a donzela, desviava a conversa para outros assuntos.

V No palácio de Hefeyd Hen.

E,   quando   se   passou   um   ano   desde   aquele   dia,   Pwyll   fez   cem   cavaleiros 

equiparem­se e acompanharem­no ao palácio de Hefeyd Hen. Ele chegou ao 

palácio e havia grande alegria por sua causa, multidões de pessoas regozijando­

se e vastos preparativos para sua vinda. Toda a corte foi colocada sob suas 

ordens.

O salão estava guarnecido, todos foram para a refeição e sentaram­se. Hefeyd 

Hen   estava   a   um   lado   de   Pwyll   e   Rhiannon   do   outro.   Eles   comeram   e 

festejaram e conversaram um com o outro e, ao começar o divertimento depois 

da comida, adentrou o salão um alto jovem ruivo, de aparência real, vestido 

com   um   traje   de   cetim.   Quando   entrou   no   salão,   saudou   Pwyll   e   seus 

companheiros.

­ A saudação do Céu esteja convosco, minha alma – disse Pwyll. – Vinde e 

sentai­vos.

­  Não –  o  recém­chegado   respondeu  ­,   eu sou  um pretendente  e  cumprirei 

minha incumbência.

­ Fazei­o de boa­vontade.

­ Senhor, minha incumbência é para convosco, é pretendendo um dom vosso 

que venho.

­ Qualquer benefício que possais pedir­me, desde que esteja ao meu alcance, 

vós o obtereis.

­ Ah! – Rhiannon exclamou. – Portanto vós lhe destes essa resposta?

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­ Porventura ele não a deu na presença de todos estes nobres? – perguntou o 

rapaz.  

­ Minha alma, qual é o dom que pedis?

­ A dama que mais amo está para tornar­se vossa noiva nesta noite. Vim para 

vô­la pedir, com a festa e o banquete neste lugar.

A resposta que lhe fora dada deixou Pwyll silencioso. Rhiannon lhe falou:

­ Ficai silencioso tanto quanto quiserdes. Nunca homem algum fez pior uso de 

sua inteligência do que vós.

­ Senhora, eu não sabia quem ele era.

­ Ora, esse é o homem a quem desejavam dar­me contra minha vontade. Ele é 

Gwawl, o filho de Clud, um homem de grande poder e riqueza e, em razão da 

palavra que dissestes, entregai­me a ele para que a vergonha não caia sobre vós.

­ Não compreendo vossa palavra, senhora. Nunca poderei fazer como dizeis!

­ Entregai­me a ele e eu farei com que eu jamais seja dele.

­ Através de quais meios o fareis?

­ Darei em vossas mãos um saquinho, cuidai de guardá­lo bem. Gwawl vos 

pedirá o banquete, a festa e os preparativos, que não estão em vosso poder. Em 

relação aos convidados e à  casa, eu lhe darei isso. No que concerne a mim 

mesma,  concordarei  em tornar­me sua noiva em doze meses a  contar  desta 

noite. Que estejais aqui ao fim desse ano e trazei este saco convosco, deixando 

também   que   vossos   cem   cavaleiros   fiquem   escondidos   no   pomar   além   do 

palácio. E, quando ele estiver no meio da alegria e festejando, entrai no salão 

vestido em trajes rotos, segurando esse saco em vossas mãos. Não lhe pedireis 

nada além de um saco cheio de comida. E eu farei com que, se toda carne e 

toda bebida existentes nestas sete províncias forem colocadas dentro dele, ainda 

assim  o   saco  não   fique  mais   cheio  do  que  antes.  Depois   que  uma  grande 

quantia tenha sido posta ali dentro, ele vos perguntará se vossa bolsa já está 

cheia. Direis então que ela nunca se encherá, a menos que surja um homem de 

nobre nascimento e grande riqueza e pressione a comida no saco com ambos os 

pés,  dizendo:  “Bastante  foi  colocado aí  dentro”.  Eu farei  com que ele  vá  e 

empurre a comida para baixo dentro da bolsa e,  enquanto ele  estiver  assim 

ocupado, virai o saco de maneira que Gwawl fique de cabeça para baixo dentro 

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dele. Trazei também ao redor do vosso pescoço uma corneta de chifre e, tão 

logo o tenhais jogado no saco, soprai o chifre e seja esse o sinal entre vós e 

vossos   cavaleiros.   Quando   eles   ouvirem   o   som   do   chifre,   que   desçam   ao 

palácio.

­ Senhor – disse Gwawl, impaciente ­, espera­se que eu tenha uma resposta ao 

meu pedido.

­  Como está   em meu poder  dar­vos  muito  do  que  pedistes,  vós  o   tereis  – 

replicou Pwyll.

­ Minha alma – Rhiannon falou a Gwawl ­, sobre a festa e o banquete que aqui 

estão, eu os ofereci aos homens de Dyfed e a casa e os guerreiros que estão 

conosco. Estes eu não posso suportar que sejam dados a qualquer um. Em um 

ano a contar desta noite, um banquete será preparado para vós neste palácio a 

fim de que eu possa tornar­me vossa noiva.

 

VI O jogo do Texugo na Bolsa. O casamento de Rhiannon e Pwyll.

Assim, Gwawl partiu para seus domínios e Pwyll também voltou para Dyfed. E 

todo  aquele  ano se  passou,  até   chegar  o   tempo  do banquete  no  palácio  de 

Hefeyd Hen. Então Gwawl, o filho de Clud, foi à festa que lhe fora preparada 

no palácio, onde houve grande alegria no momento de sua chegada. E Pwyll 

também, o rei de Annwfyn, veio ao pomar com seus cem cavaleiros, consoante 

Rhiannon   lhe   ordenara,   trazendo   o   saco   consigo.   Pwyll   usava   vestimentas 

grosseiras e rasgadas e calçava sapatos desajeitados, grandes demais para seus 

pés. Quando ele soube que haviam começado as diversões após a refeição, ele 

foi em direção ao salão e, ao adentrá­lo, saudou Gwawl, filho de Clud, e seus 

companheiros, tanto homens quanto mulheres. Gwawl respondeu­lhe:

­ O Céu vos faça prosperar e a saudação do Céu esteja convosco.

­ Senhor – disse Pwyll ­, possa o Céu recompensar­vos, tenho um dom para vos 

pedir.

­ Bem­vindo seja vosso rogo e, se me pedirdes o que é justo, com satisfação o 

alcançareis.

­ Está certo. O benefício que peço e além do qual nada desejo é que se encha 

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com carne este saquinho que vedes.

­ Um pedido razoável é esse e prazerosamente o tereis. Trazei­lhe comida – 

Gwawl ordenou.

Surgiu um grande número de criados que começaram a encher a bolsa, mas, 

apesar   de   tudo   que   lhe   punham   dentro,   não   estava   mais   cheia   do   que   ao 

começarem. E Gwawl perguntou:

­ Minha alma, não se encheu ainda esse vosso saco?

­ Não se encherá, juro pelo Céu, a não ser que apareça um possuidor de terras e 

domínios  e   tesouros  e  empurre  com ambos  os   seus  pés  a  comida  que está 

dentro do saco, enquanto diz: “Bastante foi colocado aí dentro”.

Rhiannon então disse a Gwawl, o filho de Clud:

­ Erguei­vos rapidamente.

­ Com boa­vontade me erguerei. – Gwawl replicou.

Ele se levantou e pôs os dois pés dentro do saco. Imediatamente Pwyll virou a 

bolsa, ficando Gwawl de cabeça para baixo lá dentro. Fechou­a depressa e fez 

um forte nó com os cordões. Soou o chifre e logo os de sua casa que estavam 

escondidos  desceram sobre  o  palácio.  Eles  prenderam  todos  os  que   tinham 

vindo com Gwawl e jogaram­nos em sua própria prisão. Pwyll livrou­se dos 

trapos, dos sapatos velhos e de todos os andrajos. Cada um dos seus cavaleiros 

que entravam dava um golpe no saco, perguntando:

­ O que tem aí?

­ Um texugo – respondiam os outros.

Cada um que entrava perguntava:

­ Que jogo estais jogando assim?

­ O jogo do texugo na bolsa.

E foi então jogado pela primeira vez o jogo do “Texugo na Bolsa”.

­ Senhor – disse o homem dentro do saco ­, se apenas quiserdes ouvir­me, não 

mereço ser morto em um saco.

­  Senhor – Hefeydd Hen  interveio ­,  ele   fala  a verdade.  É  adequado que o 

escuteis, pois ele não merece tal destino.

­ Realmente, seguirei vossa orientação quanto a ele – disse Pwyll.

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­ Vede – Rhiannon falou ­, este é então o meu conselho. Estais agora numa 

posição em que vos compete satisfazer pretendentes e trovadores. Deixai que 

ele o faça em vosso lugar e tomai dele a promessa de que não buscará vingança 

por tudo que lhe foi feito. E isso será punição suficiente.

­ Com prazer farei o que dissestes – gemeu o homem dentro do saco.

­ Com prazer eu o aceitarei – tornou Pwyll ­, uma vez que é a deliberação de 

Hefeydd e Rhiannon.

­ Tal é então nosso conselho – responderam eles.

­ Fazei que vos dê as garantias.

­ Nós responderemos por ele até que seus homens estejam livres para fazê­lo – 

disse Hefeydd.

Deixaram­no então sair da bolsa e seus vassalos foram libertados. 

­   Exigi   agora   de   Gwawl   as   garantias   –   Hefeydd   dizia.   –   Sabemos   quais 

deveriam ser­lhe tomadas.

E Hefeydd enumerou as garantias. Disse Gwawl:

­ Preparai vós mesmo o acordo.

­ Bastar­me­á que seja feito como Rhiannon disse – respondeu Pwyll.

Estavam assim empenhadas as garantias para aquele acordo.

­  Na verdade,   senhor  –   falava  Gwawl   ­,   estou  grandemente   ferido  e   tenho 

muitas contusões. Tenho necessidade de ser medicado e com vossa permissão 

eu partirei.

­ Com toda a minha boa­vontade podeis fazê­lo.

Assim, Gwawl partiu para seus próprios domínios.

E o salão foi preparado para Pwyll  e  os homens de sua companhia.  Todos 

foram para as mesas e sentaram­se naquela noite como se haviam sentado um 

ano   antes.   Eles   comeram   e   festejaram   e   passaram   a   noite   em   alegria   e 

tranqüilidade, até chegar o momento em que todos deveriam dormir, quando 

Pwyll e Rhiannon foram para seus aposentos.

Na manhã seguinte, ao raiar do dia, Rhiannon disse:

­ Meu senhor, levantai­vos e começai a dar vossos presentes aos menestréis. 

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Hoje a ninguém recuseis que vos possa reclamar a generosidade.

­ Assim seja alegremente – Pwyll respondeu ­, tanto hoje quanto em todos os 

dias em que deva durar a comemoração.

E assim Pwyll surgiu e fez que se proclamasse o silêncio, a fim de que todos os 

pretendentes  e  menestréis  expusessem e  mostrassem que dons  eram de  sua 

vontade e desejo. Tendo isso sido feito, a festa continuou e Pwyll nada recusou 

a quem quer que fosse enquanto ela durou. Quando o banquete enfim terminou, 

Pwyll dirigiu­se a Hefeydd:

­ Meu senhor, com vossa permissão partirei amanhã para Dyfed. 

­ Certamente – respondeu o sogro ­,  possa o Céu prosperar convosco. Fixai 

também um tempo quando Rhiannon possa seguir­vos.

­Sem dúvida iremos juntos.

­ Isso desejais, senhor?

­ Sim, pelo Céu – Pwyll afirmou.

No   dia   seguinte,   eles   partiram   para   Dyfed   e   viajaram   para   o   palácio   de 

Narberth, onde um banquete estava sendo preparado para recebê­los. Lá, veio 

até eles um grande número de homens importantes e as mais nobres damas da 

terra e, de todos esses, não houve um só a quem Rhiannon não desse um rico 

presente,   fosse   uma   pulseira,   um   anel   ou   alguma   pedra   preciosa.   E   eles 

governaram o país prosperamente naquele ano e no seguinte. 

VII Nascimento e rapto de Pryderi.

E, no ano seguinte, os nobres do país começaram a entristecer­se, vendo que 

um homem a quem tanto amavam e que, além disso, era seu senhor e irmão de 

criação, sem um herdeiro. Vieram até  ele e o lugar onde se encontraram foi 

Preseleu, em Dyfed. Disseram os nobres:

­ Senhor, sabemos que não sois tão jovem quanto alguns homens deste país e 

tememos não possais   ter  um herdeiro da esposa que tomastes.  Tomai,  pois, 

outra   esposa   de   que   possais   ter   herdeiros.   Não   podeis   continuar   sempre 

conosco e, embora desejeis permanecer como estais, não vô­lo permitiremos.

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­ Verdadeiramente – tornou Pwyll ­, não faz muito tempo que nos unimos e 

muitas coisas podem ainda acontecer. Concedei­me um ano a partir de agora e 

pelo espaço de um ano nós ficaremos juntos. Depois disso, farei de acordo com 

vossos desejos.

Os nobres assim lhe permitiram fazer. E, antes do fim do ano, nasceu­lhes um 

filho.   Ele   nasceu   em   Narberth   e,   na   noite   em   que   nasceu,   foram   trazidas 

mulheres para assistir a mãe e o menino. As mulheres dormiram, bem como 

Rhiannon, a mãe do menino. O número de mulheres trazidas ao quarto era seis. 

Elas vigiaram por uma boa parte da noite, mas, antes da meia­noite, cada uma 

delas  caiu  adormecida  e   somente  despertaram perto  do  amanhecer.  Quando 

acordaram, olharam para onde tinham colocado o menino e perceberam que ele 

não estava lá.

­ Oh – disse uma das mulheres ­, o menino desapareceu!

­ Sim – disse outra – e será uma vingança pequena se formos queimadas ou 

levadas de outra forma à morte por causa da criança.

­ Há no mundo – perguntava uma terceira – algum conselho que nos possa ser 

útil em relação a isso?

­ Há sim – respondeu uma outra. – Eu vos ofereço um bom conselho.

­ Qual é?

­ Há  uma cadela de caça aqui e ela tem uma ninhada de filhotes.  Matemos 

alguns dos cãezinhos e esfreguemos o sangue na face e mãos de Rhiannon e 

depositemos os ossos diante dela. Afirmemos que ela própria devorou seu filho. 

Sozinha, não será capaz de contradizer­nos.

Tudo foi feito de acordo com essa deliberação. Ao acordar de manhã, Rhiannon 

disse:

­ Mulheres, onde está meu filho?

­ Senhora, nada queirais perguntar­nos em relação a vosso filho, nada temos 

além das feridas e contusões que recebemos lutando convosco.  Na verdade, 

jamais vimos mulher tão violenta quanto vós, por isso de nada nos adiantou 

contender convosco. Não devorastes vós mesma o vosso filho? Assim, não o 

reclameis de nós.

­ Tende piedade – disse a mãe ­, o Senhor Deus sabe todas as coisas! Não me 

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acuseis falsamente. Se é por medo que me falais essas coisas, juro pelo Céu que 

vos hei de defender!

­ Em verdade – retrucaram as mulheres ­, nós mesmas não desejamos provocar 

o mal a ninguém no mundo.

­ Por misericórdia, não recebereis qualquer mal dizendo a verdade – implorava 

Rhiannon.

Mas, a todas as suas palavras, fossem suaves ou severas, ela recebia a mesma 

resposta das mulheres.

E Pwyll, o Senhor de Annwfyn, surgiu e com ele toda a sua casa e as multidões 

que o acompanhavam. O fato não pôde ser escondido, mas sua história passou 

adiante,  atravessou o país e  os nobres ouviram­na.  Eles  vieram até  Pwyll  e 

pediram­lhe   que   aprisionasse   sua   esposa,   em   razão   do   grande   crime   que 

cometera. Mas Pwyll respondeu­lhes que não possuíam um motivo para pedir­

lhe que prendesse sua esposa, exceto por ela não ter filhos.

­ Mas filhos ela agora mostrou que pode te­los, então não a prenderei. Se ela 

fez mal, deixai­a penitenciar­se por isso – disse o príncipe.

Assim, Rhiannon chamou os mestres e os homens sábios e, como preferiu o 

castigo a enfrentar as mulheres, tomou sobre si uma penitência. E, pela pena 

que lhe foi imposta, ela deveria permanecer naquele palácio de Narberth até 

que se passassem sete anos, sentando­se diariamente em um montadouro que 

estava   sem   o   portão.   Ela   deveria   contar   sua   história   a   todos   os   que   lá 

chegassem os  quais pudesse supor  que ainda não a soubessem. Ela deveria 

oferecer­se aos convidados e estranhos, pedindo a estes que lhe permitissem 

carregá­los em suas costas ao interior do palácio. Mas raramente ocorreu que 

qualquer um o aceitasse. Desse modo ela passou parte do ano.

VIII A égua de Teirnyon.

Naqueles dias, Teirnyon Twryf Fliant era o senhor de Gwent Is Coed9 e era o 

melhor  homem do mundo.  Em sua  casa  havia  uma égua que  não se podia 

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encontrar   no   reino   outra   égua   ou   cavalo   mais   bonitos.   Na   noite   de   cada 

primeiro de maio, ela paria e ninguém sabia o que acontecia ao potro. Certa 

noite, Teirnyon disse a sua esposa:

­ Mulher, é muito fácil para nós que nossa égua deva parir todos os anos e não 

tenhamos nenhum dos seus potros.

­ E o que podemos fazer a esse respeito?

­ Esta é a noite do primeiro de maio. A vingança do Céu caia sobre mim se eu 

não descobrir quem é que leva os potros!

Assim, ele ordenou que a égua fosse trazida para dentro de uma casa e armou­

se. Teirnyon começou a vigiar naquela noite. Logo no começo da noite, a égua 

pariu   um   grande   e   belo   potro.   O   animalzinho   já   se   estava   pondo   em   pé. 

Teirnyon ergueu­se, olhou o tamanho do potro e, enquanto o fazia, ouviu um 

grande tumulto. Logo depois, viu uma enorme garra entrar pela janela da casa e 

agarrar o potro pela crina. Teirnyon puxou sua espada e golpeou o braço no 

cotovelo, de forma que a porção do braço que agarrava o potro ficou na casa 

com ele. Imediatamente, Teirnyon escutou outro rebuliço e um alto lamento. 

Abriu a porta e correu para fora na direção do barulho, no entanto a escuridão 

da noite impediu­o de ver a causa de toda a agitação. Ele correu atrás da coisa e 

seguiu­a. Lembrou­se então de ter deixado a porta aberta e retornou. Viu que 

havia à porta uma criancinha usando fraldas, enrolada numa manta de seda. Ele 

tomou­a, vendo que era um menino muito forte para a pouca idade que tinha.

Teirnyon então fechou a porta, indo para o quarto onde sua esposa estava.

­ Senhora – disse ele ­, estais dormindo?

­ Não, senhor. Eu estava adormecida, mas despertei quando entrastes.

­  Vede,  eis  aqui  para  vós  um menino,   se  o  quiserdes,  uma vez  que  nunca 

tivestes um. 

­ Que aventura foi essa, meu senhor?

­ Foi assim... – respondeu Teirnyon e contou­lhe como tudo havia acontecido.

­ Na verdade, senhor, como estava ele vestido?

­ Usava uma manta de seda.

­ É então de nobre linhagem – replicou a esposa. – Meu senhor, se o quiserdes 

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eu terei grande alegria e satisfação. Chamarei a mim minhas mulheres e lhes 

direi que estive grávida.

­ Prontamente permito que o façais.

E   assim   agiram   eles.   Determinaram  que   o  menino   fosse   batizado   e   lá   foi 

realizada a cerimônia. O nome que lhe deram foi Gwri Wallt Euryn10, porque o 

cabelo em sua cabeça era tão amarelo quanto o ouro. O menino foi criado na 

corte até  um ano de idade. Antes que o ano houvesse acabado, ele já  podia 

caminhar   com segurança  e  era  maior  do  que  um menino  de   três   anos,   até 

mesmo do que um de grande tamanho. E o menino foi cuidado no segundo ano, 

sendo então maior do que uma criança de seis anos. Antes do final do quarto 

ano, ele subornaria os cavalariços para que lhe permitissem levar os cavalos à 

água.

­ Meu senhor – disse a Teirnyon sua esposa ­, onde está o potro que salvastes 

na noite em que encontrastes o menino?

­ Ordenei aos cavalariços que cuidassem dele.

­ Não seria bom, senhor, determinardes que ele fosse trazido e dado ao menino, 

vendo que, na mesma noite em que encontrastes o menino, o potro nasceu e vós 

o salvastes?

­ Não me oporei a vós nessa questão. Permitir­vos­ei dar­lhe o potro.

­ Senhor, possa o Céu recompensar­vos. Dá­lo­ei ao menino.

Assim, o cavalo foi dado ao menino. Ela foi então aos cavalariços   e àqueles 

que cuidam dos cavalos e ordenou­lhes tomarem conta do animal, de forma que 

pudesse ser trazido tão logo o menino estivesse apto a montá­lo.

IX O retorno de Pryderi.

Enquanto essas coisas se passavam, eles ouviram novidades sobre Rhiannon e 

o seu castigo.  E Teirnyon Twrif  Fliant,  por causa da piedade que sentia ao 

ouvir tal história sobre Rhiannon e seu castigo, fez indagações minuciosas a 

esse   respeito,   até   já   ter  ouvido  muitos  dos  que  vinham a   sua  corte.  Então 

Teirnyon,   repetidas   vezes   lamentando   a   triste   história,   ponderou   consigo 

mesmo e olhou com grande atenção o menino. Enquanto o observava, pareceu­

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lhe que jamais  vira   tão grande semelhança  entre  pai  e  filho quanto entre  o 

menino   e   Pwyll,   o   Senhor   de   Annwfyn.   O   rosto   de   Pwyll   era­lhe   bem 

conhecido, pois fora outrora um de seus seguidores. Ele foi logo depois afligido 

pelo erro que cometera, mantendo junto a si um menino que sabia ser o filho de 

outro homem. E, na primeira vez que ficou a sós com sua esposa, Teirnyon lhe 

disse que não era correto manterem o menino consigo, permitindo que uma 

senhora tão excelente quanto Rhiannon fosse tão duramente castigada por causa 

dele,  uma vez que o menino era  o   filho  de Pwyll,  Senhor  de Annwfyn.  A 

esposa concordou com ele que deveriam mandar o menino para Pwyll.

­  E   três  coisas,   senhor  –  disse  ela   ­,   assim ganharemos.  Agradecimentos  e 

presentes por libertar Rhiannon de sua punição, agradecimentos de Pwyll por 

alimentar e restituir­lhe seu filho e, se o menino for de natureza gentil,  será 

nosso filho adotivo e fará por nós todo o bem que estiver em seu poder.

Assim foi resolvido de acordo com essa deliberação.

Não   depois   do   dia   seguinte,   Teirnyon   equipou­se   e   com   ele   dois   outros 

cavaleiros.  O menino,  como um quarto em sua companhia,  foi com eles no 

cavalo que Teirnyon lhe dera. Eles viajaram para Narberth e não levaram muito 

tempo   para   chegar   ao   lugar.   Quando   se   aproximaram   do   palácio,   viram 

Rhiannon sentada junto ao montadouro. Eles vinham em sua direção e ela lhes 

falou.

­ Chefe, não vos aproximeis mais, eu carregarei cada um de vós para dentro do 

palácio. Esse é meu castigo por matar meu próprio filho e devorá­lo.

­ Boa dama – disse Teirnyon ­, não penseis levar­me em vossas costas.

­ Tampouco a mim – acrescentou o menino.

­ Realmente, minha alma – Teirnyon falou à criança ­, nós não iremos desse 

modo.

Eles entraram assim no palácio e houve grande alegria pela sua chegada. No 

palácio,   uma   grande   festa   havia   sido   preparada,   pois   Pwyll   retornara   dos 

confins de Dyfed. Eles entraram no salão e lavaram­se e Pwyll alegrou­se por 

ver Teirnyon. Sentaram­se nesta ordem: Teirnyon entre Pwyll e Rhiannon e os 

dois companheiros de Teirnyon do outro lado de Pwyll, com o menino entre 

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eles. Depois da refeição, eles começaram a divertir­se e discursar. O discurso 

de Teirnyon era concernente à aventura da égua e do menino e de como ele e 

sua esposa tinham alimentado e cuidado da criança como se fosse sua.

­ E vede, aqui está o menino, senhora – disse Teirnyon. – Agiu mal quem quer 

que   tenha   dito   aquela   mentira   a   vosso   respeito.   Quando   ouvi   sobre   vossa 

tristeza, fiquei preocupado e aflito. Acredito não haver ninguém nesta multidão 

que não perceberá ser este menino o filho de Pwyll.

­ Não há um só – responderam todos – que não esteja certo disso.

­ Juro pelo Céu – Rhiannon exclamou ­ que, se isso for verdade, sem dúvida 

minhas dificuldades chegaram ao fim. 

­ Senhora – falou Pendaran Dyfed11 ­, bem chamastes Pryderi vosso filho e bom 

tornou­se para ele o nome de Pryderi, filho de Pwyll, Senhor de Annwfyn.

­ Senhor – disse Rhiannon ­, o seu próprio nome não seria melhor para ele?

­ Que nome ele tem? – perguntou Pendaran Dyfed.

­ Gwri Gwallt Euryn – respondeu Teirnyon – é o nome que lhe demos.

­ Pryderi – Pendaran disse – será o seu nome.

­ Seria mais apropriado – interveio Pwyll – que o menino tomasse o nome da 

palavra que sua mãe falou ao receber as felizes novidades a seu respeito.

Assim foi resolvido de acordo com essa deliberação.

­ Teirnyon – disse Pwyll ­,  o céu vos recompense por haverdes cuidado do 

menino até este momento e, sendo de linhagem nobre, seria apropriado que ele 

vos retribuísse por isso.

­ Meu senhor – respondeu Teirnyon ­, foi minha esposa quem o alimentou e 

não houve ninguém no mundo tão aflito por vê­lo partir quanto ela. Seria bom 

que ele pudesse lembrar­se do quanto eu e minha esposa fizemos por ele.

­ Chamo o Céu como testemunha de que, enquanto eu viver, hei de apoiar­vos 

e  a  vossos  domínios,   tanto  quanto  eu possa preservar  os  meus próprios.  E, 

quando ele subir ao poder, irá sustentá­los mais adequadamente do que eu. E, 

se esta deliberação for agradável a vós e aos meus nobres, ocorrerá que, como 

cuidastes dele até esta data, eu o entregarei para ser conduzido por Pendaran 

Dyfed de agora em diante. E vós sereis companheiros e ambos pais adotivos do 

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menino.

­ Essa é uma boa deliberação – disseram todos.

Assim,   o   menino   foi   dado   a   Pendaran   Dyfed   e   os   nobres   do   país   foram 

enviados com ele. Teirnyon Twrif Fliant e seus companheiros partiram para seu 

país   e   suas   posses,   com  carinho   e   alegria,   não   sem  que   antes   lhe   fossem 

oferecidos os melhores cavalos, os cães mais escolhidos e as mais belas jóias. 

Mas nada quis levar para si.

Todos depois permaneceram em seus próprios domínios. E Pryderi, o filho de 

Pwyll, o Senhor de Annwfyn, foi cuidadosamente educado, como era mister, de 

modo que se tornou o mais decente rapaz e o mais gracioso e mais habilidoso 

em todos os bons jogos do que qualquer outro no reino. Passaram­se anos e 

anos,  até  que o fim da vida de Pwyll,  o Senhor de Annwfyn, chegou e ele 

morreu.

E Pryderi governou prosperamente as Sete Províncias de Dyfed. Era amado por 

seu povo e por todos ao seu redor. À extensão de seu reino, ele acrescentou as 

três províncias de Ystrad Tywi e as quatro províncias de Cardigan. Estas foram 

chamadas as Sete Províncias de Seissyllwch. Quando fez esta adição, Pryderi, o 

filho de Pwyll, o Senhor de Annwfyn, quis tomar uma esposa. A escolhida foi 

Cicfa,  a filha de Gwynn Gohoyw, o filho de Gloyw Wlallt  Lydan, filho do 

Príncipe Casnar, um dos nobres da ilha.

E assim termina esta parte do Mabinogion.

NOTAS AO PRIMEIRO RAMO

1 Pwyll, príncipe de Dyfed

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Não há certeza sobre quem teria sido Pwyll, mas, em algumas das linhagens de 

Gwynfardd, Príncipe de Dyfed  (outro nome de Pryderi),  diz­se que este é  o 

filho de Pwyll, filho de Meirig, filho de Aircol, filho de Pyr, filho de Llion, o 

Antigo,  o  que  é   confirmado  por   linhagens  contidas  em outros  manuscritos. 

Aircol Law Hir  (“Aircol Mão Grande”) é mencionado no  Liber Landauensis 

como o filho de Tryfun e contemporâneo de São Teiliaw, que viveu no séc. VI. 

No entanto, essas linhagens são puramente mitológicas, como se depreende do 

título de Pryderi, Gwynfardd Dyfed, “Sábio de Dyfed”. Não devemos esquecer 

que os nomes de Pwyll e de Pryderi significam, respectivamente, “Razão” e 

“Pensamento Profundo”, o que indicaria tratar­se de personagens alegóricos. 

Mas   o   túmulo   de  Pwyll,   de   acordo   com   fontes   galesas,   estaria   em   Dyfed 

(Myvyriam Archaiology, I, p. 82).

No poema  Preiddeu Annwn  (“Os Espólios de Annwn”), de Taliesin, Pwyll é 

mencionado juntamente com seu filho, dando a entender que teria vivido na 

época de Arthur. As linhas de abertura dessa composição trazem alusões muito 

antigas e obscuras: 

      

Os Espólios de Annwn (Livro de Taliesin, 30)

Louvarei o soberano, supremo rei do país,Que ampliou seus domínios até os confins do mundo.Completo estava o cativeiro de Gweir em Caer SidiGraças à malícia de Pwyll e Pryderi.Ninguém antes dele chegara até lá.A pesada corrente azul prendia o jovem fielE ante os espólios de Annwn dolorosamente ele cantaE até o julgamento continuará um bardo de intercessão. Três vezes o bastante para encher Prydwen, até lá fomos.Exceto sete, ninguém voltou de Caer Sidi.

Não sou eu um candidato à fama se uma canção for ouvida? Em Caer Pedryvan, quatro os seus giros.Na primeira palavra do caldeirão, quando pronunciada,Pelo alento de nove donzelas foi ele gentilmente aquecido.Não é o caldeirão do senhor de Annwn? Qual sua intenção? Uma saliência sobre sua borda de pérolas.Não cozinhará a comida de um covarde que não tenha sido jurado,Cintilando, uma espada brilhante para ele foi erguidaE na mão de Lleminawg foi ela deixada.E diante da entrada do portal de Uffern a lâmpada queimava.E quando chegamos com Arthur, um trabalho esplêndido,

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Exceto sete, ninguém retornou de Caer Fedwyd. 

Não sou um candidato à fama com a canção ouvidaEm Caer Pedryvan, na ilha da forte porta?O crepúsculo e a escuridão de breu foram misturados juntos.Brilhante vinho sua bebida ante o seu séquito.Três vezes o bastante para encher Prydwen viemos pelo mar.Exceto sete, ninguém voltou de Caer Rigor.

Não merecerei muito do soberano da literatura.Além de Caer Wydyr não viram a bravura de Arthur.Três vintenas de centúrias pararam no muralha,Difícil era a conversa com seu sentinela.Três vezes o bastante para encher Prydwen lá fomos com Arthur.Exceto sete, ninguém voltou de Caer Golud. 

Não merecerei muito daqueles com longos escudos.Eles não sabem qual o dia, qual o causador,Em que hora no dia sereno Cwy nasceu.Quem fez com que ele não fosse aos vales de Defwy.Não conhecem o boi malhado, larga a faixa de sua cabeça.Sete vintenas de saliências em sua coleira.E, quando viemos com Arthur de aflita memória.Exceto sete, ninguém retornou de Caer Fandwy.

Não merecerei muito daqueles com propensões relaxadas.Eles não sabem em que dia o chefe foi originado,Em que hora no dia sereno o proprietário nasceu,Qual animal eles mantêm, prateada sua cabeça.Quando fomos com Arthur do aflito combate,Exceto sete, ninguém voltou de Caer Ochren.

Monges congregam­se como cães num canil,Pelo contato com seus superiores adquirem conhecimento.É um o curso do vento, é uma a água do mar?É uma a centelha do fogo, do tumulto irrestringível?Monges congregam­se como lobos,Pelo contato com seus superiores adquirem conhecimento.Eles não sabem quando a noite profunda e a aurora se dividem,Nem qual é o curso do vento, ou quem o agita,Em que lugar ele morre, sobre qual terra ruge.A tumba do santo está sumindo do túmulo­altar.Orarei ao Senhor, o grande supremo,Que eu não seja desventurado. Cristo seja minha parte.

Em certas  partes  do  poema,   fala­se  de  Arthur   como  se   ele  próprio   tivesse 

participado das expedições ali registradas. O navio Prydwen é bem conhecido 

como um de seus tesouros. Uma das tríades localiza o cativeiro de   Gweir no 

Castelo de Oeth e Anoeth. Gweir parece não ter sido um personagem real, mas 

um   título   aplicado   às   experiências   de   muitos   personagens   do  Mabinogion, 

especialmente Mabon. O nome Gweir mab Gwystyl   significa “O Cativo, filho 

do Refém”. Diz­se que Gweir foi libertado por  Goreu, um primo de Arthur, 

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cujo nome significa “o melhor”.  

Nos   mais   antigos   contos   arturianos   de   Gales,   Arthur   é  amherawdr 

("imperador", do latim imperator), não "rei". O Arthur da  Historia Brittonum 

(o primeiro texto "histórico" sobrevivente a mencionar Arthur), do monge galês 

Nennius,  no começo do séc.   IX,  é  descrito  como  miles  (“guerreiro”)  e  dux 

(“líder”), nunca como rex (“rei”).  

Caer Sidi, “Castelo Giratório”. “O paraíso de quatro cantos além do mar”, uma 

ilha­torre   de   quatro   cantos   nas   águas   de  Annwn  (forma   mais   recente   de 

Annwfyn, o Outro Mundo onde habitam os deuses do paganismo céltico), um 

local misterioso muitas vezes mencionado na mitologia galesa.  Caer Fandwy, 

"Castelo da Luz", Caer Fedwid, "Castelo da Folia" são outros lugares do Outro 

Mundo ou outros nomes do Outro Mundo, também chamado, algumas vezes, 

Yr Echwydd, "o por­do­sol" ou "o ocaso".

2 Dyfed

Também conhecido como  Demetia, uma designação latina. Considera­se que 

corresponda ao atual  condado de Pembroke.  Chegou a abranger   também os 

condados de Carmathen e Cardigan,  formando a divisão ocidental  do sul de 

Gales, enquanto Gwent (ou Vendetia) formaria a oriental.

Na  Visitação Heráldica de Gales,  de Lewis Dwnn (reinado de Elizabeth I), 

publicada pela Sociedade Galesa de Manuscritos no sé. XIX, lê­se: 

O reino de Dyfed estendeu­se antigamente entre os rios Teify e Towy, desde Llyn Teify e da fonte do Towy até St. David e o centro desse reino era o Portal   negro,   em   Carmarthen,   e   há   atualmente   uma   lembrança   dessas fronteiras num velho livro de pergaminho do bispo de St. David.

De acordo com esse texto,  Dyfed ocuparia a sexta parte de Cardiganshire, dois 

terços do condado de Carmarthen e o condado de Pembroke inteiro.

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É evidente, contudo, que, na época em que o  mabinogi  de Pwyll foi escrito, 

restringia­se aos Cantrefi (Hundreds, Províncias) de Arberth ou Narberth, Dau 

Gleddyf, y Coed, Penfro, Rhos, Pebidiog e Cenmaes. O texto conta­nos que 

Pryderi   acrescentou   as   três   províncias   de   Ystrad   Tywi   (Carmarthenshire), 

Cantref  Mawr e Cantref  Eginawg,   juntamente  com as  quatro províncias  de 

Ceredigiawn, Cantref Emlyn, Cantref Wedws, Cantref Mabwyniawn e Cantref 

Gwarthaf. As sete províncias foram reunidas sob o nome de Seissyllwch.

Em Gales, na Idade Média, a unidade básica de terra era o tref – uma pequena 

vila ou povoado. Em teoria, 100 trefi formavam um cantref (literalmente, “cem 

povoados”) e meio cantref, ou um terço de cantref, era um cwmwd, embora, na 

prática, o número real variasse muito. Junto com os cantrefi, os cwmwdau eram 

as divisões geográficas em que se organizavam a justiça e a defesa. Haveria um 

chefe   encarregado   do  cwmwd,   provavelmente   relacionado   ao   príncipe   que 

governasse   o   reino.   Sua   corte   se   localizaria   num  tref  especial,   chamado 

maerdref. Ali viveriam os camponeses que cultivavam a terra do chefe, junto 

com os oficiais da corte e os servos. Os cwmwdau eram também divididos em 

maenorau ou maenolydd.  De acordo com o Livro Vermelho de Hergest, havia 

dezesseis cantrefi em Gales no séc. XIV.  

Os cantrefi eram muito importantes para a administração da lei em Gales. Cada 

cantref  tinha seu próprio tribunal,  que era uma assembléia dos  uchelwyr, os 

principais proprietários de terras do cantref. Esse tribunal seria presidido pelo 

rei,  se ele estivesse presente no  cantref, ou por um representante.  Além dos 

juízes, haveria um escrivão, um oficial de justiça e, às vezes, dois defensores 

profissionais.  O  cantref  podia apreciar  crimes,  determinar limites e questões 

relativas  às heranças.  O  tribunal  do  commote  (cwmwd)  mais   tarde absorveu 

muitas das funções do tribunal do cantref e, em algumas áreas, os nomes dos 

commotes  são mais  bem conhecidos  do que os nomes dos  cantrefi  do qual 

faziam   parte.   A   palavra  cwmwd,   às   vezes   escrita  cymwd  em   documentos 

antigos, em inglês commote, era uma divisão de terras secular (não eclesiástica) 

em Gales medieval. A palavra deriva do prefixo  cym­  (“junto”, “com”) e do 

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Page 39: 110439157 Quatro Ramos Do Mabinogion Texto Anotado

substantivo  bod  (“casa”,   “residência”).   A   palavra   inglesa   deriva   do   bretão 

antigo compot, que significa “parcela de terra”.

A adição   feita  por  Pryderi  provavelmente   restaurou  o   tamanho  que  Dyfed 

possuía na época dos romanos.

Geoffrey de Monmouth afirma que, na época de Arthur, Dyfed era governado 

por  Stater, mas a história nada sabe desse governante e conta sobre um rei 

chamado Agricola, que ocupou o trono por volta do ano 500, e sobre um outro 

rei, Vortipor, que era um homem idoso em 540. Antes do tempo de Agricola, 

uma dinastia irlandesa, os Ui Liatháin, dominava ali. 

3 Glyn Cuch

Cuch,   ou,   como   geralmente   se   escreve,  Cych,   é   a   torrente   que   divide   os 

condados de Pembroke e Carmarthen e cai no Teify entre Cenarth e Llechryd. 

Na  parte   superior  do  Glyn  Cuch  (“vale  do  Cuch”),   ficava  a   residência  de 

Cadifor   Fawr,   um   régulo   de   Dyfed   que   morreu   em   1088   e   foi   chamado 

“Senhor de Blaen Cuch e Cilsant”. A partir dele, muitas das principais famílias 

de Pembrokeshire traçam sua ascendência.  

4 Arawn, Senhor de Annwfyn

Conta­se deste personagem que lutou contra Amaethon mab Dôn na “Batalha 

das Árvores” ou Kadd Goddeu. Há dúvidas quanto a identificá­lo com Arawn 

ab Cynfarch,  a quem as Tríades celebram como um dos três Cavaleiros do 

Conselho (tríade 86) ou com Aron mab Dewinfin, cujo túmulo é mencionado 

nas Englynion y Beddau (Myv. Arch., I, p. 82).  

5 Annwfyn

Annwfyn ou Annwn é geralmente traduzido como “Inferno”, embora, “Regiões 

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Inferiores” fosse mais adequado para expressar seu significado.

O “Outro Mundo” da tradição britânica, ao contrário do Hades clássico ou do 

Inferno dos cristãos, não é um local de punição ou lamentação eterna, porém 

uma fonte de poder ancestral que pode ser visitada e de onde parte a “Caçada 

Selvagem”.

Os “Cães de Annwn” são objeto de uma antiga crença galesa que ainda não se 

extinguiu.   Diz­se   que   são,   às   vezes,   ouvidos   voando   pelos   ares   à   noite, 

perseguindo uma presa desconhecida.   Acredita­se que o seu comandante seja 

Gwyn ap Nudd, de quem se conta o seguinte em Culhwch e Olwen:

Vieram ambos de lá  para Gelli Wic,  na Cornualha,  e trouxeram consigo a correia feita com a barba de Dillus Farfawc e entregaram­na nas mãos de Arthur. Então Arthur compôs esta estrofe:

Kai fez uma correiada barba de Dillus, filho de Euri.Estivesse ele vivo, morto estarias.

E, desde então,  Kai ficou furioso, de modo que os guerreiros  da Ilha não puderam fazer a paz entre ele e Arthur. A partir daí, fosse nos problemas de Arthur, fosse pela matança de seus homens, jamais Kai viria novamente em seu auxílio.

Disse Arthur:­ Qual das maravilhas é melhor para nós procurarmos?­ É melhor para nós procurarmos Drudwyn, o filhote de Greid, o filhode Eri.

Um pouco antes disso, Creiddylad, a filha de Llud Llaw Ereint, e Gwythyr, o filho de Greidawl, estavam prometidos. Antes que ela se tornasse sua noiva, Gwyn ap Nudd veio e raptou­a pela força; e Gwythyr, o filho de Greidawl, reuniu seus homens e foi lutar com Gwyn ap Nudd. Mas Gwyn superou­o e capturou  Greid,   o   filho  de  Eri,   e  Glinneu,  o   filho  de   Taran,   e  Gwrgwst Ledlwn e Dynarth,  seu filho.  E ele capturou Penn, o filho de Nethawg,  e Nwython e Kyledyr Wyllt, seu filho. E ele matou Nwython e arrancou seu coração e obrigou Kyledyr a comer o coração de seu pai.  E,  a  partir  daí, Kyledyr tornou­se louco. Quando Arthur ouviu falar a esse respeito, ele foi para o norte e convocou Gwyn ap Nudd a comparecer ante ele e libertar os nobres que havia aprisionado e a fazer a paz entre Gwyn ap Nudd e Gwythyr, o filho de Greidawl. E esta foi a paz feita: a donzela permaneceria na casa de seu pai sem vantagem para qualquer deles e Gwyn ap Nudd e Gwythyr, filho de Greidawl,   lutariam a cada primeiro de maio daquela data até  o Dia do Julgamento, e qualquer deles que fosse então o vencedor obteria a donzela.

A “Família de Annwn” (Plant Annwn) são as fadas galesas que habitam em 

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Annwn, cuja entrada para o mundo dos homens é através dos lagos. Seu rei é 

Gwyn   ap   Nudd   e   a   Família   de   Annwn   é   conhecida,   sobretudo,   por   suas 

donzelas  (Gwragen Annwn),  por  seu gado branco ou malhado (Gwartheg y 

Llyn) e por seus ligeiros cães brancos (Cwn Annwn), que às, vezes, aparecem 

com a amante encantada de Gwyn, mas são, com freqüência, ouvidos latindo 

nas   noites   de   verão   em   busca   das   almas   de   homens   que   morreram   sem 

absolvição e sem penitência.  As Donzelas  do Lago são esposas amorosas e 

dóceis até a violação de algum tabu que esteja ligado a elas; o Gado do Lago 

traz riqueza e prosperidade a qualquer fazendeiro que o possuir e tiver sorte 

bastante para retê­lo, mas os Cães de Annwn demonstram bem a natureza desse 

povo subaquático: são os companheiros dos mortos, como os súditos de  Fin 

Bheara na Irlanda. Gwyn ap Nudd é chamado Rei de Annwn em alguns relatos, 

mas é mais comum que Arawn, o amigo de Pwyll de Dyfed, receba esse título.

6 Um monte

A   palavra   original   é  gorsedd,   que   significa   “trono”   (plural  gorseddau)   ou 

monte usado como lugar de julgamentos e, nesse sentido derivado, aplica­se 

muitas vezes.

O monte chamado Tynwald, na ilha de Man, foi o local onde se realizavam as 

assembléias judiciais daquela ilha.

A palavra  gorsedd,  usada  sem qualificação,  designa  a  gorsedd  nacional  de 

Gales, chamada Gorsedd Beirdd Ynys Prydain (“Gorsedd dos Bardos da Ilha da 

Grã­Bretanha”).   Existem   outras,   como   a  Gorseth   Kernow  (“Gorsedd   da 

Cornualha”)   e   a  Goursez   Vreizh  (“Gorsedd   da   Bretanha”).   As  gorseddau 

existem para promover a criação da literatura, a poesia e a música tradicionais. 

O símbolo comumente usado para representar a  gorsedd  é  uma linha tripla, 

estando a central em pé e as laterais inclinadas em direção à central:  /|\. Esse 

símbolo é chamado awen (“inspiração”) e diz­se que representa os raios do sol 

nascente. É também conhecido como Y Nod Cyfrin  (“O Sinal Místico”), ou Y 

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Nod   Pelydr   Goleuni  (“O   Sinal   do   Raio   de   Luz”).   Entretanto,   na  gorsedd 

bárdica,  representa os atributos de Amor,  Justiça e Verdade.  Também é  um 

persistente símbolo da imaginação céltica, que tende a expressar conceitos em 

forma tríplice.    

7 Rhiannon. Uma (pequena) lenda sobre Modron.

Depois da morte de Pwyll, Pridery deu a mão de Rhiannon em casamento a 

Manawyddan, o filho de Llyr, e a história subseqüente é relatada no mabinogi 

(o Terceiro Ramo) que leva seu nome. Seus pássaros maravilhosos, cuja canção 

era tão doce que guerreiros poderiam ficar extáticos durante anos escutando­a, 

são um tema freqüente entre os poetas.

Três   coisas   que   não   se   ouvem   comumente:   a   canção   dos   pássaros   de Rhiannon; uma canção de sabedoria da boca de um saxão e um convite para uma festa vindo de um avarento (Trioed y Cybyd, “As Tríades do Avarento”, Myv. Arch., III, p. 245).

Na tradição britânica, os pássaros de Rhiannon são três melros que cantam num 

ramo da árvore imortal que cresce no centro do paraíso terrestre. Sua canção 

pode levar o ouvinte a um transe que o transporta ao Outro Mundo.  

Rhiannon   é   uma   forma   tardia   do   céltico   antigo  Rigantona,   significando 

“Grande (ou Divina) Rainha”. Os atributos de Rhiannon podem ser traçados a 

partir  da deusa  céltica  Epona e  da  grega  Despoina  (“A Senhora”),   filha  de 

Deméter,  porém se aproximam mais  de  Modron,  deusa­mãe  de  Gales,  cujo 

mito ela incorpora.

Uma (pequena) lenda sobre Modron (Trioedd Ynis Prydein)

Em Denbigshire há  uma paróquia que é  chamada Llanferes  e  ali  existe  o Rhyd y Gyfarthfa  ("Vau dos Latidos"). Antigamente, os cães da zona rural costumavam   reunir­se   ao   lado   desse   vau   para   latir   e   ninguém   ousava descobrir o que havia ali, até que Urien Rheged chegou. E, quando ele chegou ao lado do vau, nada viu além de uma mulher   lavando. E, então,  os cães pararam de latir e Urien pegou a mulher e a possuiu; e então ela disse: "A benção de Deus nos pés que te trouxeram aqui." "Porque?" disse ele. "Porque fui destinada a lavar aqui até que eu concebesse um filho de um cristão. E eu 

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sou a filha do Rei de Annwfyn e volta aqui ao fim de um ano e receberás esse menino." E, assim, ele veio e recebeu um menino e uma menina,  ou seja, Owein, filho de Urien e Morfudd, filha de Urien.

Teyrnion Twrif Wliant, que dentro em pouco vai aparecer neste conto, talvez 

fosse,   no   passado,   o   consorte   original   de   Rhiannon.   Seu   nome   significa 

“Grande Rei (Tigernonos), Rugido do Mar” (rugido do mar, twrf lliant). 

Uma possível tradução para o nome de  Gwawl mab Clud, o pretendente que 

Rhiannon desprezará em favor de Pwyll, é “Luz”. Clud talvez signifique “fama, 

renome”, do proto­céltico *kluto­. É a deusa padroeira do rio Clyde (Clôta).   

8 Hefeyd Hen

De   acordo   com   as   lendas,   Hefeyd   Hen   (efydd,   “bronze”,  hen,”antigo”; 

provavelmente   o   mesmo  Hefeyd   Hir)   era   o   filho   de   São   Bleiddan   de 

Glamorgan. Ele foi um dos três forasteiros a que se entregou o poder, graças a 

seus poderosos feitos e qualidades louváveis. Em algumas linhagens, diz­se que 

ele   é   filho   de  Caradawc   Freichfras  (“Caradawc   Braço   Forte”),   ancestral 

lendário da casa reinante em Morgannwg (Glamorgan) e possível fundador do 

reino de Gwent, no séc. V. d. C.   

9 Gwent Is Coed

Uma das divisões de Gwent; as outras duas são  Gwent Uch Coed  e  Coch y 

Dena, ou “A Floresta de Dean”. Gwent era o nome antigamente atribuído à 

divisão oriental do sul de Gales. No presente, aplica­se apenas ao condado de 

Monmouth. 

10 Gwri Gwallt Euryn

Gwri Gwallt Euryn  (“o Bravo do Cabelo Dourado”), chamado  Pridery  neste 

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conto,  recebe freqüentes alusões dos poetas,  que se referem a ele utilizando 

qualquer dos nomes.

No conto  Culhwch e Olwen, ele aparece sob seu nome primitivo, mas é mais 

conhecido como Pryderi. Era um dos três principais guardadores de porcos da 

ilha e era assim chamado porque cuidava dos animais de  Pendaran Dyfed, no 

vale do Cuch, em Emlyn. Uma das tríades diz que os suínos eram do próprio 

Pwyll e que Pryderi pastoreava­os durante a ausência de seu pai em Annwfyn. 

Essa versão,  contudo,  não corresponde às circunstância  dadas  no  texto,  que 

contam o nascimento de Pryderi depois da misteriosa expedição de Pwyll.   

Encontramos as aventuras da maturidade de Pryderi detalhadas no mabinogi de 

Manawyddan, com o qual seu nome é mencionado numa passagem do Kerd am 

Feib Llyr  (“Canto ante os Filhos de Llyr”), atribuído a Taliesin. O nome da 

esposa de Pryderi, Cigfa, significa “a da festa”.  

No mabinogi de Math ab Mathonwy, relata­se que Pryderi foi privado da vida 

por Gwydion ab Dôn, graças às artes mágicas empregadas para vencê­lo em 

combate singular, depois de tê­lo enganado por meios similares ao levar alguns 

suínos que Pwyll recebera de Annwfyn e que ele e seu povo apreciavam muito.

O   encontro   aconteceu   em   Melenryd,   um   vau   do   rio   Cynfael,   em 

Merionethshire. O mesmo conto situa sua tumba em Maen Tyriawg, mas uma 

localidade diversa é assinalada pelos Englynion y Beddau:

Em Abergenoli está o túmulo de Pryderi,

Onde as ondas quebram contra a costa.

11 Pendaran Dyfed 

Aprendemos das tríades que o pai adotivo de Pryderi era o chefe de uma das 

principais   tribos   galesas,   aquela   que   se   espraiava   por   Dyfed,   Gower 

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(Glamorgan) e Cardigan (tríade 16).

Além disso e do fato de que possuía uma imensa vara de porcos que Pryderi 

guardava para ele no vale do Cuch e da menção feita a ele como um “jovem 

pajem” no mabinogi de Branwen, não restam dados sobre Pendaran Dyfed.

O SEGUNDO RAMO DO MABINOGION 

BRANWEN, FILHA DE LLYR

Introdução

O Segundo Ramo conta como Branwen ("Corvo Branco"), filha do deus Llyr ("Mar"), casa­se 

com Matholwch, rei da Irlanda. Seu irmão, o gigante Bran, o Abençoado, dá a Matholwch um 

caldeirão  mágico  que  pode  devolver   a  vida   aos  mortos.  Matholwch   leva  Branwen  para   a 

Irlanda,  mas a maltrata.  Bran vadeia o Mar da Irlanda,  rebocando atrás de si uma frota de 

navios  de guerra.  Branwen é   resgatada,  mas  todos os  galeses  são mortos,  exceto sete,  e  o 

próprio   Bran   é   mortalmente   ferido.   Entre   os   sete   que   escapam   incluem­se   Pryderi, 

Manawyddan (um deus marinho associado à Ilha de Man) e o bardo Taliesin. Eles retornam a 

Gales e Bran pede que sua cabeça seja cortada e enterrada no Monte Branco, onde hoje está a 

Torre de Londres,  para proteger  a  Grã­Bretanha de invasões.  Bran  significa "Corvo" e um 

bando de corvos é ainda hoje mantido na Torre de Londres. A tradição diz que, se os corvos 

deixarem a Torre, o país cairá sob a invasão estrangeira.

I A chegada de Matholwch.

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endigeid Fran12, o filho de Llyr, era o rei coroado desta 

ilha e era honrado com a coroa de Londres. Certa tarde, 

ele estava em Harlech13,  em Ardudwy, na sua corte,  e 

sentou­se  no   rochedo  de  Harlech,   examinando  o  mar. 

Com ele   estavam seu   irmão  Manawyddan,  o   filho  de 

Llyr,   e   seus   irmãos   por   parte   de   mãe,   Nissyen   e 

Efnissyen, e igualmente muitos outros nobres, como era adequado ver­se em 

torno   de   um   rei.   Seus   dois   irmãos   pelo   lado   materno   eram   os   filhos   de 

Eurosswydd14  com sua mãe, Penardun, a filha de Beli15, filho de Manogan. E 

um desses rapazes era um bom jovem, de gentil natureza e faria a paz entre 

seus parentes, levando seus familiares a ser amigos quando sua ira estivesse no 

mais alto ponto; e esse era Nissyen. Mas o outro levaria seus irmãos à contenda 

quando estivessem em perfeita paz. Ao se sentarem, viram treze navios vindo 

rapidamente do sul da Irlanda em sua direção. O vento soprava atrás deles e 

aproximavam­se rapidamente.

­ Vejo navios ao longe ­ disse o rei ­, vindo velozmente em direção a terra. 

Ordenai aos homens da corte que se armem e vão até lá para descobrir suas 

intenções.

Assim, os homens armaram­se e foram rumo aos navios. Ao verem os navios 

próximos, ficaram certos de jamais ter  visto embarcações melhor equipadas. 

Belas bandeiras de cetim estavam nelas. Viram que um dos navios sobrepujava 

os demais e enxergaram um escudo erguido no lado do navio e a ponta do 

escudo voltada para cima em sinal de paz. Os homens acercaram­se o suficiente 

para poder conversar. Lançaram então os botes e vieram para terra, saudando o 

rei, que já podia ouví­los do lugar onde estava, no rochedo sobre suas cabeças.

­ O Céu vos faça prosperar ­ disse ele ­ e sede bem vindos. A quem pertencem 

estes navios e quem é o chefe entre vós?

­ Senhor ­ eles disseram ­, Matholwch, rei da Irlanda, está aqui e estes navios 

lhe pertencem. ­ Para que ele vem? ­ perguntou o rei. ­ E ele virá a terra?

­ Ele veio até vós como pretendente, senhor ­ disseram eles ­, e não virá a terra 

a menos que obtenha de vós o seu dom.

­ E o que seria isso? ­ inquiriu o rei.

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­  Ele  deseja   aliar­se  convosco,   senhor   ­  disseram eles   ­,   e  vem para  pedir 

Branwen16,   a   filha   de   Llyr,   a   fim   de   que,   se   bem   vos   parecer,   a   Ilha   do 

Poderoso17 possa unir­se à Irlanda, tornando­se ambas mais fortes.

­ Realmente ­ disse ele ­, deixai­os vir a terra e vamos então conversar.

E essa resposta foi levada a Matholwch.

­ De boa vontade irei ­ disse ele.

Então  desembarcou  e   receberam­no alegremente.  Grande   foi  a  multidão  no 

palácio naquela noite, reunindo a comitiva do visitante e os da corte. No dia 

seguinte,   reuniram­se   em  conselho   e   resolveram  dar   a  mão  de  Branwen   a 

Matholwch. Ela era uma das três principais damas desta Ilha e a mais linda 

donzela do mundo.

E escolheram Aberffraw como o lugar onde se tornaria sua noiva. Com essa 

finalidade partiram e rumo a Aberffraw dirigiram­se as multidões. Matholwch e 

sua   comitiva   em   seus   navios,   Bendigeid   Fran   e   seu   séquito   por   terra,   até 

chegarem a Aberffraw.  Em Aberffraw começaram a  festa  e  sentaram­se  da 

seguinte maneira: o rei da Ilha do Poderoso e Manawyddan, o filho de Llyr, a 

um lado e Matholwch do outro lado e Branwen, a filha de Llyr, ao lado dele. E 

não estavam dentro de uma casa, mas sob tendas. Casa alguma jamais pôde 

conter   Bendigeid   Fran.   Começaram   o   banquete,   divertiram­se   e   fizeram 

discursos. E quando lhes era mais agradável dormir do que se divertirem, foram 

descansar.

II A ira de Efnissyen.

No dia seguinte, eles se levantaram e todos os da corte e os oficiais começaram 

a equipar e ordenar os cavalos  e os criados,  dispondo­os ordenadamente ao 

longo do mar.

Nesse dia, Efnissyen, o homem briguento de quem falamos acima, chegou por 

acaso ao local onde estavam os cavalos de Matholwch e perguntou de quem os 

cavalos poderiam ser:

­ São os cavalos de Matholwch, rei  da Irlanda,  que se casou com Branwen, 

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vossa irmã; dele são os cavalos.

­ E é então o que fizeram com uma moça como ela, além de tudo minha irmã, 

entregaram­na sem meu consentimento? Não me poderiam ter oferecido insulto 

algum maior do que esse! ­ exclamou ele. Lançou­se sobre os cavalos e cortou­

lhes os lábios até os dentes, as orelhas até perto de suas cabeças, os rabos quase 

na raiz e, onde quer que pudesse agarrar suas pálpebras, cortou­as até o osso, 

desfigurando os cavalos e tornando­os inúteis.

Chegaram com essas novas a Matholwch, dizendo que os cavalos haviam sido 

desfigurados   e   machucados,   de   forma   a   nenhum   deles   jamais   poder   ser 

utilizado outra vez.

­ De fato, senhor ­ disse um da comitiva ­, foi um insulto contra vós e como tal 

deve ser entendido.

­  Na verdade,  é  uma espanto  para  mim que,  se  desejavam insultar­me,  me 

houvessem dado uma donzela de tão alta estirpe e tão amada por sua família 

como fizeram.

­ Senhor ­ disse um outro ­, vós vedes que assim é e nada tendes a fazer além 

de irdes para vossos navios.

E logo ele partiu para seus navios.

Notícias chegaram a Bendigeid Fran de que Matholwch estava deixando a corte 

sem   pedir   permissão   e   mensageiros   foram   enviados   para   perguntar­lhe   o 

porquê   de   agir   assim.   E   os   mensageiros   enviados   foram   Iddic,   o   filho   de 

Anarawd,   e   Hefeydd   Hir.   Estes   o   alcançaram   e   perguntaram­lhe   o   que 

pretendia fazer e por que partia. 

­ Na verdade ­ disse ele ­, se eu soubesse, não teria chegado perto daqui. Fui 

completamente insultado, ninguém jamais teve tratamento pior do que eu tive 

neste lugar. Mas uma coisa acima de todas me surpreende.

­ O que é? ­ perguntaram eles. ­ Que Branwen, a filha de Llyr, uma das três 

principais damas desta ilha e filha do rei da Ilha do Poderoso, me fosse dada 

como minha noiva e depois disso eu fosse insultado. E fico maravilhado de que 

o insulto não me fosse feito antes de me concederem uma donzela tão excelente 

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quanto ela.

­ Verdadeiramente, senhor, não era o desejo de qualquer um dos que estão na 

corte ­ disseram eles ­, nem de qualquer um dos que estão no Conselho que 

recebêsseis   tal   insulto.   Como   fostes   insultado,   a   desonra   é   maior   para 

Bendigeid Fran do que para vós.

­ Exatamente ­ disse ele ­, assim penso. Não obstante, ele não pode desfazer o 

insulto.

Os homens retornaram com essa resposta ao lugar onde Bendigeid Fran estava 

e contaram­lhe qual resposta Matholwch lhes dera.

­ Na verdade ­ disse ele ­, não há meios pelos quais o impedir de partir em 

inimizade conosco que não iremos tomar.

­ Bem, senhor ­ disseram eles ­, enviai­lhe uma outra embaixada. 

­ Assim farei ­ disse ele. ­ Erguei­vos, Manawyddan, filho de Llyr, e Hefeydd 

Hir e Unic Glew Ysgwyd e ide atrás dele para dizer­lhe que terá um cavalo 

bom   para   cada   um   dos   que   foram   machucados.   E,   além   disso,   como 

compensação pelo insulto18, ele terá um bastão de prata, tão grande e alto como 

ele mesmo e um prato de ouro do tamanho do seu rosto. E contai­lhe quem fez 

isso tudo e que foi feito contra minha vontade, mas quem o fez é meu irmão por 

parte de mãe e seria então duro para mim condená­lo à morte. Deixai­o vir e 

encontrar­se comigo ­ disse ele ­ e faremos a paz em quaisquer termos que ele 

possa desejar.

A  embaixada   foi   até  Matholwch   e   disse­lhe   todas   essas  palavras   de  modo 

simpático e ele as escutou.

­ Homens ­ disse ele ­, vou buscar conselho.

Assim,  ele   reuniu seu Conselho,  onde consideraram que,  se  ele  recusasse a 

proposta, o mais provável seria sofrerem mais vergonha em lugar de obter uma 

tão grande compensação.  Resolveram então aceitá­la e retornaram em paz à 

corte.

III O casamento de Branwen e Matholwch. O Caldeirão da Renovação.

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Então os pavilhões e as tendas foram dispostos à maneira de um salão. E eles 

vieram comer e, como se haviam sentado no início da festa, sentaram­se agora. 

Matholwch  e  Bendigeid  Fran  começaram a  discursar.  Pareceu  a  Bendigeid 

Fran, enquanto falavam, que Matholwch não estava tão alegre quanto estivera 

antes. E pensou que o soberano poderia estar triste em razão da pequenez da 

compensação que obtivera pelo erro que fora cometido contra ele. 

­   Ó   homem   ­   disse   Bendigeid   Fran   ­,   não   estais   falando   nesta   noite   tão 

animadamente quanto antes. E, se é por causa da pequenez da compensação, 

vós lhe acrescentareis  qualquer coisa que possais escolher e amanhã  mesmo 

vos entregarei os cavalos.

­ Senhor ­ disse ele ­, o Céu vos recompense!

­ E eu vos aumentarei a compensação ­ disse Bendigeid Fran ­, pois vos darei 

um caldeirão19 cuja propriedade é que, se um dos vossos homens for morto hoje 

e jogado lá dentro, amanhã ele estará tão bem como jamais esteve nos melhores 

dias, exceto que não recuperará sua fala.

Matholwch   deu­lhe   grandes   agradecimentos   e   ficou   muito   alegre   por   esse 

motivo.

Na manhã seguinte entregaram a Matholwch tantos cavalos treinados quantos 

havia.  E então viajaram para outro distrito,  onde o pagaram com potros até 

completar o número total. Desde então, esse distrito foi chamado Talebolyon.

Uma segunda noite sentaram­se juntos.

­  Meu senhor   ­  disse  Matholwch  ­,  de onde obtivestes  o  caldeirão  que me 

destes?

­ Ganhei­o de um homem que esteve em vosso país ­ disse Bendigeid Fran ­, e 

não o daria a não ser a alguém que viesse de lá.

­ Quem era? ­ perguntou ele.

­   Llassar   Llaesgyfnewid.   Ele   chegou   aqui   vindo   da   Irlanda   com   Cymideu 

Cymeinfoll,  sua esposa, que escapou da Casa de Ferro na Irlanda, quando a 

aqueceram até  que ficasse rubra  ao redor  deles  e   fugiram para cá.  E é  um 

assombro para mim nada saberdes em relação a esses fatos.

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­ Na verdade, sei alguma coisa e tudo quanto souber vô­lo contarei. Certo dia, 

eu estava caçando na Irlanda e cheguei a um monte junto a um lago, que é 

chamado Lago do Caldeirão. Vi um enorme homem de cabelos amarelos vindo 

do lago com um caldeirão em suas costas. Era um homem de grande tamanho e 

de horrível aspecto e uma mulher o seguia. E, se o homem era alto, duas vezes 

maior   era   a   mulher.   Eles   vinham   em   minha   direção   e   saudaram­me.   'Na 

verdade', eu perguntei, 'para onde estais viajando?' 'Vede', disse­me, 'este é o 

motivo pelo qual viajamos. Ao fim de um mês e uma quinzena esta mulher terá 

um filho. E a criança que nascerá ao fim de um mês e uma quinzena será um 

guerreiro totalmente armado'. Assim, levei­os comigo e sustentei­os. Estiveram 

comigo por um ano. E esse ano eu os tive comigo não de má  vontade. Mas 

então houve murmúrios porque eles estavam comigo. Pois, desde o começo do 

quarto mês, eles começaram a fazer­se odiados e a fazer desordens na terra, 

cometendo afrontas e molestando e estorvando os nobres e as damas. Então 

meu  povo   se   ergueu  e   pediu­me  que  me   separasse  deles.  Obrigaram­me  a 

escolher entre eles e meus domínios. E eu utilizei o conselho do meu país para 

saber o que seria feito em relação a eles, pois não partiriam por sua própria 

vontade, nem contra sua vontade poderiam ser compelidos a fazê­lo, através de 

luta. E, estando o povo do país nesse dilema, ordenaram que fosse feita uma 

câmara toda de ferro. Quando o quarto já estava pronto, lá veio cada ferreiro 

que havia na Irlanda e cada um que possuía tenazes e martelo.  Empilharam 

carvões   tão  alto  que  chegaram ao   topo  da  câmara.  Serviram ao  homem,  à 

mulher e à criança uma abundância de comida e bebida. Quando perceberam 

que eles  estavam bêbados,  começaram a por   fogo nos  carvões  ao redor  do 

quarto e a soprá­los com foles até que a casa ficasse incandescente em volta 

deles. E houve uma reunião no meio do chão do quarto. O homem permaneceu 

até que as placas de ferro estivessem todas brancas de calor. E então, em razão 

do   grande   calor,   o   homem   chocou­se   contra   as   placas   com   seu   ombro   e 

rebentou­as   e   sua  esposa  o   seguiu;  mas,  exceto  ele  e   sua  esposa,  ninguém 

escapou na ocasião. Assim, eu suponho, senhor ­ disse Matholwch a Bendigeid 

Fran ­, que eles vieram até vós.

­ Sem dúvida, eles vieram para cá ­ disse ele ­ e deram­me o caldeirão.

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­ De que maneira vós os recebestes?

­ Espalhei­os em cada parte dos meus domínios e eles se tornaram numerosos e 

estão   prosperando   por   toda   parte   e   fortalecem   os   lugares   onde   estão   com 

homens e armas dos melhores jamais vistos.

Naquela   noite,   continuaram   a   conversar   tanto   quanto   quiseram   e   tiveram 

menestréis   e   diversão   e,   quando   lhes   era   mais   agradável   dormir   do   que 

permanecer   mais   tempo   sentados,   foram   descansar.   E   assim   o   banquete 

continuou com alegria. Quando terminou, Matholwch viajou para a Irlanda e 

Branwen com ele.  Partiram de Aber Menei  com treze navios e chegaram à 

Irlanda, onde houve grande alegria em razão da sua chegada. Nenhum grande 

homem ou nobre dama visitou Branwen a quem ela não desse um broche, um 

anel ou uma jóia real como presente com o qual era honroso ser visto ao partir. 

Nessas   atividades,   ela   gastou   o   ano   com   muito   renome   e   passou 

agradavelmente   seu   tempo,   desfrutando  de  honra   e   amizade.  E,   entretanto, 

ocorreu que ela ficou grávida. No devido tempo, nasceu­lhe um filho e o nome 

que lhe deram foi Gwern,  filho de Matholwch. Mandaram o menino para ser 

criado num lugar onde estavam os melhores homens da Irlanda.

IV O desprezo a Branwen.

E no segundo ano ergueu­se um tumulto na Irlanda em razão do insulto que 

Matholwch recebera em Câmbria e do pagamento que lhe fora feito por seus 

cavalos. Seus irmãos de criação que, como tais, estavam mais próximos dele, 

culpavam­no abertamente por esse motivo. E ele não pôde ter paz em razão do 

tumulto até o vingarem dessa desgraça. A vingança que tomaram foi afastar 

Branwen do quarto dele e fazê­la cozinhar para a Corte. E ordenaram que o 

açougueiro, depois de picar a carne, fosse até  ela e lhe desse a cada dia um 

golpe na orelha. Tal foi a punição que lhe deram.

­ Realmente, senhor ­ disseram a Matholwch seus homens ­, proibí já os navios, 

as balsas de transporte e os botes de irem a Câmbria e todos os que vierem de 

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Câmbria até aqui, prendei­os para que não possam voltar e fazer com que estas 

coisas sejam conhecidas lá.

Assim ele fez e assim foi por não menos do que três anos.

Branwen criou um estorninho na cobertura da padaria do palácio, ensinou­o a 

falar e ensinou ao pássaro qual era a aparência de seu irmão. Escreveu uma 

carta sobre suas aflições e sobre o desprezo com que era tratada, amarrando­a 

na raiz da asa do pássaro, que enviou em direção à Grã­Bretanha. O pássaro 

chegou  à   Ilha   e,   certo  dia,   encontrou  Bendigeid  Fran   em Caer  Seiont,   em 

Arfon, onde estava reunido com seus nobres. A ave pousou em seu ombro e 

arrepiou suas penas, de modo que a carta fosse vista. Souberam então que o 

pássaro fora criado em casa.

V Bran parte para a Irlanda.

Bendigeid   Fran   tomou   a   carta   e   olhou­a.   Depois   de   a   ler,   entristeceu­se 

excessivamente   pelas   notícias   das   aflições   de   Branwen.   E   imediatamente 

começou a enviar mensageiros que reunissem toda a Ilha. Fez com que sete 

vintenas e quatro países viessem a ele e queixou­se ele mesmo diante de todos 

pela   aflição   que   sua   irmã   suportava.   Então   deliberaram   e   no   Conselho 

resolveram   ir   para   a   Irlanda   e   deixar   sete   homens   como   príncipes   aqui   e 

Caradawc20, o filho de Bran, como o chefe deles e dos seus sete cavaleiros. Em 

Edeyrnion esses homens foram deixados. Por essa razão foram os cavaleiros 

deixados na cidade.  Os nomes desses sete homens eram Caradawc, filho de 

Bran,   e   Hefeydd   Hir   e   Unic   Glew   Ysgwyd   e   Iddic,   o   filho   de   Anarawc 

Gwalltgrwm e Fodor, filho de Erfyll, e Gwlch Minascwrn e Llassar, filho de 

Llaesar  Llaesgygwyd  e  Pendaran  Dyfed,   como um  jovem pajem com eles. 

Esses foram estabelecidos como sete ministros para encarregarem­se desta ilha. 

E Caradawc, o filho de Bran, era o chefe entre eles.

Bendigeid Fran, com a multidão de que falamos, velejou para a Irlanda e não 

estava ainda longe no mar quando chegou à água rasa. Não eram senão dois 

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rios: o Lli e o Archan foram chamados e as nações cobriram o mar. Ele então 

prosseguiu com todas as provisões que tinha em suas costas e aproximou­se das 

praias da Irlanda.

Os porqueiros de Matholwch estavam próximos da costa e foram a Matholwch.

­ Senhor ­ disseram eles ­, saudação a vós.

­ O Céu vos proteja ­ ele respondeu ­, tendes quaisquer novidades?

­ Senhor, vimos coisas maravilhosas, vimos uma floresta no mar, num lugar 

onde jamais vimos uma só árvore.

­ Isso sem dúvida é uma maravilha. Vistes qualquer outra coisa?

­ Vimos, senhor ­ disseram eles ­, uma vasta montanha ao lado da floresta que 

se movia e havia um alto cume no topo da montanha e um lago em cada lado 

do cume. E a floresta e a montanha e todas essas coisas se moviam.

­ Na verdade ­ disse ele ­, não há ninguém que possa saber qualquer coisa em 

relação a isso, exceto Branwen.

Mensageiros foram mandados a Branwen.

­ Senhora ­ disseram eles ­, que pensais seja isso?

­ Os homens da Ilha do Poderoso, que vieram aqui por ouvirem sobre meus 

maus­tratos e minhas aflições.

­ Que é a floresta vista sobre o mar? ­ perguntaram eles.

­ As velas e os mastros dos navios ­ ela respondeu.

­ Ai! Que é a montanha que se vê ao lado dos navios?

­ Bendigeid Fran, meu irmão, chegando à água rasa; não há navio que possa 

contê­lo.

­ Que é o alto cume com um lago em cada um dos seus lados?

­ Ao olhar na direção desta ilha ele está irado e seus dois olhos, um em cada 

lado de seu nariz, são os dois lagos que ladeiam o cume.

Os   guerreiros   e   os   principais   homens   da   Irlanda   foram   reunidos 

apressadamente e fizeram um conselho.

­ Senhor ­ disseram os nobres a Matholwch ­, não há outro conselho além de 

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retirar­vos para além do Linon (um rio que há na Irlanda) e manter o rio entre 

vós e ele, destruindo a ponte que atravessa o rio, pois há no seu fundo uma 

magnetita sobre a qual nenhum barco ou navio poderá passar.

Assim, eles se retiraram pelo rio e quebraram a ponte.

Bendigeid Fran chegou a terra e a frota com ele pela margem do rio.

­ Senhor ­ disseram os capitães ­, conheceis a natureza deste rio, que nada pode 

atravessá­lo e que não há ponte sobre ele?

­ Não há nenhuma ­ replicou o rei ­, exceto que aquele que será o chefe, deixai­

o ser uma ponte. Eu o serei.

Foi então essa declaração proferida pela primeira vez e é  ainda usada como 

provérbio.  Quando ele se deitou atravessando o rio,  tábuas foram colocadas 

sobre ele e o exército passou por cima.

Quando o gigante levantou­se, os mensageiros de Matholwch chegaram até ele, 

saudaram­no e deram­lhe cumprimentos em nome de Matholwch, seu parente, 

e mostraram como, pela sua benevolência, ele não tinha merecido de Bendigeid 

Fran senão o bem.

­ Pois Matholwch deu o reino da Irlanda a Gwern, vosso sobrinho e filho de 

vossa irmã. E isso ele coloca diante de vós como uma compensação pelo erro e 

desprezo feitos a  Branwen.  E Matholwch será  mantido onde quiserdes,  seja 

aqui ou na Ilha do Poderoso.

Disse Bendigeid Fran:

­ Não terei eu mesmo o reino? Então porventura eu possa aconselhar­me em 

relação  a  vossa  mensagem.  Deste  momento  até   lá,  nenhuma outra   resposta 

obtereis de mim.

­ Em verdade ­ disseram eles ­, a melhor mensagem que recebermos para vós, 

nós vô­la traremos e esperai que falaremos ao nosso rei.

­ Esperarei ­ respondeu Bendigeid Fran ­ e retornai rapidamente.

VI Uma casa para Bran.

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Os mensageiros partiram e chegaram a Matholwch.

­  Senhor  ­  disseram eles  ­,  preparai  uma mensagem melhor  para Bendigeid 

Fran. Ele absolutamente não escutaria aquela que lhe transmitimos.

­ Meus amigos ­ disse Matholwch ­, qual poderia ser vosso conselho?

­ Senhor, não há outro conselho exceto este apenas. Ele nunca soube o que é 

estar dentro de uma casa, fazei então uma casa que possa contê­lo e aos homens 

da Ilha do Poderoso de um lado e a vós e ao vosso exército do outro. Entregai 

vosso reino à vontade dele e prestai­lhe homenagem. Assim, em razão da honra 

que lhe fizestes  construindo­lhe uma casa,  considerando que ele  nunca teve 

uma casa que o pudesse conter, ele fará a paz convosco.

Os mensageiros então voltaram a Bendigeid Fran levando­lhe essa mensagem.

E ele  buscou o conselho  e  no  Conselho   resolveu­se que  essa decisão  seria 

aceita. Tudo foi feito de acordo com o aviso de Branwen e a fim de que o país 

não   fosse   destruído.   A   paz   foi   feita   e   tão   vasta   quanto   forte   a   casa   foi 

construída. Mas os irlandeses planejaram uma maquinação astuta. E a astúcia 

foi que pusessem suportes em cada lado dos cem pilares que estavam na casa. 

Colocaram um saco de couro em cada suporte e um homem armado dentro de 

cada um deles. Então Efnissyen entrou antes do exército da Ilha do Poderoso, 

esquadrinhando a casa com olhares ferozes e selvagens e observou os sacos de 

couro que estavam pendurados nos pilares.

­ Que há nesse saco ? ­ perguntou ele a um dos irlandeses.

­ Comida, boa alma ­ disse este.

Efnissyen apalpou­o até  chegar à  cabeça do homem e apertou a  cabeça até 

sentir seus dedos se encontrarem no cérebro através do osso. Ele deixou aquele 

saco e pôs sua mão sobre outro, perguntando o que havia lá dentro.

­ Comida ­ disse o irlandês.

E daquele modo ele fez a cada um deles até que, de todos os duzentos homens, 

não deixara nenhum vivo senão um. Ele perguntou o que estava ali.

­ Comida, boa alma ­ disse o irlandês.

Efnissyen apalpou­o até  sentir  a cabeça e apertou­a como fizera aos outros. 

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Embora achasse que a cabeça deste estava protegida, não o deixou até matá­lo. 

E então cantou uma estrofe.

"Há neste saco um diferente tipo de comida:O combatente pronto para quando o ataque é feitoPor seus companheiros, preparado para a batalha."

Logo após vieram os guerreiros  para a  casa.  Os homens da Ilha da Irlanda 

entraram na casa por um lado e os homens da Ilha do Poderoso pelo outro. Tão 

logo se sentaram,  houve harmonia entre  eles e  a soberania foi conferida ao 

menino. Quando se concluiu a paz, Bendigeid Fran chamou o menino a si e de 

Bendigeid Fran o menino foi para Manawyddan e foi amado por todos os que o 

viram.   De   Manawyddan   o   menino   foi   chamado   por   Nissyen,   o   filho   de 

Eurosswydd, indo amorosamente até ele.

­ Por quê ­ disse Efnissyen ­ não vem meu sobrinho, o filho de minha irmã, até 

mim?

­ Alegremente o deixo ir a vós ­ disse Bendigeid Fran.

E o menino alegremente foi até ele.

­   Pela   minha   crença   no   Céu   ­   disse   Efnissyen   em   seu   coração   ­,   jamais 

imaginado   por   alguém   desta   casa   foi   o   massacre   que   vou   cometer   neste 

momento.

VII Efnissyen mata Gwern. A luta entre britanos e irlandeses.

Efnissyen se ergueu, pegou o menino pelos pés e, antes que qualquer um na 

casa pudesse agarrá­lo,  ele depressa o empurrou no fogo ardente.  E quando 

Branwen viu seu filho queimando no fogo, ela, do lugar onde estava sentada 

entre seus dois irmãos, esforçou­se para também saltar no fogo. Mas Bendigeid 

Fran  agarrou­a  com uma mão  e   seu  escudo com a  outra.  Então  todos  eles 

correram pela casa e nunca um tão grande tumulto foi feito por uma multidão 

dentro de uma casa quanto o que foi feito por eles enquanto cada homem se 

armava. Então disse Morddwyd Tyllyon:

­ Os moscardos da Vaca de Morddwydd Tyllyon!

Enquanto todos buscavam suas armas, Bendigeid Fran mantinha Branwen entre 

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seu escudo e seu ombro. 

Os irlandeses acenderam um fogo sob o Caldeirão da Renovação. Lançaram ali 

os cadáveres até que estivesse cheio. No dia seguinte, eles voltavam tão bons 

lutadores   quanto   antes,   exceto   que   não   eram   capazes   de   falar.   E   quando 

Efnyssien   não   viu   os   corpos   mortos   dos   homens   da   Ilha   do   Poderoso 

ressuscitados em parte alguma, pensou em seu coração:

­ Ai! Desgraçado sou eu, que devo ter sido a causa de chegarem os homens da 

Ilha do Poderoso a um tão grande dilema. Que o mal me castigue se eu não 

encontrar uma libertação para eles.

Ele   se   lançou   sobre   os   cadáveres   dos   inimigos.   Dois   irlandeses   descalços 

vieram   até   ele   e,   pensando   que   fosse   um   dos   seus,   arremessaram­no   no 

caldeirão.  Efnyssien  esticou­se  dentro  do  caldeirão,  quebrando­o  em quatro 

partes. Mas o esforço estourou também seu coração.

Em   conseqüência   disso,   os   homens   da   Ilha   do   Poderoso   obtiveram   tanto 

sucesso quanto os irlandeses. Contudo, não foram vitoriosos, pois, dentre todos 

eles,  apenas sete homens escaparam e ao próprio Bendigeid Fran um dardo 

envenenado ferira no pé.

Eis que os sete homens que escaparam foram Pryderi, Manawyddan, Gluneu 

Eil Taran, Taliesin, Ynawc, Grudyen, o filho de Muryel, e Heylin, o filho de 

Gwynn Hen.

Bendigeid Fran ordenou­lhes que cortassem sua cabeça:

­ Tomai minha cabeça e levai­a ao Monte Branco21, em Londres, para sepultá­la 

com o rosto em direção à França. Por um longo tempo estareis na estrada. Em 

Harlech estareis festejando por sete anos, os pássaros de Rhiannon cantando 

para vós durante esse tempo. Durante todos esses dias, a cabeça será para vós 

uma   companhia   tão   agradável   como   já   era   quando   em   meu   corpo.   E   em 

Gwales,   em   Penfro,   estareis   por   quatro   vintenas   de   anos.   Lá   podereis 

permanecer e a cabeça intacta convosco até que abrais a porta que dá para Aber 

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Henfelen e para a Cornualha. Depois de haverdes aberto a porta não podereis 

mais permanecer lá.  Parti então para Londres para enterrar a cabeça e segui 

adiante.

VIII A morte de Branwen.

Cortaram­lhe a cabeça e esses sete prosseguiram com ela. Branwen era a oitava 

com eles. O grupo chegou a terra em Aber Alaw, em Talebolyon, e sentaram­se 

para descansar. Branwen olhou em direção à  Irlanda e em direção à  Ilha do 

Poderoso, para ver se as podia enxergar.

­ Ai ­ disse ela ­, a aflição esteve comigo desde que nasci; por minha causa 

foram duas ilhas destruídas!

Ela então proferiu um alto gemido e assim se partiu o seu coração. Fizeram­lhe 

um sepulcro de quatro lados e enterraram­na nas margens do rio Alaw.

Os sete homens viajaram para Harlech levando a cabeça consigo; ao chegarem 

lá encontraram uma multidão de homens e mulheres.

­ Tendes alguma novidade? ­ perguntou Manawyddan.

­ Não temos nenhuma ­ disseram eles ­, salvo que Caswallawn22,  o filho de 

Beli, conquistou a Ilha do Poderoso e foi coroado rei em Londres.

­ Que aconteceu a Caradawc, o filho de Bran, e aos sete homens que foram 

deixados com ele nesta ilha?

­ Caswallawn veio sobre eles e matou seis dos homens. O coração de Caradawc 

partiu­se   de   tristeza   por   isso,   pois   ele   podia   ver   a   espada   que   matava   os 

homens,  mas não sabia  quem a empunhava.  Caswallawn  tinha  arremessado 

sobre ele o Véu da Ilusão, de modo que ninguém podia vê­lo matar os homens, 

mas apenas a espada podia ser vista. E não lhe agradou matar Caradawc porque 

ele era seu sobrinho, o filho de seu primo. E agora ele é o terceiro cujo coração 

se quebrou pela aflição. Pendaran Dyfed,  que permanecera como um jovem 

pajem com esses homens, escapou para a floresta ­ disseram eles.

IX Os pássaros de Rhiannon.

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Então   foram   para  Harlech,   onde  pararam  para   descansar   e   providenciaram 

comida  e  bebida.  Estavam sentados   fazendo  a   refeição  quando  vieram  três 

pássaros e começaram a cantar­lhes uma certa canção. Todas as canções que 

eles   jamais   tinham ouvido  eram desagradáveis  em comparação  a  essa  e  os 

pássaros pareciam­lhes estar a uma enorme distância, embora aparecessem tão 

distintamente como se estivessem perto.  Nesse repasto continuaram por sete 

anos.

X A Diversão da Nobre Cabeça.

Ao fim do sétimo ano eles foram para Gwales, em Penfro. Lá encontraram um 

lugar bom e digno de um rei, dando para o oceano, onde havia um espaçoso 

salão. Eles entraram no salão e duas das suas portas estavam abertas, mas a 

terceira porta estava fechada, aquela que olhava em direção à Cornualha.

­ Vede lá ­ disse Manawyddan ­, é a porta que não podemos abrir.

E naquela noite eles se regalaram e ficaram alegres. De todas as comidas que 

tiveram diante de si e de tudo que ouviram, nada lembraram; nem disso, nem 

de  qualquer   tristeza,   fosse qual   fosse.  Lá  permaneceram quatro  vintenas  de 

anos,   inconscientes   de   jamais   terem   passado   um   tempo   mais   alegre   ou 

tranqüilo.  E não ficaram mais cansados do que no primeiro instante em que 

chegaram,  nem qualquer  um deles   sabia  o   tempo  que  haviam estado  lá.  A 

conversação da cabeça  era­lhes   tão agradável  como se o próprio Bendigeid 

Fran estivesse com eles. Em razão dessas quatro vintenas de anos, o período foi 

chamado "a diversão da nobre cabeça". E a diversão de Branwen e Matholwch 

foi no tempo em que foram para a Irlanda.

XI A Terceira Ocultação Agradável.

Certo dia, disse Heilyn, o filho de Gwynn:

­ O mal me castigue se eu não abrir essa porta para saber se é verdade o que 

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dizem a esse respeito.

Ele assim abriu a porta e olhou em direção à Cornualha e Aber Henfelen. E, 

quando   eles   olharam,   ficaram   conscientes   de   todos   os   males   que   tinham 

suportado, de todos os amigos e companheiros que tinham perdido e de toda a 

miséria  que   lhes  ocorrera   como se   tudo   tivesse  acontecido  naquele  mesmo 

momento  e,  especialmente,  do  terrível  destino de seu senhor.  Não puderam 

descansar por causa de sua perturbação, mas viajaram com a cabeça rumo a 

Londres. Sepultaram a cabeça no Monte Branco e, quando estava enterrada, 

essa foi a terceira ocultação agradável; e o terceiro descobrimento infortunado 

se deu quando ela foi desenterrada, já que nenhuma invasão pelo mar viria a 

esta ilha enquanto a cabeça estivesse oculta.

E esta é então a história contada por aqueles que viajaram pela Irlanda.

Na Irlanda ninguém ficou com vida, exceto cinco mulheres grávidas em uma 

caverna na floresta irlandesa. Essas cinco mulheres na mesma noite deram à luz 

cinco filhos a que alimentaram até se tornarem jovens adultos. Eles pensaram 

em esposas e ao mesmo tempo desejaram possuí­las. Cada um tomou como 

esposa   a  mãe  de  um dos   seus   companheiros   e   eles   governaram o  país23  e 

povoaram­no.

E estes cinco dividiram­no entre si. Por causa dessa partilha estão ainda assim 

arranjadas   as   cinco  províncias   da   Irlanda.  Eles   examinaram a   terra   onde  a 

batalha teve lugar e encontraram ouro e prata suficientes para se tornarem ricos.

E assim termina esta parte do Mabinogion  relativa ao golpe dado a Branwen, 

que foi o terceiro infeliz golpe desta ilha; e relativa ao entretenimento de Bran 

quando as hostes de sete vintenas e quatro países foram à Irlanda para vingar o 

golpe dado a Branwen; e relativa ao banquete de sete anos em Harlech e à 

canção dos pássaros de Rhiannon e à permanência da cabeça pelo espaço de 

quatro vintenas de anos.

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NOTAS AO SEGUNDO RAMO

12 Bendigeid Fran 

Bran, o filho de Llyr Llediaith e soberano da Grã­Bretanha, de acordo com as 

autoridades   galesas,   obteve   seu   título   de  bendigeid  ou   “abençoado”   da 

circunstância de haver introduzido o cristianismo na ilha. A tradição nos conta 

que ele era o pai de Caradawc (Caratacus), cujo cativeiro asseguram­nos que 

compartilhou; e prossegue afirmando que, tendo abraçado a fé cristã durante os 

sete anos que ficou detido em Roma, voltou a seu país nativo e fez com que o 

Evangelho fosse ali pregado . A tríade 35 recita esses eventos:

Os Três Abençoados Soberanos da Ilha da Grã­Bretanha, Bran, o Abençoado, 

filho de Llyr Llediaith, que primeiro trouxe a fé de Cristo para   nação dos 

Cimbri [os galeses], ao vir de Roma, onde esteve por sete anos como refém 

por seu filho Caradawc, a quem os romanos fizeram prisioneiros através das 

artes e engano e traição de Aergwedd ab Coel ab Cyllyn Sant (usualmente se 

pensa que seja Cartimandua). O segundo foi Lleurig ab Coel ab Cyllyn Sant, 

que foi chamado Lleufer Mawr (“Luz Verde”) e construiu a igreja de Llandaf, 

que foi a primeira na Grã­Bretanha e que deu os privilégios de terra e de 

parentesco e de direitos sociais e de sociedade aos que eram da fé de Cristo. 

O terceiro foi Cadwaladyr, o Abençoado, que deu guarida em suas terras e 

com todos os seus bens aos crentes  que fugiram dos saxões sem fé  e dos 

estrangeiros que poderiam tê­los matado.

O benefício que Bran assim conferiu a seu país trouxe a sua família a distinção 

de ser contada como uma das Três Tribos Sagradas. As famílias de Cunedda 

Wledig e de Brychan Brycheiniog seriam as outras duas.  

Bran é comparado a Prydain ab Aedd Mawr e Dyfnwal Moelmud como um dos 

três reis que   deram      estabilidade à realeza pela

excelência de seu governo (tríade 36).

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Vários antigos documentos galeses aludem aos incidentes ligados a Bran no 

mabinogi  de Branwen.  Assim,  no curioso poema intitulado  Kerdd am Feib  

Llyr, atribuído a Taliesin, estão as seguintes linhas (Myv. Arch., I, p. 86):

Eu estava com Bran na Irlanda,Eu vi quando Morddwyd Tyllion foi morto.

E há   uma  tríade   sobre  a  história  de   sua  cabeça  sendo enterrada  no  Monte 

Branco, com a face voltada para a França, considerada um encantamento contra 

a invasão estrangeira.    Arthur, ao que parece,  orgulhosamente desenterrou a 

cabeça.  

As Três Ocultações Fatais da Ilha: primeira, a cabeça de Bendigeid Fran ab Llyr, que Owain, filho de Macsen Wledig, enterrara sob o Monte Branco, em Londres, e, enquanto estivesse ali colocada, invasão alguma poderia ser feita na Ilha;  a segunda foram os ossos de Gwrthefyr,  o Abençoado (Vortimer, Vortemir),   que   foi   sepultado   no   principal   porto   da   Ilha   e,   enquanto   lá permanecessem ocultos, todas as invasões seriam ineficazes. A terceira foram os dragões enterrados por Llud ab Beli na cidade de Pharon, nos rochedos de Snowdon. E as três ocultações foram feitas sob a benção de Deus e o mal sobreveio desde o tempo de sua revelação. Gwrtheyrn Gwrtheneu (Vortigern) descobriu os dragões para vingar­se da ofensa dos galeses, ele convidou os saxões  sob   aparência de homens de defesa  para lutar  contra os Gwyddyl Ffychti; e, depois disso, ele descobriu os ossos de Gwrthefyr, o Abençoado, pelo amor de Ronwen (Rowena), a filha do saxão Hengist. Arthur descobriu a cabeça de Bendigeid Fran porque escolheu não manter a Ilha senão por sua própria força. E, depois das Três Revelações, vieram grandes invasões sobre a raça dos galeses.

O nome de Bran ocorre freqüentemente nos poemas de Cynddelw e de outros 

bardos da Idade Média. 

As lendas mais antigas contam que Brennius, irmão de Belinus (Beli), brigou e 

lutou contra este, mas foram reconciliados por sua mãe,  Tonuuena, e juntos 

marcharam sobre a Gália e conquistaram­na. Depois, submeteram Roma, que 

Brennius saqueou (390 a. C.). Brenus ou Brian foi o nome do condutor dos 

celtas em suas vitórias em Alia e Delfos.

Brennius, Brenus, Brian ou Bran deveria ser, na origem, uma divindade que 

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terminou sendo diminuída com o advento do cristianismo. Todavia, estava tão 

firmemente enraizada na devoção dos britânicos que não foi possível erradicá­

la.  Fizeram dela,   então,  o   introdutor  da  nova   fé   na   ilha.  Esse  processo  de 

cristianização foi muito comum e não só no mundo celta.

Há três Brans na mitologia céltica e no ciclo lendário: Bran, o galgo de Fin; 

Bran, filho de Febal, o herói irlandês que atingiu a Ilha das Mulheres, o Paraíso 

Ocidental  de Manannan mac Lir,  e Bran, o Abençoado, cuja história é  aqui 

contada.   É   claro   que   os   mitos   irlandeses   e   galeses   estão   intimamente 

conectados,  mas  Bran,  o  Abençoado,  parece   representar  um deus  ancestral. 

Alguns   estudiosos   sugerem que  Bran   seria  uma  divindade  até  mesmo  pré­

céltica, incorporada à tradição céltica posterior. Deve­se lembrar que Bran era 

de um tamanho monstruoso, tão grande que casa alguma podia contê­lo, mas 

era um dos gigantes benevolentes e possuía tesouros mágicos que enriqueceram 

a ilha, dos quais o principal era o Caldeirão da Renovação, que veio da Irlanda 

e estava destinado a retornar par lá.  

13 Harlech

Muitas   das   localidades   que   surgem   no   conto   de   Branwen   podem   ser 

identificadas  apenas  com o auxílio  de  um bom mapa,  dispensando maiores 

explicações.   Uma   ou   duas,   porém,   exigem   uma   pequena   explanação.   De 

Harlech,  pode­se  dizer  que   se   chama  também  Twr  Bronwen,   ou  “Torre  de 

Branwen”. Recebeu também o nome de Caer Collwyn, lembrando Collwyn ab 

Tangno, chefe de uma das quinze Tribos Nobres do norte de Gales. Harlech 

fica próximo da costa do mar, nos confins de Ardudwy, um dos seis distritos de 

Merionethshire, de que a porção chamada Dyirfryn Ardudwy é o que resta do 

Cantref y Gwaelod, inundado no tempo de Gwyddno Garanhir. 

Edeyrnion,   que   o   texto   menciona   pouco   depois,   situa­se   também   em 

Merionethshire.

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Talebolyon é uma localidade em Anglesey.

Abberffraw, também em Anglesey, foi a residência dos príncipes de Gwynedd 

desde o tempo de Roderick, o Grande, em 843, até 1282, ano em que morreu 

Llewelyn,   último   príncipe   nativo   reinante   em   Gales.   Esse   soberano   lutava 

defendendo a independência de seu país frente aos ingleses e caiu vítima de 

uma armadilha. 

14 Eurosswydd

Eurosswydd  é,   sem dúvida,   o  general   romano  Ostorius,   que   capturou  Llyr 

Llediaith e toda sua família, incluindo Bran e Caradawc. É mencionado como 

tal na tríade 50.   

15 Beli, filho de Manogan

Beli teve como filha ou irmã a Penardun, que, com Llyr, foi a mãe de Bran, o 

qual dizem ter sido ancestral de Arthur tanto pelo lado paterno, quanto pelo 

paterno. Seria irmão do rei britano histórico Cunobelinos (“Cão de Belenos”), 

do éc. I d. C., governante da tribo dos Catuuellauni e senhor de uma grande 

região do sul da Grã­Bretanha. É o rei chamado  Cymbeline  por Shakespeare. 

Beli, também chamado Belinus, fez muitas estradas e estabeleceu sua capital 

em Caer  Husk.  Construiu  Billingsgate  em  Trinouantum  (Londres).  Conta­se 

que foi enterrado numa urna de ouro.

Na  verdade,  Beli   era   o   deus  galês   da  morte,   esposo  da  deusa­mãe  Dôn   e 

correspondia ao irlandês Bile, consorte de Danu, considerada progenitora das 

divindades da Irlanda (Tuatha Dé Dánann, “povo, filhos ou tribo de Danu”). 

Em sua honra era celebrada a festa de Beltaine (“fogos de Belenos”) na véspera 

de maio, a noite entre 30 de abril e 1º. de maio, quando os fogos de todas as 

casas deveriam ser apagados e novamente acesos com uma chama proveniente 

da fogueira sagrada feita pelos Druidas.

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16 Branwen

A bela Branwen (ou  Bronwen, “a do alvo colo”, como é mais conhecida), é 

uma das mais populares heroínas do romance galês. Não menos celebrada por 

seus   sofrimentos   que   por   seus   encantos,   percebemos   que   sua   tumultuosa 

história foi um tema favorito para os poetas de sua nação. As indignidades que 

teve de suportar na Irlanda são referidas na tríade 49.

Em   1813,   uma   sepultura   contendo   uma   urna   funerária   foi   descoberta   nas 

margens   do   rio   Anglesey,   num   local   chamado  Ynis   Bronwen  (“Ilha   de 

Branwen”)  e atribuída à   filha de Llyr,  pois  concordava com a descrição do 

Mabinogion:

Bedd petrual a waned i Fronwen ferch Lyr ar lan Alawc ac yno y claddwyd hi.

Fizeram­lhe um sepulcro de quatro lados e enterraram­na nos bancos do rio Alaw (Branwen, VIII).

A   urna,   muito   simples   e   de   tosca   feitura,   continha   ainda   cinzas   e   ossos 

calcinados. 

Branwen   parece   ser   a  Brangwaine  ou  Brangwain  do   romance,   embora   o 

personagem da heroína galesa e o papel que desempenha difiram grandemente 

daqueles assinalados à confidente de Tristan e Yseult, a bela. Da mesma forma, 

também Matholwch parece   idêntico  a  Morholt,  o   severo rei  da Irlanda  que 

surge na história de Tristan e Yseult.

17 A Ilha do Poderoso

Ynis y Kedyrn,  a “Ilha do Poderoso”, é  um dos muitos nomes dados à  Grã­

Bretanha pelos galeses. Uma tríade em que muitas outras dessas denominações 

estão preservadas, assevera que, enquanto esteve desabitada, a ilha chamava­se 

Clas Myrddin (“Recinto de Myrddin”), mas após sua colonização, passou a ser 

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Fel   Ynis,   que   foi     novamente   mudado   para  Ynis   Prydain,   “Ilha   da   Grã­

Bretanha” ou “Ilha de Brutus”, depois que Brutus a conquistou. Esse Brutus 

seria   filho  do  príncipe   troiano  Enéias,  que  arrebatou  a   ilha   a  uma  raça  de 

gigantes   que  a   aterrorizavam e  dividiu­a   entre   seus   filhos   como nos   conta 

Geoffrey   de   Monmouth.   A   mesma   tríade   afirma   que   algumas   autoridades 

atribuem a designação mais moderna a Aed, o Grande (Myv. Arch., II, p. i).

Os Nomes da Grã­Bretanha

Estes são os nomes da Ilha da Grã­Bretanha.

O primeiro nome que esta ilha ostentou, antes que fosse tomada ou habitada: Cercado de Myrddin. E depois que foi tomada e habitada, a Ilha do Mel. E depois que foi conquistada por Prydein, filho de Aedd Mawr, foi ela chamada Ynis Prydein, a Ilha de Prydein [Pretânia, Pritânia, Britânia].

A Grã­Bretanha tem três principais ilhas afastadas: Anglesey, Man e Lundy. Possui três deltas principais e sete vintenas de subordinados. Tem trinta e quatro portos pincipais e trinta e três cidades importantes. São estes os seus nomes:

Caer Alclut (Dumbarton)Caer Llyr (Leicester)Caer HawydCaer Efrawc (York)Caer Gent (Canterbury?)Caer Wyranghon (Worcester)Caer Llundein (London)Caer LirionCaer Golin (Colchester)Caer Lloyw (Gloucester)Caer GeiCaer SiriCaer WyntCaer Went (Gwent)Caer Grant (Cambridge)Caer Dawri (Dorchester)Caer Llwyd Coet (Lincoln)Caer Myrdin (Carmarthen)Caer yn Aruon (Carnarvon)Caer GorgyrnCaer Lleon (Caerleon­on­Usk or Chester)Caer Gorcon (Worren?)Caer CusradCaer Urnas (Wroxeter)Caer SelemionCaer Mygeid (Meivod)Caer LyssyditCaer Beris (Portchester)Caer Llion (Chester or Caerleon­on­Usk)Caer Weir (Warwick)Caer Gradawc

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Caer Widawl Wir (St. Albans) 

Geoffrey   de Monmouth (1100? – 1154) foi bispo de St. Asaph. Escreveu a 

Historia Regum Britanniae (“História dos Reis da Grã­Bretanha”) para celebrar 

oss feitos de Arthur e sua obra Vita Merlini (“A Vida de Merlin”) foi a primeira 

fonte de inspiração para os romances arturianos). 

A denominação  Clas Myrddin  (Myrddin  vem de  Mori­dunum,  “Fortaleza do 

Mar”)   acima   mencionada  é   um  reflexo   da   tradição   de  que   a   própria   Grã­

Bretanha seria vigiada por Merlin como seu espírito guardião. Esotericamente, 

o  aprisionamento  de  Merlin  por  Nimue,  como  narrado  nas   lendas  do  ciclo 

arturiano,   tem   sua   base   no  Clas   Myrddin  –   o   lugar   onde   Merlin   está 

voluntariamente confinado para velar pela sorte da ilha. O personagem tem um 

caráter primordial: antes mesmo de ser habitada, a ilha já levava o nome de 

Merlin. 

18 Uma compensação pelo insulto

Exceto no que diz respeito ao tamanho da vara de prata, a compensação aqui 

oferecida a Matholwch está em perfeita concordância com o que exigem as leis 

do rei galês do séc. X, Hywel Dda, onde a multa por insultar um rei estava 

fixada em “cem vacas para cada cantref e um bastão de prata com três nós no 

alto, que vá do chão até o rosto do rei quando sentado em sua cadeira e tão  

grosso quanto seu anular”, entre outras coisas. 

19 Um caldeirão

Os poderes  exercidos  pela   família  de Llyr  graças  à   influência  do caldeirão 

possuem uma forte semelhança com aqueles dos Tuatha Dé Dánann, a raça de 

magos que outrora invadira a Irlanda, de acordo com o relato do “Livro das 

Conquistas da Irlanda”. Essa tribo, durante sua permanência na Ásia, esteve em 

guerra com os sírios e obteve o triunfo com a ajuda da magia, pois conheciam a 

arte   de   ressuscitar   aqueles   dos   seus   que   caíssem   em   batalha,   enviando 

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demônios para animar seus cadáveres, de modo que os sírios, para seu horror, 

viam os inimigos que haviam matado tão vigorosos como antes, vindo para a 

luta.   Para   enfrentar   essa   dificuldade,   recorreram   ao   conselho   de   seus 

sacerdotes,  que   lhes  disseram para   atravessar  os   corpos  dos  guerreiros  que 

matassem com uma estaca de sorveira,  pois, se tivessem sido animados por 

demônios,   instantaneamente   se   transformariam   em   vermes.   O   conselho   foi 

seguido e os Tuatha Dé Dánann viram­se obrigados a deixar o país.   

Nos antigos mitos célticos, havia muitos caldeirões, dispensando variadamente 

dons de vida, saúde, inspiração e sabedoria. Em geral, acredita­se que, com o 

tempo,  esses caldeirões  cederam lugar ao  Santo Graal  e  incorporaram­se às 

comemorações da Grã­Bretanha medieval. De acordo com Taliesin (Preiddeu 

Annwn, “Os Espólios de Annwn”, veja nota n°. 1), Arthur foi até os portais do 

Outro Mundo em busca de um desses caldeirões.

20 Caradawc, filho de Bran

Esse príncipe, conhecido sob seu nome latinizado de  Caratacus, rei da tribo 

dos Catuuellauni, é lembrado principalmente por seu cativeiro em Roma que, 

de acordo com as autoridades galesas, foi compartilhado por Bran, seu pai, Llyr 

Llediaith,   seu   avô,   e   todos   os   seus   parentes   próximos.   Há   muitas   tríades 

relativas e essa importante ocorrência em sua vida (tríades 17, 23, 24, 34, 41, 

55).  Uma delas  parece  afirmar  que ele   foi  escolhido  por   seus  compatriotas 

como general ou “rei de guerra” (o que corresponderia ao título romano  dux 

bellorum) para repelir as incursões dos romanos; há outra tríade que corrobora 

essa asserção, apresentando­o como um dos “Três Governantes de Eleição”, 

tendo sido aclamado pela voz do país e do povo, embora não fosse um chefe 

tribal. Não á dúvida de que gozava de um alto grau de estima em sua nação. 

Dizem­no   que  “os   homens   da   Grã­Bretanha,   do   príncipe   ao   escravo,  

tornaram­se seus seguidores na necessidade do país contra o progresso do 

inimigo e da destruição. E, aonde quer que ele fosse em guerra, os homens da 

Ilha seguiam­no e ninguém desejava permanecer em casa.” Nessa tríade (a de 

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n°. 12), ele é chamado um dos “Três Servidores Supremos” (“Tríades Galesas”, 

12, Peniarth MS 54):

Três Servidores Supremos da Ilha da Grã­Bretanha: Caradawc, filho de Bran e Caurdaf, filho de Caradawc, e Owen, filho de Maxen Guledic.       

Caradawc  é   também  louvado  como  um daqueles  bravos  príncipes  que,   em 

razão de seu valor, jamais puderam ser vencidos senão pela traição. O que o 

entregou   nas   mãos   de   seus   inimigos   é   algo   que   se   lembra   com   muita 

freqüência. Afairwy ab Llud ab Bel (Androgenus, o Mandubracius de Geoffrey 

de  Monmouth)   e   sua   filha,  Aregwedd  Foeddawg,   foram os   traidores   e   são 

sempre   mencionados   com   palavras   de   desprezo   e   execração.   “Um   dos 

oponentes dignos de Louvor” é outro dos títulos atribuídos a Caradawc, porque 

ele resistiu à invasão dos exércitos de Claudius Caesar.

Alguns   pesquisadores   pensam   que,   com   o   tempo,   a   história   de   Caratacus 

tornou­se confusa na  lembrança  popular  e  que ele   foi o original  de Arthur. 

Outro   rei   identificado   com   Caratacus   chamava­se  Aruiragus  e   é   um 

personagem bastante controverso.

Aruiragus   tornou­se   conhecido   na   história   romana   graças   a   uma   obscura 

referência em Juvenal, poeta romano, feita entre os anos 80 e 90 d. C., onde ele 

surge como oponente britano aos romanos. Geoffrey de Monmouth faz dele um 

rei da Grã­Bretanha (que sucedeu a seu pai, Cunobelinos), morto na invasão de 

Cláudio à ilha, em 43 d. C. A paz foi restabelecida entre Cáudio e Aruiragus, 

casando­se   este   com   a   filha   do   imperador   romano,   Genuissa.   Mais   tarde, 

Aruiragus   revoltou­se,   mas   a   paz   foi   restabelecida   pelos   bons   serviços   de 

Genuissa. Em outro lugar,  diz­se que Aruiragus deu a José  de Arimatéia os 

famosos doze campos na localidade de Glastonbury.

21 O Monte Branco

Sob   o   nome   de  Gwinfrin,   “Monte   Branco”,   o   texto   refere­se   mais 

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provavelmente à  Torre de Londres,  em que os galeses,  que sempre viram a 

cidade como de sua própria fundação, parecem ter um interesse peculiar. De 

acordo com o conto “Lludd e Llefelys”, Londres teria sido fundada por Lludd 

ap Beli: 

Beli, o Grande, o filho de Manogan, tinha três filhos, Lludd e Caswallawn e Nynyaw; e,  de acordo  com a história,  ele   tinha um quarto filho chamado Llefelys. E, depois da morte de Beli, o reino da Ilha da Grã­Bretanha veio às mãos de Lludd,  seu  filho mais  velho;  e  Lludd governou prosperamente  e reconstruiu as muralhas de Londres e cercou­a com inumeráveis  torres.  E, depois disso, ele convidou os cidadãos a construírem casas ali dentro, tais que quaisquer outras casas no reino não pudessem igualar. E, além disso, ele era um poderoso guerreiro e generoso e liberal em dar carne e bebida a todos que os solicitassem. E, embora ele possuísse muitos castelos e cidades, amava a esta mais do que a qualquer outra. E ele morava lá durante a maior parte do ano e assim foi ela chamada Caer Lludd e, por fim, Caer London. E depois que a raça dos estrangeiros lá chegou, ela foi chamada London ou Lwndrys.

Llywarch ab Llywelyn (Pryddid y Moch), um poeta do séc. XII e parte inicial 

do XIII, fala dela como “a branca eminência de Londres, um local de fama 

espêndida” (Myv. Arch., I, p.28).  

O estabelecimento da fortaleza da Inglaterra, por sua vez, em sido atribuído a 

celtas, romanos, saxões e normandos; agora, contudo as “Torres de Iulius” são 

consideradas como pertencentes ao período normando primitivo.

22 Caswallawn

Caswallawn,   o   filho   de   Beli,   geralmente   conhecido   pelo   nome   de 

Cassiuelaunus,   que   lhe   foi   dado   pelos   romanos,   é   um   personagem   muito 

celebrado na história galesa. É lembrado como um dos chefes escolhidos para 

opor­se à invasão de Caesar (em 54 a. C.) e instituído, assim como Caradawc, 

um dos “reis de guerra” da Grã­Bretanha (tríade 24).

Relata­se que Caswallawn liderou um exército de 61.000 homens contra Iulius 

Caesar. Os encantos de Fflur, a filha de Mygnach Gorr, são apontados como a 

causa de sua incursão.

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Ela fora capturada por Mwrchan, um príncipe gaulês aliado de Caesar, a quem 

ele  pretendia  dar seu prêmio.  A expedição que Caswallawn encabeçou  teve 

sucesso: 6.000 dos partidários de Caesar foram mortos e Fflur foi resgatada. 

Algumas das circunstâncias dessa realização deram a Caswallawn a designação 

de  um dos   “Três  Fabricantes   de  Sapatos  Dourados”,   sendo  os   outros   dois 

Manawyddan e Llew Llaw Gyffes.  O feito  inteiro colocou­o entre os “Três 

Amantes Fiéis da Grã­Bretanha”.

O exército de Caswallawn não retornou com seu líder, pelo que é chamado um 

dos “Três Exércitos Migrantes da Grã­Bretanha”.

Meinlas era o nome do cavalo de Caswallawn (Trioedd y Meirchion, “Tríades 

dos Cavalos”):

As Tríades dos Cavalos (do Livro Negro de Carmarthen, 8)

Os três cavalos saqueadores da Ilha da Grã­Bretanha:Carnalawg, o cavalo de Owain, filho de Urien,Bucheslwm Seri, o cavalo de Gwgawn Gleddyvrudd,E Tafawd Mr Breich­hir, o cavalo de Rhydderch Hael.

Os três cavalos vivazes da Ilha da Grã­Bretanha: Gwineu Goddwf Hir, o cavalo de  of Cai,Rhuthr Eon Tuth Blaidd, o cavalo de Gilbert, filho de Cadgyffro E Ceincaled, cavalo de Gwalchmai.

Os três cavalos vigorosos da Ilha da Grã­Bretanha:Lluagor, o cavalo de Carndawg;E Meinlas, o cavalo de Caswallawn, filho de Beli.(Provavelmente   foi   esquecido   Melyngar   Mangre,   o   cavalo   de   Lleu   Llaw Gyffes). 

23 As cinco divisões da Irlanda. Trefuilngid Tre­eochair.

Antes  da invasão dos anglo­normandos,  na época de Henrique II,  a  Irlanda 

estava dividida numa pentarquia composta pelos reinos de Munster, Leinster, 

Connaught, Ulster e Meath. No relato irlandês “A Fundação do Solar de Tara”, 

há detalhes interessantes sobre os cinco reinos da ilha:

Trefuilngid Tre­eochair

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Em "A Fundação da Mansão de Tara",  o  ancião Fintan (Irlanda,  ciclo  de Ulster;   homem­druida   primordial.   O   único   que   escapou   do   dilúvio.   Ele atravessa o tempo transformando­se em diversos animais para transmitir  o conhecimento, a história do mundo e das coisas. Seu nome significa "branco antigo" e sua genealogia é sempre indicada em filiação matrilinear) tem como missão  mostrar  que  Tara   foi   e  deverá   continuar   a   ser   a   sede  da  Realeza Suprema da Irlanda. Ele conta o seguinte:

"Uma vez estávamos fazendo uma grande assembléia dos homens da Irlanda ao redor de Conaing Bec­eclach, Rei da Irlanda. Certo dia, então, vimos nessa assembléia um grande herói, belo e poderoso, aproximando­se de nós e vindo do  oeste,  da  direção  do  pôr­do­sol.  Maravilhamo­nos  grandemente  com a magnitude  de  sua  forma.  Tão alto  quanto uma árvore  era  o   topo de  seus ombros, o céu e o sol visíveis entre suas pernas em razão do seu tamanho e beleza.   Um  véu  de   brilhante   cristal   sobre   ele,   como  uma   veste  de   linho precioso. Sandálias em seus pés e não se sabe de que material eram. Cabelo amarelo­dourado caindo em cachos  até  a  altura de suas  coxas.  Tábuas de pedra na sua mão esquerda, um ramo com três frutos em sua mão direita e eram estes os frutos que nele estavam, nozes e maçãs e bolotas do mês de maio: e não maduro estava cada fruto. Com passos largos ele caminhou para trás de nós, ao redor da assembléia, com seu ramo dourado de muitas cores de madeira do Líbano atrás dele e um de nós lhe disse "Vem aqui e conversa com o   rei,  Conaing  Bec­eclach."  Ele   respondeu  e  disse  "Que  desejais  de mim?" "Saber de onde vieste", disseram eles, "e para onde vais e quais são teu nome e sobrenome." "Sem dúvida eu vim", disse ele, "do pôr­do­sol e estou   indo   para   o   nascer­do­sol   e   meu   nome   é   Trefuilngid   Tre­eochair" (tríplice portador da chave tripla). "Porque te foi dado esse nome?", disseram eles. "Fácil dizer", disse ele. "Porque sou eu quem provoca o nascer­do­sol e o seu poente."

[Trefuilngid Tre­eochair, então, é quem provoca a aurora e o ocaso. Ele fez um pedido: que todos os irlandeses fossem reunidos naquele lugar. Depois que todos estavam presentes, ele perguntou se havia alguém que conhecesse toda a história da ilha. Quando se descobriu que não, ele escolheu um dos presentes para se tornar o depositário desse conhecimento. O escolhido foi Fintan. Fintan depois declarou que Trefuilngid Tre­eochair era "um anjo ou o próprio Deus."

[Um detalhe interessante é que, quando Trefuilngid Tre­eochair pediu que o povo fosse reunido, o rei Conaing Bec­eclach disse que isso poderia ser feito, embora eles não fossem poucos, mas seria difícil para os irlandeses sustentá­lo durante o tempo em que permanecesse com eles. O gigante então declarou que podia se sustentar somente com o aroma do ramo que ele trazia.  Esse ramo merece atenção.

[É   um   ramo   dourado,   de   muitas   cores,   de   madeira   do   Líbano,   com  três "frutos"   diferentes:   nozes,   maçãs   e   bolotas   (de   carvalho).   Na   tradição irlandesa, o ouro não é  particularmente significativo, ao contrário da prata, que   representa   autoridade.   A   cor   dourada   indica   apenas   que   o   ramo   é brilhante e precioso. Já  "muitas cores" tem um significado importante:  um manto   de   [várias   cores   representa   o   druidismo,   objetos   ou   criaturas multicoloridos   possuem   origem   sobrenatural.   O   ramo   é   de   madeira   do Líbano,   isto  é,   cedro.  É  uma árvore  muitas  vezes  mencionada  no  Antigo Testamento. O cedro não é nativo da Irlanda, de modo que a referência a essa árvore indica genericamente uma madeira rara e valiosa.

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[A árvore de que foi retirado esse ramo combina as qualidades de seus frutos. A noz não é  necessariamente a proveniente da nogueira,  pois,  em gaélico medieval, a palavra cno  indica ao mesmo tempo a noz e a avelã. Seja como for, essa noz representa sabedoria, poesia, magia, florestas. A maçã é o amor e   a   felicidade.   A   bolota   é   a   abundância,   enquanto   o   carvalho   indica hospitalidade,  tradição e lei.  É  com o aroma desse ramo que o gigante se alimenta.

[A roupa que ele usa é um véu de cristal. Encontramos na lenda céltica barcos de  cristal  e  edifícios  de  cristal   (casas,   fortalezas,  castelos).  Nesse  caso,  o cristal   representa  uma  técnica  e uma perfeição  inacessíveis  às  habilidades humanas,  bens que não podem ser comprados por nenhum soberano deste mundo.

[Talvez Trefuilngid Tre­eochair seja o deus do tempo gaélico. Além de ser o conhecedor de toda a história,  é  ele quem regula o curso do sol (aurora e poente).

[É ele próprio quem faz, nesse mesmo conto, as únicas atribuições direcionais seguras existentes na tradição irlandesa (mas as fortalezas e celebrações vêm da "História da Irlanda", de Keating):]

Sabedoria ­ oeste (província: Connacht; fortaleza real: Uisnech; Beltaine)

Sabedoria,   alicerce,   ensinamento,   pacto,   julgamento,   crônicas,   conselhos, relatos, histórias, ciência, decoro, eloqüência, beleza, modéstia, generosidade, abundância, riqueza.

Batalha ­ norte (província: Ulaid, Ulster; fortaleza real: Tailtiu; Lughnasadh)

Batalhas,   disputas,   audácia,   locais   incultos,   lutas,   arrogância,   inutilidade, orgulho, capturas, ataques, severidade, guerras, conflitos.

Prosperidade  ­  leste  (província:   Laighin,   Leinster;   fortaleza   real:   Tara; festim de Tara a cada três anos)

Prosperidade,   suprimentos,   colméias,   torneios,   feitos   de   armas,   chefes   de família,   nobres,   prodígios,   bom   costume,   boas   maneiras,   esplendor, abundância,  dignidade,  força,  riqueza,  administração da casa,  muitas artes, muitos tesouros, cetim, sarja, seda, trajes, hospitalidade.

Música  ­  sul  (província:   Mumhan,   Munster;   fortaleza   real:   Tlachtgha; Samhain)

Cachoeiras,   feiras,  nobres,  saqueadores,  conhecimento,  sutileza,  ofício  dos músicos,   melodia,   ofício   dos   menestréis,   sabedoria,   honra,   música, aprendizagem,   ensino,   ofício   dos   guerreiros,   jogo   de  fidchell,   veemência, ferocidade, arte poética, advocacia, modéstia, código, séquito, fertilidade.

[Realeza ­ centro (província: Mide, Meath) 

Reis,   mordomos,   dignidade,   primazia,   estabilidade,   instituições,   esteios, destruições,   ofício   de   guerreiros,   ofício   de   condutores   de   carruagens, soldadesca,  principados,  grandes   reis,  ofício dos mestres­poetas,  hidromel, generosidade, cerveja, renome, grande fama, prosperidade. 

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O TERCEIRO RAMO DO MABINOGION

MANAWYDDAN, FILHO DE LLYR

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Introdução

No Terceiro Ramo, Manawyddan casa­se com Rhiannon, ganhando assim a soberania sobre 

Dyfed. O país cai então sob um feitiço que faz todos os habitantes e suas casas desaparecerem, 

exceto os principais personagens do conto. Rhiannon e seu filho, Pryderi, entram em um caer 

(castelo), talvez uma antiga fortificação de terra, onde encontram uma tigela de ouro ao lado de 

uma   fonte.  Quando   tocam a   tigela,   ambos  desaparecem,  bem como o  caer.  Manawyddan 

recupera Rhiannon, Pryderi e a terra de Dyfed, capturando a esposa do mágico que causara seu 

desaparecimento e ameaçando enforcá­la caso ele não retirasse seu feitiço.

I O Terceiro Príncipe Humilde. Manawyddan casa­se com Rhiannon.

uando os sete homens de que falamos acima já 

haviam enterrado  a  cabeça  de Bendigeid  Fran 

no  Monte  Branco,  em Londres,   com sua   face 

voltada   para   a   França,   Manawyddan24 

contemplou   a   cidade   de   Londres   e   seus 

companheiros,   soltando   um   grande   suspiro. 

Muita tristeza e peso caíram sobre ele.

­   Ai,   Céu   Todo­Poderoso,   ai   de   mim!   ­   ele 

exclamou. ­ Não há ninguém, exceto eu mesmo, sem um lugar para descansar 

nesta noite.

­  Senhor  ­  disse Pryderi   ­,  não fiqueis   triste.  Vosso primo é   rei  da Ilha do 

Poderoso e,  embora  possa  ter  agido mal  para convosco,   jamais  estivestes  a 

reclamar terras ou posses. Sois o terceiro príncipe humilde desta ilha.

­ Sim ­ respondeu ele ­, mas embora esse homem seja meu primo, entristece­me 

não ver ninguém no lugar de Bendigeid Fran, meu irmão, nem posso eu estar 

feliz na mesma habitação que ele.

­ Seguireis o conselho de outro homem?

­ Permaneço necessitando de um conselho ­ respondeu Manawyddan. ­ Qual 

seria ele?

­   Sete   províncias   continuam   sendo   minhas   ­   disse   Pryderi   ­,   onde   mora 

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Rhiannon, minha mãe. Eu a darei a vós e com ela as sete províncias e, embora 

não tenhais posses além dessas províncias somente, jamais poderíeis ter visto 

províncias tão belas quanto essas. Cicfa,  a filha de Gwynn Gloyw, é  minha 

esposa e, uma vez que a herança das províncias pertence a mim, que vós e 

Rhiannon desfruteis dela e, se jamais desejardes quaisquer domínios, tomareis 

esses.

­   Não   desejarei,   Príncipe   ­   ele   disse   ­,   o   Céu   vos   recompense   por   vossa 

amizade.

­ Eu vos demonstraria a melhor amizade do mundo se o permitísseis.

­  Eu o  farei,  meu  amigo,  e  o  Céu vos  recompense.   Irei  convosco procurar 

Rhiannon e ver vossos domínios.

­ Fareis bem ­ respondeu Pryderi ­ e acredito que jamais escutastes uma dama 

falando melhor do que ela. Quando estava no seu auge, ninguém era mais bela. 

Ainda agora seu aspecto não é desagradável.

Eles partiram e, conquanto a jornada fosse longa, chegaram por fim a Dyfed. 

Uma festa fora preparada por Rhiannon e Cicfa para recebê­los em sua chegada 

a Narberth. Manawyddan e Rhiannon então se sentaram juntos e começaram a 

conversar e as palavras de Rhiannon inflamaram a mente e os pensamentos 

dele. Manawyddan pensou em seu coração que jamais contemplara uma dama 

mais cheia de graça e beleza do que ela.

­ Pryderi ­ ele falou ­, quero que seja como dissestes.

­ Que cochicho foi esse? ­ perguntou Rhiannon.

­ Senhora ­ disse Pryderi ­, eu vos ofereci como esposa a Manawyddan, filho de 

Llyr.

­ Com esse desejo eu de boa vontade concordo ­ disse Rhiannon.

­ Muito feliz também estou eu ­ disse Manawyddan. ­ Possa o Céu recompensar 

aquele que me mostrou uma amizade tão perfeita quanto essa.

Antes que a festa terminasse, ela se tornou sua noiva. Disse Pryderi:

­   Permanecei   aqui   pelo   resto   da   festa.   Eu   irei   a   Lloegyr25  prestar   minha 

homenagem a Caswallawn, o filho de Beli.

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­   Senhor   ­   falou   Rhiannon   ­,   Caswallawn   está   em   Kent,   podeis   assim 

permanecer na festa e aguardar até que ele esteja mais próximo.

­ Esperaremos ­ ele respondeu.

Terminaram então a festa. E começaram a percorrer Dyfed, a caçar e a dedicar­

se aos prazeres. Enquanto atravessavam o país, descobriram que nunca tinham 

visto terras mais agradáveis nas quais viver, nem melhores campos de caça e 

tampouco maior abundãncia de mel e peixes. Era tal a amizade entre aqueles 

quatro que não podiam separar­se nem à noite, nem durante o dia.

No meio de tudo isso, Pryderi foi encontrar Caswallawn em Oxford e prestar­

lhe homenagem. Teve lá uma honrosa recepção e foi altamente louvado por 

oferecer sua homenagem.

II O encantamento sobre Dyfed.

Depois   de   retornar,   Pryderi   e   Manawyddan   festejaram,   viveram 

confortavelmente   e   dedicaram­se   aos   prazeres.   Começaram   uma   festa   em 

Narberth,   pois   era   o   palácio   principal,   onde   se   originava   toda   honra.   Ao 

terminarem   a   primeira   refeição   daquela   noite,   enquanto   aqueles   que   os 

serviram comiam, eles se ergueram e saíram, dirigindo­se todos os quatro ao 

gorsedd, isto é, o monte de Narberth e seu séquito com eles. Ao sentarem­se, 

sobreveio um estrondo de trovão com a violência de uma tempestade e caiu 

sobre eles uma névoa tão espessa que nenhum deles podia ver o outro. Depois 

da névoa, tudo em volta ficou claro outra vez. Quando olharam na direção do 

lugar onde antes estavam, não viram gado, rebanhos, moradias, não enxergaram 

nada,   nem   casa,   nem   animal,   nem   fumaça,   nem   fogo,   nem   homem,   nem 

habitação,  nada além das casas vazias  da corte,  desertas  e  desabitadas,  sem 

qualquer   homem   ou   animal   dentro   delas.   Seus   companheiros   estavam 

verdadeiramente perdidos para eles, sem que estes quatro soubessem qualquer 

coisa do que lhes acontecera.

­ Em nome do Céu ­ gritou Manawyddan ­, onde estão todos os da corte e todos 

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os  meus   acompanhantes   que   estavam   ao   seu   lado?  Vamos   ir   e   ver   o   que 

aconteceu.

Assim, eles chegaram ao salão e lá não havia homem algum. Foram ao castelo, 

entraram no dormitório  e  não viram ninguém. Na adega e  na cozinha nada 

havia além de desolação. Eles quatro então festejaram, caçaram e dedicaram­se 

aos   prazeres.   Começaram   a   viajar   pelo   país   e   por   todos   os   domínios   que 

tinham,  visitaram as   casas   e   as  habitações   e  nada  acharam além de  bestas 

selvagens.   Como   já   haviam   terminado   a   festa   e   consumido   todas   as   suas 

provisões, começaram a alimentar­se das presas que mataram na caça e do mel 

de  enxames  silvestres.  Assim passaram agradavelmente  o  primeiro  ano e  o 

segundo, mas no último ano começaram a sentir­se exaustos.

III A peregrinação dos muitos trabalhos.

­ Realmente ­ disse Manawyddan ­, não devemos esperar assim. Vamos para 

Lloegyr e procuremos algum ofício pelo qual possamos ganhar nosso sustento.

Foram então para Lloegyr e chegaram até Hereford, onde dedicaram­se a fazer 

selas. Manawyddan começou também a fazer capas para cavalos. Ele dourou­as 

e coloriu­as com esmalte azul, do mesmo modo que vira ser feito por Llasar 

Llaesgywydd. Ele fez o esmalte azul como fora feito por outro homem. Desde 

então   é   ainda   chamado  Calch   Lasar  (“esmalte   azul”),   porque   Llasar 

Laesgywydd o forjara.

Durante todo o tempo em que esse trabalho pôde ser feito por Manawyddan, 

nenhuma   sela   ou   capa   foi   comprada   de   qualquer   outro   seleiro   em   toda   a 

Hereford.   Até   que,   por   fim,   cada   um   dos   seleiros   percebeu   que   estavam 

perdendo   muito   do   seu   ganho   e   que   homem   algum   comprava   deles   além 

daquele que não podia obter de Manawyddan o que procurava. Reuniram­se 

então e concordaram em matá­lo e a seus companheiros.

Eles, no entanto, foram avisados a esse respeito e deliberaram para decidir se 

deixariam a cidade.

­ Pelo Céu ­ disse Pryderi ­, não sou da opinião de que abandonemos a cidade, 

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mas sim de que matemos esses campônios.

­ Discordo ­ disse Manawyddan ­, pois, se lutarmos com eles, adquiriremos má 

fama e seremos jogados à prisão. Seria melhor para nós irmos buscar o sustento 

em outra cidade.

­ Que ofício exerceremos? ­ disse Pryderi.

­ Fabricaremos escudos ­ respondeu Manawyddan.

­ Sabemos algo sobre esse trabalho?

­ Tentaremos.

Começaram então a fazer escudos, moldando­os de acordo com os melhores 

que  já   tinham visto.  Esmaltaram­nos como haviam feito  com as selas.  Eles 

prosperaram  naquele   lugar,   a   ponto  de   escudo   algum   ser   encomendado  na 

cidade   além   daqueles   que   eles   mesmos   fabricavam.   Porém,   terminaram 

marcados  pelos  artesãos,  que   se   reuniram apressadamente   trazendo  consigo 

seus concidadãos e todos concordaram em que deveriam procurar um meio de 

matá­los.   Mas   eles   foram   avisados   e   souberam   como   os   homens   haviam 

decidido destruí­los.

­ Pryderi ­ disse Manawyddan ­, esses homens querem nos matar.

­ Não suportemos tal ameaça da parte desses campônios. Caiamos sobre eles e 

matêmo­los!

­ Discordo. ­ respondeu Manawyddan. ­ Caswallawn e seus homens poderiam 

ouvir falar sobre isso e nós seríamos arrasados. Partamos para outra cidade.

Assim, para outra cidade eles foram.

­ Que ofício exerceremos? ­ disse Manawyddan.

­ Qualquer um que desejeis e nós conheçamos ­ respondeu Pryderi.

­   Discordo   ­   ele   replicou.   ­   Vamos   fazer   sapatos,   pois   não   há   coragem 

suficiente entre os sapateiros nem para lutar conosco, nem para molestar­nos.

­ Nada sei sobre esse ofício ­ Pryderi comentou.

­ Mas eu sei e irei ensinar­te a costurar. Não tentaremos preparar o couro, mas 

o compraremos pronto e com ele faremos os sapatos.

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Assim, eles começaram comprando o melhor couro que havia na cidade e ele 

não comprou senão o couro para as solas. Associou­se ao melhor ourives da 

cidade,   ordenou­lhe  que   fizesse   fechos   para   os   sapatos   e   os   dourasse.   Ele 

observou como era feito até aprender o processo e, desde então, foi chamado de 

um dos "três sapateiros de ouro". E, à medida em que podiam ser obtidos dele, 

nenhum sapato ou meia era comprado dos sapateiros da cidade. Porém, quando 

os   sapateiros   perceberam   que   seus   ganhos   estavam   caindo   (pois   enquanto 

Manawyddan dava forma ao trabalho, Pryderi o costurava), eles reuniram­se e 

deliberaram e concordaram que haveriam de matá­los.

­ Pryderi ­ disse Manawyddan ­, esses homens tencionam matar­nos.

­   De   modo   que   devemos   então   suportar   isso   desses   ladrões   grosseiros?   ­ 

Pryderi exclamou. ­ É preferível matá­los a todos!

­ Discordo. Não os mataremos,  nem tampouco permaneceremos mais tempo 

em Lloegyr. Partamos para Dyfed e vejamos como se encontra.

Eles então viajaram até  chegar  a Dyfed e foram em direção a Narberth.  Lá 

acenderam   o   fogo   e   sustentaram­se   caçando.   Assim   passaram   um   mês. 

Reuniram seus cachorros ao seu redor e lá permaneceram por um ano.

IV O castelo encantado. Pryderi e Rhiannon desaparecem.

Certa manhã, Pryderi e Manawyddan levantaram­se para caçar. Eles juntaram 

os  cães  e  saíram do palácio.  Alguns dos  mastins  correram à   frente  deles  e 

chegaram a um pequeno arbusto que estava bem próximo. Entretanto, tão logo 

haviam   chegado   ao   arbusto,   retrocederam   depressa,   seu   pelo   fortemente 

eriçado.

­ Aproximemo­nos do arbusto ­ disse Pryderi ­ e vejamos o que está lá.

Assim que chegaram perto, um javali  selvagem puramente branco surgiu de 

dentro do arbusto. Os homens então açularam os mastins, que investiram contra 

o javali. Este, porém, deixou o arbusto e recuou, ficando um pouco mais longe 

dos caçadores. Ele resistiu aos cachorros sem fugir deles até que os homens se 

acercassem. Quando Pryderi e Manawyddan chegaram, o javali retrocedeu uma 

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segunda vez e  preferiu   fugir.  Eles  então o perseguiram até   enxergarem um 

vasto   e   imponente   castelo,   todo   recentemente   construído,   num   lugar   onde 

nunca antes tinham visto uma pedra ou construção. O javali correu rapidamente 

para dentro do castelo e os cães foram atrás dele. Quando o javali e os cães já 

haviam desaparecido dentro do castelo, Pryderi e Manawyddan começaram a 

maravilhar­se por encontrarem um castelo num local onde jamais tinham visto 

qualquer espécie de edificação. Do alto da  gorsedd  eles olharam e tentaram 

escutar os cachorros, mas durante todo o tempo que lá estiveram, nada ouviram 

dos cães, nem puderam saber coisa alguma a seu respeito.

­   Senhor   ­   disse   Pryderi   ­,   eu   vou   entra   no   castelo   para   ter   notícias   dos 

cachorros.

­ Na verdade ­ replicou Manawyddan ­, seríeis tolo em entrar nesse castelo que 

nunca antes vistes. Se seguirdes meu conselho, não entrareis lá. Quem quer que 

tenha sido o responsável pelo feitiço que caiu sobre esta terra também fez com 

que esse castelo aparecesse aqui.

­ Realmente, mas ainda assim não posso abandonar meus cães.

Quando entrou no castelo, não viu lá nem homem, nem besta, nem javali, nem 

cães,  nem casa,  nem habitação.  Mas no centro do pavimento do castelo ele 

contemplou uma fonte com mármore trabalhado ao seu redor. Havia na borda 

da   fonte  uma  tigela  de  ouro  sobre  uma placa  de  mármore  e   correntes  que 

pendiam do ar, das quais ele não conseguia discernir o fim.

Agradaram­no grandemente a beleza do ouro e o rico artesanato da tigela. Ele 

avançou para o precioso objeto e segurou­o. Ao agarrar a  tigela,  suas mãos 

ficaram presas, bem como seus pés prenderam­se à placa acima da qual estava 

colocada a tigela. Toda a sua alegria o abandonou para que ele não pudesse 

proferir sequer uma palavra. E Pryderi ficou ali, imóvel.

Manawyddan esperou por ele até perto do fim do dia. Já era bem tarde quando, 

estando certo  de que não teria  novas  de Pryderi  ou dos cães,  Manawyddan 

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retornou ao palácio. Assim que entrou, Rhiannon olhou para ele.

­ Onde ­ disse ela ­ estão vosso companheiro e vossos cães?

­ Vede que aventura ­ respondeu Manawyddan ­ ocorreu comigo.

E contou­lhe tudo.

­ Fostes um mau companheiro ­ Rhiannon acusou­o ­ e um companheiro bom 

haveis perdido.

Com essas palavras, ela saiu e seguiu rumo ao castelo, de acordo com a direção 

que ele lhe indicara. O portão do castelo, encontrou­o aberto. Ela não estava 

nada   assustada   e   entrou.  Tão   logo  pôs  os   pés   dentro  do  castelo,   percebeu 

Pryderi segurando a tigela e dirigiu­se até ele.

­ Ó meu senhor ­ ela disse ­, que estais fazendo aqui?

Ela agarrou a  tigela  com ele e,  assim que o fez,  suas mãos prenderam­se à 

tigela  e  seus  pés,  à  placa.  Ficou  também incapaz  de dizer  uma só  palavra. 

Anoiteceu  então e um  trovão se  fez  ouvir.  Uma névoa caiu  sobre eles  e  o 

castelo desapareceu, levando Rhiannon e Pryderi.

V A segunda viagem para Lloegyr.

Quando Cicfa, a filha de Gwynn Gloyw, viu que no palácio não havia ninguém 

além   dela   mesma   e   de   Manawyddan,   entristeceu­se   tanto   que   não   lhe 

interessava mais se iria viver ou morrer. Percebeu­o Manawyddan:

­  Estais  enganada ­  disse ele  ­ se é  por medo de mim que vos entristeceis. 

Chamo o Céu como testemunha de que jamais vistes amizade mais pura do que 

esta   que   terei   para   convosco   enquanto   o   Céu   desejar   que   estejais   assim. 

Declaro­vos   que,   estivesse   eu   na   aurora   da   minha   juventude,   ainda   assim 

manteria  minha   lealdade  para  com Pryderi  e  hei  de  mantê­la   também para 

convosco. Portanto, não tenhais medo de mim. Tomo o Céu como testemunha 

de que encontrareis em mim toda a amizade que puderdes desejar e que estiver 

em meu  poder  mostrar­vos,  durante   todo  o   tempo  em que  agradar   ao  Céu 

prolongar nossa tristeza e aflição.

­ O Céu vos recompense ­ ela disse ­, era esse o julgamento que eu fazia de vós.

A jovem dama tomou então coragem e ficou mais alegre.

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­   Na   verdade,   senhora   ­   falou   Manawyddan   ­,   não   é   adequado   para   nós 

ficarmos aqui, pois perdemos nossos cães e não podemos conseguir comida. 

Partamos para Lloegyr, será mais fácil encontrarmos sustento lá.

­ Com satisfação, senhor ­ Cicfa respondeu ­, é assim que faremos.

­  Senhor   ­   ela  perguntou   ­,   qual   carreira   seguireis?  Escolhei  uma que  seja 

decente.

­ Nenhuma outra escolherei ­ ele respondeu ­ senão a de fabricar sapatos, como 

fiz   anteriormente.   ­  Senhor,   tal  ofício  não  é   adequado  para  um homem de 

nascimento tão nobre quanto vós.

­ Entretanto, irei conformar­me com isso.

Ele começou então a exercer seu ofício e fez todo seu trabalho com o melhor 

couro que pôde obter na cidade. Como havia feito no outro lugar, mandou que 

fechos de ouro fossem fabricados para os sapatos. Exceto ele mesmo, todos os 

sapateiros   da   cidade   ficaram   desocupados,   sem   trabalho.   Pois,   enquanto 

podiam obtê­los de Manawyddan, nenhum sapato ou meia eram comprados de 

qualquer   outro.   Assim   permaneceram   por   um   ano,   até   que   os   sapateiros 

tornaram­se invejosos e reuniram­se para decidir o que fazer em relação a ele. 

Mas Manawyddan foi avisado disso e contaram­lhe que os sapateiros haviam 

concordado em juntar­se para matá­lo.

­   Portanto,   senhor   ­   exclamou   Cicfa   ­,   devemos   suportar   isso   desses 

campônios?

­ Não,voltaremos para Dyfed.

Assim, rumo a Dyfed eles partiram.

VI Retorno a Dyfed. As três plantações e o assalto dos ratos.

Manawyddan, ao iniciar a viagem de retorno a Dyfed, levou consigo um fardo 

de trigo. Ele prosseguiu em direção a Narberth e lá habitou. Nunca esteve ele 

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mais feliz do que ao ver Narberth outra vez e as terras onde se acostumara a 

caçar com Pryderi e Rhiannon. Ele habituou­se a pescar e caçar em suas terras. 

Manawyddan começou a preparar um terreno e semeou uma plantação e uma 

segunda e uma terceira. Trigo algum no mundo jamais brotou melhor. E as três 

plantações prosperaram com perfeito crescimento e nunca homem algum viu 

um trigal tão belo quanto esse.

Passaram­se as estações do ano até que a colheita chegou. Ele foi olhar uma de 

suas lavouras e viu que estava madura.

­ Vou ceifar isto amanhã ­ ele disse.

Naquela noite ele voltou a Narberth e pela manhã bem cedo, com a chegada da 

aurora, ele foi ceifar a plantação. Ao chegar lá, nada encontrou além da palha 

nua. Cada uma das espigas de trigo fora cortada da haste. Todas as espigas 

haviam sido levadas embora, não restando nada além da palha. E com isso ele 

ficou grandemente espantado.

Ele foi então examinar outro trigal e viu que também estava maduro.

­ Certamente ­ disse ele ­, este eu virei ceifar amanhã.

E pela manhã ele veio com a intenção de ceifá­lo. Ao chegar lá, nada encontrou 

além da palha nua.

­ Ó Céu cheio de graças ­ ele exclamou ­, eu sei que aquele que começou minha 

ruína está completando­a e também destruiu o país comigo.

Ele foi então examinar a terceira plantação e, quando chegou lá, encontrou um 

trigo melhor do que jamais fora visto e também este estava maduro.

­ Que o mal me castigue ­ disse ele ­ se eu não vigiar aqui esta noite. Quem 

quer que tenha levado os outros grãos virá  da mesma maneira para carregar 

estes. E eu descobrirei quem é. Assim, ele apanhou suas armas e começou a 

vigiar a lavoura. Ele contara a Cicfa tudo que havia acontecido.

­ Na verdade ­ ela perguntou ­, que pensais fazer?

­ Vigiarei a plantação esta noite.

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Ele foi vigiar o trigal. À meia­noite, então, surgiu o maior tumulto do mundo. 

Ele  olhou  e  viu  a  maior  multidão  de   ratos  do  mundo,   tão grande  que  não 

poderia  ser contada nem medida.  Ele não soube o que era até  que os ratos 

abriram caminho pela plantação; cada um deles subia pela haste e dobrava­a 

com seu peso, cortava as espigas de trigo e levava­as embora, deixando apenas 

a palha. Manawyddan viu que não havia uma só haste sem um rato pendurado 

nela. Todos eles seguiam seu caminho, carregando as espigas consigo.

Com ira e fúria ele correu para os ratos, mas não pôde aproximar­se deles mais 

do que se fossem mosquitos ou pássaros no ar, exceto por um só que, embora 

lento, ia tão depressa que um homem a pé dificilmente poderia alcançá­lo. Ele 

correu atrás desse, apanhou­o e colocou­o em sua luva, amarrando a abertura 

com uma corda e levando­o consigo ao retornar ao palácio. Ele então chegou ao 

salão onde Cicfa estava e acendeu um fogo. Ele pendurou a luva pela corda em 

um gancho na parede.

­ Que tendes aí, senhor? ­ Cicfa quis saber.

­ Um ladrão ­ respondeu Manawyddan ­ que encontrei roubando­me.

­ Que tipo de ladrão poderia ser, meu senhor, que podeis colocá­lo dentro de 

vossa luva?

­ Já vos direi.

Manawyddan mostrou­lhe então como seus campos tinham sido devastados e 

destruídos e como os ratos tinham vindo ao último dos campos bem sob seus 

olhos.

­  E  um deles   era  menos  ágil  que  os  demais   e   está   agora   em minha   luva. 

Enforcá­lo­ei amanhã e, pelo Céu, se a todos eu tivesse, a todos eu enforcaria.

­ Meu senhor ­ ela disse ­, isso é espantoso, mas ainda assim seria impróprio 

para um homem da vossa dignidade ser visto a enforcar um ser repugnante 

como esse. E, se agirdes bem, não vos ocupareis dessa criatura, mas deixareis 

que se vá.

­  A aflição recaia  sobre mim se,  podendo pegá­los,  eu não os enforcasse a 

todos. Mas este único que tenho, irei enforcá­lo. 

­ Na verdade, senhor, não há razão pela qual eu socorreria esse verme, além de 

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impedir   que   o   descrédito   recaia   sobre   vós.   Fazei   portanto,   senhor,   como 

quiserdes.

­ Soubesse eu de qualquer razão no mundo por que o devêsseis socorrer, eu 

aceitaria  vosso conselho em relação a esse assunto. Mas como não conheço 

nenhuma, senhora, estou decidido a destruí­lo.

­ Fazei­o então de boamente ­ disse ela.

VII Libertai o rato!

Então ele foi para o gorsedd de Narberth levando o rato consigo. Ele montou 

duas forquilhas  na parte  mais alta  do  gorsedd.  Enquanto fazia   isso,  viu um 

sábio vindo em sua direção, em velhas, pobres e esfarrapadas vestimentas. Há 

sete   anos   Manawyddan   não   via   naquele   lugar   nem   homem,   nem   animal, 

ninguém além daquelas quatro pessoas que haviam permanecido juntas até se 

perderem duas delas.

­ Meu senhor ­ disse o sábio ­, um bom dia para vós.

­  O Céu vos faça prosperar e minha saudação para vós. De onde vindes,  ó 

sábio? ­ perguntou Manawyddan.

­ Eu venho de Lloegyr, onde estive cantando. Por quê o perguntais?

­ Porque nos últimos sete anos não vi homem algum por aqui, exceto quatro 

segregados e vós mesmo, neste momento.

­ Na verdade, senhor, atravesso esta terra para chegar à minha própria. E que 

trabalho estais fazendo, senhor?

­ Estou enforcando um ladrão que apanhei a roubar­me.

­ Que tipo de ladrão é esse? ­ perguntou o sábio. ­ Vejo em vossa mão uma 

criatura semelhante a um rato e parece muito impróprio para um homem da 

vossa posição tocar um ser assim tão asqueroso como esse. Deixai que se vá em 

liberdade.

­  Não o deixarei  partir,  pelo Céu! ­  exclamou Manawyddan. ­  Eu o peguei 

roubando­me e o destino de um ladrão eu hei de infligir­lhe. Irei enforcá­lo.

­ Senhor ­ disse ele ­, antes de ver um homem da vossa posição fazendo um 

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trabalho como esse, prefiro dar­vos uma libra que recebi como gratificação para 

que deixeis o animal partir livre.

­ Eu não o deixarei partir, pelo Céu, e tampouco o venderei!

­ Como o quiserdes, senhor. Exceto pelo fato de que eu não desejaria ver um 

homem de posição igual à  vossa tocando um animal como esse, eu não me 

importo absolutamente.

E o sábio seguiu seu caminho.

Enquanto ele estava colocando a trave sobre as duas forquilhas, um sacerdote 

veio em sua direção montado num cavalo coberto com arreios.

­ Um bom dia para vós, senhor ­ disse ele.

­ O Céu vos faça prosperar ­ Manawyddan respondeu ­; vossa benção.

­ A benção do Céu esteja convosco. E o que, senhor, estais fazendo?

­ Estou enforcando um ladrão que apanhei a roubar­me.

­ Que tipo de ladrão, senhor?

­  Uma criatura  em forma de rato.  Esteve  me roubando e vou  infligir­lhe  o 

destino de um ladrão.

­ Senhor, antes de ver­vos tocando esse asqueroso, eu preferiria comprar­lhe a 

liberdade.

­ Pela minha confissão do Céu, não irei vendê­lo nem tampouco libertá­lo.

­ É verdade, senhor, que não é nada digno de se comprar, mas, a ver que vos 

estais sujando por tocardes nessa criatura repulsiva, prefiro dar­vos três libras 

para que o deixeis ir.

­ Pelo Céu, eu não aceitarei qualquer valor por ele. Será enforcado como deve 

ser.

­ De boa vontade, senhor, fazei o que vos der satisfação.

E o sacerdote seguiu seu caminho.

Manawyddan então passou o  laço pelo pescoço do rato e,  quando estava a 

ponto de enforcá­lo, viu a comitiva de um bispo, com seus cavalos de aparato e 

servidores. E o próprio bispo foi em sua direção. Manawyddan parou o que 

estava fazendo.

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Page 89: 110439157 Quatro Ramos Do Mabinogion Texto Anotado

­ Senhor Bispo, vossa benção.

­ A benção do Céu esteja convosco. Que trabalho estais fazendo?

­ Enforcando um ladrão que apanhei a roubar­me.

­ Isso que vejo em vossa mão não é um rato?

­ Sim. E me roubou.

­ Uma vez que cheguei na hora de sua condenação, vou resgatá­lo de vós. Dar­

vos­ei sete libras por ele, o que é preferível a ver um homem de posição igual à 

vossa destruindo uma criatura repugnante tão vil quanto essa. Deixai­o partir e 

tereis o dinheiro.

­ Ao Céu declaro que não o deixarei partir!

­ Se não o quereis libertar por essa quantia, dar­vos­ei vinte e quatro libras em 

dinheiro vivo para que o solteis.

­ Não o libertarei por quantia alguma, pelo Céu!

­ Se não o quereis libertar pelo que já vos ofereci, dar­vos­ei todos os cavalos 

que vedes nesta planície e as sete cargas da minha bagagem e os sete cavalos 

sobre os quais estão.

­ Pelo Céu, não o aceitarei ­ Manawyddan replicou.

­ Uma vez que não o quereis libertar por tudo que já vos ofereci, dizei qual é 

vosso preço.

­ É o que farei. Quero que Rhiannon e Pryderi sejam libertados.

­ Isso obtereis.

­ Ainda assim, pelo Céu, não libertarei esse rato.

­ Então que mais quereis?

­ Que o feitiço e a ilusão sejam removidos das Sete Províncias de Dyfed.

­ Isso também obtereis. Deixai, portanto, que o rato parta livre.

VIII Llwyd. Pryderi e Rhiannon são libertados.

­ Pelo Céu que não o libertarei. Devo saber quem é esse rato.

­ É minha esposa.

­ Ainda mesmo que o seja, não a libertarei. Por que ela veio até mim?

­ Para despojar­vos. Eu sou Llwyd, filho de Cilcoed, e lancei o encantamento 

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Page 90: 110439157 Quatro Ramos Do Mabinogion Texto Anotado

sobre as Sete Províncias de Dyfed. E foi para vingar Gwawl, filho de Clud, pela 

amizade que lhe dedicava, que lancei o encantamento. Em Pryderi eu vinguei 

Gwawl, filho de Clud, pelo jogo do "Texugo na Bolsa", que Pwyll Pen Annwn 

precipitadamente jogou com ele na corte de Hefeydd Hen. E, quando se soube 

que havíeis chegado para viver nesta terra, todos os de minha casa vieram e 

imploraram­me  que   os   transformasse   em   ratos   para   que   pudessem  destruir 

vossos grãos. Foram esses mesmos que vieram na primeira noite, bem como na 

segunda, e destruíram vossas duas plantações. Na terceira noite, vieram a mim 

minha esposa e as damas da Corte, suplicaram­me que as transformasse e assim 

eu   fiz.   Porém,   ela   está   grávida.   Não   fosse   isso   e   vós   não   poderíeis   tê­la 

apanhado. No entanto, uma vez que aconteceu e ela foi presa, irei devolver­vos 

Pryderi e Rhiannon. Retirarei também o feitiço e a ilusão de Dyfed. Agora já 

vos contei quem ela é. Deixai, pois, que se vá.

­ Não a libertarei, pelo Céu.

­ O que mais quereis?

­ Vede o que devo ter: a promessa de que nunca vos vingareis por isto, seja 

sobre Pryderi, Rhiannon ou sobre mim mesmo.

­ Tudo obtereis. Na verdade, agistes com sabedoria ao pedí­lo, pois sobre vossa 

cabeça poderia ter recaído todo esse problema.

­ Sim, foi por receio de que assim ocorresse que fiz tal pedido.

­ Dai agora a liberdade a minha esposa.

­ Não o farei, pelo Céu, até que veja Pryderi e Rhiannon livres comigo.

­ Vede, ali vêm eles ­ respondeu Llwyd.

Imediatamente   surgiram   Pryderi   e   Rhiannon.   Manawyddan   ergueu­se   para 

encontrá­los, saudou­os e sentou­se a seu lado.

­ Ah, príncipe, deixai agora que parta minha esposa ­ disse o bispo. ­ Já não 

recebestes tudo quanto pedistes?

­ Alegremente a libertarei. 

E no mesmo instante soltou­a.

Llwyd então a tocou com uma vara mágica e ela transformou­se numa jovem, a 

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Page 91: 110439157 Quatro Ramos Do Mabinogion Texto Anotado

mais bela jamais vista.

­  Olhai ao vosso redor e vereis  vossa terra  toda cultivada e povoada,  como 

esteve em seus melhores dias.

Manawyddan  ergueu­se   e  olhou em volta.  Viu   todas   as   terras   cultivadas   e 

cheias de rebanhos e habitações.

­ Qual servidão ­ ele perguntou ­ foi imposta a Pryderi e Rhiannon?

­   Pryderi   teve   as   aldravas   do  portão  do   meu   palácio   sobre   seu   pescoço   e 

Rhiannon usou a coleira dos burros depois que passaram a carregar feno em 

seus pescoços. Essa a servidão que lhes foi imposta.

Em vista de tal  servidão, esta história é  chamada  O Mabinogi  de Mynnweir 

(“Coleira”) e Mynord (“Martelo”).

E assim termina esta parte do Mabinogion.

NOTAS AO TERCEIRO RAMO

24 Manawyddan, filho de Llyr

Na origem,um deus do mar que corresponde ao irlandês Mánannan mac Lir, o 

príncipe que figura como herói do presente mabinogi é objeto de duas tríades, 

numa das quais se faz alusão a suas singulares aventuras:

Três Fabricantes de Sapatos de Ouro da Ilha da Grã­Bretanha: Caswallawn, filho de Beli, quando ele foi à Gasconha para obter Fflur, filha de Mygnach Gorr,   que  para   lá   fora   levada  para  Caesar,   o   Imperador,   por  um homem chamado Mwrchan, o Ladrão, rei daquele país e amigo de Iulius Caesar, e Caswallawn trouxe­a de volta à Ilha da Grã­Bretanha; Manawyddan, filho de Llyr   Llediaith,   quando   estava   em   Dyfed   impondo   restrições;   Llew   Llaw Gyffes, filho de Dôn, procurando obter um nome e armas de Arianrhod, sua mãe.

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Page 92: 110439157 Quatro Ramos Do Mabinogion Texto Anotado

Na outra,  ele  é  apresentado como um dos  príncipes  humildes  da ilha,  pois, 

tendo cultivado a arte dos menestréis após o cativeiro com seu irmão Bran em 

Roma,   ele   não   retomaria   sua   posição   mais   tarde,   embora   pudesse   fazê­lo 

(“Tríades Galesas”, tríade 8, Peniarth MS 54):

Três Príncipes Humildes da Ilha da Grã­Bretanha: Llywarch Hen, filho de Elidyr Lydanwyn e Manawydan filho de Llyr Lledyeith e Gwgawn Gwrawn, filho de Peredur, filho de Eliffer Gosgordfaur. 

Os outros principais personagens cujos nomes surgem neste mabinogi são aqui 

passados em silêncio, pois já foram objeto de notas precedentes. 

  

25 Lloegyr

É  o  nome galês  para a  parte  oriental  e  maior  da  ilha;  corresponde,  no uso 

moderno,  à  palavra   Inglaterra.  Na  lenda arturiana,  o  nome também aparece 

como Loegres ou Logres, de Locrinus, filho mais velho do príncipe Brutus, o 

bisneto do troiano Enéias. Brutus acidentalmente matou seu pai e fugiu da Iália 

para a Grécia, sendo ali reconhecido como líder dos troianos escravizados. Ele 

então os conduziu para fora da Grécia, e, tendo sido instruído pela deusa Diana 

enquanto dormia em seu templo, navegou para a Grã­Bretanha e fundou uma 

segunda   Tróia,   Tróia   Nova   (Trinouantum),   nas   margens   do   Tâmisa.   Ele 

derrotou um exército de gigantes e acorrentou seus líderes, Gog e Magog, para 

que fossem seus  porteiros.  O mítico  Brutus é   lembrado como ancestral  dos 

britanos. Locrinus governou a região que, mais tarde, levou seu nome. 

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O QUARTO RAMO DO MABINOGION 

MATH, FILHO DE MATHONWY

Introdução

O Quarto Ramo conta como o mago Gwydion ("Selvagem?") e seu irmão, Gilfaethwy, usam as 

artes mágicas para obter de Pryderi os porcos do Outro Mundo que o Senhor de Annwn lhe 

enviara.  Pryderi persegue­os através de Gales até  ser morto por Gwydion. Gilfaethwy viola 

Goewin, donzela que serve de escabelo a Math ("Riqueza" ou "Tesouro"), senhor de Gwynedd, 

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no norte de Gales. O escabelo de Math deve ser uma virgem. Goewin conta a Math o que 

aconteceu e diz que ele deve procurar  outra para ocupar seu lugar. Mah escolhe Arianrhod 

("Roda de Prata"), que demonstra não ser mais virgem dando à luz filhos gêmeos, Llew Llaw 

Gyffes ("Leão da Mão Firme") e Dylan ap Ton ("Oceano, Filho da Onda). O ciclo de histórias 

ligado a Llew inclui seu casamento com uma noiva magicamente criada, Blodeuwedd ("Rosto 

de Flor"), sua morte e renascimento, terminando com sua chegada ao trono de Gwynedd. Tais 

eventos são dirigidos ou criados por Gwydion, quase do mesmo modo que Merlin guiará a vida 

do jovem Arthur nos romances posteriores.

I A paixão de Gilfaethwy.

ath26,   filho   de   Mathonwy,   era   o 

senhor de Gwynedd e Pryderi,  o 

filho de Pwyll,  era  o senhor das 

vinte   e   uma   Províncias   do   Sul. 

Estas eram as sete províncias  de 

Dyfed,   as   sete   províncias   de 

Morganwc, as quatro províncias de Ceredigiawn e as três de Ystrad Tywi.

Naquele tempo, Math, o filho de Mathonwy, não podia existir a não ser que 

seus   pés   estivessem   no   colo   de   uma   donzela,   exceto   quando   se   estivesse 

preparando   para   o   tumulto   da   guerra.   A   donzela   que   estava   com   ele   era 

Goewin27, filha de Pebin de Dol Pebin, em Arfon, e ela era, entre as donzelas 

conhecidas por lá, a mais bela de sua época.

Math   sempre   habitou   em   Caer   Dathyl28,   em   Arfon.   Ele   não   era   capaz   de 

percorrer o país, mas Gilfaethwy, o filho de Don, e Eneyd, o filho de Don, seus 

sobrinhos, os filhos de sua irmã, juntamente com seus domésticos, percorriam o 

país em seu lugar.

A donzela estava continuamente com Math e a afeição de Gilfaethwy, o filho 

de Don, recaiu sobre ela. Ele amou­a tanto que não sabia mais o que fazer por 

causa dela e logo sua cor, seu aspecto e seu ânimo mudaram por amor a ela, de 

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sorte que não era fácil reconhecê­lo.

Um dia, seu irmão Gwydion olhou­o firmemente.

­ Jovem ­ ele disse ­, o que te incomoda?

­ Por quê? ­ replicou o outro. ­ Que vês em mim?

­ Vejo que perdeste teu aspecto e tua cor. Portanto, o que te incomoda?

­ Meu senhor irmão, o que me incomoda, não me serviria confessá­lo a quem 

quer que fosse.

­ Mas que poderia ser, minha alma?

­ Tu sabes que Math, o filho de Mathonwy, é dono desta propriedade; que, se 

homens   sussurrarem  juntos,   ainda  que  em  tom muito  baixo,   se  o  vento  os 

encontrar, ele ficará sabendo.

­ Sim, mantém tua paz, conheço teu intento. Tu amas Goewin.

Quando  viu  que   seu   irmão   conhecia   seu  desejo,  Gilfaethwy  soltou  o  mais 

profundo suspiro do mundo.

­ Fica em silêncio, minha alma, e não suspires ­ falou Gwydion. ­ Não é assim 

que terás sucesso. Provocarei, se não puder ser de outro modo, um levante de 

Gwynedd, Powys e Deheubarth para conseguir a donzela. Que a partir de agora 

fique melhor o teu ânimo e eu farei os planos.

Assim, eles foram até Math, o filho de Mathonwy.

­ Senhor ­ Gwydion disse ­,  ouvi dizer que chegaram ao sul certos animais 

como nunca antes foram conhecidos nesta ilha.

­ Como se chamam? ­ o rei perguntou.

­ Porcos, senhor.

­ E que tipo de animais são?

­ São animais pequenos e sua carne é melhor que a dos bois.

­ Então eles são pequenos?

­ E mudam seus nomes. Agora são chamados suínos.

­ Quem é o dono deles?

­  Pryderi,  o   filho  de  Pwyll.  Os  animais   foram­lhe  enviados  de  Annwn por 

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Arawn, o rei de Annwn, e ainda mantêm aquele nome, meio pântano, meio 

porco.

­ Realmente, de que modo podemos obtê­los de Pryderi?

­ Eu irei, senhor, como um dentre doze sob o disfarce de bardos, procurar os 

porcos.

­ Mas pode ser que ele os recuse a ti.

­ Minha viagem não será infrutífera, senhor. Não voltarei sem os suínos.

II Na corte de Pryderi. A magia de Gwydion.

Ele  e  Gilfaethwy partiram e com eles  outros  dez homens.  Eles  chegaram a 

Ceredigiawn, ao lugar agora chamado Rhuaddlan Teifi, onde ficava o palácio 

de   Pryderi.   Sob   o   disfarce   de   bardos   eles   chegaram.   Foram   alegremente 

recebidos e Gwydion foi acomodado ao lado de Pryderi naquela noite.

­ De verdade ­ disse Pryderi ­, eu ficaria muito feliz em ouvir uma história de 

algum dos vossos homens.

­ Senhor ­ falou Gwydion ­, temos um costume pelo qual, na primeira noite em 

que chegamos à corte de um grande homem, quem recita é o chefe da canção. 

Assim, com toda a boa vontade, eu contarei uma história.

Gwydion era  o  melhor  contador  de histórias  do mundo.  Naquela  noite,  ele 

divertiu   a   corte   com   um   discurso   agradável   e   contos,   de   tal   maneira   que 

encantou a cada um na corte e conversar com ele deu grande prazer a Pryderi.

Depois disso:

­ Senhor ­ ele disse a Pryderi ­, seria mais agradável para vós que um outro 

cumprisse minha missão em relação a vós do que se eu mesmo vos dissesse o 

que é?

­ Não ­ respondeu Pryderi ­, podeis falar livremente.

­ Vede então, senhor, esta é a minha missão: obter de vós os animais que vos 

foram enviados de Annwn.

­ Realmente,  seria a coisa mais fácil  de conceder,  não houvesse um acordo 

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entre mim e minha terra a respeito deles. O acordo é que não posso desfazer­me 

deles até que tenham produzido o dobro do seu número.

­ Senhor, eu posso liberar­vos de vossas palavras e este é o meio pelo qual eu o 

farei: não me deis os suínos nesta noite, nem os recuseis a mim e amanhã de 

manhã vos mostrarei uma troca por eles.

Gwydion e seus companheiros foram para o alojamento e deliberaram:

­ Ah, meus homens, com o pedido que fiz não obteremos os suínos.

­ Bem, como podem os animais ser conseguidos?

­ Eu farei com que os obtenhamos ­ disse Gwydion.

Ele recorreu a suas artes e começou a trabalhar um encantamento. Fez com que 

doze cavalos aparecessem e doze galgos, cada um deles com o peito branco e 

tendo doze coleiras  e doze correias que ninguém diria  que fossem feitas  de 

outra coisa que não ouro. Sobre os cavalos havia doze selas e cada uma das 

partes que deveria ser de ferro era inteiramente de ouro. As rédeas eram feitas 

do mesmo artesanato. Com os cavalos e os cães ele foi até Pryderi.

­ Bom dia para vós, senhor ­ ele disse.

­ O Céu vos faça prosperar e saudações para vós.

­ Senhor, eis para vós a libertação da palavra que dissestes na noite de ontem 

sobre os suínos: que não os poderíeis dar, nem vender. Podeis trocá­los pelo 

que é melhor. Eu darei estes doze cavalos, todos ajaezados como estão, com 

suas selas  e suas rédeas e os doze galgos, com suas coleiras e correias e ainda 

os doze escudos dourados que ali vedes.

Esses escudos ele formara com um fungo.

­ Bem ­ disse Pryderi ­, vou aconselhar­me a esse respeito.

Eles   deliberaram  e  decidiram  dar   os   suínos   a  Gwydion,   ficando   com  seus 

cavalos, cães e escudos.

III A fuga de Gwydion. Prepara­se a batalha entre Gwynedd e Dyfed.

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Então Gwydion e seus homens pediram­lhes licença e partiram com os porcos.

­Ah,   meus   companheiros   ­   disse   Gwydion   ­,   é   necessário   viajarmos   com 

rapidez. A ilusão não vai durar uma hora além deste mesmo horário amanhã.

Naquela noite, eles viajaram até a parte superior de Ceredigiawn, até o lugar 

que, por essa razão, é ainda chamado Mochdref29. No dia seguinte, coninuaram 

seu caminho através de Elenydd e, quando anoiteceu, chegaram à cidade que, 

por esse motivo,   também se chama Mochdref,  entre  Ceri  e Arwystli.  Então 

foram adiante e, à noite, alcançaram aquele distrito em Powys que passou assim 

a ser chamado Mochnant, onde pernoitaram. Eles viajaram para a província de 

Rhos e o lugar onde permaneceram à noite é ainda chamado Mochdref.

­ Meus homens ­ disse Gwydion ­, devemos prosseguir para a segurança de 

Gwynedd com estes animais, pois há uma reunião de exércitos perseguindo­

nos.

Eles viajaram para a maior cidade de Arllechwedd. Lá fizeram um chiqueiro 

para os suínos e,  por   isso,  o  nome de Creuwyryon foi  dado àquela  cidade. 

Depois de fazer o chiqueiro para os suínos, eles foram até  Math, o filho de 

Mathonwy,   em   Caer   Dathyl.   Quando   chegaram   lá,   estava   havendo   uma 

mobilização no país.

­ Que novas há por aqui? ­ perguntaram eles.

­   Pryderi   está   reunindo   vinte   e   uma   províncias   para   perseguir­vos   ­ 

responderam­lhes. ­ É surpreendente que tenhais viajado tão lentamente.

­ Onde estão os animais em busca dos quais fostes? ­ quis saber Math.

­ Construiu­se um chiqueiro para eles numa outra província.

Logo depois, eles ouviram as trombetas e o exército no país. Colocaram­se em 

ordem, partiram e chegaram a Penardd, em Arfon.

IV Gilfaethwy viola Goewin.

À noite, o filho de Don e Gilfaethwy, seu irmão, retornaram a Caer Dathyl. 

Gilfaethwy tomou o divã de Math, filho de Mathonwy. Enquanto ele, sem a 

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menor cortesia, botava para fora da sala as outras donzelas, obrigava Goewin a 

permanecer contra sua vontade.

Pela manhã, assim que viram o dia, eles voltaram ao lugar onde estava Math, o 

filho   de  Mathonwy,   com   seu   exército.  Quando   chegaram   lá,   os   guerreiros 

estavam deliberando sobre a localidade em que deveriam esperar a chegada de 

Pryderi e dos homens do sul. Eles foram para o conselho e resolveu­se aguardá­

los   nas   fortalezas   de   Gwynedd,   em   Arfon.   Dentro   de   dois   fortes   eles   se 

posicionaram, Maenor Penardd e Maenor Coed Alun30. Lá Pryderi atacou­os e 

teve lugar o combate. Grande foi a matança em ambos os lados, mas os homens 

do sul foram forçados a fugir. Eles fugiram para o local que é agora chamado 

Nant Call.  Até   lá  os homens de Gwynedd os seguiram e fizeram uma vasta 

matança entre os do sul, que novamente fugiram, indo para o lugar chamado 

Dol Pen Maen. Ali os homens de Dyfed se detiveram e pediram para fazer a 

paz.

V A paz entre Gwynedd e Dyfed. A morte de Pryderi.

Para que pudesse ter paz, Pryderi deu como reféns a Gwrgi Gwastra e a vinte e 

três outros, filhos de nobres. Depois disso, eles viajaram em paz até  Traeth 

Mawr. Contudo, enquanto seguiam juntos para Melenryd, os homens que iam a 

pé   não   podiam   ser   impedidos   de   disparar   flechas.   Pryderi   despachou   uma 

embaixada para Math,  a fim de pedir­lhe que proibisse seu povo de lutar  e 

deixasse a questão ser resolvida entre ele e Gwydion, filho de Don31, pois fora 

este o provocador da contenda. E os mensageiros chegaram a Math.

­ Chamo o Céu como testemunha de que, se isso for agradável a Gwydion, 

filho de Don, eu de boa vontade permitirei que assim seja. Jamais compelirei 

quem quer que seja a lutar, a não ser que nós mesmos estejamos dispostos a dar 

o melhor de nós.

­ Realmente ­ disseram os mensageiros a Gwydion ­, Pryderi disse que seria 

mais justo que o homem que lhe causou esse dano opusesse seu próprio corpo 

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ao dele, deixando que o povo de Dyfed ficasse incólume.

­ Declaro ao Céu que não pedirei ao povo de Gwynedd para lutar por minha 

causa. Se for posível que eu mesmo lute com Pryderi, prazerosamente oporei 

meu corpo ao dele.

Essa resposta levaram de volta a Pryderi, que disse:

­ A ninguém mais, senão a mim mesmo, pedirei que lute por meus direitos.

Esses  dois  então chegaram ao  local  combinado,  armaram­se e  combateram. 

Graças à força, à ferocidade e pela magia e encantamentos de Gwydion, Pryderi 

foi morto. Enterraram­no em Maen Tyriawc, acima de Melenryd, e lá está sua 

sepultura. 

Tristes, os homens do sul voltaram para sua própria terra. Não era de causar 

espanto   que   estivessem   pesarosos,   vendo   que   haviam   perdido   seu   senhor, 

muitos de seus melhores guerreiros e a maior parte de seus cavalos e armas.

Cheios de alegria e triunfantes voltaram os homens de Gwynedd.

­   Senhor   ­   disse   Gwydion   a   Math   ­,   não   seria   adequado   para   nós   que 

soltássemos os reféns que nos foram dados pelos homens do sul como garantia 

de paz? Pois não devemos jogá­los na prisão. 

­ Deixa então que sejam libertados ­ concordou o rei. 

Assim, aquele jovem e os outros reféns que estavam com ele foram libertados 

para seguir os homens do sul.

VI Math toma Goewin como esposa. A punição de Gwydion e Gilfaethwy.

O próprio Math foi adiante para Caer Dathyl. Gilfaethwy, filho de Don, e todo 

o pessoal da casa que estava com ele foram percorrer Gwynedd, como estavam 

habituados, sem retornarem à corte. Math foi diretamente para sua câmara e 

ordenou   que   um   lugar   lhe   fosse   preparado   para   reclinar­se,   de   modo   que 

pudesse colocar seus pés no colo da donzela.

­ Senhor ­ disse Goewin ­, buscai outra donzela para acomodar vossos pés, pois 

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sou agora uma esposa.

­ Que significa isso? ­ o rei perguntou.

­  Uma ataque,  senhor,   inesperadamente  foi feito  contra  mim. Eu não fiquei 

quieta, mas não havia ninguém na corte que o pudesse saber. Esse ataque foi 

feito por vossos sobrinhos, os filhos de vossa irmã. Gwydion, filho de Don, e 

Gilfaethwy, filho de Don. Fizeram o mal contra mim e vos trouxeram desonra.

­ Na verdade ­ ele exclamou ­, irei fazer tudo que estiver em meu poder quanto 

a esse assunto! Contudo, primeiro farei com que sejas recompensada e depois 

procurarei uma indenização para mim mesmo. Quanto a ti, serás minha esposa 

e a posse de meus domínios darei em tuas mãos.

Gwydion e Gilfaethwy não se aproximaram da Corte, mas permaneceram nos 

confins   do   país   até   que   se   tornou   proibido   dar­lhes   comida   e   bebida. 

Primeiramente, não chegaram perto de Math, mas, por fim, tiveram de fazê­lo.

­ Senhor ­ disseram eles ­, bom dia para vós.

­ Bem, é para compensar­me que viestes?

­ Senhor, obedeceremos vosso desejo.

­  Pelo meu desejo,  eu não teria  perdido meus guerreiros,  nem tantas  armas 

quantas perdi! Não podeis compensar­me pela minha vergonha, isso sem falar 

na morte de Pryderi. Porém, como viestes aqui vos colocar à minha disposição, 

agora mesmo começarei a punir­vos!

Ele  pegou seu  bastão mágico  e  golpeou  Gilfaethwy,  mudando­o  em cervo. 

Rapidamente   agarrou  Gwydion para  que  não escapasse  e  golpeou­o  com o 

mesmo bastão, transformando­o em outro cervo.

­   Uma   vez   que   agora   estais   presos,   desejo   que   partais   juntos   e   sejais 

companheiros e possuais a mesma natureza das criaturas cuja forma ostentais. 

Vinde a mim dentro de doze meses a partir de hoje.

Ao término de um ano a partir daquele dia, houve um alto barulho sob o muro 

da câmara e o latido dos cães do palácio junto com o barulho.

­ Olhai ­ disse Math ­ o que está lá fora.

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­ Eu olhei, senhor ­ disse alguém ­, há dois cervos e um filhote com eles.

O rei ergueu­se, foi para fora e, ao sair do palácio, viu os três animais.  Ele 

ergueu seu bastão e falou:

­  Como cervos   fostes  no  ano passado,  no  ano que  há  de  vir   sereis  porcos 

selvagens.

Golpeou­os imediatamente com o bastão mágico.

­ Este jovem eu pegarei e ordenarei que seja batizado.

E o nome que lhe deu foi Hydwn.

­ Ide e sede suínos selvagens e que tenhais a natureza de suínos selvagens. Que 

estejais sob este muro dentro de doze meses a partir de hoje.

No fim do ano, o latido dos cães foi escutado sob o muro da câmara real. A 

Corte   reuniu­se   e   logo  o   rei   se   ergueu  e   saiu.  Ao  chegar   lá   fora,  viu   três 

animais.   Foram   estes   os   animais   que   ele   viu:   dois   porcos   selvagens   das 

florestas e um filhote bem crescido com eles, que era muito grande para sua 

idade.

­ Na verdade ­ disse Math ­, este eu vou pegar e fazer com que seja batizado.

Ele golpeou­o com seu bastão mágico e o filhote tornou­se um lindo jovem de 

cabelos ruivos e o nome que o rei lhe deu foi Hychdwn.

­ Agora, quanto a vós, como fostes porcos selvagens no ano passado, sereis um 

casal de lobos pelo ano que está por vir.

Tocou­os imediatamente com seu bastão mágico e eles se tornaram lobos.

­ Que sejais da natureza dos animais cuja semelhança está sobre vós e retornai 

aqui sob este muro no prazo de doze meses a contar deste dia!

No mesmo dia ao fim do ano, ele escutou um clamor e um ladrido de cães sob 

o muro da câmara real. O rei se levantou e saiu. Ao chegar, viu dois lobos e um 

forte filhote com eles.

­ Este eu vou pegar ­ disse Math ­ e fazer com que seja batizado. Há um nome 

pronto para ele e é Bleiddwn. Eis que esses três, tais são eles:

Os três filhos de Gilfaethwy, o Falso,os três fiéis combatentes,

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Bleiddwn, Hydwn e Hychdwn, o Alto.

Então,  ele  golpeou os  dois  com seu bastão mágico  e  eles   reassumiram sua 

própria natureza.

­ Ó homens, pelo erro que contra mim cometestes suficientes já foram vossa 

punição e vossa desonra. Fazei agora um bálsamo precioso para estes homens, 

lavai suas cabeças e aprontai­os.

Depois de preparados, eles foram até Math.

­ Ó homens ­ disse o rei ­, vós obtivestes paz e tereis igualmente amizade. Dai­

me vosso conselho, qual donzela devo buscar?

­ Senhor ­ disse Gwydion, o filho de Don ­, fácil é dar­vos conselho. Buscai 

Arianrhod32, filha de Don, vossa sobrinha, filha de vossa irmã.

VII Arianrhod. O nascimento de Dylan e Llew.

Trouxeram a donzela até Math e ela entrou.

­ Ah, jovem dama, és tu a donzela?

­ Desconheço, senhor, outra que o seja mais do que eu.

Então Math pegou seu bastão mágico e depositou­o no chão.

­ Passai por cima disto ­ ele disse ­ e saberei se és a donzela.

Ela passou sobre o bastão mágico e surgiu em seguida um belo e roliço menino 

de cabelos loiros. Enquanto o menino gritava, ela se dirigia para a porta. Logo 

uma pequena forma foi vista mas,  antes  que qualquer  um pudesse dar uma 

segunda olhada,  Gwydion pegou­a,  envolveu­a numa echarpe de veludo e a 

escondeu. O lugar onde a ocultou foi o fundo de uma arca nos pés de sua cama.

­  Realmente   ­   disse  Math   em  relação   ao  belo  menino  de   cabelos   loiros   ­, 

ordenarei que seja batizado e Dylan será o nome que lhe darei.

Eles   assim   batizaram   o   menino   e,   tão   logo   acabaram   a   cerimônia,   ele 

mergulhou no mar. Imediatamente, quando já estava no mar, ele mostrou sua 

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natureza e nadou tão bem quanto o melhor peixe que estivesse nas águas. Por 

essa   razão,   foi   chamado  Dylan,   o  Filho  da  Onda.  Debaixo  dele   jamais   se 

quebrou uma onda. E o golpe pelo qual encontrou a morte foi desferido por seu 

tio Gofannon. Foi chamado "o terceiro golpe fatal".  

Uma  manhã,   quando  Gwydion   estava  deitado   em   sua   cama,   acordado,   ele 

escutou um choro dentro da arca que ficava nos pés. Embora não fosse alto, era 

o bastante para que pudesse ouví­lo. Então ele se levantou depressa e abriu a 

arca. Ao abrí­la, viu uma criança de colo estendendo os bracinhos das dobras 

da echarpe e tirou­a dali de dentro. Ele pegou o menino em seus braços e levou­

o  a  um  lugar  onde  sabia  haver  uma mulher  que  poderia   amamentá­lo.  Ele 

combinou   com   a   mulher   que   ela   cuidaria   do   menino.   E   este   foi   assim 

alimentado naquele ano.

No fim do ano, ele parecia, por seu tamanho, uma criança de dois anos. No 

segundo ano,  era  um menino  grande,   capaz  de   ir   sozinho  à   corte.  Quando 

chegou à corte, Gwydion notou­o e o menino tornou­se­lhe familiar, amando­o 

mais do que a qualquer outra pessoa. O menino foi então educado na corte até 

os quatro anos de idade, quando então estava grande como se tivesse oito.

VIII Arianrhod amaldiçoa Llew.

Gwydion   certo   dia   saiu   caminhando   e   o   menino   seguiu­o.   Ele   foi   para   o 

Castelo  de  Arianrhod33,   tendo  o  menino   consigo.   Quando   entrou  na   corte, 

Arianrhod ergueu­se para encontrá­lo e deu­lhe as boas­vindas.

­ O Céu te faça prosperar. Quem é o menino que te segue? ­ ela perguntou.

­ Este jovem é teu filho.

­ Ai! Que te aconteceu para me envergonhares assim? Por quê buscas minha 

desonra e a guardas por tanto tempo? 

­  A menos que suportes desonra maior do que eu estar  criando um menino 

como este, pequena será tua desgraça.

­ Qual o nome do menino?

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­ Na verdade, ele ainda não tem nome.

­ Bem, eu vou lançar este destino sobre ele: jamais terá um nome até que de 

mim o receba.

­ Ante o Céu eu seja testemunha de que és uma mulher malvada! Contudo, o 

menino terá  um nome, por mais desagradável  que isso possa ser para  ti.  E, 

quanto a ti, o que te aflige é que já não és chamada uma donzela!

Furioso, ele partiu imediatamente e voltou a Caer Dathyl, onde passou aquela 

noite.

No dia  seguinte,  ele  se   levantou  e   tomou o menino consigo.  Foram ambos 

caminhar  pela  orla  do mar,  entre  o   lugar  onde estavam e  Aber  Menei.  Lá, 

Gwydion viu alguns juncos e algas marinhas e transformou­os em um barco. E 

de madeira seca e juncos fez couro de cordovão em grande quantidade. Deu­lhe 

cor de tal maneira que jamais alguém viu couro mais belo do que esse. Fez 

então uma vela para o barco. Ele e o menino entraram no porto do Castelo de 

Arianrhod. Gwydion começou a dar forma aos sapatos e a costurá­los até ser 

observado   pelos   habitantes   do   castelo.   Quando   soube   que   já   o   estavam 

observando, disfarçou seu aspecto, colocando outra aparência sobre si mesmo e 

sobre o menino, a fim de que não os reconhecessem.

­ Que homens são aqueles naquele barco? ­ perguntou Arianrhod.

­ São sapateiros ­ responderam­lhe.

­ Ide e vede que tipo de couro possuem e que espécie de trabalho fazem.

Foram, portanto, ao encontro deles. Ao chegarem, Gwydion estava dando a cor 

a um couro de cordovão e dourando­o. Os mensageiros retornaram e contaram­

no a Arianrhod.

­ Bem, tomai a medida do meu pé e dizei ao sapateiro que faça sapatos para 

mim.

Assim,  ele   fez  sapatos  para  ela,  mas  não de  acordo com a  medida,  porém 

maiores. Os sapatos foram levados a Arianrhod e ela viu que estavam muito 

grandes.

­ Estes ficaram muito grandes, mas ele receberá seu pagamento ­ ela disse. ­ 

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Deixai­o fazer também outros que sejam menores do que estes.

Gwydion   fez  outros   sapatos   que   eram  muito  menores   do  que  o  pé   dela   e 

enviou­os ao castelo.

­ Dizei­lhe que nestes meus pés não cabem.

­ Na verdade ­ falou Gwydion ­, eu não lhe farei mais sapatos, a não ser que 

veja seu pé.

IX Como Llew obteve seu nome.

Assim, ela desceu ao barco e quando chegou lá Gwydion estava dando forma 

aos sapatos e o menino os estava costurando.

­ Ah, senhora ­ disse ele ­, bom dia para vós.

­ O Céu vos faça prosperar. Fico surpresa de que não consigais fazer sapatos de 

acordo com uma medida.

­ Eu não podia, mas agora serei capaz.

Logo  uma enorme carriça  pousou no  assoalho  do  barco  e  o  menino  atirou 

contra ela, acertando­a na pata, entre o tendão e o osso. Arianrhod sorriu.

­ Realmente ­ ela disse ­, foi com mão firme que o leão mirou.

­ Que o Céu não te recompense, mas ele já ganhou um nome. E é um nome 

bom o bastante. Llew Llaw Gyffes34 será chamado a partir de agora.

O trabalho então desapareceu em algas e juncos. Ele não mais continuou a fazê­

lo. Por essa razão, foi chamado "o terceiro sapateiro de ouro".

­ Na verdade ­ disse ela ­, não prosperareis da melhor forma fazendo­me o mal.

­ Não te fiz mal algum ainda ­ respondeu Gwydion.

Nesse momento, ele devolveu ao menino e a si mesmo suas próprias formas.

­ Bem ­ disse Arianrhod ­, vou lançar um destino sobre essa criança: ele nunca 

terá armas e armadura até que eu mesma o invista com elas.

­ Pelo Céu, seja tua malícia qual for, ele terá armas.

Eles então foram para Dinas Dinllef35. Lá, Gwydion criou Llew Llaw Gyffes 

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até  que este pudesse controlar qualquer  cavalo e fosse perfeito  em todas as 

qualidades, em força e altura. Gwydion, porém, viu que Llew estava abatido 

pela falta de cavalos e armas. Chamou­o e disse:

­ Ah, jovem, amanhã partiremos juntos numa missão. Por isso, fica mais alegre 

do que estás agora.

­ É o que quero ­ Llew respondeu.

X Gwydion engana Arianrhod novamente.

Na manhã seguinte, quando o dia raiava, eles se levantaram. Foram ao longo da 

costa do mar, rumando para Bryn Aryen. No alto de Cefn Clydno equiparam­se 

com cavalos e seguiram em direção ao Castelo de Arianrhod. Eles mudaram 

suas formas e foi sob a semelhança de dois rapazes que se apresentaram ante o 

portão, mas o aspecto de Gwydion era mais calmo que o do outro.

­  Porteiro   ­  disse ele   ­,  entra  e  dize  que aqui  estão bardos  provenientes  de 

Glamorgan.

E o porteiro entrou.

­ As boas­vindas do Céu estejam com eles, deixa­os entrar ­ disse Arianrhod.

Com grande alegria  foram saudados. O salão estava preparado e eles foram 

comer.   Quando   a   refeição   estava   terminada,   Arianrhod   conversou   com 

Gwydion   sobre   contos   e   histórias.   Gwydion   era   um  excelente   narrador   de 

contos. Quando chegou o momento de deixarem os festejos, um quarto estava 

pronto para eles, que foram descansar.

Gwydion levantou­se logo que o sol começou a se por e chamou a si sua magia 

e seu poder. No momento em que o dia raiou, ressoou pela terra um grande 

alvoroço, com trombetas e gritos. Quando já era dia, eles ouviram uma batida 

na porta do quarto e escutaram Arianrhod perguntando se poderia abrí­la. O 

rapaz ergueu­se e abriu­lhe a porta.  Arianrhod entrou acompanhada de uma 

donzela.

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­ Ah, bons homens ­ disse ela ­, estamos em grandes apuros.

­ Sim, é verdade ­ concordou Gwydion. ­ Escutamos trombetas e gritos. Que 

pensais possam ser?

­ Na verdade, sequer podemos ver a cor do oceano por causa dos navios, lado a 

lado.  Os guerreiros  estão vindo à   terra  com toda a   rapidez  possível.  E que 

podemos fazer?

­ Senhora, nada podemos fazer além de fechar o castelo e defendê­lo da melhor 

maneira que conseguirmos.

­   É   verdade,   que   o   Céu   vos   recompense.   Vós   dois   o   defendereis.   E   aqui 

encontrareis abundância de armas.

Imediatamente, ela foi buscar armas e retornou com duas donzelas, trazendo 

consigo couraças para dois homens.

­ Senhora ­ disse ele ­, armai este moço e eu me aprontarei com a ajuda de 

vossas donzelas. Depressa, eu ouço o barulho dos homens aproximando­se.

­ Assim farei de boa vontade.

Ela armou­o completamente e com grande satisfação.

­ Já terminastes de armar o jovem? ­ perguntou Gwydion.

­ Sim, terminei ­ Arianrhod respondeu.

­ Da mesma forma terminei eu. Vamos agora tirar  nossas armas, não temos 

necessidade delas.

­ Porque? Há um exército em volta da casa!

­ Cara senhora, não há exército algum aqui.

­ Oh! ­ ela gritou. ­ De onde vem então todo esse tumulto?

­ Esse tumulto foi apenas para quebrar tua profecia e conseguir armas para teu 

filho. E agora ele tem armas sem que deva qualquer agradecimento a ti.

­ Pelos Céus, és um homem perverso! Muitos jovens podem ter perdido suas 

vidas pelo tumulto que provocaste hoje nesta província. Vou agora lançar um 

destino sobre este jovem ­ ela disse. ­ Ele jamais terá uma esposa da raça que 

agora habita esta terra.

­   Em   verdade   ­   falou   Gwydion   ­,   sempre   foste   uma   mulher   maliciosa   e 

ninguém nunca te pôde suportar. Todavia, uma esposa ele terá.

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XI A criação de Blodeuwedd.

Logo depois, eles foram a Math, o filho de Mathonwy, e queixaram­se muito 

amargamente   de   Arianrhod.   Gwydion   também   lhe   mostrou   como   havia   se 

esforçado para conseguir armas para o rapaz.

­ Bem ­ disse Math ­,  procuraremos,  eu e  tu, por meio de encantamentos e 

ilusão, formar com flores uma esposa para ele. Llew chegou agora à altura de 

um homem e é o mais agradável jovem jamais visto.

Eles apanharam então as flores do carvalho, as flores da giesta e as flores da 

ulmária. Com elas criaram uma donzela, a mais bela e graciosa que um homem 

jamais viu. Eles a batizaram e deram­lhe o nome de Blodeuwedd36.

Depois que ela se tornou sua noiva e todos festejaram, Gwydion disse:

­ Não é fácil para um homem manter­se sem posses.

­ É verdade ­ disse Math. ­ Eu darei ao rapaz a melhor província para governar.

­ Senhor ­ disse ele ­, que província é essa?

­ A província de Dinodig ­ ele respondeu.

Tal   lugar  chama­se nestes dias Eifionydd e Ardudwy. O lugar  na província 

onde ele morou era um ponto chamado Mur y Castell, nos confins de Ardudwy. 

Lá ele habitou e reinou e tanto ele quanto seu governo eram amados por todos.

Certo dia, ele seguiu para Caer Dathyl para visitar Math, filho de Mathonwy. 

No dia em que ele iniciou a viagem para Caer Dathyl, Blodeuwedd chegou à 

sua corte. Ela escutou o som de um chifre de caça sendo soprado e   viu um 

cervo cansado passar, perseguido por cães e caçadores. Depois dos cachorros e 

dos caçadores vinha uma multidão de homens a pé.

­ Mandai um jovem ­ disse ela ­ para perguntar que turba possa ser aquela.

Assim, o jovem foi e inquiriu quem seriam eles.

­ Aquele ­ disseram eles ­ é Gronw Pebyr, o senhor de Penllyn.

E assim o jovem lhe falou.

Gronw Pebyr perseguiu o cervo, vindo a apanhá­lo perto do rio Cynfael, onde o 

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matou. Esfolando o cervo e dando pedaços aos seus cães, ele ficou lá até que a 

noite   começou  a   fechar­se.  Como o  dia   estava  desaparecendo  e   a  noite   se 

aproximava, ele chegou ao portão da Corte.

­ Na verdade ­ disse Blodeuwedd ­, o príncipe vai falar mal de nós se, a esta 

hora, deixarmos que parta para outra terra sem convidá­lo a entrar.

­ Sim, senhora ­ concordaram eles ­, será mais apropriado convidá­lo a entrar.

Mensageiros foram então mandados ao seu encontro e convidaram­no a entrar. 

Ele aceitou contente a oferta e foi para a corte. Blodeuwedd veio recebê­lo e 

saudá­lo, dando­lhe as boas­vindas.

­ Senhora ­ disse ele ­, que o Céu vos pague por vossa gentileza.

XII Blodeuwedd apaixona­se por Gronw Pebyr. A conspiração contra 

Llew.

Quando   já   haviam desmontado,   foram sentar­se.  Blodeuwedd  olhou  para  o 

hóspede e, desde esse momento, encheu­se de amor por ele. Ele a contemplou e 

o mesmo pensamento que a invadira preencheu­o também, de forma que ele 

não pôde esconder­lhe que a amava , mas declarou­se a Blodeuwedd, que ficou 

por isso tomada de felicidade. Toda a conversa deles foi sobre a afeição e o 

amor que sentiam um pelo outro e que havia surgido em espaço não maior do 

que uma noite. E essa noite passaram um na companhia do outro.

No dia seguinte, ele quis partir. Mas ela disse:

­ Suplico­te que não me deixes hoje.

E naquela noite ele permaneceu. Tentavam descobrir um meio de ficar sempre 

juntos.

­ Não há outra possibilidade ­ falou Gronw ­ além de te esforçares para saber de 

Llew Llaw Gyffes como ele pode ser levado à morte. E isso deve ser feito sob a 

aparência de solicitude para com ele.

No dia seguinte, Gronw quis partir.

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­ Aconselho­te a não me deixares hoje ­ ela disse.

­  Porque me pedes,  não partirei.  Contudo,  há  o  perigo  de que o chefe  que 

possui este castelo possa retornar à casa.

­ Amanhã ­ ela respondeu ­ sem dúvida permitirei que sigas teu caminho.

  

No dia seguinte, ele quis partir e ela não o impediu.

­ Sê cuidadosa ­ disse Gronw ­ com o que te disse. Conversa muito com ele e, 

sob o disfarce das brincadeiras do amor, procura descobrir como é possível dar­

lhe a morte.

Llew   Llaw   Gyffes   voltou   para   casa   naquela   noite.   Eles   passaram   o   dia 

conversando, ouvindo os menestréis e festejando. À noite, foram descansar e 

ele falou com Blodeuwedd uma vez e falou­lhe ainda uma segunda vez, mas, 

por mais que fizesse, não obteve dela palavra alguma.

­ Que te incomoda? Estás bem?

­ Eu estava pensando ­ ela disse ­ sobre aquilo que jamais pensaste em relação a 

mim. Eu ficaria cheia de tristeza por tua morte, caso partisses mais cedo do que 

eu.

­ O Céu te recompense por tua preocupação por mim, mas, até que o próprio 

Céu determine, eu não serei morto com facilidade.

­ Pelo amor do Céu e pelo meu próprio, mostra­me como podes ser morto. 

Minha memória é melhor do que a tua para recordá­lo.

­  Digo­te   com prazer.  Não  posso   ser  morto   facilmente,   a   não   ser   por   um 

ferimento. A lança pela qual eu for atingido deve ser preparada no decorrer de 

um ano. Nada deve ser feito em relação a isso exceto durante o sacrifício dos 

domingos.

­ Isso é verdadeiro?

­ Está conforme a verdade. E eu não posso ser morto dentro de uma casa, nem 

fora dela. Não posso ser morto estando a cavalo, nem a pé.

­ Realmente, de que maneira podes ser morto?

­ Já te digo. Preparando­se um banho para mim ao lado de um rio, colocando­se 

um teto sobre o caldeirão, cobrindo­o bem e firmemente. Deve­se trazer um 

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bode e deixá­lo ao lado do caldeirão. Então, se eu puser um pé no dorso do 

bode  e  o  outro  na  borda  do  caldeirão,  qualquer  um que  me atingir  poderá 

provocar minha morte.

­ Bem ­ disse ela ­, agradeço ao Céu que seja fácil evitar tudo isso.

Depois   de  ouvir   essas  palavras,   ela   não   esperou  um momento   sequer   para 

mandar uma mensagem a Gronw. Este trabalhou para fazer a lança e, em doze 

meses  a  contar  daquele  dia,  ela  estava  pronta.  E,  no  mesmo dia  em que a 

terminou, Gronw ordenou que Blodeuwedd fosse informada.

­ Senhor ­ ela disse ­, estive pensando sobre como é possível ser verdade o que 

anteriormente  me disseste.  Poderias  mostrar­me de que modo seria  possível 

ficares ao mesmo tempo sobre a borda do caldeirão e sobre um bode, se eu 

preparar o banho para ti?

­ Eu te mostrarei ­ disse ele.

Ela então mandou mensagem a Gronw e sugeriu que ele ficasse emboscado na 

colina agora conhecida como Bryn Cyfergir, na margem do rio Cynfael. Ela 

também ordenou que fossem reunidas todas as cabras da província e levadas ao 

outro lado do rio, em direção oposta a Bryn Cyfergir.

No dia seguinte, ela falou assim:

­ Senhor, eu ordenei que o telhado e o banho fossem preparados e eis que estão 

prontos.

­ Bem, eu irei com prazer examiná­los.

Um dia depois, Llew veio e examinou o banho.

­ Entrarás no banho, senhor? ­ ela perguntou.

­ É com prazer que o farei ­ ele disse.

Ele foi para o banho e começou a lavar­se.

­ Senhor, vê os animais de que falaste como sendo chamados bodes.

­ Bem, faze com que um deles seja trazido e colocado aqui.

O bode foi trazido. Llew ergueu­se do banho, pôs suas calças e colocou um pé 

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na borda do banho e o outro no dorso do bode.

XIII Llew desaparece.

Gronw imediatamente surgiu da colina que é agora chamada Bryn Cyfergir. Ele 

ficou sobre um pé só, arremessou o dardo envenenado e atingiu­o no lado. A 

haste ficou para fora, mas a ponta do dardo permaneceu dentro do corpo de 

Llew. Este voou sob a forma de uma águia, dando um grito terrível. Não foi 

mais visto deste então.

Assim que ele partiu, Gronw e Blodeuwedd foram juntos ao palácio, naquela 

noite. No dia seguinte, Gronw levantou­se e apoderou­se de Ardudwy. Depois 

de tomar a terra, ela a governou, de forma que Ardudwy e Penllyn estavam 

ambas sob seu domínio.

Essas  notícias   alcançaram Math,   filho  de  Mathonwy.  Um grande  peso   e   a 

tristeza caíram sobre Math e muito mais sobre Gwydion do que sobre ele.

­  Senhor   ­   disse  Gwydion   ­,   não   terei  descanso   até   obter  notícias   de  meu 

sobrinho.

­ Realmente ­ Math respondeu ­, que o Céu seja tua força.

Gwydion partiu e começou a andar pelo país. Ele atravessou Gwynedd e Powys 

até os confins. Quando já o havia feito, foi ao Arfon e avizinhou­se da casa de 

um vassalo, em Maenawr Penardd. Ele chegou à casa e ficou lá naquela noite. 

O dono da casa e seus domésticos voltaram e o último a vir foi o porqueiro, a 

quem o dono da casa disse:

­ Bem, jovem, tua porca veio esta noite?

­ Veio ­ respondeu o rapaz ­ e neste momento já está com os porcos.

­ Aonde vai essa porca? ­ quis saber Gwydion.

­ Todos os dias, quando o chiqueiro é aberto, ninguém consegue ficar de olho 

nela, nem sabe se ela corre por aí ou afunda terra adentro.

­ Peço­te que me concedas não abrires o chiqueiro até que eu esteja lá contigo.

­ Com toda boa vontade eu o farei.

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XIV A águia no carvalho.

Eles foram descansar naquela noite. Tão logo o guardador de porcos viu a luz 

do   dia,   foi   despertar   Gwydion.   Este   se   levantou   e   vestiu­se,   indo   com   o 

guardador   até   o   chiqueiro,   onde   permaneceu.   O   porqueiro   então   abriu   o 

chiqueiro. No mesmo momento, a porca saltou para fora e partiu com grande 

velocidade. Gwydion seguiu­a e ela foi em direção contrária ao curso do rio, 

dirigindo­se para um riacho que é agora chamado Nant y Llew. Ali ela parou e 

começou  a   alimentar­se.  Gwydion  chegou  embaixo  da  árvore   e  olhou  para 

descobrir o que a porca poderia estar comendo. Ele viu que ela estava comendo 

carne podre e vermes. Olhando então para o topo da árvore, ele viu uma águia 

e, quando a águia se balançava, a carne estragada e os vermes caíam dela e a 

porca  devorava­os.  Pareceu   a  Gwydion  que  a  águia  poderia   ser  Llew.  Ele 

cantou uma estrofe:

Carvalho que cresces entre duas margens do rio:escurecidos estão o céu e a colina!Não direi por sua feridasque este é Llew?

Depois disso, a águia desceu até alcançar o centro da árvore. E Gwydion cantou 

outra estrofe:

Carvalho que cresces no chão do planalto,não estás ainda molhado? Não ficaste encharcadopor nove vintenas de tempestades?Não acolhes em teus ramos Llew Llaw Gyffes?

A águia desceu então ao mais baixo ramo da árvore. Gwydion cantou logo esta 

estrofe:

Carvalho que cresces abaixo da colina íngreme:imponente e majestoso é teu aspecto!Não o direi eu?Que Llew virá para meu colo?

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A águia  desceu  para  os   joelhos  de  Gwydion  e   este   a   tocou  com sua  vara 

mágica. Ele assim retornou à sua própria forma. Jamais viu alguém uma visão 

tão digna de pena, pois Llew era apenas pele e ossos.

XV Cura e vingança de Llew Llaw Gyffes.

Ele foi então para Caer Dathyl e foram­lhe trazidos os bons médicos que havia 

em Gwynedd. Antes do fim do ano ele já estava quase curado.

­ Senhor ­ disse ele a Math, o filho de Mathonwy ­, já é chegado o tempo de 

que eu receba uma compensação daquele que me fez passar por todas essas 

aflições.

­ É verdade ­ respondeu o rei. ­ Ele jamais será capaz de manter­se na posse do 

que é teu por direito.

­ Bem, quanto antes eu recobrar meus direitos, mais satisfeito ficarei.

Eles então convocaram e reuniram todo o Gwynedd e partiram para Ardudwy. 

Gwydion foi à frente e seguiu para Mur y Castell37. Quando Blodeuwedd ouviu 

que ele estava chegando, tomou suas donzelas e fugiu para a montanha. Elas 

passaram pelo   rio  Cynfael   e   foram em direção   a   um abrigo  que  havia   na 

montanha. Seu medo era tanto que corriam sempre com os rostos voltados para 

trás. Desavisadas, não viram o lago e caíram dentro dele. 

Todas  elas se afogaram, exceto a própria  Blodeuwedd. Gwydion prendeu­a. 

Disse­lhe então:

­ Não te matarei. O que farei contigo é pior do que isso. Pois irei transformar­te 

em um pássaro e, pela vergonha que lançaste sobre Llew Llaw Gyffes, de agora 

em diante jamais tornarás a mostrar tua face à luz do sol e isso por medo dos 

outros pássaros. Será da natureza deles atacar­te e perseguir­te onde quer que te 

encontrem. Não perderás teu nome, mas serás sempre chamada Blodeuwedd.

Eis   que   Blodeuwedd,   na   linguagem   desta   época,   é   uma   coruja   e   por   esse 

motivo a coruja é odiosa a todos os pássaros. E ainda agora a coruja é chamada 

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Blodeuwedd.

Gronw Pebyr retirou­se então para Penllyn, de onde enviou uma embaixada. Os 

mensageiros que ele mandou perguntaram a Llew Llaw Gyffes se este aceitaria 

terras, um domínio, ouro ou prata pelo dano que havia recebido.

­ Não aceitarei coisa alguma, pela minha fé no Céu! ­ ele exclamou. ­ Vede que 

isto é a única coisa que aceitarei dele: que ele vá ao ponto em que eu estava 

quando ele me feriu com o dardo e eu ficarei no lugar onde ele estava e com 

um dardo irei mirar nele. E isso é o mínimo que aceitarei.

E essas palavras foram ditas a Gronw Pebyr.

­ Realmente ­ ele disse ­, isso é necessário para mim? Meus fiéis guerreiros, 

todos os de minha casa e meus irmãos adotivos, não há nenhum dentre vós que 

suporte o golpe em meu lugar?

­ Verdadeiramente, não há ­ responderam eles.

Em razão da recusa de sofrerem um golpe por seu senhor, eles são chamados 

até este dia "a terceira tribo desleal"38.

­ Bem ­ falou Gronw ­, irei ao seu encontro.

Os dois foram então para as margens do rio Cynfael. Gronw parou no lugar em 

que Llew Llaw Gyffes estava quando ele o golpeou, enquanto Llew ficou no 

lugar onde Gronw estava. E Gronw Pebyr disse­lhe:

­ Uma vez que foi pelos ardis de uma mulher que vos fiz o que fiz, conjuro­vos 

em nome do Céu a deixar­me colocar entre mim e o golpe a pedra que vedes lá 

adiante, no banco do rio.

­ Na verdade ­ disse Llew ­, não o recusarei a vós.

­ Possa o Céu recompensar­vos.

Llew   então   arremessou   o   dardo   contra   ele.   O   dardo   perfurou   a   pedra   e 

atravessou Gronw igualmente, indo sair em suas costas. Assim Gronw Pebyr 

foi morto. A pedra existe ainda na margem do rio Cynfael, em Ardudwy, tendo 

em si o buraco. Portanto, é ainda hoje chamada Llech Gronw.

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Uma   segunda   vez   Llew   Llaw   Gyffes   tomou   posse   da   terra   e   governou­a 

prosperamente.  E,   como  a  história   conta,   ele   foi   depois  disso  o   senhor   de 

Gwynedd.

E assim termina esta parte do Mabinogion.

 NOTAS AO QUARTO RAMO 

26 Math, filho de Mathonwy

A fama da magia de Math ab Mathonwy, em que ele parece ter sobrepujado 

todos os demais encantadores da ficção galesa, (exceto, talvez,  Merlin e seu 

próprio aluno, Gwydion, filho de Dôn), está preservada em duas tríades (31 e 

32), onde é reputado um homem de ilusão e fantasia e onde um dos principais 

encantamentos da ilha é mostrado como obra sua.

As artes místicas de Math parecem herdadas de seu pai (ou mãe, uma vez que 

Mathonwy é   um personagem  indistinto),   cuja  vara  mágica  é   celebrada  por 

Taliesin no  Kerdd Doronwy. Ali se afirma que, quando essa vara crescer na 

floresta, frutos mais luxuriantes serão vistos nas águas espectrais (Myv. Arch., 

I, p. 63).

Taliesin   fala   freqüentemente  dos   poderes   do   próprio   Math  –   veja   o  Kadd 

Goddeu (nota nº. 31), Marwnad Aeddon o Fôn, etc. (Myv. Arch., I, pp. 30,70). 

27 Goewin, filha de Pebin

A   singular   ocupação   atribuída   a   essa   donzela   não   é   de   forma   alguma 

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inconsistente com os costumes galeses. Pelas leis de Hywel Dda, sabemos que 

havia  um oficial  na corte  do rei  com o  título  “Segurador  dos  Pés”  (prefiro 

traduzir  como “Escabelo”),  cujo  dever  era   justamente  aquele  que  seu   título 

sugere. São dadas as seguintes especificações em relação a ele:

O Escabelo senta­se sob os pés do Rei:Ele come do mesmo prato que o Rei.Ele acenderá as velas ante o Rei em sua refeição.Ele terá um prato de carne e bebida, ainda que não se junte à festa.Sua  terra será   livre e  ele  receberá  um cavalo do Rei e   terá  uma parte  do presente de dinheiro dos visitantes.   

28 Caer Dathyl

Caer Dathyl, em Arfon (o atual Carnarvonshire), onde se diz que Math teve sua 

corte   e   de   onde   Gwydion   partiu   em   sua   astuciosa   jornada,   já   foi   alvo  de 

comentários anteriores. Os restos dessa fortaleza chamam­se agora Pen y Caer. 

Situam­se no topo de uma colina que dista cerca de uma milha de Llanbedr, em 

Carnarvonshire, a meio caminho entre Llanrwst e Conwy. Parece que foi bem 

defendida pelos profundos fossos que ainda a rodeiam. 

Fundações   de   edifícios   circulares   podem   ainda   ser   traçadas   em   suas 

proximidades. Desse lugar, Gwydion partiu rumo ao sul e encontrou Pryderi 

num lugar chamado Rhuddlan Teifi (provavelmente Glen Teify, cerca de uma 

milha e meia de Cardigan Bridge), onde nos dizem que ficava seu palácio. 

29 Mochdref

Retornando   com   seu   prêmio,   Gwydion   passou   por  Mochdref  (“Cidade   do 

Porco”),   em   Cardiganshire,   foi   para   Elenid,   provável   erro   do   copista   para 

Melenid, uma montanha perto de Llandewi Ystrad Enni, em Radnorshire, que 

dá   nome   ao  Cantref  inteiro.   De   lá,   passando   por   Mochdref,   entre   Keri   e 

Arwystli, nós o encontraremos entrando no distrito de Mochnant  (“Riacho do 

Porco”),  que  está   parte   em Montgomery  e  parte   em Denbigshire   e  onde  a 

cidade de  Castell  y Moch  (“Castelo do Porco”) pareceria apontar uma outra 

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alusão aos  incomuns acompanhantes  de sua rápida retirada.  Gwydion parou 

numa terceira Mochdref, em Denbigshire, agora um povoado entre Conwy e 

Abergele,   no   antigo  Cantref  de  Rhos,   e   reuniu­se   a   seu  príncipe   em Caer 

Dathyl,   depois   de   deixar   seu   butim   em   segurança   nas   fortalezas   de 

Arllechwedd,   um nome  antigamente   aplicado   aos  dois   distritos   (superior   e 

inferior) de Anton, agora chamados Uchaf e Isaf. 

30 Locais de luta

Os lugares nos quais Math, filho de Mathonwy, fez sua resistência e esperou a 

aproximação   do   indignado   Pryderi   podem   ser   reconhecidos   como   Maenor 

Penardd,   perto   de   Conway,   e   Maenor   Alun,   agora   Coed   Helen,   perto   de 

Carnarvon. Nant Call, para onde os homens do sul foram compelidos a retirar­

se, é um riacho que cruza Dol Pen Maen e a estrada de Carnarvon, cerca de 

nove milhas distante dessa última cidade. O curso dos dois exércitos pode ser 

facilmente traçado: de Nant Call para a bem conhecida localidade de Dol Pen 

Maen (no antigo  Cantref  de Dunodig,  agora o distrito de Eifionydd);  de lá, 

através de Traeth Mawr, para Melenryd e, por fim, ao longo do pitoresco vale 

do Ffestiniog, para Maen Tyriawc, onde a expedição terminou com a vitória 

indigna  obtida  por  Math com a ajuda  de encantamentos  e  com a morte  do 

galante filho de Pwyll. Contam­nos que ele foi sepultado em Maen Tyriawc; o 

Beddau Milwyr, contudo, localiza a tumba de Pryderi em Abergenoli, “onde as 

ondas quebram contra a costa”. 

31 Gwydion, filho de Dôn

Gwydion foi um dos  Três Pastores Tribais  da ilha. Ele guardava o gado de 

Gwynedd, Uch e Conwy. Era também um grande astrônomo e, nessa qualidade, 

foi comparado a Gwyn ab Nudd e Idris (Myv. Arch., I, p. 63, tríade 89):

Três   renomados   astrônomos   da   Ilha   da   Grã­Bretanha:   Idris,   o   gigante; Gwydion, filho de Dôn, e Gwyn, filho de Nudd. Tal era seu conhecimento das estrelas, suas naturezas e qualidades, que eles poderiam prognosticar tudo que se desejasse saber até o dia do Julgamento.  

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 A Via Láctea foi, por sua vez, chamada Caer Gwydion, “Castelo de Gwydion”. 

Honras semelhantes, sem dúvida, parecem ter sido atribuídas a toda a família 

de Dôn. Ela mesma deu seu nome à constelação de Cassiopéia, em galês Llys  

Don, “Corte de Dôn”; Caer Arianrhod, “Castelo de Arianrhod”, a constelação 

Corona Borealis, é assim chamada para lembrar Arianrhod, uma das heroínas 

do presente conto.  

Gwydion era um mago e, como já se observou, aprendeu suas artes mágicas do 

próprio Math, o que é repetidamente aludido nos poemas galeses, em especial 

nos  de  Taliesin.  As  notáveis   características  de   seus  poderes  de   encantação 

foram   assim   relatadas   numa   composição   atribuída   àquele   bardo,   intitulada 

Kadeir Kerridwen (“O Assento de Cerridwen”, Myv. Arch., II, p. 325):  

O Assento de Cerridwen (Livro de Taliesin, 16)

Soberano do poder do ar, também tu,A satisfação de minhas transgressões.Na meia­noite e nas manhãsAli brilhavam minhas luzes.Delicada a vida de Minawg ap Lleu,A quem vi há apenas um momento. O fim, na rampa de Lleu.Ardente era seu esforço nos combates,Afagddu, meu filho, também.Feliz o Senhor que o fezNa competição das canções.Sua sabedoria era melhor que a minha, O mais habilidoso homem de que jamais se soube.Gwydion, o filho de Don, de aspecto severo,Com flores uma mulher formou,E trouxe os porcos do sul,Embora não tivesse chiqueiros para eles;O viajante corajoso com varinhas achatadasFormou uma cavalhada,De primaverisPlantas e selas perfeitas.Quando forem julgados os assentos,Superando­os estará o meu,Meu assento, meu caldeirão e minhas leisE minha eloqüência em desfile encontram­se para o assento.Sou chamada habilidosa na corte de Don.Eu e Euronwy e Euron.Vi um feroz conflito em Nant FrangeonNum domingo, no momento da aurora,Entre a ave da fúria e Gwydion.Na quarta­feira, certamente eles foram a MonaPara obter rodopios e feiticeiros.

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Arianrhod, de louvável aspecto, aurora de serenidade,A maior desgraça obviamente no lado dos britanos,Com pressa envia sobre sua corte a correnteza de um arco­íris, Uma torrente que espanta a violência da terra.O veneno de sua posição anterior à volta do mundo deixará.Não falam falsamente, os livros de Beda.O assento do Preservador está aqui.E, até o julgamento, continuará na Europa.Possa a Trindade conceder­nosMisericórdia no dia do julgamento,Uma justa esmola para bons homens.   

Em outro poema (Kadd Goddeu, “A Batalha das Árvores”, Taliesin fala sobre 

ele:   

A Batalha das Árvores (Livro de Taliesin, 8)

Estas são as estrofes que foram cantadas na "Batalha das Árvores", ou, como outros a chamam, a “Batalha de Achren”, que foi por causa de uma corça branca e de um cachorro; e eles vieram do Inferno e Amaethon ap Don os trouxe. E, portanto, Amaethon ap Don e Arawn, Rei de Annwn, lutaram. E havia um homem nessa batalha, a menos que seu nome fosse conhecido, ele não poderia ser vencido; e havia uma mulher chamada Achren no outro lado e, a menos que seu nome fosse descoberto, sua hoste não poderia ser vencida. E Gwydion adivinhou o nome do homem e cantou as duas estrofes seguintes:

De cascos firmes é meu corcel impelido pelas esporas;Os altos galhos do amieiro estão em teu escudo;Bran és chamado, dos ramos brilhantes.

E, assim;

De cascos firmes é meu corcel no dia da batalha:os altos ramos do amieiro estão em tua mão:Bran, pelo ramo que carregas,Amaethon, o bom, prevaleceu.

Numa multiplicidade de formas estiveAntes de assumir aspecto consistente.Uma espada fui, estreita, matizada:Acreditarei quando for manifesto.Uma lágrima fui no ar,Fui a mais sombria das estrelas.Uma palavra fui entre letras,Fui um livro na origem.Dos faróis fui a luzUm ano e meio.Fui uma ponte que se prolongaSobre três vintenas de fozes.Fui um percurso, uma águia fui.Um barco fui nos mares.Fui um complacente no banquete.Uma gota fui num aguaceiro.Fui uma espada no aperto da mão,

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Um escudo fui em batalha.Fui uma corda numa harpa,Disfarçado por nove anosNa água, na espuma.Fui uma esponja no fogo,Fui madeira na moita.Não sou aquele que não cantaráUm combate, embora pequeno.O conflito na batalha das árvores dos ramos.Contra o Guledig de PrydeinPassaram ali cavalos principais,Esquadras cheias de riquezas.Ali passou um animal com grandes mandíbulas,Nele havia uma centena de cabeças.E uma batalha foi lutadaSob a raiz de sua línguaE há uma outra batalhaNo orifício de seu olho.Um negro sapo desajeitadoCom uma centena de garras.Uma cobra salpicada com crista.Por causa do pecado, uma centena de almasAtormentada será em sua carne.Estive em Caer Vevenir,De lá se apressaram pastos e árvores.Menestréis cantavam,Bandos de guerreiros perambulavamNa exaltação dos britanosQue Gwydion realizara.Havia um apelo ao Criador,A Cristo por interesses,Até o momento em que o EternoLibertasse aqueles a quem fizera.O Senhor respondeu­lhesPela linguagem e elementos:Tomai a forma das árvores principais,Arranjai­vos em ordem de batalhaE refreai o públicoInexperiente na batalha mão a mão.Quando as árvores foram encantadas,Na expectativa de não serem árvores,As árvores sussurraram suas vozesDe cordas de harmonia,As disputas cessaram.Interrompamos dias tristes,Uma mulher refreou a grande desordem.Ela chegou totalmente encantadora.O cabeça da fileira, o cabeça era uma mulher.A vantagem de uma vaca insoneNão nos faria ceder o caminho.O sangue dos homens até nossas coxas,Os maiores dos esforços mentais importunosRealizados no mundo.E acabou­sePor refletir sobre o dilúvioE sobre o Cristo crucificadoE sobre o dia do julgamento iminente.

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Os Amieiros, cabeça da fileira,Formaram a vanguarda.Os Salgueiros e SorveirasChegaram tarde para o exército.Ameixeiras, que são raras,Indesejadas pelos homens,As esmeradas Nespereiras,Verdadeiros objetos de disputas. Os espinhentos arbustos de RosasContra uma multidão de gigantes.A Framboesa refreou, O que é melhor falhouPara a segurança da vida.A Alfena e a MadressilvaE a Hera na sua frente.Como o Tojo, para o combateA Cerejeira foi provocada.A Bétula, apesar de sua mente elevada, Atrasou­se antes que ele fosse enfileirado.Não por causa de sua covardia,Mas por causa de sua grandeza.O Liburno tinha em menteQue tua natureza selvagem era estranha.Pinheiros no pórtico,A sede da controvérsia,Por mim grandemente exaltadosNa presença dos reis,Os Olmos, com seu cortejo,Não se afastavam um pé.Ele lutaria com o centroE com os flancos e a retaguarda.Aveleiras, julgou­seQue amplo era teu empenho mental.A Alfena, feliz a sua parte,O touro da batalha, o senhor do mundo,Morawg e Morydd Tornaram­se prósperos em Pinheiros.Azevinho, ele estava matizado de verde,Ele era o herói.O Espinheiro, cercado de ferrões,Com a dor em sua mão.O Álamo foi coberto,Ele foi coberto na batalha.A Samambaia, que foi saqueada,A Giesta, na vanguarda do exército, nas trincheiras foi ela ferida.O Tojo não se saiu bem, Porém o deixou estendido.A Urze foi vitoriosa, afastando em todos os lados.O povo comum ficou encantadoDurante o tempo originando­se dos homens.O Carvalho, movendo­se rapidamente,Diante dele estremecem céu e terra.Um valente porteiro contra um inimigoSeu nome é considerado.As Campânulas Azuis combinaram­seE provocaram uma consternação.Ao rejeitar, foram rejeitadasOutras, que foram perfuradas.

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As Pereiras, as melhores invasorasEm tempo de conflito na planície.Uma lenha muito colérica,O Castanheiro é acanhado,O opositor da felicidade.O jato tornou­se negro,A montanha tornou­se curvada,As florestas tornaram­se um fornoExistente outrora nos grandes maresDesde que foi ouvido o grito:Os cimos da Bétula cobriram­nos com folhasE transformaram­nos e mudaram nosso estado enfraquecido.Os ramos do carvalho apanharam­nos numa armadilhaDo Gwarchan de Maelderw.Rindo no lado do rochedo,O senhor não é de uma natureza ardente.Não de mãe, nem de pai,Quando eu fui feitoCriou­me o meu CriadorDe poderes nove vezes formados,Do fruto dos frutos,Do fruto do Deus primordial,De prímulas e florações da colina,Das flores de árvores e arbustos.Da terra, de uma trajetória terrena,Quando eu fui formadoDa giesta e da urtiga,Da água da nona onda.Fui encantado por MathAntes de me tornar imortal,Fui encantado por Gwydion,O grande purificador dos britanos,De Eurwys, de Euron,De Euron, de Modron,De cinco vezes cinqüenta homens de ciência,Mestres, filhos de Math.    Quando a remoção ocorreu,Eu fui encantado pelo Guledig.Quando ele estava meio queimado,Fui encantado pelo sábioDos sábios, no mundo primitivo.Quando tive um ser,Quando a multidão do mundo estava em dignidade,O bardo ficou acostumado aos benefícios.À canção de louvor estou inclinado, que a língua recita.Eu toquei no poente,Dormi em púrpura.Verdadeiramente estava no encantamentoCom Dylan, o filho da onda.Na circunferência, no meio,Entre os joelhos de reis,Dispersando lanças não afiadasDo firmamento quando vieramÀ grande profundeza, dilúvios.Na batalha haveráQuatro vintenas de centenasQue dividirão de acordo com sua vontade.

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Eles não são mais velhos nem mais jovensDo que eu mesmo em suas divisões.Um milagre, a centúria nasceu, cada um de novecentos.Ele estava comigo também,Com minha espada manchada de sangue.Foi­me atribuída honraPelo Senhor e a proteção estava onde ele estava.Se eu for aonde o javali foi morto,Ele comporá, ele se decomporá,Ele formará linguagens.O radiante de mão forte, seu nome,Com um raio ele governa seus números.Eles se espalhariam numa chamaQuando eu tivesse de ascender.Fui uma cobra malhada na colina,Fui uma víbora no lago.Fui um bico encurvado cortante,Fui uma lança furiosa.Com minha casula e tigela,Profetizarei não erroneamenteQuatro vintenas de fumigaçõesSobre cada um o que trarão.Cinco batalhões de braçosSerão apanhados por minha faca.Seis corcéis de matiz amarelado,Uma centena de vezes melhor éMeu corcel amarelo claro,Rápido como a gaivota marinha,A qual não passaráEntre o mar e a margem.Não sou eu proeminente no campo do sangue?Sobre ele está uma centena de capitães.Carmim a pedra do meu cinto,De ouro é a borda do meu escudo.Não houve ninguém nascido na brechaQue tenha estado a visitar­me,Exceto GoronwyDos vales de Edrywy.Compridos e brancos os meus dedos,Faz muito tempo que fui um pastor.Viajei na terraAntes que eu fosse versado no conhecimento.Viajei, fiz um circuito,Dormi numa centena de ilhas,Numa centena de fortalezas habitei.Vós, inteligentes Druidas,Declarai a ArthurO que há mais antigoDo que eu para eles cantarem.E um veioDa reflexão sobre o dilúvioE do Cristo crucificadoE do dia do julgamento futuro.Uma gema dourada numa jóia dourada.Sou esplêndidoE ficarei livreDa opressão dos ferreiros.

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Gwydion surge no papel duplo de mago e poeta nas linhas compostas a seu 

respeito no Kadd Goddeu, em que um de seus irmãos, Amaethon, luta contra 

Arawn por causa de um corça, um cachorro e um pavoncino que ele levara do 

Reino do Além. O lado que adivinhasse o nome de uma certa pessoa entre seus 

oponentes  nessa   luta   seria  o  vencedor   e  Gwydion,  por  meio  de  suas  artes, 

satisfez essa condição. Em conseqüência, Amaethon venceu.

32 Arianrhod, filha de Dôn

“Roda de Prata” (?), filha de Dôn, era uma das Três Belas Damas da ilha (tríade 

107):

Três Belas Donzelas da Ilha da Grã­Bretanha: Gwen filha de Cywryd, filho de Crydon; Creirwy, filha de Ceridwen e Arianrod, filha de Dôn.  

Já  se observou que o nome galês da constelação  Corona Borealis  era  Caer 

Arianrhod (veja nota n°. 31). Na Grécia, essa mesma constelação é associada a 

Ariadne, filha do rei de Creta, Minos, e amante de Teseu e, depois, do deus 

Dioniso. 

Além de Dylan e  Llew,   sabemos que  Gwenwynwyn  (o  principal   lutador  de 

Arthur)   e  Gwanar  foram   filhos   de   Arianrhod,   nascidos  de   sua   união   com 

Lliaws ab Nwyfre (tríade 14).   

33 O Castelo de Arianrhod. A Lenda da Cidade de Ys.

Na cidade de Clynnog, em Carnarvonshire, havia a tradição de que uma antiga 

cidade próxima dali e chamada Caer Arianrhod fora engolida pelo mar e suas 

ruínas, dizia­se, seriam ainda visíveis nas marés vazantes e com bom tempo.

Caer Sidi, a torre de iniciação do Outro Mundo, onde os poetas aprendem a 

sabedoria   inspirada   e   os  mortos   vão  entre   as   encarnações,   seria   também o 

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domínio de Arianrhod. 

Existe   outra   importante   lenda,   de   origem   bretã,   envolvendo   uma   cidade 

submersa nos mitos célticos:

A Lenda da Cidade de Ys

Aqui está a história do Rei Gradlon e da Cidade de Ys. O Rei Gradlon vivia na Cornualha. Ele possuía uma frota de muitos navios que gostava de opor a seus inimigos, muitas vezes em países distantes onde o clima era frio. Era um excelente  marinheiro  e estrategista  e   freqüentemente  vencia   suas  batalhas, saqueando os navios oponentes e enchendo suas arcas com ouro e troféus. 

Um dia, seus marinheiros, cansados das lutas nesses países frios, rebelaram­se,   recusando­se  a atacar  o  castelo  que  lhes   fora  prometido.  Muitos  deles morreram durante o inverno. Eles decidiram voltar a seus barcos e retornar a sua terra, a Bretanha, para encontrar as esposas e filhos que lá viviam em paz. O Rei Gradlon deixou­os partir e viu­se só na noite fria. 

Ele fora dominado por seus próprios homens e, depois da intensa excitação das lutas e vitórias, conheceu uma tristeza profunda. O rei subitamente sentiu uma presença ao seu redor. Ele levantou a cabeça e viu, alva sob o luar e vestindo uma couraça brilhante da luz das estrelas noturnas, uma mulher de longo cabelo vermelho.  Era Malgven, a  Rainha do Norte,  soberana boreal reinando sem oposição sobre os países frios. 

Ela disse ao Rei Gradlon: “Eu te conheci, és corajoso e hábil no combate. Meu marido é velho, sua espada está  enferrujada.  Tu e eu iremos matá­lo. Então tu me levarás ao teu país da Cornualha.” 

Eles mataram o velho Rei do Norte, encheram uma arca com ouro e, como Gradlon não tinha mais navio, montaram em Morvarc’h, o cavalo mágico de Malgven. Morvarc’h significa “cavalo do mar”, ele era negro como a noite e soprava fogo por suas narinas. O cavalo galopava na crista das ondas e eles rapidamente se reuniram aos barcos do rei que voltavam para a Cornualha. Uma   tempestade   violenta   e   um   temporal   de   raios   começaram   então, espalhando os navios pelo oceano.

O nascimento de Dahut

Gradlon e Malgven ficaram um ano inteiro no mar. Certo dia, num navio, Malgven   deu   à   luz   uma   criança,   uma   menina   chamada   Dahut. Desafortunadamente, a rainha ficou doente e morreu. O Rei Gradlon e sua filha, Dahut, voltaram para a Cornualha. Mas o rei estava tão triste que ele nunca saía de seu castelo. 

Dahut cresceu, ela era muito bela, como Malgven, sua mãe. O Rei Gradlon gostava   de   brincar   com   os   cachos   de   seu   longo   cabelo   dourado.   Dahut gostava do mar. Um dia, ela pediu a seu pai que construísse uma cidade, uma cidade próxima ao mar.

A cidade construída ante o mar

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O Rei Gradlon amava sua filha e concordou. Muitos milhares de operários começaram e construir a cidade que parecia emergir do mar. Para prevenir contra as altas ondas e a tempestade, foi construído um altíssimo dique que circundava  a  cidade  com uma única  e   fechada  porta  de  bronze  que  dava acesso a ela. O Rei Gradlon era o único que tinha a chave. Ela foi chamada a cidade de Ys.

O noivado de Dahut com o Oceano

Os pescadores viam na praia, a cada entardecer, uma mulher que cantava em alta  voz,  penteando seu comprido cabelo  loiro.  Era a  princesa  Dahut.  Ela dizia:

“Oceano, belo Oceano azul, rola­me na areia, sou tua prometida,Oceano, belo Oceano azul.Nasci no mar, entre as ondas e a espuma, quando era uma criança,eu brincava contigo.Oceano, belo Oceano azul, rola­me na areia, sou tua prometida,Oceano, belo Oceano azul.Oceano, que decides quais navios e homens voltarão, dá­me os naufrágiosdos navios suntuosos e suas riquezas, ouro e tesouros.Traze à minha cidade lindos marinheiros que eu possa admirar.Não sejas ciumento, eu os devolverei a ti um após o outro.Oceano, belo Oceano azul, rola­me na areia, sou tua prometida,Oceano, belo Oceano azul.”

A cidade  de Ys  tornou­se um lugar  onde as  pessoas  podiam divertir­se e encheu­se de marinheiros. Cada dia via novas festas, jogos e danças.

A máscara mágica

A   cada   dia,   a   princesa   Dahut   tinha   um   noivo   novo.   Ao   entardecer,   ela colocava uma máscara preta sobre o rosto dele, ele permanecia com ela até de manhã.

Assim que o canto da cotovia era ouvido, a máscara apertava­se na garganta do rapaz e sufocava o noivo da noite anterior. Um cavaleiro levava o corpo em seu cavalo para lançá­lo no Oceano, além da Baía dos Mortos. Assim, todos os noivos de Dahut morriam quando a manhã chegava e eram jogados no mar.

Certo dia de primavera,  um estranho cavaleiro chegou à cidade de Ys. Ele estava  vestido   em   vermelho,   suas   mãos   eram   longas   e   finas,   suas  unhas pontudas e recurvadas. Dahut sorriu­lhe, o cavaleiro sequer olhou para ela. Ao entardecer, ele aceitou aproximar­se dela. Por um longo tempo ele passou suas   mãos   compridas   com   unhas   pontudas   no   belo   cabelo   dourado   da princesa.

Subitamente, veio do mar um grande barulho e uma terrível rajada de vento golpeou as muralhas da cidade de Ys. “A tempestade pode rugir, as portas da cidade são fortes e é  o Rei Gradlon, meu pai, quem possui a única chave, amarrada ao seu pescoço”, disse Dahut. 

“Teu pai, o rei, dormiu, podes agora pegar a chave facilmente”, respondeu o cavaleiro.

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A submersão da cidade

A Princesa Dahut entrou no quarto de seu pai, lentamente se aproximou dele e   pegou   a   chave,   presa   a   uma   corrente   em   volta   do   seu   pescoço. Imediatamente,   uma  enorme  onda,  mais   alta  do  que  uma  montanha,  caiu sobre Dahut. Seu pai acordou e ela lhe disse: “Pai, depressa, temos de tomar o cavalo Morvarc’h,  o mar derrubou os diques”. O rei  colocou sua filha em cima do cavalo, o mar estava furioso. O cavalo empinou­se sobre a água que estava subindo com grandes bolhas. Dahut agarrou­se a seu pai e disse­lhe: “Salva­me, meu pai!”

Então   houve   um   grande   relâmpago   na   tempestade   e   uma   voz   falou, alcançando de rochedo a rochedo: “Gradlon, afoga a princesa”.

São Guenole, o missionário de Deus

Uma forma pálida como um morto apareceu, envolvida numa grande veste castanha.  Era  São Guenole,  que  disse  à  princesa:  “Vergonha  e   infortúnio estejam contigo, tentaste roubar a chave da cidade de Ys!” Dahut respondeu: “Salva­me,   leva­me  ao   fim do  mundo!"  Mas  o   cavalo  Morvarc’h  não   se movia mais e as águas furiosas os envolviam. São Guenole repetiu sua ordem a Gradlon: “Afoga a princesa!”, ondas enormes estavam nos pés deles. Dahut escorregou para o chão e o Rei Gradlon,  furioso, empurrou sua filha para dentro do mar.  As ondas se fecharam sobre  a princesa.  O mar  inundou a cidade de Ys, cujos habitantes morreram todos afogados.

O cavalo do rei moveu­se de novo, saltando na praia e então atravessando prados e colinas,  galopando a noite inteira.  Gradlon chegou à  cidade onde dois   rios  unem­se entre  sete  colinas,  Quimper.  Ele decidiu  fazer  dela   sua capital   e   ali   viver   o   resto   de   seus   dias.   Quando   morreu,   sua   estátua   foi esculpida em granito. Essa estátua está ainda entre as duas torres da catedral de   São   Corentin,   em   Quimper.   Ela   representa   o   Rei   Gradlon   a   cavalo, olhando na direção da cidade desaparecida.

As pessoas dizem que Dahut, depois de sua morte, tornou­se uma sereia e que ela aparece aos pescadores  nas noites de luar,  penteando seu longo cabelo dourado. Também dizem que, quando o tempo está bastante calmo, é possível ouvir os sinos da cidade desaparecida.

Gwelas­te morverc'h, pesketourO kriban en bleo melen aourDre an heol splann, e ribl an dour ?Gwelous a ris ar morverc'h venn,M'he c'hlevis o kanann zokenKlemvanus tonn ha kanaouenn.

Pescador, viste uma menina do marpenteando seu comprido, dourado cabeloenquanto o grande sol brilhava aqui, às margens do mar?Eu vi a branca filha do mar,Eu até mesmo a ouvi cantar,Lamentosas eram a melodia e a canção.

A Cidade de Ys, epílogo

A lenda conta que a cidade de Ys ficava na Baía de Douarnenez. O lugar chamado Pouldavid,  distante uns poucos quilômetros  a  leste  da cidade  de 

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Douarnenez,  é  a  forma francesa  de  Poul Dahut,  o “buraco  de Dahut” em bretão, e indica o local onde a princesa foi engolida pelas ondas.

Diz­se também que a cidade de Ys era a mais bela capital do mundo e que Lutécia foi chamada de Paris porque par Ys significa “como Ys” em bretão.

Dois provérbios populares bretões testemunham­no:

Abaoue ma beuzet Ker IsN'eus kavet den par da Paris.

Desde que foi afundada a cidade de Ys,Ninguém encontrou uma igual em Paris.

Pa vo beuzet ParisEc'h adsavo Ker Is.

Quando Paris for engolfada,A cidade de Ys reemergirá.

34 Llew Llaw Gyffes

O incidente relatado no conto da jornada de Llew Llaw Gyffes (“Leão com a 

Mão   Firme”)   e   Gwydion   ab   Dôn   disfarçados   de   fabricantes   de   sapatos 

dourados  em busca  de  um nome e   armas  de   sua  mãe,  Arianrhod,   forma  a 

matéria de uma tríade que já foi citada (veja nota n°. 24).

Llew Llaw Gyffes foi um dos  Três Homens Carmesins  da ilha, dos quais o 

mais conhecido foi Arthur, pois, onde ele tivesse pisado, nem erva, nem grama 

cresceriam pelo espaço de um ano (tríade 24).

Llew obtém seu nome de Arianrhod depois de atingir uma carriça. Os druidas 

consideravam a carriça (também  cambaxirra  ou  uirapuru) como “o supremo 

entre todos os pássaros”. Era o pássaro sagrado da ilha de Man. Druida e rei 

dos  pássaros,   seus  gorjeios   eram  interpretados   como  augúrios.  Na   tradição 

céltica, a carriça é profética e a direção de onde ela pia à noite é considerada 

extremamente significativa. Na Escócia, era conhecida como “ave da Rainha do 

Céu” e considerava­se extremamente desfavorável matá­la, mas, na Inglaterra e 

na França, havia uma caça à carriça no dia de São Estevão (26 de dezembro), 

uma cerimônia que surgiu de um antigo rito pré­cristão. Os caçadores vestiam­

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se ritualmente,  matavam uma carriça,  penduravam­na numa vara e levam­na 

em procissão, pedindo dinheiro; então a enterravam no cemitério.

A carriça era associada ao Outro Mundo e esses rituais de caça estavam ligados 

ao solstício de inverno e à morte da vegetação. Na Irlanda, a ave era conhecida 

como “doutor de Fionn” e caçada pelos “Meninos da Carriça” com um ritual 

semelhante ao encontrado na Grã­Bretanha e na França no dia de São Estevão. 

O pássaro representava um deus primordial (como Cronos, Bran ou Arthur) que 

deveria ceder seu lugar, não importando quão notável fosse seu reinado. 

A   sepultura   de  Llew   é   mencionada   nos  Englynion   y  Beddau   Milwyr  Ynis  

Prydain como sendo protegida pelo mar.

Melyngar Mangre, o cavalo de Llew, era um dos principais cavalos de guerra 

da ilha (“Tríades dos Cavalos”, veja nota nº. 22).

35 Dinas Dinllef

Dinas Dinllef situa­se na costa, cerca de três milhas ao sul de Carnarvon, na 

paróquia de Llantwrawg, nos confins de uma grande extensão de terra chamada 

Morfa  Dinllef.  Os   restos  de  uma   fortaleza  ali   existentes   consistem em um 

grande monte circular, bem defendido por rampas de terra e fossos profundos.

36 Blodeuwedd

A história de Blodeuwedd, a bela “Rosto de Flor”, foi sempre popular entre os 

poetas.   As   linhas   de   Taliesin   relativas   a   sua   romântica   origem   já   foram 

mencionadas na nota sobre Gwydion ab Dôn (veja nota nº. 31) e Dafyd Gwilyn 

tem um poema muito bonito sobre sua transformação em coruja, onde, após 

algumas   questões   preliminares   relacionadas   a   seus   hábitos   peculiares   e 

retirados,  o poeta prossegue  inquirindo­lhe qual sua história  e seu nome.  O 

pássaro   responde   que,   outrora,   os   nobres   nos   banquetes   chamavam­na 

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Blodeuwedd e ela jura por São David que é  a filha de um senhor de Mona 

(Anglesey) igual  em dignidade ao próprio Meirchion (o pai do rei  Mark da 

Cornualha, famoso por seu papel na lenda de Tristan e Yseult; pensa­se que 

Meirchion tenha sido um rei da Cornualha no fim do séc. V). Ela prossegue, 

dizendo  que  Gwydion,   filho  de  Dôn,   transformou­a   com   sua  vara  mágica, 

levando­a do seu passado estado de beleza a sua condição de miséria  atual 

porque   ela,   certa   vez,   supusera   amar   Gronw,   o   alto   e   belo,   filho   de   Fed 

Goronhir, senhor de Penllyn.

37 Mur y Castell

Mur   y   Castell  (“Muralha   do   Castelo”),   nos   limites   de   Ardudwy,   também 

chamado Tomen y Mur (“Colina do Forte”), fica a cerca de duas milhas ao sul 

do Cynfael ou rio Ffestiniog e dista cerca de três milhas do Llyn y Morwynion, 

ou   “Lago   das   Donzelas”,   em   que   as   infortunadas   acompanhantes   de 

Blodeuwedd encontraram seu destino final. 

38 A tribo de Gronw Pebyr

A tríade 35 recita  a circunstância da falta  de devoção evidenciada por essa 

tribo, como detalha o texto:

As Três Tribos Desleais da Ilha da Grã­Bretanha: a tribo de Gronw Pebyr de Penllyn, que se recusou a ficar no lugar de seu senhor para receber o dardo envenenado de Llew Llaw Gyffes, em Llech Gronw, em Blaen Cynfael, em Ardudwy. E a tribo de Gwrgi e Peredur, que desertou de seus senhores em Caer Greu, onde havia uma reunião para a batalha na manhã seguinte contra Eda Glinmawr e ambos foram mortos, E a terceira, a tribo de Alan Fyrgan, que retornou às escondidas  de seu senhor,  deixando­o e a  seus  servos no caminho para Camlan, onde ele foi morto.

Penllyn, de que Gronw era o senhor, é um distrito às margens do Llyn Tegid ou 

Lago Bala. A tradição diz que recebeu seu nome de Tacitus, um dos filhos de 

Cunedda.

Cunedda Wledig (gwledig, que se torna wledig depois de certos sons, significa, 

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aproximadamente,  "príncipe" ou “chefe”,   termo talvez  usado como tradução 

céltica do latim protector) era um governante da tribo dos Votadini, no norte da 

Grã­Bretanha,  que emigrou para o norte de Gales com uma grande parte de 

seus súditos em 430. Ele expulsou os invasores irlandeses de uma grande parte 

de Gales. A linhagem sugere que sua família era originalmente romana. A filha 

de Cunedda, Gwen, era a mãe de Eigyr (Igraine), a mãe de Arthur, tornando­o 

assim bisavô deste. 

PRONUNCIANDO O GALÊS

I A língua de Gales

O idioma de Gales, mais adequadamente chamado Cymraeg de preferência ao 

termo   inglês  Welsh  (palavra   germânica   com   o   sentido   de   “estrangeiro”), 

pertence a um ramo do céltico, idioma indo­europeu. A linguagem dos galeses 

é  prima distante do irlandês e irmã  do bretão. O galês é ainda utilizado por 

cerca de meio milhão de pessoas dentro do País de Gales e, possivelmente, 

outras poucas centenas de milhares na Inglaterra e áreas além­mar. 

Nas   regiões   mais   densamente   povoadas   de   Gales,   tais   como   o   sudeste 

(contendo os grandes centros urbanos de Cardiff, Newport e Swansea), a língua 

cotidiana normal é o inglês, mas há outras áreas, notadamente nas regiões do 

oeste e do norte (particularmente Gwynedd e Dyfed) onde o Galês permanece 

forte e grandemente visível. O nome galês do país é  Cymru  (kamri), a “Terra 

dos Companheiros”; o povo é conhecido com Cymry (kamri) e a língua, como 

Cymraeg  (kamráig).  Diferenças  regionais  no galês  falado não  impedem que 

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usuários  de   regiões  diferentes  entendam­se  mutuamente  e  o  galês  padrão é 

compreendido por falantes do idioma em toda parte.

Apesar de sua aparência, extraordinária para o não iniciado, o galês é hoje uma 

língua cuja ortografia é completamente regular e fonética, de forma que, tendo 

compreendido as regras, você  poderá  aprender a ler e pronunciar sem muita 

dificuldade. Para crianças pequenas, aprender a ler o galês oferece muito menos 

dificuldades   do   que   o   inglês,   pois   as   muitas   inconsistências   da   ortografia 

inglesa não são encontradas no galês, em que todas as letras são pronunciadas.

II O alfabeto galês

O alfabeto da língua galesa possui 28 letras: 

A B C Ch D Dd E F Ff G Ng H I LLl M N O P Ph R Rh S T Th U W Y  

III As vogais

A como em pai. Palavras galesas: am, ac.

E como no inglês bet ou echo. Palavras galesas: gest (guést); enaid (énaid).

U  como  no   francês  mur  (aqui   representado  por  ü).   Palavras  galesas:  ganu 

(gánü); Cymru (kahmrü); tu (tü); un (ün).

O  como no inglês  lot  ou  moe.  Palavras  galesas:  o’r  (ore);  dod  (dode);  bob 

(bobe).

W u como em tu,  nu. Palavras galesas:  cwm  (kum);  bws  (bus);  yw  (iu);  galw 

(gálu).

Y  tem dois sons diferentes, o som final do inglês  happy  (i, neste texto) ou o 

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som representado pelo  u  do inglês  bus  (ah, neste texto):  y  (ah);  yr  (ahr);  yn 

(ahn); fry (vri); byd (bid).

Todas  as  vogais   (inclusive  w  e  y)  podem ser  alongadas  pela  adição de  um 

acento circunflexo (^), conhecido em galês como to bach (“pequeno teto”).

IV Os ditongos

Ae,  ai  e  aw  são pronunciados como o inglês  eye:  ninnau  (ninái);  mae  (mái); 

henaid (hénaid); main (máin); craig (kráig).

Eu  e  ei  são pronunciados como  ei  na palavra  pray:  deusiau  (dêixái), ou, em 

alguns dialetos, (dixah); deil (dêil ou dáil); teulu (têilü ou táielü).

Ew é semelhante a  e­u, ou, talvez, ao inglês  mount:  mewn  (meun ou máun); 

tew (teu).

Oe como em mói: croeso (króiso); troed (tróid); oen (óin).

Wy como no inglês win ou u­i: wy (u­i); wyn (win); mwyn (mu­in).

Ywy como no inglês Howie: bywyd (bowid); tywyll (towithl).

Aw como no inglês áu: mawr (máur); prynhawn (prinháwn); lawr (láur). 

V As consoantes

Na maioria  das vezes,  B,  D,  H,  L,  M ,  N,  P,  R, S   e  T são pronunciados 

aproximadamente da mesma forma que seus equivalentes em português (o H é 

sempre pronunciado como no inglês  hat, jamais mudo). As diferenças são as 

seguintes:

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C sempre como em carro, nunca como em cigarro:  canu  (káni);  cwm  (cum); 

cael (káil)  e, é claro, Cymru (kamrü).

CH como no escocês loch ou no alemão ach ou noch. O som nunca é como no 

inglês  church, mas como em  Dogherty:  edrychwn  (edráchun);  uwch  (ü­uch); 

chwi (chu­i).

Dd é como o th  inglês nas palavras  seethe ou them:  bydd  (bithe);  sydd  (sith); 

ddofon (thovon); ffyddlon (fith­lon).

Th é como o th inglês em think, forth, thank: gwaith (gwáith); byth (bith).

F é como o v português: afon (ávon); fy (vi); fydd (vith); hyfryd (havrid); fawr 

(váur); fach (vach).

Ff é como o f português: ffynnon (finon); ffyrdd (firth); ffaith (fáith).

 

G é sempre como em gado, guerra: ganu (gánü); ganaf (gánav); angau (angái); 

gem (guem).

Ng é como no inglês finger ou Long Island. O ng comumente surge com um h 

depois, como uma mutação do c: Yng Nghaerdydd (“em Cardiff”, pronunciado 

ung háir dith) ou Yng Nghymru (“em Gales”, pronunciado ang humri).

Ll  é  um  l  com uma expiração. Isso significa que você  deve fazer com seus 

lábios e língua como se fosse pronunciar um l e então soprar o ar suavemente 

pelos lados da língua ao invés de dizer qualquer outra coisa. Em inglês, o som 

mais próximo a esse seria um l com um th  (de think) antes: llan (thlan); llawr 

(thláur); llwydd (thluith).

Rh  soa como uma ligeira expiração antes que o  r  seja pronunciado:  rhengau 

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(hrengái); rhag (hrag); rhy (hri).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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SUMÁRIO

Prefácio

I. Que é o Mabinogion? ........................ 3II. As lendas do Mabinogion ........................ 4III. Sobre esta tradução ........................ 12

O Primeiro Ramo do Mabinogion

Pwyll, Príncipe de Dyfed

Introdução ........................ 14I Pwyll encontra Arawn. ........................ 14II Na Corte de Annwfyn. ........................ 17III Pwyll mata Hafgan. ........................ 18IV Rhiannon. ........................ 20V No palácio de Hefeyd Hen. ........................ 25VI O jogo do Texugo na Bolsa. O casamento de 

Rhiannon e Pwyll. ........................ 16

VII Nascimento e rapto de Pryderi. ........................ 31VIII A égua de Teirnyon. ........................ 33IX O retorno de Pryderi. ........................ 35

Notas ao Primeiro Ramo

1 Pwyll, príncipe de Dyfed ........................ 39Os Espólios de Annwn ........................ 402 Dyfed ........................ 423 Glyn Cuch ........................ 444 Arawn, Senhor de Annwfyn ........................ 445 Annwfyn ........................ 456 Um monte ........................ 467 Rhiannon  ........................ 47Uma (pequena) lenda sobre Modron ........................ 488 Hefeyd Hen ........................ 489 Gwent Is Coed ........................ 4910 Gwri Gwallt Euryn ........................ 4911 Pendaran Dyfed ........................ 50

O Segundo Ramo do Mabinogion

Branwen, Filha de Llyr

Introdução ........................ 51I A chegada de Matholwch. ........................ 51II A ira de Efnissyen. ........................ 53

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