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1 11. Adaptações das plantas ao factor água No decurso da evolução, as plantas vasculares colonizaram grande parte da superfície terrestre, tendo-se adaptado a uma grande diversidade de habitats, nomeadamente no que se refere à disponibilidade de água. Deste modo, as plantas apresentam grande variedade de características estruturais e fisiológicas que lhes permitem sobreviver em condições muito díspares de disponibilidade hídrica. Geralmente as plantas podem ser classificadas ao longo de um contínuo de disponibilidade hídrica, encontrando-se num dos extremos aquelas que vivem total ou parcialmente submersas na água - HIDRÓFITAS, enquanto no outro extremo se encontram as plantas que colonizam regiões extremamente secas - XERÓFITAS. Nas situações intermédias encontram-se as plantas MESÓFITAS que requerem abundante disponibilidade de água no solo e atmosfera relativamente húmida. Esta classificação é um tanto ou quanto arbitrária não sendo possível delimitar rigorosamente os diferentes grupos a não ser em situações extremas, existindo entre estes um espectro de formas intermédias. HIDRÓFITAS: crescem total ou parcialmente submersas na água. Plantas aquáticas de água doce que variam desde pteridófitos a angiospérmicas flutuantes. Nestes habitats a água não é limitante, mas a baixa solubilidade e difusibilidade do oxigénio na água ou em solos saturados, conduz a situações críticas para as quais as plantas se especializaram. As modificações adquiridas por estas plantas consistem em adaptações que lhes permitem aumentar a flutuabilidade e o arejamento das partes submersas. Podemos considerar: hidrófitas flutuantes, em suspensão, hidrófitas ancoradas submersas e hidrófitas ancoradas de folhas flutuantes. Alguns autores consideram ainda um outro grupo dentro das hidrófitas, as plantas anfíbias ou HELÓFITAS de zonas pantanosas, de solos regularmente encharcados, fortemente ancoradas ao substrato e cuja parte superior se desenvolve no ar. Estas plantas apresentam características intermédias de hidrófitos e de xerófitos, isto é, possuem estruturas de suporte e transporte bem desenvolvidas e estruturas que lhes permitem um arejamento rápido das partes submersas. XERÓFITAS: ocorrem principalmente nos desertos, dunas, campinas secas e nos lugares rochosos, onde a água geralmente é escassa. As modificações destas plantas incluem alterações estruturais e fisiológicas que impedem ou limitam a perda de água, impedem o emurchecimento, armazenam água e facilitam a translocação rápida da água até aos tecidos das folhas. As plantas que toleram ou suportam o stress durante períodos mais ou menos longos são designadas por verdadeiras xerófitas. Dentro do grupo das xerófitas podem, ainda, considerar-se as plantas que evitam ou escapam ao stress como as plantas anuais ou efémeras, decíduas de Verão e plantas com gemas de renovo subterrâneas. As plantas suculentas, segundo alguns autores, não são consideradas verdadeiras xerófitas porque de certa forma elas evitam o stress através das suas reservas de água. As plantas que colonizam pântanos salinos (halófitas) também apresentam características xeromórficas. No entanto, só alguns autores as incluem no grupo das xerófitas dado que, como têm água disponível e transpiram abundantemente, apresentam algumas características hidromórficas. MESÓFITAS: são plantas que normalmente crescem em solos bem drenados e cujas folhas ficam expostas a ar moderadamente seco. São em geral as espécies cultivadas e muitas das plantas nativas das regiões tropicais e temperadas. Muitas mesófitas perenes são decíduas, perdem as suas folhas para economizar água quando as condições são desfavoráveis. As partes aéreas de algumas mesófitas herbáceas morrem completamente nessa época e as plantas sobrevivem através dos seus orgãos perenes subterrâneos, tais como rizomas e bolbos. Como vimos anteriormente este último grupo é considerado por alguns autores como xerófito passivo uma vez que evita o stress. Observações: 1 – No material vivo distribuído, observe a anatomia externa, e por meio de cortes histológicos definitivos a anatomia interna. Notar em especial o seguinte:

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11. Adaptações das plantas ao factor água

No decurso da evolução, as plantas vasculares colonizaram grande parte da superfície terrestre, tendo-se adaptado a uma grande diversidade de habitats, nomeadamente no que se refere à disponibilidade de água. Deste modo, as plantas apresentam grande variedade de características estruturais e fisiológicas que lhes permitem sobreviver em condições muito díspares de disponibilidade hídrica.

Geralmente as plantas podem ser classificadas ao longo de um contínuo de disponibilidade hídrica, encontrando-se num dos extremos aquelas que vivem total ou parcialmente submersas na água - HIDRÓFITAS, enquanto no outro extremo se encontram as plantas que colonizam regiões extremamente secas - XERÓFITAS. Nas situações intermédias encontram-se as plantas MESÓFITAS que requerem abundante disponibilidade de água no solo e atmosfera relativamente húmida. Esta classificação é um tanto ou quanto arbitrária não sendo possível delimitar rigorosamente os diferentes grupos a não ser em situações extremas, existindo entre estes um espectro de formas intermédias.

HIDRÓFITAS: crescem total ou parcialmente submersas na água. Plantas aquáticas de água doce que variam desde pteridófitos a angiospérmicas flutuantes. Nestes habitats a água não é limitante, mas a baixa solubilidade e difusibilidade do oxigénio na água ou em solos saturados, conduz a situações críticas para as quais as plantas se especializaram. As modificações adquiridas por estas plantas consistem em adaptações que lhes permitem aumentar a flutuabilidade e o arejamento das partes submersas.

Podemos considerar: hidrófitas flutuantes, em suspensão, hidrófitas ancoradas submersas e hidrófitas ancoradas de folhas flutuantes.

Alguns autores consideram ainda um outro grupo dentro das hidrófitas, as plantas anfíbias ou HELÓFITAS de zonas pantanosas, de solos regularmente encharcados, fortemente ancoradas ao substrato e cuja parte superior se desenvolve no ar. Estas plantas apresentam características intermédias de hidrófitos e de xerófitos, isto é, possuem estruturas de suporte e transporte bem desenvolvidas e estruturas que lhes permitem um arejamento rápido das partes submersas.

XERÓFITAS: ocorrem principalmente nos desertos, dunas, campinas secas e nos lugares rochosos, onde a água geralmente é escassa. As modificações destas plantas incluem alterações estruturais e fisiológicas que impedem ou limitam a perda de água, impedem o emurchecimento, armazenam água e facilitam a translocação rápida da água até aos tecidos das folhas. As plantas que toleram ou suportam o stress durante períodos mais ou menos longos são designadas por verdadeiras xerófitas. Dentro do grupo das xerófitas podem, ainda, considerar-se as plantas que evitam ou escapam ao stress como as plantas anuais ou efémeras, decíduas de Verão e plantas com gemas de renovo subterrâneas.

As plantas suculentas, segundo alguns autores, não são consideradas verdadeiras xerófitas porque de certa forma elas evitam o stress através das suas reservas de água.

As plantas que colonizam pântanos salinos (halófitas) também apresentam características xeromórficas. No entanto, só alguns autores as incluem no grupo das xerófitas dado que, como têm água disponível e transpiram abundantemente, apresentam algumas características hidromórficas.

MESÓFITAS: são plantas que normalmente crescem em solos bem drenados e cujas folhas ficam expostas a ar moderadamente seco. São em geral as espécies cultivadas e muitas das plantas nativas das regiões tropicais e temperadas. Muitas mesófitas perenes são decíduas, perdem as suas folhas para economizar água quando as condições são desfavoráveis. As partes aéreas de algumas mesófitas herbáceas morrem completamente nessa época e as plantas sobrevivem através dos seus orgãos perenes subterrâneos, tais como rizomas e bolbos. Como vimos anteriormente este último grupo é considerado por alguns autores como xerófito passivo uma vez que evita o stress.

Observações:

1 – No material vivo distribuído, observe a anatomia externa, e por meio de cortes histológicos definitivos a anatomia interna. Notar em especial o seguinte:

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Anatomia externa:

dimensão, forma e espessura das folhas se as houver

natureza do pecíolo

tipo de caule e ramos

desenvolvimento do sistema radicular

Anatomia interna:

espessura da cutícula e epiderme

presença ou ausência de ceras

desenvolvimento da epiderme e camadas sub-epidérmicas

número e posição dos estomas

quantidade de tecido vascular e de suporte

presença ou ausência de tecido armazenador de água (hidrênquima ou parênquima aquífero)

presença ou ausência de aerênquima

quantidade de espaços intercelulares

2 – Com base nas observações de HIDRÓFITOS e XERÓFITOS, esquematize secções relevantes de cada uma das preparações que lhe foram distribuídas.

Caracterização das diferentes espécies de acordo com a sua anatomia micro e macroscópica

Espécie Orgão Forma e tamanho das folhas

Espessura da cutícula

Presença de tecidos de suporte

Presença de tecidos de reserva

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