11-a noite em que não se dormiu

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Quinta da Confusão – O nascimento de um império 73 outra margem para capturarem os animais. Os camiões e as carrinhas estavam muito longe dos animais para serem vistos por eles, mas quando as luzes que se viam na outra margem começaram a avançar para norte os animais perceberam que os veículos estavam em movimento. Então, quatro deles entraram nos dois camiões ainda à disposição dos animais, e avançaram rumo à frota inimiga. Eles sabiam que, com apenas dois camiões, nada mais podiam fazer do que atrasar a chegada dos funcionários. Por isso mesmo, disseram aos companheiros para fugirem enquanto era tempo. Uns nadaram até à outra margem da ribeira, outros esconderam-se nas árvores, nas construções da quinta ou no túnel. Mas a nova fortaleza, o abrigo nocturno, recebeu 55 animais. Estes fecharam a porta e as janelas e trancaram-nas com trancas de 5 cm de espessura. Depois, acenderam as duas lanternas do tecto e aguardaram que tudo passasse. Quase 1 km para norte, os dois camiões guiados pelos companheiros alcançaram os veículos inimigos, iniciando-se a 2ª Batalha da Nascente da Ribeira. Quatro camiões foram destacados pelos donos para atacarem os inimigos e os manterem longe da restante frota, para que esta pudesse avançar sem problemas e alcançar a metade direita da quinta. Os animais bem tentaram lutar, mas os seus camiões tinham sido danificados na batalha anterior e, ao contrário dos veículos inimigos, não tinham tido quaisquer reparações. Ainda conseguiram atacar a frota que passava pela nascente da ribeira, abalroando e imobilizando 5 carrinhas, e fizeram cair de lado mais 1 camião atacante. Mas os problemas mecânicos ditaram a sorte dos veículos: avariaram junto à ribeira depois das pancadas dos camiões inimigos. Apesar de tudo os seus ocupantes conseguiram escapar, mergulhando na ribeira e desaparecendo na noite. Dessa vez, os donos tinham triunfado. 2ª Batalha da Nascente da Ribeira Data: 18:30 – 18:35 do Dia 3 Local: Nascente da ribeira Resultado: Vitória dos donos, início da 2ª Batalha da Quinta da Confusão Combatentes: Donos X Animais Forças: Donos – 4 camiões, 8 funcionários; Animais – 2 camiões, 4 animais Líderes: Donos – Afonso Gomes e Aníbal Gomes; Animais - Nenhum Baixas: Donos – 1 camião, 5 carrinhas; Animais – 2 camiões (todos)

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Páginas 73 a 77

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Page 1: 11-A noite em que não se dormiu

Quinta da Confusão – O nascimento de um império

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outra margem para capturarem os animais. Os camiões e as carrinhas estavam muito longe dos animais para serem vistos por eles, mas quando as luzes que se viam na outra margem começaram a avançar para norte os animais perceberam que os veículos estavam em movimento. Então, quatro deles entraram nos dois camiões ainda à disposição dos animais, e avançaram rumo à frota inimiga. Eles sabiam que, com apenas dois camiões, nada mais podiam fazer do que atrasar a chegada dos funcionários. Por isso mesmo, disseram aos companheiros para fugirem enquanto era tempo. Uns nadaram até à outra margem da ribeira, outros esconderam-se nas árvores, nas construções da quinta ou no túnel. Mas a nova fortaleza, o abrigo nocturno, recebeu 55 animais. Estes fecharam a porta e as janelas e trancaram-nas com trancas de 5 cm de espessura. Depois, acenderam as duas lanternas do tecto e aguardaram que tudo passasse. Quase 1 km para norte, os dois camiões guiados pelos companheiros alcançaram os veículos inimigos, iniciando-se a 2ª Batalha da Nascente da Ribeira. Quatro camiões foram destacados pelos donos para atacarem os inimigos e os manterem longe da restante frota, para que esta pudesse avançar sem problemas e alcançar a metade direita da quinta. Os animais bem tentaram lutar, mas os seus camiões tinham sido danificados na batalha anterior e, ao contrário dos veículos inimigos, não tinham tido quaisquer reparações. Ainda conseguiram atacar a frota que passava pela nascente da ribeira, abalroando e imobilizando 5 carrinhas, e fizeram cair de lado mais 1 camião atacante. Mas os problemas mecânicos ditaram a sorte dos veículos: avariaram junto à ribeira depois das pancadas dos camiões inimigos. Apesar de tudo os seus ocupantes conseguiram escapar, mergulhando na ribeira e desaparecendo na noite. Dessa vez, os donos tinham triunfado.

2ª Batalha da Nascente da Ribeira

• Data: 18:30 – 18:35 do Dia 3 • Local: Nascente da ribeira • Resultado: Vitória dos donos, início da 2ª Batalha da Quinta da

Confusão • Combatentes: Donos X Animais • Forças: Donos – 4 camiões, 8 funcionários; Animais – 2

camiões, 4 animais • Líderes: Donos – Afonso Gomes e Aníbal Gomes; Animais -

Nenhum • Baixas: Donos – 1 camião, 5 carrinhas; Animais – 2 camiões

(todos)

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Mal os funcionários chegaram ao território ocupado pelos animais até poucos minutos atrás, dirigiram-se logo ao abrigo nocturno, porque como este estava fechado era sinal de que havia alguém lá dentro. Os 55 animais barricados no abrigo nocturno perceberam, pelo ruído dos motores, que os funcionários estavam próximos, e não fizeram um único ruído para que se pensasse que o abrigo estava vazio. Mas isso não os salvou da captura. Os funcionários já esperavam que a porta estivesse trancada, portanto usaram uma das suas carrinhas para a forçar a abrir. Quando a tranca cedeu, os animais perceberam que estavam perdidos. Tentaram subir ao primeiro andar, que ainda não passava do tecto do abrigo nocturno, mas a construção estava cercada pelos funcionários. Os 55 animais foram então apanhados, e distribuídos por 3 dos camiões inimigos. Depois, os funcionários tentaram andar pela zona em busca de mais animais, mas não apanharam nenhum. Os que se esconderam na zona tinham visto a invasão do abrigo nocturno, e trataram de fugir para ainda mais longe. Como já era noite, e os animais não se recordavam de ter havido capturas nocturnas na Quinta da Confusão, estes achavam que os funcionários se iriam embora. Infelizmente, estavam errados. Eles tiraram tendas e outros equipamentos das carrinhas, passaram pela nascente da ribeira para recolherem as que estavam nas carrinhas avariadas e, por fim, cada grupo de funcionários acampou, com a permissão dos donos, onde achou melhor. O resultado foi a Quinta da Confusão ficar coberta de acampamentos (eram 16), que tanto podiam ter 6 como 50 funcionários cada. Os animais chamavam-lhes aldeias de perigo, pois de facto ficaram em perigo com a instalação de tantos acampamentos. Para onde quer que olhassem, viam sempre uma ou mais fogueiras, sinal de que ali estavam aldeias de perigo. Nas mais pequenas, havia uma única fogueira e as tendas formavam um círculo à volta dela. Nas maiores haviam várias fogueiras, e as tendas estavam alinhadas como casas numa rua. A maior aldeia de perigo da quinta tinha 50 funcionários e 25 tendas (cada tenda tinha 2 funcionários), e ocupava o abrigo nocturno, que deveria ser a fortaleza dos animais. Era um jogo do gato e do rato, entre os funcionários e os animais, em que ninguém sabia qual seria o vencedor. O jogo tinha nome, era a 2ª Batalha da Quinta da Confusão.

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Ilustração 8 – Mapa da Quinta da Confusão no final do Dia 3, com as suas 16 aldeias

de perigo. Legenda: Castanho – Casa dos donos; Azul claro – 6-8 funcionários (6

aldeias); Azul-escuro – 10-18 funcionários (4 aldeias); Verde – 20-28 funcionários (2

aldeias); Amarelo – 30-38 funcionários (1 aldeia); Laranja – 40-48 funcionários (2

aldeias); Vermelho – 50 funcionários (abrigo nocturno)

Os funcionários estavam em vantagem nessa batalha. Eram mais do que os animais, e tinham melhores armas. Cada aldeia de perigo mantinha funcionários a patrulhar à volta do acampamento, e sempre que estes encontravam animais anestesiavam-nos com dardos tranquilizantes. Depois, era só arrastá-los até às tendas e mantê-los lá até de manhã, quando fossem levados para Bragança. Mas os animais também tinham as suas defesas. Ao contrário dos funcionários, que tinham acampamentos com fogueiras que se viam ao longe, os animais podiam passar incógnitos a escassas dezenas de metros das aldeias de perigo, rastejando pela neve. Andavam pela quinta a pares ou em grupos de 3 a 5 animais, comiam onde encontrassem ervas, dormitavam uns minutos onde quer que fosse (nunca eram todos ao mesmo tempo, alguém ficava a vigiar) e tentavam atacar os funcionários. Tal como as patrulhas tentavam apanhar animais desprevenidos, também estes tentavam atacar funcionários distraídos (ao contrário dos animais, patrulhavam o terreno sozinhos). Tiravam a espingarda do inimigo e anestesiavam-no. Depois, deixavam-no ali e continuavam a andar, com a arma do funcionário atacado. Qualquer um, funcionário ou animal, podia ser atacado sem aviso, e todos eles sabiam bem isso. Aquela noite iria ser longa…

20:00 Habitantes: 185

Um dos grupos de animais que vagueava pela Quinta da Confusão sem destino certo, procurando apenas não ser capturado, chegou a uma aldeia de perigo com 8 funcionários, no sudeste da quinta. Os 3 animais que compunham o grupo deitaram-se no chão e rastejaram para detrás de uma das 4 tendas, observando os funcionários. Estes estavam sentados a jantar, comendo comida enlatada com talheres e tabuleiros de plástico, apoiados nos joelhos. Os animais acharam que, enquanto aqueles funcionários estivessem a comer, não representariam grande perigo, e prepararam-se para ir embora. Um deles, todavia, reparou num pormenor: os funcionários estavam desarmados. Eles, para jantar, tinham cometido a imprudência de deixarem as espingardas tranquilizantes e as cordas dentro das tendas. E os animais aproveitaram-se disso. Bastou-lhes espreitar para dentro das tendas para verem as armas, pelo que cada animal tirou uma espingarda de uma das 4 tendas ao acaso e escolheu o seu alvo. Poucos segundos mais tarde,

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os 8 funcionários jaziam adormecidos no chão, com vários dardos tranquilizantes espetados no corpo. Para terem a certeza de que os funcionários não acordariam senão de manhã, os animais alvejaram repetidamente os inimigos. Sabiam que cada dardo tranquilizante fazia uma pessoa ou animal dormir por 2 horas, portanto não pouparam munições. Depois, largaram as espingardas com os carregadores esvaziados e foram às tendas buscar outras carregadas. Lá dentro, encontraram um pequeno frasco com um rótulo a dizer «Antídoto». Foi o que bastou para o levarem também. Como as espingardas precisavam de ser usadas com as duas patas, deixaram os arados e as cascas de árvore na aldeia de perigo e desapareceram na noite, iluminados pelo luar, carregando a mais poderosa arma inimiga consigo. Era a primeira aldeia de perigo destruída nessa longa noite, haveria outras durante as horas seguintes.

21:30 Habitantes: 180

Como nesse dia os donos tinham acordado cedo, para irem à estreia do filme «Matadouro: a História de um Industrial» protagonizado por um grande amigo deles, os Gomes decidiram ir dormir. Mas os dois queriam vigiar os funcionários, acompanhar a situação na quinta. Então, ligaram o aparelho de rádio que comunicava com os funcionários ao seu computador. Cada funcionário tinha um aparelho, e como este tinha um sinalizador os donos podiam ver, através de um programa especial, onde estava cada um, assinalado no mapa por uma bola vermelha. Afonso deixou o irmão no computador e foi dormir, para daí a 2 horas trocarem de lugar. Aníbal Gomes ficou então a monitorizar a situação. Falava com os funcionários, contabilizava os animais e os funcionários postos fora de combate e ia vendo que aldeias de perigo tinham sido eliminadas. Sempre que um grupo de funcionários, identificado como estando numa aldeia de perigo, não respondia aos chamamentos dos donos após várias tentativas de contacto, estes consideravam a aldeia destruída pelos animais. O mesmo se aplicava aos funcionários solitários que andavam pela quinta para patrulhar o terreno. Quanto aos animais, desconheciam que os donos vigiavam a situação, mas mesmo que soubessem isso não lhes faria grande diferença. Nessa noite, ninguém dormiria como deve ser, quer os donos, quer os funcionários, quer os animais.

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Saldo do Dia 3

População e densidade populacional

Saldo da população: +172 habitantes

Saldo da densidade populacional: +344 hab.\km2

8

180185195

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100

150

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250

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014

:0016

:0018

:3020

:0021

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População

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0

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0

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0

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0

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0

21:3

0

Densidadepopulacional