10ª edição vírus planetário

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edição nº 10 maio/junho de 2011 www.virusplanetario.com.br porque neutro nem sabonete, nem a Suíça Às vésperas da despedida como jogador, Petkovic fala sobre politica, guerras, futuro e até futebol Caminhando contra o vento... É o Pet, É o Pet, É o Pet... ENTREVISTA INCLUSIVA com O casal fundador do NPC (Núcleo Pirati- ninga de Comuni- cação) em um bate- papo sobre mídia e política no Brasil. Claudia Santiago e Vito Giannotti 10 edições de Vírus Planetário!! Com 3 anos de vida, botamos o bloco na rua com jornalismo por um outro mundo! O Gringo Mais querido do Brasil “Há uma contradição insolúvel entre a lógica capitalista, que impõe a ‘expansão’ infinita da produção, e os limites do meio ambiente.” Tudo sobre o casamento real! Entre Sir Malafay e Lady Bolsonazi revelamos quem matou Bin Laden Michael Löwy ExCLUSIVO!!

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10ª edição completa da revista Vírus Planetário

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Page 1: 10ª edição Vírus Planetário

edição nº 10maio/junho

de 2011

www.virusplanetario.com.br

porque neutro nem sabonete, nem a Suíça

Às vésperas da despedida como

jogador, Petkovic fala sobre politica,

guerras, futuro e até futebol

Caminhando contra o vento...

É o Pet, É o Pet, É o Pet...

ENTREVISTA INCLUSIVA com

O casal fundador do NPC (Núcleo Pirati-ninga de Comuni-cação) em um bate-papo sobre mídia e política no Brasil.

Claudia Santiago e Vito Giannotti

10 edições de Vírus Planetário!!Com 3 anos de vida, botamos o bloco na rua

com jornalismo por um outro mundo!

O Gringo

Mais querido

do Brasil

“Há uma contradição insolúvel entre a lógica capitalista, que impõe a ‘expansão’ infinita da produção, e os limites do meio ambiente.”

Tudo sobre o casamento real! EntreSir Malafay e Lady Bolsonazi

revelamos quem matou Bin Laden

Michael Löwy

ExCLUSIVO!!

Page 2: 10ª edição Vírus Planetário

O Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação - SEPE - luta há 34 anos por uma educação pública

de qualidade em todo o estado do Rio.

Depois de muitas lutas e conquistas, esse ano não poderia ser diferente. Estamos em campanha para um reajuste salarial digno, além de denunciarmos

e rejeitarmos os planos “milagrosos” do governo estadual e municipal.

Escola nãoé fábrica,

Aluno não é mercadoria,

Educação Não é Negócio!

A liberdade só vem através da transformação.

A transformação só vem com Educação pública

de qualidade

34 anos

Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do Rio de Janeiro

Nossa luta é por:Construção de escolas e

diminuição do número de alunos por turma.

Concurso imediato e ampliação gradativa do horário de permanência dos alunos na escola.

Valorização salarial e profissional. Reajuste salarial emergencial!

Concurso imediato para funcionários administrativos. Fim da terceirização.

Processo de escolha do dirigente escolar através de eleição direta. Garantia de grêmios livres.

Acesse nosso site para mais informações:

www.seperj.org.br

Page 3: 10ª edição Vírus Planetário

SumárioEditorial“Mas nos deram espelhos, e vimos um mundo doente.”

(Índios, Renato Russo – Legião Urbana)

Quando aconteceu a barbárie na Escola Municipal Tasso da Silveira em Realengo, uma das primeiras coisas que nos veio à cabeça foram os versos da bela canção de Renato Russo. A agonia crescente na melodia de Índios se encaixa perfeita-mente como trilha sonora da condição de miséria de espírito em que se encontra a humanidade. Não à toa, que o homem criou um sistema tão opressor, como o capitalismo. A chacina realizada por um homem completamente fora de si reflete é fru-to da competição, do individualismo exacerbado, sentimentos tão presentes no imaginário da maioria da população, massa-crando qualquer sentimento de humanidade, qualquer sopro de felicidade.

Não se trata de vitimizar o assassino Wellington, mas é ne-cessário perceber que ele foi um transmissor do sentimento de ódio, que vai e vem e passa despercebido, aos poucos, em tro-cas desiguais. Uma hora, a conta não bate. Relações desiguais estabelecidas antes da revolução industrial que instaurou o ca-pitalismo, bem antes disso, o ser humano sempre teve relações desiguais, bárbaras, homicidas.

Entretanto, apesar de sempre haver essa miséria humana, há sim uma evolução pela racionalidade, e é por essa que pre-cisamos batalhar para o desenvolvimento de uma sociedade justa, igualitária e – principalmente – possível.

Dez edições, três anos, periodicidade bimestral, rumo ao mensal!

Nesta décima edição, comemoramos três anos de Vírus Planetário, com muitas dificuldades, mas estamos começan-do finalmente a dar nossos primeiros passos depois de muito engatinharmos. Dada o grau de preconceitos cristalizados que vemos serem veiculados diariamente na mídia grande, a comu-nicação alternativa é uma ferramenta fundamental para cons-truirmos um mundo em que haja felicidade para todas e todos

Foi também o que ressaltou os jornalistas Claudia Santiago e Vito Giannotti, coordenadores do Núcleo Piratininga de Co-municação, em nossa entrevista Inclusiva. Ainda nesta edição: uma avaliação sobre os usos da energia nuclear (Michael Löwy apresenta a alternativa ecossocialista para a crise ambiental), um especial sobre os trabalhadores no Brasil e um bate-papo com o ídolo do futebol Petkovic.

4 Oswaldo Munteal_ O golpe de 64 está sendo televisionado?

5 Ana Enne O dia em que o Supremo calou a fanfarronice

6 O Sensacional Repórter Sensacionalista Alê do Bem

8 Bula Cultural_ Entre Bundas, Araras e Disneylândias

10 Bula Cultural_ Budrus

12 Mundo_ Aonde foi parar a mundança?

14 Esportes_Entrevista Petkovic

16 O que pensa a grande imprensa?_A chacina e o pânico da mídia

17 Meio Ambiente_Vale a pena o risco?

19 Entrevista_Michael Löwy

20 Entrevista Inclusiva_Cláudia Santiago e Vito Giannotti_NPC

24 Vírus 3 anos!_Retrospectiva

25 Sórdidos Detalhes

26 Brasil_A luta dos trabalhadores acabou?

30 Direto de Sampa_Bola e Arte: O dinheiro é uma miragem

EQUIPE:

Editores: Caio Amorim, Mariana Gomes e Seiji Nomura Redação: Rio de Janeiro - Caio Amorim, Mariana Gomes, Seiji Nomura, Maria Luiza Baldez, Júlia Bertolini, Daniel Israel, Fernanda Freire e Artur Romeu | São Paulo - Carlos Carlos Diagramação: Caio Amorim e Mariana Gomes Ilustrações: Clóvis Lima, Carlos Latuff, Maurício Machado e Débora Vaz Colaborações: Vinicius

Almeida, Oswaldo Munteal, Ana Enne, Muniz Sodré, Raquel Paiva e Rodrigo Santaella Agradecimentos: NKP, MC Leonardo, Mano Teko e Juninho

www.twitter.com/virusplanetario

www.facebook.com/virusplanetarioPara anunciar, entre em contato através do email: [email protected] Envio de colaborações, críticas, dúvidas, sugestões e opiniões: [email protected]

www.virusplanetario.com.br

Afinal, o que é a Vírus Planetário?Muitos não entendem o que é a Vírus Planetário, principalmente o nome.

Então, fazemos essa explicação maçante, mas necessária para os virgens de Vírus Planetário:

“Há 400 mil anos, nos tornamos Homo Sapiens. Desde então, nos dife-renciamos uns dos outros”. Revista Vírus Planetário. Jornalismo pela dife-rença, não pela desigualdade. Esse é nosso lema. Em nosso primeiro edito-rial, anunciamos nosso estilo; usar primeira pessoa do singular, assumir nossa parcialidade, afinal “Neutro nem sabonete, nem a Suíça.” Somos, sim, parciais, com orgulho de darmos voz a pessoas excluídas, de batalharmos contra as mais diversas formas de opressão. Rimos de nossa própria desgra-ça e sempre que possível gozamos com a cara de alguns algozes do povo. O bom humor é necessário para enfrentarmos com alegria as mais árduas batalhas do cotidiano.

A humanidade é o vírus do homem, e o homem é o vírus do planeta. Daí, vem o nome da revista, que faz a provocação de que mesmo a humanidade destruindo a Terra e sua própria espécie, acreditamos que com mobilização social, uma sociedade em que haja felicidade para todos e todas é possível.

Educação Não é Negócio!

Esta é a edição digital

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Page 4: 10ª edição Vírus Planetário

história recente às nossas crianças, sendo assim os livros didáticos precisam apresentar os fatos ocorridos durante a ditadura militar de 64. 3- É necessária uma verdadeira liberdade acadêmica, sem as amarras de uma sociedade de castas, hierarquizada e apodrecida.

Os princípios da revolução francesa são importantes para a vida acadêmica. Não podemos nos fechar e ignorar os sentimentos da sociedade. É necessário falar para as pessoas comuns de manei-ra direta. Isso não significa se submeter, nem menosprezar o nosso

trabalho na universidade, pelo contrário, aponta para a relevância do mesmo.

Por fim, tenho a dizer que “Amor e Revolu-ção”, tem muito amor piegas, nenhum golpe, e muito menos revolução. Os brasileiros não precisam de novela, mas de escola. Nem de uma “história verdadeira”, mas da interpreta-ção sobre os fatos, e da apuração rigorosa dos crimes cometidos nesta época. O meu olhar é

de um cidadão que não vê novelas, portanto, não estou bem treinado, para a crítica deste veiculo tão ambicionado. Os que acham que a novela resolve, desprezam a sabedoria do nosso povo, que afinal já sabe do que em parte é feita a história: “de tanta co-vardia” pelo dito popular.

O SBT está transmitindo uma novela que trata da história do golpe militar de 1964. Não podemos esquecer que folhetim é uma farsa. Muitas vezes capaz de fraudar até a realidade. Conhecemos muitas novelas que estão aí. Aliás, a maioria tem exatamente esta característica. Qual a diferença da que passa tarde da noite? O fato de retratar a memória recente, com anestesia perto do que foi, com romances, e com todos os ingredientes de praxe, inclusive os de-poimentos ao final. E mais ainda, sobre um tema que os brasileiros conhecem pouco. E aqueles que lembram, preferem esquecer.

Não podemos condenar a novela, afinal os saudosistas do an-tigo regime já o fizeram. O que nos res-ta? Querer mais, é claro! A realidade é sempre mais complexa do que se apre-senta, nesse sentido precisamos pensar, porque afinal não estamos num audi-tório no “topa tudo por dinheiro” não é mesmo? Durante a semana, a ditadura no SBT, no final de semana a Porta da Esperança e similares. Nesse sentido, cabe-nos aqui refletir sobre o nosso passado recente, e colocar seria-mente a questão: Afinal até que ponto conseguimos passar a lim-po esta história, e o que é necessário para fazê-lo?

Penso que temos três níveis de análise: 1- O papel dos meios de comunicação e a necessidade da sua democratização. 2- Uma pro-funda revolução na educação brasileira. Não podemos sonegar a

Oswaldo Munteal é professor de história na UERJ, Facha e PUC-Rio. Pesquisador da FGV,

coordenador do grupo de pesquisa Núcleo de Identidade Brasileira e

História Contemporânea (NIBRAHC)

OSWALDO MUNTEAL

Só a novela do SBT “Amor e Revolução” não basta para termos uma revolução e um

mundo em que haja mais amor

“É necessário falar para as pessoas de maneira

direta”

Que absurdo!! não foi nada disso que aconteceu! Eu era muito mais bonito que esse ator! Vamos tirar essa novela do ar agora!!

O golpe de 64está sendo

televisionado?

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E ninguém, em uma sociedade justa e tolerante, pode, sem ser de forma cínica ou perversa, exigir o direito liberal de livre opinião para discriminar, perseguir, maltratar, diminuir, hostilizar. Defen-der posições preconceituosas, racistas, homofóbicas, sexualistas, classistas, discriminatórias etc. não é direito de opinião. É crime. E é crime porque já avançamos no campo das conquistas dos di-reitos ao criminalizar práticas que agridam, desrespeitem o prin-

cípio da igualdade, criem dor e ódio. Não é possível tolerarmos mais essas falas. Não são polêmicas, são criminosas. Definitiva-mente, é premissa: não é justo reivindicar direito liberal da livre expressão para prá-ticas totalitárias e discriminatórias. Isso não é democrático, é retrocesso e deveria ser combatido, não tolerado em nome de um princípio liberal conveniente e muito

menos incentivado.

O recado do Supremo foi claro. Chega de discurso fanfarrão de preconceito e discriminação. Isso vale também para as piadas. Não é engraçado, não é moderno, não é livre. Fazer comentários e piadas às custas da perseguição, discriminação, intolerância e do preconceito é triste, ultrapassado e totalitário. E cada vez mais, esperamos, passível de julgamento e criminalização.

Intolerância e discriminação não podem ser considerados direitos de opinião ou

liberdade de expressão.

“ Fazer piadas às custas da discriminação é triste,

ultrapassado e totalitário.”

Ana Enne é professora do departamento de Estudos Culturais e Mí-dia da Universidade Fe-deral Fluminense (UFF), jornalista formada pela PUC-Rio e doutora em Antropologia pelo Mu-seu Nacional (UFRJ).

ANA ENNE

No dia 5 de maio de 2011, em decisão histórica, o Supremo Tri-bunal Federal, por unanimidade, reconheceu que a união estável homoafetiva é equivalente à união entre heterossexuais, gerando uma série de novas possibilidades, no campo dos direitos, para mi-lhares de cidadãos brasileiros. Foi, sem dúvida, um grande passo, dentre os muitos que ainda precisam ser dados. Mas talvez, nesse momento, essa decisão unânime do maior órgão judicial do país te-nha tido um sabor ainda mais especial, por vir de encontro às falas preconcei-tuosas e arrogantes do deputado Jair Bolsonaro, do PP-RJ que historicamente vem manifestando, em seus discursos e ações, posturas discriminatórias e aviltantes aos direitos humanos e indi-viduais. O episódio ocorrido em março de 2011 é exemplar a esse respeito. En-trevistado pelo polêmico programa CQC, da Rede Bandeirantes (cujos integrantes são pródigos em fazerem piadas também preconceituosas e aviltantes, em nome de um hu-mor supostamente livre e avesso ao “politicamente correto”), Bol-sonaro assumiu, mais uma vez e publicamente, sua homofobia.

Nas redes sociais, os alinhados com a luta contra os preconcei-tos, travaram, após tomarem conhecimento de tais declarações, ferrenha batalha discursiva contra os partidários desses comentá-rios. Sim, pois existem partidários, e eles são muitos. E esse é, por um lado, um dos maiores problemas de falas como a de Bolsona-ro. Elas não são solitárias, ao contrário, elas ganham volume e se adensam em um mar de outras falas e ações preconceituosas, não protegidas pelo cargo político e talvez mais violentas e inconse-quentes, por vezes desaguando em práticas físicas de discrimina-ção e perseguição ao diferente, como nos diversos casos de agres-são gratuita a homossexuais, travestis, prostitutas etc.

O discurso fanfarrônico do deputado histriônico parece só dis-curso, amontoados de palavras e frases. Nada mais inocente do que essa interpretação. Discursos são performativos, palavras que criam mundos, se convertem em atos, principalmente quan-do proferidos por alguém que por um mecanismo qualquer (nes-se caso, o voto) é imbuído de alguma autoridade para proferi-los. Mas mesmo se discursos similares ao de Bolsonaro se limitassem ao suposto mundo simbólico das palavras e imagens, nem assim deveríamos tolerá-los. Discursos preconceituosos também geram desconforto e dor para aqueles que vitimam, pois a discriminação simbólica também é traumática.

Ilustração: Clóvis Lima

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Vírus Planetário - MAIO/JUNHO 2011

*Improvável, mas não impossível.

Estou de volta para contar vocês de um dos maiores even-tos da vida social do Rio de Janeiro, desses que servem

para dividir quem está IN e quem não está. E vocês que são meus leitores (chiquérrimos, com certeza) sabem que quem

não está In, está Out! Estou falando do grande prêmio “Jayr BolsoNazi” de inovação social, assunto que todo mundo está

comentando. Quer dizer, todo mundo que interessa, não é, meus amores?

O prêmio é lançado em homenagem ao grande deputado Jayr BolsoNazi, conhecido por sua atuação contra a promiscuidade

e aqueles que tentam denegrir a imagem da família e dos bons costumes da gente educada desse país. Euzinha aqui entrei pela

porta da frente, com direito a tapete vermelho e tudo. Como não sou boba, nem nada, já fiquei de olho em quem tava lá só para marcar presença e quem eram as estrelas da noite.

Muita gente cochichava quando ela entrou, porque até al-guns anos atrás era impensável que ela aparecesse aqui no

meio dos grandes homens e mulheres desse país, até porque seu mentor (apesar do bom governo) atentou um pouco contra a or-

dem brasileira. Porém ela vem mostrando que mulher sabe botar ordem na casa e tem feito um governo de primeiro mundo para os cidadãos de bem desse país: arriscando um salto alto e um vestido preto do estilista Aleksandro Ércovito, desfilava a presidenta Vilma Houseff.

Não é que depois que fez um retoque aqui e ali e deixou de usar sempre vermelho, Vilma chega a abafar até mesmo a presença de Sério Canalha e Écio Neva, que foram bem discretos. Outro figurão esperado para a noite, Zezinho Sierra, não apareceu; os produtores pediram desculpas porque, parece, es-queceram de mandar os convites para o nosso adorado tucano!

Vamos aos babados: Diego Maynarggi era o favorito para o de inovação da imprensa, mas foi superado por Cakho Barcelona. Maynarggi, que já estava subindo no palco crente que ia receber o prêmio, se revoltou quando anun-ciaram o nome do concorrente, “A vitória de Barcelona demonstra o domínio petralha sobre a organização do prêmio! Foi escolhido um jornalista alinhado com a ditadura lulopetista!”, gritava ele, tomando à força o microfone. O es-cândalo só parou quando seguranças arrastaram Maynarggi para fora da sala. Que papelão!

Um Rio de Bem!Outra fala que foi acompanhada de gostosas gargalhadas foi a de

João Maria Biltramimimi, secretário de alguma pasta que não lembro do Rio de Janeiro. Biltramimimi tentava falar que “Estamos acabando com o problema da criminalidade no Rio de Janeiro”, mas era constantemen-te interrompido por sonoras risadas do governador Sério Canalha, do secretário Rodrigo Battem e de seu braço direito Alain Turnovsky — que foi afastado em uma operação injusta. O prêmio de Biltramimimi foi patrocinado por um consórcio de construtoras e imobiliárias chamado “Um rio do bem é um rio sem pobreza”.

Prêmio “Jayr BolsoNazi” de inovação social

A fama em quinze minutosALÊ DO BEM

Todo mundo já sabia para quem iria o prêmio da cultura, patrocinado pelo ÉCADI — menos a própria pessoa que ia receber! Todos olhavam para a ministra Ananias de Olhanda, que ficou “meio autista” brincando com as ervilhas do seu prato, até que chamaram seu nome. “Desculpa gente, mas acho que ando dor-mindo no ponto”, disse a premiada enquanto todos os empresários na plateia riam. “Queria dedicar esse prêmio aos artistas desse país, como a Maria Infâmia, que merecem uma lei mais justa de direitos empresariais... quer dizer, autorais!”.

Suspense para a premiada

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Vírus Planetário - MAIO/JUNHO 2011

Por

Ele merece! Ele merece! Al’doh Rebola

O prêmio de inova-ção em jornalismo vai para Cakho Barcelona, por seu “Emprego: Re-pórter”. O experiente

jornalista revelou que o que se esconde atrás das câmeras é um simpático ca-

meraman e o que se esconde atrás da notícia

são dedicados repórteres andando de lá pra cá. A única falha do programa é que ele não consegue nos mostrar 24 horas por dia como os repórteres e câmeras fazem seu trabalho, o que pode gerar críticas de espectadores mal intencionados. Mas ele revelou seu novo projeto: um Big Brother só de jornalistas! Só assim para acabar com essas críticas de quem acha que são grandes corpo-rações controlando a informação, ligando a TV e ver como o Cakho trabalha com os fatos! Seu programa sobre os canteiros de obra onde houve greves foi excelente, mostrando que os grevistas vivem muito bem surfando e recebendo por seu trabalho, e não tinham nada que cometer os atos de vandalismo por causa de uma simples briga com um motorista de ônibus!

O Cakho merece: seu programa sobre as gre-ves da construção civil em Jirau, Suape e outros buracos foi excelente, mostrando que os grevis-tas vivem muito bem surfando e recebendo por seu trabalho. 22 mil trabalhadores não tinham nada que cometer atos de vandalismo, ainda mais por causa de uma simples briga com um motoris-ta de ônibus!

Ganhador do prêmio de desenvolvimento agrário por suas propostas de modificações no Código Florestal atual. “O código atual é muito restritivo para os ruralistas, tanto que não era cumprido nem nas cidades nem no campo. É dever do Partidão defender os oprimidos, que nesse caso são os grandes produtores rurais desse país, que têm de enfrentar uma lei criada contra eles, leis trabalhistas restri-tivas e ainda têm de armar seguranças contra os temidos sem-terra”, afirmou Rebola ao receber o prêmio. “Sei que ainda é pouco para melhorar a situação dos ruralistas,

que precisam de juros ainda mais baixos do BNDES, mais terras para plantio e mão-de-obra mais barata (boias-fria estão caros), mas estou fazendo a minha parte”, con-

cluiu o deputado, arrancando aplausos da plateia, principalmente de Régia do Arte.

Gente, babado, gritaria e confusão! Enquanto a gentalha toda (que nunca nem passou perto de London) comentava o casamento da enjoada da Kate com o príncipe Wilian (que, por sinal, vai ficar careca logo, logo), o verdadeiro casamento bafônico foi outro. O plebeu Jairo Bolsonazi e o membro da realeza Sir Malafey aproveitaram a onda de união homoafetiva pra oficializar sua antiga união.

Com a decoração mais luxo EVER, os pombinhos juntaram as escovas de dentes num clima super aconchegante e moderno. Em um porão cheio de simpáticas caveiras e materiais que produzem energia elétrica (para dar o clima de meia-luz), os noivos exibiram um figurino exuberante. Bolsona-zi estava radiante usando sua linda farda do exército. E Malafey não esqueceu a bíblia abençoada na Terra Santa que sempre carrega embaixo no braço. Ah, a sacolinha do dízimo também não poderia faltar, mas, dessa vez, mais chique, feita à mão por costureiras francesas.

Só ficou uma dúvida sobre um elemento estranho da decoração, que ninguém sabia exatamente para que servia. Eram duas madeiras, uma ao lado da outra, e uma paralela ao chão, ligando as duas.

Parecia uma dessas barras que o sa-radões da minha academia usam pra manter o bíceps de boffyscândalo. Questionados sobre esse estranho objeto, os noivos preferiram não comentar. Só disseram que serviu para tornar os interrogatórios do governo militar mais eficientes. Tem fotos do casamento no face, gente! Não percam!

E teve boatos que o Bol-soNazi estava na pior. Se isso é estar na pior, pórrãn! Que que deve ser estar bem, né?

Aldinho come-morou dançando o clássico do É o Tchan, “Segura o Tchan”.

Casamento real

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Vírus Planetário - MAIO/JUNHO 2011

A aventura beira o musical e conversa constantemente com o car-navalesco. As cores e a dança saltam o tempo todo de lugares impro-váveis, como de cinzentas casas de uma favela ou de um segurança que rasga seu fino terno, revelando uma sunga purpurinada antes de cair no samba. O filme nos impõe um ritmo feiticeiro e sedutor, que afeta diretamente seus personagens. Pouco a pouco, tanto Blu como sua dona estão envolvidos por um encanto do Rio, deixam de lado a caretice de suas vidas no interior dos EUA e despertam para um lado vibrante, colorido e selvagem.

Não há um segundo do filme que não seja recheado de paisagens ou atrações turísticas, saltando aos olhos de Blu ou de Linda. Eles ater-rissam em um aeroporto que parece ser vizinho à praia de Ipanema, trafegam por casas do Centro Histórico com calçadas de Copacabana, enveredam por exuberantes florestas virgens – que ficam ao lado das espantosas favelas —, isso quando não estão no exuberante carnaval. Tudo o que se passa fora da história principal parece dirigido por uma agência de turismo, que teve o cuidado de contratar um bom diretor para que o filme não fosse mais um panfleto. Na telinha, a cidade vira uma Disneylândia de carnaval, samba, selva e mulheres rebolantes — além de um fascínio por uma pobreza malandra ou por nativos simpá-ticos.

Máscaras de carnaval, brindes do MC lanche, embalagens de ce-real e o desfile da escola de samba do Salgueiro se reuniram em torno de um único tema, um filme com o singelo nome de “Rio”. Até o prefeito Eduardo Paes do Rio de Janeiro participou da promoção da animação, entregando as chaves da cidade para a o protagonista, um arara azul chamado ‘Blu’, e para o diretor, o brasileiro Carlos Saldanha — co-nhecido pela trilogia ‘Era do Gelo’. Segundo a Folha de São Paulo, a divulgação do filme foi o maior investimento dos estúdios Fox no Brasil, com investimento de U$$74 milhões no mundo todo por parte de seus parceiros, sem contar a participação da estatal brasileira Rio Filme, que só no carro alegórico do Salgueiro investiu R$3 milhões. A expectativa em torno de “Rio”, portanto, é a de que seja não só uma história, mas também um cartão postal em 3D da cidade, que se prepara para rece-ber a Copa do Mundo 2014 e as Olimpíadas 2016.

Não dá pra descontar que como filme, “Rio” é uma narrativa cativan-te e que ‘Blu’ é um protagonista muito simpático. O arara é sequestrado ainda criança e levado para uma vida pacata em Minnesota com sua dona Linda. Quando descobre que é a única esperança de sua espé-cie, Blu volta para sua terra para se encontrar com Jade, a última fêmea entre as araras azuis. No meio do embalo, os dois vão parar novamente nas mãos dos contrabandistas de aves. A ‘base’ dos vilões da história, como não podia deixar de ser nesses filmes ‘pra gringo ver’ sobre o Rio, fica em uma favela.

Por Seiji Nomura*

Bula cultural algumas recomendações médico-artísticas

Entre Bundas, Araras e

DisneylândiasAnimação “Rio” tenta fugir do óbvio, mas reforça uma visão

excludente de ‘cidade maravilhosa’

Divu

lgação

*colaborou Pedro Henrique Barros8

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Vírus Planetário - MAIO/JUNHO 2011

Olhares estrangeirosÉ difícil não se lembrar de outras produ-

ções estrangeiras sobre o Rio, como o epi-sódio-incidente-diplomático dos Simpsons e filmes como ‘Feitiço do Rio’, Blame it on Rio, no original. Logo se percebe que a nova animação até que renova, mas muito pouco. Nessas narrativas, a cidade era a terra para onde fugiam os bandidos e os ávidos pelo turismo sexual, lugar onde as pessoas são menos ‘civilizadas’ e mais espontâneas ou onde driblam cobras no meio das ruas (ou onde mulheres amortecem pássaros em suas bundas), a maior parte disso está presen-te em ‘Rio’, sob uma roupagem diferente. É preciso tirar o chapéu para Carlos Saldanha pela sátira da ideia do turismo sexual e da ‘mulher fácil’, subvertendo a relação entre Blu e Jade, quando ele vem para o Brasil só para “se reproduzir” e acha que ela também pensa assim. Mas é triste a cena dos macacos rou-bando os turistas por diversão e ostentação, usando street dance para distraí-los.

Se o Zé Carioca foi criado em tempos em que os estadunidenses instituíram a “política de boa vizinhança”, buscando afastar os paí-ses da América Latina da influência comunis-ta através de pequenas concessões e agra-dos, Blu é criado em outro contexto. Agora, a grande razão para voltar os holofotes para o Brasil é o papel que o país vem assumindo como parte dos Brics (Brasil, Rússia, Índia e China, países que puxam o desenvolvimento

do capitalismo mundial) e, no curto prazo, o maior filão para o grande capital são a Copa do Mundo 2014 e as Olimpíadas 2016. O Rio de Janeiro de “Rio”, depois que passa a sua narrativa simples, fica como mais um grande sonho a ser consumido por turistas, tal como é a ideia de uma savana em um país africano ou restaurantes chiques em Paris.

Produções como essa ou as campanhas em torno das Olimpíadas e do “Rio, uma mar-ca do Brasil”, além de publicidade, ajudam a justificar mudanças na organização da ci-dade e no direcionamento dos investimentos públicos e privados. É o caso de remoções na Vila Autódromo, na Lapa ou em outros pontos da cidade, bem como uma das razões para o enorme gasto com reformas no Sambódromo e no Maracanã, para citar alguns exemplos. Neste último, haverá redução maciça dos lu-gares disponíveis (A Veja coloca a previsão de que passará de 86 mil para 76.5 mil assen-tos) e aumento de preços — mostrando que as mudanças não se dirigem à maior parte da população carioca...

Como mostram os investimentos do pri-meiro parágrafo, o alvo das imagens também são os que vivem no Brasil. Os cariocas do fil-me não são servos estúpidos e nem comple-tos selvagens irracionais, são sim sedutores e

espertos, belos e corajosos — ainda que um pouco desajeitados — muito como nós gosta-ríamos de nos ver. Refletem o que cada um de nós pode ser, ao se integrar ao circuito da glo-balização e do turismo, lucrando com a vinda dos estrangeiros ou arrumando um emprego em um hotel ou agência ou simplesmente recebendo alegremente os novos visitantes. O que não é exibido na tela é que todo esse processo exclui a maior parte da população ao menos parcialmente, reservando o grosso do lucro para grupos empresariais. A maioria dos cariocas só assistirá aos jogos olímpicos através da TV, como é o caso do carnaval do sambódromo.

Na hora de sermos gentis com os turistas, de votarmos ou de comprarmos nas empre-sas, todos somos cariocas ou brasileiros. Quando o assunto é definir as prioridades do Estado ou das empresas privadas, ou no mí-nimo uma socialização dos lucros, só alguns de nós participamos da “festa”. Longe de ser exceção, é a regra do capitalismo internacio-nal, insustentável e desigual.

“Não há um segundo do filme que não esteja recheado de

paisagens turísticas, mas ele foge de ser um panfleto”

Esse cenário maravilhoso que a ararinha azul Blu admira é maravilhoso para todos?

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Vírus Planetário - MAIO/JUNHO 2011

Bula cultural algumas recomendações médico-artísticas

Ayed Morrar e Júlia Bacha dão o tom no documentário “Budrus”, dentro de um formato de produção independente (com baixo orça-mento e sem o financiamento de algum estú-dio), contou com a própria Júlia, Ronit Avni e Rula Salameh. Ayed é um militante pacifista e representa o vilarejo, situado na Cisjordâ-nia, que serve de título à obra; e Bacha é a diretora, brasileira, que estudava História do Oriente Médio na Universidade de Colúmbia e já tinha feito outros documentários sobre a região.

Mas Júlia também estava se preparando para começar o Mestrado na Universidade de Teerã, quando soube que não obteria o visto do governo local, depois de esperar um ano. Então, ela aceitou o convite para editar 250 horas de gravação, material da Al-Jazeera (rede muçulmana de te-levisão, com sede no Catar), que resultaram no documentário “Sala de controle” (2004). Em seguida, veio “Ponto de Encontro” (2006), do qual ela foi co-diretora com Ro-nit Avni. Até que, em 2009, Júlia, Ronit e Rula lançaram “Budrus”, que retrata a história de um movi-mento não-violento surgido em um vilarejo palestino cuja população es-tava prestes a ver sua principal fonte de renda – a plantação de oliveiras – ser destruída por tratores do Exército de Israel.

Diante desse drama, Ayed Morrar, que no documentário e no cotidiano representa a resistência palestina em Budrus, conseguiu o apoio de militantes israelenses a esta cau-sa, além de neutralizar qualquer divergência entre os próprios palestinos, sobretudo nas figuras do Hamas e do Fatah. Com o intuito

de criar uma força-tarefa que fosse capaz de se opor, sem violência, ao avanço devasta-dor das máquinas que estavam a serviço do Exército – e não menos do Estado – de Israel, Morrar obteve um feito nunca alcançado por qualquer governante, israelense ou palestino.

A articulação com judeus israelenses, ativis-tas dos direitos humanos como ele, junto com moradores de Budrus e vilarejos próximos e membros do Fatah e do Hamas, impediu a destruição das oliveiras e a construção de uma cerca que passaria dentro de Budrus, se estendendo pela escola e cemitério locais.

Ao fim de tudo, foi alcançado o propósito de Morrar. Em discursos ao longo do filme, ele enfatiza que “é do interesse do povo palestino

trilhar o caminho da resistência não-violenta”. Nem por isso, deixou de haver derramamen-to de sangue, devido aos tiros e bombas jogados pelos militares israelenses, que em contrapartida recebiam pedras e palavras-de-ordem. A toda tentativa de parar os tra-

tores usados na destruição das oliveiras, homens e mulheres, jovens e idosos eram interpelados de forma brusca pelos soldados.

O desequilíbrio de forças nos per-mite entender que há muito chegou o momento da fundação de um Es-tado Nacional Palestino, afinal, ainda hoje, este é o sistema político que rege a vida dos povos soberanos. E se a soberania pode não assegurar

a um povo que o governante de outro país invadirá as suas terras, para Ayed Mor-rar a não-violência continua sendo a melhor, ou única, solução para qualquer conflito. Até porque, como ele diz, “é preciso esvaziar nos-sas mentes do pensamento tradicional”.

Por Daniel Israel

Do outro lado da fronteira

Em “Budrus”, a não-violência foi usada

para solucionar mais um capítulo do

conflito palestino-israelense

Acesse nosso site: www.virusplanetario.com.br para mais dicas de documentários e vídeos relacionados a Budrus

“O desequilíbrio de forças nos permite entender que há muito

chegou o momento da fundação de um Estado Nacional Palestino.”

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Page 11: 10ª edição Vírus Planetário

ContraindicaçõesBanco da ÁrvoreNeutralize suas emissões diárias de gás carbônico – que não é o principal poluente da at-mosfera, mas o gás metano (CH4) – ao comprar créditos de carbono e bancar – literalmente – a compensação pelo ar condicionado ligado ou o carro usado para trabalhar. Este é o lema da aberração acima, só que, como o ecocapi-talismo não existe, afinal ou o indivíduo adota uma pos-tura ecológica, ou capitalista, o Banco da Árvore é obra de alguém que queria lucrar da forma mais rápida. Ainda assim, a pior parte fica por conta da instituição que audi-ta essa anomalia: a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, vinculada à USP. Olhe para a esquerda antes de ir a fundo em www.bancodaarvore.com.br.

IndicaçõesLivro “A história das cores

Escrito pelo subcoman-dante Marcos e ilustrado por Domitila “Domi” Do-mínguez, o livro relata o surgimento do mundo a partir de uma lenda dos povos nativos de Chia-pas, no México, onde está refugiado o Exército Za-patista de Libertação Na-cional (EZLN). A obra está pautada no ideal de que

“o mundo será alegre se todas as cores e todos

os pensamentos tiverem seu lugar”. Marcos e

Domi apresentam ideias antiglobalização, den-

tre as quais a preservação cultural dos povos

originários.

Caravanas EuclidianasProjeto organizado pelo jornalista Noil-ton Nunes e exibido na TV Comunitá-ria do Rio de Janei-

ro apresenta a jovens que moram em regiões

carentes e estudam em escolas públicas a im-

portância da obra “Os sertões”, de Euclides da

Cunha. Eles têm contato com o processo de

transformação pelo qual passou o autor, que,

no início da repressão à Vila de Canudos, che-

gou a apoiar o governo brasileiro. Ao final do

encontro, cada estudante recebe um exemplar

do livro.

Manifesto EcossocialistaComo se vê, o documento é uma crítica ao “desenvolvimento sustentável” de-

fendido pelo sistema capitalista. Como escre-

veu Leonardo Boff, “não pode haver sustenta-

bilidade e desenvolvimento econômico”. Mili-

tantes como o escritor Michael Löwy são signa-

tários deste documento, que, em seu segundo

parágrafo, sustenta que “as crises ecológicas e

o colapso social deveriam ser vistos como ma-

nifestações diferentes das mesmas forças es-

truturais”.

Para ler, acesse o link: http://va.mu/DRv

Livraria

Livros do Mundo desde 1952

Av.Rio Branco, 185, subsolo, Centro.Rio de Janeiro - Tel. 21 - 2533-2237

www.leonardodavinci.com.br

Desde 1952, os livros queinspiram as cabeças do

mundo estão aqui.

ingerir em caso de marasmo ingerir em caso de repetição cultural

ingerir em caso de alienação

POSOLOGIA

manter fora do alcance das crianças nocivo, ingerir apenas com acompanhamento médico

extremamente nocivo, não ingerir nem com prescrição médica

Page 12: 10ª edição Vírus Planetário

Vírus Planetário - MAIO/JUNHO 2011

Era óbvio. Em algum momento consegui-riam matar Osama Bin Laden. Não vejo nada de tão surpreendente ou especial no evento em si. Já os reflexos que essa morte gerou na sociedade norte-americana – as reações, as comemorações, o discurso do presidente, etc. – merecem reflexões mais cuidadosas. As motivações e desdobramentos de toda essa comoção social, que lembra a come-moração da vitória de uma guerra, po-dem dizer muito sobre os próximos passos da política externa dos EUA, e consequentemente do jogo da geopo-lítica mundial.

O discurso do presidente Obama teve um duplo ob-jetivo. O primeiro é o de estabelecer a mor-te de Bin Laden como uma vitória justificadora de todos os esforços da última década. Fo-ram mais ou menos 920 mil mortes, dez anos de esforços militares e duas guerras “conven-cionais” para se chegar à morte do terrorista. E agora, tudo isso é justificado logo pelo pre-sidente que, em sua campanha, tanto criticou os gastos, as mortes etc. Beira ao ridículo perceber como uma questão que era comba-tida na campanha eleitoral passou a ser, com a morte de um homem, o maior instrumento de propaganda do atual governo norte-ameri-cano. Talvez se trate de uma boa lição para os que ainda creem que os democratas podem trazer uma esperança plausível de uma po-lítica minimamente progressista nos Estados Unidos. Neste sentido, é bastante pedagógi-co para os crédulos que dois expoentes da ultra-direita norte-americana, Rush Limbaugh e Glenn Beck, amanheceram, em seus res-pectivos programas de rádio, agradecendo a

mundo

Política externa dos EUA, “consagrada” com morte de Bin Laden, revela que a mudança

de Obama, eram apenas cartazes muitos bonitos, mas enganosos.

Por Rodrigo Santaella

Deus pela existência do presidente Obama e parabenizando veementemente o presidente.

O outro viés do discurso presidencial, e talvez o mais assustador, é o da busca inces-sante por novas desculpas para continuar o processo de invasão, massacre, ocupações – sem esquecer é claro do enriquecimento e acumulação – dos Estados Unidos no Oriente Médio. As desculpas, principalmente no mun-do atual onde a informação circula de forma absurdamente rápida, não têm um prazo de validade muito longo. Bin Laden já estava es-

gotando o seu, e a prova disso é que a captura e o assassinato do terrorista não abriram espaço, em nenhum momento, para um discurso de ame-nização da “guerra ao terror”. Agora é preciso “nos manter vigilantes”, “continuar na caça dos terroristas”, “lutar dia após dia pelos valores americanos”, etc. Come-

çam a surgir teorias que oportunamente mostram que

Bin Laden não era mais a cabeça pensante da Al-Qaeda, e que o egípcio Ayman al-Za-wahiri já liderava a organização há algum tempo. Ele, seguramente, passará ao estrelato mundial como novo grande alvo, nova justificativa para o que quer que seja.

Entretanto, dentre tudo que trouxeram essas quase 24 horas passadas desde a morte de Bin Laden, o mais assustador é a re-ação da sociedade norte-ameri-cana. É assustador ver milhares de pessoas nas ruas, muitas delas muito jovens, que eram crianças em 2001, celebrando apaixona-damente a “vingança norte-ame-ricana”, a “justiça que foi feita”. Algumas situações denunciam o perigoso processo de “fascis-

tização” da sociedade norte-americana: a veemência da comemoração – os gritos de “USA, USA, USA” vararam a madrugada – e os pedidos para que o jogador de basquete Chris Douglas-Robert, saísse do país por ter se recusado a comemorar a morte de Bin La-den. A população do país mais poderoso do mundo dá sinais de que segue caminhando em direção a um destino bastante perigoso, no qual a aniquilação do outro é o horizonte permanente.

Morre Osama Bin Laden, mas mantêm-se vivos os fundamentalismos do mercado e da religião. Com as celebrações, a sociedade dos EUA não só coaduna com essa manuten-ção, como fortalece esses fundamentalismos.

Em tempo: em um mundo onde tudo é mercadoria, lê-se a seguinte manchete: “Bol-sas e petróleo em alta após a morte de Bin Laden”.

Retratos de uma sociedade que é a cari-catura dos tempos em que vivemos.

Pouco mais de um mês antes da declaração da morte de Osama Bin Laden, no dia 18 de março, véspera da chegada de Barack Obama ao Rio de Janeiro, centenas de manifes-tantes marcharam até o Consulado norte-americano.

Acesse nosso site para saber como foi a prisão por três dias de 13 manifestantes, relatadas nessa história: http://va.mu/DqD . A HQ ao lado conta um pouco sobre este fato.

Será que ao ver tamanha astúcia de Cabral América aqui no Rio, Obama mandou nosso glorioso herói para matar Bin Laden?

“É assustador ver milhares de pessoas nas ruas celebrando apaixonadamente a ‘vingança norte-

americana’.”

Charge: Carlos Latuff

Aonde foi parar a mudança?

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Page 13: 10ª edição Vírus Planetário

Vírus Planetário - MAIO/JUNHO 2011

Por Clóvis Lima

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Vírus Planetário - MAIO/JUNHO 2011

Por Caio Amorim e Vinicius Almeida

Foto: Caio Amorim

Há exatos dez anos, Petkovic fazia o gol de falta que ia dar o tri-carioca para o Flamengo e lhe consagrar como

um dos maiores ídolos da história rubro-negra. O que Pet não imaginava é que ia também ser ídolo de outras duas

grandes torcidas cariocas, a tricolor e vascaína. Prestes a fazer seu jogo de despedida pelo Flamengo, marcado

pra dia 5 de junho contra o Corinthians, Pet falou sobre socialismo, sua vida na Sérvia e as mudanças no futebol.

esportes

ENTREVISTA:

Petkovic

Como foi viver em um país socia-lista? Como você se definiria politi-camente?

Petkovic: Quando eu era criança, era muito bom para viver. Porque você não tem preocupações, só se diverte e vai à escola. E a vida socialista é boa porque todo mundo vive bem, os impostos são todos aplicados realmente nos serviços sociais. Todo mundo vive da mesma ma-neira, tem um bom salário. E essa é a parte boa vivida por algum tempo. Mas muito em breve, a região da Iugoslávia se tornou toda capitalista, e nossa manei-ra de vida começou a incomodar. Todo mundo tinha terminado a escola, tinha emprego , mas o mundo começa a se glo-balizar e você quer ser melhor, quer ter mais. Quando aconteceram as mudan-ças, começaram os interesses econômi-cos, políticos, e aí criou-se a desestabili-dade no país. Começaram os problemas da etnia, da religião, uma avalanche. A Sérvia é um país que agora quer privati-zar as coisas, virar capitalista.

Todas essas mudanças, que já nos últi-mos 20 anos aconteceram, conturbaram muito o país e geraram muitos danos às pessoas, no seu modo de viver. Eu não me defino porque eu não sou membro

de nenhum partido político nem na Sér-via, nem aqui. Mas eu sou um cidadão que quer o melhor para a cidadania. No mundo ideal, o socialismo é perfeito. En-tão, vamos dizer que seria ideal se a gen-te vivesse em um mundo que todo mun-do trabalha, tem a mesma pró-atividade e que sejamos todos

iguais. Temos que dar as mãos uns aos outros, querer ser iguais em direitos de aprendizagem, de ter acesso à informação, de ter a sua expressão de liberdade. Isso é o mundo socialista de verdade. Este é o mundo que seria muito bom, o socialismo destes direitos: do estudo, da informação orien-tação, livre expressão.

Como você está vendo a prepara-ção do Brasil para os eventos espor-tivos?

Petkovic: Acho que esses eventos, que vão ser grandes para o Brasil e para o Rio de Janeiro principalmente, como a Copa do Mundo e as Olimpíadas, estão indo em um ponto fundamental desse cres-cimento, do Brasil como país e potência mundial da economia. Vai ser gasto o dinheiro público e, obviamente, vai ter desperdício em algumas coisas, gastos exorbitantes, como acontece nos outros países, mas há resultado final. Isso é fundamental. E eu acredito, claramente, que o Brasil vai conseguir isso. Que o Rio de Janeiro, principalmente, vai conseguir se tornar a cidade maravilhosa em todos os sentidos, depois das Olimpíadas. A infra-estrutura no Rio de Janeiro até hoje não acompanha esse sinônimo de mara-vilhosa. Essas Olimpíadas vão puxar isso. O importante é que não seja ruim e que a gente comece a progredir..

A que você atribui ao fato para você não ter sido bem recebido por todas as torcidas por onde passou?

Petkovic: Primeira coisa que eu me or-gulho muito é ter sido ídolo de três torci-das (Flamengo, Vasco e Fluminense) do Rio de Janeiro, isso não é fácil. Confirmando a tese de que tem essa admiração por meu trabalho, tantos anos desse privi-légio, é em grande parte da minha con-duta profissional, minha dedicação que conquistou admiração das torcidas e dos amantes do futebol. E também a compe-tência tem que ir junto, porque sem ela, não há tanta admiração. Quando eu saí do Flamengo, eu não queria. Queria en-cerrar minha carreira no Flamengo. Mas eu tive que sair, e temia a recepção do

“Eu me orgulho

muito de ter sido

ídolo das torcidas

do Flamengo, Vasco

e Fluminense.”

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Page 15: 10ª edição Vírus Planetário

Vasco, porque estava sendo chamado de “carrasco do Vasco”. Mas fui muito bem recebido lá. Depois fui para o Fluminen-se, mas lá já foi mais natural a minha ida. Porque eu fui quando voltei da Ará-bia, é diferente. E agora, estou vivendo esse momento nove anos depois, vou en-cerrar minha carreira no Flamengo.

Você falou desta mudança, como você enxerga os interesses que muitos empresários têm nesses times,como você enxergou isso ao longo da sua carreira?

Petkovic: O futebol também sofreu mudanças desde a minha chegada aqui, como tudo. Mudou com a lei Pelé,e agora, o futebol brasileiro já se tornou compe-tente até na parte econômica, que antes não era. Tinha muito pouco dinheiro e, agora, tem mais investimento. Tem pro-tegidos em todas as áreas, os que levam mais e melhor. Se gosta de um jogador e do outro não se gosta. A livre expressão e paixão pelo futebol leva todos nós a dar-mos pitacos, somos técnicos, fazemos melhor, discutimos o futebol. Todo bra-sileiro entende e isso já tem no sangue.

Você acha que os clubes podem ajudar na educação dos jogadores?

Petkovic: Claro! E estão fazendo. Vá-rios clubes estão investindo em cursos de inglês para os jogadores, para apren-der a falar, e se preocupam. Logicamen-te, não dá para fazer de uma hora pra outra, porque precisa criar essa infra-estrutura.

Você se considera um jogador me-lhor por conta da educação que você teve na Europa?

Petkovic: Muitos craques e ex-craques não tinham isso, mas tinham um dom. A parte física conta muito. Você pode ser o malabarista da bola, mas se não tem preparo físico, não dá. Então, tem que haver treinamento, tem que melhorar as suas competências também junto a um grupo. É um conjunto, você tem que ter velocidade, corte, arranque. Precisa saber conviver com o seu companheiro, aceitar o erro dele e concordar com as suas virtudes e vice-versa.

“ Temos que dar as mãos uns aos outros, querer ser iguais em direitos.”

Falando um pouco da sua carreira, quais são seus planos? Você preten-de ser dirigente? Fale sobre o docu-mentário sobre sua vida.

Petkovic: O documentário foi lançado na Sérvia no dia 4 de maio e, no Brasil, vai ser dia 26 de maio. Esse é o planeja-mento mais breve, mais recente. Depois, a despedida do Flamengo vai acontecer aqui, vai acontecer na Sérvia também. Aqui, e na Sérvia também contra o Es-trela Vermelha, no Marakana (estádio de Belgrado nomeado em homenagem ao estádio carioca), a data não foi defi-nida ainda, mas já está se falando sobre isso. E, bom, quando parar realmente, no futuro, vou ser um técnico e ver coisas como a honorífica e cônsul honorário da Sérvia, como presidente da câmara de comércio.

Quais jogadores você conside-ra que reproduzem esse exemplo de profissionalismo, de seriedade com o futebol, além da capacidade técnica? Você acha que é ídolo para novos jo-gadores de futebol?

Petkovic: Meus ídolos foram Zico e Mi-chel Platini. O Zico, além do jogador, tam-bém é uma pessoa muito boa que está um fazendo um trabalho maravilhoso como técnico, um exemplo a ser segui-do. O Michel Platini também tem uma vida profissional muito boa depois da sua carreira como jogador, como diretor de futebol e comentarista esportivo na TV. Antigamente, eu não prestava atenção na conduta profissional de um ídolo, só

na sua maneira de jogar, mas eles tam-bém foram exemplos na vida. E, hoje em dia, especialmente no Brasil, os jogadores estão mais profissionais. Acho que te-mos que substituir um costume ruim por um bom, mostrando exemplos positivos. Eu quero, no futuro, dar esse exemplo, eu quero que crianças se espelhem em mim, não só como o bom jo-gador Pet, mas também como o cidadão Pet, com uma vida so-cial, profissional exemplar, um bom pai e um bom cidadão.

Foto: Caio Amorim

Pet em ação por diversos times do Brasil. À direita, levanta o prêmio que ganhou como

melhor meia esquerdo no Brasileirão de 2009. Fotos: site oficial - www.petkovic10.com

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Vírus Planetário - MAIO/JUNHO 2011

Como essa instrução é efetiva junto aos filhos das classes abastadas e tende a “guetificar-se” em face de um mundo exter-no potencialmente “duro”, não se pergunta sobre crise de autoridade ou sobre violência latente. A violência se torna de fato irruptiva e endêmica nas escolas situadas em zonas “desfavorecidas”, onde é grande a amplitude das desigualdades sociais. A violência esco-lar é, assim, também um fenômeno da exclu-são social.

Apenas repercutir a superfície narrativa da tragédia é entregar-se à atração do pâni-co latente e perder a ocasião de refletir sobre o porquê desse excesso de violência contra a escola, lugar sobre o qual os antigos ide-ais educativos depositaram esperanças en-quanto comunidade-máter da socialização republicana. Agarrar-se às metáforas da pura monstruosidade do assassino é a hipocrisia neoliberal dos editores.

O que pensa a grande imprensa?!

A chacina e o pânico da mídia

Em seguida à tragédia da escola em Re-alengo, o advérbio “talvez” tornou-se o pro-tagonista das narrativas jornalísticas sobre o acontecimento. Como na realidade são muito obscuras as causas reais do que se passou, a mídia tenta aplacar a angústia da motivação vazia com um sem-número de explicações oriundas dos discursos compe-tentes (psiquiatras, psicanalistas, sociólogos, articulistas etc.) que, apesar de razoáveis construções argumentativas, redundam inevi-tavelmente no “talvez”. Acreditamos que não poderia ser de outra maneira: a passagem ao ato do serial killer é aquilo que os lógico-ma-temáticos chamam de “indecidível” quando se deparam com determinados problemas de computabilidade sem saída.

A partir desse vazio, a mídia resvala inad-vertida ou deliberadamente para a instilação do pânico social. Na tentativa de exaurir o assunto antes que se esgote o ciclo (geral-mente curto) de atenção pública inerente a um noticiário, os jornais esmiúçam detalhes, entrevistam vizinhos e autoridades, recons-troem topograficamente o itinerário da chaci-na. As revistas semanais carregam nas tintas retóricas do texto, à beira da sub-”literatura” cinematográfica. Na capa da Veja, o título “O monstro mora ao lado” é o pastiche aterrori-zante de alguns blockbusters à disposição dos consumidores nas locadoras de deve-dês.

Pânico – e não medo – é o termo correto para o fenômeno. Embora seja preferencial-mente utilizado nas situações descritas como “catastróficas” (terremotos, inundações, in-cêndios etc.), ele se espraia, entretanto, por modalidades diversas caracterizadas por in-tenso terror subjetivo e por temor contagiante de perigo. Não se define, pois, por um estado emocional específico, e sim por uma deses-truturação de conduta, que tanto pode ser irruptiva (como quando se tenta escapar de um prédio que desaba) ou latente.

O medo é outra coisa: desde O Leviatã (de Thomas Hobbes), é aquilo que mantém o vínculo pacífico e virtuoso dos homens, de tal maneira que o governante “deve dispor das forças necessárias para suscitar o terror que

leve a vontade dos indivíduos à conformidade e à concórdia”. Estaria, portanto, como força agregadora, no próprio vínculo comunitário: “Longe de ser sem objeto, esse medo é o próprio objeto do desejo que funda o grupo e o confunde” (Daniel Sibony, psicanalista francês).

Opção dos editoresO bullying, tema agora recorrente na mí-

dia brasileira, é fenômeno muito antigo, que aumenta na razão inversa do decréscimo de autoridade dos professores. Autoridade não é poder coercitivo, mas o crédito disciplinar advindo de um reconhecimento que Estado e sociedade atribuem à docência. A crise dessa autoridade equivale à crise da educa-ção enquanto processo de socialização dos jovens na direção de uma cidadania reflexiva e criativa. Na escola que apenas “informa” – tendência crescente na privatização do ensi-no, onde estudante é redefinido como “clien-te” – a educação cede o lugar a uma ambígua “instrução”, sem qualquer ideal republicano.

Hipocrisia de editores diante do massacre em realengo pode impedir a reflexão necessária sobre o

papel da escola na sociedadeRaquel Paixa e Muniz Sodré são Jorna-

listas, escritores e professores da Escola de Comunicação da Universidade Fede-

ral do Rio de Janeiro (UFRJ)

RAQUEL PAIVA E MUNIZ SODRÉ

Ilustração: D

ébora Vaz - w

ww

.rabiscosdad

ebora.blogspot.com16

Page 17: 10ª edição Vírus Planetário

Vírus Planetário - MAIO/JUNHO 2011

A necessidade criada pelo consumo em excesso e a fragilidade do suposto “risco zero” das usinas nucleares

Recentemente, o mundo se comoveu com um grande desastre natural que abalou o Ja-pão. Devido ao terremoto, uma das principais centrais nucleares do Japão, localizada em Fukushima, foi afetada, causando um dos maiores acidentes nucleares da história. O acidente na usina de Fukushima levantou um sério questionamento: afinal, as usinas nucle-ares, que correspondem a menos de 3% de toda a geração de energia no Brasil, são real-mente necessárias?

O Greenpeace desenvolveu um estudo que levou em conta o atual panorama energé-tico brasileiro e o PIB médio previsto para as próximas décadas. A organização chegou à conclusão de que o país precisará aumentar a matriz energética em, pelo menos, quatro vezes.

Atualmente, as hidrelétricas possuem a participação mais significativa na geração de energia elétrica no Brasil, alcançando quase 80%, segundo a Agência Nacional de Ener-gia Elétrica (ANEEL). O presidente da Asso-ciação Brasileira de Energia Nuclear (Aben), Edson Kuramoto, argumentou que a diversi-ficação da matriz energética brasileira é fun-

damental para suprir a demanda do país no futuro. “As usinas nucleares são importantes porque, a partir de 2025, quando o nosso po-tencial hidráulico se esgotar, o país precisará de alternativas que gerem energia em grande escala e que dêem segurança ao sistema elé-trico nacional”, explicou. Isto é possível devi-do à riqueza do solo brasileiro que, segundo Kuramoto, possui a sétima maior reserva de urânio do mundo. Em termos energéticos, “é comparável ao pré-sal brasileiro”, completou.

Os críticos ao uso desse tipo de energia dizem que não há como garantir risco zero no desenvolvimento nuclear. O que mais assusta é a gravidade dos acidentes. Um simples va-zamento, por menor que seja, expõe a popu-lação ao risco de contaminação por radiação, que causa uma série de doenças como cân-cer, má formação fetal, aborto, síndrome gas-trointestinal e problemas de sistema nervoso.

De acordo com o Greenpeace, no caso de acidentes, a energia renovável tem uma grande vantagem. A organização afirma que, por mais que existam riscos de acidentes em uma hidrelétrica, é possível remediar os ris-cos e aproveitar a mesma área para outros fins. Isso não é possível no caso nuclear, já que os rejeitos são uma preocupação mesmo após a desativação de uma usina.

Ao contrário da geração de energia solar e eólica, as usinas nucleares não dependem de fatores externos para funcionar. “É preciso ha-ver um suporte para substituir essas alternati-vas, que são intermitentes”, alega o presiden-te da Aben. Para coordenador da campanha de energia do Greenpeace no Brasil, Ricardo Baitelo, construindo usinas nucleares, o país tem de lidar com elas por cerca de 50 anos, e com seus rejeitos por milhares de anos. “Não existe uma solução arquitetônica e científica que garanta a estocagem desse rejeito por tanto tempo de uma maneira invulnerável para o meio ambiente”, esclareceu.

Apesar de não dependerem de combus-tíveis fósseis e por isso não gerarem direta-mente gases de efeito estufa, o lixo nuclear ainda gera muitas dúvidas. Há quem diga que mas são necessários milhares de anos e monitoramento para armazenar o lixo nuclear até que ele tenha se decomposto totalmente. Todo o material radioativo descartado das usi-nas em Angra fica armazenado dentro de re-servatórios dentro do Complexo, porque não existe um destino final seguro para o material.

Para Ildo Sauer, coordenador da pós-gra-duação em Energia do Instituto de Eletrotéc-nica e Energia da Universidade de São Paulo (USP), o governo deveria cancelar a constru-ção da nova usina, Angra 3. Sauer afirma que investimentos em energia eólica, solar e de

mundo >> meio ambiente

Por Júlia Bertolini, Maria Luiza Baldez e Mariana Gomes

Vale a pena o risco?

Ilustração: C

arlos Latuff

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Page 18: 10ª edição Vírus Planetário

Vírus Planetário - MAIO/JUNHO 2011

biomassa, pequenas centrais hidrelétricas e um pequeno investimento em energia térmi-ca são suficientes para atender a demanda brasileira prevista para 2040, já considerando os cálculos do IBGE de estimativa de cresci-mento populacional para daqui a 30 anos. O engenheiro nuclear disse ainda, em seminário na UFRJ dia 26 de abril, que as usinas nucle-ares previstas pelo governo federal custarão cerca de 40 bilhões de reais e que apenas metade desse valor investido em fontes re-nováveis seria suficiente para suprimir a de-manda brasileira. Sauer ressaltou os riscos do armazenamento de lixo radioativo que hoje somam cerca de mil toneladas de lixo tóxico.

Alguns especialistas dizem que as regras de segurança brasileiras são consideradas efi-cazes, mas não são cumpridas e fiscalizadas com rigor, o que ampliaria os danos em caso de um possível acidente. Os treinamentos com a população que vive na área próxima à usi-na em Angra deveriam ser feitos a cada dois anos. No entanto, a maior parte da população nem sabe que eles existem e com que fre-qüência são realizados. Para aumentar a preo-cupação, já se admitiu que estão previstas as construções de outras usinas nucleares – mas não se sabe ainda com precisão onde serão instaladas e qual o montante do investimento.

O presidente da Aben afastou a ideia de que as fortes chuvas e os deslizamentos, ca-racterísticos de Angra dos Reis, possam afe-tar de algum modo o funcionamento das usi-nas. Para ele, a situação territorial de Angra não afeta a segurança. “Foi feita uma análise de risco de inundação, considerando fortes chuvas ou até ondas de cinco metros de altu-ra e não há riscos de inundação nos prédios da usina. Há um estudo de deslizamentos das encostas que ficam por perto e, caso acon-tecesse um deslizamento, ele não atingiria a usina”, afirmou.

A luta contra a energia nuclear no Brasil começou em 1990, quando ativistas e a po-pulação já se reuniam em volta da usina nu-clear em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, e tentavam impedir o que foi o marco inicial do investimento brasileiro em energia nuclear. A primeira usina nuclear brasileira fica há cerca de 320km de São Paulo, maior metrópole do país, e 190km do Rio de Janeiro. Atualmente são cerca de 170 mil moradores em um raio de 20km entre as duas usinas, Angra I e An-gra II, e um único acesso terrestre para sair da região. Por um lado, a proximidade das usinas dos grandes centros permite a eco-nomia na distribuição da energia. Por outro, dificulta alternativas de emergência em casos de vazamento ou outros acidentes nucleares.

Desde o início do interesse nacional pelo desenvolvimento de energia nuclear, nos anos 50, o Brasil busca a tecnologia necessária na Alemanha, um dos primeiros países a rever seu programa nuclear depois do acidente ocorrido no Japão. A decisão de investir no desenvolvimento nuclear aumentou durante o período da ditadura militar, e em 1969, o go-verno delegou a Furnas Centrais Elétricas S.A a missão de construir a primeira usina nucle-ar brasileira. O contexto político era marcado pelas tensões da Guerra Fria e pela corrida nuclear entre EUA e União Soviética. Esse pode ter sido um dos fatores que influenciou o governo militar a autorizar a construção da segunda usina nuclear, em 1974. O início da “Era Nuclear Brasileira” ocorreu com o Acor-do de Cooperação Nuclear entre Brasil e Ale-manha, um ano depois. Em conseqüência do acordo, o Brasil já possui a maior parte dos

equipamentos para a instalação da terceira usina nuclear em Angra, fato extremamente criticado por ambientalistas. Para eles, isso significa que o país vai utilizar tecnologia já defasada e com riscos de acidentes maiores.

Segundo o presidente a Eletronuclear, a inauguração de Angra 3 seguirá como prevista, em 2016, e o governo federal não deve reduzir ou descartar os investimentos nesse modelo de energia. Para o Greenpeace a geração de energia a partir de combustível nuclear repre-senta um grande perigo para as pessoas e o meio ambiente. “No Brasil temos um potencial grande de todas as energias renováveis, prin-cipalmente eólica, biomassa e solar. A energia nuclear é totalmente dispensável para o Brasil e pode ser substituída por outras mais limpas, baratas e mais rápidas de se fazer”, protestou Baitelo. Segundo a organização, é um erro res-suscitar o Programa Nuclear Brasileiro.

Smithers, solte os cachorros nesses ecochatos do greenpeace e nesse tal de Löwy

“A energia nuclear é totalmente dispensável

para o Brasil.”

“O Brasil já possui a maior parte dos equipamentos para a instalação da terceira usina nuclear em Angra, fato extremamente criticado por ambientalistas.”

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Page 19: 10ª edição Vírus Planetário

De que forma o ecossocialismo pensa políticas energéticas para grandes países como o Brasil?

Michael Löwy: As políticas neoliberais obedecem exclusivamente aos interesses imediatistas do capital e do lucro. Há uma contradição insolú-vel entre a lógica implacável da competição capitalista, que impõe a “ex-pansão” ao infinito da produção, e os limites naturais do meio ambiente.

O Brasil tem condições para uma política energética alternativa, saindo do ciclo infernal carvão – petróleo - energia nuclear. Existem condições ideais para se desenvolverem fontes de energia renováveis, como a hi-droelétrica - sem projetos monstruosos e faraônicos como Belo Monte – a eólica, e a solar. Mas isto implica no controle público das empresas produtoras de energia, para permitir reorientar os investimentos e a tec-nologia. A mudança de política energética é sobretudo uma questão de vontade política.

É importante estabelecer um diálogo entre movimentos sociais urba-nos, camponeses e indígenas. Há reivindicações comuns, como o desma-tamento zero, para salvar a floresta amazônica da destruição promovida pelas multinacionais, madeireiras, o agronegócio, os latifundiários e ou-tros parasitas. As hidroelétricas tem seu lugar, mas somente na medida em que não prejudiquem as populações ribeirinhas. Para sair desta opção entre a morte atômica e uma lenta asfixia pela mudança climática, é ne-cessário uma ruptura radical com a lógica capitalista. O ecossocialismo representa uma proposta realista e concreta de transição energética.

Como você acha que os presidentes mais populares da América Latina pensam a questão energética?

Michael Löwy: Existe nestes governos, que tem uma dinâmica progressista e popular, uma con-

tradição entre seu discurso, ecológico e anti-ca-pitalista, e uma política pragmática de explo-ração das energias fósseis tradicionais. Ob-viamente, não se pode exigir que Evo Morales ou Chavez deixem de um dia para outro de

explorar estas energias que fornecem o essen-cial das entradas em divisas para o pais. Mas

falta uma política con-

Nascido em São Paulo e radicado na Fran-ça, Michael Löwy é tido como um dos maiores

intelectuais marxistas do mundo. Fundador do movimento ecossocialista, Löwy em entrevista

para Vírus, expõe sua opinião acerca dos recen-tes acontecimentos no Japão na usina nuclear de Fukushima e propõe o ecossocialismo como

única saída para a crise sócio-ambiental.

“O ecossocialismo representa uma proposta concreta de

transição energética.”

sequente de diversificação das fontes de ener-gia. Até agora, a experiência mais interessan-te é a do Parque Yasuni no Equador: sob pres-são dos movimentos indígenas e ecológicos, o governo do presidente Correa decidiu que o petróleo de Yasuni ficara no sub-solo - com a condição de que os países ricos assumam a metade do preço deste petróleo (o que até agora esta longe de ser o caso).

Você acha que o desastre em Fukushi-

ma pode trazer mudanças na política energética mundial? Por que o desastre de Fukushima pode ter mais impactos políticos no ocidente do que Chernobil ?

Michael Löwy: Esta tragédia irá, sem dúvi-da, reforçar os movimentos anti-nucleares em todo o planeta, obrigando alguns governos a abandonarem progressivamente a opção nu-clear, que se revelou perigosa. Ao que parece, já é o caso da Alemanha. O risco é que, no quadro capitalista, o abandono do nuclear seja acompanhado de uma intensificação da exploração das energias fósseis responsáveis pelo aquecimento global, como o carvão e o petróleo. Fukushima é uma verdadeira virada na história da energia nuclear. O acidente de Chernobil foi atribuído pelo lobby nuclear e pelos governos capitalistas ao atraso tecno-lógico da URSS e seu sistema burocrático de gestão. Fukushima são centrais nucleares “modernas” e a companhia japonesa proprie-tária destas usinas é uma das maiores empre-sas privada do mundo. Já não ha desculpa, é o próprio sistema de energia nuclear que está em jogo.

No caso de um país como o Japão, a

energia nuclear é realmente a única es-colha?

Michael Löwy: De forma alguma! O Japão poderia instalar em seu entorno marítimo grande quantidade de moinhos eólicos, alem da energia solar. Nada disso foi tentado, os vários governos do pais que mais sofreu com a energia atômica (Hiroshima) construíram centrais nucleares em grande escala, com o resultado que se vê.

ENTREVISTA:

Michael Löwy

Ilu

stra

ção:

Car

los

Latu

ff

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Como foi sua chegada ao Brasil?Vito Giannotti: Eu vim com um grupo que ti-

nha um misto de idealismo político e religioso, típico da década de 1960. Nós andamos por vá-rios países do mundo – Israel, Jordânia, França, Itália. E tinham dois brasileiros nesse grupinho. Em 1966, eles estavam voltando ao Brasil, e eu me juntei a eles. Eu gostei, acabei ficando, e co-meçamos a participar da luta contra a ditadu-ra. Eu fazia faculdade na Itália, mas tínhamos a ideia de que, para fazer uma transformação real, tínhamos que ser operários. Decidi ser metalúrgico em São Paulo, onde trabalhei du-rante cinco anos. Participei das várias lutas dos metalúrgicos, era um sindicato dominado por pelegos, interventores da ditadura, amigos dos militares e dos patrões. Nós nos constituímos como oposição sindical, tentando puxar as lutas na categoria. Como milhares de outras pessoas, fomos presos várias vezes, perdemos emprego, fomos torturados. Eu sempre fui apaixonado por leitura e um dos poucos que tinha estudado em faculdade, então comecei a ajudar a fazer boletim, jornalzinho, panfleto. Acabei me espe-cializando em comunicação.

Para construir um mundo melhor, é preciso construir uma outra comu-nicação. Na edição comemorativa da Vírus Planetário, decidimos entrevis-tar um dos principais agentes nesta luta, Cláudia Santiago e Vito Giannot-ti, idealizadores e coordenadores do Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC), que completa 20 anos de existência ano que vem.

Dedicados a aprimorar e criar iniciativas na área da comunicação popu-lar, os membros do NPC realizam cursos, palestras e debates sobre o tema, além de produzir boletins, jornais e livros destinados aos traba-lhadores. “Nossa pauta é ampla, não podemos fazer o jogo da grande mídia”, afirma Cláudia Santiago, “nós temos que tratar dos temas que interessam aos trabalhadores”.

Para Vito Giannotti, muitos setores da esquerda não compreendem que sem comunicação não existe mudança de sociedade. “A visão do [teórico marxista] Gramsci sobre hegemonia é muito clara: convencimento e força. Convencimento é ganhar a cabeça e o coração das pessoas, e isso só se dá pela divulgação e difusão das suas ideias, da melhor forma possível”, explicou ele. “Só temos duas saídas: ou ficar chorando e lamentando que a mídia não nos dá espaço; ou fazermos a nossa imprensa”, arrematou Giannotti.

Além de cartilhas, cursos de comunicação popular e outras atividades de luta pela democratização da comunicação, O NPC acaba de inaugurar a livraria Antônio Gramsci no térreo do mesmo prédio de sua sede na Rua Alcindo Guanabara, 17 na Cinelândia, Rio de Janeiro

ENTREVISTA INCLUSIVA:

Foto: Seiji N

omu

ra

Cláudia Santiagoe Vito Giannotti

Por Caio Amorim, Daniel Israel, Mariana Gomes e Seiji Nomura

Como foi sua chegada ao Brasil?Vito Giannotti: Eu vim com um grupo que ti-

nha um misto de idealismo político e religioso, típico da década de 1960. Nós andamos por vá-rios países do mundo – Israel, Jordânia, França, Itália. E tinham dois brasileiros nesse grupinho. Em 1966, eles estavam voltando ao Brasil, e eu me juntei a eles. Eu gostei, acabei ficando, e co-meçamos a participar da luta contra a ditadu-ra. Eu fazia faculdade na Itália, mas tínhamos a ideia de que, para fazer uma transformação real, tínhamos que ser operários. Decidi ser metalúrgico em São Paulo, onde trabalhei du-rante cinco anos. Participei das várias lutas dos metalúrgicos, era um sindicato dominado por pelegos, interventores da ditadura, amigos dos militares e dos patrões. Nós nos constituímos como oposição sindical, tentando puxar as lutas na categoria. Como milhares de outras pessoas, fomos presos várias vezes, perdemos emprego, fomos torturados. Eu sempre fui apaixonado por leitura e um dos poucos que tinha estudado em faculdade, então comecei a ajudar a fazer boletim, jornalzinho, panfleto. Acabei me espe-cializando em comunicação.

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Vírus Planetário - MAIO/JUNHO 2011

O que você acha dos militares que dizem que não houve tortura na di-tadura? Eles dizem que precisa haver julgamento dos “terroristas”. O que você acha disso?

Vito Giannotti: (risos) Esses militares são torturadores, assassinos, esquarte-jadores, estupradores, que fizeram isso com muito prazer. Como, no Brasil, nada foi apurado, todos os torturadores foram promovidos, estão ganhando bem, com a vida tranquila. É claro que eles vão di-zer que não teve tortura. Mas não teve só tortura, teve morte, esquartejamento. Todo preso político era torturado. O meu amigo Olavo Hansen, químico de San-to André, foi preso numa manifestação durante o Primeiro de Maio e o corpo foi achado quatro dias depois, esquartejado e queimado, dentro de um carro jogado em um córrego em São Paulo. Isso acon-teceu porque ele não quis falar nada. O que eles chamam de terroristas, eram lutadores contra um regime ditatorial que usurpou a democracia no Brasil. Es-ses lutadores já foram mais do que sa-tisfatoriamente julgados, presos, mortos e esquartejados. Os agentes que, a ser-viço do Estado, perseguiram, prenderam e mataram brasileiros e brasileiras é que não foram julgados. Esses estão impunes por aí com belas aposenta-dorias.

Vocês acham que a novela do SBT cumpre o papel de exibir o que nunca foi mostrado?

Vito Giannotti: Sim, mas eu acho que não vai até o fim. É uma belíssima novela, mas eu acho que os militares vão colocar uma bomba no SBT. Tudo pode acontecer, vindo de quem prendeu, estuprou, matou.

Claudia Santiago: Eu gosto do au-tor Tiago Santiago desde quando ele escrevia Os Mutantes, da TV Record. A maneira como ele abordava o tema da polícia n’Os Mutantes já revelava o que ele pensa sobre a ditadura. Ele mostra-va a tortura, a repressão aos mutantes, que eram os “diferentes”, que em Amor e Revolução são os revolucionários. Não acredito que o SBT tenha ficado bonzi-

nho, é uma proposta comercial da emis-sora, embora possa haver ideologia no trabalho do autor.

Claudia, como foi trabalhar tantos anos na CUT?

Claudia Santiago: Na imprensa sindi-cal você tem que aprender a fazer tudo, campanha de sindicalização, panfleto, cartaz. Houve um tempo em que fazía-mos cartazes com mensagens políticas no Rio de Janeiro uma vez por sema-na, hoje em dia isso é difícil. Era muito bom ver nossas mensagens nos postes. Eu tinha uma identificação total com a política da CUT. Outra coisa que eu gos-tava muito era de conhecer a classe tra-balhadora como um todo. Eu me sentia em casa em qualquer sindicato filiado à CUT. Me relacionava muito bem com todo mundo, principalmente com os grá-ficos. Era outro tempo da comunicação, mandávamos os textos feitos na máqui-na de escrever, ele fazia as tiras compri-das, cortava, ficava esperando de madru-gada para entrar na fila até liberar o ma-terial. Eu ficava esperando com minha filha pequena no colo. Era um processo muito completo o que o jornalista sin-

“ No capitalismo não haverá democracia na imprensa, porque

ela é o pé do sistema.”

dical tinha com as etapas de produção naquela época.

do sindicato dos jornalistas, dos movi-mentos sociais. Ele se forma e informa também por essa empresa de comunica-ção, e isso faz com que ele não se dife-rencie, ele também consome a informa-ção que ele produz. Então ele não é mais um pensador diferenciado.

Como e quando você saiu da CUT?Claudia Santiago: Minha vida foi a

CUT durante 20 anos. Eu brigava pela área de comunicação da CUT e pensava ela como um todo. Eu era a Claudinha da CUT. Não saí por briga política, ao contrário. Uma semana antes da minha demissão eu participei do 1º de maio em Bangu. Minha demissão foi uma surpre-sa. Me ligaram numa sexta-feira e me disseram “preciso que você venha pra assinar sua demissão”. Foi muito feio, eles disseram que não ia ter mais im-prensa na CUT e demitiram todo mundo alegando falta de dinheiro. Queriam que eu fosse terceirizada, sendo que nós tí-nhamos acabado de começar uma luta contra as terceirizações. Eu não aceitei porque não acho que as coisas podem ser tratadas dessa maneira, e se havia uma crise financeira, isso tinha que ter sido conversado com os trabalhadores do setor para chegarem a uma decisão.

O que você acha da CUT hoje?CS: A CUT tem em seu estatuto uma

definição muito clara da luta pelos inte-resses imediatos dos trabalhadores. Ou seja, desde o bebedouro que não fun-ciona, ao salário, o assédio moral. Entre

esses há os interesses históricos, que é a luta geral pelo socialismo. A CUT tem muito disso ainda, mas precisamos ver quem criou a CUT. As pastorais, os gru-pos marxistas, os sindicalistas de oposi-ção. Foi uma luta muito bonita contra a ditadura, pela democratização dos sin-dicatos, contra uma estrutura sindical muito atrelada ao Estado, herdada de Getúlio Vargas. E essa CUT chegou ao governo. O projeto político deles venceu as eleições. Num dia essas pessoas eram

“Acho que os militares vão colocar uma

bomba no SBT, tudo pode acontecer, vindo deles.”

Você acha que hoje o jornalista trabalha pra uma empresa e não por um ideal?

Claudia Santiago: Acho que houve uma grande virada no perfil do jornalis-ta, mas isso não é recente. O jornalista da época da ditadura, hoje está na im-prensa alternativa. Ainda tem pessoas com esse perfil segurando à duras penas nas grandes redações, mas num quadro geral, o jornalista é muito integrado com a empresa onde trabalha. E isso se refle-te no dia-a-dia, porque ele não participa

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Vírus Planetário - MAIO/JUNHO 2011

dirigentes sindicais e no outro elas vira-ram representantes de um governo. Ou seja, deixou de ser sindicalista e virou representante do empregador. E isso ge-rou uma confusão bem grande na CUT. O que eu sentia era uma preocupação em se manter uma entidade combativa, mas os esforços para não desgastar o governo são muito maiores, essa é a maior pre-ocupação. E isso faz com que haja mui-tos problemas em diversos momentos, como foi há pouco tempo com a vinda do Obama. O secretário geral da CUT es-tava participando da construção do ato contra o Obama, mas depois a CUT se retirou. Eles vivem esse dilema o tempo todo.

Como nasceu o NPC?Vito Giannotti: O NPC nasceu da ne-

cessidade de os trabalhadores poderem comunicar suas ideias livremente. Nossa ideia foi batalhar para melhorar essa co-municação. Para os trabalhadores pode-rem divulgar suas ideias, fazer a disputa. Porque, se um material midiático for bo-nito, bem feito, com o conteúdo que os trabalhadores querem, é o grande ins-trumento para disputar com a mídia co-mercial. Começamos juntando as expe-riências da Cláudia, que vinha de cinco ou seis anos na imprensa sindical, com a minha, que era um prático. Começamos a desenvolver atividades de formação em comunicação sindical, popular e con-

tra-hegemônica. Em pouco tempo passa-mos a dar cursos de comunicação para sindicatos, e pelo jeito o pessoal gostou.

Claudia Santiago: Quando eu saí da CUT, o NPC cresceu muito, porque a energia toda que eu gastava lá come-cei a gastar no Núcleo. Eu fui uma das idealizadoras, porque acredito que os trabalhadores precisam ter sua própria imprensa. Acho que no capitalismo não haverá democracia na imprensa, por-que ela é o pé do sistema, eu acredito na Vírus Planetário, em projetos desse tipo. Um dos objetivos do Núcleo é ser uma imprensa dos trabalhadores, onde eles podem falar o que pensam e o que querem. E essa imprensa tem que refle-tir toda uma sociedade que interesse aos trabalhadores. No filme Rio, por exem-plo, onde estão as pessoas más? Na fa-vela. E a imprensa dos trabalhadores é o contraponto disso. Eu acredito que fil-mes desse tipo não vão deixar de existir, então temos que desconstruir essa sub-jetividade. Além disso, precisamos ter uma imprensa que se comunique com os trabalhadores, a linguagem tem que ser subordinada à capacidade de com-preensão do leitor, e a esquerda trabalha pouco essa questão.

Qual é a sua opinião sobre a cober-tura da mídia no caso das crianças que foram executadas em Realengo?

Claudia Santiago: A cobertura des-se caso foi mais do que vender notícia. Houve omissão uma série de informa-

ENTREVISTA INCLUSIVA_Cláudia Santiago e Vito Giannotti

ções sobre como chegou-se a esse ponto. Além disso, o entorpecimento que isso causa nas pessoas é criminoso, porque elas ficam presas às imagens daquele es-petáculo que se deslocam do seu dia-a-dia real. É um tempo perdido, quando se podia estar pensando na sociedade que gera esse comportamento. Essa cobertu-ra leva as pessoas a uma não-ação nesse raciocínio. Sabemos que a solução não é colocar grade nas escolas, mas a mí-dia leva as pessoas a pedirem sangue, a reduzir a idade penal, a sugerirem pena de morte. E as pessoas não raciocinam sobre o tipo de sociedade que gera esses acontecimentos, sobre os problemas de saúde mental no Brasil. Criam-se este-reótipos e aumenta-se o discurso reacio-nário da população.

Vito Giannotti: Não vejo qualquer coi-sa de excepcional. Uma pena que tenha sido em Realengo, que fica em uma área periférica do Rio de Janeiro, porque fica mais fácil justificar medidas repressivas, a exemplo da UPP e das ações do Bope. Nada tem a ver, especificamente, com a violência na cidade. O que aconteceu naquela escola pode acontecer em qual-quer parte do mundo. Qual é o objetivo da mídia? Aumentar a necessidade de repressão. Mas ela não questiona que o Brasil seja o país onde mais se mata mu-lheres, onde homossexuais são assassi-nados.

O que vocês pensam sobre o con-trole da mídia no Brasil e as experi-ências na Venezuela, Bolívia e Argen-tina?

Vito Giannotti: Ensinam aos estudan-tes, na maioria dos cursos de Comuni-cação, que a mídia é neutra, imparcial. A mídia tem dono e defende o interesse da sua classe. E os trabalhadores devem perder qualquer ilusão nessa mídia. Não tem democracia alguma nos jornais,

“O governo brasileiro poderia ter feito muito mais na área da comunicação.”

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Vírus Planetário - MAIO/JUNHO 2011

eles escrevem o que eles querem, atra-vés dos jornalistas. Se não gostarem de algum jornalista, tiram e colocam outro. Só temos duas saídas: ou ficar chorando e lamentando que a mídia não nos dá espaço; ou fazermos a nossa imprensa. Mas existe uma falta de compreensão na esquerda de que sem comunicação não

existe mudança de sociedade. A visão de Gramsci sobre hegemonia é mui-

to clara: convencimento e força. Convencimento é ganhar a cabe-ça e o coração das pessoas, e isso só se dá pela divulgação e difusão das suas ideias, da melhor forma possível. É uma mentira a ideia da concessão pública, é tudo doação. Podemos comparar com o tempo colonial no Brasil, quando Dom João distribuiu imensos pedaços de terra a donatários, no que ficou conhecido como sesmaria. Como é uma doa-ção, os donos fazem o que quiserem, não há nada de público. Nós temos que exigir conselhos que regulem o funcionamento de rádios, TVs, como acontece com a BBC, na Inglaterra. Quando foi aprovada a Lei de Meios, na Argentina, havia 60 mil pessoas nas ruas.

Claudia Santiago: O governo bra-sileiro poderia ter feito muito mais na área da comunicação. O primeiro governo Lula não fez absolutamen-te nada, a Conferência Nacional de Comunicação aconteceu já no final do governo, a repressão às rádios co-munitárias foi enorme. Comparando com o resto da América Latina, nada foi feito para mudar esse cenário.

ENTREVISTA INCLUSIVA_Cláudia Santiago e Vito Giannotti

A imprensa tem ódio do Lula, e já está trabalhando pra desconstruir a imagem dele e mostrar que a Dilma representa “avanço”. Eles querem detonar o Lula pelo que ele fez de melhor, que foi a polí-tica externa, e mostrar que agora Dilma vai fazer diferente, vai se relacionar de outra forma com o Irã, com Cuba (risos). Bate-se o tempo todo em qualquer avan-ço proposto, mas não se pode recuar por esse motivo. Tem duas maneiras de lidar com isso: ou negocia-se e faz-se o jogo do capital; ou parte-se para a bri-ga. O Hugo Chavez, a Cristina Kirchner e o Evo Morales foram para o pau! E até agora não vi nenhuma mudança no Bra-sil nesse sentido. Temos um papel muito importante. Precisamos primeiro entrar nesse debate, entender o que aconteceu na América Latina em termos de comu-nicação, e o que aconteceu no Brasil. E aí precisamos ver o que a gente quer, colo-car na mesa a nossa pauta. Por exemplo, rever as concessões de rádio e TV no Bra-sil é urgente. E não é só brigar pra tirar da mão de quem está, é lutar para nós termos o nosso espaço. Pessoas que se dedicam a fazer uma imprensa diferente sem receber nada por isso devem ser re-conhecidas, é nisso que temos que inves-tir. E não temos que nos pautar pela mí-dia comercial. Ela tem sua própria pauta, nós temos que ir atrás das nossas. Eles querem que a gente debata determina-dos assuntos, mas nós temos que tratar da pauta dos trabalhadores. Nossa pauta é ampla, mas não podemos fazer o jogo da grande mídia.

“Os trabalhadores devem perder qualquer ilusão na

mídia tradicional”

Atividades e cartilhas realizadas pelo NPC. À esquerda, sala do Cine Odeon lotado para o “Hoje é dia de cinema”, atividade com exibição de filmes com conteúdo refelxivo e debates voltada

para alunos de cursos de Pré-Vestibular comunitários. À direita, curso na Cidade

de Deus

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Page 24: 10ª edição Vírus Planetário

Vírus Planetário - MAIO/JUNHO 2011

A criação da revista, em maio de 2008, surgiu da ideia de estudantes que pretendiam fazer um trabalho críti-co, mas, ao mesmo, tempo irreverente. Muitos esforços foram empreendidos até que a primeira publicação saísse do papel. Sem patrocínio, a primeira, assim como grande parte das duas edições seguintes, foram pagas do bolso dos próprios integrantes. Mesmo assim, não desistiram. É o que conta um dos funda-dores da publicação, Caio Amorim, que também é editor e diagramador. Hoje, a revista, que até a 6ª edição era distribu-ída gratuitamente,é composta por cerca de 10 jovens jornalistas – estudantes e recém-formados - comprometidos em levar a informação sob outro ponto de vista.

Para Caio Amorim, a comunicação é um dos principais métodos de politiza-ção e disputa pela construção de outro projeto de sociedade. “Nos considera-mos contra-hegemônicos, inclusive, pe-las extremas dificuldades que passamos para produzir a Vírus Planetário, sendo a principal delas a falta de dinheiro e mui-tas ‘batidas de porta na cara’ dadas por possíveis patrocinadores que desacredi-tam no projeto ou não concordam com a linha política da revista”, declarou.

De acordo com Mariana Gomes, edi-tora, repórter e diagramadora da revista, a mídia tradicional trabalha atrelada a interesses comerciais e, por isso, deixa de noticiar fatos importantes para popu-lação. Ou mesmo quando noticiam, não atingem o foco do problema, passando

superficialmente por eles. “A proposta da Vírus é ir a fundo, incomodar se for preciso, e dar voz àqueles que são ig-norados ou criminalizados diariamente pela mídia empresarial. Fazemos isso com bom humor e, ao mesmo tempo, com seriedade”, explicou.

Seiji Nomura, também edi-tor e repórter da publicação, considera que, um dos papéis dos veículos da esquerda no Brasil é fazer frente ao posicio-namento do país enquanto potên-cia emergente no capitalis-mo mundial. “A revista é essencial não só para expor a importância de comba-termos o Brasil imperialista, mas tam-bém o problema da exclusão de grande parte da população”, acrescentou Seiji.

Segundo a professora do Departa-mento de História da UFF e leitora da Ví-rus, Adriana Facina, o grande diferencial da revista é a linguagem. “Eu acompa-nhei o surgimento da Vírus e sei que é uma revista popular, com uma linguagem inovadora. A forma como eles associam o texto bem-humorado com desenhos ou charges faz com que a abrangência seja maior. Eles conseguem sair dos jargões usados por sindicatos ou mídias alter-nativas pesadas e atingem um público que se interessa por política, mas não se identifica com revistas de esquerda tradicionais”, contou.

Outro personagem importante nes-se processo foi o desenhista Maurício Machado. Ele entrou em contato com o projeto através do curso pré-vestibular comunitário do Morro da Providência, do qual fazia parte. “Logo de cara, achei o projeto muito legal. Pude ver que a re-vista é feita com amor, porque todos são voluntários. Além disso, era uma ótima oportunidade para publicar meus de-senhos”. Maurício destacou também o

aprendizado extraído da convivência com integrantes e com as matérias do periódi-co. “Antes eu acha-va que sabia muito, mas quando entrei para a equipe da Ví-rus , abri meus ho-rizontes”, acrescen-tou o desenhista.

A equipe da Vírus já contou com pes-soas de várias áreas de conhecimento. Ao final da primeira edição, Artur Ro-meu e Maria Luiza Valois, estudantes da PUC-Rio, interessaram-se pela revista e passaram a dedicar boa parte de seu tempo a ela. Também participaram Dally Schwarz, aluna de Estudos de Mídia da UFF, os desenhistas Javier Pedrosa e Francis Carnaúba. E Gil Guigon, desig-ner formado pela Uerj que diagramou as três primeiras edições.

A décima edição representa um mar-co na história da revista, que já enfrentou grandes desafios, mas ainda tem muito a conquistar. “Talvez hoje estejamos co-meçando a consolidação da revista, em termos de espaço de venda - em ban-cas, locadoras e livrarias alternativas, sebos etc. A sensação é de estarmos de fato tirando o projeto do papel e co-

Revista Vírus Planetário chega a sua 10ª edição, em três anos de muito trabalho.

“A revista já enfrentou

grandes desafios,

mas ainda tem muito a

conquistar.”

Por Fernanda Freire

Vírus 10 edições: uma retrospectiva

retrospectiva

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Vírus Planetário - MAIO/JUNHO 2011

locando na prática. E isso só foi possível graças à colaboração de pessoas que mergulharam de cabeça, corpo e alma”, des-tacou Caio.

Daqui em diante, se espera que a Vírus Planetário continue desempenhando seu papel na organização de uma sociedade mais justa e democrática, du-rante muitos anos. “Nós come-çamos o projeto quando éramos universitários, e, hoje, a maioria de nós já é formada. Somos jo-vens jornalistas buscando um meio mais digno para trabalhar, onde a gente possa exercer nos-so direito de criticar e ser criti-cados, de debater democratica-mente as pautas, sem as mãos de ferro de um editor subordi-nado ao mercado, mas que isso seja feito sempre de maneira divertida e com uma linguagem acessível”, concluiu Mariana.

sórdidos detalhes...

A Mentira varrida pra debaixo do tapete

No dia mundial da Liberdade de Imprensa, 3 de maio, a Agência Nacional de Telecomu-nicações (ANATEL) e a Polícia Federal resol-veram comemorar de um jeitinho especial, fechando mais uma rádio comunitária. Des-sa vez, a escolhida foi a Rádio Santa Marta, inaugurada em agosto do ano passado pelo rapper Fiell. A escolha da rádio fechada é completamente aleatório, né gente? Não tem nada a ver com o fato de Fiell ser um dos líde-res comunitários que contestam o estado de coerção instalado com a Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) no Santa Marta, e com o fato de ele ser constante alvo de abusos poli-ciais por suas contestações.

Enfim, Fiel e Antonio Carlos Peixe, tam-bém diretor da rádio foram detidos, “enfia-dos” em um camburão, levados para prestar depoimento e foram liberados. O transmissor continua em posse da ANATEL, mas a rádio continua a transmitir pelo site: www.radiosan-tamarta.com.br .

Parece que os responsáveis pelo fecha-mento do Núcleo de Terra e habitação da Defensoria Pública do Rio de Janeiro não ten-taram exterminar os direitos apenas da popu-lação carente, mas sim de qualquer um que estivesse envolvido com o departamento. No início de maio, após o afastamento dos defen-sores do setor, os estagiários receberam um telegrama informando que não mais estavam “aptos a desempenhar a função para o qual foram designados”. Quando tentaram voltar ao local de trabalho, foram impedidos por um segurança de recolher os seus pertences da sala e, ao insistirem, foram demitidos com um telefonema.

As alterações propostas no Código Flores-tal brasileiro causaram grande mobilização de diversos setores da sociedade. Entre os pontos polêmicos propostos na mudança do código, estão a redução da faixa mínima de proteção dos rios e a redução da restauração obrigatória de vegetação nativa ilegalmente desmatada desde 1965. No final, até Aldo Rebelo fugiu da raia e decidiu de presidir a votação. A esperança dos ruralistas, a favor das modificações, é que ele seja aprovado antes de junho, quando começa a valer de-creto presidencial que regulamenta crimes ambientais e pode multar os infratores. No en-tanto, pode ser que, quando você estiver len-do essa notinha, as mudanças já terão sido aprovadas pelo Senado, tudo num grande “acordão” entre ruralistas e evangélicos. Ago-ra, resta ficarmos de olho nas contrapartidas. Dizem as más (e boas) línguas, que tem a ver com o PLC 122, que criminaliza a homofobia. Será?

“feliz dia mundial da liber-dade de imprensa! Me dá esse transmissor AGORA,

PORRA!Ӄ tempo de democracia?

“viva o progresso do país graças aos grandes produ-tores agropecuários! Eba!

FORA ECOCHATOS!”

sHOW do milhão: O Rio é mesmo lindo, né, gente?

Foto: Dorlene Meireles/Grupo ECO

Fiel protesta no dia seguinte a sua detenção e fechamento da rádio

Enquanto isso, o gover-no estadual do RJ gasta milhões e milhões (só no primeiro

mandato foram mais de R$ 500 milhões )em propaganda para dizer que existe um novo Rio (marca registra-da do Brasil) pacificado e maravilhoso para todos. Aham! Ok! A gente finge que acredita só porque essa propaganda é bonitinha.

Enquanto isso, o governo estadual e

prefeitura do Rio de Janeiro seguem demo-lindo moradias populares para o “progresso” passar. Viva! Rio 2016 é

nóis! Yes, we créu!

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Page 26: 10ª edição Vírus Planetário

Sua casa fica perto da TKCSA (ThyssenKrupp Companhia Siderúrgica do Altântico) empresa que produz milhões de toneladas de fumaça tóxica que vão parar no pulmões dos moradores da região.

Mas não pára por aí: O José pegou

DENGUE!

Mas o Hospital público perto de sua casa está fechado...

EDIFÍCIO INÚTIL-D’OR

O Hospital está fechado, mas

o pagamento de impostos

continua, tá?!

...E o hospital mais longe é administrado por uma instituição privada que está se lixando para a população.

Não precisa ser um gênio pra perceber que a única coisa pública que

funciona nesse país é o setor de

arrecadação.

Deveria ser simples: O Sr. José trabalharia; pagaria seus tributos; e esses tributos subsidiariam sua justiça social.

Mas não! Ele tem que trabalhar...

1 Sem saúde... 2 em trens lotados...Revolta contida

Fuligem da csa

vírus da dengue

estafa

3 Onde os seguranças chicoteiam passageiros. Pois é!

Que piada!

Sardinhas

Abre fácil

A área onde ele mora também “pro-priedade” da milícia, e o pobre Zé tem que pagar a esses sanguessugas pra

morar lá.

Esse é o José da Silva, morador de Santa Cruz, na zona oeste do Rio de Janeiro.

Por Maurício Machado

que a estrela não brilha...”“Era só mais um Silva...“Tudo mundo devia nessa história se ligar...”

*Versos de “Rap do Silva”, Mc Bob Rum

Brasil

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Vírus Planetário - MAIO/JUNHO 2011

Por Mariana Gomes e Seiji Nomura

Embora boa parte dos meios de comuni-cação e próprio Ministério do Trabalho prefi-ra nomear a data como “Dia do Trabalho” ao invés de “Dia do Trabalhador”, o que não se pode negar é que a data histórica representa a luta dos trabalhadores. Decretado feriado no Brasil por Getúlio Vargas, o 1º de maio tornou-se o Dia do Trabalhador não por aca-so. Uma manifestação ocorrida em Chicago, nos Estados Unidos, em 1886 foi fortemente reprimida, e contou com a participação de milhares de pessoas e tinha como finalidade reivindicar a redução da jornada de trabalho para 8 horas diárias. A história nos lembra que e o 1º de maio rememora todos os anos os trabalhadores que morreram em luta por melhores salários, condições de trabalho dig-nas, respeito e justiça.

Este ano, como tem sido há algum tempo, o movimento sindical comemorou a data de diversas formas, cada setor, com sua ban-deira. Para o presidente da CUT-RJ, Darby Igayara, o dia do trabalhador deve ser de reflexão, mas também de festa. “É dia de ho-menagearmos todos os homens e mulheres que deram suas vidas em defesa dos direi-tos dos trabalhadores, da democracia e da liberdade”, destacou. Já para o dirigente da Intersindical,Vinícius Codeço, houve um es-

forço para resgatar o caráter de luta do 1° de maio, pois outras centrais transformaram a data num dia de shows e sorteios de brindes. “Fomos, juntamente com a Plenária dos Movi-mentos Sociais, para a zona portuária do Rio dialogar com a população local sobre a polí-tica de remoções que o governo do Estado e a prefeitura, estão implementando com vistas aos mega-eventos no Rio e os interesses da especulação imobiliária”, declarou.

Lutas e conquistas

Do ponto de vista econômico, muito se questiona sobre a viabilidade das propostas defendidas pelos trabalhadores. É o caso, por exemplo, da redução da jornada de trabalho. Mas, para o economista e professor da Uni-versidade Federal Fluminense (UFF), André Guimarães, a luta pela redução da jornada de trabalho é histórica e pode ser considerada mais importante do que a luta por melhores salários. “É temerária a afirmação de que os lucros irão ‘diminuir’ ou mesmo ‘desaparecer’ com uma redução da jornada. Em primeiro lu-gar, do ponto de vista econômico - que é o ponto de vista do capital - a redução de jorna-da leva a um aumento da intensidade do tra-balho, há diversos estudos que demonstram esse efeito sobre o aumento da produtividade.

Por outro lado, há um ganho do ponto de vista humano, os trabalhadores terão mais tempo para as relações pessoais, o enriquecimento cultural e intelectual”, explicou o professor.

Durante anos e anos de luta, muitas conquistas foram alcançadas pelos traba-lhadores. Uma das mais importantes foi a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), sancionada pelo então presidente Getúlio Vargas em 1º de maio de 1943. No entanto, muitos setores da sociedade acreditam que os direitos previstos na CLT, frutos da mo-bilização popular, estão com os dias conta-dos. “Embora a conquista de direitos pareça muito significativa pela existência de uma legislação trabalhista, ela é em grande parte ilusória. Desde os anos 90, a legislação tem sido recorrentemente modificada, diminuindo direitos e criando empregos precários”, lem-bra André Guimarães. Além disso, pesquisas mostram que os direitos não são respeitados e a legislação trabalhista é contornada não só por pequenas empresas informais, mas tam-bém por grandes empresas. “A fiscalização é quase inexistente e a punição, quando há, é mínima para quem desrespeita direitos traba-lhistas. Vide recentemente o caso das obras do PAC em Jirau, uma obra do governo. Se a legislação fosse mais dura, a construtora deveria ser proibida de participar de obras públicas”, declarou André.

A luta dos trabalhadores brasileiros

acabou?Trabalhadores mostram, através de revoltas como a de Jirau, que sua luta está mais viva do que nunca.

Foto: Felipe Corazza

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Outra questão importante é o grau de organização dos trabalhadores. Enquanto alguns poucos contam com a proteção e o cumprimento dos direitos trabalhistas, uma grande maioria está desprotegida mesmo com a existência de leis. “O problema de fun-do não está na conquista de direitos, mas na própria condição de assalariado”, arrematou o economista.

A perigosa reforma da previdência

Há também uma polêmica no que diz res-peito aos direitos trabalhistas é a reforma da previdência. A última delas, ocorrida em 2005, causou forte impacto no dia a dia da popula-ção. Além disso, as consequências políticas com as quais o então governo Lula precisou arcar foram notórias. Houve uma divisão clara entre as lideranças, resultando, inclusive em rachas nos partidos da base do governo. A mobilização popular, segundo membros do movimento sindical, evitou que esta reforma

fosse ainda mais catastrófica. “Nós da CUT fomos contra a reforma, especialmente con-tra a cobrança da contribuição previdenciária dos servidores aposentados. Hoje continua-mos defendendo a tese de que a previdência não é deficitária. É só aplicarmos o conceito de seguridade social definido pela Constitui-ção de 1988, que deve ser formado por previ-dência, assistência e saúde”, afirmou Darby.

Segundo o dirigente da Intersindical, a reforma foi um projeto que retirou direitos da classe trabalhadora e foi o início de um complexo processo de fragmentação do mo-vimento sindical. “Sabemos que existem seto-res burgueses poderosos pressionando para que tenha uma nova reforma, para aprofundar a retirada de direitos dos servidores públicos e dos trabalhadores da iniciativa privada”, destacou Codeço.

Cenário otimista?

De acordo com especialistas e com a maioria dos movimentos sociais, o cenário atual não é nada favorável para os trabalha-dores. O crescimento econômico parece tra-zer algumas melhorias nas condições de vida da população, mas a distribuição da renda continua favorável ao capital financeiro e o ganho dos trabalhadores é muito pequeno. Além disso, os serviços públicos básicos hoje são, na prática, privatizados, favorecendo mais uma vez o capital financeiro. “Em alguns aspectos, as condições dos trabalhadores melhoraram, mas os ganhos dos trabalhado-res comparados como os do capital financei-ro foram pífios”, opinou André.

No entanto, para a CUT-RJ, o cenário é de otimismo e os trabalhadores têm boas chan-ces de conquistar a redução da jornada, o fim do fator previdenciário, entre outras reivindica-ções da classe trabalhadora. “Consideramos que há um projeto democrático-popular em curso no país desde o primeiro governo Lula, e que será continuado pela presidenta Dilma. No entanto, somos críticos, por exemplo, da política de se enfrentar a inflação através do aumento dos juros, que inibe investimentos e gera desemprego”, explicou Igayara.

De acordo com Vinícius Codeço, não será fácil alcançar novas conquistas no Governo Dilma. “Não creio que o governo tomará as medidas necessárias, como a taxação das grandes fortunas, reforma tributária, 10% do PIB para educação, entre outras, porque não querem correr o risco de perder o apoio da

“A motivação das greves foram as péssimas

condições de trabalho no local.”

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Trabalhadores na Greve de Jirau

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burguesia nacional”, argumentou. Codeço acredita que só a mobilização mudará este cenário. “Ou os trabalhadores se mobilizam em torno de suas reivindicações, ou podem esperar sentados o governo se mexer contra os interesses do capital”, arrematou.

Para André Guimarães, os trabalhadores estão desorganizados e desmobilizados, e a hegemonia política do capital financeiro é quase absoluta. “O capital está representan-do por todos os partidos majoritários, seja da situação ou da oposição. Esta hegemo-nia política e o prosseguimento das políticas neoliberais - que ao que parece irá se ace-lerar no governo de Dilma - mostram uma situação negativa para conquistas reais dos trabalhadores.”, concluiu.

Um grito nos canteiros do progresso

As revoltas nas obras de Jirau-RO, São Domingos-MS, Porto do Açu-RJ, Pecém-CE, Suape-PE e Caraguatatuba-SP mostram um lado obscuro da suposta euforia brasileira. Em um país considerado por muitos como “passivo” ou “cordial”, perto de 160 mil tra-balhadores (segundo dados do DIEESE) se revoltaram contra a precariedade em que viviam em lugares tão distantes entre si du-rante o mês de março. A manifestação mais significativa talvez seja a da Usina Hidrelétri-ca de Jirau, por envolver 22 mil trabalhadores da obra, além de ser a maior obra do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), orçada em cerca de 12 bilhões de reais.

Apesar de a construtora Camargo Correa, responsável pela obra, ter declarado que não recebeu as reivindicações da categoria, a revolta não surgiu propriamente dos sindica-tos, segundo Atnágoras Lopes, da secretaria executiva nacional da Central Sindical e Po-pular (CSP)/Conlutas. Para ele, a insatisfação com as condições de trabalho teria chegado a um ponto insuportável, enquanto os órgãos oficiais ainda não haviam atuado. Atnágoras explica que a motivação das greves foram as péssimas condições de trabalho no local. “Tem o elemento da terceirização, o elevado grau de repressão da chefia, que beirava o

paramilitar: em um refeitório para oito mil trabalhadores, ao lado da fila, seguranças passavam com armas em punho. Os traba-lhadores ficavam em função por quatro me-ses e iam para casa por apenas cinco dias”, explicou.

Durante as paralisações em Jirau, foram provocados incêndios em alojamentos e que-bra de caixas eletrônicos de bancos da cida-de. A procuradora do Ministério Público do Trabalho de Rondônia, Paula Roma de Moura, afirmou que as ações violentas foram causa-das por uma pequena parte dos revoltosos. “Está se tentando punir 22 mil trabalhadores por conta das ações de poucos”, defendeu a procuradora, que está investigando o caso. O Ministério Público encaminhou uma ação

ao judiciário, que intimou a Camargo Correa e suas subcontratadas a providenciar aloja-mento e transporte para os locais de origem e garantir os direitos trabalhistas dos empre-gados.

Sindicato X Demissões

Logo em seguida ao fim dos protestos, o secretário-geral da presidência, Gilberto Car-valho, anunciou que a construtora Camargo Correa demitiria cerca de quatro mil traba-lhadores, por conta de uma “redução no rit-mo das obras” e alegando que haviam sido contratados funcionários em excesso. No dia 6 de Maio, o Ministério Público acionou a Jus-tiça do Trabalho de Rondônia para impedir as demissões. “O acordo que embasava a auto-rização para a ação da empresa não seguia as leis para as demissões em massa. Apesar de o Sticcero (Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção Civil do Estado de Rondônia), ter assinado a autorização, não foi feita nenhuma consulta aos trabalhadores, ao contrário do que determina a lei. O vice-presidente do sindicato, Altair de Oliveira, de-clarou não ter conhecimento algum do docu-mento e confirmou não ter ocorrido a consulta aos trabalhadores”, afirmou Paula Roma.

Além do risco das demissões em massa, há também a possibilidade de que as pró-prias condições de trabalho que motivaram as revoltas permaneçam inalteradas. Em Ji-rau, um acordo foi feito entre o Sticcero e a Camargo Correa. “Além de melhorias sala-riais, o acordo garante uma série de melho-rias nas condições de trabalho e intervalos menores para que os trabalhadores visitem suas famílias, com passagens custeadas pelas empresas”, explicou o presidente da Central Única dos Trabalhadores (à qual o Sticcero é filiada) do Rio de Janeiro, Darby Igayara.

Entre as reivindicações da Conlutas, ba-seadas nas dos próprios trabalhadores, mas direcionados para diretrizes nacionais, se encontram a descriminalização total das revoltas de março, o fim da subcontratação e da terceirização em obras públicas, o au-mento da fiscalização nas obras e a garantia de descanso de 10 dias a cada dois meses trabalhados para quem se instala nos aloja-mentos. No caso de reincidência, seria feita a suspensão integral da concessão e/ou do contrato da obra.

“Cerca de 160 mil trabalhadores se

revoltaram contra péssimas condições de

trabalho”

Imagem retrata a greve dos trabalhadores de Chicago, que ocorreu em 1º de maio de 1886 e inspirou a comemoração do dia do trabalhador.

*A Camargo Correa optou por não conceder en-trevista — atitude que parece ter sido tomada em relação a qualquer meio de comunicação que procure mostrar o lado dos trabalhadores na questão.

Confira a entrevista com economista e professor da UFF, André Guimarães na íntegra em nosso site pelo link: http://va.mu/DUO

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Vírus Planetário - MAIO/JUNHO 2011

O dinheiro é uma

Pois é, camaradas leitores do Brasil inteiro: pra quem acompanhou a última edição da Vírus, lembra do dilema que eu estava passando, né?? A falta de tutu. Feijão?? Não, ainda não estava nesse ponto, mas grana mesmo, dinheiro REAL.

E dentre indagações e reflexões a cerca do assunto, agora posso comemorar com vocês: arrumei um trampo fixo!!! Prum pai de família isso é luxo, saber que vai pingar algum todo final de mês, faz toda a diferença… quem é pai ou mãe sabe do que eu estou falando.

Mas, apesar desse cascalho pingante mensalmente, não é isso que está me deixando realmente feliz e entusiasmado. O meu bem-estar vem do fato de eu estar trabalhando em um local que eu realmente acredito: lá o meu tipo de trabalho, que não é nem um pouco tradicio-nalista, é respeitado, inclusive me chamaram por isso…

Realizo as minhas vídeorreportagens na TVT – Tv dos trabalhadores (www.tvt.org.br), enfocando e defendendo interesses do povão brasi-leiro, e não há nada melhor que isso. Uma grande oportunidade.

Fazer o que acreditamos nos previne de enfartos, isquemias cere-brais ou qualquer tipo de doenças crônicas do que quer que seja. Ser o que somos de fato é o maior alimento pra alma de

qualquer ser humano, nada pode comprar isso, pode dizer aí a quan-tia de dinheiro que você quiser, que, repito, NADA PODE COMPRAR ISSO!!!

Vivemos numa era em que isso que eu acabei de dizer é coisa de maluco, fico como um lunático que ainda não acordou pra “realida-de”… mas vejam só, eu digo o mesmo dos adoradores desse alpiste diário entregue por quem domina o status quo: quem vive afogado na realidade do TER, do PARECER, da AUTO-MENTIRA, ainda não acor-dou pras verdades essenciais de todo ser vivo nesse planeta.

Raul Seixas dizia: “A arapuca está armada e o alpiste é tentador”. Dinheiro não é o único alpiste, mas é um dos principais.

Podem se passar séculos e todos os sistemas políticos possíveis e imagináveis, que o universo vai estar sempre ali, a natureza sempre ali, o amor sempre ali, mostrando o que realmente interessa pra quem quer se conhecer profundamente, estando pronto até pra sofrer pra depois poder sorrir de verdade.

E é por essas e outras que eu digo:

O DINHEIRO PAGA CONTAS, MAS NÃO DEIXA DE SER UMA MIRAGEM.

Carlos Carlosé vídeo-ativista e repórter da TVT (Tv dos Trabalhadores). Trabalhou no “Programa

Novo” da TV Cultura e foi demitido após ouvir do novo diretor: “Me chamaram pra deixar o programa mais comercial, você não faz

esse perfil”. Em poucos meses na tv, foi um diferencial com tiradas políticas e matérias

ousadas como a que fez na Conferência Nacio-nal de Comunicação de 2009.

www.bolaearte.wordpress.com

Bola e arte Futebol, arte e transformação social Direto de Sampa

miragemmiragemmiragemmiragem

Ainda

NÃO!?

bem que todas as pessoas podemser

compradas,

A saga de um jornalista que não quer se vender.

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Page 31: 10ª edição Vírus Planetário

E aí??? Quer que essa história tenha um final feliz? Então, participe da campanha O Petróleo tem que ser nosso!

Em defesa do projeto dos movimentos sociais para o petróleo, com monopólio estatal, Petrobrás 100% pública e investimento em energias limpas.

Participe do abaixo-assinado:www.sindipetro.org.br

Notícias da campanha:www.apn.org.br

organização:

www.apn.org.br Notícias da campanha:

Aê Galeera, tem pra

todo mundo! São 174

blocos de petróleo, na

terra e no mar!

vuuummmm

Ma õõÊE! Quem Quer petróleo?

...os empresários brasileiros e estrangeiros já começam a juntar a merreca pra com-

prar mais poços e ganhar muito mais dinheiro

Como esse

povo brasileiro

é trouxa...

Enquanto isso, na sala de injustiça, o minis-tro de minas e energia, edison lobão anuncia que o próximo leilão do petróleo brasileiro já tem data pra acontecer: 12 de setembro...

Entretanto, algo não esperado por lobão e seus comparsas ainda pode acontecer: O povo brasilei-ro tem que se mobilizar e Exigir:

“o petróleo tem que ser nosso!”

Olha o desespero do lobão quando no-

tar que seus planos diabólicos irão por

água abaixo...

Page 32: 10ª edição Vírus Planetário

1Defender a educação pública, gratuita, laica, de-mocrática e de qualidade social, em todos os níveis,

como um direito social universal e dever do estado.

2Exigir do poder público a garan-

tia de acesso e de permanência, assegurando efetiva assistência estudantil (moradia, transporte,

meia entrada nos eventos culturais, bolsa de manuten-ção etc.).

3Defender a organização de um efetivo Sistema Nacional de Educação que articule e garanta o

cumprimento das responsabilidades educacionais dos diferentes entes federados. 4Defender a aplicação ime-

diata de montante equivalente a pelo menos 10% do PIB na educação pública em todos

os níveis e que as verbas públicas sejam destinadas somente para as escolas públicas.

5Combater todas as formas de mercantilização

da educação e a introdução de critérios produtivistas no trabalho dos (as) profissionais da educação e na avaliação das

instituições e dos (as) estudantes.

6Exigir controle social sobre a educação privada como concessão do poder público. É função do Estado regulamentar e fiscalizar seu funcionamento, observando a

garantia de carreira digna aos (às) seus (suas) trabalhadores (as) e a autonomia

didático-científica diante de suas mantenedoras.

7Articular a luta em prol da qualidade da educação com a defesa da garantia

pelo Estado das condições de trabalho dos (as) profissionais da educação, incluindo a

valorização salarial e a autonomia didático-científica.

8Exigir que a gestão democrática das instituições e sistemas educacio-

nais seja realizada por meio de órgãos colegiados democráticos9Defender for-

mação inicial e continu-ada, pública e gratuita, presencial e de qualidade

de todos (as) os (as) trabalhadores (as) em educação em todos os níveis e modalidades educacionais.

10Ampliar o debate com os movimentos sociais e populares e entidades aca-

dêmicas com o objetivo de reconstruir o Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública e fortalecer luta pela elaboração coletiva e democrática do Plano Nacional de Educação 2011-2012, tendo como referência o Plano Nacional de Educação: proposta da sociedade brasileira.

Mobilizar é preciso!

Por uma educação pública sem mercantilização,

Embarque nessa luta!

Os 10 Princípios do Fórum:

Acesse:www.fedep.org.br

A é uma das entidades participantes do Fórum Estadual em Defesa da Escola Pública (FE-DEP). Na luta pela educação pública, gratuita e de qualidade, da creche à universidade!

E, em junho, não perca!UFRJ EM DEBATE: a situação da Praia Vermelha

29/06no campus Praia Vermelha

Mais informações: www.adufrj.org.br