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[email protected]; [email protected] 1 O CENTRO E A ÁREA CENTRAL DE SÃO PAULO NO ÚLTIMO QUARTEL DO SÉCULO XX: PLANOS DIRETORES, INVESTIMENTOS PÚBLICOS E A QUESTÃO HABITACIONAL. LIMITES E NOMES – O CENTRO E A ÁREA CENTRAL DE SÃO PAULO. Nilce Cristina Aravecchia Nabil Georges Bonduki Universidade de São Paulo. Argumenta que as áreas degradas fazem parte do Centro da Capital Paulista, desde sua constituição como centro propriamente dito e que seus espaços degradados e principalmente sua área periférica, abarcando os bairros centrais, constituem um território da cidade, chamado em sua totalidade de Área Central. Aponta que, por este motivo, conforme foi-se expandindo o território de grande dinamismo econômico, foram crescendo também suas áreas de estagnação e decadência, processo acentuado a partir da década de 1960, com o surgimento de novos territórios na disputa por investimentos públicos e privados. Mostra a revalorização econômica do Centro de São Paulo como pauta do Poder Público Municipal desde o final dos anos de 1970 e que, paralelamente debate-se sobre a necessidade da reversão da lógica de urbanização e de ocupação do território, baseada na expulsão da população mais pobre para a periferia enquanto as áreas bem dotadas de infra-estrutura esvaziam-se. Busca a origem das diretrizes que apontam a implementação de uma política habitacional voltada à produção de moradias nas áreas já equipadas, começando pela Área Central, como solução para o problema. Aponta que, variando no grau de prioridade, todos os governos, desde o final dos anos de 1970, trataram do problema, através de estudos e propostas ou de investimentos e obras propriamente ditos e tanto o Município, quanto o Estado, e mais recentemente o Governo Federal, investiram na recuperação dos espaços públicos e institucionais, apostando no poder indutor de obras pontuais para a revalorização e reocupação do Centro. Levanta a questão de que apesar do repovoamento da Área Central, através da produção de moradia, já ser considerado fundamental para sua recuperação, os investimentos nessa direção não ultrapassaram o campo das iniciativas piloto, e não representaram grandes impactos na reversão dos processos adotados pela iniciativa privada.

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    O CENTRO E A REA CENTRAL DE SO PAULO NO LTIMO QUARTEL DO SCULO XX: PLANOS DIRETORES, INVESTIMENTOS PBLICOS E A QUESTO HABITACIONAL. LIMITES E NOMES O CENTRO E A REA CENTRAL DE SO PAULO. Nilce Cristina Aravecchia Nabil Georges Bonduki Universidade de So Paulo.

    Argumenta que as reas degradas fazem parte do Centro da Capital Paulista, desde sua constituio como centro propriamente dito e que seus espaos degradados e principalmente sua rea perifrica, abarcando os bairros centrais, constituem um territrio da cidade, chamado em sua totalidade de rea Central. Aponta que, por este motivo, conforme foi-se expandindo o territrio de grande dinamismo econmico, foram crescendo tambm suas reas de estagnao e decadncia, processo acentuado a partir da dcada de 1960, com o surgimento de novos territrios na disputa por investimentos pblicos e privados. Mostra a revalorizao econmica do Centro de So Paulo como pauta do Poder Pblico Municipal desde o final dos anos de 1970 e que, paralelamente debate-se sobre a necessidade da reverso da lgica de urbanizao e de ocupao do territrio, baseada na expulso da populao mais pobre para a periferia enquanto as reas bem dotadas de infra-estrutura esvaziam-se. Busca a origem das diretrizes que apontam a implementao de uma poltica habitacional voltada produo de moradias nas reas j equipadas, comeando pela rea Central, como soluo para o problema. Aponta que, variando no grau de prioridade, todos os governos, desde o final dos anos de 1970, trataram do problema, atravs de estudos e propostas ou de investimentos e obras propriamente ditos e tanto o Municpio, quanto o Estado, e mais recentemente o Governo Federal, investiram na recuperao dos espaos pblicos e institucionais, apostando no poder indutor de obras pontuais para a revalorizao e reocupao do Centro. Levanta a questo de que apesar do repovoamento da rea Central, atravs da produo de moradia, j ser considerado fundamental para sua recuperao, os investimentos nessa direo no ultrapassaram o campo das iniciativas piloto, e no representaram grandes impactos na reverso dos processos adotados pela iniciativa privada.

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    O CENTRO E A REA CENTRAL DE SO PAULO NO LTIMO QUARTEL DO SCULO XX: PLANOS DIRETORES, INVESTIMENTOS PBLICOS E A QUESTO HABITACIONAL. LIMITES E NOMES O CENTRO E A REA CENTRAL DE SO PAULO. Nilce Cristina Aravecchia Nabil Georges Bonduki Universidade de So Paulo.

    Centro, rea Central, Centro Histrico, Centro Tradicional, Regio Central. So muitas as denominaes que se referem a delimitaes e permetros diferentes, tanto para anlises quanto para propostas de interveno, na parte mais consolidada do ponto de vista histrico e tambm urbano da Cidade de So Paulo.

    Seria restritiva a adoo de um nico permetro fsico para a anlise do territrio, j que cada diagnstico ou proposta identificados tem limites diferenciados. As diferenas, no entanto, no so casuais. Elas residem nos conceitos, nos interesses de grupos sociais distintos e no que cada um deles espera para o desenvolvimento futuro, no s do Centro, mas da Cidade como um todo. O estudo de Mller (1958), referncia fundamental para termos em mente o momento em que se constitui o Centro e a partir de que elementos. Pela digresso histrica que nos fornece, podemos afirmar que o referencial do que seria o Centro foi mudando no decorrer do desenvolvimento da cidade e da construo de sua histria.

    As dcadas finais do sculo XIX marcariam o momento em que passou a existir em So Paulo um centro propriamente dito. Conformado pelas ruas So Bento, Direita e Quinze de Novembro, o denominado Tringulo Histrico concentrava a maior parte das atividades de comrcio, escritrios, oficinas, estabelecimentos de crdito e reparties pblicas. Somente na dcada de 1930 foi que se deu a expanso significativa das atividades que caracterizavam o Centro para oeste, na poro compreendida entre o Vale do Anhangaba e a Praa da Repblica. (Mller 1958:143). Grande influncia nessa setorizao teve o Plano de Avenidas e seu Permetro de Irradiao, que veio a coroar a importncia do Centro, atribuindo-lhe um carter estrutural, no esquema rdio-concntrico que props para a articulao viria da cidade.

    Concebido em suas diretrizes gerais por Ulha Cintra em 1924, o Plano foi readequado por Prestes Maia e teve sua implementao mais intensa a partir de sua gesto como prefeito em 1938. Fazia parte das diretrizes contidas na proposta a ampliao das funes centrais abarcando o entorno da Praa da Repblica, pois o Tringulo inicial j se mostrava insuficiente. As obras que se seguiram, ao mesmo tempo em que impulsionaram a cidade para um crescimento metropolitano, reforaram a importncia do Centro, j que seu espao tornou-se o ponto nodal do trnsito de automveis, acabando por limitar o prprio alcance global a que se pretendia Prestes Maia. (Grosteins in Frgoli Jr. 2000).

    O comrcio, as finanas, os servios e as profisses liberais, o lazer, as instituies pblicas e privadas, tudo concorria para a atrao provocada pelo Centro e pela movimentao alucinada. A partir de anlise funcional, o estudo de Muller delimitou o Centro propriamente dito, e sua rea de abrangncia dividindo-a em: reas perifricas, que sofriam grande influncia da rea principal e rea de transio, onde j se observava maior presena do uso residencial.

    A crescente valorizao de imveis, devida a concentrao de atividades comerciais no Centro, provocou vrias conseqncias. Paulatinamente determinados tipos de ocupao caracterizados por menor obteno de lucros (ateliers de costura, oficinas mecnicas, lojas de armarinhos etc) tranferiram-se para outras localidades. Nas zonas de transio o processo levou ao incremento das reas mais degradadas, pois, na nsia de aproveitar da melhor maneira os terrenos de alto preo, os que a viviam foram levados a abrir ruas internas, ruelas e becos, alinhando incontveis vilas, desde as constitudas por residncias de tipo mdio at aquelas que no passavam de

  • miserveis cortios, principalmente nas proximidades da Liberdade e Bela Vista. A valorizao tambm ocasionou o esvaziamento de imveis, nos quais a vocao comercial impulsionava os valores dos aluguis, deixando-os impraticveis para a habitao. (Mller, 1958:177-178).

    A especulao imobiliria avanava, desencadeando um processo que levaria ao esvaziamento e a utilizao de terrenos vagos para estacionamentos, e em alguns casos reas inteiras eram demolidas dando lugar a esse tipo de atividade.

    Por outro lado, a localizao das habitaes das classes de maior renda, com a implantao dos bairros Higienpolis e Pacaemb foram o elemento definitivo para a atrao de atividades consideradas mais nobres e impulsionaram a expanso do Centro para o Quadrante Sudoeste. Do mesmo modo, a instalao das elites em bairros como o Jardim Amrica e Europa atrairiam as atividades centrais para a avenida Paulista a partir dos anos 60, e para avenida Faria Lima na dcada de 80. (Villaa 2000)

    Paralelamente ao deslocamento das habitaes das classes de maior renda, verificava-se desde o final do sculo XIX a formao dos bairros exclusivamente operrios configurando o incio da segregao social que caracterizaria a Metrpole Paulistana, quadro ainda mais agravado devido a falta de moradia para as classes de menor renda a partir dos anos 1940 e a expulso das mesmas para a implantao das obras do Plano de Avenidas no Centro da cidade:

    O cenrio da cidade nos anos 40 contraditrio e ambguo, de crise e de progresso: enquanto os trabalhadores sofrem com a falta de moradia, So Paulo renovada por novas avenidas e embelezada por arranha-cus, num contexto de opulncia, especulao imobiliria e industrializao. (Bonduki, 1998).

    As reas perifricas e de transio, so os termos utilizados por Mller para se referir s reas contguas ao Centro. Da mesma forma Helena Konh Cordeiro (1978) retoma o estudo reelaborando-o a partir de novo levantamento funcional, mas novamente englobando toda a rea de influncia das funes centrais separando o territrio em Setores de assimilao, deteriorao e estagnao. Levando em considerao essas regies a anlise focada na dinmica econmica do territrio a partir da verificao dos locais que acabam por reproduzir as caractersticas do Centro e aquelas as quais essa dinmica no d conta de abranger.

    O fenmeno do aparecimento de reas esvaziadas ou que abarcam funes menos nobres do ponto de vista econmico representam na verdade a dicotomia que o territrio carregar por anos consecutivos chegando dcada de 80 com a imagem de degradao e decadncia que lhe foi atribuda. Ocorre que a degradao de alguns espaos verificada desde os anos 1950, principalmente nos chamados Bairros Centrais, atravs de suas franjas passou a contaminar tambm o territrio destacado como Centro.

    Podemos concluir que a constituio do Centro em 1930 produziu tanto suas reas de desenvolvimento econmico, como suas reas de degradao e estagnao, j que nem todo o territrio pde fazer parte dos setores de assimilao. Ou seja, enquanto algumas localidades eram assimiladas pela efervescncia econmica, reproduzindo funes e atividades caractersticas do Centro e assim dele fazendo parte, outras o constituam de maneira inversa, conformando pontos de menor rendimento econmico e at de pobreza, estagnados ou degradados, aguardando a mesma valorizao de territrios vizinhos.

    O Centro no pode ser considerado sem suas reas contguas, que fizeram parte de sua prpria constituio. Portanto, para as anlises a seguir optamos por abarcar os chamados Bairros Centrais, assumindo-os como territrios de abrangncia do prprio Centro.

    Levando em considerao as diferentes delimitaes e denominaes, em consonncia com as vrias propostas e intervenes que sero destacadas, nos referiremos ao Centro quando tratarmos dos distritos S e Repblica, e a rea Central quando a referncia for ao Centro mais os territrios contguos, chamados Bairros Centrais que, do ponto de vista administrativo

  • representam os distritos: Mooca, Brs, Pari, Bom Retiro, Santa Ceclia, Consolao, Bela Vista, Liberdade e Cambuci.

    O SURGIMENTO DE NOVOS CENTROS E O INCIO DO ESVAZIAMENTO: UM ALERTA PARA OS MEIOS TCNICOS

    O desenvolvimento da Metrpole, a movimentao da economia no espao urbano, a expanso das atividades e a abertura de novos territrios oferecendo vantagens em relao ao Centro, somados a outros fatores que trataremos mais adiante levaram ao surgimento das chamadas Novas Centralidades e tambm apregoada deteriorao e decadncia do Centro.

    O trabalho de Cordeiro j destaca o fato de que a rea de maior dinamismo de expanso no momento de seu estudo a do Centro Paulista, como denomina a regio da avenida de mesmo nome, considerando-o como um desdobramento do Centro e no como um ncleo concorrente levantando inclusive a possibilidade dos dois ncleos (Centro Principal e Centro Paulista) se encontrarem no futuro. Para esta anlise sua ateno est voltada ao crescimento dos preos do solo urbano da regio, examinado na planta genrica de valores do ano de 1975.

    O ncleo da rua Augusta detectado por Mller em 1952, apesar de no ocupar a importncia do Centro, como dizia, abriu caminho para a expanso e a concentrao de funes e atividades antes exclusivas do Centro para a Avenida Paulista, como, por exemplo, as empresas do setor financeiro, o que podemos verificar na afirmao de Cordeiro um quarto de sculo depois:

    O Centro Paulista ou Centro Novssimo surgiu do encontro da rea de assimilao desenvolvida a partir do corredor comercial da rua Augusta com a rea de expanso do corredor de servios metropolitanos da avenida Paulista. A ocupao da rea pelo setor tercirio vem-se dando no ltimo quarto de sculo de forma acelerada, residindo justamente o seu carter essencial no dinamismo de sua implantao. (1978:89).

    Nos anos 80 a esquina da Xavier de Toledo com a Praa Ramos de Azevedo que abrigava a loja de maior rendimento comercial da Metrpole, perdeu importncia, dando lugar a outros pontos da Paulista e depois da Faria Lima, somando-se tambm o advento dos Shoppings Centers que se firmaram como fortes concorrentes do comrcio de rua. Podemos comparar as regies num exame da atual Planta Genrica de Valores, percebendo as diferenas entre os valores venais em alguns pontos:

    Centro: rua Baro de Itapetininga, esquina com a rua Xavier de Toledo: R$ 1,166.523; Regio da Paulista: avenida Paulista, esquina com a rua Ministro Rocha Azevedo: R$ 6,118.961; Regio da Faria Lima: avenida Brigadeiro Faria Lima, esquina com a avenida Cidade Jardim: R$ 3,368.855. (Igasageo, 2003 - Dados da Planta Genrica de Valores, Sistema Georeferenciado da Empresa)

    Os dados mostram que o Centro deixou de ter o metro quadrado mais caro da cidade como atestava Cordeiro no final da dcada de 1970. Desde os anos de 1960, o Centro sofre uma presso por parte de seus setores de assimilao e do novo ncleo surgido na regio da Avenida Paulista.

    O Centro Velho, no entorno da S, j vinha sendo ocupado por atividades menos nobres e rentveis, como comrcio e servios de carter mais popular, desde a transferncia das funes mais nobres, boutiques e cafs, para a regio da Repblica, o Centro Novo, que depois migraram para a regio dos Jardins, entre a Avenida Paulista e a Rua Estados Unidos.

    Nesse contexto a criao da Emurb Empresa Municipal de Urbanizao, em1971, e de outros rgos pblicos municipais, representou a esperana da reverso do processo de degradao da rea Central. Como em outros momentos da histria de So Paulo, mais uma vez esperava-se que o saber tcnico poderia resolver os problemas produzidos pela dinmica urbana de uma

  • cidade que crescia desenfreadamente. Novas abordagens, agora em torno da preservao e no mais da renovao total do tecido urbano, tomavam conta das novas prticas:

    Usando a tcnica da reciclagem para restaurao das relquias individuais ou de conjuntos arquitetnicos, a restaurao de outros trechos, usando moldes avanados de tcnicas de construo e outras a COGEP e a EMURB esto tentando realizar a Segunda reconstruo do Centro Principal de So Paulo. Este fenmeno raro da histria da urbanizao vem aqui ocorrendo como em outras metrpoles, correspondendo a uma necessidade de encontrar uma relao equilibrada e proveitosa entre a rea metropolitana em expanso e o seu respectivo Centro. (Smith, 1977 apud Cordeiro, 1978:111).

    No entanto, esta viso quanto recuperao do Centro, no era to clara como podia aparentar. A Emurb, ao mesmo tempo em que empreendeu a recuperao de reas decadentes e a reurbanizao das zonas prximas aos terminais do Metr, tambm levou a cabo o planejamento e execuo da Nova Paulista, projeto que dava novo desenho Avenida, promovendo assim, condies para o seu pleno desenvolvimento. em relao ao Centro as organizaes tcnicas do poder pblico no tinham viso to clara da necessidade de preservar, j que enquanto restaurava o Edifcio Martinelli e o Viaduto Santa Efignia a Emurb tambm realizava as obras de reurbanizao da Praa da S, seguindo ante-projeto da Companhia do Metr, sobre uma quadra inteiramente demolida para implantao da estao de transbordo. (Amdio, 1998).

    Em 1972, foi institudo o zoneamento, acreditando-se, que iria direcionar o crescimento da cidade. O Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado PDDI, no apresentava nenhuma diretriz em relao ao Centro especificamente. Propunha uma grelha ortogonal sobreposta a todo o territrio urbanizado, distribuindo os fluxos virios. A implantao do desenho era questionvel, pois significava a implantao de outra lgica viria, sobre o tecido urbano j constitudo. Como legado deste Plano ficou mesmo a lei de uso e ocupao do solo, o zoneamento, que vigora at hoje, esperando nova lei que venha substitu-lo e que est em fase de discusso na Cmara Municipal. Como atesta Amdio (Op. Cit.), o zoneamento no chegou a provocar nenhuma grande repercuso no Centro, apenas consolidou os usos e ocupaes existentes, passando a zona correspondente rea Central a ser a Z5, com coeficiente de aproveitamento igual a 4,0.

    No final da dcada de 1970 foi providenciado o estudo Poltica de desenvolvimento da rea Central, definindo diretrizes que deveriam ser adotadas pela Administrao Municipal para evitar que a degradao detectada em alguns pontos se alastrasse por toda a regio, sob o argumento de que os riscos de uma decadncia econmica, levando a uma subutilizao do enorme volume de capitais historicamente acumulados, exigiam uma postura governamental anunciada. (COGEP 1979).

    O documento Poltica de Habitao e Renovao Urbana da COGEP Coordenao Geral de Planejamento, tambm destacava os aspectos negativos do processo de urbanizao empreendido pelo poder pblico, relacionados produo de habitaes somente na periferia, e reconhecia a insuficincia do zoneamento, institudo pelo PDDI, em conter a ilegalidade na produo do solo urbano. O estudo reiterava a necessidade de aproveitar bem os espaos ricos em infra-estrutura, como o caso da rea Central. Recomendava-se para a reverso da lgica de crescimento desmedido da periferia, medidas de natureza fiscal, alm de subsdios s famlias de baixa renda para a proviso de habitao em locais mais favorveis. (Meyer, 2002).

    No entanto, aps a elaborao dos documentos so seguidas somente as diretrizes e aes anunciadas para as intervenes fsicas no Centro, representadas pelas obras realizadas no governo de Olavo Setbal. Faziam parte do elenco publicado no documento Poltica de Desenvolvimento da rea Central as seguintes intervenes: 1. O trmino da Estao S com sua total reformulao; 2. A construo dos calades; 3. O incio das obras da linha Leste-Oeste do Metr; 4. A recuperao do Viaduto Santa Efignia; 5. Recuperao do Edifcio Martinelli. (COGEP, 1979).

  • Esse perodo iniciou, sem dvida a preocupao com a manuteno e a revalorizao do territrio do Centro, to rico em infra-estrutura. Segundo Jos Edurado de Assis Lefevre, funcionrio da Emurb na ocasio, interesses imobilirios e tambm histricos levaram o Ex-Prefeito de famlia tradicional, que tinha no Centro uma referncia simblica, a interferir no processo de degradao que vinha ocorrendo, atribudo principalmente aos congestionamentos que passaram a atingir ndices inaceitveis.

    O Edifcio Martinelli, primeiro arranha-cu da cidade encontrava-se em estado alarmante, contendo alm de andares encortiados, algumas salas com pequenas prestaes de servios. Entre as opes de derrub-lo ou recuper-lo optou-se pela segunda, sendo o prdio completamente restaurado. Outra grande interveno do perodo foi a referida reurbanizao da Praa da S resultado da implantao do metr.

    Acreditava-se que as obras das praas do Metr e a implantao dos calades viriam a minimizar o problema dos congestionamentos no entorno do Centro.

    As diretrizes contidas no documento da COGEP para a proviso de habitao social nas reas bem urbanizadas, atravs de subsdios, a reviso da lei de zoneamento e as medidas de natureza fiscal, se arrastariam at o momento atual, sendo retomadas em vrias ocasies.

    CENTRO E REA CENTRAL NAS DUAS LTIMAS DCADAS DO SCULO XX: PLANOS DIRETORES, INVESTIMENTOS PBLICOS E A QUESTO HABITACIONAL.

    Baseando-se em estimativas contidas no Plano Municipal de Habitao de 1983, que classificava 55% das habitaes do Municpio como subnormais, o Plano Diretor de 1985 foi um momento da retomada dos estudos que mostravam a gravidade que o processo de crescimento das periferias representava para qualidade de vida da cidade como um todo. (Meyer, op. Cit.). O Plano apontava a necessidade da distribuio da populao pelo territrio, se fazer de forma a otimizar a ocupao de reas j consolidadas, atravs das seguintes diretrizes:

    a) preenchendo lotes e glebas vazios nos anis perifrico e intermedirio; b) adensando (inclusive verticalmente) Butant, Campo Limpo, Ipiranga, Vila Prudente e Penha; c) aumentando a verticalizao de alguns setores do Anel Intermedirio: Vila Santa Catarina, Jabaquara, Sade, Ipeiranga, Liberdade, Camuci, Mooca, Belenzinho, Tatuap, Santana e parte da Freguesia do ; d) reocupando o Centro Principal para fins habitacionais, notadamente os bairros da Bela Vista e Liberdade e dos Campos Elseos, mediante verticalizao criteriosa que preserve os valores desses bairros.(...) (Sempla, 1985).

    Quanto ao item d as habitaes seriam oferecidas s camadas de renda mdia e mdia baixa, atravs de renovao urbana em reas desapropriadas e subocupadas, existentes nessas vizinhanas do Centro. Para viabilizar o atendimento s famlias com renda entre cinco e dez salrios mnimos prope-se a alterao do zoneamento permitindo ndices mais altos de coeficiente de aproveitamento que neutralizassem os preos dos terrenos.

    Alm da proposta de reforar as funes do Centro atravs do adensamento residencial o Plano ainda coloca a necessidade de melhorar sua qualidade urbana de maneira a torn-lo mais acessvel e agradvel ao uso popular, constituindo instrumentos adequados para conduzir tal processo, a Lei de zonemaneto e o poder indutor de obras pblicas.

    O poder pblico daria o estmulo inicial para a revalorizao do Centro e indicando duas grandes intervenes previa-se um novo quadro para o ano 2000: A estrutura urbana de So Paulo ser marcada por equipamentos de grande porte (...) o Centro Principal receber o Novo Parque D. Pedro e a reurbanizao do Vale do Anhangaba. (Sempla, 1985).

  • O concurso para o Novo Vale do Anhangaba, havia sido realizado em 1982, cujo projeto vencedor de autoria de Jorge Wilheim e Rosa Klias, teria as obras iniciadas somente na gesto de Jnio Quadros, como veremos mais adiante.

    Tambm durante o perodo da gesto de Mrio Covas, estavam sendo feitos levantamentos no entorno da Estao da Luz por parte do Departamento do Patrimnio Histrico DPH, tendo a frente a Professora Regina Meyer. O resultado do trabalho foi a elaborao do Projeto Luz Cultural, cujo objetivo era impulsionar a vocao cultural da regio do entorno da Estao da Luz, atravs da valorizao do seu Patrimnio Histrico. Nota-se a comunicao entre o DPH e a Secretaria de Planejamento na diretriz do Plano Diretor de 1985, transcrita a seguir:

    Considerando no s os excepcionais fatores de localidade e acessibilidade, mas tambm a existncia de inmeros imveis pblicos de valor cultural, o Bairro da Luz tambm mereceria estudos especiais, no sentido de se promover sua ativao como plo cultural, em atuao conjunta com o Governo do Estado. (Sempla, op. Cit.).

    A partir de 1984 o projeto seria implementado pelo Governo do Estado, tendo Jorge da Cunha Lima como Secretrio da Cultura e a Professora Regina Meyer como sua assessora, no Governo de Franco Montoro. Mas, em entrevista realizada em novembro de 2003, Regina Meyer relatou que o primeiro desdobramento concreto dos levantamentos iniciados pelo DPH em 1982, coordenados por ela, foi a instalao da Oficina Cultural Trs Rios, atual Oswald de Andrade pela Secretaria de Cultura do Governo do Estado que ocorreu apenas em 1990.

    O grande impulso transformao da rea em plo cultural ocorreu mesmo a partir da primeira gesto de Mrio Covas como Governador do Estado em 1995, destacando-se as principais obras: reforma da Pinacoteca do Estado segundo projeto de Paulo Mendes da Rocha; reconverso da Estao Jlio Prestes para sede da Osesp Orquestra Sinfnica do Estado de So Paulo; reforma da antiga sede do Dops para abrigar a Secretaria de Estado da Cultura e Salo de Exposies vinculado Pinacoteca; e reforma do Teatro So Pedro.

    O Plano Diretor de 1985 no foi aprovado pela Cmara Municipal. Algumas diretrizes e projetos, da ordem do executivo, foram realizados tempos depois, como os projetos culturais na rea da Luz, descritos acima, a reurbanizao do Vale do Anhangaba e a parte do Parque D. Pedro que correspondia a restaurao do Palcio das Indstrias para instalao do gabinete do prefeito. No entanto, as questes que dependiam de mudanas na legislao e de novos programas de financiamento, estritamente relacionadas ao adensamento habitacional das reas mais bem urbanizadas da cidade, ficaram para trs. Mostravam-se, no entanto, cada vez mais urgentes, diante do quadro de agravamento das consecutivas crises econmicas que rasgaram a dcada de 1980.

    Foi durante a gesto do Prefeito Mrio Covas que surgiram as primeiras manifestaes por moradia que depois iriam se proliferar por todo o Municpio. Paralelamente aos movimentos operrios e aos movimentos contra o aumento do custo de vida, em toda a Regio Metropolitana, surgiram as organizaes que passaram a lutar especificamente por melhores condies de moradia.

    Um grupo ligado Associao dos Trabalhadores de Fundos de Quintais da Regio da Mooca, formado pela populao encortiada do bairro, que trabalhava nas fbricas da regio. O grupo iniciou a reivindicao por moradia, pleiteando, junto ao Prefeito Mrio Covas, as sobras de terras oriundas da implantao do Metr, passando pelos bairros do Brs, Bresser e Belm e obteve como resposta do ento Secretrio da Habitao e Desenvolvimento Urbano, Arnaldo Madeira, que eles estavam querendo demais, que estavam querendo o fil mignon. (Associao dos Trabalhadores da Mooca, 1993).

    Nota-se que a inteno do governo no era providenciar habitao de baixa renda na rea Central e, como apontavam as diretrizes do Plano Diretor, o adensamento com residncias, na rea Central, seria destinado para as classes mdia e mdia baixa.

  • Vernica Krol, atual liderana do Frum dos Cortios e Sem Teto de So Paulo, e Gutemberg Souza, ex-liderana da Unio da Luta dos Cortios, contam que depois de vrias reunies na Secretaria da Habitao e na do Bem Estar Social, que no representaram nenhum avano e nada de concreto, o grupo resolveu ocupar a sede da FABES Secretaria da Famlia e Bem Estar Social, na Mooca. A ocupao, que durou cinco dias, forou a negociao que viria a beneficiar 96 famlias em dezembro do mesmo ano. (Entrevistas concedidas por Vernica Krol e Gutemberg Souza a autora outubro de 2003).

    Apesar das diretrizes referidas anteriormente, contidas no Plano Diretor de 1985, as famlias no foram direcionadas para os bairros centrais, mas para o Jardim Ivone, prximo Vila Industrial, na periferia da Zona Leste de So Paulo. A falta de uma legislao que contemplasse a demanda de habitao para as classes de menor renda e a falta de programas de financiamento e subsdios, abriam margem para que o poder pblico agisse de maneira contrria s diretrizes dos estudos urbansticos.

    O grupo da Mooca era representativo nesse momento, de um processo que deu origem, primeiramente aos vrios Movimentos de Moradia e s ocupaes de terra por todas as regies da periferia de So Paulo e mais tarde aos grupos organizados, que hoje lutam por moradia no Centro da cidade.

    As propostas e previses contidas no Plano de 1985, no condiziam com as aes do poder pblico municipal no perodo, que pouco investiu no Centro da cidade. O agravamento da crise e o grande crescimento da rea urbanizada contrapunham a inteno de investir no Centro com a necessidade urgente de prover de recursos urbanos as reas perifricas totalmente desprovida deles.

    Em 1988, com Jnio Quadros na prefeitura, foi enviado novo Plano Diretor Cmara Municipal, aprovado por decurso de prazo, que vigorou at 2002. Sem apontar caminhos especficos para a rea Central a natureza das diretrizes recomendadas no Plano se aplicaria igualmente a toda a regio definida como rea consolidada, delimitada ao Norte, por Santana; ao Leste pelo Tatuap, Mooca e Ipiranga; ao Sul pelo Jabaquara e Santo Amaro; a Oeste pelo Morumbi e Butant. Recolocando a necessidade de redirecionar o crescimento para as reas j dotadas de infra-estrutura, estabelecia-se a diretriz geral de promover o adensamento, acelerando a ocupao e a intensificao do uso do solo na rea urbana de acordo com critrios por reas diferenciadas de planejamento, redirecionando o crescimento para o quadrante leste do municpio. (Sempla, 1988). As outras duas reas delimitadas, chamadas de intermediria e perifrica, deveriam ter o crescimento contido o que se supunha alcanar atravs de algumas diretrizes entre elas a implantao de ligaes perimetrais para desviar o trfego de passagem da rea Central, a promoo de operaes urbanas, entendidas, como ao conjunta dos setores pblico e privado, destinadas melhoria do padro de urbanizao e o estmulo a localizao disseminada de indstrias de pequeno porte no poluentes, sobretudo de tecnologia de ponta.(Sempla, 1988). A reas degradas eram vistas como alvos de renovao urbana, ou seja, da implantao de novas construes e de novo padro de urbanizao, depois da demolio de edifcios e at quadras, tendo a mo para servir a tal inteno o instrumento das operaes urbanas, que poderiam reformular completamente os parmetros de uso e ocupao de um determinado permetro.

    Segundo Piccini (2000) a postura era semelhante em relao aos cortios, j que o Plano de 1988 apontava a necessidade de buscar a participao da iniciativa privada na sua soluo atravs de instrumentos urbansticos com a viso de renovar a estrutura urbana para continuar facilitando a promoo imobiliria privada.

    As propostas e aes de Jnio provocaram a indignao de muitos tcnicos da rea da Arquitetura e do Urbanismo gerando conseqncias como o tombamento dos bairros de Santa Ifignia e Campos Elseos, reao do Condephat a um projeto de Jnio de fazer uma grande renovao na rea de Santa Ifignia. (Jos Eduardo de Assis Lefevre em entrevista concedida a autora setembro de 2003).

  • Outra diretriz apontada pelo Plano de 1988 era a necessidade de direcionar o adensamento para Leste do Centro e foi levada adiante com a implantao de edifcios habitacionais nas sobras do Metr Brs e Bresser. A interveno poderia estar relacionada com o interesse em facilitar a entrada do mercado imobilirio na regio como nos sugeriu Dcio Amdio:

    H duas verses sobre aquele rasgo feito no Brs. Uma que oficial do projeto Cura, de que havia necessidade de corrigir distores que ocorreram na linha norte-sul, mais especificamente em Santana e Jabaquara, havia possibilidade de se comprar reas na poca, o Metro comprou, destruiu uma parte do tecido urbano e depois isso foi repassado para rgos do prprio Estado, e na poca a prefeitura fazia parte do Metr, por isso a Cohab foi l construir. A outra verso de que se tratou de uma jogada imobiliria e no s, mas tambm visando a destruio de uma parte do bairro que estava comprometida com cortios, que foi completamente derrubada. Do ponto de vista populacional talvez tenha sido a renovao urbana de maior intensidade j ocorrida na cidade e que passou batida. (Dcio Amadio em entrevista concedida a autora outubro de 2003).

    A Unio de Moradores dos Quintais da Mooca continuava a reivindicar as reas referidas acima, para a produo de Habitao Social e Vernica Krol lamenta a destino dos terrenos: A Cohab construiu todos aqueles prdios no Governo Jnio Quadros para a classe mdia, ns s passamos de Metr e ficamos olhando para eles, s isso. (Entrevista de Vernica Krol, cit.).

    Realmente a questo dos cortios no estava colocada no Plano Diretor de 1988, e no se propunha nenhuma interveno especfica nesse tipo de moradia, apenas se apontava a necessidade de buscar a participao da iniciativa privada na sua soluo atravs de instrumentos urbansticos com a viso de renovar a estrutura urbana para continuar facilitando a promoo imobiliria privada. (Piccini, 2000).

    Mais uma vez as aes contradiziam as diretrizes apontadas na legislao, pois as populaes expulsas, sem opo, iriam habitar outros cortios na rea Central ou se dirigiriam periferia, que no parava de crescer. O Plano Diretor de 1988 no impunha nenhuma inovao medida que recolocava a importncia do zoneamento sem alteraes significativas em seu conceito, apostando na menor instabilidade possvel:

    Essa administrao procurava desincumbir-se da tarefa de produzir o plano com o menor desgaste poltico possvel, desviando questes fundamentais sempre que as mesmas pudessem ensejar alteraes de conseqncias prticas mais comprometedoras, transformando-se ainda uma vez em um ato administrativo no final do expediente, acabando sendo aprovado por decurso de prazo, o qual fato levantou inclusive no poucas crticas de entidades civis, de profissionais e especialistas. (Costa 1994, apud Piccini, 2000).

    O investimento mais significativo do prefeito Jnio Quadros no Centro foi a realizao da primeira passagem subterrnea norte-sul, iniciando as obras de remodelao do Vale do Anangaba, seguindo o projeto vencedor do concurso de 1982. No entanto, paralelamente interveno, outras grandes obras virias estavam em curso, e todas ficaram incompletas ao final de seu mandato. Como os recursos no eram suficientes para a finalizao de todas as obras e havia suspeitas quanto aos montantes j gastos nos projetos iniciados, a prefeita Luiza Erundina, que sucedeu Jnio, em acordo com os tcnicos do governo e principalmente da Emurb, optou pela concluso da obra do Anhangaba entre outras consideradas importantes. (Emurb 1992).

    A reurbanizao do Vale mostrava-se fundamental no s do ponto de vista virio, mas tambm pelo que representaria para o uso coletivo, para a melhoria do espao pblico no Centro da cidade como aponta Lefevre:

    A prefeita Luiza Erundjina decidiu canalizar os recursos para o trmino das obras do Vale do Anahngaba, porque estava totalmente aberta ali no Centro, causando problemas para a vivncia e a circulao, mas, sobretudo, considerava que era uma obra no apenas de cunho virio, como eram as outras iniciadas pelo Jnio a da Juscelino e dos tneis mas

  • teria repercusso social, coletiva perante a cidade, e poltica tambm, muito mais significativa. Da a deciso. (Entrevista de Jos Eduardo Lefevre, cit.)

    No governo de Luiza Erundina j se falava na descentralizao do governo atravs da implantao de Subprefeituras, o que s ocorreria em 2002:

    Havia uma instncia para a montagem das subprefeituras dentro das administraes regionais, na poca eram treze. Seriam os ncleos regionais de planejamento. Esses ncleos tinham uma atuao ampla, tratavam das polticas pblicas todas, e uma das questes tratadas era a do Patrimnio e da Paisagem Urbana. Existia no DPH um trabalho chamado Igepac Inventrio Geral do Patrimnio em que havia um mapeamento do que interessava e a partir dele comeamos a discutir mais firmemente o que fazer e tambm algumas coincidncias: na poca a Marilena Chau, Secretria de Cultura, j havia retomado a restaurao do Teatro Municipal. Foi a origem do Projeto S-Arouche. (Entrevista de Dcio Amdio, cit.).

    Segundo Sarah Feldman, eram pessoas que vinham de formaes parecidas, uma gerao de pessoas, compondo o governo, isso produzia uma sintonia na conceituao e execuo dos trabalhos: A Emurb assumindo o trmino das obras do Vale do Anhangaba, a Secretaria de Cultura assumindo a restaurao do Teatro Municipal, a administrao regional criando o Projeto S-Arouche, todos de alguma forma centrados na inteno de resgatar o papel importante da rea Central para a Metrpole. (Entrevista concedida a autora dezembro de 2003).

    O Programa Piloto de ordenao da paisagem da rea Central, Eixo S-Arouche, visava a promoo da ordenao da paisagem urbana e para a viabilidade de sua implantao o eixo foi delimitado, devido suas caractersticas histricas e simblicas, compreendendo a Praa da S, Largo da Misericrdia, Rua Direita, Rua So Bento, Praa do Patriarca, Viaduto do Ch, Praa Ramos de Azevedo, Rua Baro de Itapetininga, Praa da Repblica, Avenida Vieira da Carvalho, Rua do Arouche e Largo do Arouche. (PMSP, 1992).

    O Projeto apontava, pela primeira vez, a necessidade da co-gesto com usurios e interessados no espao pblico. A viabilidade da proposta seria atravs de vrias frentes, como: o contato com associaes e comerciantes locais, apresentao das propostas comunidade para submet-las a debates, atendimento tcnico aos proprietrios e comerciantes para a preservao de edifcios histricos, entre outras. O grupo executivo que coordenou o projeto era formado por tcnicos da Secretaria Municipal das Administraes Regionais AR S, da Secretaria de Habitao e Desenvolvimento Urbano, da Secretaria Municipal de Cultura e da Secretaria Municipal de Planejamento. (PMSP 1992).

    A Associao Viva o Centro, criada em 1991, se originou desse processo, como mostra a fala de Marco Antnio Ramos de Almeida, atual presidente da Diretoria Executiva:

    Havia uma deciso por parte da Prefeita de dar um foco para o Centro da Cidade e ela procurou os empresrios, naquela ocasio, para que a iniciativa privada sediada no Centro da Cidade apoiasse o poder pblico nessas iniciativas. Foram feitas reunies na Bolsa de Valores, na Bolsa Mercantil de Futuros, enfim, onde o Administrador Regional da S, Vicente Trevas, procurou as entidades. Havia essa demanda da prefeitura pelo apoio da iniciativa privada para as atuaes relativas ao Centro. (Entrevista Marco Antnio Ramos de Almeida concedida a autora outubro de 2003).

    Com o objetivo de fortalecer seus argumentos no debate os empresrios resolveram criar a Associao Viva o Centro, atraindo outros segmentos da sociedade e legitimando sua atuao, atravs da contratao de tcnicos que poderiam orient-los nas tomadas de posio, em relao s propostas e intervenes que o poder pblico vinha empreendendo.

    O Projeto de Lei que institua o Plano Diretor do Municpio apontava caminhos semelhantes para a rea Central. As propostas retomavam alguns aspectos do plano de 1985, mas o grande avano,

  • no entanto, foi a incorporao dos instrumentos de legislao urbansticas possibilitadas pela Constituio de 1988 e baseadas no conceito de Funo Social da Propriedade. Partindo de uma severa crtica ao zoneamento, propunha-se uma nova lgica de ocupao da cidade. (Sempla, 1991).

    Para a rea Central eram apontadas as seguintes diretrizes: Intensificao do uso residencial no Centro; flexibilizao da lei para instalao de indstrias de pequeno porte no poluentes gerao de emprego; preservao do Patrimnio; melhoria nas condies ambientais; melhoria do transporte e descongestionamento do Sistema Virio. Coeficiente de aproveitamento nico igual a um. Para implementao das propostas seriam institudos instrumentos, entre eles o solo criado que permitia a construo de coeficiente de aproveitamento maior que um mediante pagamento, possibilitando assim o repasse de lucros da iniciativa privada para o poder pblico de modo a financiar as melhorias com urbanizao. Contra a especulao imobiliria seriam utilizados o IPTU progressivo no tempo, a Urbanizao e Edificao Compulsria e Desapropriao paga com ttulos da dvida pblica.

    Com o intuito de repovoar a rea Central foram delimitadas as Zonas Adensveis (onde poderia ser vendido Solo Criado) com prioridade para o uso habitacional. Estavam previstas tambm Zonas Especiais de Interesse Social ZEIS, em reas com grande concentrao de cortios nos Bairros Centrais do Pari e Glicrio, para que fossem recuperadas com a garantia da permanncia da populao moradora.

    A criao da Operao Urbana Anhangaba, que tambm estava contida no Plano Diretor, teve lei elaborada pela Emurb e aprovada na Cmara Municipal. Era mais uma tentativa de levantar fundos para obras de requalificao e tinha o propsito de dinamizar a produo imobiliria no seu entorno, o que no ocorreu como previsto, pois no houve interesse da iniciativa privada.

    Como podemos observar, apesar de no haver um plano especfico, havia um conjunto de aes da administrao de Luiza Erundina voltadas para a rea Central. A carta de Ermnia Maricato, ento Secretria da Habitao e Desenvolvimento Urbano, que abre a publicao do projeto S-Arouche, insere a proposta de recuperao da paisagem urbana num contexto geral, sintetizando:

    O Projeto eixo S-Arouche foi uma das inmeras aes que a Prefeitura realizou entre 1989 a 1992, visando a reabilitao do velho centro de So Paulo. Alm da finalizao da reurbanizao do Vale do Anhangaba e da reforma do Teatro Municipal, foram executados: o Boulevard So Joo, a reforma da Biblioteca Mrio de Andrade, a recuperao estrutural de viadutos, o redimensionamento da limpeza pblica, com aquisio de equipamentos modernos, a reforma da rede de iluminao pblica, o incio de um programa habitacional na rea de cortios, entre outros. O cdigo visual e o projeto de lei dos Espaos pblicos, elaborados pela Sehab nesse perodo, tambm contribuem nesse sentido. A mudana da sede do governo municipal para o Palcio das Indstrias complementou o processo de reabilitao do centro histrico de So Paulo para toda a populao da cidade. Deu passos importantes para reverter a tendncia de deslocamento da rea central para o eixo sudoeste, impulsionada pela valorizao imobiliria. (PMSP, 1992).

    O incio de um programa habitacional na rea de cortios, citado pela secretria, tratava-se da experincia pioneira empreendida pela administrao de Luiza Erundina, que formulou e iniciou o desenvolvimento de um programa habitacional especfico para a rea Central. Sob a direo de Nabil Bonduki, na Superintendncia de Habitao Popular da Secretaria de Habitao e Desenvolvimento Urbano, o programa foi criado para absorver a populao moradora de cortios. Baseado na autogesto, foram realizados dois projetos-piloto na administrao que apesar de representarem experincias, demonstraram a viabilidade da proposta:

    Celso Garcia e Madre de Deus tm sido visitados por centenas de pessoas como um exemplo concreto de que possvel compatibilizar boa localizao com moradia digna, numa nova forma de pensar a habitao social. O movimento de cortios passou a t-los como uma referncia para sua luta, que , em ltima instncia, o que tem garantindo um

  • constante processo de presso para que o poder pblico formule e implemente um programa habitacional nas reas centrais. (Bonduki, 2000)

    Outros empreendimentos semelhantes j estavam em andamento na rea Central e foram paralisados pelo governo seguinte: no Pari, na Rua do Carmo, Vila 25 de Janeiro e Eiras Garcia, alm de outras doze reas que se encontravam em fase final de negociao.

    No Governo de Paulo Maluf a prioridade da produo habitacional foi para os projetos do Promorar, direcionados verticalizao de favelas, programa mais conhecido e anunciado como Cingapura.

    No s os programas habitacionais voltados aos cortios do governo Erundina foram paralisados, mas o perodo iniciado em 1993 com Paulo Maluf que vai at o final da gesto de Celso Pitta em dezembro de 2000, no deu prioridade ao Centro e menos ainda para a rea Central. Apesar de inmeros projetos e propostas, poucos investimentos foram feitos na regio.

    Em 1993 foi criado o ProCentro Programa de Valorizao do Centro, pelos Decretos Municipais 33.389 e 33.390 junto Sehab, em 14 de julho de 1993, voltado ao permetro delimitado pelos distritos S e Repblica. Analisando as afirmaes contidas na fala de Sanderley Fiusa, Presidente do ProCentro de 1995 a 2000, fica clara a inteno de abandonar os projetos relativos a questo habitacional, e percebe-se que era inteno do governo Maluf remar na contramo das aes do governo anterior:

    O surgimento do ProCentro foi uma resposta. J existia o mpeto de recuperar o Centro que estava muito abandonado e que na gesto da Erundina foi um verdadeiro caos. Ela queria transformar tudo em um grande cortio e depois disso todas as empresas queriam sair do Centro. Foi um desastre! Todos estavam irritados porque a administrao pendia para um lado enquanto a populao queria outra coisa.(...) Galeria Prestes Maia, Largo So Bento, estava tudo de dar pena! O Anhangaba era algo assustador com aqueles shows, no dia seguinte parecia um lixo! (Entrevista concedida por Sanderley Fisa a autora outubro de 2003).

    O programa estabelecia diretrizes referentes a: recuperao da paisagem, realizao de obras de restauro e recuperao, incentivos fiscais aos proprietrios, acessibilidade de automveis e pedestres, projetos de iluminao e segurana e mudanas nas regras de uso e ocupao do solo atravs da criao da Operao Urbana Centro em substituio Operao Urbana Anhangaba. Segundo Jos Eduardo Lefevre, o ProCentro foi uma fachada criada pelo governo para responder sociedade e Associao Viva o Centro, que estava preocupada com a rea, j que os maiores montantes de recursos dirigiam-se a outros pontos da cidade, como ocorreu com a criao da Operao Urbana Faria Lima que veio a atender a demanda o mercado imobilirio. Tratou-se de uma opo poltica, j que se no existisse a Operao Urbana Faria Lima uma parte das demandas por escritrio teria se dirigido para outras localidades, inclusive para o Centro. (Entrevista de Jos Eduardo Lefevre, cit.).

    A partir da criao do ProCentro muitas das propostas e projetos lanados pela prefeitura coincidem com as da Associao Viva o Centro, como por exemplo a criao de Plos de Recuperao Urbana do ProCentro, institudos pelo Decreto 33.391/93 e o Projeto de Lei transformando a Operao Urbana Anhangaba em Operao Urbana Centro em dezembro de 1993, duas propostas j apresentadas pela Associao. A Operao Urbana Centro, no entanto, s seria aprovada na Cmara Municipal no governo seguinte, em 1997.

    Durante esta gesto tambm foi realizado o Concurso Nacional de Idias para um Novo Centro de So Paulo resultado de uma articulao do ProCentro e SEHAB com o IAB Instituto de Arquitetos do Brasil. Segundo os promotores do concurso o objetivo principal foi colocar o Centro de So Paulo num nvel nacional de discusses e reflexes, procurando receber propostas de transformaes estruturais envolvendo setor privado e aspirando ao ttulo de Cidade Mundial. (ProCentro 1996).

  • O projeto vencedor da empresa Promon Engenharia, arquitetos Joo Batista Martinez Correa e Jos Paulo de Bem e engenheiro Ronan Ayer, foi anunciado em dezembro de 1996 no final da gesto de Maluf.

    No que diz respeito a produo habitacional a prioridade foi para os empreendimentos do Promorar Cingapura, e quanto aos projetos destinados a baixa renda na rea Central nada foi feito e segundo Gutemberg Souza um dos moradores do Mutiro da rua Madre de Deus havia interveno na tentativa de paralisar os mutires, no s do Centro mas de todos iniciados no governo Erundina. (Entrevista concedida por Gutemberg Souza a autora outubro de 2003). Em 1997, no governo de Celso Pitta, foi lanado um esboo de Plano Diretor para a discusso entre especialistas. Muito genrico e desprovido de rigor, sem a preocupao de determinar instrumentos e aes voltadas para as diretrizes anunciadas, o Plano no chegou a ser votado na Cmara Municipal.

    Em maio de 1997 foi aprovada a Lei da Operao Urbana Centro em substituio Operao Urbana Anhangaba, representando na gesto de Celso Pitta, o avano mais significativo em relao s propostas que vinham sendo elaboradas desde o incio da criao do ProCentro. No entanto, os benefcios da lei, so questionados pelos urbanistas, j que incentiva os remembramentos de lotes, abrindo caminho para as incorporaes, valorizando ainda mais o territrio e dificultando a permanncia de pequenas propriedades na regio (Cmara Municipal, 2001)

    importante destacar que por ocasio da renegociao da dvida do Municpio, com a clusula de que So Paulo no mais poderia contrair emprstimos, Pitta, conseguiu, junto ao Governo Federal abrir exceo para emprstimos destinados ao Fura Fila, sua bandeira de campanha e aos programas de requalificao do Centro, como afirma Sanderley Fiusa: Graas ao Pitta est sendo possvel o emprstimo do BID para a recuperao do Centro agora. (Entrevista de Sanderley Fiusa, cit.).

    A grande polmica envolvendo a a rea Central durante o governo Pitta, foi a proposta mais do Maharishi So Paulo Tower. O edifcio, que seria o mais alto do mundo, foi proposto pelo grupo Brasilinvest e comportaria hotis, shopping centers, flats, escritrios e um centro de convenes. Abrigaria 50 mil pessoas que se movimentariam diariamente, no seu interior. Se o projeto fosse concretizado, So Paulo teria sua paisagem radicalmente modificada, recebendo uma torre de 494 metros de altura, uma pirmide de concreto, ao e vidro, formado por quatro prdios interligados.

    O grupo Brasilinvest foi o responsvel pela construo da primeira torre de escritrios na avenida Brigadeiro Faria Lima, desencadeando o processo de ocupao daquela regio, o que notifica sua competncia na viso para a incorporao e os negcios imobilirios.

    Segundo Sanderley Fiusa, pareceu uma boa sada para o desenvolvimento do setor Leste da rea Central:

    Ns tnhamos l aquele ptio do Pari com a zona cerealista, duas reas que esto esvaziadas e havia o projeto de recuperao. O grupo em torno do Maharishi props para o prefeito de construir o maior prdio do mundo na Cidade de So Paulo. A nica rea que julgamos que valeria a pena fazer era na rea Central, porque assim recuperaramos toda a regio, ampliaramos o Parque D. Pedro que ficaria com 1,5 milho de m2 e o prdio teria 1,2 milho m2, ou seja, menos que 1 de taxa de ocupao. Foi muito bem at do ponto de vista comercial, uma rede de hotis j havia reservado 4mil quartos, para a administrao do centro de convenes havia at disputa. O grupo topou fazer toda a infra-estrutura, virio, metr, tudo, e o que seria para eles 200milhes de dlares frente aos 2 bilhes que investiriam s na construo do prdio? (Entrevista de Sanderley Fiusa, cit.).

  • Segundo Dcio Amdio havia grande polmica em torno da construo do edifcio e o projeto esbarrou na Cmara Municipal pois necessitava de aprovao de lei especfica. A questo que levantava maior interesse era o porque da localizao escolhida, o que no teria sido to casual:

    Aquilo foi uma bomba que caiu para todos ns (arquitetos e especialistas da rea do urbanismo)! E por que l? uma pergunta importante a se fazer. Nos debates a Arquitetura era relativizada e o que se falava muito era sobre a acessibilidade, a localizao, somado ao fato de haver uma ociosidade dos bairros centrais e de haver boa acessibilidade talvez seja a ltima regio com essas caractersticas e a infra-estrutura instalada, representando grandes ganhos para o mercado imobilirio (...). (Entrevista de Dcio Amdio, cit).

    NOVAS PERSPECTIVAS

    A narrativa construda demonstra que o poder pblico investiu significativamente no Centro da cidade nos ltimos vinte anos, mas, apesar disso, a esperada revalorizao do territrio no aconteceu. Ao contrario, o processo de esvaziamento foi acentuado e as mudanas necessrias para a reverso do padro perifrico de ocupao da cidade foram sendo adiadas. As propostas mais avanadas no sentido de redistribuio do territrio e os conceitos inovadores de produo de habitao social surgidos durante a gesto de Luiza Erundina, foram abortados.

    Em conseqncia do esvaziamento populacional houve a degradao dos espaos pblicos. As iniciativas de intervenes pontuais em edifcios representativos ou em espaos pblicos no foram suficientes para atrair o mercado imobilirio. Por outro lado, segmentos da populao que se interessam em habitar a rea Central, no conseguem ter acesso a ela, devido ao preo exorbitante do territrio bem urbanizado.

    Depois de oito anos de canalizao de recursos para outros pontos da cidade, nos governos Maluf e Pitta, a administrao petista de Marta Suplicy iniciada em 2001, instituiu um programa de intervenes no Centro, o que vem ocorrendo, graas ao emprstimo junto ao BID. Vrias obras de requalificao urbana e reformas de edifcios emblemticos, entre eles o Mercado Municipal, esto em andamento. A recente mudana do gabinete da prefeita para o antigo prdio do Banespa no Viaduto do Ch, foi representativa das aes voltadas para o territrio em questo.

    As iniciativas ainda no foram suficientes para reverter a situao dos setores de estagnao e degradao, que como demonstramos anteriormente, fazem parte de um processo de ocupao que no envolve apenas o Centro, mas a rea Central e a cidade como um todo. A reverso da lgica de ocupao da Metrpole e da produo de territrios estagnados a espera de uma possvel valorizao imobiliria, depende de inmeros fatores e medidas que distribuam melhor os lucros advindos da urbanizao. Tambm no desejvel que o mercado imobilirio volte sua ateno com fora total ao Centro impossibilitando o acesso das classes de menor renda e expulsando as populaes pobres fixadas na regio.

    Cada vez mais a relao existente entre falta de moradia, especulao imobiliria e m distribuio dos benefcios urbanos, reconhecida. Tiveram contribuio crucial para isso, a partir dos anos 90, os Movimentos de Moradia. Atravs de ocupaes de prdios vazios, e da formulao de polticas habitacionais, eles apresentaram ao poder pblico e sociedade, a potencialidade de ocupao da regio, legitimando as reivindicaes da populao de baixa renda que luta por habitao na rea Central.

    Como resultado dessa luta, o Governo do Estado, atravs da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano CDHU, iniciou o Programa de Atuao em Cortios PAC, que prev intervenes localizadas na inteno de erradicar os focos deste tipo de habitao subnormal, caracterstica da rea Central. (CDHU, 2003).

    A atual gesto municipal vem implementando o Programa Morar no Centro, elaborado junto aos movimentos populares durante a campanha eleitoral, contando com trs linhas de atuao: a locao social pretende atender famlias ou pessoas vivendo ss, que no tem renda suficiente

  • para ingressar em programas convencionais de financiamento, o Programa de Reabilitao Integrada do Habitat PRIH, prev a delimitao de permetros nos quais a interveno fsica propriamente dita, acompanhada de levantamento scio-econmico estando em andamento como fase de experimentao um PRIH na regio da Luz; e as intervenes no mbito do Programa de Arrendamento Residencial PAR, que permite financiamento de compra e reforma de imvel urbano, sob gerncia da Caixa Econmica Federal, prevendo a compra do imvel pelo morador aps vinte anos de arrendamento. (PMSP, 2003).

    Contudo, apesar da participao de todas as esferas de governo nos investimentos atravs dos programas mencionados, os projetos ainda so pulverizados e esto longe de constituir uma oferta significativa de habitao social na rea Central. H ainda muitas crticas em relao morosidade, burocracia e ao cerceamento da participao dos moradores no processo, seja na elaborao do projeto, seja no gerenciamento das obras.

    Alm dos programas em andamento o novo Plano Diretor foi aprovado em setembro de 2002, instituindo, finalmente, os instrumentos urbansticos presentes no plano de 1993, entre eles a Outorga Onerosa do Direito de Construir, cobrando pelo Solo Criado, o IPTU Progressivo e a Urbanizao e Edificao Compulsrias, que entre outros eram fundamentais para criar a base legal que faa a propriedade de imvel urbano cumprir sua funo social.

    A nova legislao somada aos mecanismos de financiamento presentes nos programas existentes, fornecem os elementos de uma conjuntura nica para a construo e implementao de uma poltica habitacional especfica para a rea Central, territrio riqussimo para que a experimentao acontea de maneira significativa. Falta apenas opo e prioridade poltica para que as potencialidades de ocupao das centenas de edifcios vazios, levantados pelo prprio Movimento de Moradia, transformem-se numa produo de habitao em larga escala, iniciando um processo que poder ser representativo e irradiador para a cidade como um todo.

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    Entrevistas realizadas pela autora Jos Eduardo de Assis Lefvre Regina Meyer Sarah Feldman Dcio Amadio Sanderley Fiusa Vernica Krol Gutemberg Souza

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