100 anos da paroquia do rio vermelho

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  • 1100 Anos dA

    PArquiA do

    rio Vermelho

  • 2

  • 3100 Anos dA

    PArquiA do

    rio Vermelho

    uBAldo mArques PorTo Filho

    SALVADOR2013

  • 4COPYRIGHT 2013 BYUbaldo Marques Porto Filho

    [email protected]

    ProCessAmenTo de dAdosUbaldo Marques Porto Neto

    reVisoMaria Ester Sousa

    ProJeTo ediToriAlMarques Porto Comunicao

    ProJeTo GrFiCo e ediTorAo eleTrniCAVerbo de Ligao Ilustraes

    [email protected]

    CriAo dAs CAPAs Jos Carlos Baio Ferreira

    [email protected]

    ilusTrAo dA CAPAAtual Igreja Matriz de Senhora SantAna do Rio Vermelho

    Inaugurada em 26 de julho de 1967Foto: Gabriel Oliveira

    ilusTrAo dA ConTrACAPAPrimeira Igreja Matriz de Senhora SantAna do Rio Vermelho

    Desativada em 26 de julho de 1967Foto: Porto Filho

    imPresso e ACABAmenToPress Color

    www.prescolor.com.br

    P839 Porto Filho, Ubaldo Marques. 100 anos da Parquia do Rio Vermelho / Ubaldo Marques Porto Filho. Salvador: Acirv, 2012 184 p. il. ISBN 978-85-910034-8-8

    1. Rio Vermelho - Histria. 2. Parquia do Rio Vermelho - Criao. 3. Bahia - Histria. I. Ttulo.

    CDU 94(813.8) Salvador

    Ficha Catalogrfica elaborada por Marisa Santiago - CRB-5/1367.Bibliotecria do Instituto Geogrfico e Histrico da Bahia

  • 5ProViso de ereCo do CurATo de sAnTAnnA do rio Vermelho

    Dom Jeronymo Thom da Silva, por merc de Deus e da Santa S Apostlica, Arcebispo Metropolitano de S. Salvador da Bahia, Primaz do Brasil, etc, etc. Pela presente, attendendo ao maior proveito espiritual de uma poro de nosso querido rebanho, havemos por bem, usando de nossa jurisdico ordinria, crear um curato no territrio da Freguesia de Nossa Senhora da Victoria, da capital, o qual se denominar Curato de SantAnna do Rio Vermelho e ter por sede o povoado do mesmo nome. Desmembramos, pois, da referida Freguesia de Nossa Senhora da Victoria, uma parte do seu territrio, transferindo-a para o novo Curato, a que damos os limites seguintes: partindo da foz do rio Lucaia, ir margeando a costa at o lugar denominado Calabar, ponto em que, dahi subindo, ir em linha recta at encontrar a pedra que serve de marco divisrio dos terrenos do Campo Santo, abrangendo os lugares denominados Calabar, Camaro, Areia Preta, S. Lzaro e Ondina; dahi, seguindo pelo Segundo Arco, ir procurar os limites da Freguesia de Nossa Senhora da Victoria com a de Nossa Senhora de Brotas, no lugar denominado de Moinho ou Venda do Buraco, sito margem do Dique; e dahi pela estrada da Companhia Trilhos Centrais at encontrar de novo o rio Lucaia, seguindo os mesmos limites que separavam a Freguesia de Nossa Senhora da Victoria da de Nossa Senhora de Brotas.Assim, erigido e constitudo este Curato, submettemos jurisdico parochial do sacerdote a quem nos aprouver confiar a sua regncia e dos que canonicamente lhe sucederem no cargo, todos os habitantes do seu territrio, aos quaes mandamos debaixo de obedincia que reconheam o dito sacerdote por seu legtimo cura e que procurem conscienciosamente cumprir todos os seus deveres para com elle. Erigimos em Igreja Matriz do novo Curato a Capella de SantAnna do Rio Vermelho, a qual, por isto passa a ter todas as prerrogativas e privilgios que competem s Egrejas Matrizes. Pelo que, dever possuir um Sacrrio onde se conserve com a devida decencia, o culto e reverencia o precioso thesouro do Santssimo Sacramento da Eucharistia, alumiado de dia e de noite, por uma lmpada alimentada com leo de oliveira, e, em sua falta, por outro leo vegetal; ter pia baptismal fixa com tudo o que se requer para a administrao solene do Sacramento ao Baptismo; e possuir tudo o que se exige e necessario a uma Egreja Matriz regularmente provida. Mandamos que a Festa de SantAnna, titular do novo Curato, seja feita todos os annos, no dia marcado pelo calendrio desta Archidiocese, com a solenidade devida e com verdadeiro esprito de devoo christ. Mandamos tambm que seja creado o Archivo do novo Curato, possuindo o mesmo todos os livros e o mais que nelle se deve encontrar. Mandamos, finalmente, que se observe tudo o mais que, com relao aos Curatos, determinado pelo Direito Cannico, por disposies diocesanas e por legtimos costumes. O Rev Cura que por Ns for primeiro nomeado, remeta uma copia desta Proviso ao Rev Parocho da Freguesia de Nossa Senhora da Victoria para sua sciencia deste Nosso acto. Seja a presente lida na Egreja Matriz do Novo Curato, no dia da posse do primeiro Cura, transcrito integralmente no Livro de Tombo e devidamente archivada. Dada e passada nesta Cidade de S. Salvador da Bahia, aos cinco de abril de mil e novecentos e treze. Eu, Mons. Lino de Almeida Fonseca, secretario, subscrevo.Assinado: Dom Jeronymo Thom da Silva, Arcebispo da Bahia.

    CRIAO DA PARQUIA

    (grafia original, na ntegra)

    ------------Observao: Por conter erros no nome do rio e na delimitao territorial, dom Jernymo Thom da Silva assinou, em 20 de abril de 1917, uma portaria alterando os limites da Freguesia do Rio Vermelho, que teve a rea ampliada para o litoral norte, englobando os atuais bairros do Nordeste, Amaralina e Pituba.

  • 6Patrocnio Apoio

  • 7Em 1946, num leo sobre tela (52x63), Luiz Freitas retratou a primeira Igreja Matriz do Rio Vermelho. Pertencente ao acervo da Parquia de SantAna do Rio Vermelho, o quadro encontra-se no gabinete do proco.

    Port

    o Fi

    lho

  • 100 ANOS DA PARQUIA DESANTANA DO RIO VERMELHO

    05.04.1913 - 05.04.2013MUITAS GRAAS PEDIMOS,

    GLORIOSA SENHORA SANTANA,PARA QUE CONTINUE ILUMINANDO

    AS AES ESPIRITUAIS E MATERIAIS DA PARQUIA DO RIO VERMELHO,

    BEM COMO OS CAMINHOS DE SEUSPAROQUIANOS, MORADORES

    E AMIGOS DO RIO VERMELHO.

    Academia dos Imortais do Rio Vermelho - AcirvAssociao Brasileira de Agncias de Viagens da Bahia - AbavAssociao Comunitria Caramuru - AscarAssociao Cultural Hispano-Galega Caballeros de Santiago

    Associao dos Permissionrios do Ceasa do Rio VermelhoAssociao dos Permissionrios do Mercado do Rio VermelhoBiblioteca Juracy Magalhes JniorCmara Portuguesa de Comrcio no Brasil-BahiaCasa de Cultura Carolina TaboadaCentral das Entidades do Rio Vermelho

    Centro Hispano-Galego-Brasileiro de Assistncia Social - CehibraConselho de Cultura e Turismo do Rio Vermelho - ConturvConselho Paroquial do Rio Vermelho

  • 9PREFCIO

    nelson Almeida Taboada Presidente da

    Casa de Cultura Carolina Taboada

    A Casa de Cultura Carolina Taboada no poderia deixar de participar das comemoraes pela passagem de to importante data, que o centenrio da Parquia onde fui batizado e fiz a primeira comunho, na Igreja do Largo de Santana. No poderia tambm abster-se de apoiar a produo deste livro, por duas outras fortes motivaes.

    Em primeiro lugar, por se tratar do resgate da memria da mais antiga instituio do Rio Vermelho, de cuja histria fazem parte todas as geraes da famlia Taboada, a partir de Jos Taboada Vidal, meu av, que chegou ao bairro em 1892. J como conceituado comerciante no balnerio do Rio Vermelho e irmo da Irmandade da Gloriosa Senhora SantAna do Rio Vermelho, ele teve participao no movimento que solicitou, Arquidiocese de So Salvador da Bahia, a criao da Parquia de SantAna do Rio Vermelho.

    Por ltimo, Jos Taboada Vidal se inseriu na segunda etapa da histria da Parquia do Rio Vermelho, quando liderou a campanha que resultou na construo da atual Igreja Matriz, inaugurada em 26 de julho de 1967.

    Este livro, que traz a lume importantes fatos da rica histria da Parquia do Rio Vermelho, com episdios completamente desconhecidos pelos atuais paroquianos, reveste-se de uma outra condio mpar, pois foi escrito pela maior autoridade em assuntos do Rio Vermelho. Dos cem anos da Parquia, o autor vivenciou 54 anos como testemunha ocular, portanto mais da metade da trajetria da instituio religiosa.

    Das 16 obras patrocinadas pela Casa de Cultura Carolina Taboada (relao na stima capa), este livro o 11 relacionado com o Rio Vermelho. Dessa forma, a entidade que presido vem cumprindo com uma de suas misses bsicas: apoiar iniciativas que visem o resgate ou a valorizao dos segmentos que formam a memria do Rio Vermelho, rinco descoberto em 1509, por Diogo lvares Corra, o clebre Caramuru.

    Kin

    Kin

  • 10

    No dia 5 de abril de 2013, data do centenrio da sua criao, a nossa Parquia encerra um ciclo de presena marcante no bairro. E inicia um novo ciclo, num bairro profundamente marcado pelo progresso, muito diferente da poca da inaugurao da atual Igreja Matriz, quando as famlias ainda tinham grande poder na comunidade e se envolviam diretamente nas necessidades da sua Parquia, provendo-a de recursos e apoiando as iniciativas do proco.

    Hoje, sem a participao das famlias tradicionais, que emigraram do bairro, sei que a Parquia passa por dificuldades para poder manter a conservao do seu patrimnio, formado pela Igreja Matriz e pelo Salo Paroquial. Sou testemunha dos grandes esforos, verdadeiros milagres, que o padre ngelo Magno Carmo Lopes tem feito para a manuteno e melhorias desse patrimnio.

    Diferentemente de algumas outras parquias, que contam com o respaldo de congregaes ou de irmandades religiosas, a Parquia do Rio Vermelho no dispe de nenhum suporte que lhe d a necessria sustentao financeira. Por isso, nesse aspecto, uma parquia pobre.

    Fao parte da Devoo do Senhor do Bom Jesus do Bomfim, que rene irmos de considervel poder social e econmico, os quais tm prestado inestimveis colaboraes s realizaes dos eventos religiosos e manuteno da secular Baslica do Senhor do Bonfim. Digo at que, sem o apoio dessa Irmandade, a igreja smbolo da Bahia poderia estar enfrentando grandes dificuldades financeiras.

    Portanto, sou da opinio de que a reativao da Irmandade da Gloriosa Senhora SantAna do Rio Vermelho (fundada em 1882), de fundamental importncia, pois poder congregar personalidades que, certamente, muito contribuiro para o suprimento das necessidades da Parquia no ciclo do seu segundo centenrio.

    Inclusive, a Irmandade poder cuidar de um patrimnio de suma relevncia, que hoje, inexplicavelmente, se encontra totalmente divorciado da Parquia. Trata-se da sua primeira Igreja Matriz, a igrejinha do Largo de Santana, onde se encontra alojado o Centro Social Monsenhor Amlcar Marques, que no passado teve participao marcante na prestao da assistncia social aos paroquianos mais necessitados. Esse passado foi a poca da militncia voluntria do doutor Deocleciano Igncio de Souza, saudoso mdico humanitrio, e das senhoras que comandavam a entidade. Todos trabalhavam em perfeita sintonia e harmonia com o proco.

    Porm, estranhamente, os servios foram extintos e o Centro Social Monsenhor Amlcar Marques passou ao comando de uma presidente

  • 11

    que afastou a entidade dos francos entendimentos com a Parquia e, o que pior, h oito anos vem movendo uma insidiosa campanha contra o proco do Rio Vermelho, um lder religioso do bem, que s pratica o bem.

    No pice da campanha da presidente do Centro Social Monsenhor Amlcar Marques contra a Parquia do Rio Vermelho, uma nota oficial foi emitida em 20 de novembro de 2010, por representantes de quatro entidades filiadas Central das Entidades do Rio Vermelho, qual a Casa de Cultura Carolina Taboada manifestou o seu irrestrito apoio. Para um melhor julgamento de juzo, a nota oficial encontra-se reproduzida nas pginas 128/130 deste livro.

    Para finalizar, entendo que o antigo templo deva voltar a fazer parte ativa da Parquia do Rio Vermelho, integrado de fato s suas atividades sociais e culturais. Por isso, torna-se indispensvel que, sem mais delongas, a Arquidiocese acione os mecanismos necessrios para que a antiga Igreja Matriz do Rio Vermelho volte a ser utilizada como instrumento de auxlio direto Parquia. No meu julgamento, existem duas alternativas:

    Renovao total no quadro diretivo do Centro Social Monsenhor Amlcar Marques, mediante eleio livre entre os paroquianos da Igreja do Rio Vermelho.

    Retomada do imvel pela Arquidiocese, para em seguida repass-lo administrao direta da Parquia de SantAna do Rio Vermelho.H ainda uma sugesto emanada do Frum Rio Vermelho, realizado

    de 30 de junho a 7 de julho de 2011, pela Associao Brasileira de Agncias de Viagens da Bahia (Abav Bahia), sob a liderana de seu presidente, Pedro Galvo, e com a participao, dentre outras entidades, da Casa de Cultura Carolina Taboada. O objetivo do conclave foi identificar e debater as necessidades prioritrias para o bairro, visando prepar-lo para receber condignamente os turistas durante os dois maiores eventos do futebol mundial: a Copa das Confederaes, em 2013, e a Copa do Mundo, em 2014.

    Do Frum resultou o trabalho O Rio Vermelho que Queremos para as Copas, que foi encaminhado s autoridades governamentais e aos rgos privados envolvidos com o assunto. Como no poderia deixar de ocorrer, haja vista que se trata de um smbolo do bairro, a famosa igrejinha do Largo de Santana foi objeto das discusses, tendo o plenrio aprovado a incluso no relatrio do seguinte registro:

  • 12

    A antiga Igreja de SantAna, no Largo de Santana, desativada dos ofcios religiosos em 26 de julho de 1967, o monumento arquitetnico mais antigo e mais importante do Rio Vermelho, constituindo-se num verdadeiro carto-postal do bairro. Merece uma melhor utilizao, efetivamente integrada visitao pblica.

    Recomenda-se que a igrejinha tenha uma destinao voltada ao pblico soteropolitano e aos turistas, sediando eventos de amplo interesse, como, por exemplo: mostras fotogrficas, exposies de artistas plsticos, lanamentos de obras literrias, feiras de livros e feiras de artesanato, dentre outras atividades culturais.

    O imvel pertence ao patrimnio da Arquidiocese de So Salvador da Bahia.

    Encaminhamento Arquidiocese de So Salvador da Bahia: Solicitao para que o imvel de arquitetura religiosa seja transformado num centro sociocultural administrado pela Parquia de SantAna do Rio Vermelho.

    Portanto, no incio da caminhada para o segundo centenrio da nossa Parquia, reputo como da maior relevncia que se estude a viabilidade da reconstituio da Irmandade da Gloriosa Senhora SantAna do Rio Vermelho e a restituio do imvel da primeira Igreja Matriz ao controle direto da Parquia do Rio Vermelho.

    Salvador, fevereiro de 2013.

    Gon

    salv

    es

    Espanhol da Galcia, nascido em Cerdedo, no dia 26 de novembro de 1877, Jos Taboada Vidal foi devoto de SantAna do Rio Vermelho por 74 anos (1892-1967). A foto de 1904, quando ele tinha 26 anos.

  • 13

    famlia, meu pai havia comprado a casa de nmero 13 da Rua Alagoinhas, no Parque Cruz Aguiar, que foi inaugurada nas frias escolares do meio do ano, precisamente no dia 1 de julho de 1958, data da minha chegada ao Rio Vermelho, aos 13 anos, logo aps o Brasil ter conquistado na Sucia o ttulo de Campeo Mundial de Futebol.

    E foi nessa casa que alguns dias depois foi entregue um exemplar do Rio Vermelho Jornal, editado por um conceituado educador, professor Aurlio ngelo de Souza, que assinou um artigo arguindo a necessidade de uma igreja maior, pois a igrejinha do Largo de Santana era muito pequena para abrigar a grande legio dos catlicos do bairro.

    Durante as minhas outras vindas ao Rio Vermelho, passei a acompanhar pelo peridico do bairro os captulos da campanha pela construo da nova Igreja Matriz. O local desejado para o novo templo era uma rea ao lado da Casa do Peso, ocupada por restos da demolio de um antigo forte, defronte da residncia do Professor Aurlio.

    Muitos anos depois, quando escrevia o meu primeiro livro sobre o Rio Vermelho, fui entrevistar o empresrio Orlando Pessoa Garcia, que havia, como scio-gerente, comandado a Empresa Construtora e Imobiliria Ltda. (Ecil), implantadora do Parque Cruz Aguiar. Ele explicou-me que o nome do loteamento tinha sido o resultado do casamento do ltimo sobrenome dos dois principais cotistas da sociedade: o banqueiro mineiro Cylio da Gama Cruz e o empresrio baiano Manoel Pinto de Aguiar.

    O Orlando Garcia, bacharel em direito que tinha residido no Rio Vermelho, era um homem atencioso e prestativo, que se tornara o nico dono da Ecil. Franqueou-me documentos, plantas e fotos sobre o empreendimento imobilirio, cujas obras foram iniciadas em 1945. Numa das plantas vi um espao reservado para uma igreja, que na

    Soteropolitano nascido no bairro do Canela, eu residia em Cachoeira, cidade histrica do Recncavo baiano, localizada no Vale do Paraguau. Em Salvador, para o veraneio da

    Stud

    io E

    nzo

    EXPLICAES DO AUTORubaldo marques Porto Filho

  • 14

    verdade no existia. Eu tinha lido uma entrevista do Padre Vieira, publicada no jornal A

    Tarde, numa edio do vero de 1959, dizendo que um terreno, no Parque Cruz Aguiar, destinado construo de uma igreja, havia sido vendido pela empresa proprietria do loteamento. Ouvi tambm comentrios de moradores confirmando isso. Meu pai tambm disse que quando comprou a nossa casa vira uma planta com a marcao de uma igreja.

    Pairava no ar uma nuvem suspeita, de um possvel golpe de marketing aplicado pela Ecil, com o objetivo de atrair compradores para seus lotes e casas prontas. E a declarao do Padre Vieira (pgina 50) dava margem a essa interpretao. Por isso, perguntei ao Orlando qual fora o motivo da igreja no ter sado do papel. Eis a resposta:

    Sabendo que a igrejinha do Largo de Santana no comportava a realizao de casamentos e batizados de grande afluncia de convidados, que eram realizados fora do Rio Vermelho, fui, em nome da Ecil, oferecer em doao um grande lote para a Parquia construir uma igreja maior do que a do Largo de Santana.

    Ofereci tambm um arquiteto para elaborar o projeto arquitetnico e todo o apoio documental, tcnico e at material para as obras. Mais da metade do custo da nova igreja seria de responsabilidade da Ecil. O restante, a Parquia poderia arrecadar em campanhas junto s famlias ricas do bairro.

    A Ecil tinha interesse de que a igreja fosse construda no loteamento, pois iria valorizar o empreendimento. Por isso, criou as facilidades para que o bairro tivesse uma nova Igreja Matriz. Sei que a oferta foi levada ao conhecimento do cardeal arcebispo da Bahia, que aprovou o recebimento da doao.

    Mas, depois, o proco da poca, padre Alcides Cardoso, disse que o loteamento ficava escondido e afastado do eixo habitado. Ele queria que a nova igreja ficasse no miolo do bairro. Sonhava com o Largo da Mariquita, ainda com uma ampla rea livre.

    Com o desinteresse do proco pelo terreno, que ficava num setor de topografia plana e de grande valor, a doao no foi concretizada e vendemos o lote, acabando com o sonho da nova Igreja Matriz ser no Parque Cruz Aguiar.

    O Padre Alcides, que governou a Parquia por quase doze anos (1943-1955), saiu do Rio Vermelho sem realizar sequer o sonho do local para a nova Igreja. Seu substituto, o padre Antnio da Rocha Vieira, teve outro sonho, no com o Largo da Mariquita, mas com a rea do Forte

  • 15

    demolido em 1953.

    Sobre os alicerces do antigo Forte, a pedra fundamental foi lanada no dia 26 de julho de 1961, com uma missa campal em que estive presente. Cinco anos depois, com a construo em andamento, juntamente com os demais integrantes do Grmio Juventude do Rio Vermelho, participei ativamente das campanhas para arrecadar dinheiro para as obras, organizadas pela presidente da Liga Catlica Senhora SantAna do Rio Vermelho, professora Nilza Taboada.

    Passei o Livro de Ouro da Parquia pelas residncias das famlias que eu conhecia e vendi muitos bilhetes para rifas e bingos realizados ao ar livre, no Largo de Santana, em grandes festas dos paroquianos do bairro. Eles tambm apoiavam e viviam intensamente as demais promoes beneficentes em prol da nova Igreja, que incluam concursos, quermesses, almoos, vendas de flores na primavera e as grandes campanhas do vidro, do cimento, do jornal velho, etc.

    Posso at dizer que, na condio de voluntrio, coloquei pelo menos um tijolinho na construo da atual Igreja Matriz. E no dia da sua inaugurao, em 26 de julho de 1967, acompanhei a monumental procisso da transladao da imagem da Santa Padroeira do Rio Vermelho, da antiga para a nova Igreja.

    No incio de 2012, na qualidade de bigrafo da Famlia Taboada e depositrio de alguns documentos de sua histria, recebi uma caixa contendo lbuns fotogrficos, impressos, cadernos e documentos deixados por dona Nilza Taboada, que faleceu em 19 de abril de 2002, aos 86 anos. Foi talvez a personagem feminina mais participativa na histria dos cem anos da Parquia do Rio Vermelho.

    Para minha grande surpresa, entre seus pertences, encontrei um livro de atas, em precria condio de conservao, mas com o texto bem legvel. Era importantssimo, pois continha a escriturao da constituio da Irmandade da Gloriosa Senhora SantAnna do Rio Vermelho, congregao criada em 22 de julho de 1882. Infelizmente, no constavam os nomes dos irmos fundadores e nem dos primeiros componentes da Mesa Administrativa.

    Mas, um fato certo, a maioria dos membros foi constituda por veranistas ricos e influentes, como o comerciante portugus Joo Gomes da Costa Jnior, primeiro grande benemrito do Rio Vermelho. Era o maior proprietrio de imveis no balnerio: possua uma dezena de casas e a Fazenda Oitum, tambm chamada de Roa de Joo Gomes.

    Com residncia principal no centro da cidade, Joo Gomes constitua-se num personagem de proa na Irmandade de Nossa Senhora

  • 16

    da Conceio da Praia. Coube-lhe, como juiz da Mesa Administrativa, empossado no dia 2 de fevereiro de 1868, promover a fuso com uma outra irmandade da Igreja, resultando na atual Irmandade do Santssimo Sacramento e Nossa Senhora da Conceio da Praia.

    Na casa sede da Fazenda Oitum, Joo Gomes hospedava visitantes ilustres. Um deles foi Pedro Luiz Pereira de Souza, presidente da Provncia da Bahia, de 29 de maro de 1882 at 14 de abril de 1884, perodo em que esteve diversas vezes no Rio Vermelho.

    Embasado no prestgio de Joo Gomes, tanto no Rio Vermelho como na Cidade do Salvador, e na condio de homem de congregao religiosa, muito provvel que ele tenha liderado a fundao da Irmandade da Gloriosa Senhora SantAna do Rio Vermelho, qui o primeiro juiz da sua Mesa Administrativa.

    Finalmente, eu tinha em mos a prova concreta da existncia da Irmandade, da qual pouqussimas pessoas, entre os antigos moradores que entrevistei, recordavam-se. Entre os que se lembravam estavam a professora Nilza Taboada e o bacharel em direito Tarqunio Gonzaga, cujos pais haviam participado da congregao.

    Nilza lembrava-se inclusive de alguns nomes de irmos contemporneos de Jos Taboada. Eram personagens de escol na comunidade riovermelhense: o capitalista Adolpho Moreira, o mdico Alfredo Magalhes, o farmacutico Constantino Vieira Machado, o jurista Odilon Santos, os comerciantes Manoel Sobrinho Gonalves, Antnio Benedito Dultra, Jos Santos Pereira de Mello, Clodoaldo Bastos, Antnio Moreira Porto, Manoel Lopes de Azevedo Castro, Manoel Gonalves Pato e Cludio Vieira dos Santos, o joalheiro Joaquim Figueiredo, o leiloeiro Jlio Soares, o engenheiro Francisco Pereira Filho e Ubaldino Gonzaga, renomado advogado, jornalista e poltico.

    O filho de Ubaldino, Tarqunio Gonzaga, era um grande conhecedor da histria do Rio Vermelho. Inclusive, possua um rico acervo iconogrfico sobre o bairro, com registros feitos por ele mesmo, que tinha na fotografia o hobby predileto. O Doutor Tarqunio, como era chamado, faleceu em 11 de junho de 1999, aos 87 anos, dos quais 81 vividos como morador do Rio Vermelho. Sobre a Irmandade dizia que, pela influncia de seus membros junto aos intendentes municipais (atuais prefeitos), o Rio Vermelho ganhou uma revolucionria linha de bondes eltricos, inaugurada em 2 de janeiro de 1906, e tambm o calamento, em 1922, do seu primeiro logradouro, a Rua do Raphael, atual Rua Joo Gomes.

    Mas, voltando a Nilza Taboada, o interessante que ela, que falava da participao do pai na Irmandade, nunca fez qualquer referncia -

  • 17

    nas muitas vezes em que conversamos sobre a antiga Igreja Matriz -, a respeito da existncia, em seu poder, do documento de constituio da entidade fundada 31 anos antes da criao da Parquia do Rio Vermelho.

    Dona Nilza tambm havia guardado oito contas do consumo de energia da Igreja Matriz, sendo cinco do ano de 1955 e trs de 1956. Emitidas pela Companhia Energia Electrica da Bahia (CEEB), todas estavam em nome da Irmandade e tinham como endereo a Praa Marechal Aguiar, toponmia que, pelo Ato Municipal n 36, de 3 de abril de 1933 (publicado no Dirio Oficial do Estado do dia 5 de abril), passou a ser a nova denominao do logradouro da Igreja Matriz. A designao histrica e popular - Largo de Santana - somente foi restabelecida aps 34 anos, em 25 de setembro de 1967.

    Art

    hur

    Via

    na

    Joo Gomes da Costa Jnior, provvel lder da fundao da Irmandade da Gloriosa Senhora SantAnna do Rio Vermelho, retratado por J.A.C. Couto. um leo sobre tela de 1870, que se encontra na Galeria dos Benemritos da Irmandade do Santssimo Sacramento e Nossa Senhora da Conceio da Praia.

    Fac-smile da capa do Livro de Constituio da Irmandade da Gloriosa Senhora SantAnna do Rio Vermelho.

  • 18

    SUMRIO

    hisTriA do rio Vermelho 21 ORIGEM DE CARAMURU ALDEIA DOS FRANCESES CENTRO PESQUEIRO HOLANDESES FORTE BALNERIO TURSTICO FUTEBOL iGreJAs 28 NOSSA SENHORA DO RIO VERMELHO SO GONALO DO RIO VERMELHO SO FRANCISCO DE ASSIS SENHORA SANTANA DO RIO VERMELHO

    FesTA dA PAdroeirA 31

    irmAndAde 31

    CriAo dA PArquiA 34

    ConFliTos Com os PesCAdores 35 DZIMO DA PESCA PRESENTE DA ME DGUA

    heresiA ToPonmiCA 37

    noVA irmAndAde 39

    CAPelAs 41

    FlAshes do liVro de TomBo 42

    Cls FAmiliAres 44

    VisiTA de nossA senhorA de FTimA 45

    demolio do ForTe 47

    CAmPAnhA PArA umA noVA iGreJA 49

    sinA dA demolio 51

    seGundA PedrA FundAmenTAl 51 inCio dA ConsTruo 55

    CinquenTenrio dA PArquiA 55

    FAleCimenTo do Timoneiro 57

    inAuGurAo dA noVA mATriZ 61

    muTiro de ColABorAdores 69

  • 19

    liGA CATliCA 73

    demolio ou PreserVAo 75 PELA DERRUBADA CONTRA A DERRUBADA POSIO DA ARQUIDIOCESE REPRESENTANTES POLTICOS DISCORDAM DO PROCO INTERVENO DO PREFEITO desCriTiVo TiPolGiCo dA AnTiGA mATriZ 82

    desTino dA AnTiGA mATriZ 84

    CenTro soCiAl monsenhor AmlCAr mArques 88

    FesTA dA PAdroeirA somenTe nA dATA liTrGiCA 89

    morTe do ConsTruTor dA noVA iGreJA 94

    JuBileu de PrATA 96

    ConsTruo do sAlo PAroquiAl 102

    PrAA monsenhor AnTnio dA roChA VieirA 105

    VisiTA de nossA senhorA APAreCidA 107 NOVENRIO CHEGADA PROCISSO DESPEDIDA

    Conselho PAroquiAl 112

    deFesA dos limiTes do rio Vermelho 113

    PresPio dA PArquiA VenCe ConCurso 118

    os 22 ProCos 119

    o ProCo do CenTenrio 120

    esTruTurA no Ano do CenTenrio 125

    A PrimeirA mATriZ no CenTenrio dA PArquiA 126

    lemBrAnAs de Celso oliVA 131

    CronoloGiA 134 reFernCiAs 136

    ndiCe onomsTiCo 139

    iConoGrAFiA 148

    PosFCio 179 TALO DATTOLI

  • 20

    Gloriosasenhora santAna

    A devoo Senhora SantAna comeou no Oriente, no sculo VI. No Ocidente remonta ao sculo X.

    Em 1378, o papa Urbano IV oficializou o culto SantAna,

    Me da Me de Jesus.

    Em 1584, o papa Gregrio XIII estabeleceu o 26 de julho

    como Dia de Senhora SantAna.

    Dedicadas Senhora SantAna, existem milhares de igrejas e

    parquias espalhadas pelo mundo.

    A devoo Senhora SantAna muito forte no Brasil,

    sendo que na Bahia padroeirade diversas cidades, entre elas

    Feira de Santana,a segunda maior do Estado.

    Em Salvador existem duas parquiasregidas por Senhora SantAna,

    uma fica no bairro de Nazar e outra no Rio Vermelho.

    No Rio Vermelho o culto Senhora SantAna comeou na

    segunda metade do sculo XVI,com os jesutas da catequese.

    Mas, a primeira grande festa emlouvor padroeira do Rio Vermelho,

    somente foi realizada em 1870,ano da inaugurao das obras

    que deram a atual formatao daIgreja de Senhora SantAna,

    no Largo de Santana.

    (Fonte: Parquia de SantAna do Rio Vermelho)

  • 21

    HISTRIA DO RIO VERMELHO

    Segundo historiadores renomados, dentre eles Pedro Calmon, o Rio Vermelho foi descoberto em 1509, por Diogo lvares Corra, tripulante de uma embarcao que naufragou junto ao Morro do Conselho, bem defronte ao atual Hotel Pestana. O jovem europeu conseguiu chegar Pedra da Concha, uma minscula ilha rochosa situada ao lado do Morro do Conselho e frontal foz do Camorogipe, na Enseada da Mariquita.

    Se outros companheiros tambm conseguiram se salvar e alcanar a terra firme, foram, com certeza, aprisionados e devorados pelos tupinambs. Como ficou escondido na Pedra da Concha, Diogo teve tempo de preparar a estratgia de defesa e sobrevivncia. Quando, finalmente, foi avistado pelos ndios, imediatamente usou o bacamarte para desferir certeiro tiro numa gaivota em pleno voo.

    Espantados, pois desconheciam a engenhoca barulhenta, foguenta e mortfera, os nativos comearam a exclamar: Caramuru! Caramuru! Caramuru!, que na lngua tupi significa homem do fogo; filho do trovo; drago saindo do mar. Com a demonstrao do tiro, alm de salvar-se da antropofagia, o nufrago conquistou o respeito dos tupinambs e ganhou o nome que o tornaria lendrio Caramuru.

    ORIGEM DE CARAMURUO que no se tem conhecimento, pois sempre foi um grande

    mistrio, do local onde efetivamente nasceu Diogo lvares Corra. Tambm no se sabe a procedncia da caravela que o levou at a rea do naufrgio. Nunca se encontrou qualquer tipo de registro que comprovasse a origem do personagem e da caravela.

    Na histria narrada pelos portugueses, Diogo lvares Corra teria nascido por volta de 1490, no norte de Portugal, em Viana do Castelo, terra de destacados navegadores. Mas o nico atestado da nacionalidade lusitana um registro no dirio de bordo de uma das naus da expedio de Martim Afonso de Souza, que passou pela Baa de Todos-os-Santos em 1531. Pero Lopes de Souza, irmo do comandante, escreveu o seguinte, sem informar o nome do patrcio: Nesta baa achamos um homem portugus, que havia vinte e dois anos que estava nesta terra.

    Quando esteve na Baa de Todos-os-Santos, em 1535, o comandante espanhol Juan de Mori tambm se encontrou com Caramuru, mas o identificou apenas como um cristo. Eis o seu registro: Neste porto estava um cristo que se disse Diego lvares, que h 26 anos ali estava.

  • 22

    Em 1546, aps ter se encontrado com Caramuru, que estivera em Porto Seguro, o donatrio da Capitania de Porto Seguro, Pero do Campo Tourinho, nascido em Viana do Castelo, escreveu ao rei de Portugal, onde aludiu: ... e ora sou informado por um Diogo Alvares, o Gallego, lingua que l era morador ....

    Por causa dessa carta, historiadores espanhis defendem a origem galega de Caramuru. Especulou-se inclusive que ele teria nascido na cidade de A Corua ou em Baiona, de cujos portos saam embarcaes que iam buscar especiarias na ndia e riquezas no Novo Mundo.

    Existe ainda a variante da nacionalidade francesa, uma hiptese urdida na esteira dos laos que Caramuru manteve com os aventureiros franceses que vinham buscar o pau-brasil. Por causa da estreita ligao comercial (desde 1509), com os franceses, Caramuru esteve na Frana, levado por Jacques Cartier, onde permaneceu por trs anos, de 1527 at 1530. Segundo o historiador brasileiro Pedro Calmon, um padre jesuta somente chamava Caramuru pelo apelido de Francs. J o padre portugus Serafim Leite, autor do livro Histria da Companhia de Jesus no Brasil, cita uma carta em que o jesuta Antnio Gomes se refere Catharina Paraguass como casada com um francs. O mrito dessa afirmativa reside no fato do missivista ter conhecido pessoalmente a ndia famosa, j viva de Caramuru.

    ALDEIA DOS FRANCESESTransformado num autntico cacique branco dos tupinambs,

    Caramuru possibilitou o surgimento, na Enseada da Mariquita, da chamada Aldeia dos Franceses, um entreposto de escambo do pau-brasil com aventureiros franceses.

    Segundo Affonso Ruy, no livro (pgina 68) Histria da Cmara Municipal da Cidade do Salvador, em 1552 a Cmara de Salvador solicitou a doao de um territrio para a criao de gado, que, conforme a petio, teria a seguinte delimitao pela costa: ... da Aldeia dos Franceses at o Rio Joanes .... No deferimento do governador-geral houve algumas alteraes, como a troca do nome Aldeia dos Franceses pela toponmia Rio Vermelho, numa referncia ao rio que desaguava na Aldeia dos Franceses, que foi tomado como ponto de medio.

    Eis uma parte do despacho de Thom de Souza, exarado no dia 21 de maio de 1552, obedecida a grafia original: Dou de Sesmaria para pastos de gados dita Cidade e seus termos trs lguas de terras ao longo do mar, que comearo passados duas lguas alm do Rio Vermelho e iro at aonde se acabar o terreno de seis lguas que a dita Cidade tem.

  • 23

    CENTRO PESQUEIROEmbora a rea da foz do Camorogipe tivesse ficado conhecida

    como Aldeia dos Franceses, na verdade no houve qualquer fixao de franceses. A designao decorreu exclusivamente pela presena dos barcos franceses no local de intenso comrcio do pau-brasil. O efetivo assentamento de forasteiros ocorreria somente com a chegada dos portugueses que se estabeleceram com currais de gado e armaes para pesca, numa sesmaria doada em 29 de abril de 1552.

    Segundo o historiador Cid Teixeira, no trabalho As Grandes Doaes do 1 Governador: terras do Rio Vermelho ao Rio Joanes, Conde da Castanheira, Garcia Dvila e Senado da Cmara, a primeira sesmaria concedida por Thom de Souza teve como beneficirio Antnio de Atade, 1 Conde da Castanheira, primo do governador-geral. O nobre, que nunca veio ao Brasil, transformou-se no primeiro dono das terras que iam da barra da Baa de Todos-os-Santos at duas lguas alm da foz do Camorogipe, onde comearia a gleba que, 22 dias depois, seria destinada Cmara Municipal.

    E foi na Enseada de Santana, dentro da sesmaria do conde, que surgiu o primeiro ncleo pesqueiro da Bahia e do Brasil, onde tambm ocorreu a primeira miscigenao pesqueira, com os colonizadores aprendendo as tcnicas dos nativos (os tupinambs eram exmios pescadores) e estes adquirindo conhecimentos da pesca praticada na Pennsula Ibrica. Na Enseada da Mariquita, local da foz do Camorogipe e do descobrimento do Rio Vermelho, tambm surgiu um ncleo de pescadores.

    Antes da Segunda Guerra Mundial, quando a Capitania dos Portos organizou os ncleos pesqueiros no litoral baiano, os dois do Rio Vermelho (Santana e Mariquita), pela tradio, receberam conjuntamente o nmero 1, nascendo ento a Colnia de Pesca Z-1, com rea de jurisdio comeando na Conceio da Praia (Cidade Baixa) e indo at a Boca do Rio. Porm, a sede no foi instalada no Rio Vermelho.

    Segundo Licdio Lopes, no livro O Rio Vermelho e Suas Tradies, por interferncia de Juca Amaral senhor das terras de Amaralina, dono de uma grande rede de pesca de xaru e maior fornecedor desse tipo de peixe, largamente consumido pela populao de Salvador , a sede da Z-1 foi abrigada num imvel de sua propriedade. A casa ficava na atual Ladeira do Nordeste, defronte residncia do prprio Juca, que morava numa casa anexa Capela de Nossa Senhora dos Mares, onde hoje se encontra o Centro de Amaralina, antigo quartel do 4 Grupo Motorizado de Artilharia da Costa (4 Gmac), instalado pelo Exrcito

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    durante a Segunda Guerra Mundial. No incio da dcada de 1970, a sede da Colnia Z-1 foi transferida

    do Nordeste para o Rio Vermelho sendo instalada no Porto de Santana.

    HOLANDESESEm julho de 1604, sob o comando de Paulus Van Caarden, uma

    esquadra flamenga veio atacar Salvador pela segunda vez (a primeira foi em dezembro de 1599) e tentou estabelecer uma cabea de ponte no Rio Vermelho. Em decorrncia das condies do mar revolto e pela reao da guarnio militar que a se encontrava acantonada, os holandeses desistiram do arraial e se dirigiram de volta Baa de Todos-os-Santos, onde estavam sendo repelidos e impedidos de desembarcar.

    Vinte anos depois, em 9 de maio de 1624, os holandeses finalmente conseguiram entrar em Salvador. A populao em pnico abandonou a cidade. Uma parte fugiu para as bandas do Rio Vermelho. O bispo, dom Marcos Teixeira, uma das poucas autoridades a escapar, foi para Abrantes, donde se deslocaria para um ponto mais prximo de Salvador, no Rio Vermelho, para liderar a reao contra os invasores, organizando grupos de combatentes. Nesse arraial, o incansvel bispo conseguiu reunir os principais chefes que comandariam a luta de emboscadas. O local do encontro foi um monte com uma excelente viso panormica para o oceano, verdadeiro posto de observao avanada para a entrada e sada da Baa de Todos-os-Santos. Situado a cavaleiro da barra do Rio Camorogipe, o outeiro ficou conhecido como Morro do Conselho.

    FORTE Expulsos os holandeses da capital brasileira, o Rio Vermelho foi

    escolhido para ter uma fortaleza. As obras demoraram de comear e quando iniciadas transcorreram de forma muito lenta, em duas etapas, 1711-1722 e 1736-1756, com mo de obra enviada pela Casa da Torre de Garcia Dvila. O local escolhido foi o de uma antiga trincheira de terra, entre dois desembarcadores colaterais: praias de Santana e da Mariquita.

    O Forte do Rio Vermelho, tambm chamado de Reduto do Rio Vermelho, Reduto de So Gonalo do Rio Vermelho ou Forte de So Gonalo do Rio Vermelho, foi o nico dos baluartes de defesa de Salvador projetado para fora dos limites da Baa de Todos-os-Santos.

    Construdo com pedras corao-de-negro, extradas de uma pedreira prxima ao Rio Lucaia, afluente do Camorogipe, no chegou a ser totalmente concludo. Ficou sem uma parte do permetro do lado da

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    Enseada de Santana e sem as dependncias de servio. Mas foi artilhado com sete canhes, seis de 6 polegadas e um de 4 polegadas.

    Em junho de 1822, quando eclodiu a Guerra da Independncia, o brigadeiro Incio Madeira de Melo, comandante dos portugueses, mandou reforar o aparato blico do Forte. No queria que ele fosse tomado e o Rio Vermelho transformado num reduto militar das foras patriticas. Havia o temor de uma investida das milcias do poderoso feudo da Casa da Torre de Garcia Dvila, sediado no litoral norte, num castelo em estilo medieval, construdo numa elevao prxima Praia do Forte. Mas no houve nenhum combate no Rio Vermelho.

    Em sua viagem Bahia, o imperador do Brasil, D. Pedro II, anotou no dia 2 de novembro de 1859, no seu dirio de viagem, a seguinte observao:

    s 5 fui ao Rio Vermelho. O caminho muito lindo, atravessando-se diversas chcaras, ainda que, pela maior parte, mal tratadas, e a praia de onde se descobre o Forte de Santo Antnio da Barra, de um pitoresco majestoso.

    Estive perto das runas de um forte, achando-se ainda uma pea, alis muito estragada, deixada no cho.

    Vista do Rio Vermelho em 1885, em foto de Rodolfo Lindemann, com parte do Morro do Conselho, a Pedra da Concha e o Forte do Rio Vermelho.

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    BALNERIO TURSTICONo sculo XIX, o antigo aldeamento dos ndios e dos pescadores

    ganhou fama de possuir guas milagrosas. Pessoas de diversas procedncias chegavam atradas pelos banhos de sal nas guas medicinais do mar do Rio Vermelho, que, segundo crena da poca, curavam at beri bri. De estao de cura para recanto preferencial do veraneio das famlias ricas foi um pulo.

    Durante meio sculo (1880-1930), o Rio Vermelho foi um sofisticado centro de veraneio, constituindo-se no primeiro balnerio turstico da Bahia. Data dessa poca a construo de inmeros palacetes e casares e o surgimento de dois hotis com restaurantes (Hotel Avenida Saudvel e Hotel Centro Recreativo), armazns de secos e molhados, lojas de tecidos e miudezas, uma confeitaria e at uma fbrica de cerveja, que os veranistas atestavam ser de muito boa qualidade.

    Uma linha de bondes eltricos, inaugurada em 1906, proporcionou a ligao mais rpida com o ncleo urbano de Salvador e vice-versa. O veraneio tambm fez surgir dois cinematgrafos (nos dois hotis), um clube de tnis (Rio Vermelho de Tnis), um clube social (Clube dos Drages), um hipdromo (Derby Club), uma filarmnica (Lira do Rio Vermelho) e um estdio de futebol.

    FesTA no rio VermelhoJornal de Notcias

    13 de maro de 1890

    Trata-se de uma festa de caridade nesse saudvel bairro, onde todos os anos fazem temporada distintas famlias da nossa melhor sociedade.

    Um grupo de estimados cidados, auxiliados por uma comisso de cinco senhoras, promove no prximo sbado, dia 15, um espetculo cuja renda ser destinada s vtimas sobreviventes da catstrofe do Taboo.

    O local escolhido foi o teatrinho do Avenida Saudvel. timo para representao do gnero do espetculo anunciado. Haver bondes especiais depois do espetculo.

  • 27

    FUTEBOLNo dia 2 de junho de 1907, com uma partida em que o So

    Salvador venceu o Santos Dumont por 4x2, foi inaugurado o Campo do Rio Vermelho, construdo pela Companhia Linha Circular de Carris da Bahia numa rea da Fazenda Oitum1, atual Parque Cruz Aguiar.

    Na verdade tratava-se de um estdio que enfeixava cinco pioneirismos na Bahia: foi o primeiro local concebido para a prtica do futebol; foi o primeiro campo gramado; possua um lance de arquibancada coberta; era cercado, ou seja, fechado, para permitir a cobrana da entrada dos espectadores; e tinha uma pista para atletismo.

    Com o surgimento desse equipamento, os jogos do campeonato baiano que vinham sendo disputados (1905 e 1906) num campinho de terra batida, no Campo da Plvora, um logradouro pblico no bairro de Nazar (atual Largo do Campo da Plvora, onde fica o Frum Ruy Barbosa) , foram transferidos para o Rio Vermelho. A o futebol comeou de fato a deslanchar e a atrair um grande pblico.

    A Liga Bahiana de Sports Terrestres, promotora do campeonato, passou inclusive a cobrar ingressos, disponibilizados em quatro categorias: carruagem, montaria (cavaleiro), cadeira na arquibancada e geral (em p). Mas, gratuitamente, as partidas podiam ser assistidas de um morro prximo.

    Mesmo estando o campo localizado num centro de veraneio, os homens compareciam, conforme o hbito do vesturio da poca, de terno, gravata e chapu. As mulheres que os acompanhavam tambm primavam pela elegncia, como se fossem a um baile. O futebol era uma festa esportiva, de plateia elegantemente trajada.

    At 19202, o Rio Vermelho foi o palco principal do futebol baiano, somente perdendo a hegemonia aps a inaugurao, em 15 de novembro de 1920, do Estadium Artur Morais, construdo no bairro da Graa, para onde a rea urbana de Salvador avanava.

    1 A Fazenda Oitum pertencia a Joo Gomes da Costa Jnior, que faleceu em 12 de maio de 1907. Vivo de Emlia Gomes da Costa, deixou dez filhos. Pelo Ato n 101, de 25 de novembro de 1932, assinado pelo prefeito Jos Americano da Costa, a Rua do Raphael recebeu o seu nome, passando a ser denominada de Rua Joo Gomes. Fica no centro histrico do bairro, comeando no Largo de Santana e terminando na Praa Colombo.

    2 Segundo o escritor Aloildo Gomes Pires, pesquisador e estudioso do futebol baiano, de 1913 a 1915 o campeonato oficial voltou a ser disputado no Campo da Plvora, retornando ao balnerio do Rio Vermelho em 1916.

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    IGREJASNa histria de seus cinco sculos, o Rio Vermelho teve cinco

    templos catlicos, um dedicado Nossa Senhora, um a So Gonalo do Amarante, um a So Francisco de Assis e dois a Senhora SantAna.

    NOSSA SENHORA DO RIO VERMELHO Em 1556, no trecho frontal Enseada da Mariquita, bem na rea

    da antiga Aldeia dos Franceses, uma misso da Companhia de Jesus fundou a Aldeia de Nossa Senhora do Rio Vermelho. O objetivo era a evangelizao dos tupinambs, num trabalho de catequese mais voltado aos meninos, que se deixavam seduzir pela msica e pelos cantares. No ano seguinte, na presena do superior dos jesutas, padre Manuel da Nbrega, foi inaugurada uma ermida construda pelo irmo Antnio Rodrigues, pregador, cantor e flautista.

    Do modesto templo, consagrado Virgem Maria, no restou nenhum vestgio. Tinha sido erguido bem no sop do outeiro que mais tarde receberia o nome de Morro do Conselho.

    SO GONALO DO RIO VERMELHOO povoado teve uma capela erguida em louvor a So Gonalo

    do Amarante, santo muito cultuado em Portugal e no Brasil, cuja data litrgica era 28 de janeiro3.

    3 Em 1969, com a deciso da Igreja de celebrar as festas dos santos nos dias de suas mortes (en-contro com Jesus), a data litrgica de So Gonalo passou para 10 de janeiro.

    Campo do Rio Vermelho no dia do jogo Vitria 0x0 Santos Dumont, vlido pelo Campeonato Baiano de 1907, disputado em 21 de julho, domingo. Foto do acervo do Memorial Treze de Maio, do Esporte Clube Vitria.

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    A Capela de So Gonalo do Rio Vermelho foi edificada na segunda metade do sculo XVII, no cocoruto da atual Rua Almirante Barroso. Entre 1684 e 1693, recebeu a visita de Gregrio de Mattos, ex-clrigo e poeta famoso, o clebre Boca do Inferno, que chegou atrado pela Festa de So Gonalo, do qual era devoto, tendo inclusive dado o nome Gonalo ao filho que teve no segundo casamento, com Maria de Pvoas.

    H tambm o registro da doao, em 20 de janeiro de 1724, da Capela de So Gonalo, juntamente com as terras da Fazenda Rio Vermelho e uma armao de pesca, ao Mosteiro de So Bento da Bahia. O doador foi o padre Agostinho Ribeiro, mais conhecido por Frei Agostinho de So Gonalo. No final do sculo XVIII, com a capela j em fase de degradao fsica, a imagem de So Gonalo foi levada para a Igreja do Bonfim, acabando no Rio Vermelho a devoo e as festividades ao seu santo padroeiro. A nica gravura que se conhece da Capela de So Gonalo do Rio Vermelho aparece numa pintura do ingls J. Needham, que esteve no Brasil entre 1827 e 1838, perodo em que desenhou vistas de Salvador e do Rio de Janeiro. O quadro mostrando a capela, j em visvel estgio de arruinamento, foi oferecido pelo artista ao diplomata William Gore Ouseley, encarregado dos negcios da Inglaterra no Brasil, que tambm era artista plstico e escritor.

    Capela de So Gonalo do Rio Vermelho, na gravura de J. Needham, provavelmente de 1827. Hoje, no se tem nenhuma referncia, pois no local, segundo o historiador Cid Teixeira, foram construdos dois prdios de apartamentos.

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    SO FRANCISCO DE ASSISDentro da Chcara Pinheiro, que abrangia toda a rea do Alto de

    So Gonalo, no trecho que vai da atual Avenida Cardeal da Silva (parte alta) Avenida Anita Garibaldi (parte baixa), foi construda uma capela em honra a So Francisco de Assis. Ficava ao lado de uma nova casa-sede da chcara, que teve as obras paralisadas com a morte do proprietrio, Francisco Pinheiro de Souza.

    A famlia de Ccero Lopes Villas Boas foi a ltima moradora da Chcara Pinheiro. Em 1949, Ccero vendeu a propriedade ao genro, Jos Brando Pinto, casado com Nair Cardoso Villas Boas, que em 1952 transformou a chcara no loteamento Parque Primavera. Na abertura das ruas, as runas da Capela de So Francisco de Assis foram demolidas.

    SENHORA SANTANA DO RIO VERMELHOPor volta de 1580, na Enseada de Santana, com a frente voltada

    para o mar, j existia uma ermida de taipa, coberta por palha. Foi erguida pelos padres da Companhia de Jesus, para a catequese no segundo ncleo instalado pelos jesutas no Rio Vermelho. Depois, reconstruda em alvenaria, a Capela de Senhora SantAna, teve a frente deslocada para a posio em que se encontra atualmente, no Largo de Santana.

    Em 1724, com a doao da Fazenda Rio Vermelho, pelo frei Agostinho de So Gonalo, a Ordem Beneditina passou a ter no Rio

    A Capela de So Francisco de Assis (j abandonada), ao lado de uma casa residencial inacabada.

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    Vermelho um territrio que foi acrescido com um pedao de terra adquirido em 1751. Como ficava dentro desse domnio4, o templo de Senhora SantAna passou a ser capelania do Mosteiro de So Bento da Bahia.

    Em 2 de novembro de 1852, a Capela de Senhora SantAna foi incorporada Parquia de Nossa Senhora da Vitria e no dia 5 de abril de 1913 passou condio de Igreja Matriz da Parquia do Rio Vermelho. Nesse status permaneceu at 26 de julho de 1967, quando foi inaugurada a nova Igreja de Senhora SantAna, construda na Rua Guedes Cabral, numa das extremidades da Enseada de Santana.

    FESTA DA PADROEIRA

    A Festa de Senhora SantAna, Padroeira do Rio Vermelho, comeou em 1870, fora da data litrgica, que era no ms de julho. A extemporaneidade foi determinada pelos veranistas e acatada pela Igreja, pela seguinte razo: no inverno a populao fixa era muita pequena e a maioria dos imveis permanecia fechada, inclusive a igrejinha do Largo de Santana, que no dispunha de um padre permanente. Nesse perodo, de julho, a vida no povoado girava basicamente em torno dos pescadores, sem recursos para festas.

    A Festa do Rio Vermelho, como ficou conhecida, realizava-se no vero, estao em que os veranistas lotavam o arrabalde. A data era mvel, pois tudo girava em torno do carnaval. Casados com os festejos religiosos (novenrio e procisso), os veranistas tambm criaram os festejos de largo, com uma vasta programao que movimentava e enchia o Rio Vermelho de eventos durante os meses de janeiro e fevereiro, at a semana anterior ao carnaval.

    IRMANDADE

    No dia 22 de julho de 1882, foi oficializada a Irmandade da Gloriosa Senhora SantAnna do Rio Vermelho, vinculada capela do mesmo nome, no balnerio do Rio Vermelho, filial da Freguesia de Nossa Senhora da Vitria. Dois dias depois, 24 de julho, o seu Compromisso (Estatuto) foi aprovado por dom Lus Antnio dos Santos, arcebispo da

    4 Nas pginas 117 e 118 do livro A Administrao dos Bens Temporais do Mosteiro de So Bento da Bahia, a autora, Maria Herminia Olivera Hernndez, colocou duas tabelas discriminando as reas foreiras ao Mosteiro nos anos de 1930. O Rio Vermelho aparece com 125 terrenos, 80 cons-trues (72 casas trreas e 8 sobrados), 6 ruas e 2 praas. Segundo um mapa desenhado pelo frade Paulo Lachenmayer, as duas praas so o Largo de Santana e a Praa Colombo.

  • 32

    Bahia e primaz do Brasil. Cumprindo o ltimo trmite burocrtico, o Compromisso da

    Irmandade da Gloriosa Senhora SantAnna do Rio Vermelho foi registrado no Livro de Compromissos do Governo da Provncia da Bahia em 14 de agosto de 1886. Constou de 17 captulos, assim divididos:

    Captulo 1: Da Invocao desta IrmandadeCaptulo 2: Da Admisso dos Irmos e seus DeveresCaptulo 3: Dos Oficiais que Devem Compor a Mesa Administrativa Captulo 4: Das Sesses e Deliberaes da MesaCaptulo 5: Da Eleio da Mesa AdministrativaCaptulo 6: Da PosseCaptulo 7: Das Atribuies e Deveres do JuizCaptulo 8: Das Regalias e Deveres do EscrivoCaptulo 9: Do Tesoureiro e seus DeveresCaptulo 10: Do Procurador e seus DeveresCaptulo 11: Dos Consultores e seus DeveresCaptulo 12: Da Junta da Irmandade e suas AtribuiesCaptulo 13: Dos Atos do Culto Divino a Cargo da IrmandadeCaptulo 14: Dos Bens Espirituais da IrmandadeCaptulo 15: Do Patrimnio da IrmandadeCaptulo 16: Do Arquivo da IrmandadeCaptulo 17: Disposies Gerais

    No Captulo 13, a Irmandade da Gloriosa Senhora SantAnna chamou a si as seguintes responsabilidades:

    Como a Capela do Rio Vermelho no dispunha de um padre fixo, a Irmandade assumiu o pagamento para um sacerdote celebrar uma missa no ltimo domingo de cada ms.

    Promoo da festividade em louvor Senhora SantAna no ltimo domingo de julho, precedida de um novenrio. Com isso, a procisso somente seria realizada no dia litrgico quando o 26 casse num domingo.Portanto, talvez num caso indito no Brasil, o Rio Vermelho

    celebrava a sua Santa Padroeira duas vezes por ano: no inverno (calendrio litrgico) e no vero (calendrio dos veranistas), respectivamente em julho e fevereiro.

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    Fac-smile da pgina da confirmao do Compromisso da Irmandade da Gloriosa Senhora SantAnna do Rio Vermelho, por Theodoro Machado Freire Pereira da Silva, Desembargador Honorrio do Conselho de Sua Majestade O Imperador e Presidente da Provncia da Bahia.

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    CRIAO DA PARQUIA

    O paradisaco arrabalde do Rio Vermelho somente ganhava movimentao relevante na alta estao, com a chegada do vero, que trazia os proprietrios das casas e suas famlias. Os comerciantes do balnerio reativavam os negcios, o dinheiro corria e os veranistas faziam festas religiosas e populares.

    Os veranistas, que criaram a Irmandade da Gloriosa Senhora SantAnna do Rio Vermelho, foram tambm os responsveis pela emancipao do Rio Vermelho, que deixou de pertencer Parquia de Nossa Senhora da Vitria, a segunda mais antiga de Salvador. O ato foi atravs de proviso assinada por dom Jernymo Thom da Silva, arcebispo metropolitano de So Salvador da Bahia e primaz do Brasil.

    A criao da Parquia de SantAna do Rio Vermelho foi assinada num sbado, 5 de abril de 1913, dia consagrado a So Vicente Ferrer, santo espanhol. Nascido em Valncia, Vicente Ferrer tinha sido um sacerdote dominicano que ficou conhecido como grande arauto da mensagem crist.

    Com a criao da Parquia, a capela existente no Largo de Santana foi elevada condio de Igreja Matriz e o padre Antnio de Menezes Lima designado cura (proco) do novo curato (parquia). No Livro de Tombo da nova Parquia, ele mesmo assentou a sua posse, da seguinte forma:

    Aos seis dias de abril de mil e novecentos e treze, perante a Irmandade de SantAnna e grande nmero de fieis, por ocasio da missa parochial e depois de ter sido lida da tribuna sagrada a minha proviso de Cura de SantAnna do Rio Vermelho, tomei posse do dito cargo. E para todo o tempo constar, lavrei o presente termo que assino.Padre Antonio de Menezes Lima

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    1: 1549 - Transfigurao do Senhor (S)2: 1561 - Nossa Senhora da Vitria 3: 1608 - Nossa Senhora do (Paripe)4: 1608 - So Bartolomeu (Piraj)5: 1623 - Nossa Senhora da Conceio da Praia (Comrcio)6: 1649 - Santo Antnio Alm do Carmo7: 1673 - Santssimo Sacramento e SantAna (Nazar)8: 1718 - Santssimo Sacramento do Pao9: 1718 - Nossa Senhora de Brotas

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    10: 1718 - Nossa Senhora do Pilar 11: 1759 - Nossa Senhora da Penha (Ribeira)12: 1796 - So Pedro (Piedade)13: 1815 - Nossa Senhora da Conceio de Itapu 14: 1871 - Nossa Senhora de Nazar 15: 1871 - Nossa Senhora dos Mares 16: 1913 - SantAna do Rio Vermelho17: 1937 - Cristo Rei e So Judas Tadeu (Quintas)18: 1939 - Nossa Senhora da Boa Viagem19: 1941 - Cosme e Damio da Liberdade20: 1944 - Nossa Senhora da Sade e Glria

    CONFLITOS COM OS PESCADORES

    At 1918, os pescadores do Rio Vermelho foram muito influentes na Igreja de Senhora SantAna. Tinham at uma irmandade, que Licdio Lopes5, no livro O Rio Vermelho e Suas Tradies, assim a ela se referiu:

    Sei que havia papis e documentos que pertenciam Irmandade, que era composta de operrios e pescadores: Eugnio, Sr. Loureno, Sr. Amncio, Sr. Nicolau e outros (estes eram operrios); Sr. Herculano, Sr. Liberato, Sr. Justino, Sr. Odilon, Sr. Janurio e outros (estes eram pescadores). Essa Irmandade era encarregada dos atos religiosos da igrejinha.

    Licdio no informou at quando a Irmandade existiu. Mas tudo leva a crer que foi perdendo a importncia aps o afastamento dos pescadores do convvio ntimo com a Parquia, por desentendimentos com o proco Artur Afrnio Peixoto, provocados pelo Dzimo da Pesca e pelo Presente da Me Dgua.

    DZIMO DA PESCABem junto da igrejinha, no Largo de Santana, ficava uma pequena

    casa onde se pesava o peixe, sendo por isso denominada de Peso do Peixe ou Casa do Peso. A pesagem servia de clculo para o pagamento do dzimo Igreja. Porm, quando os pescadores souberam, atravs de um oficial da Marinha, que o pagamento no era obrigatrio, deixaram de faz-lo.

    5 Licdio Reginaldo Lopes nasceu no Alto de So Gonalo, Rio Vermelho, em 26 de abril de 1899. Faleceu aos 88 anos, em 22 de maio de 1987. Foi pescador, pintor de paredes, mestre de obras, artista plstico e escritor. No dia 11 de agosto de 1986, em Sesso Solene na Cmara Municipal de Salvador, recebeu a Medalha Thom de Souza, a mais alta honraria concedida pela primeira Casa Legislativa do Brasil.

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    A deciso gerou um conflito com o padre Artur Peixoto, recm-chegado ao Rio Vermelho, que no gostou de deixar de receber o tributo, e promoveu uma retaliao, jogando a Prefeitura contra os pescadores. Depois, a crise foi contornada e a paz restabelecida: os pescadores no voltaram a pagar o dzimo, mas tiveram de deixar a casinha, que pertencia Parquia.

    Com autorizao da Marinha, os pescadores construram uma nova Casa do Peso, em terreno de marinha, ao lado do Forte. Foi onde passaram, a partir de 1919, a guardar a balana e aviamentos utilizados na pesca.

    PRESENTE DA ME DGUAA Festa de Yemanj, nascida com o nome de Presente da Me

    dgua, nos remete a 1923, ano de pescaria ruim. Visando a superao da fase do peixe escasso, os compradores davam receitas e uma delas sugeria que os pescadores deveriam invocar os poderes da dona do mar, mediante uma oferenda. Como os pescadores de Itapu ofereciam presentes Me dgua em 2 de fevereiro, os do Rio Vermelho tambm optaram pelo mesmo dia. Na edio de fevereiro de 1984, o informativo O Pescador, editado pela Biblioteca Juracy Magalhes Jnior, localizada no Rio Vermelho, saiu com uma entrevista do pescador Zequinha, tambm construtor de jangadas, nascido em 1911. Eis o que afirmou:

    A Festa de Yemanj comeou pelos pescadores mais antigos, dentre eles meu pai, que resolveram colocar um presente pra Me dgua. Ento se reuniram e cada um deu um tanto. Compraram um boneco, um frasco de cheiro e botaram tudo numa caixinha de papelo.

    Esse foi o primeiro presente, modestssimo. Entre os pescadores que foram colocar o presente, estava Eustquio Bernardino de Sena, de 36 anos, que, 47 anos depois, numa entrevista Tribuna da Bahia, concedida ao jornalista M. H. Chaves Mattos, publicada na edio de 14 de dezembro de 1970, declarou o seguinte:

    A festa foi feita pela primeira vez em 2 de fevereiro de 1924, por 29 pescadores, dos quais apenas quatro ainda esto vivos: Eu, Pedro Moita, Jos Moita e Sbem Moita.

    A festa foi aberta com uma missa na Igreja de Senhora SantAna, a santa da devoo dos pescadores do Rio Vermelho.

    Logo aps a missa, num saveiro que partiu do Porto de Santana, foi levado o Presente da Me dgua. Samos s dez horas e s onze estvamos de volta!

  • 37

    O escritor Licdio Lopes, testemunha dos primeiros presentes, ainda no livro O Rio Vermelho e Suas Tradies, fez o seguinte registro:

    Houve algum, entendido em presente pra Yemanj, que disse que o presente no estava sendo em ordem, pois essa obrigao era feita na frica, onde Yemanj a me de todos os orixs. Yemanj fica mais satisfeita quando o presente feito com os preceitos do candombl. Esse preceito veio parar aqui trazido pelos escravos e devemos respeitar o ritual deles.

    Os pescadores decidiram ento chamar Jlia Bug, que tinha experincia em preparar preceitos para os orixs das guas salgadas e doces. Licdio informou em seu livro que, aps dar explicaes aos pescadores sobre o culto correto Yemanj, Me Jlia entregou-lhes uma relao do material necessrio. Licdio no registra o ano do ingresso da ialorix na organizao dos preceitos, mas Eustquio disse que foi em 1928.

    A festa de 1928 constou de duas partes: a missa em louvor Senhora SantAna e os preceitos do candombl comandados pela Me Jlia na Casa do Peso. Dessa forma, os pescadores procuraram agradar santa catlica e divindade do culto africano. Por causa disso, no ano seguinte, 1929, houve um problema srio com o padre Artur Peixoto, incidente que Licdio assim descreveu:

    O padre no queria dizer a missa, mas, a muito custo, resolveu celebrar. Depois, fez uma prtica desfazendo da Rainha do Mar e dos pescadores, dizendo que era ignorncia deles festejar uma mulher com rabo de peixe e outras coisas mais, o que ofendeu os pescadores e suas famlias.

    A igreja estava cheia de fiis e saram todos revoltados com a atitude do proco, pois os pescadores mandaram celebrar a missa para Senhora SantAna, que a padroeira deles, e no para a Me dgua. Por esse motivo resolveram no mandar mais celebrar a missa, somente botavam o presente para Yemanj.

    HERESIA TOPONMICA

    Primitivamente era Largo da Igreja, ou Largo da Igreja de Santana, e, finalmente, a consolidao como Largo de Santana. Constitua-se no centro dos festejos religiosos e populares, onde se realizavam as quermesses e se apresentavam os ternos, os ranchos, as sociedades

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    musicais e a Filarmnica Lira do Rio Vermelho. O Largo de Santana ganhou at um Coreto para musicatas e discursos nos dias festivos. E no entorno ficavam dois hotis (Avenida Saudvel e Centro Recreativo), a Confeitaria Ocenica e o Armazm Rio Vermelho, esses dois ltimos pertencentes a Jos Taboada Vidal.

    Em 1933, numa desenfreada colocao de novos nomes, em locais indevidos, o prefeito Jos Americano da Costa, fazendo uso do Ato n 36, de 3 de abril, cassou o tributo do povo Senhora SantAna. O secular Largo de Santana passou a se chamar Praa Marechal Aguiar. O novo homenageado era um ilustre desconhecido6 para a comunidade do bairro, que nunca aceitou o batismo poltico, julgado desrespeitoso Padroeira do Rio Vermelho. Os moradores continuaram a chamar o mais importante logradouro do Rio Vermelho pela sua denominao tradicional: Largo de Santana.

    O resgate do batismo religioso foi demorado. Por decreto publicado no Dirio Oficial do Estado, na pgina 36 da edio de 30 de maio de 1967, o prefeito Antnio Carlos Magalhes designou uma comisso de notveis7 para promover o restabelecimento das nomenclaturas antigas mais relevantes, entre as mais de cem que haviam sido expurgadas da cidade pelo famigerado Ato 36.

    Agindo em consonncia com o disposto no Artigo 6 da Lei 487, de 9 de julho de 1954, sancionada pelo prefeito Aristteles Ges, e em aditamento ao Decreto n 2219-A, de 16 de novembro de 1961, assinado pelo prefeito Heitor Dias Pereira, o topnimo Largo de Santana, juntamente com dezenas de outras designaes antigas e populares, foi restaurado no dia 25 de setembro de 1967, por um simples ofcio assinado por Luiz Lessa Ribeiro, presidente da comisso reabilitadora das toponmias histricas.

    Portanto, 34 anos depois, o nome da Santa Padroeira do Rio Vermelho voltou a reinar no Largo de Santana. E foi ratificado pela Lei n 5.739, de 29 de maio de 2000, sancionada pelo prefeito Antnio Imbassahy.

    6 Embora desconhecido no Rio Vermelho, o marechal era baiano, nascido em Salvador, em 2 de junho de 1855. Ficou conhecido como prefeito (1906-1909) do Rio de Janeiro, ento a capital fe-deral, onde faleceu, aos 80 anos, no dia 10 de novembro de 1935. Chamava-se Francisco Marcelino de Sousa Aguiar.

    7 Sob a presidncia do secretrio municipal da Viao e Obras Pblicas, engenheiro Luiz Lessa Ribeiro, a comisso teve mais oito membros: acadmico Godofredo Filho, acadmico Luiz Monteiro da Costa, escritor Albano Frederico Marinho de Oliveira, historiador Affonso Ruy de Sousa, jorna-lista Flvio Costa, jornalista Jorge Calmon, monsenhor Manoel de Aquino Barbosa e o professor Adroaldo Ribeiro Costa.

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    NOVA IRMANDADE

    No dia 6 de julho de 1930, o novo proco do Rio Vermelho, Antnio Jos de Almeida, que permaneceu no cargo por nove meses (27.04.1930/31.01.1931), teve uma reunio tensa com os membros da Irmandade da Gloriosa Senhora SantAnna do Rio Vermelho, pois houve uma discordncia generalizada na pauta dos assuntos discutidos. Um deles foi a proposta do proco para a reforma do Estatuto, que no foi consentida pelos irmos. A Irmandade encontrava-se sob o comando dos seguintes dirigentes, todos personalidades muito respeitadas e de grande influncia na comunidade:

    JuizUbaldino Gonzaga8

    EscrivoAntnio Freitas

    TesoureiroManoel Sobrinho Gonalves

    ProcuradorJos Fonseca

    8 Baiano de Entre Rios, nascido em 24 de dezembro de 1880, Ubaldino Gonzaga residia no Rio Vermelho desde 1917, onde passou a ter participao ativa em seus acontecimentos. Advogado renomado, ficou tambm muito conhecido em Salvador pela militncia jornalstica, no Correio de Notcias, e na poltica, como deputado estadual e federal. Quando irrompeu a Revoluo de 1930, encontrava-se no exerccio de mandato como senador estadual. Foi secretrio estadual da Fazenda (1945-46) e era chefe de um cl numeroso, formado por dez filhos. Ubaldino Gonzaga morreu na Chcara Lucaia, onde residia desde 1924, aos 96 anos, em 14 de setembro de 1977.

    Borda da Enseada de Santana, em um carto postal do incio do sculo XX: esquerda a Igreja; o Coreto sua direita; e na ponta direita o Forte.

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    Ao tomar posse no comando da Parquia, em 3 de maro de 1940, o padre Jos de Anchieta Silva Moreira tomou conhecimento de que a Irmandade da Gloriosa Senhora SantAna do Rio Vermelho se encontrava desativada. Por isso, foi imediatamente conversar com o arcebispo, tendo este dito que ao invs da reativao fosse criada uma nova irmandade.

    Assim, em 2 de abril de 1940, foi fundada a Devoo Gloriosa SantAna do Rio Vermelho, com as seguintes finalidades: sustentar o culto; encarregar-se da parte religiosa da Festa de SantAna; e trabalhar para a construo de uma nova Igreja Matriz, com Casa e Escola Paroquial. A primeira Mesa Administrativa ficou assim constituda:

    JuizAntnio Benedito Dultra

    Vice-JuizClvis Newton de Lemos

    Tesoureirolvaro Landulfo Medrado

    SecretrioFernando Ferreira Machado

    MesriosFrancisco Pereira Filho

    Carlos GonalvesMrio Manso

    Osvaldo Hugo do Sacramento

    Na pgina 37 do Livro de Tombo da Parquia tambm constou que: Foi eleita, segundo o Estatuto, uma Mesa de Honra composta de Senhoras. O escrivo no nominou as integrantes, mas fez o seguinte registro:

    Entre os Senhores que constituram a primeira direo administrativa da Devoo, estavam justamente os Juzes nomeados para o ano de 1941, para a tradicional Festa de SantAna, que se faz em Fevereiro, na Septuagsima. Doravante, por esta festa feita de um modo quase profano, a Devoo se encarregar sempre da parte religiosa, ficando os festejos populares a cargo da Comisso que se elege todos os anos. E assim, se separou de modo muito til e conveniente o culto sagrado dos folguedos de rua.

    A nova irmandade no teve vida longa. No se sabe por quantos anos existiu. Sabe-se que j no existia no incio da dcada de 1950. Como na Igreja Matriz no havia espao fsico para acomodar as atividades administrativas da Irmandade, supe-se que isso tenha contribudo para a desagregao da entidade.

  • 41

    CAPELAS

    Em 1940, assim que tomou posse, o proco Jos Moreira preparou um minucioso relatrio do que encontrou na Parquia, relacionando inclusive as capelanias distribudas pela sua vasta jurisdio, que englobava as reas de Ondina, Federao, Engenho Velho da Federao, Rio Vermelho, Amaralina, Nordeste e Pituba. Eis, pela ordem de registro no Livro do Tombo, as quatro capelas:

    Capela da Pituba: templo pertencente a Joventino Silva, centro da Festa de Nossa Senhora da Luz. De acordo com uma planta urbanstica, existe espao reservado para a construo de uma nova igreja, que dever ter o nome da padroeira local.

    Capela de Amaralina: templo tambm particular, na propriedade de Igncio Amaral, sede da Festa de Nossa Senhora dos Mares, com procisso martima at o Porto de Santana do Rio Vermelho.

    Capela de So Lzaro: administrada pela Parquia do Rio Vermelho, sendo o maior templo da sua jurisdio, suplantando inclusive a Igreja Matriz. Constitua-se num local de romarias e sede da Festa de So Lzaro, com forte presena do sincretismo religioso.

    Capela no Mata Maroto: templo particular, localizado na Estrada da Federao, dedicada Madre de Deus.

    Mesmo tendo sido declarada extinta em 1940, as contas de energia eltrica da Igreja continuaram sendo emitidas em nome da irmandade antiga, conforme fac-smile acima: recibo com vencimento em 2 de fevereiro de 1956. O endereo o da Igreja Matriz, na Praa Marechal Aguiar, toponmia que durante 34 anos, a partir de 3 de abril de 1933, substituiu a designao antiga - Largo de Santana, que foi restabelecida em 25 de setembro de 1967.

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    Em seu relatrio, o proco defendeu a necessidade da construo de capelas em trs povoados desprovidos da assistncia catlica: Alto das Pombas (na Federao, vizinho ao Cemitrio do Campo Santo), Vila Amrica (no vale do Rio Lucaia, cortado pela linha de bonde do Rio Vermelho de Baixo) e Nordeste (parte alta de Amaralina).

    FLASHES DO LIVRO DE TOMBO

    Anotao do proco Arlindo Vieira da rocha: 1918 (pg. 6)

    Aos treze de outubro de mil novecentos e dezoito, aps a Missa Conventual, realizou-se com pompa a cerimnia da bno do Sacrrio, completamente reformado. Paraninfaram o ato os Exmos. Srs. Cel. Francisco Pereira, Cel. Daltro de Castro, Cel. Manoel Abdon Machado, Manoel Sobrinho Gonalves (Cnsul da Espanha), Jos Taboada Vidal, Temstocles Rocha, Major Arthur Pereira, Cel. Antnio Aguiar, Dr. Honrio da Silva, Cel. Joaquim Fonseca, Aloysio Guimares, Cel. Csar Cachoeira da Silva, Mrio Manso e Herculano Raphael da Cruz.

    Anotaes do proco Jos A. Pabn: 1933 (pg. 27, verso)

    O Ilmo. Sr. Francisco Pereira Jnior teve a grande bondade de emprestar dinheiro e ao mesmo tempo em que foi a alma da restaurao da Matriz. Da minha parte dou os agradecimentos mais profundos a esse insigne cavalheiro, benfeitor da Igreja e colaborador do proco em toda empresa da glria de Deus.Resgatei da antiga Irmandade de SantAnna, duas aplices federais, nmeros 86.551 e 86.552, e mais uma cartela n 2.693, com trs aes do Banco Econmico da Bahia. Existe uma caderneta para ser cobrada na Caixa Econmica Federal, que est em poder de monsenhor Clodoaldo Barbosa, secretrio do Arcebispado.

    Anotao do proco Vitalmiro munford: 1936 (pg. 29, verso)

    Todos os anos fazemos uma missa festiva, com cnticos e grande nmero de comunhes, no dia 26 de julho, Festa de Senhora SantAna, padroeira deste curato. No entanto, no esta a festa tradicional. No princpio do ano, so celebradas, com o concurso dos paroquianos e veranistas, no s a Festa da Padroeira, como as de Nossa Senhora de Lourdes e Nossa Senhora do Parto.

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    Anotaes do proco Feliciano rodrigues do nascimento: 1938 (pg. 31)

    Ao Exmo. Sr. Francisco Pereira Jnior devia Matriz a quantia de dois contos setecentos e onze mil e oitocentos e cincoenta reis, provenientes de despesas realizadas com a mesma Matriz. Essa quantia foi perdoada pela Exma. Famlia do Exmo. Sr. Francisco Pereira Jnior, aps a morte do mesmo.Mandei no ms de abril consertar o telhado da Igreja, o qual estava bem estragado. Depois, mandei consertar o sino da Parquia, mais nove bancos e o confessionrio, gastando em tudo a quantia de noventa e dois mil e quinhentos reis. Foi tambm consertado o harmnio, com o que se gastou cento e dez mil reis, sendo oferecida uma capa para o mesmo pela Exma. Viva, d. Secondina Pereira.

    Anotaes do proco Jos de Anchieta silva moreira: 1940 (pg. 40/41)

    Celebram-se, por costume, nesta Matriz, alm das festas do calendrio comum, com maior pompa, as seguintes:Festa de SantAna do Rio Vermelho, um dos festejos tradicionais da cidade, em fevereiro, com muito rudo e pouca ou quase nenhuma piedade. Consegui, por isso, que se separasse as funes da Igreja dos folguedos de rua, ficando estes a cargo de uma comisso independente da Igreja e a parte religiosa a ser levada a cabo pela Devoo da Gloriosa SantAna do Rio Vermelho, recentemente fundada. Esta Festa de SantAna tradio preceder a Festa de N. S. de Lourdes, feita pelas senhorinhas, e a Festa de N. S. do Parto, feita pelas senhoras.No ms de SantAna, com a festa do dia 26 de julho, tem-se feito com o intuito de contrabalanar a outra festa do comeo do ano e conseguir-se os frutos espirituais neutralizados pela festa de rua de fevereiro.

    Anotao do proco Francisco solano szczepanek: 1942 (pg. 45, verso)

    Pela presente, conforme exposio do Reverendo Vigrio do Rio Vermelho, Frei Francisco Solano Szczepanek, havemos por bem declarar extinta a Irmandade de Nossa Senhora das Graas do Rio Vermelho, por no estar mais preenchendo a finalidade para a qual foi instituda, bem como a Irmandade de Nossa Senhora SantAnna, por desistncia unnime dos Irmos remanescentes, conforme registro no Livro do

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    Tombo, folhas 23 e 24. Ao mesmo tempo, transferimos todos os bens patrimoniais das referidas Irmandades para a Devoo Gloriosa SantAna do Rio Vermelho, erecta na Igreja Matriz do Rio Vermelho.

    Anotao do proco Alcides Barreiros Cardoso: 1947 (pg. 48)(Sobre a visita pastoral do cardeal Augusto lvaro da Silva, em 24 de janeiro de 1947)

    Dirigiu-se o Exmo. Sr. Arcebispo para o salo de reunies das associaes, situado na parte superior da Igreja. Estando presentes o Proco e a Mesa Diretora da Devoo Gloriosa Senhora SantAna, exps o Exmo. Sr. Arcebispo a situao da Matriz diante da extenso da Parquia e as dimenses acanhadas do templo. Entre as solues apresentadas, havia a da concesso de um terreno oferecido pela Empresa Construtora e Imobiliria Limitada. Desejou S. Excia. Revma. examinar pessoalmente o local em apreo. Logo aps a referida visita, em vista da situao precria da Matriz e do oferecimento espontneo da Empresa Construtora, juntamente com a concesso de vrias vantagens quanto aquisio de materiais, julgou o Exmo. Sr. Arcebispo Primaz ser conveniente aceitar tal doao, mediante proposta escrita que lhe seria apresentada.

    CLS FAMILIARES

    Com tanto desenvolvimento, ao tempo que via crescer a populao fixa constituda por famlias oriundas do centro da cidade e por imigrantes galegos e germnicos, que formaram duas importantes colnias , o balnerio do Rio Vermelho foi perdendo o atrativo como centro de veraneio.

    Esgotado o perodo ureo do veraneio, que foi de meio sculo (1880-1930), o Rio Vermelho consolidou-se como reduto de famlias com residncia permanente. guisa de ilustrao, seguem, por ordem alfabtica, algumas das mais representativas: Borges, Britto, Castro, Cintra Monteiro, Dias Lima, Didier, Dultra, Ferreira Freitas, Figueiredo, Figuera, Gomes da Costa, Gonzaga, Guimares, Hegouet, Imbassahy, Maia, Mello, Moreira, Oliva, Pereira, Rajo, Rangel, Requio, Rio, Salinas, SantAnna, Silvany, Silveira, Sobrinho, Taboada, Viana e Villas Boas.

    Durante meio sculo, a famlia Taboada foi um exemplo do

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    poder dos cls familiares. Comeou com o galego Jos Taboada Vidal, e continuou com seus filhos brasileiros. Pode-se dizer que o prestgio dessa famlia estava simbolicamente representado pelo sobrado que ficava no corao do Rio Vermelho, na esquina da Rua Joo Gomes com o Largo de Santana. A sua demolio, em 1974, significou o fim da era em que as famlias definiam a identidade do bairro e o poder da Parquia na comunidade.

    VISITA DE NOSSA SENHORA DE FTIMA

    Em 1952, o Rio Vermelho foi palco de um evento religioso de notvel repercusso, que mobilizou toda comunidade catlica do bairro, quando hospedou a venerada imagem de Nossa Senhora de Ftima, a Virgem Peregrina de Portugal.

    Transportada pelo transatlntico ingls Alcantara, a imagem chegou ao porto de Salvador em 12 de junho. Era a primeira cidade na peregrinao pela Amrica do Sul. No dia seguinte, a imagem da santa portuguesa pernoitou, em viglia, na igrejinha do Largo de Santana. Na edio do dia 14, o vespertino A Tarde circulou dando o seguinte destaque:

    A recepo do povo do Rio Vermelho Nossa Senhora de Ftima foi magnfica. Pouco depois das 20 horas, a imagem da Virgem Peregrina deixou a Igreja da Vitria ao som de cnticos e palmas dos fiis, acompanhada pela comisso de reverendos portugueses e dos padres Belo e Mariz, seguindo para a Igreja de SantAna do Rio Vermelho.

    Por todo o percurso, foi a milagrosa santa portuguesa saudada pelo povo que acorria s ruas para ver a sua passagem. Ao chegar ao fim da Avenida Ocenica, j no Rio Vermelho, uma multido a esperava, tendo a frente o padre Alcides Cardoso, vigrio da freguesia. As ruas do arrabalde, por onde o cortejo passou, estavam iluminadas e ornamentadas.

    Ao chegar a imagem, o povo prorrompeu em aclamaes, aumentou a claridade do percurso com fogos de bengala e ajoelhou-se, em seguida, rezando contritamente.

    Terminada a orao, falou o vereador Osrio Villas Boas que, em breve improviso, saudou a Virgem de Ftima, rogando-lhe derramar sobre o povo daquele bairro a doura das suas graas. Teve incio ento a procisso desfilando frente de Senhora SantAna e os colgios do bairro com suas famlias. Na antiga igrejinha dos pescadores, a Virgem

  • 46

    de Ftima foi saudada pelo vigrio, padre Alcides Cardoso, que celebrou uma missa.

    s 9 horas do dia 14 de junho, um sbado, a imagem da santa saiu da Igreja de SantAna em nova e concorrida procisso, conduzindo Nossa Senhora de Ftima, no seu andor de flores, para visitar o Orfanato Herclia Moreira e o Orfanato da Vila Medalha Milagrosa.

    Depois, cercada pela jubilosa manifestao de f dos moradores, a Virgem de Ftima deixou o Rio Vermelho para cumprir um roteiro de visitas noutras parquias importantes de Salvador.

    O proco do bairro, padre Alcides Cardoso, declarou depois que a visita da imagem de Ftima se constituiu no fato mais marcante de toda a sua vida pastoral. Disse ainda que a devoo do baiano, em particular a dos moradores do Rio Vermelho, tinha marcado para sempre sua alma.

    FAleCimenTo de luiZ FreiTAs

    Nascido em Salvador, no dia 20 de agosto de 1900, Luiz Freitas era de famlia tradicional do Rio Vermelho. No dia 18 de fevereiro de 1939, casou-se com Maria Joselita Ferreira Freitas, na Igreja de SantAna do Rio Vermelho, em solenidade oficiada pelo proco Feliciano Rodrigues do Nascimento.

    Luiz gozava de grande prestgio como pintor. Trabalhava por encomenda, mas no vivia exclusivamente das artes plsticas, pois era bancrio, funcionrio do Banco da Bahia.

    Em 1946, num leo sobre tela, retratou a Igreja Matriz, mostrando-a reinando no Largo de Santana (vide foto na pgina 7 deste livro). Ele doou esse quadro Parquia do seu bairro, que se encontrava sob o comando

    A procisso com a imagem de Nossa Senhora de Ftima no dia 14 de junho de 1952, quando passava pela Travessa Lydio de Mesquita, em direo ao Orfanato da Vila Medalha Milagrosa, tendo frente o proco Alcides Cardoso.

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    do padre Alcides Cardoso.No dia 20 de novembro de 1955, aos 55 anos, Luiz

    Freitas faleceu em decorrncia de problemas cardacos. Deixou trs filhos menores (Ana Maria, Denise e Antnio Carlos Freitas) e dezenas de obras espalhadas por colees particulares.

    DEMOLIO DO FORTE

    Aproveitando-se do completo abandono do Forte do Rio Vermelho, pelo Ministrio da Fazenda, a quem cabia administr-lo atravs do Patrimnio da Unio, o prefeito de Salvador, Osvaldo Gordilho - a pretexto de construir uma praa em homenagem Carmen Miranda, cantora e atriz de grande sucesso nos Estados Unidos, e que muito contribua para a divulgao da imagem da Bahia -, obteve autorizao para promover a demolio do Forte, que ocorreu em julho de 1953. Mas as obras da Praa Carmen Miranda sequer foram iniciadas. O espao do antigo Forte foi abandonado cheio de entulho.

    Planta do Forte do Rio Vermelho, publicada, na pgina 7 do livro Fortes Coloniais da Cidade do Salvador, de Edgar de Cerqueira Falco, editado em 1940.

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    Muralha do Forte voltada para a Rua Guedes Cabral, antiga Rua do Forte, com os trilhos dos bondes e ainda sem pavimentao. Ao fundo, o Morro do Conselho.

    Permetro lateral do Forte, voltado para a Praia do Forte, em foto publicada na pgina 100 do livro Fortes Coloniais da Cidade do Salvador, de Edgar de Cerqueira Falco. Ao fundo, uma ponta do Morro da Sereia.

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    CAMPANHA PARA UMA NOVA IGREJA

    A partir de 1913, quando foi criada a Parquia, a comunidade catlica do Rio Vermelho passou a sonhar com a construo de uma nova Igreja Matriz. A antiga e modesta igreja do Largo de Santana era considerada pequena, pois provinha de uma poca anterior transformao do arrabalde num balnerio turstico, que fez a povoao ganhar dezenas de casas, casares e palacetes.

    Mas, na nova Parquia, no teve nenhum padre realmente com a coragem de assumir o desafio de uma nova construo. E olhe que at 1930, com o poderio econmico dos veranistas, poder-se-ia facilmente garantir os recursos necessrios para um novo templo.

    Somente com a chegada do padre Antnio Vieira, jovem e dinmico, o projeto de uma nova casa para Senhora SantAna voltou a ser fortemente discutido. Em funo do abandono do projeto da Praa Carmen Miranda, o proco resolveu pleitear o privilegiado espao pblico.

    Em outubro de 1956, acompanhado de uma comisso integrada pelas paroquianas Nilza Taboada Souza, Maria de Lourdes Lyra e Maria de Lourdes Mastrolorenzo, o Padre Vieira foi a uma audincia com o prefeito Hlio Machado. Eis o resultado da visita, registrado no Livro de Tombo da Parquia:

    Restos da muralha demolida em 1953. Ao fundo, o Morro do Conselho.

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    Fomos ao Gabinete do Exmo. Sr. Prefeito Municipal solicitar-lhe permisso para ser construda uma nova Igreja Matriz no local do antigo Forte do Rio Vermelho e no fomos atendidos em nosso pedido. Disse-nos o Exmo. Sr. Prefeito que naquele local seria construda uma praa com parque de diverso para crianas. de lamentar-se, pois ali a Igreja ficaria otimamente localizada e no h, no momento, outra rea que se preste para a construo da Igreja, a no ser por meios de desapropriaes, que seriam por demais dispendiosas.

    Hlio Machado saiu da Prefeitura sem fazer a praa para as crianas, o que renovou as esperanas do Padre Vieira. Na edio de 12 de fevereiro de 1959, antes da posse do novo prefeito, Heitor Dias Pereira, o vespertino A Tarde publicou uma entrevista concedida pelo proco ao jornalista Jos Valadares, onde o assunto foi a construo de uma nova Igreja Matriz. Eis o que disse o padre Antnio Vieira:

    A nossa igrejinha tem apenas 18 bancos, cada qual com capacidade para apenas quatro pessoas. Portanto, somente 72 pessoas podem sentar. Com os que ficam em p, cabe um total de 150 pessoas, mesmo assim ficando repleta. Nosso bairro tem atualmente 10 mil moradores9. O resultado que a maioria fica sem poder assistir s santas missas.

    Aos domingos, em nossa igreja, o povo fica na rua, sem ter um lugar para entrar. No vero, as pessoas ficam no sol de praia. No inverno, ficam na chuva.

    Num outro trecho da entrevista, o Padre Vieira informa o local, j dado como certo, para a construo da nova igreja:

    Ser no terreno onde se erguia o antigo Forte. Com a demolio do mesmo o local ficou sem nada e presta-se admiravelmente para a nova igreja, tendo ainda espao para a construo de uma obra de assistncia, anexa igreja, como toda Parquia deve ter, seja escola, posto mdico, gabinete dentrio, etc.

    O terreno do antigo Forte, alm de ideal, o nico disponvel atualmente no Rio Vermelho, sem que haja necessidade de demolies.

    O terreno que existia no Parque Cruz Aguiar, destinado construo de uma igreja, foi vendido pelos proprietrios do loteamento.

    9 Para o professor Aurlio Souza, que havia feito um estudo para a distribuio no bairro de um jornal de sua propriedade, o proco exagerou na populao do Rio Vermelho. Pela sua estimativa, no passava de seis mil habitantes.

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    SINA DA DEMOLIO

    Antes mesmo de se ter a certeza da construo da nova igreja, j se especulava a demolio da igreja antiga. Isso obrigou o Padre Vieira, na mesma entrevista em A Tarde do dia 12 de fevereiro de 1959, a desmentir os rumores:

    No desejamos que a Igreja seja demolida. Queremos apenas a construo de uma nova, que atenda s necessidades do bairro.

    A demolio da Igreja Matriz era uma questo antiga, que comeou logo aps a criao do Curato do Rio Vermelho. Eis o que a pgina 4 do Livro de Tombo da nova Parquia registra:

    A primeiro de fevereiro de mil novecentos e quatorze realizou-se a cerimnia da bno da primeira pedra da nova Matriz, aqui a construir-se. Sua Excellencia Reverendissima, Senhor Arcebispo Primaz, depois de administrar o Sacramento do Chrisma, na actual Matriz, comeou a cerimnia com grande assistncia de povo. Auxiliado pelos Monsenhores Flaviano Osorio Pimentel e Francisco de Assis Lins, Sua Excellencia Reverendissima benzeu a pedra no local onde se quer o novo templo, ao lado do actual, que ser demolido.

    Pela importncia do ato presidido pelo arcebispo, dom Jeronymo Thom da Silva, pelo grande nmero de autoridades presentes, dos veranistas influentes e dos moradores mais importantes, ficou evidenciado que os dias da secular igrejinha estavam contados. Porm, por razes no explicitadas no Livro de Tombo, o projeto da construo da nova Igreja Matriz foi abandonado. A Igreja escapou da demolio, mas, anos depois, foi demolido o Coreto que ficava ao seu lado, palco para apresentaes de grupos musicais e outras festividades pblicas.

    SEGUNDA PEDRA FUNDAMENTAL Como o projeto de 1914 no passou da pedra fundamental,

    assentada no Largo de Santana, uma nova pedra fundamental foi colocada, desta feita no local do Forte que havia sido demolido em julho de 1953. A solenidade constou da programao do Dia da Santa

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    Padroeira, 26 de julho de 1961:

    8h Missa Festiva na Igreja Matriz. 10h Procisso Martima organizada pelos pescadores do Rio Vermelho.19h Sada da Igreja Matriz de uma carreata conduzindo a imagem de Senhora SantAna em direo ao local do antigo Forte, onde o arcebispo da Bahia e primaz do Brasil, cardeal Augusto lvaro da Silva, benzer a Pedra Fundamental da Nova Igreja, dando incio simblico sua construo. 20h Em altar erguido ao ar livre, o bispo auxiliar da Arquidiocese, dom Walfrido Teixeira Vieira, celebrar uma Santa Missa Campal, tendo como pregador do Evangelho o cnego Gaspar Sadoc da Natividade.21h30 Retorno da imagem de Senhora SantAna Igreja Matriz, em carreata pela Rua Borges dos Reis, Praa Colombo e Largo da Mariquita, onde far o contorno e seguir pela Praa Colombo, Rua Joo Gomes e Largo de Santana.

    Durante o sermo, o Padre Sadoc, como era chamado o notvel orador sacro, assim se referiu ao local da futura Igreja Matriz:

    Onde havia um forte de armas, erguer-se- uma fortaleza da f. Ao invs do troar dos canhes, teremos o silncio das oraes.

    Em funo da importncia da solenidade no local do antigo Forte, pela primeira vez na histria a imagem verdadeira da Santa Padroeira saiu do altar-mor da Igreja Matriz para participar de uma celebrao externa. Nas procisses anteriores, sempre se usou outra imagem, a peregrina.

    imAGem PrinCiPAl

    MEDINDO 1M20 DE ALTURA,APRESENTA SENHORA SANTANA

    SENTADA AO LADO DA FILHA MARIA, EM P, COM 0,93 DE ALTURA.

    CONFECCIONADA EM MADEIRA,POLICROMADA DOURADA,A IMAGEM DO FINAL DO

    SCULO XVIII.

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    Cruz no local da Missa Campal, onde seria construda a nova Igreja.

    Ace

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