10 temas sobre confissão

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CONFISSÃO A confissão espontânea é atenuante genérica prevista no art. 65, III, “d”, do CP: Art. 65. São circunstâncias que sempre atenuam a pena: III - ter o agente: d) confessado espontaneamente, perante a autoridade, a autoria do crime; Como se trata de atenuante, a confissão serve para diminuir a pena do condenado, o que é feito na 2ª fase da dosimetria da pena. Veja abaixo aqui as 10 perguntas mais comuns que são feitas em concursos públicos sobre a confissão: 1) A confissão espontânea pode servir de fundamento para a redução da pena-base abaixo do grau mínimo previsto em lei (Juiz Federal TRF2 2013)? NÃO. A confissão é uma atenuante (art. 65, III, “d”, do CP) e, segundo entendimento sumulado do STJ, as atenuantes não podem reduzir a pena do réu abaixo do mínimo legal: Súmula 231-STJ: A incidência da circunstância atenuante não pode conduzir à redução da pena abaixo do mínimo legal. 2) O que é a confissão qualificada? Ela pode ser utilizada como atenuante genérica? A confissão qualificada ocorre quando o réu admite a prática do fato, no entanto, alega, em sua defesa, um motivo que excluiria o crime ou o isentaria de pena (ex: eu matei sim, mas foi em legítima defesa). Ela pode ser utilizada como atenuante genérica? 1ª) SIM. Posição do STJ 2ª) NÃO. Posição da 1ª Turma do STF. A confissão qualificada (aquela na qual o agente agrega teses defensivas discriminantes ou exculpantes), quando efetivamente utilizada como elemento de convicção, enseja a aplicação da atenuante prevista na alínea “d” do inciso III do art. 65 do CP (STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1.198.354-ES, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 16/10/2014). A aplicação da atenuante da confissão espontânea prevista no art. 65, III, “d”, do Código Penal NÃO incide quando o agente reconhece sua participação no fato, contudo, alega tese de exclusão da ilicitude (STF. 1ª Turma. HC 119671, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 05/11/2013). 3) Se a confissão foi parcial e o juiz a considerou no momento da condenação, este magistrado deverá fazer incidir a atenuante na fase da dosimetria da pena?

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Page 1: 10 Temas Sobre Confissão

CONFISSÃO

A confissão espontânea é atenuante genérica prevista no art. 65, III, “d”, do CP:

Art. 65. São circunstâncias que sempre atenuam a pena:

III - ter o agente:

d) confessado espontaneamente, perante a autoridade, a autoria do crime;

Como se trata de atenuante, a confissão serve para diminuir a pena do

condenado, o que é feito na 2ª fase da dosimetria da pena.

Veja abaixo aqui as 10 perguntas mais comuns que são feitas em concursos

públicos sobre a confissão:

1) A confissão espontânea pode servir de fundamento para a redução

da pena-base abaixo do grau mínimo previsto em lei (Juiz Federal TRF2

2013)?

NÃO. A confissão é uma atenuante (art. 65, III, “d”, do CP) e, segundo

entendimento sumulado do STJ, as atenuantes não podem reduzir a pena do

réu abaixo do mínimo legal:

Súmula 231-STJ: A incidência da circunstância atenuante não pode conduzir à

redução da pena abaixo do mínimo legal.

2) O que é a confissão qualificada? Ela pode ser utilizada como

atenuante genérica?

A confissão qualificada ocorre quando o réu admite a prática do fato, no

entanto, alega, em sua defesa, um motivo que excluiria o crime ou o isentaria

de pena (ex: eu matei sim, mas foi em legítima defesa).

Ela pode ser utilizada como atenuante genérica?

1ª) SIM. Posição do STJ 2ª) NÃO. Posição da 1ª Turma do STF.

A confissão qualificada (aquela na qual o agente

agrega teses defensivas discriminantes ou

exculpantes), quando efetivamente utilizada como

elemento de convicção, enseja a aplicação da

atenuante prevista na alínea “d” do inciso III do art. 65

do CP (STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1.198.354-ES, Rel.

Min. Jorge Mussi, julgado em 16/10/2014).

A aplicação da atenuante da confissão espontânea

prevista no art. 65, III, “d”, do Código Penal NÃO

incide quando o agente reconhece sua participação no

fato, contudo, alega tese de exclusão da ilicitude (STF.

1ª Turma. HC 119671, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em

05/11/2013).

3) Se a confissão foi parcial e o juiz a considerou no momento da

condenação, este magistrado deverá fazer incidir a atenuante na fase

da dosimetria da pena?

SIM. Se a confissão, ainda que parcial, serviu de suporte para a condenação, ela

deverá ser utilizada como atenuante (art. 65, III, “d”, do CP) no momento de

Page 2: 10 Temas Sobre Confissão

dosimetria da pena (HC 217.683/SP, Rel. Min. Og Fernandes, Sexta Turma,

julgado em 25/06/2013).

4) O agente confessa na fase do inquérito policial e, em juízo se

retrata, negando a autoria. O juiz condena o réu fundamentando sua

sentença, dentre outros argumentos, na confissão extrajudicial.

Deverá incidir a atenuante?

SIM. Se a confissão do agente é utilizada pelo magistrado como fundamento

para embasar a condenação, a atenuante prevista no art. 65, inciso III, alínea

“d”, do CP deve ser aplicada em favor do réu, não importando que, em juízo,

ele tenha se retratado (voltado atrás) e negado o crime (HC 176.405/RO, Rel.

Min. Jorge Mussi, Quinta Turma, julgado em 23/04/2013, DJe 03/05/2013).

5) A confissão atenua a pena mesmo que já existissem nos autos

outras provas contra o réu?

SIM. O STJ decidiu neste sentido recentemente.

Exemplo: João, em seu interrogatório judicial, confessou a prática do crime. Na

sentença, o juiz condenou o réu, mencionando a sua confissão e aplicando a

atenuante. Ocorre que o Ministério Público apelou, pedindo que fosse reformada

a sentença para retirar a redução da atenuante, sob o argumento de que as

demais provas colhidas já eram suficientes para uma condenação e que a

atitude do réu de confessar não tinha o propósito de colaborar para a apuração

da verdade. Essa tese do MP não é acolhida pela jurisprudência.

A afirmação de que as demais provas seriam suficientes para condenar o

recorrente, a despeito da confissão espontânea, não autoriza a exclusão da

atenuante se esta efetivamente ocorreu e foi utilizada na formação do

convencimento do julgador (STJ. 6ª Turma. REsp 1.183.157-SP, Rel. Min.

Sebastião Reis Júnior, julgado em 16/10/2012).

6) Se a pessoa é acusada de tráfico de drogas e, durante seu

interrogatório, nega que seja traficante, mas admite que é usuário,

isto poderá ser utilizado como confissão (atenuante) caso ela seja

condenada por tráfico?

NÃO. Segundo a jurisprudência do STJ, não deve incidir a circunstância

atenuante da confissão espontânea caso o acusado por tráfico de drogas

confesse ser apenas usuário (Juiz TJPB 2011).

7) A reincidência e a confissão espontânea se compensam ou

prepondera a reincidência?

Caso o réu tenha confessado a prática do crime (o que é uma atenuante), mas

seja reincidente (o que configura uma agravante), qual dessas circunstâncias

irá prevalecer?

Page 3: 10 Temas Sobre Confissão

1ª) Reincidência e confissão se COMPENSAM.

Posição do STJ

1ª) A agravante da REINCIDÊNCIA PREVALECE.

Posição do STF

A Terceira Seção do STJ, no julgamento do EREsp

1.154.752/RS, pacificou o entendimento no sentido de

que a agravante da reincidência e a atenuante da

confissão espontânea - que envolve a personalidade

do agente - são igualmente preponderantes, razão

pela qual devem ser compensadas (STJ. 6ª Turma. HC

301.693/SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura,

julgado em 04/12/2014).

A teor do disposto no art. 67 do Código Penal, a

circunstância agravante da reincidência, como

preponderante, prevalece sobre a confissão.

(STF. 2ª Turma. Rel. Min. Ricardo Lewandowski,

julgado em 18/03/2014)

Veja como este tema foi cobrado no concurso da Defensoria Pública de Roraima

em 2013:

O recente pronunciamento dos tribunais superiores consolidou-se no sentido da

impossibilidade de o julgador, na aplicação da pena, compensar a agravante da

reincidência com a atenuante da confissão espontânea (alternativa ERRADA).

A assertiva acima está incorreta porque afirma que o entendimento dos

tribunais superiores consolidou-se em um dos sentidos. Ocorre que, como

vimos, existe ainda divergência entre o STJ e o STF. Logo, não há posição

consolidada.

8) Em que consiste a confissão judicial imprópria?

Caracteriza-se como imprópria a confissão judicial produzida perante

autoridade judicial incompetente para o deslinde do processo criminal em curso

(DPE/ES CESPE 2012).

Se a confissão é feita perante a autoridade judicial competente, ela é chamada

de “confissão judicial própria”.

Se a confissão é feita perante a autoridade policiais, administrativas,

parlamentares etc, trata-se da chamada “confissão extrajudicial”.

9) Quando a infração deixar vestígios o fato do réu ter confessado

servirá para suprir a falta do exame de corpo de delito (Juiz TJPR

2012)?

NÃO. Segundo texto expresso do CPP, quando a infração deixar vestígios, será

indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo

supri-lo a confissão do acusado (art. 158).

10) De acordo com o STF, o juiz-presidente do Tribunal do Júri, ao

elaborar a sentença, pode reconhecer a atenuante da confissão ainda

que esta não tenha sido debatida no Plenário (o réu confessou, mas

nem a defesa nem a acusação pediram que fosse reconhecida esta

circunstância)?

Page 4: 10 Temas Sobre Confissão

SIM.

Veja o que diz o art. 492:

Art. 492. Em seguida, o presidente proferirá sentença que:

I – no caso de condenação:

b) considerará as circunstâncias agravantes ou atenuantes alegadas nos

debates;

Apesar do texto da lei, o STF e o STJ possuem julgados aceitando que o juiz-

presidente reconheça e aplique a confissão espontânea mesmo sem que a defesa

ou o MP tenha pedido isso expressamente no Plenário:

(...) Pode o Juiz Presidente do Tribunal do Júri reconhecer a atenuante genérica

atinente à confissão espontânea, ainda que não tenha sido debatida no

plenário, quer em razão da sua natureza objetiva, quer em homenagem ao

predicado da amplitude de defesa, consagrado no art. 5º, XXXVIII, “a”, da

Constituição da República.

2. É direito público subjetivo do réu ter a pena reduzida, quando confessa

espontaneamente o envolvimento no crime.

3. A regra contida no art. 492, I, do Código de Processo Penal, deve ser

interpretada em harmonia aos princípios constitucionais da individualização da

pena e da proporcionalidade. (...)

(HC 106376, Rel. Min. Cármen Lúcia, Primeira Turma, julgado em 01/03/2011)

(...) Esta Corte possui o entendimento de que a Lei 11.689/2008, alterando a

redação do art. 492 do CPP, conferiu ao juiz presidente do Tribunal do Júri a

atribuição de aplicar as atenuantes e agravantes alegadas nos debates.

3.  O juiz presidente deve considerar como "alegada nos debates" ou "debatidas

em Plenário" tanto a defesa técnica quanto a autodefesa realizada pelo acusado

no momento do interrogatório, de forma que ambas são legítimas para ensejar

o reconhecimento de atenuantes e agravantes. (...)

(STJ. 5ª Turma. HC 161.602/PB, Rel. Min. Gurgel De Faria, julgado em

18/11/2014).