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460 Estilos da Clínica, 2011, 16(2), 460-467 RESENHA RESENHA RESENHA RESENHA RESENHA RESENHA RESENHA A Resenha esenha esenha esenha esenha O TRABALHO COM A CRIANÇA-SUJEITO: NO AVESSO DO ESPECIALISTA Karla P Karla P Karla P Karla P Karla Patrícia Holanda Martins atrícia Holanda Martins atrícia Holanda Martins atrícia Holanda Martins atrícia Holanda Martins psicanálise, construída na universidade, partilha um novo testemunho da sua capacidade de colocar em cena a criança-sujeito, a criança-enigma que põe em desenho os ciframentos do desejo, os dis- cursos da cultura e as formas de laço social. O olhar que orienta o psicanalista se faz de revés, pelo avesso das linhas que tramam o dis- curso do especialista, fazendo ali surgir figurações outras capazes de balizar as coordenadas éticas e metodológicas no trabalho com crian- ças na atualidade. O avanço das neurociências e o recrudecimento do naturalismo científico colocam a psicanálise em um cenário de certa forma já visita- do por Freud e nos convoca a resistir aos imperativos sociais que se organizam na contramão das condições de estruturação do sujeito; nesse cenário, analistas em trabalho na universidade, na clínica e na escola, marcados pelo impossível de um dizer todo, são reconduzidos à dire- ção de colocar o possível a trabalhar. Da pediatria à clínica psicanalítica, passando ainda pela formação de professores, os desafios e impasses encontrados são amplamente discutidos no conjunto de artigos da coletânea A psicanálise e o trabalho com a criança-sujeito: no avesso do especialista, organizado pelas psicanalistas e pesquisadoras Sandra Francesca Conte de Almeida e Maria Cristina Kupfer. A coletânea é fruto das investigações do Grupo de Trabalho “Psicanálise, Infância e Educação”, da Associação Nacional de Pesqui- Psicanalista, Professora do Departamento de Psicologia da Universidade Federal do Ceará, Professora-colaboradora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade de Fortaleza.

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O TRABALHO COM A CRIANÇA-SUJEITO:NO AVESSO DO ESPECIALISTA

Karla PKarla PKarla PKarla PKarla Patrícia Holanda Martinsatrícia Holanda Martinsatrícia Holanda Martinsatrícia Holanda Martinsatrícia Holanda Martins

psicanálise, construída na universidade, partilha um novotestemunho da sua capacidade de colocar em cena a criança-sujeito, acriança-enigma que põe em desenho os ciframentos do desejo, os dis-cursos da cultura e as formas de laço social. O olhar que orienta opsicanalista se faz de revés, pelo avesso das linhas que tramam o dis-curso do especialista, fazendo ali surgir figurações outras capazes debalizar as coordenadas éticas e metodológicas no trabalho com crian-ças na atualidade.

O avanço das neurociências e o recrudecimento do naturalismocientífico colocam a psicanálise em um cenário de certa forma já visita-do por Freud e nos convoca a resistir aos imperativos sociais que seorganizam na contramão das condições de estruturação do sujeito; nessecenário, analistas em trabalho na universidade, na clínica e na escola,marcados pelo impossível de um dizer todo, são reconduzidos à dire-ção de colocar o possível a trabalhar.

Da pediatria à clínica psicanalítica, passando ainda pela formaçãode professores, os desafios e impasses encontrados são amplamentediscutidos no conjunto de artigos da coletânea A psicanálise e o trabalho

com a criança-sujeito: no avesso do especialista, organizado pelas psicanalistase pesquisadoras Sandra Francesca Conte de Almeida e Maria CristinaKupfer. A coletânea é fruto das investigações do Grupo de Trabalho“Psicanálise, Infância e Educação”, da Associação Nacional de Pesqui-

Psicanalista, Professora do Departamento de Psicologia da

Universidade Federal do Ceará, Professora-colaboradora

do Programa de Pós-Graduação em Psicologia

da Universidade de Fortaleza.

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sa e Pós-Graduação em Psicologia –ANPEPP. Tais investigações, atraves-sadas pela perspectiva ética da psica-nálise, elaboram o ponto de esquizeque diferencia o ver e o olhar. No aves-so do especialista, o avesso da psica-nálise se constitui por uma superfícieque não se dá a ver senão em seus efei-tos discursivos. Para fazer frente àsdistintas encenações do discurso domestre é necessário colocar em jogoo discurso da histérica na sua interpe-lação política ao que se apresenta semfuros. Mais uma vez na história dossaberes psicanalíticos, é a interroga-ção que delimitará estratégias capazesde interpelar o mestre a produzir umsaber inédito. As perguntas contidasnesta obra abrem novas linhas de pes-quisa sobre o infantil e as figuraçõesdo Outro na clínica e na cultura, mas,principalmente, reafirmam a atualida-de da psicanálise.

No texto “Dispositivos clínicosde orientação psicanalítica na forma-ção de professores: entre o cuidado,o ensino e a transmissão”, SandraFrancesca discute princípios éticosque possam sustentar a posição doprofessor em trabalho na condição de“um sujeito em situação profissional”,numa perspectiva de formação aves-sa ao desenvolvimento de competên-cias e habilidades profissionais. Oadoecimento psíquico do professor,como sintoma do mal-estar na edu-cação, é aqui considerado em sua di-mensão clínica, não com uma finali-dade terapêutica, mas com vistas afundar uma práxis onde cuidado, en-

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sino e transmissão sejam tomados como registros distintos que atra-vessam os dispositivos relativos ao ato de educar.

Seguem-se as reflexões de Bernard Pechberty no artigo “Entre otratamento e a formação: conflitos identificatórios na relação pedagó-gica”, onde o autor defende a importância de se considerar “a vidapsíquica, consciente e inconsciente, atuante na relação pedagógica”,em particular os processos identificatórios que, por vezes, comprome-tem a sustentação do lugar simbólico do professor, cabendo aos queacompanham a sua formação uma escuta sensível dos fenômenos trans-ferenciais. Seguindo esta perspectiva, Cynthia Pereira de Medeiros eSuely Holanda ilustram, a partir do trabalho realizado no Núcleo deEducação Infantil – Pré-Escola de Aplicação da UFRN, “O trabalhosubjetivo de uma professora às voltas com o impossível em jogo nademanda de uma menina que ‘não acompanhava o grupo’”. A possibi-lidade de uma escuta orientada pela psicanálise pode colocar em cena adimensão da angústia e os processos identificatórios que, por vezes,obstaculizam os processos educativos.

A partir dos resultados da pesquisa brasileira multicêntrica deindicadores clínicos de risco para o desenvolvimento infantil e do tra-balho conduzido pela Associação PREAUT, na França, os psicanalis-tas Rogério Lerner, Graciela Cullère-Crespin e Maria Cristina Macha-do Kupfer discutem os efeitos na clínica pediátrica da formação para adetecção de sinais iniciais de risco para o desenvolvimento. Em ambasas propostas, o objetivo da formação era introduzir na semiologiapediátrica a consideração sobre os percalços no desenvolvimento in-fantil e suas operações subjetivantes fundamentais, permitindo-lhesconceber a clínica funcional do primeiro ano de vida articulada à dinâ-mica relacional do bebê. Os efeitos desta formação recaem ainda sobreas possibilidades de um encaminhamento ético-responsável da criançaem risco e sobre as formas de organização e gestão dos serviços desaúde, solidários de uma inteligibilidade clínica, efetivamente, de umaclínica do sujeito.

No artigo “Da formação de educadores e de um ensino da Psica-nálise na universidade” Leandro de Lajonquière nos lembra que, ao setransmitir a psicanálise aos educadores (mas não seria diferente emoutros contextos), o que se ensina é “algo” da ordem da experiência eda invenção freudiana, “algo que escorrega ou se desloca na contabili-dade do ensino, no balanço” (p. 102). E é desse algo chamado castra-ção que aquele que professa tem que dar testemunho, ainda que disso odiscurso tecnicista da Pedagogia nada queira saber. Foi no contexto de

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uma reflexão sobre os destinos da cas-tração, ao fim de uma análise, que Freud(1937/1980) implica o analisar nas trêsprofissões impossíveis. E aqui, ao fimde sua vida, Freud inclui, na sua obra,a ferida da própria psicanálise.

Os limites e as possibilidades daaplicabilidade da psicanálise ao cam-po pedagógico, frente aos imperativosde completude do saber científico, sãodiscutidos no artigo “Da Medicina àPsicanálise: considerações acerca dasarticulações da Educação Especialcom a Clínica”. A experiência de Itarde sua condição de especialista são to-madas pelas autoras Maria Celina Pei-xoto Lima e Maira Sampaio comoparadigmáticas de uma educação que,pela via da técnica e pelo ideal da cura,apaga a dimensão da singularidade e,portanto, do sujeito. Problematizandoainda se, na injunção dos saberes clí-nico e pedagógico (por exemplo, naprática psicopedagógica), perderíamosa especificidade de cada um dessescampos, com risco de descaracterizara proposta psicanalítica e pedagógica,perguntam: “O que implicaria pensaruma Psicopedagogia psicanalitica-mente orientada?” (p. 123).

A questão igualmente implícitano artigo “A psicopedagogia do ter-ceiro tempo e o avesso do especialis-ta” é discutida por Odana Palhareschamando o problema ao campo daética, em importante contraponto en-tre a educação ideal e o ideal de edu-cação: “É no campo da ética que apsicopedagogia do terceiro tempopode intervir na escuta da singulari-

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dade de um sujeito, cujo desdobra-mento possa ser acolher a inventivi-dade” (p. 150).

Frente à instrumentalização dosaber, o declínio do saber da experiên-cia e suas consequências à transmis-são são problematizados por AnaMaria Moraes Fontes que, inspiradapela perspectiva de Octave Mannoni(1969), retoma o trabalho dagovernanta Mme. Guérin com o jo-vem de l’Aveyron. Enquanto o pro-grama reeducativo de Itard fracassa-va, Mme. Guérin se punha a brincarcom o jovem. Se o Victor de Itard é oconto natalino da ciência positivistano ocaso do século XVIII, o Victorde Mme. Guérin e seu brincar anteci-pam em 100 anos a ciência dos so-nhos freudiana, lembrando-nos quehá transmissão quando são mantidasas condições de filiação e, portanto,de inscrição do sujeito na cultura.

Com vistas a ilustrar a significa-tiva distância entre a oferta de práti-cas escolares e as demandas dos su-postos aprendizes, Ângela Vorcaro eViviane Veras apresentam, a partir dofragmento de um atendimento de umagarota, a discrepância entre o ditodesinteresse em aprender e a chama-da impotência dos professores na es-cola. Durante a avaliação de suas di-tas competências cognitivas, a menina,em um feito de Emília, desloca, comseu truque, o especialista para a condi-ção de aprendiz, colocando em ato adesarmonia e a heterogeneidade des-sas diferentes posições. Afirmandoque a relação de aprendizagem e a re-

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lação sexual têm estruturas análogas, as autoras perguntam: “Como

qualificar a estrutura que, na atualidade, tipifica esse laço no mercado de saber

escolar?” (p. 174). A lógica narcísica, em jogo na contemporaneidade,incide sobre o impasse para manter o valor devido ao saber, já de-marcado como relativo ao declínio da autoridade (Lebrun, 2004,2008). Mas, na dialética da demanda e do desejo, ensinar e aprenderpor amor são tarefas fadadas ao fracasso, quando do amor se esperaapenas a completude. A Pedagogia de hoje, ao atribuir “um carátercientífico ao saber materno, fazendo dele o lugar da transmissãopedagógica” (p. 176), não consegue fazer vigorar um regime de tro-cas e mediação simbólicas capaz de ir ao encontro da ilusão narcísicae de complementariedade.

Em uma esteira semelhante, Rinaldo Voltolini, no texto “Po-der, impotência e impossível no discurso pedagógico”, discute ospontos de contato entre a maternalização das propostas pedagógi-cas atuais e a sedução hipnótica, quando esta tira de cena a ordem dalinguagem e a da autoridade do saber. Os três termos freudianospropostos em 1914 – recordar, repetir e elaborar – servem à indaga-ção sobre os modos de exercício do poder na transferência e, emseu texto, aparecem simultaneamente como referências aos deslo-camentos da função do amor nos processos do aprendiz (e doanalisante). Enquanto na clínica freudiana da hipnose o termo darecordação era o fim último do trabalho de elaboração analítica, aointroduzir a elaboração (ducharbeiten), Freud (1914/1980) colocaem jogo no playground, a partir da repetição, o impossível na estru-tura do saber; proposição esta com extensas consequências paraos campos da educação e da clínica.

É também desse ponto de impossível na clínica psicanalíticaque partem os textos “Tratando o impossível: transmissão e corpo econstituição do sujeito: o caso de uma adolescente autista” e “Omenino da Big Ball”, respectivamente. No primeiro, Ana BeatrizFreire retoma a pesquisa clínica de sua equipe, a partir da interven-ção junto a uma jovem autista. No avesso da presença invasiva doespecialista, o tratamento do campo do Outro deve se orientar poruma ética que coloca em jogo o “deixar-se” descompletar do analis-ta; no jogo do corta e cola, o corpo-significante se destaca do campode gozo do Outro. Desse modo, supondo que o que está em jogo notratamento da psicose não é uma ficção edipiana, mas uma ficçãosobre o gozo, Suzana Faleiro Marroso, no texto O menino da Big Ball,discute outros recursos clínicos fora da norma fálica capazes de pro-

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duzir no tratamento analítico das psi-coses uma espécie de “aparelhamentodo gozo”. Com o menino Big Ball a au-tora retoma, a partir de Lacan, os efei-tos de alíngua sobre a transferência esuas consequências para a direção dotrabalho analítico.

Em “Médicos educadores e pro-fessores terapeutas? Algumas relaçõesentre o tratar e o educar” MariaCristina Kupfer e Camille A. Gaviollidiscutem a medicalização da educa-ção. No cenário do declínio do poderdo pater familiae, com a substituição desua função educativa pela figura domédico, surgem verdades como efei-tos de linguagem. Na contramão, fa-zem-se necessárias as propostas queobjetivem resgatar ou propiciar aconstrução de um sujeito, onde asautoras incluem a Educação terapêu-tica, “ao educar, o educador terapeu-ta estará acompanhando a criança emseus tropeços e em seu enfretamentodo Real” (p. 278). Concluem com umpedido ao médico e ao educador, res-pectivamente: que o primeiro deixede educar e que o segundo possa tra-tar, o que não significará reproduziro discurso das especialidades, mascuidar da criança visando que estaencontre o seu estilo próprio de dizersobre si mesmo.

A objetalização da criança é temacentral dos dois artigos que finalizama coletânea, “Um saber fazer comcrianças e jovens” de Marcia ReginaLima Costa e Ruth Helena P. Cohene “A criança-objeto” de MarceloRicardo Pereira. Partindo de um fa-

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REFERÊNCIAS

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único [1928] e Infância em Berlim por volta de

1900 [1932-38] (I. Sousa e C. Rodrigues,trads.). Lisboa: Relógio D’água.

Freud, S. (1980). Recordar, repetir e elabo-rar. In S. Freud, Edição standard brasileira

das obras psicológicas completas de Sigmund

Freud. (J. Salomão trad., Vol. 12, pp. 193-203). Rio de Janeiro: Imago. (Trabalhooriginal publicado em 1914)

Freud, S. (1980). Análise terminável e inter-minável. In S. Freud, Edição standard brasi-

leira das obras psicológicas completas de Sigmund

Freud. (J. Salomão trad., Vol. 23, pp. 239-287). Rio de Janeiro: Imago. (Trabalhooriginal publicado em 1937)

Mannoni, O. (1969). Chaves para o imaginário.Petrópolis, RJ: Vozes.

Melman, C. (2003). O homem sem gravidade: go-

zar a qualquer preço; entrevistas por Jean-Pierre

Lebrun (S. Felgueiras, trad.). Rio de Janei-ro: Companhia de Freud.

Lebrun, J. P. (2004). Um mundo sem limite: en-

saio para uma clínica psicanalítica do social (S.Felgueiras, trad.). Rio de Janeiro: Compa-nhia de Freud.

Lebrun, J. P. (2008). A perversão comum: viver

juntos sem outro. (P. Abreu, trad.). Rio deJaneiro: Campo Matêmico.

[email protected]

Recebido em setembro/2011.

Aceito em outubro/2011.

zer interdisciplinar no campo da clí-nica ampliada, as autoras discutem osefeitos de um dispositivo, por elas de-nominado “Brincante”, para atendi-mento de crianças e jovens em trata-mento oncológico. Da recreação àrecriação, o sujeito-brincante reinventa,a partir da lógica do brincar, novas for-mas de subjetivar sua dor, reaproprian-do-se de sua condição de sujeito fren-te às inflexões das práticas e discursosmédicos. Marcelo Pereira, evocando adimensão da palavra na construção daobra da cultura, coloca em cena as re-lações entre a negação da palavra e oapagamento do sujeito, cujos efeitos seexpressam, por exemplo, nas figura-ções da violência e no “empuxo” (p.311) ao gozo.

Assim, diante de temas tão atuaise que nos atravessam a partir dos maisdistintos campos, fica esta sugestão deleitura para aqueles que, provocadospelo trabalho com a criança, sentem-se igualmente convocados ao movi-mento hiperativo das pulsões, ondecaberá ao homem almejar, na sua con-dição sempre infantil, o gosto pela re-petição, pelos pedaços, pelos restos,já que neles reconhecem “o rosto queo mundo das coisas lhes mostra”(Benjamin, 1992, p. 46). O desejo ar-ticula o mundo das coisas ao mundodos homens, eis o que também Freudnos ensina.