10 - capítulo 7 - o entrelaçamento das idéias

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Sétimo capítulo do livro "Técnica de Redação: O que é Preciso para Bem Escrever" de Lucília Helena do Carmo GARCEZ. O restante da obra se encontra na minha conta do Scribd.

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Captulo 7 O entrelaamento das idias 1. O tecido aparente do texto Como vimos nos captulos anteriores, um texto no uma simples justaposio de frases corretas, uma aps a outra. Exige um entrelaamento rigoroso das idias que esto sendo expostas para que o leitor no se perca e consiga interpret-lo corretamente. Ao escrever, nossa preocupao inicial captar as idias e orden-las com uma determinada hierarquia, de modo que as principais sejam enfatizadas. Qual nossa idia central? Como podemos defend-la? Que exemplos so mais interessantes? Quem devemos citar? Que palavras escolher? Como devemos nos dirigir ao leitor? Em que medida devemos explicitar todas as idias ou deix-las implcitas? So questes que respondemos inicialmente, ao escrever as primeiras verses de um texto. Aps essa etapa, voltamo-nos para a sua superficie e procuramos refaz-lo, revisando vrias vezes a linguagem e as estruturas gramaticais propriamente ditas. Vamos cuidar, ento, de assegurar a compreenso exata daquilo que estamos escrevendo. A preocupao j no apenas com nossas prprias idias, mas principalmente com a maneira como essas idias sero apreendidas pelo leitor, que est distante de ns, e para o qual no teremos chance de explicar melhor ou retificar oralmente algum item mal expresso. 112 TCNICA DE REDAO Assim, muito importante que a coeso textual esteja bem tecida, para que o leitor acomp1e a seqncj reconhea a progresso das informaes e identifique as referncias no texto. 2. Mecanismos de coeso textual Pode-se Construir a coeso do texto por meio de vrios recursos. A manuteno do tema um desses recursos, mas no suficiente em textos dissertativos A ordem das palavras no perodo, as marcas de gnero e de nmero, as preposies os pronomes pessoais, os tempos verbais, os conectivos funcionam tambm como elos coesivos Cada um desses elementos gramaticais estabelece conexes, articulaes ligaes concatenan do as idias. Ou seja, a estrutura gramatj das frases trata de criar coeso entre os Constituintes de um texto. Um exemplo disso a Concordncia Sempre que respeitamos a concordn eia, estamos reforan0 a coeso. Observe o texto a seguir: - De qualquer forma o conhecimento ou saber cient(fico distingue se dos demais tos: o popular, o filosfico e o religioso Em sua essncia o conhecimento cient (fico real, racional objetj vo, transcendente aos fatos, analtico, claro, preciso, comj,njc.. iel, ver ificve! dependente de investigao metdica, sistemti.0 acumulativo falvel, geral, explicativo, preditivo aberto e til. Joo Salvador Furtado Expanso da itformajo cientfica in: Anais do Seminrj0 de Publicaes Peridjc da Area da Educao. Braslia, INEP, MEC, 1983. Na segunda linha, os trs elementos citados Concordam com tijoo de conhecimento e por isso esto no masculino. Nas linhas grifadas, a partir da terceira todas as palavras esto sendo utilizadas em concordncia com conhecimento cientfico, portanto, esto no masculjjo singular. Alm dessas formas gramaticaj5 sistemticas de ligao entre palavras, existem quatro outras estratgias de coeso, que dependem das escolhas estilsticas do redator: O ENTRELAAMENTO DAS IDIAS referencial lexical por elipse por substituio Vejamos como funcionam essas formas de entrelaamento dos elementos que constituem um texto. a) Coeso referencial Na elaborao de um texto, a coeso referencial se realiza pela citao de elementos do prprio texto. Para efetivar essas citaes so utilizados pronomes pessoais, possessivos, demonstrativos ou expresses adverbiais que indicam localizao (a seguir acima, abaixo, anteriormente, aqui, onde). Esses recursos podem se referir, por antecipao, a elementos que sero citados na seqncia do texto. Podem, ainda, se referir a elementos j citados no texto ou que so facilmente identificveis pelo leitor, como no exemplo: A exploso da informao uma das causas do stress do homem moderno. Ela pode pro vocar diversas formas de ansiedade. b) Coeso lexical A manuteno da unidade temtica de um texto exige uma certa carga de redundncia. Assim, estabelecemos uma corrente de significados retomando as mesmas idias e partes de idias. Essa corrente formada pela reutilizao intencional de palavras, pelo uso de sinnimos, ou ainda pelo emprego de expresses equivalentes para substituir elementos que j so conhecidos do leitor, como no seguinte exemplo: O Doutor Fulano de Tal falou ao nosso reprter no intervalo do congresso. O cientista entrevistado reconhece que a partir do 113 114 TCNICA DE REDAO emprego dos conhecimentos cientijicos foi possvel racionalizar os sistemas de produo. Agora esse estudioso quer contribuir para a democratizao do saber. e) Coeso por elipse A estrutura gramatical dos periodos na lingua portuguesa permite a omisso de elementos facilmente identificveis ou que j foram citados anteriormente. Algumas vezes, essa omisso marcada por uma vrgula. Pronomes, verbos, nomes e frases inteiras podem estar implcitos. Esse recurso tem o nome de elipse. Veja um exemplo de omisso de sujeito da orao: A metodologia cient(fica um conjunto de atividades sistematizadas, racionais, que, com segurana e economia, permite que os objetivos sejam atingidos. Implica a concepo das idias quanto delimitao do problema dentro do assunto, identficao de instrumentos, busca de solues, anlise, comprovao, proposio de uma teoria. No texto acima, o sujeito do verbo implica a metodologia cientfica. No precisa ser explicitado, pois facilmente identificado pelo leitor. d) Coeso por substituio Pode-se substituir substantivos, verbos, perodos ou largas parcelas de texto por conectivos ou expresses que resumem e retomam o que j foi dito. Alguns exemplos de expresses que servem a esse objetivo so: Diante do que foi exposto; A partir dessas consideraes; Diante desse quadro; Em vista disso; Tudo o que foi dito; Esse quadro... O ENTRELAAMENTO DAS IDIAS 3. Problemas decorrentes da ausncia de coeso Quando os mecanismos de coeso textual no so bem utilizados, seja dentro do perodo, seja entre os perodos ou pargrafos, o texto se prejudica. As conseqncias podem ser: ausncia de nfase nas idias principais; indefinio das relaes entre as idias; falta de hierarquia entre idias principais e secundrias; truncamentos semnticos; ambigidade, confuso e obscuridade nas referncias; estilo infantil ou elementar; entre outras. A ausncia de coeso um dos principais problemas da construo de textos, pois revela desordem nas idias e dificulta a compreenso do leitor. Vejamos um texto de aluno de segundo grau, em que os problemas de ausncia de estabelecimento da coeso esto bem ntidos. Existe niisica para todos os gost.os e todas as ocases. Algumas doenas podem ser curadas pela msica. A dcada de SO, no rasil, foi uma poca de muitas represses e restries, as canes dessa dcada mostram perfeftamente isso. As canes podem falar de amor, de poltica ou simplesmente retratar a realidade. H pessoas que gostam de escutar canes calmas, outras que preferem as mais agitadas. Algumas pessoas gostam de msicas s6 com os instrumentos e outras com um cantor. A histria nos mostra o poder curativo das canes, no que ela seja um remdio milagroso, mas para algumas doenas, ela pode levar a cura. Existem estudos que comprovam e demonstram essa propriedade da msica. As canes podem ter um carter ilustrativo, ou seja, demonstrar uma situao ou um fato ocorrido. No 5rasil podem-se citar as msicas feitas na dcada de 50, elas mostram perfeitamente a represso da poca da ditadura militar no brasil, muitos Compositores foram expulsos do brasil, por causa das letras das msicas. Os compositores podem escrever as letras das msicas que lhes convier, alguns escrevem falando sobre o amor, outros relatam o que est acontecendo com o brasil, como a msica, Comida de Arnaldo Antunes e Marcelo Fromer, que falam claramente do desejo da populao brasileira. 115 116 TCNiCA DE REDAO A musica pode ser um excelente remdio, ou uma poderosa arma, felizmente o homem a est usando por um bem, individual ou coletivo. No impoa o tipo ou a hora ue se ouve a musica, o impoante a tranqilidade que ela nos passa As pessoas encontram msca em tudo, do assio de um pssaro a um barulho de um motor em pleno funcionamento Uma primeira leitura nos mostra que h unidade semntj ca, porque o tema que perpassa todo o texto a msica. Entretanto, essa unidade no suficiente, pois no podemos distinguir imediatamente qual seria a idia principal e no percebemos a relao imediata entre as idias que esto justapost5 Relendo os pargrafos, encontramos idias colocadas lado a lado, sem hierarquia ou progresso que Conduza a uma concluso. No h concatenao entre as informaes, de forma que o texto apresente uma seqncj Qualquer perodo parece poder estar em qualquer Posio, o que no modificaria o resultado. Ou seja, a progresso da informao e a articulao entre as idias no foram devidamente elaboradas. Vamos, ento, estabelecer por suposio, que a idia principal seja expositiva: a grande abrangneja da msica na vida contempornea o redator teria por objetivo expor os diversos campos em que a msica est presente na vida humana, sem especificar OU defender nenhum deles particularmente Para que o texto passe a apresentar coeso e reflita essa idia, necessrio empreender algumas transformaes. 1? Agrupar idias relacionadas entre si. No texto em questo, o autor apresentou trs grupos de idias: msica e prazer; msica e Sade MUSICA E POLTICA 2? Reorganiz o texto, enfatizando uma idia principal para a introduo e para a Concluso e estabelecendo as formas de articular as idias secundrias 3? Estabelecer nexo entre as diversas idias por meio de frases de transio e de recursos coesivos reescrever eliminando e acrescentando elementos. 4? Revisar. O ENTRELAAMENTO DAS IDIAS 117 Existe msica para todos os gostos e todas as ocasies. Algumas doenas podem ser curadas pela msica. A DCADA DE 60, NO BRASIL, FOI UMA POCA DE MUITAS REPRESSES E RESTRIES, AS CANES DESSA DCADA MOSTRAM PERFEITAMENTE ISSO. As canes podem falar de amor, de poltica ou simplesmente retratar a realidade. H pessoas que gostam de escutar canes calmas, outras que preferem as mais agitadas. Algumas pessoas gostam de msicas s com os instrumentos e outras com um cantor. A histria nos mostra o poder curativo das can6es, no que ela seja um remdio milagroso, mas para algumas doenas, ela pode levar a cura. Existem estudos que comprovam e demonstram essa propriedade da msica. As canes podem ter um carter ilustrativo, ou seja, demonstrar uma situao ou um fato ocorrido. No BRASIL PODEM - SE CITAR AS MSICAS FEITAS NA DCADA DE 60, ELAS MOSTRAM PERFEITAMENTE A REPRESSO DA POCA DA DITADURA MILITAR NO BRASIL, MUITOS COMPOSITORES FORAM EXPULSOS DO BRASIL, POR CAUSA DAS LETRAS DAS MSICAS. Os compositores podem escrever as letras das msicas que lhes convier, alguns escrevem falando sobre o amor, outros relatam o que est acontecendo com o Brasil, como a msica, Comida de Arnaldo Antunes e Marcelo Fromer, que falam claramente do desejo da populao brasileira. A msica pode ser um excelente remdio, ou uma poderosa arma, frlizmente o homem a est usando por um bem, individual ou coletivo. No importa o tipo ou a hora que se ouve a msica, o importante a tranqilidade que ela nos passa. As pessoas encontram msica em tudo, do assobio de um pssaro a um barulho de um motor em pleno funcionamento. Vejamos uma das possibilidades de aperfeioamento do texto, aproveitando a maior parte das estruturas construdas originalmente pelo autor: Existe msica para todos os gostos e todas as ocasies. As canes podem lidar de amor, de poltica, retratar a realidade e, at mesmo, promover a cura de doenas. 118 TCNICA DE REDA O H pessoas que gostam de escutar canes calmas, outras que preferem as mais agitadas; algumas pessoas gostam de msica instrumental e outras de msica cantada. No importa o tipo ou a hora em que se ouve a msica, o importante a tranqilidade e a alegria que ela transmite, pois pode-se encontrar msica em tudo, do assobio de um pssaro a um barulho de um motor em pleno funcionamento. Assim, como o gosto do pblico diversificado, os compositores podem escrever as letras das msicas daJirma que lhes convier. Alguns escrevem jLilando de amor, outros relatam o que est acontecendo com o Brasil, como a msica Comida , de Arnaldo Antunes e Marcelo Fromer, que fala claramente dos desejos da populao. Essa vertente de msicas voltadas para a questo social no nova. As canes da dcada de 60, no Brasil, mostram perftitamente como essa foi uma poca de muitas represses e restries, em conseqncia da ditadura militar. Muitos compositores frram at mesmo expulsos do Brasil, por causa das letras de suas msicas. Alm das funes de proporcionar prazer esttico e de denunciar problemas sociais, a histria nos mostra o poder curativo das canes. No que sejam um remdio milagroso, mas podem levar a cura para algumas doenas. Existem estudos que comprovam e demonstram essa propriedade da msica. Podemos compreender, ento, que a msica pode ser uma fonte de alegria e prazer, uma forma de conscientizao e de denncia social ou um excelente remdio. Conseqentemente, para o seu prprio bem, o homem est sempre em contato com a msica. Como podemos observar, a coeso evidencia, na superfi ci do texto, as articulaes que estabelecem relaes das idias. Um texto desorganizado, geralmente, apresenta problemas de coeso. Ento, preciso trabalhar em dois nveis: 1? organizar as idias numa rede de significados e 2? - entrelaar gramaticalmente as frases e os perodos. Vejamos como os laos coesivos se realizam em um exemplo de texto editorial jornalstico: O ENTRELAAMENTO DAS IDIAS 119 DESRESPEITO AOS DIREITOS HUMANOS A denncia da Anistia Internacional sobre a prtica no Brasil de torturas e execues por esquadres da morte de modo algum surpreende as autoridades governamentais. E fato notrio que as violaes aos direitos humanos se sucedem no pas com freqncia indesejvel, embora diante da reao indignada da sociedade e dos rgos oficiais encarregados de reprimi-las. Desde a criao da Co,nisso de Defesa dos Direitos Humanos no mbito do Ministrio da Justia, h mais de trs anos, os atentados contra a dignidade e incolumidade fsica das pessoas tm diminudo. Durante os anos sombrios do regime militar, o governo costumava quaflficar de conspirao internacional contra a imagem do pas as acusaes de agncias humanitrias sobre violncia s pessoas. E, assim, nenhuma providncia era tomada, nem mesmo a elementar cautela de investigar a procedncia dos fatos denunciados. Com o restabelecimento da legalidade democrtica, instalou- se outro comportamento. Leis espeqficas e aes concretas tm sido adotadas para prevenir e punir os desrespeitos s prerrogativas humanas da pessoa. Os inquritos de organizaes internacionais em torno do problema passaram a servir de impulso ao sistema de garantias contra abusos do gnero. O primeiro exemplo disso veio na Constituio de 1988, que declarou a tortura crime inafianvel e insuscetvel de graa ou anistia. O relatrio anual da Anistia critica o Brasil e outras 141 naes. A avaliao rigorosa da organizao atestada por incluir pases normalmente a salvo de suspeitas, como os Estados Unidos e a Sucia. As instituies norte-americanas so apontadas censura mundial porque praticam a pena de morte, at mesmo para punir crimes cometidos por menores. Em dezembro de 1998, a Human Rigths Watch, outra prestigiada entidade internacional, denunciava a existncia nos EUA de mais de trs mil crianas e adolescentes em prises de adultos. Pior, excludos de qualquer programa de recuperao social. A Sucia chega ao ndex internacional por devolver asilado.s polticos sob graves riscos de tortura e morte em seus pases de origem. Mas a incriminao do Brasil ao lado de sociedades tidas como padro de cultura humanstica em nada o isenta de culpa. S na Baixada Fluminense, Rio de Janeiro, os homicdios rondam a casa dos quinhentos ao ms, em grande parte praticados por esquadres da morte. E um morticnio bem maior do que as baixas na guerra do Kosovo. Os mais de 175 mil presos nas penh- 120 TCNICA DE REDAO tencirias do pas coabitam ambiente vil, promscuo e violento, onde cada qual ocupa menos de um metro quadrado de espao. E fundamental, diante do que Jbi exposto. que as denncias da Anistia inspirem reaes mais efetivas em favor da proteo aos direitos humanos. Correio Braziliense. Braslia, 20 jun. 1999. Editorial. Observamos que a expresso chave do texto desrespeito aos direitos humanos, como est no titulo. Essa expresso substituda, no texto, por vrias outras que tm o mesmo significado, ou seja, esto no mesmo campo semntico e formam um paradigma, como: prtica no Brasil de torturas e execues (linhas 1 e 2); violaes aos direitos humanos (linha 4); atentados contra a dignidade e incolumidade fisica das pessoas (linhas 8 e 9); violncias s pessoas (linha 12); desrespeito s prerrogativas humanas da pessoa (linhas 17 e 18); problema (linha 19); abusos do gnero (linha 20). Assim, temos exemplos de coeso por substituio lexical. O texto, embora compreensvel, ficaria com a coeso prejudicada se em todas essas posies o autor usasse a mesma expresso: desrespeito aos direitos humanos. Teria uma estrutura repetitiva, primria, elementar demais para o desenvolvimento que se espera nesse nvel profissional de produo de editoriais. Qualquer leitor percebe o problema, que decorrente da pobreza de vocabulrio. Veja como o texto ficaria no trecho a seguir: A denncia da Anistia Internacional sobre o desrespeito aos direitos humanos por esquadres da morte de modo algum surpreende as autoridades governamentais. E fato notrio que o des O ENTRELA AMENTO DAS IDIAS 121 respeito aos direitos hunianos se sucede no pas con freqncia indesejvel, embora diante da reao indignada da sociedade e dos rgos oficiais encarregados de reprimir o desrespeito aos direitos humanos. Desde a criao da Comisso de Defesa dos Direitos Humanos no mbito do Ministrio da Justia, h mais de trs anos, o desrespeito aos direitos humanos tem diminudo. Durante os anos sombrios do regime militar, o governo costumava qualificar de conspirao internacional contra a imagem do pas as acusaes de agncias humanitrias sobre o desrespeito aos direitos humanos. A construo da coeso textual tem prosseguimento pela substituio da idia de desrespeito aos direitos humanos por informaes mais especficas, que exemplificam essa idia: a tortura (linha 21); pena de morte (linha 27); crianas e adolescentes em prises de adultos (linha 30); devolver exilados polticos sob graves riscos de tortura e morte em seus pases de origem (linhas 32 e 33); homicdios (linha 36); presos coabitam ambiente vil, promscuo e violento (linhas 39 e 40). Observe que esse detalhamento ilustra e especifica o que se entende no texto por desrespeito aos direitos humanos. H coeso por substituio lexical tambm nas expresses: acusaes de agncias humanitrias (linha 12) porfatos denunciados (linha 14) anistia (linha 22) por organizao (linhas 23 e 24) pases normalmente a salvo de suspeitas (linhas 24 e 25) por sociedades tidas como padro de cultura humanstica (linhas 34 e 34) Sempre que escolhemos uma expresso equivalente para substituir outra, podemos agregar alguma informao adicional. Criticas, elogios, censuras podem vir explcitos ou impl 122 TCNICA DE REDA O citos nos termos que escolhemos para constituir a coeso lexical. Nosso julgamento e nossa posio diante da informao vm, mesmo em textos tidos como objetivos, reveladas nessas expresses. E interessante observar que no texto h exemplos de coeso referencial. A expresso as violaes aos direitos humanos representada por um pronome encltico em reprimi-las (linha 6). A referncia est clara, e o leitor s pode interpretar o pronome -las como relativo expresso anterior as violaes aos direitos humanos. Na linha 20, onde o pronome demonstrativo disso est se referindo a tudo que se afirma no perodo anterior a ele, h coeso referencial. Como tambm na linha 35, o pronome o se refere a Brasil, na linha anterior. A expresso cada qual (linha 40) se refere a presos na linha anterior, e o pronome relativo onde se refere a penitencirias do pas. H um exemplo de coeso por elipse na linha 31: aps a palavra pior, a vrgula indica que se subentende o sujeito de excludos como a expresso do perodo anterior mais de trs mil crianas e adolescentes em prises de adultos. H no texto um exemplo de substituio de idias por expresso sintetizadora: diante do que foi exposto (linhas 41 e 42) resume toda a argumentao e justifica a concluso que encerra o texto. 4. Entrelaando as idias Como vimos neste captulo e nessa rpida anlise final, na elaborao de um texto criam-se laos de citaes entre seus prprios elementos constituintes, de maneira que se forme um tecido harmonioso, unia rede bem urdida de relaes gramaticais e de significado. a coeso textual. Um perodo est ligado ao seguinte ou ao que o antecede por meio de recursos coesivos. Alm das ligaes temticas e das estabelecidas pelo sistema gramatical, como concordncia e tempos verbais, h O ENTRELAAMENTO DAS IDIAS 123 possibilidade de criar laos mais largos por meio de referncias, diversidade lexical, elipses e substituies de partes do texto por expresses sintetizadoras. Essas ligaes observveis na superficie do texto realizam de forma concreta as articulaes necessrias para assegurar a coerncia entre as idias formuladas pelo redator. Assim, importante que na reviso do texto voc procure focalizar sua ateno sobre esses itens concatenadores, para que a coeso textual garanta a fidelidade s idias que quer apresentar. 5. Prtica de entrelaamento a) Releia os textos que voc produziu anteriormente e identifique os recursos de coeso que utilizou em cada um deles. b) Escreva um texto expositivo acerca de um autor de sua preferncia. Identifique outras formas de se referir a ele, aps a apresentao, de modo que o nome prprio no seja utilizado mais de uma vez. e) Sempre que estiver lendo um texto, para estudo ou trabalho, identifique as formas de coeso utilizadas pelo autor.