10 anos da lei maria da penha

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I Jornada sobre Gênero da Região Tocantina: 10 anos da Lei Maria da Penha EFETIVAÇÃO DA LEI MARIA DA PENHA Conceição Amorim Coordenadora do Centro de Direitos Humanos Pe. Josimo

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I Jornada sobre Gênero da Região Tocantina: 10 anos

da Lei Maria da Penha

EFETIVAÇÃO DA LEI MARIA DA PENHAConceição Amorim

Coordenadora do Centro de Direitos Humanos Pe. Josimo

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• A Lei Maria da Penha é o resultado de uma longa caminhada, que começou com o caso emblemático da Sra. Maria da Penha, vitima de duas tentativas de homicídio, culminando com uma decisão da Comissão Interamericana de Direitos Humanos que recomendou ao Estado Brasileiro adotar uma lei que realmente protegesse as mulheres em situação de violência.

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• Esta é a lei 11.340/2006, uma proposta feminista, gestada, discutida e apresentada por organizações feministas, que contou com o apoio da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República (SPMPR), de juristas e de parlamentares feministas e não feministas com histórico compromisso com as mulheres. O Consórcio de Organizações discutiu durante dois anos o anteprojeto de lei; a SPMPR e o Congresso Nacional debateram esse anteprojeto com a sociedade brasileira através de audiências públicas em diversos estados brasileiros.

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• De 2002 (quando o Consórcio reuniu-se pela primeira vez) a 2006 (quando a Lei foi aprovada) foram mais de quatro anos de discussão. A existencia dessa Lei e a sua pertinência social são amplamente reconhecidos pelas mulheres brasileiras. Essa é a razão pela qual a Lei Maria da Penha é considerada uma das melhores legislações do mundo pela ONU.

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A violência contra a mulher a partir das relações de gênero e a definição de gênero precisa ser percebida a partir de dois aspectos interligados. O primeiro é que o gênero é um elemento constitutivo de relações sociais baseado nas diferenças percebidas entre os sexos, e o segundo é que gênero é uma forma primeira de significar as relações de poder. (SCOTT, 1995)

Para trabalhar com a mulher vitima de Violência Doméstica e/ou Intrafamiliar precisamos compreender:

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• Precisamos compreender a violência contra a mulher:

• Partir do principio que : o medo, a culpa, a vergonha, a humilhação, o comprometimento da autoestima, o controle e a dependência econômica sempre impuseram à mulher a lei do silêncio. (DIAS, 2004)

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Precisamos:

Entender que a vítima tem se tornado incapaz de fugir da tirania do seu agressor, passando a ser subjugada por forças físicas, econômicas, sociais ou psicológicas, em espaços que funcionam como instituições totais, como a própria família. (OSBORNE, 2009)

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• .... Precisamos

• Observar que os micromachismos correspondem as microviolências contra as mulheres, diante das armadilhas propostas pelo sistema patriarcal , retirando delas a sua autonomia e reiterando a percepção da mulher como objeto e não como sujeito de direitos. Os micromachismos são exercidos inclusive e explicitamente pelo próprio Sistema de Justiça, revitimizando a mulher quando ela busca a proteção do Estado. (SILVA, MANSO, 2015).

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Estrutura Normativa de Proteção à Mulher vitima de violência doméstica e familiar

Marcos Internacionais Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948;Convenção para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher (CEDAW), 1979, Conferência de Viena, 1993; Conferência de População e Desenvolvimento.(Cairo, 1994), Plataforma de Ação da Conferência sobre a Mulher (Beijing,

1995),Convenção para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a

mulher, (Brasil, 1994)

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Marcos Nacionais

Constituição Federal de 1988 Lei 11.340/2006 – Lei Maria da Penha II Plano Nacional de Políticas para as Mulheres; Política Nacional de Enfrentamento a Violência; Pacto Nacional de Enfrentamento a Violência;

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As finalidades da Lei Maria da Penha são encontradas no art. 1º, Lei 11.340/06, sendo

as principais:

• 1) Criar Mecanismos para prevenir e coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher;

• 2) Criar juizado de violência doméstica e familiar contra a mulher;

• 3) Estabelece medidas de assistência;• 4) Estabelece medidas de proteção à mulher em situação

de violência doméstica e familiar.

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O Cenário Nacional da Violência contra a Mulher

Vítima Principal Agressor %Criança Pais 82Adolescentes Pais 26,5

Parceiros 23,2Adultas Cônjuge ou ex-

cônjuge45,2

Idosas Filho 34,9Fonte: Mapa da Violência (2015)

A violência doméstica e ou intrafamiliar contra as mulheres , na sua maioria, está relacionada aos familiares, sendo assim, a mais difícil de ser controlada, dada à complexidade e especificidades deste tipo de violência, em especial: a ligação afetiva com o agressor, os ciclos repetitivos e crescentemente intensificados da violência, a minimização e naturalização do fenômeno de violência contra a mulher.

Tabela: Principal Agressor e etapa do ciclo de vida. Brasil. 2014.

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Questões que tem dificultado a efetivação da LMP

• Medidas Protetivas de Urgência – a maioria estão sendo extintas, arquivadas ou revogadas sem o julgamento do mérito; • Dos casos que chegam às varas especializadas da

mulher, menos de 10% evoluem para processos de mérito e geram a condenação dos agressores.• Não albergar as mulheres meninas e idosas.

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• A não arrolação de crianças e adolescentes que presenciaram os crimes domésticos, como vitimas ou informantes.• A não apresentação das queixas crimes de ação

privada, por parte da Defensoria negligenciando a possibilidade de se punir a violência psicológica e moral, os tipos de violência mais denunciada através das queixas de ameaça.

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• O NÃO ALCANCE DO SISTEMA DE JUSTIÇA SOBRE O RACIOCÍNIO DA LEI, CAUSA REVITIMIZAÇÃO E NEGLIGENCIA AS VITIMAS NO PAIS INTEIRO, EM FUNÇÃO DA NÃO FORMAÇÃO/QUALIFICAÇÃO EM VIOLÊNCIA DE GÊNERO, CONSENTINDO QUE:

• decisões se dêem de “livre convencimentos” de magistrados e magistradas que frequentemente evidenciam a falta de conhecimento técnico em relação à violência de gênero, como demonstrado em vários acórdãos do TJMA;• mulheres sejam “ obrigadas” a levarem testemunhas

para terem suas Medidas Protetivas solicitadas pela Delegacia da Mulher e ou deferida pelo judiciário.

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...CONCENTE que:

• as/os agentes públicos minimizem os riscos de dano físico, moral e psicológico que rodeiam o cotidiano de mulheres em situações cíclicas de violência doméstica.

• as mulheres não sejam encaminhadas para os serviços e instituições da rede de atendimento; ou que mulheres sejam atendidas por profissionais, do CRAM e da Casa Abriga, que conhecem pouco ou quase nada das normas técnicas dos serviços, da Lei Maria da Penha e do fenômeno da violência doméstica e familiar.

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• Suspensão da pena dos condenados e o não encaminhamento do agressor durante a instrução do processo para repensar seus valores, princípios, ações e efeitos para a sociedade, em função da ausência o Centro de Responsabilização do Agressor.

• A NÃO punição para os denunciados que freqüentemente violentam moralmente as vitimas em suas peças de defesa, desqualificando-as e revitimizando-as.

• As continuas manobras torpes dos denunciados durante o processo, como arrolar informantes no exterior para deporem por cartas precatórias, sem que tenham presenciado os crimes denunciados, ou demandam diligências que intentam transformar a mulher vítima em ré, como manobras protelatórias, que visam retirar o foco dos crimes denunciados e fazer com que os crimes prescrevam e que assim reine a impunidade.

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• A morosidade continua sendo um fator sério e presente em todos os órgãos e instituições, que compromete a vida e a saúde das mulheres que estão sobrevivendo em situação de violência;

• A ausência de Banco de Dados atualizados de todos os órgãos e disponibilizados para que as profissionais dos serviços e órgãos construírem analises da realidade social das vitimas e possam subsidiar suas ações.

• A AUSÊNCIA DA ATUAÇÃO EM REDE DOS SERVIÇOS.

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Segundo pesquisas do Ministério da Saúde (2002) existem alguns motivos

para as mulheres continuarem na relação violenta:

1) A história familiar- geralmente nos lares onde havia agressão entre os pais ou pessoas próximas a elas, favorecem a repetição do modelo nas relações conjugais;

2) O fato da pessoa ter sido vítima de violência física, negligência, abuso sexual, ou outros tipos de violência enquanto criança;

3) O casamento como válvula de escape, por ser o me io de sair de casa, sendo o parceiro e a relação conjugal idealizados;

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4) O desejo de proteção, dependência e estabilidade no casamento;

5) A crença romântica na mudança de atitude do marido/companheiro;

6) A crença na dependência afetiva, de não saber viver sem o marido/companheiro e sem um pai para os filhos;

7) A falta de responsabilidade do marido/companheiro ao atribuir a fatores externos como desemprego, uso de drogas, etc.;

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8) O comportamento agressivo exibido por ele; 9) A supervalorização do marido/companheiro, como sendo o

mantenedor, trabalhador e bom pai, como forma de sublimar a violência que ele exerce contra ela;

10) O medo da perda da guarda dos filhos ou que tenha que sair de casa ;

11) A falta de apoio da família e de uma rede social

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Obrigada pela atenção!

• Conceição Amorim• Assistente Social –Especialista em Políticas Públicas em

Gênero e Raça