1 um diálogo sobre as práticas de cura das rezadeiras da cidade

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1 Um diálogo sobre as práticas de cura das Rezadeiras da Cidade de Cachoeira (BA) 1 Virgínia de Santana C. Nunes (PPGAS/UFSC/Santa Catarina) Resumo O presente estudo parte de uma etnografia realizada na casa de duas rezadeiras, na cidade de Cachoeira, no recôncavo da Bahia, cuja abordagem foi qualitativa, através do método da observação participante. É apresentada também narrativas da comunidade, expostas durante a realização da pesquisa, para refletirmos sobre as redes de interações e produção de significados que circunscreve o saber das rezadeiras. Através da inserção no campo etnográfico, abordaremos as práticas realizadas pelas rezadeiras como “mágico-terapêuticasque, imersas em um complexo sistema simbólico, só se torna eficaz na coexistência relacional com a comunidade em que está inserida. Palavras-chave: Rezadeiras; prática mágico-terapêuticas; Cachoeira-BA. 1 Trabalho apresentado na 29ª Reunião Brasileira de Antropologia, realizada entre os dias 03 e 06 de agosto de 2014, Natal/RN. Trata-se de pesquisa realizada para o Trabalho de Conclusão de Curso da graduação em Ciências Sociais na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, sob orientação da professora Dra. Ângela Figueiredo, e financiada por uma bolsa FAPESB. A redação deste artigo deu- se já durante meu mestrado em Antropologia Social no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal de Santa Catarina, vinculada ao Núcleo de Identidades de Gênero e Subjetividades (NIGS), sob orientação da professora Dra. Miriam Grossi, no quadro de uma bolsa de mestrado CNPq. As ideias apresentadas neste artigo são influenciadas por diálogos estabelecidos com o NIGS já em 2010, onde fui acolhida durante intercâmbio estudantil ANDIFES/Santander na UFSC.

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Um diálogo sobre as práticas de cura das Rezadeiras da Cidade de Cachoeira (BA)1

Virgínia de Santana C. Nunes (PPGAS/UFSC/Santa Catarina)

Resumo

O presente estudo parte de uma etnografia realizada na casa de duas rezadeiras, na

cidade de Cachoeira, no recôncavo da Bahia, cuja abordagem foi qualitativa, através do

método da observação participante. É apresentada também narrativas da comunidade,

expostas durante a realização da pesquisa, para refletirmos sobre as redes de interações

e produção de significados que circunscreve o saber das rezadeiras. Através da inserção

no campo etnográfico, abordaremos as práticas realizadas pelas rezadeiras como

“mágico-terapêuticas” que, imersas em um complexo sistema simbólico, só se torna

eficaz na coexistência relacional com a comunidade em que está inserida.

Palavras-chave: Rezadeiras; prática mágico-terapêuticas; Cachoeira-BA.

1 Trabalho apresentado na 29ª Reunião Brasileira de Antropologia, realizada entre os dias 03 e 06 de

agosto de 2014, Natal/RN. Trata-se de pesquisa realizada para o Trabalho de Conclusão de Curso da

graduação em Ciências Sociais na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, sob orientação da

professora Dra. Ângela Figueiredo, e financiada por uma bolsa FAPESB. A redação deste artigo deu-

se já durante meu mestrado em Antropologia Social no Programa de Pós-Graduação em Antropologia

Social da Universidade Federal de Santa Catarina, vinculada ao Núcleo de Identidades de Gênero e

Subjetividades (NIGS), sob orientação da professora Dra. Miriam Grossi, no quadro de uma bolsa de

mestrado CNPq. As ideias apresentadas neste artigo são influenciadas por diálogos estabelecidos com

o NIGS já em 2010, onde fui acolhida durante intercâmbio estudantil ANDIFES/Santander na UFSC.

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Então – e talvez já em certos países – o valor do sistema deixará de ser

fundado em curas reais, os quais beneficiarão indivíduos particulares, mas

sobre o sentimento de segurança trazido ao grupo pelo mito que fundamenta

a cura, e o sistema popular, em conformidade como qual, sobre esta base,

seu universo se encontrará reconstruído. [LÉVI-STRAUSS, 1996]

Introdução

A escolha do tema de pesquisa parte, normalmente, da experiência do(a) autor(a),

como um reflexo do processo contínuo de descobertas e (in)formações vivenciadas

durante a trajetória de vida, tanto na academia quanto no seu cotidiano. O presente

artigo parte dessa lógica, cuja a imersão de uma pesquisa de campo pode ser

compreendida como uma caminhada frente ao desconhecido, mesmo sendo familiar,

muitas vezes com elevados, desvios e medos, onde levamos na mochila os diversos

conhecimentos adquiridos durante toda a nossa trajetória, nas experiências vividas2

nos encontros com a teoria, no aprendizado do método, na vivência diária. Todas estas

experiências nos constituíram como futuros/as pesquisadores/as nas áreas que

escolhemos caminhar. Assim como Grossi (1992, p. 16) também reflito que, “não foi o

acaso que levou cada um de nós a seguir uma trilha diferente, pois na verdade cada

caminho reflete a forma individual e subjetiva do encontro de si mesmo a partir do

encontro com o outro”.

2Partindo da inserção no projeto intitulado “Diálogo com o Sagrado: Memória das Rezadeiras Práticas

Curativas e Preservação da Memória”, coordenado pela professora Drª, Ângela Figueiredo, na UFRB,

a escrita deste trabalho foi tecida com acesso a parte significativa do universo das Rezadeiras no

Recôncavo da Bahia, conhecendo suas práticas nas cidades de Maragogipe, Santo Amaro, Cabaceiras do

Paraguaçu, além da própria cidade de Cachoeira, lócus da pesquisa.

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Trilhando caminhos: A teoria e o campo na pesquisa antropológica3

Nas primeiras incursões ao campo etnográfico foi realizado um mapeamento das

rezadeiras na cidade de Cachoeira, aparecendo também indicações de Rezadeiras em

uma cidade chamada de São Félix4. A realização desta etapa só foi possível devido a

relação de empatia com “nativos” da localidade, pois em toda a etapa da pesquisa nunca

estamos a sós, como evidencia Da Matta (1978) são justamente esses nativos –

transformados em informantes e em etnólogos – que salvam o pesquisador nas possíveis

“situações etnográficas”.

Um dilema que a teoria apontava estava relacionada ao termo que iria ser

utilizado como categoria de análise para quem praticava a arte da cura através da

utilização de plantas e rezas, assim como outros elementos ligados a esse saber. A

literatura apontava para diversas categoriais de análise, sendo “benzedeiras” e

“rezadeiras” as mais presentes. Entretanto, foi na pesquisa que se definiu o conceito que

seria utilizado, através das próprias narrativas das praticantes deste ofício:

Virgínia, é a mesma coisa, com homem a mesma coisa, o meu pai, por

exemplo, Mauricio Rezador(...) Rezar é você estar rezando, e benzer é você

só (fazendo sinal da cruz), Ah! Eu vou fazer um paliativo aqui, fazer uma

benzedura, pronto! E rezar é você pegar a folha e rezar, então rezar e benzer é

a mesma coisa, é igual ao padre que quando faz a missa ele vai fazer uma

missa completa, mas quando ele não faz a missa ele só faz benzer, então é

3 Para a realização da pesquisa, era imprescindível conhecer, primeiramente, o campo teórico. Autores

como Conceição (2011), Oliveira (1988, 1985, 1984), Santos (2012), Jesus (2012) abordavam

diretamente o tema, versando sobre as práticas culturais e religiosas das rezadeiras e/ou benzedeiras,

Alves (2008), Canesqui (2008) Carrara (2008), Loyola (1984) Minayo (2008, 1988) na perspectiva da

relação saúde, ciência e práticas curativas. Gaskell (2008), Lévi-Strauss (1996, 1987), Mauss (1974,

2013), Peirano (1992), Da Matta (1978), Velho (1978), mostraram possíveis caminhos metodológicos

para a pesquisa.

4 Reflitimos que seja devido à proximidade das duas cidades, separadas pelo rio Paraguaçu e

interligadas pela centenária ponte Dom Pedro II.

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uma benzedura dentro da missa, então tem missa completa e a missa que não

é completa. [Rezadeira Marcli,2012, informação verbal]

Nessa compreensão, rezadeira é quem se reconhece como tal, que reza de forma

“completa”, isto é, através do ato de curar dos males físicos e espirituais, utilizam os

gestos corporais – falas, bocejos, sinais, dentre outros –, assim como outros elementos

essenciais, tais como folhas, rezas e banhos. Nesse perfil-rezadeira, encontramos na

cidade 32 praticantes deste ofício, em sua maioria mulheres, tendo os bairros da Ladeira

da Cadeia e do Caquende com maior referencial.

No processo de produção etnográfica, após algumas idas a campo e linhas

escritas, foi observado que só há como compreender essa prática em relação com a

comunidade, são seus moradores que indicam a rezadeira, confirmando a sua eficácia,

difundindo por entre os seus pares o seu (re)conhecimento. Era preciso, portanto,

pensar sobre quem está por trás desta eficácia, quer seja: a rezadeira, o cliente/doente e

a comunidade. A expectativa era ir além da produção de significados (da prática em si)

mas no compartilhar desses significados, o que, na presente análise, confere

legitimidade a tal prática.

Desta forma, devemos dar atenção no processo de interação que envolve esse

saber, ou seja, ir além da análise do ritual, apresentando uma reflexão sobre os tipos de

relações e de trocas construídas/constituídas entre Rezadeiras e Comunidade no

contexto da cidade de Cachoeira(BA), ou, seja, era preciso analisar o processo de

interação que envolve a prática mágico-terapêutica5 no contexto que esta inseria.

5“Magia” é uma prática e o mágico aquele agente que manipula os ritos mágicos, eles possuem o saber

que envolve técnica e diversos elementos simbólicos (MAUSS, 2013), assim refletimos as rezadeiras,

que manipula rezas com folhas e palavras ditas de forma mágica, com conhecimento empírico de banhos,

chás, xaropes, ou seja, na cura de males físicos, o que pode caracterizar como uma prática terapêutica.

Portanto, compreendemos aqui o saber das rezadeiras como uma prática mágica voltada para a cura, ora,

uma prática mágico-terapêutica.

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As práticas mágico-terapêuticas das Rezadeiras

O município de Cachoeira, contexto da pesquisa que referencia esse trabalho,

está localizado à margem direita do Rio Paraguaçu, a 120km de Salvador, capital do

Estado da Bahia, sua população em torno de 33 mil habitantes, caracterizado como um

dos municípios baianos que mais preservou suas raízes e identidades culturais. Nos

últimos anos, a importância de Cachoeira, deve-se ao seu conjunto arquitetônico, mas,

principalmente, às manifestações culturais e a religiosidade negra, a exemplo da Festa

promovida pela Irmandade da Boa Morte, um grupo remanescente de escravos,

composto somente de mulheres negras.

A cidade do Recôncavo tornou-se um palco de resistência social e cultural,

tendo grande parte da sua população marginalizada, face do abandono pós-escravidão,

tendo nos agentes de cura da comunidade vínculos de solidariedade, assim como com as

rezadeiras, referência para o acometimento de doenças e cuidados. Essas relações são

firmadas no conhecimento recíproco do outro, ou seja, a maioria das famílias estão

ramificadas em diversos bairros na cidade, o que vem ratificar uma relação social de

parentesco e afinidade, seguindo princípios de convivialidade6.

Conforme indica uma moradora da localidade, D. Celeste [62 anos,

católica],para ela as rezadeiras são “pessoas boas e hospitaleiras, fazem parte da

comunidade, com muito amor e dedicação. São muito importantes como se fosse um ser

da família”. As rezadeiras, que promoveram e ainda promovem a saúde da população

local com suas rezas e banhos medicinais, através da dádiva, retribuidno o seu “dom” a

quem as procura, o que caracteriza uma relação de sociabilidade entre a rezadeira e a

comunidade.

Nas narrativas colhidas em Cachoeira surgiram diversas histórias de cura e

conhecimento sobre as trajetórias de vida de algumas rezadeiras da região, pois quando

6Para Tönnies, uma teoria da comunidade teria que adensar fundamentalmente sua raiz nas disposições

gregárias estimuladas pelos laços de consangüinidade e afinidade (sejam relações “verticais”, entre pais e

filhos, ou “horizontais”, entre irmãos e vizinhos), se caracterizando pela inclinação emocional recíproca,

comum e unitária; pelo consenso e o mútuo conhecimento íntimo. (BRANCALEONE, 2008, p.,100)

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não era do centro de Cachoeira, era da sua zona rural ou de cidade vizinhas.

Interessante notar que muitas delas, além de curarem a população, ainda realizavam

partos. Tinha a mãe da rezadeira D. Antonia, a D. Maria, do bairro Lagoa Encantada,

que era famosa parteira da região e muito procurada, pois além de saber os preceitos do

parto não existia unidade de saúde nem hospital na localidade, conforme os relatos.

Através do processo ritual da reza, ela “virava a criança na barriga com reza para por na

posição certa de realizar o parto”.

Narrativas sobre a D. Zulmira que, além de rezar para doenças especificas, como

erisipela, ventre-caído, doença do vento dentre outros acometimentos, ainda era parteira

famosa na região, de acordo com cliente, “quando meus irmãos nasciam D. Zulmira é

quem dava os primeiros sete banhos, até o umbigo cair”. A comunidade reconhece o

papel desempenhado por essas pessoas e a eficácia dos seus procedimentos: “Seu Cissi

e Mauricio eram curandeiros fortes” afirmará uma moradora de Cachoeira.

Uma entrevistada narra a história da D. Dores, que curou verrugas com reza e

manaíba7, tendo o procedimento compartilhado pela entrevistada, com ricos detalhes:

“Primeiro você conta os nós da manaíba, depois você conta todas as verrugas da pessoa,

daí pendura a manaíba em algum lugar, a medida que ela seca, seca também as verrugas

da pessoa [Celeste, 62 anos, católica].

Essas rezadeiras, de um passado cachoeirano, tiveram grande importância,

principalmente na zona rural, haja visto que, por muito tempo na região, não existia uma

prática governamental de saúde pública para a população mais carente, drogarias e

médicos não eram presentes da forma como observamos hoje, por isso, para uma grande

parcela da população, as rezadeiras acabavam sendo a alternativa para muitos

acometimentos. Essa afirmativa ecoou na fala de Seu Bartolomeu, 24 anos, então

morador da zona rural de São Félix – município vizinho de Cachoeira. De acordo com

ele, as rezadeiras já fazem parte da história local: “tudo que faz parte do seu município é

cultura e todo lugar tem rezadeira”.

7 De acordo com a entrevista, são gomos da planta chamada de “mandioca”, comum na região.

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Encontramos também diversas formas “de ser” Rezadeira. Um exemplo

interessante ocorre no bairro dos Currais Velhos de uma senhora que tem em seu

estabelecimento comercial – um bar – algumas placas cujo teor é direcionado ao seu

ofício, como dizeres que ali vende-se banho e realiza-se a reza. Mesmo ocorrendo casos

como esse, ou de outros que “pedem algum agrado 8 ”, não estamos com isso

caracterizando a prática destas mulheres como práticas comerciais, mas como um meio

de subsistência, pois muitas delas não possuem outras possibilidades de recurso, ou

mesmo, vivem em situações de extrema pobreza. A aposentadoria comprometida ou

mesmo a dificuldade de se aposentar, abandono de marido, ter que criar os filhos

sozinhas, falta de oportunidade de trabalho, entre diversas outras narrativas foram

expostas por elas.

Mas era unânime entre elas, caso fosse necessário, se o cliente não tivesse

recursos ou não pudesse contribuir, jamais se negariam a realizar tal prática, o que

fortalece a relação de solidariedade da prática de cura das rezadeiras com a comunidade,

tanto que 77% dos entrevistados informaram que elas não cobraram por sua reza, de

acordo com eles(as): “Não levei dinheiro, foi pela amizade.”; “Um agrado, vela, cinco

reais, dez reais.”; “Às vezes ela pedia algo para rezar, uma vela de sete dias.”; “Levou

apenas a luz para ela acende para a santa.”; “Levou um charuto, velas, algo assim.”

Importante salientar dois aspectos que tecem o ofício das rezadeiras, quer seja a

crença na sua prática e a sua eficácia reconhecida: “tem que ter fé e resultado” de

acordo com o discurso da comunidade, utilizando como analogia a mitologia xamã,

“que não corresponda a uma realidade objetiva, não tem importância: o doente acredita

nela, e ela membro de uma sociedade que acredita” (LÉVI-STRAUSS, 1996, p. 223).

Além do aspecto socioeconômico, existem outros elementos que permeiam esse

saber, para uma melhor compreensão, discorrermos sobre duas rezadeiras da

8 Um agrado seria um valor simbólico pela realização do ofício, os clientes oferecem a quantia que

acharem mais adequado ou o que podem pagar naquele momento, pode ser em forma de dinheiro ou

presentes. Interessante notar que, para os entrevistados, as “velas” funcionam como moedas, mas na

narrativa das rezadeiras, as velas são utilizadas para acender para o “anjo de guarda”, “guia espiritual”,

“orixá”, do cliente, ou seja, não seria uma troca, mais um fortalecimento do processo da rezação para o

próprio cliente.

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comunidade, Rezadeira Marcli e Rezadeira Nicinha. Destacando a heterogeneidade em

suas crenças religiosa, as particularidades que permeiam esse saber, as nuances do rito

mágico. Traremos através destas duas senhoras, moradoras de bairros distintos, com

idades diferentes, trajetórias de vida opostas, que nas suas diferenças e singularidades,

aspectos da realização do saber mágico- terapêutico na cidade de Cachoeira (BA).

O Enlace das práticas

As práticas das Rezadeiras Marcli e Nicinha são diferentes em diversos sentidos,

mas se enlaçam na finalidade da cura dos males que afligem a comunidade. Marcli, uma

mulher de 49 anos, negra, casada, mãe de dois filhos (um rapaz e uma garota), católica,

conhecida como a filha de Seu Maurício, um respeitado rezador da comunidade, que

faleceu a mais de dez anos, com quem aprendeu a rezar. Dona Nicinha, uma senhora

negra, de baixa estatura, no auge dos seus 86 anos, aposentada e “que vive bem

sozinha”, aprendeu o ofício “desde moça”, sem filhos, viúva –“de dois casamentos” –

“filha de oxum e oya, feita no santo pelo finado Justos” realizava a prática mágica por

“uma obrigação espiritual”. Seu dom foi passado pelo Seu Caboclo Mineiro – guia

espiritual de sua proteção – quando ainda era muito jovem.

Foi observado que o aprendizado da rezadeira Marcli foi passado de forma

geracional, através da observação e da vivência com seu pai rezador, assim como ele,

cobrando pequenos valores para utilizá-lo,

Eu aprendi a rezar com meu pai, porque eu nasci do poder dele, me criei no

poder dele, só quem viveu dentro de casa comigo foi ele. Os remédios, tudo

que eu sei (...) eu rezo de que: espinhela, rezo de espírito de morto, de olhado,

de nervo, de cobreiro, que são tipos de rezas diferentes. [Rezadeira

Marcli/2011, Informação Verbal]

Quando Seu Mauricio ficou doente, aos 82 anos – “há 20 anos atrás” como

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rememora D. Marcli – ela começou a praticar sozinha o “rito mágico’’, a medida que

chegavam clientes antigos do seu pai e depois novos clientes dela, demonstrando a

dinâmica da prática da rezadeira, a sua eficácia na comunidade e o continuum do rito, na

suas palavras: “de manhã aqui é muita gente...Eu tô lhe falando sério porque aqui é

uma continuidade, tem gente que já esteve aqui a dez anos, a dois anos, então a gente

cuida.”. Interessante que a comunidade também compartilha dessa informação,

conforme sua cliente:

Não, não é amante dos médicos. Estava sentindo dor e fui na casa dele (Seu

Mauricio), que mora na frente da minha casa...tava com dor no peito,

respondendo nas costas, pode dar pneumonia, foi o finado Mauricio que

explicou...se tivesse espinhela caída ele sabia...Hoje quem atende é a filha

dele, no sábado e na quarta fica cheio, principalmente no dia de

feira.[informação verbal/comunidade/2012]

Enquanto o aprendizado da rezadeira Nicinha foi adquirido através do dom

passado pelo seu Caboclo Mineiro, que a impede de cobrar qualquer quantia – mesmo

não demonstrando nenhum interesse em receber valor algum – apenas aceitando de bom

agrado flores e velas para os santos. Ela informa ter um “dom”, não podendo aceitar

nenhum pagamento para realizar a reza:

Olha bem, “anjo da tua aguarda, te ampara todo dia, te ampara pela noite,

amanhece tudo em dia" eu vou vender??? "Deus de bondade, Deus de

piedade, tem de misericórdia deste cliente" Como é? Vou vender: dê cá o

dinheiro!!! Digo, não, quero não. Eles (seus guias) me dão força sem eu

precisar cobrar a reza...Oh, dois reais, três reais (faz feição de pouco caso),

um real: que nada!! [Rezadeira Nicinha, 2011, informação verbal]

Quanto ao acesso as folhas para realizar a reza, D. Marcli não tem quintal e

colhe as plantas que usa para rezar, fazer banhos, xaropes na zona rural de Cachoeira,

quando falta alguma, compra na feira livre da cidade, ou mesmo, outras pessoas trazem,

são plantas como arueira, quiôiô, além de raízes de jurubeba e ervas como manjericão

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que constituem a sua prática. Já D. Nicinha, colhe no seu próprio quintal, tais como

“Mãe Boa, para inflamação no útero”, Kioio de Cabloco, para abrir caminhos” São

Gonçalinho, Guiné, Folha de Ogum”, uma variedade de plantas com usos diversos.

Além de procedimentos secretos e simbólicos, os diversos agentes de cura, de

igual forma, utilizam recurso de ordem empírica, tais como ervas, raízes e folhas

medicinais, além de outros meios curativos para solucionar problemas diversos

apontados pela comunidade, quando indagados/as sobre o que levou a buscar e se

tiveram resultados na busca, os motivos foram diversos:

Quem tem criança que gosta de levar, a criança começa a ficar com febre,

essas coisas, dai leva [houve melhora?] Acho que tudo tem resultado, pois é

na fé. Tudo cura na fé, se a pessoa invoca o deus – sabe lá qual for – se a

pessoa invoca com fé, cura [Marlene, 43 anos, evangélica]

“Dor no peito, espinhela caída, dor de cabeça, cansaço, murfina [houve

melhora?] sai 100% [Junior, 27 anos, todas as religiões]

“Para rezar o pé... Não queria ir mas o pessoal ficou incentivando [houve

melhora?] fiquei boa, mas também tomei antibiótico. Naquela época achei

que funcionou mas hoje não acredita. Fiz o procedimento três vezes” [Maisa,

46 anos, evangélica]

É interessante notar que pessoas da comunidade tem conhecimento destas

doenças, compreendendo o que as causam, como podem ser tratadas e quem pode tratá-

las, seja por alguma indicação ou por afinidade, como informa a entrevistada Soraya [41

anos, evangélica] partilhando do saber vivenciado quando foi rezar seu filho de “ventre

caído”. De acordo com a cliente, ventre caído ocorre “quando suspende o neném, o

certo é não passar acima da cabeça de quem carregou, pois a criança faz coco verde e

fede demais”.

Ao questionarmos na comunidade se antes de procurar as rezadeiras eles

procuravam algum médico, de forma quase unânime, respondiam que até se dirigiam ao

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médico, como que uma “obrigação construída”. No final, acabavam mesmo era na casa

da rezadeira, conforme narrativas dos clientes.

“fui no posto de saúde, tomei remédio de médico e não resolveu, diabo de

nada! Fiquei boa mesmo foi com a rezadeira” ou mesmo “tinha ido, mas

tomei um monte de remédio e não resolveu” [Francisca, 47, candomblecista]

“Deve ir primeiro na rezadeira, tem doenças que só é de rezadeira – (nesse

momento entrega que já machucou o pé) 'fiz reza com mastruz e ficou boa'”

[Lene,43 anos, evangélica]

“Não, porque eles dão uma injeção e não resolve nada mesmo” [Débora, 26,

nenhuma ]

“Foi, mas não melhorou, ele não cura espinhela caída” [Duca, 63 anos,

católico]

Na busca pela cura quando alguém da comunidade está doente é quase

automático a ida primeiramente ao médico, a procura pelas rezadeiras é norteada por

outro sentido “há necessidade, e não obrigação moral, no médico-feiticeiro, ao

proprietário de fetiche ou de espírito, ao curandeiro, ao mágico” (MAUSS, 1974 p. 60):

“Fui ao médico mas não tive resultados, daí a rezadeira passou um óleo com

a pena da galinha. Acha que o processo do remédio demora mais. Acredito

nessas coisas de rezadeiras, mas eu não faço mais não” [Bertina, 52 anos,

evangélica].

Portanto, mesmo em face de outras possibilidades de cura “oficias” as pessoas

ainda procuram as rezadeiras para seus acometimentos: “geralmente as pessoas

procuram as benzeções quando já sabem, de antemão, que é para a benzedeira resolver”

(OLIVEIRA, 1985, p. 47). Há uma crença muito forte na comunidade da existência de

males que só as elas sabem como lidar, onde, mesmo na procura pela medicina oficial,

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tem em vista que ir as rezadeiras é um passo fundamental para o tratamento e a eventual

cura. Esses agentes mágicos têm a sua importância na história, como informa um cliente:

As rezadeiras vem do tempo dos escravos, de avó, mãe, de geração em

geração, vem do catolicismo, vem dos escravos, das folhas..até hoje eu não

gosto de remédios, prefiro as folhas. [Marlene, 43 anos, evangélica da Batista]

Os recursos para o tratamento de doenças espirituais ou físicas disponibilizados

por essas agentes de cura são muito antigos e desde há muito tempo vem sendo

procurado pelos mais diversos segmentos da sociedade. São tratamentos de doenças

como a do “mal olhado, quebrante e olho ruim, vermelhão, dor de cabeça,

espinhela/caída, erisipela, engasgação, mordeduras de cobras, desmentidura”, entre

muitas outras doenças, caracterizadas, como “doenças de rezadeira”.

Um exemplo é o “tratamento para espinhela-caída” realizado tanto por D. Marcli

quanto pela D. Nicinha. A rezadeira Marcli utiliza um cordão que tem um valor

inestimável para ela, pois foi herdado do seu pai, que também utilizava o instrumento

no tratamento da espinhela-caída.

(...) O que é espinhela? Eu tenho um livro que depois eu vou lhe amostrar o

que é espinhela..é uma glândula chamada xifóide que é tipo o

“pinguelozinho” da garganta. Quando ela está inflamada ela começa a

arranhar, é por isso que as pessoas chamam espinhela caída, entendeu agora,

eu mesma, mesmo tendo aprendido com meu pai eu procuro cada dia mais

me informar, em termo de folha, raízes e plantas(...)[Rezadeira Nicinha, 2011,

informação verbal]

De acordo com SANTOS (2007), para o tratamento com o cordão, “mede-se,

com auxílio de um cordão do dedo anular até o cotovelo(...)dobra-se de tamanho, e

envolve, na altura do tórax do cliente. Ao juntar as duas pontas, se houver folga é sinal

que o cliente está sofrendo desse mal”. Já D. Nicinha utiliza outra técnica para o

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tratamento de espinhela-caída: ela mede com a mão, observando se existe uma distância

desproporcional entre os dois lados do tórax, a partir da contagem dos palmos. Para o

tratamento, ela pede para o cliente segurar em uma ripa de madeira acima do porta,

puxando o seu corpo para cima, retirando os seus pés do chão, enquanto faz uma prece,

o cliente se pendura em sua porta de frente, ela reza, e depois de costas, rezando mais

uma vez, nesse ato, de acordo com D. Nicinha, ao cliente se pendurar, e com o auxílio

da reza, a dor da espinhela caída cessará.

Interessante analisar que as pessoas não as procuram somente para rezar para

“doenças de rezadeiras”, elas possuem técnicas diversificadas para o tratamento de

certos acometimentos. No campo surgiram diversos elementos riquíssimos de análise, as

vezes soava como surpresa, inquietava, por ainda não haver tido o conhecimento de

“certos preceitos”. Nessa inquietação, gerada pelo dialogo D. Marcli, ela questionou:

Você sabe o que é responso?[não, não sei] É quando você perde alguma

coisa e você quer achar[Ora, mas existe reza especifica para “isso”] é

pois é, de 100 % que vem em minha casa 80% acham! [ Rezadeira Marcli,

2012, informação verbal]

Na explicação de D. Marcli quando alguém perde um objeto e quer acha-lo, vai

até a casa dela para fazer o responso, “compra a vela e tal, ai muita gente acha”. Ela

orientou para que fossemos na sua casa entrevistar seus clientes. “quando você vier aqui

você pergunta: já sumiu alguma coisa? Ela já achou alguma coisa? Você vai ver que

bonito é “ já e achei tudo” - Ai está um dos princípios da magia! “É a crença do

feiticeiro, na eficácia de suas técnicas”. (Lévi-Strauss, 1975, p.194)

Nesse complexo sistema de cura, como no caso a espinhela caída, cada uma das

rezadeiras observadas possui a sua própria técnica, que se tornam eficazes à medida que

dar sentido a desordem do cliente, criando-se redes de relação que fomentam a

permanência da prática mágico-terapêutica na localidade em que é mantida. A prática

possui uma lógica que dinamiza e ordena os significados e que fornece sentido.

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Partimos da afirmativa de Lévi-Strauss (1996) para compreender a

funcionalidade destas redes de relações sociais. O autor analisa que toda a “situação

mágica é um fenômeno de consensus”, trazendo para a prática das rezadeiras, este

fenômeno é constituído da inter-relação entre rezadeira (experiência) x cliente x

comunidade. Formando aqui um complexo sistema de “rezação”, engendrado na

permanência da prática dentro do “consensus coletivo”, o cliente retorna a rezadeira,

normalmente, indicando novos clientes.

Na perspectiva das duas rezadeiras estudadas, o continuum da prática de rezar

para curar o corpo e alma não parece ter encerrado o seu ciclo, como demonstra D.

Marcli, ao informar que sempre pessoas vem te procurar, assim como a comunidade

reconhece o seu papel, a valorizando como uma excelente rezadeira, fazendo com que

os seus clientes sempre retornem e tragam novos clientes para ela, demonstrando a

eficácia da sua reza para a comunidade e desta forma, reafirmando o seu papel como

rezadeira. Observamos também o continuum de experiência, em que a sua filha mais

nova vem observando a sua prática, de acordo com ela, ficando muitas vezes próxima

quando está a realizar algum procedimento de cura – o que lembra a sua própria

trajetória com seu pai, Seu Maurício.

Já a D. Nicinha, questionada quanto a continuidade da sua prática, informou não

querer fazer mais “porque as pessoas não valorizam”, pois ao sair da sua casa

blasfemam, são crentes, evangélicos, que vem ao seu encontro, realizam a reza e ainda

falam mal. De fato, quando aplicado os questionários na comunidade, encontramos

algumas pessoas que não quiseram responder por serem evangélicas, outras que

responderam não acreditar na prática, outras já chegaram a ir em uma rezadeira mas não

acreditam mais, além de “ex-rezadeiras”, que informaram ter deixado o ofício de lado

para se batizar em uma igreja neopentecostal.

Na perspectiva do saber de D. Nicinha, compreendemos que não haverá

continuidade da sua prática de forma geracional, cabendo ficar na memória da

comunidade, a forma eficaz que aquela velha senhora cuida da comunidade da Ladeira

da Cadeia, com a sua voz afiada e o seu olhar desconfiado.

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Conclusão

O estudo que ora apresentamos nos possibilitou ampliar o nosso conhecimento

sobre as técnicas das rezadeiras, além da sua relação com a comunidade. Foi

demostrado como é engendrado o processo de interação que envolve a prática mágico-

terapêutica das rezadeiras. É possível constatar que é necessário ir além da produção de

significados que envolve a prática mágico-terapêutica para uma melhor compreensão da

manutenção desta rede de relações sociais que a confere a legitimidade.

Através da abordagem teórico-metodológica podemos observar que a prática

mágico-terapêutica é ativamente atuante em face a valorização desta prática pela

comunidade, sempre voltadas para a realidade social onde estão inseridas, um saber

democrático e solidário, com suas regras e truques, uma combinação de pensamento,

que criam redes de relações sociais comunitárias locais e de subsistência.

Apresentamos algumas técnicas mágico-terapêuticas utilizadas pelas rezadeiras

para o tratamento das “doenças de rezadeiras”, dentre outras enfermidades, tais como a

“técnica da queda da verruga” realizada pela rezadeira D. Zulmira (in memorian); a

“técnica para localizar objetos, pessoas ou mesmo animais perdidos”, denominada “reza

de responso” da Rezadeira Marcli ou mesmo a técnica do conhecimento de plantas para

a reza, da Rezadeira D. Nicinha. Observamos técnicas diferentes para curar o mesmo

mal, como a cura da espinhela caída, apresentadas pela Rezadeira Marcli e D. Nicinha,

a qual uma usa o cordão e preces e a outra o alongamento do corpo do cliente e preces,

respectivamente.

Partindo das narrativas, tanto da comunidade como das rezadeiras,

rememoramos nomes e práticas realizadas por rezadeiras de um passado que marcou a

história da cidade, um passado que fomentou a saúde na população local, que até hoje,

partilha a importância desse saber. Elencamos também os diversos nomes das rezadeiras

que ainda atuam na comunidade e o sentimento de solidariedade que emana através do

discurso dos seus clientes.

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As técnicas das práticas mágico-terapêuticas das rezadeiras em Cachoeira (BA)

pode, portanto, ser caracteriza como uma prática histórica, dinâmica, plural e

heterogenia. Aqui encontramos agentes de cura que rezam com folhas, com água,

cordão, alguns por dinheiro outros não aceitam pagamentos, alguns usam livros para

adquirir mais conhecimento, recomendam banhos e vendem também, são católicos ou

do candomblé ou mesmo possuem a dupla-pertença, são pessoas mais velhas, outros

muitos jovens, mas que têm um objetivo em comum: a cura.

No que diz respeito ao sistema mágico-terapêutico, notamos a existência de

trocas sociais e afetivas, onde muitas vezes existe um conhecimento mútuo das suas

histórias de vida. Os clientes retribuem a ajuda espiritual, a cura da dor física ou os

conselhos, com agrados, presentes, amizades e, principalmente, com o fomento da

eficácia da sua prática. O universo simbólico das rezadeiras é permeado de elementos

mágicos e empíricos, a presença do altar de imagens de santos católicos e de religião de

matriz africana, velas, incensos, preces, conselhos, esse universo simbólico fomenta

solidariedade no contexto das redes de relações sociais.

Cachoeira, uma cidade “negra” de acordo com o Instituto do Patrimônio

Histórico Artístico Nacional em que, face ao abandono de políticas públicas, teve e tem

nessas mulheres referência quanto ao seu reconhecimento na promoção da saúde.

Portanto, compreender a prática de cura das Rezadeiras na cidade de Cachoeira é

percebê-la como resistência política, uma estratégia na qual a população dinamizou o

processo de formação e transformação da sociedade brasileira.

Buscamos aqui partilhar a crença que a comunidade tem em relação a prática

mágica e social das rezadeiras, crença permeada em laços de solidariedade. Finalizo

com as palavras de D. Maninha dirigidas a esta pesquisadora, na expectativa de

esclarecer uma pouco mais a relação rezadeira-comunidade na cidade de Cachoeira:

“pode ter certeza que a partir de hoje eu sou a sua mãe e você é a minha filha, que

Obaluaê te proteja e te cubra de benção”.

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