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Doutrinas Bíblicas / IBNC

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1. Revelação Geral

Pr Luciano R. Peterlevitz

Tema e assunto

Nessa primeira aula, estudaremos acerca da revelação geral de Deus. Os seguintes

tópicos serão abordados:

Diferença entre a revelação geral e a revelação especial de Deus.

Os meios da revelação geral.

Alguns textos bíblicos que descrevem a revelação geral.

Objetivos

Após estudar essa lição você será capaz de:

Entender o significado da revelação geral e da revelação especial.

Perceber a importância da revelação geral para o conhecimento acerca de Deus.

Procurar conhecer mais a Deus e sua vontade.

A natureza da revelação

Nas Escrituras, revelação significa manifestar algo que anteriormente era desconhecido.

“...quando a Bíblia fala em revelação, o pensamento em mente é o do Deus Criador a

desvendar ativamente aos homens o Seu poder e glória, Sua natureza e caráter, Sua

vontade, caminhos e planos – em suma, a Si mesmo – a fim de que os homens possam

conhece-Lo.”1

O que lemos na Escritura é a auto-revelação de Deus. Ou seja, só existe revelação

porque Deus se revelou. A revelação ocorre pela iniciativa do próprio Deus. Nenhum

ser humano seria capaz de conhecer Deus se ele não falasse a respeito de si mesmo.

Existem dois tipos de revelação: a revelação geral e revelação especial.

“A revelação geral é a comunicação que Deus faz de si mesmo a todas as pessoas, em

todas as épocas e em todos os lugares.”2 Na revelação geral, Deus se comunica com

todos os seres humanos através da criação e da razão humana, pois a criação revela os

atributos do Deus Criador e a razão humana é dotada de capacidade para racionar a

respeito do Criador. Desse modo, pela revelação geral, o homem encontra o seu

propósito maior, qual seja, “conhecer a Deus e assim desfrutar comunhão com Ele”3.

1 J. I. Packer., verbete “Revelação”, em J. D. Douglas, O Novo Dicionário da Bíblia, volume III (São

Paulo: Vida Nova, 1966), p. 1400. 2 Millard J. Erickson, Teologia Sistemática (São Paulo: Vida Nova, 2015), p. 140.

3 Louis Berkhof, Teologia Sistemática (Campinas: Luz para o Caminho, 1990), p. 36.

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01. REVELAÇÃO GERAL

A revelação especial, por sua vez, é o conhecimento que Deus transmite ao homem

através das Escrituras. Deus se revela pela natureza, pela história e pela consciência

moral dos homens, mas ele se revela especialmente por sua Palavra escrita. Ele se deu a

conhecer através da nação de Israel, no Antigo Testamento, e através dos apóstolos e

outros líderes da igreja primitiva. Na sua automanifestação especial, Deus levantou

homens santos que, movidos pelo Espírito, registraram sua palavra de forma a levar

pessoas ao conhecimento do plano de salvação revelado em Cristo Jesus.

Os meios da revelação geral

Deus manifestou os seus atributos através dos seguintes meios da revelação geral:

Natureza. “Os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra

das suas mãos” (Sl 19.1). O apóstolo Paulo afirma que os “atributos invisíveis”

de Deus “são vistos claramente desde a criação do mundo e percebidos mediante

as coisas criadas” (Rm 1.20). O Deus invisível se manifesta pela criação visível.

Quando contemplamos a beleza da natureza, somos levados a refletir a respeito

da grandeza do Criador.

História. A história revela o poder soberano de Deus. O Senhor levanta reis e

destrona reis (Dn 2.21); ao longo da história, Deus usou inúmeros impérios

poderosos para que seus propósitos fossem cumpridos (Is 10.5-13). O Senhor

reina poderosamente sobre as nações (Sl 47.7,8). Um dos exemplos mais claros

de que Deus intervém na história é o êxodo dos israelitas da terra do Egito. O

Senhor manifestou seus poderosos sinais no Egito, a fim de que os egípcios

reconhecessem a grandeza do seu poder (Êx 7.3-5; 9.21; 10.1,2). E, a partir da

libertação da escravidão, os israelitas cantaram e celebraram ao Deus libertador

que interviu na história deles: “Cantem ao Senhor, pois triunfou gloriosamente.

Lançou ao mar o cavalo e o seu cavaleiro” (Êx 15.21; veja Sl 105.26-36; 114).

Consciência humana. O ser humano naturalmente possui a consciência moral

do que é certo e errado, ainda que seu senso de juízo esteja corrompido por sua

natureza pecaminosa. Todos os homens de todas as épocas e em todos os lugares

possuem um impulso moral. A consciência moral do ser humano aponta para a

moralidade e a justiça de Deus. Além de moral, o homem também é um ser

pessoal e racional, e assim reflete a imagem e semelhança do seu Criador.

“Embora desconfigurada pela queda e, no que se refere à santidade e amor por Deus,

completamente deteriorada, a imagem permanece. É a possessão atual dessa semelhança

por parte do ser humano que torna o assassinato um crime abominável (Gn 9.6) e a

difamação ou maldição de outras pessoas uma maldade depravada (Tg 3.8-10). As

pessoas legitimamente raciocinam sobre a natureza de Deus a partir de sua própria

natureza. Seu erro comum tem sido imputar semelhança de Deus aos seus corpos

corruptíveis e fazer um Deus visível, físico e corrupto à sua própria imagem física.”4

Religião. O homem é um ser religioso. Todas as civilizações humanas têm suas

crenças e seus deuses. Os homens são “acentuadamente religiosos” (At 17.22).

O ensino da Bíblia a respeito da revelação geral

4 Robert D. Culver, Teologia Sistemática: bíblica e histórica (São Paulo: Shedd Publicações, 2012), p. 84

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Doutrinas Bíblicas / IBNC

Analisaremos agora alguns textos bíblicos que apresentam o Deus que se revela pela

natureza, pela história e pela consciência moral e religiosa do ser humano.

Salmo 19.1-6

Os “céus” declaram com todo vigor a “glória de Deus” (v.1). “No v.2, o yom ‘dia’ e a

laylah ‘noite’ significam, respectivamente, tudo o que é visível durante o dia no céu e

tudo o que visível no céu durante a noite. Trata-se de uma metonímia que se refere ao

sol (‘dia’) e à lua e às estrelas (‘noite”).’5 O sol, a lua e as estrelas não falam (v.3),

contudo, em toda a terra é possível ouvir as “suas palavras” (v.4). Eles são a silenciosa

“Escritura dos céus”.6

A criação manifesta a glória do Deus Criador. “O incrédulo não só tem uma

consciência, como também deve saber que existe um Deus, simplesmente por observar a

maravilhosa criação ao redor dele. Ele não vive numa caverna escura. Ele está em

condições de observar a criação em todo o seu redor e certamente sentirá a necessidade

de se perguntar de onde foi que tudo isso veio.”7

É importante observar que Davi, no salmo 19, só conseguiu contemplar a glória de Deus

revelada na criação porque conhecia “a lei do Senhor” (v.7). Ou seja, sua compreensão

a respeito da revelação geral foi moldada por seu conhecimento da revelação especial.

Atos 14.17 e 17.26-27

At 14.17 afirma que Deus revelou sua bondade aos povos através das chuvas e das

estações frutíferas. Deus faz o “bem” às pessoas, ao permitir que elas usufruam das

coisas boas da sua criação. Como disse Jesus, Deus manda chuva tanto para os justos

como para injustos (Mt 5.45). Sua bondade é manifestada para todos. E todas as coisas

boas da criação provam a bondade de Deus, e consequentemente, sua existência. Muitos

querem provas racionais a respeito da existência de Deus. Mas, como diz Schaeffer, o

fato de todas as necessidades humanas serem providas pelas coisas boas da criação é a

prova mais contundente a respeito da existência de Deus.8

At 17.26-27 é outro texto que descreve a revelação geral. No seu discurso do Areópago

de Atenas, Paulo explicou quem era o “Deus desconhecido” (v.23) adorado pelos

atenienses. Ele é o Deus criador de todas as coisas (v.24) e que não pode ser servido por

mãos humanas, antes, “ele mesmo é quem dá a todos a vida, a respiração e todas as

coisas” (v.25). O Senhor mesmo estabeleceu a raça humana sobre a terra, e fixou “os

tempos já dantes ordenados e os limites da sua habitação” (v.26). Não somente as

estações do tempo foram estabelecidas por Deus, mas também os “limites de sua

habitação”. No v.27, Paulo afirma que o objetivo da revelação geral é levar os homens

“buscarem a Deus”. O verbo “buscar” (grego zeteo) significa “procurar a fim de

encontrar”. Ou seja, a humanidade pode contemplar a bondade de Deus revelada na

5 Luciano R. Peterlevitz, “A revelação natural e a revelação especial no Salmo 19”, em Revista Batista

Pioneira (Ijuí: Faculdade Batista Pioneira, volume 3, número 02, dezembro / 2014). Disponível em

www.revista.batistapioneira.edu.br. Acessado em 12.02.2016. 6 Nota de rodapé da Bíblia de Jerusalém. Nova Edição, revista e ampliada. 5

a edição (São Paulo:

Sociedade Bíblica Internacional/Edições Paulus, 2002), p. 880. 7 Francis A. Schaeffer, A obra consumada de Cristo: a verdade à luz de Romanos 1 – 8 (São Paulo:

Cultura Cristã, 2003), p. 31. 8 Francis A. Schaeffer, A obra consumada de Cristo: a verdade à luz de Romanos 1 – 8 (São Paulo:

Cultura Cristã, 2003), p. 32.

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01. REVELAÇÃO GERAL

criação, e essa contemplação impulsiona a humanidade a procurar pelo Criador, e,

mesmo “tateando”, ela pode “achar” (grego heurisko, “achar o que se buscava, depois

de procurar”), afinal, Deus “não está longe de cada um de nós”. Podemos notar duas

coisas importantes aqui: 1) Deus pode ser conhecido pelo mundo criado; 2) esse

conhecimento da revelação geral deve impulsionar os homens a procurar Deus, o que

significa que só o conhecimento da revelação proveniente do mundo criado não é

suficiente para encontrar Deus.

A mensagem de Paulo foi compreendida pelos gregos, e alguns até se converteram ao

evangelho (At 17.34). A consciência religiosa que eles tinham a respeito de Deus, ainda

que deturpada, contribuiu para o conhecimento correto a respeito de Deus.

Romanos 1.18-32

Os atributos de Deus podem claramente ser reconhecidos pelo mundo criado (v.20).

Mas o problema, como o v.18 afirma, é que os homens “detém a verdade pela

injustiça”. O verbo “deter” (grego katecho) significa “conter, impedir, amarrar”. Ou

seja, os homens impediram a verdade de progredir através das suas injustiças. Como diz

Bruce, “em sua impiedade estão sufocando a verdade [de Deus]”.9

O v.21 afirma: “porque, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem

lhe renderam graças, mas os seus pensamentos tornaram-se fúteis e os seus corações

insensatos se obscureceram” (NVI). Quando Paulo diz que eles conheceram a Deus,

trata-se de um conhecimento limitado, porque aqueles que estão sem Cristo não podem

realmente conhecer a Deus (Gl 4.8; 1Ts 4.5; 2Ts 1.8).10

O apóstolo diz que “os seus

pensamentos tornaram-se fúteis”. O verbo “tornar-se fútil” (grego mataioo) significa

“tornar vazio, insensato”. “Essa palavra descreve o raciocínio dos descrentes. Além

disso, ele [Paulo] diz que os seus corações se tornaram obscurecidos e insensatos, o que

implica falta de entendimento. O apóstolo está dizendo que o resultado do pensamento

humano que nega a Deus é a incapacidade de entender a verdade. Todo sistema

fundamentado na negação de Deus termina em destruição de todo conhecimento

verdadeiro.”11

O grande problema é que os homens que desvirtuaram a glória de Deus

não conseguem raciocinar corretamente a respeito de Deus.

Então, os incrédulos conhecem Deus pela revelação geral, mas preferem adorar falsos

deuses (v.22,23). Por isso, Deus permiti que eles vivam em suas paixões infames (v.24-

27), e “os entregou a uma disposição mental reprovável, para praticarem coisas

inconvenientes” (v.28).

Portanto, o ser humano pode vislumbrar a grandeza de Deus no mundo criado, e isso

traz sérias implicações sobre ele. Como diz Culver, “os seres humanos, como pessoas

racionais e responsáveis, devem levar todo o peso da responsabilidade por responder

corretamente ao conhecimento que Deus partilhou.”12

O problema é que a compreensão

do homem sempre estará corrompida por sua natureza pecaminosa. A revelação de Deus

está presente na criação, mas ela não pode ser percebida de foram correta pelos homens,

pois o raciocínio deles está imerso nas trevas de Satanás (2Co 4.4). O pecador está cego,

e não consegue ver nitidamente a luz da revelação de Deus. Eles enxergam, mas a visão

9 F. F. Bruce, Romanos: introdução e comentário, p. 69.

10 John Stott, A mensagem de Romanos (São Paulo: ABU Editora, 2007), p. 82.

11 Franklin Ferreira e Alan Myatt, Teologia sistemática: uma análise histórica, bíblica, e apologética

para o contexto atual (São Paulo: Vida Nova, 2007), p. 72. 12

Robert D. Culver, Teologia Sistemática: bíblica e histórica, p. 83.

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Doutrinas Bíblicas / IBNC

deles é distorcida. Mas, como dizia Calvino, quando o pecador põe os “óculos da fé”,

então ele consegue ver plenamente a luz de Cristo e consegue enxergar a revelação de

Deus na criação.13

E Paulo declara que a fé vem pelo o ouvir da Palavra de Cristo (Rm

10.17). Portanto, não pode haver compreensão adequada da revelação geral sem a

revelação especial. Realmente “dependemos da ativa comunicação divina nas Escrituras

para alcançar verdadeiro conhecimento de Deus”.14

Deus revela sua grandeza e seus atributos pela revelação geral, mas sua vontade

específica a respeito daquilo que ele espera do homem e o plano da salvação consumada

em Cristo Jesus só podem ser encontrados em sua revelação especial (Bíblia).

Precisamos nos lembrar de Cornélio: era um homem temente a Deus; dava esmolas aos

necessitados e orava constantemente ao Senhor (At 10.2). Contudo, ele não foi salvo até

que ouviu a respeito do evangelho que foi pregado por Pedro (At 11.13,14). Cornélio

tinha certo conhecimento a respeito de Deus, mas não conhecia a revelação especial.

Portanto, o conhecimento que vem da revelação geral está limitado pela corrupção do

pecado, sendo necessária a intervenção do Espírito Santo na mente do pecador, para ele

possa ser conduzido ao conhecimento da Escritura (revelação especial), e assim venha

conhecer o plano salvador revelado em Jesus.

Romanos 2.14-16

Paulo afirma que os gentios não conhecem a lei de Moisés, mas apesar disso, eles

procedem de acordo com os princípios dessa lei. Eles têm “a norma da lei gravada no

seu coração” (v.15). Conforme diz Millard J. Erickson, “Paulo está afirmando que Deus

deixou na composição moral humana um testemunho de suas exigências.”15

Erickson

ainda assegura que “embora o conteúdo do código moral possa variar em diferentes

situações culturais, todos os seres humanos sentem uma obrigação interior de que já

algo que devem seguir”.16

Aqueles que não conhecem a revelação especial serão julgados com base na consciência

interior adquirida pela revelação geral (v.16). A revelação no mundo natural torna todas

as pessoas culpadas, mesmo aquelas que nunca ouviram falar do evangelho, isso porque

todos já tiveram a oportunidade de conhecer Deus pela revelação geral. “Essa revelação

torna os homens indesculpáveis. Deus não condenará pessoas porque rejeitam o

evangelho que nunca ouviram, mas porque deliberadamente ignoram a verdade que

veem no mundo e porque quebram a lei moral dentro dos seus corações.”17

É como se

Paulo tivesse dito ao incrédulo: “Mesmo se você nunca tenha visto uma Bíblia, tem

certamente uma consciência e sabe que a violou.”18

Portanto, a revelação geral de Deus está diante dos olhos de toda a humanidade. Todos

podem conhecer Deus ao contemplar o mundo criado por Deus. Por isso, mesmo

aqueles que nunca tiveram a oportunidade de ouvir revelação especial serão condenados

visto que tiveram a oportunidade de buscar a Deus pela revelação de seus atributos na

natureza.

13

Millard J. Erickson, Teologia Sistemática, p. 156. 14

Wayne Grudem, Teologia Sistemática (São Paulo: Vida Nova, 1999), p. 101. 15

Millard J. Erickson, Teologia Sistemática, p. 145. 16

Millard J. Erickson, Teologia Sistemática, p. 157. 17

Franklin Ferreira e Alan Myatt, Teologia sistemática, p. 74. 18

Francis A. Schaeffer, A obra consumada de Cristo: a verdade à luz de Romanos 1 – 8 (São Paulo:

Cultura Cristã, 2003), p. 31.

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01. REVELAÇÃO GERAL

Além disto, podemos ainda considerar outro ponto. Ao olharam para a natureza e verem

os atributos invisíveis de Deus, os homens deveriam buscar a revelação especial que foi

manifestada em Cristo Jesus (At 17.27). Mas, como eles estão cegos e desprezaram a

glória de Deus revelada no mundo criado, certamente eles também desprezariam a

glória que foi revelada no Filho. Se eles desprezaram a glória do Pai, também

desprezariam a glória do Filho. Por isso, a consciência deles a respeito da moralidade já

forma base suficiente para serem julgados, não havendo nenhuma necessidade de terem

oportunidade para conhecerem a revelação especial.

Aplicações finais

Neste estudo, vimos que a revelação geral é a automanifestação de Deus pela natureza,

pela história e pela consciência moral e religiosa do ser humano.

Seguem algumas aplicações para nossas vidas, considerando o que estudamos:

1ª) Somos levados a adorar a Deus através da revelação geral, especialmente quando

contemplamos a beleza da criação. A majestade e o poder de Deus, declarados na

revelação especial, são comprovados pela natureza. Podemos dizer como salmista: “Ó

Senhor, Senhor nosso, quão admirável é o teu nome em toda a terra, tu que puseste a tua

glória dos céus!” (Sl 8.1). De fato, aqueles que já conhecem a revelação especial ficam

ainda mais extasiados quando contemplam a beleza do mundo criado.

2ª) Somos levados a entender que o conhecimento humano a respeito de Deus é

fantástico, mas limitado. A mente do ser humano é brilhante: é capaz de raciocinar; é

capaz de criar e inventar coisas fantásticas; é capaz de anunciar a grandeza de Deus pela

arte e pela música, mesmo sem conhecer pessoalmente a Deus. O problema é que a

mente do ser humano está corrompida pelo pecado, e todas as suas opiniões sobre

religião, ética e moral sempre serão marcadas por sua tendência de se rebelar contra o

Criador. Por isso, os cristãos precisam tomar cuidado com o raciocínio do homem

caído. Há excelentes músicas escritas por não crentes. Há bons livros sobre ética e

moral, escritos por pessoas que não conhecem a Jesus. Há boas opiniões sobre o

comportamento humano, emitidas por pessoas que não conhecem a Palavra de Deus.

Aqueles que conhecem a Palavra podem até aprender com aqueles que não conhecem a

Palavra. Mas é preciso sempre ter cautela. Pois a mentalidade do ser humano caído

sempre deve ser avaliada pela revelação especial.

3ª) Somos levados a entender que o ser humano é moralmente responsável por suas

atitudes. Mesmo aquele que nunca ouviu falar do evangelho será julgado por ter

rejeitado a Deus. Isso porque apesar de ter a oportunidade de buscar a Deus através da

revelação geral, o ser humano escolheu se rebelar contra o Criador. E terá que responder

por suas atitudes imorais, mesmo sem conhecer o código moral das Escrituras. Aqui há

uma lição que nós, cristãos, precisamos aprender. Precisamos assumir a

responsabilidade por atitudes erradas que muitas vezes tomamos. Normalmente nossa

tendência é culpar os outros ou a situação. Se aqueles que nunca ouviram falar do

Evangelho serão julgados por Deus, nós, que conhecemos o Evangelho, jamais

podemos achar que não teremos que prestar ao Supremo Juiz pelo mal que fizemos ou

pelo bem que deixamos de fazer.