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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA TRIBUNAL DE JUSTIÇA Tribunal Pleno 1 Agravo Interno nº 0000166-90.2018.8.05.0000/50000 Classe : Agravo Interno nos autos da Ação Penal - Procedimento Ordinário nº 0000166-90.2018.8.05.0000 Foro de Origem:SALVADOR/BA. Órgão : Tribunal Pleno Relator : Des. Julio Cezar Lemos Travessa Agravante : Ministério Público do Estado da Bahia Agravado : Marcos Prisco Caldas Machado Advogado : Dinoermeson Tiago Nascimento (OAB: 36408/BA) Advogado : Marcelle Menezes Maron (OAB: 12078/BA) Advogado : Jackson da Silva Brito (OAB: 40122/BA) Advogado : Thiago Menezes Maron de Andrade (OAB: 49434/BA) Advogado : Nathalia Galderice de Santana (OAB: 49470/BA) Advogado : Wendel Costa Santana (OAB: 51480/BA) Assunto : DIREITO PENAL ACÓRDÃO I. EMENTA: PENAL, PROCESSUAL PENAL E CONSTITUCIONAL. AGRAVO INTERNO EM FACE DE DECISÃO MONOCRÁTICA QUE, SEGUINDO AS PREMISSAS FIXADAS NO NOVO ENTENDIMENTO DO STF E STJ, RELATIVIZOU FORO POR PRERROGATIVA FUNCIONAL DE DEPUTADO ESTADUAL. ALEGAÇÃO DE QUE A RECENTE INTERPRETAÇÃO NÃO SERIA APLICÁVEL À HIPÓTESE, POIS A DECISÃO PARADIGMA SE RESTRINGIRIA AO LEGISLATIVO FEDERAL. DESCABIMENTO. ALTERAÇÃO DE ENTENDIMENTO QUE IRRADIA EFEITO PARA TODAS AS ESFERAS DE GOVERNO (FEDERAL, ESTADUAL, MUNICIPAL E DISTRITAL) E FUNÇÕES DE ESTADO (LEGISLATIVO, EXECUTIVO E JUDICIÁRIO), OBJETIVANDO O AFASTAMENTO DE INDEVIDO PRIVILÉGIO, CONTRÁRIO AO INTERESSE PÚBLICO E VIOLADOR DO PRINCÍPIO REPUBLICANO. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA SIMETRIA, COMO TAMBÉM ISONOMIA, RESPEITANDO-SE OS CIDADÃOS COMUNS. DECISÕES DO STF E DO STJ, AINDA MAIS RECENTES, AMPLIANDO A EXTENSÃO DAS DECISÕES INICIAIS. SUPOSTO DELITO COMETIDO EM CIRCUNSTÂNCIAS TOTALMENTE ALHEIAS À FUNÇÃO DE DEPUTADO ESTADUAL. FORO POR PRERROGATIVA FUNCIONAL QUE SOMENTE SE Se impresso, para conferência acesse o site http://esaj.tjba.jus.br/esaj, informe o processo 0000166-90.2018.8.05.0000 e o código P000000092JV0. Este documento foi assinado digitalmente por JULIO CEZAR LEMOS TRAVESSA. fls. 1

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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA

TRIBUNAL DE JUSTIÇA Tribunal Pleno

1

Agravo Interno nº 0000166-90.2018.8.05.0000/50000

Classe : Agravo Interno nos autos da Ação Penal - Procedimento Ordinário nº

0000166-90.2018.8.05.0000

Foro de Origem:SALVADOR/BA.

Órgão : Tribunal Pleno

Relator : Des. Julio Cezar Lemos Travessa

Agravante : Ministério Público do Estado da Bahia

Agravado : Marcos Prisco Caldas Machado

Advogado : Dinoermeson Tiago Nascimento (OAB: 36408/BA)

Advogado : Marcelle Menezes Maron (OAB: 12078/BA)

Advogado : Jackson da Silva Brito (OAB: 40122/BA)

Advogado : Thiago Menezes Maron de Andrade (OAB: 49434/BA)

Advogado : Nathalia Galderice de Santana (OAB: 49470/BA)

Advogado : Wendel Costa Santana (OAB: 51480/BA)

Assunto : DIREITO PENAL

ACÓRDÃO

I. EMENTA: PENAL, PROCESSUAL PENAL E CONSTITUCIONAL. AGRAVO

INTERNO EM FACE DE DECISÃO MONOCRÁTICA QUE, SEGUINDO AS PREMISSAS

FIXADAS NO NOVO ENTENDIMENTO DO STF E STJ, RELATIVIZOU FORO POR

PRERROGATIVA FUNCIONAL DE DEPUTADO ESTADUAL. ALEGAÇÃO DE QUE A

RECENTE INTERPRETAÇÃO NÃO SERIA APLICÁVEL À HIPÓTESE, POIS A

DECISÃO PARADIGMA SE RESTRINGIRIA AO LEGISLATIVO FEDERAL.

DESCABIMENTO. ALTERAÇÃO DE ENTENDIMENTO QUE IRRADIA EFEITO PARA

TODAS AS ESFERAS DE GOVERNO (FEDERAL, ESTADUAL, MUNICIPAL E

DISTRITAL) E FUNÇÕES DE ESTADO (LEGISLATIVO, EXECUTIVO E JUDICIÁRIO),

OBJETIVANDO O AFASTAMENTO DE INDEVIDO PRIVILÉGIO, CONTRÁRIO AO

INTERESSE PÚBLICO E VIOLADOR DO PRINCÍPIO REPUBLICANO. APLICAÇÃO DO

PRINCÍPIO DA SIMETRIA, COMO TAMBÉM ISONOMIA, RESPEITANDO-SE OS

CIDADÃOS COMUNS. DECISÕES DO STF E DO STJ, AINDA MAIS RECENTES,

AMPLIANDO A EXTENSÃO DAS DECISÕES INICIAIS. SUPOSTO DELITO COMETIDO

EM CIRCUNSTÂNCIAS TOTALMENTE ALHEIAS À FUNÇÃO DE DEPUTADO

ESTADUAL. FORO POR PRERROGATIVA FUNCIONAL QUE SOMENTE SE

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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA

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Agravo Interno nº 0000166-90.2018.8.05.0000/50000

JUSTIFICA NO TOCANTE A FATOS CONTEMPORÂNEOS AO EXERCÍCIO DO

MANDATO E NO TOCANTE A AÇÕES RELACIONADAS ÀS ATRIBUIÇÕES PÚBLICAS

RESPECTIVAS. CASO FÁTICO QUE EXIGE A IMPERIOSA RELATIVIZAÇÃO DA

PRERROGATIVA FUNCIONAL, NO ESTEIO DOS PRECEDENTES DAS CORTES

SUPERIORES. AGRAVO INTERNO CONHECIDO E NÃO PROVIDO.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo Interno interposto

no bojo da Ação Penal nº 0000166-90.2018.8.05.0000, tendo como Agravante o

Ministério Público do Estado da Bahia e Agravados M.P.C.M e F.S.B.

Acordam, à unanimidade de votos, os Desembargadores integrantes do

Tribunal Pleno do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia, em CONHECER e NEGAR

PROVIMENTO ao Agravo interposto, nos termos do voto do Relator.

RELATÓRIO

Trata-se de Agravo Interno interposto no bojo da Ação Penal Pública em

epígrafe, promovida pelo Ministério Público do Estado da Bahia, através da

Procuradoria Geral de Justiça, em face de M.P.C.M, Deputado Estadual baiano, e F. S.

B, pela suposta prática do delito descrito no art. 299, caput, c/c arts. 29 e 69, todos do

Código Penal (fls. 02/07).

O feito restou distribuído por sorteio a este Desembargador em 10 de

janeiro de 2018 (conforme certidão de fl. 48 e termo de fl. 49), que determinou a

redistribuição dos fólios ao eminente Desembargador Abelardo Paulo da Matta Neto,

por vislumbrar prevenção para atuação no feito (fls. 50/52v).

O referido Julgador, por sua vez, discordando do entendimento acima

mencionado, suscitou conflito de competência (fls. 56/62), já decidido pelo Tribunal

Pleno, no sentido de firmar a competência do órgão perante o qual atua este

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Magistrado (fls. 80/99), retornando o caderno processual, então, em 15 de maio de

2018 (fl. 100).

Em continuidade, porém, este Relator, em decisão monocrática,

determinou o encaminhamento dos autos à primeira instância, afastando a incidência

do foro por prerrogativa funcional, seguindo recente e paradigmática mudança de

entendimento das Cortes Superiores, considerando que os fatos objeto da Ação Penal

Originária em foco são alheios ao exercício do mandato de Deputado Estadual exercido

por um dos denunciados, consoante se observa às fls. 101/116.

Inconformada, entretanto, a Procuradoria Geral de Justiça do Estado da

Bahia interpôs Agravo Interno, aduzindo, em síntese, que cabe ao STF realizar o

controle de dispositivos da Constituição da República, sendo indevida a utilização do

princípio da simetria para estender o entendimento oriundo da QO nº 937 (que não

teria efeito erga omnes) a outras autoridades detentoras de foro especial, pois a Corte

Suprema se referiu apenas aos Congressistas Federais na hipótese respectiva,

ponderando, ainda, que não houve a formação de precedente vinculante e nem súmula

sedimentando o novo posicionamento.

Sustenta, assim, “a necessidade de pronunciamento prévio da Suprema

Corte, esclarecendo a extensão e os limites da decisão sobre o instituto, seja lhe

atribuindo repercussão geral, seja cristalizando o entendimento (…) mediante a edição

de verbete sumular” (sic) (fl. 129).

Aduz, outrossim, que a Corte Especial do STJ, decidiu, em sessão ocorrida

aos 06 de junho de 2018, que, “enquanto o órgão jurisdicional da Corte Cidadã não

julgar o mérito do tema, qual seja, as latitudes e longitudes da prerrogativa de foro,

não haveria qualquer alteração nas regras de competência” (sic) (fl. 129).

Mencionou, ainda, outra decisão do STF, que supostamente revelaria a

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inaplicabilidade da simetria entre os regimes parlamentares Federais e Estaduais (ADPF

497MC/RJ; ADI 5824).

Amparando-se, basicamente, nesses argumentos, pugna pela reforma da

decisão, com manutenção da prerrogativa funcional discutida.

Às fls. 138/144, o Agravado M. P. C. M, ocupante do cargo que justificaria

a prerrogativa funcional, rebateu os argumentos da Procuradoria Geral de Justiça,

concordando com a decisão monocrática ora atacada.

Feito o relatório, passa-se ao voto.

VOTO

Conhece-se do recurso, porque presentes os requisitos intrínsecos e

extrínsecos de admissibilidade.

Sem delongas, o exame acurado dos fólios permite concluir, de logo, o

absoluto descabimento da pretensão recursal, sendo inviável a retratação deste Relator

quanto à decisão monocrática de fls. 101/116.

Com efeito, o referido decisum teve por base recentes, relevantes e

paradigmáticos precedentes do STF e STJ quanto à matéria de fundo, que ocasionaram

uma importante mudança de entendimento quanto à aplicação da prerrogativa de foro,

irradiando efeitos, inevitavelmente, para todas as esferas de governo (Federal,

Estadual, Municipal e Distrital) e funções do Estado (Legislativo, Executivo e

Judiciário).

Para melhor compreensão da controvérsia estabelecida, colaciona-se a

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decisão atacada, que se torna parte integrante deste voto, na qual se expôs os

argumentos justificadores do encaminhamento do caderno processual à primeira

instância:

“ Ocorre, todavia, que em recente e relevante julgado, ocorrido

em 03 de maio de 2018, o Supremo Tribunal Federal, com razão,

relativizou a competência decorrente do foro por prerrogativa de

função, dando interpretação restritiva ao art. 102, I, b e c, da

CF/88, no sentido de somente admitir o processamento de

membros do Congresso Nacional pelo Pretório Excelso em caso de

delitos praticados durante os seus respectivos mandatos e

decorrentes de fatos relacionados ao exercício funcional.

Nessa linha, fixou-se, na oportunidade, em síntese, o

entendimento de que procedimentos criminais em trâmite

naquele Tribunal, cujos acusados fossem os membros do

Legislativo Federal, deveriam ser encaminhados à primeira

instância, caso as condutas apuradas tenham sido praticadas antes

da assunção do cargo público, ou não tenham com ele qualquer

ligação, salvo nas hipóteses em que a instrução processual já se

encontre encerrada. Por oportuno colaciona-se o Julgado

respectivo, exarado no âmbito de Questão de Ordem Suscitada na

Ação Penal nº 937, tendo como Relator o Ministro Luís Roberto

Barroso:

"EMENTA: DIREITO CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL

PENAL. QUESTÃO DE ORDEM EM AÇÃO PENAL.

LIMITAÇÃO DO FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO

AOS CRIMES PRATICADOS NO CARGO E EM RAZÃO DELE.

ESTABELECIMENTO DE MARCO TEMPORAL DE FIXAÇÃO

DE COMPETÊNCIA.

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I. Quanto ao sentido e alcance do foro por prerrogativa

1. O foro por prerrogativa de função, ou foro

privilegiado, na interpretação até aqui adotada pelo

Supremo Tribunal Federal, alcança todos os crimes de

que são acusados os agentes públicos previstos no art.

102, I, b e c da Constituição, inclusive os praticados

antes da investidura no cargo e os que não guardam

qualquer relação com o seu exercício.

2. Impõe-se, todavia, a alteração desta linha de

entendimento, para restringir o foro privilegiado aos

crimes praticados no cargo e em razão do cargo. É

que a prática atual não realiza adequadamente

princípios constitucionais estruturantes, como

igualdade e república, por impedir, em grande

número de casos, a responsabilização de agentes

públicos por crimes de naturezas diversas. Além

disso, a falta de efetividade mínima do sistema

penal, nesses casos, frustra valores constitucionais

importantes, como a probidade e a moralidade

administrativa. 3. Para assegurar que a prerrogativa

de foro sirva ao seu papel constitucional de garantir

o livre exercício das funções - e não ao fim ilegítimo

de assegurar impunidade - é indispensável que haja

relação de causalidade entre o crime imputado e o

exercício do cargo. A experiência e as estatísticas

revelam a manifesta disfuncionalidade do sistema,

causando indignação à sociedade e trazendo

desprestígio para o Supremo.

4. A orientação aqui preconizada encontra-se em

harmonia com diversos precedentes do STF. De fato,

o Tribunal adotou idêntica lógica ao condicionar a

imunidade parlamentar material - i.e., a que os

protege por suas opiniões, palavras e votos - à

exigência de que

a manifestação tivesse relação com o exercício do

mandato. Ademais, em inúmeros casos, o STF

realizou interpretação restritiva de suas

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competências constitucionais, para adequá-las às

suas finalidades. Precedentes.

II. Quanto ao momento da fixação definitiva da

competência do STF

5. A partir do final da instrução processual, com a

publicação do despacho de intimação para

apresentação de alegações finais, a competência

para processar e julgar ações penais - do STF ou de

qualquer outro órgão - não será mais afetada em

razão de o agente público vir a ocupar outro cargo

ou deixar o cargo que ocupava,

qualquer que seja o motivo. A jurisprudência desta

Corte admite a possibilidade de prorrogação de

competências constitucionais quando necessária

para preservar a efetividade e a racionalidade da

prestação jurisdicional. Precedentes.

III. Conclusão

6. Resolução da questão de ordem com a fixação das

seguintes teses: “(i) O foro por prerrogativa de

função aplica-se apenas aos crimes cometidos

durante o exercício do cargo e relacionados às

funções desempenhadas; e (ii) Após o final da

instrução processual, com a publicação do despacho

de intimação para apresentação de alegações finais,

a competência para processar e julgar ações penais

não será mais afetada em razão de o agente público

vir a ocupar cargo ou deixar o cargo que ocupava,

qualquer que seja o motivo”. 7. Aplicação da nova

linha interpretativa aos processos em curso.

Ressalva de todos os atos praticados e decisões

proferidas pelo STF e demais juízos com base na

jurisprudência anterior. 8. Como resultado,

determinação de baixa da ação penal ao Juízo da 256ª

Zona Eleitoral do Rio de Janeiro, em razão de o réu ter

renunciado ao cargo de Deputado Federal e tendo em

vista que a instrução processual já havia sido

finalizada perante a 1ª instância." (STF. Plenário. AP

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937 QO/RJ, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em

03/05/2018) (Grifos acrescidos).

Importa de logo registrar o acerto da

Suprema Corte ao readequar a interpretação relativa aos

dispositivos atinentes à prerrogativa funcional dos membros do

Congresso Nacional, pois compatibilizou o objetivo de tal garantia

com os primados democráticos e republicanos, afastando

indevidos privilégios atinentes a delitos que nada se relacionam ao

desempenho do cargo público respectivo.

Em verdade, já não era sem tempo a

modificação do panorama em questão, porquanto a garantia de

foro por prerrogativa funcional a detentores de cargos públicos em

razão de fatos anteriores ou não relacionados ao exercício

funcional não possuía nenhum sentido legítimo, do ponto de vista

jurídico-constitucional, gerando injusto tratamento desigual e

consequente indignação por parte da sociedade brasileira, sendo

utilizado, no mais das vezes, como instrumento de manobras

processuais para postergar e evitar eventual condenação criminal

por fatos absolutamente dissociados da função exercida.

Com efeito, a garantia em questão

somente se justifica para a preservação do desempenho dos

mandatos políticos e não como uma forma de indevido benefício

pessoal, de tal maneira que a prerrogativa ora discutida somente

deve ter lugar, reitere-se, no tocante a fatos oriundos do mister

público respectivo.

Necessário pontuar, por seu turno, que,

não obstante o STF tenha se referido especificamente aos

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membros do Congresso Nacional em razão do caso concreto então

apreciado, as razões que conduziram à mudança de entendimento

são extensíveis aos demais cargos políticos que possuem a mesma

prerrogativa, como corolário, dentre outros, dos princípios da

igualdade, razoabilidade e simetria. Inclusive, a tendência no

âmbito da Suprema Corte parece ser exatamente a de reconhecer

essa amplitude.

Não por outra razão, o Ministro do

Superior Tribunal de Justiça Luis Felipe Salomão, também de

forma acertada, proferiu, em 07 de maio de 2018, poucos dias

depois do julgado acima, decisão monocrática remetendo à

primeira instância ação penal originária, de sua relatoria, que tem

como acusado o Governador do Estado da Paraíba, pautado

exatamente na nova interpretação dada pelo STF, entendendo que

as razões que justificaram a decisão supramencionada deveria ser

estendidas às outras autoridades detentoras de mandatos eletivos

com foro por prerrogativa funcional junto ao Tribunal da

Cidadania. Por oportuno, transcreve-se:

“AÇÃO PENAL Nº 866 - DF (2013/0258052-5) (f)

RELATOR : MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃOAUTOR :

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL RÉU: RICARDO VIEIRA

COUTINHO ADVOGADO : SHEYNER YASBECK ASFORA -

PB011590

DECISÃO

1. Diante da recente e notória decisão do Plenário

do Supremo Tribunal Federal, ao julgar questão de

ordem na AP 937, da relatoria do Ministro Roberto

Barroso, conferindo nova e conforme interpretação

ao art. 102, I, b e c da CF, assentando a

competência da Corte Suprema para processar e

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julgar os membros do Congresso Nacional

exclusivamente quanto aos crimes praticados no

exercício e em razão da função pública, e que tem

efeitos prospectivos, em linha de princípio, ao

menos em relação às pessoas detentoras de mandato

eletivo com prerrogativa de foro perante este

Superior Tribunal de Justiça (CF, art. 105, I, "a"),

faz-se necessária igual observância da regra

constitucional a justificar eventual manutenção, ou

não, do trâmite processual da presente ação penal

perante a Corte Especial deste Tribunal Superior. O

voto condutor na questão de ordem suscitada pelo

eminente Relator no STF está assim ementado:

(...)

2. Assim, parece claro que o Excelso Pretório

decidiu que se faz necessária a adoção de

interpretação restritiva das competências

constitucionais, consoante precedentes recentes

daquela Suprema Corte. Nesse sentido, confira-se o

entendimento da maioria, cristalizado nas palavras

do eminente Relator, Ministro Roberto Barroso, in

verbis:

31. Ademais, não há qualquer impedimento para que o

Supremo Tribunal Federal interprete de forma

restritiva as normas constitucionais que instituem o

foro privilegiado. No caso, tais competências

constitucionais são sobreinclusivas, já que, ao

abrangerem a possibilidade de que autoridades sejam

processadas originariamente perante tribunais por

ilícitos inteiramente desvinculados de suas funções,

distanciam-se da finalidade que justificou a criação da

prerrogativa. Por isso, é possível fazer uma “redução

teleológica” das mesmas para que sejam interpretadas

como aplicáveis somente quanto aos crimes praticados

no cargo e em razão dele.

32. O foro especial está previsto em diversas

disposições da Carta de 1988. Vejamos alguns

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exemplos. O art. 102, I, 'b' e 'c', estabelece a

competência do STF para 'processar e julgar,

originariamente, (...) nas infrações penais comuns, o

Presidente da República, o Vice-Presidente, os

membros do Congresso Nacional, seus próprios

Ministros e o Procurador-Geral da República', bem

como #os Ministros de Estado e os Comandantes

Militares, os membros dos Tribunais Superiores, os

membros do Tribunal de Contas da União e os chefes

de missão diplomática de caráter permanente'. O art.

53, § 1º ainda determina que 'Os Deputados e

Senadores, desde a expedição do diploma, serão

submetidos a julgamento perante o Supremo Tribunal

Federal'. Já o art. 105, I, 'a', define a competência do

STJ para 'processar e julgar originariamente, nos

crimes comuns, os 'Governadores dos Estados e do

Distrito Federal', e, ainda, 'os desembargadores dos

Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal,

os membros dos Tribunais de Contas dos Estados e do

Distrito Federal, os dos Tribunais Regionais Federais,

dos Tribunais Regionais Eleitorais e do Trabalho, os

membros dos Conselhos ou

Tribunais de Contas dos Municípios e os do Ministério

Público da União que oficiem perante tribunais'. E o

art. 29, X, prevê 'o julgamento do Prefeito perante o

Tribunal de Justiça'. 33. Embora se viesse

interpretando a literalidade desse dispositivo no

sentido de que o foro privilegiado abrangeria todos os

crimes comuns, é possível e desejável atribuir ao texto

normativo acepção

mais restritiva, com base na teleologia do instituto e

nos demais elementos de interpretação constitucional.

Trata-se da chamada 'redução teleológica' ou, de

forma mais geral, da aplicação da técnica da

'dissociação', que consiste em reduzir o campo de

aplicação de uma disposição normativa a somente uma

ou algumas das situações de fato previstas por ela

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segundo uma interpretação literal, que se dá para

adequá-la à finalidade da norma. Nessa operação, o

intérprete identifica uma lacuna oculta (ou axiológica)

e a corrige mediante a inclusão de uma exceção não

explícita no enunciado normativo, mas extraída de sua

própria teleologia. Como resultado, a norma passa a se

aplicar apenas a parte dos fatos por ela regulados. A

extração de 'cláusulas de exceção' implícitas serve,

assim, para concretizar o fim e o sentido da norma e

do sistema normativo em geral. 34. Essa técnica não

constitui nenhuma novidade para o STF, que já

realizou, em diversas hipóteses, a interpretação

restritiva das competências previstas na Constituição

por meio da inclusão de cláusulas de exceção que

reduzem o seu alcance. Nesse sentido, a

jurisprudência do Tribunal tem enfatizado 'a

possibilidade de o Supremo Tribunal Federal, atuando

na condição de intérprete final da Constituição,

proceder à construção exegética do alcance e do

significado das cláusulas constitucionais que definem a

própria competência originária desta Corte' (ADI 2797).

Em verdade, quase nenhuma competência jurisdicional

prevista na Constituição permanece imune a

interpretações que limitem a abrangência que, prima

facie, parecem ter. Por exemplo, a Carta Magna prevê

que compete ao Supremo processar e julgar 'a ação

direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo

federal ou estadual# (art. 102, I, 'a'). Embora o

dispositivo não traga qualquer restrição temporal, o

STF consagrou entendimento de que não cabe ação

direta contra lei anterior à Constituição, porque,

ocorrendo incompatibilidade entre ato normativo

infraconstitucional e a Constituição superveniente,

fica

ele revogado (ADI 521, Rel. Min. Paulo Brossard, j.

07.02.1992). 35. Do mesmo modo, o Supremo definiu

que a competência para julgar 'as causas e os conflitos

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entre a União e os Estados# (CF, art. 102, I, 'f') não

abarca todo e qualquer conflito entre entes federados,

mas apenas aqueles capazes de afetar o pacto

federativo (ACO 359-QO; ACO 1048-QO; ACO 1295-AgR-

Segundo). Veja-se a respeito trecho da ementa de

julgamento da ACO 597-AgR (Rel. Min. Celso de Mello,

j.

03.10.2002): 'a jurisprudência da Corte traduz uma

audaciosa redução do alcance literal da alínea

questionada da sua competência original: cuida-se,

porém, de redução teleológica e sistematicamente

bem fundamentada, tão-manifesta, em causas como

esta, se mostra a ausência dos fatores determinantes

da excepcional competência originária do S.T.F. para o

deslinde jurisdicional dos conflitos federativos'.

36. A Constituição também atribui a esta Corte a

competência para julgar 'as ações contra o Conselho

Nacional de Justiça# (CF, art. 102, I, 'r'). Prima facie,

essa disposição se refere a todas as ações, sem

exclusão. No entanto, segundo a jurisprudência do

Tribunal, somente estão sujeitas a julgamento perante

o STF o mandado de segurança, o mandado de

injunção, o habeas data e o habeas corpus, pois

somente nessas situações o CNJ terá legitimidade

passiva ad causam (AO 1706 AgR). E mais: ainda

quando se trate de MS, o Supremo só reconhece sua

competência quando a ação se voltar contra ato

positivo do Conselho Nacional de Justiça (MS 27712; MS

28839 AgR). 37. Há, ainda, previsão constitucional de

julgamento pelo Supremo da

'ação em que todos os membros da magistratura sejam

direta ou indiretamente interessados, e aquela em que

mais da metade dos membros do tribunal de origem

estejam impedidos ou sejam direta ou indiretamente

interessados' (art. 102, I, 'n'). Em relação à primeira

parte do dispositivo, o STF entende que a competência

só se aplica quando a matéria versada na causa diz

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respeito a interesse privativo da magistratura, não

envolvendo interesses comuns a outros 18 servidores

(AO 468 QO). Em relação à segunda parte do preceito,

entende-se que o impedimento e a suspeição que

autorizam o julgamento de ação originária pelo STF

pressupõem a manifestação expressa dos membros do

Tribunal competente, em princípio, para o julgamento

da causa (MS 29342). 38. Em todos esses casos (e em

muitos outros), entendeu-se possível a redução

teleológica do escopo das competências originárias do

STF pela via interpretativa. E em nenhum deles a

adoção de interpretação mais abrangente implicaria

clara ofensa a preceitos fundamentais da Constituição,

como ocorre no presente caso. Afinal, se o STF

reconhecesse o cabimento de MS perante a Corte

contra ato negativo do CNJ (como o fez inicialmente),

não haveria, de plano, violação a qualquer princípio ou

valor constitucional. Diversamente, em relação à

competência criminal originária, a adoção de

interpretação ampliativa põe em risco os princípios da

igualdade e da república.

É, no mínimo, incoerente que o Supremo adote um

parâmetro geral de interpretação restritiva de suas

competências, mas não o aplique justamente para as

competências que instituem o foro por prerrogativa de

função, que são as que têm maior potencial para

ofender princípios estruturantes da ordem

constitucional. 39. Portanto, a interpretação restritiva

proposta é a interpretação mais adequada da

Constituição e está em linha com diversos precedentes

do STF.

3. De outra parte, pelo princípio da simetria, os

Estados são obrigados a se organizarem de forma

simétrica à prevista para a União. Afinal, de acordo

com o art. 25, caput, da CF/1988, "os Estados

organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis

que adotarem, observados os princípios desta

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Constituição". A jurisprudência da Corte

Constitucional sempre conferiu grande relevância ao

princípio da simetria. Confiram-se (...)

Assim, o princípio da simetria informa a

interpretação de qualquer regra que envolva o pacto

federativo no Brasil.

4. No caso em exame, é ação penal na qual foi

ofertada denúncia em face de RICARDO VIEIRA

COUTINHO, atual Governador do Estado da Paraíba,

pela suposta prática de 12 (doze) crimes de

responsabilidade de prefeitos (art. 1º, inciso XIII, do

DL 201/67), decorrente da nomeação e admissão de

servidores contra expressa

disposição de lei, ocorridos entre 01.01.2010 e

01.02.2010, quando o denunciado exercia o cargo

de Prefeito Municipal de João Pessoa/PB, ou seja,

delitos que, em tese, não guardam relação com o

exercício, tampouco teriam sido praticados em

razão da função pública atualmente exercida pelo

denunciado como Governador. Nessa conformidade,

reconhecida a inaplicabilidade da regra

constitucional de prerrogativa de foro ao presente

caso, por aplicação do princípio da simetria e em

consonância com a decisão da Suprema Corte antes

referida, determino a remessa dos autos ao

Egrégio Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba,

para distribuição a uma das Varas Criminais da

Capital, e posterior prosseguimento da presente

ação penal perante o juízo competente. A remessa

dos autos só deverá ocorrer após o trânsito em

julgado desta decisão. Ciência ao Ministério Público e

à Defesa. Publique-se e intimem-se. Brasília (DF), 07

de maio de 2018. MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO

Relator” (AÇÃO PENAL Nº 866 - DF

(2013/0258052-5)Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO,

08/05/2018) (Grifos acrescidos)

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Fixadas tais premissas, imperioso

reconhecer que a mesma lógica se irradia para as hipóteses de

autoridades detentoras de mandato eletivo com prerrogativa

funcional junto ao Tribunal de Justiça, porquanto, reitere-se, as

razões que justificaram as decisões da Suprema Corte, bem assim

do Tribunal da Cidadania, são obviamente extensíveis a todas as

esferas de governo, porquanto objetivam, conforme já dito, o

afastamento de um reprovável privilégio quanto ao processamento

de crimes sem qualquer vinculação com a função pública exercida,

em completo desrespeito para com o cidadão comum,

contrariando a lógica republicana.

Assim, concordando integralmente com

as fundamentações exaradas pelo plenário do STF, como também

pelo Ministro Luis Felipe Salomão, entende este Julgador ser

impositivo, no âmbito deste Egrégio Tribunal de Justiça, a remessa

das ações penais originárias relativas a detentores de mandatos

eletivos, quando os fatos apurados tenham sido cometidos antes

da assunção do cargo ou, ainda que após esse marco, não possuam

nenhuma relação com a função pública exercida, salvo quando já

encerrada a instrução, entendido tal termo como sendo a

intimação das partes para apresentação de alegações finas.

No presente caso, por seu turno, a ação

penal foi proposta junto à segunda instância considerando que um

dos denunciados exerce atualmente o mandado de Deputado

Estadual, possuindo, segundo mandamento Constitucional, foro

por prerrogativa funcional perante o Tribunal de Justiça do

respectivo Estado.

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Não obstante isso, a análise do conteúdo

narrado na denúncia permite concluir, com segurança, que a

suposta ação criminosa não detêm nenhuma relação com o

desempenho do mandato eletivo em questão.

Com efeito, relata o Ministério Público

que o referido Deputado Estadual, juntamento ao segundo

denunciado, procedeu a inserção de informações falsas em Atas da

Assembleia Geral da ASPRA (Associação de Policiais e Bombeiros e

de Seus Familiares do Estado da Bahia), na condição de diretor e

ex-coordenador-geral da referida associação. A fim de se afastar

dúvidas, necessária parcial transcrição da exordial:

“(...) Do exame dos elementos que instruem o

presente Procedimento Investigatório Criminal, se

verifica que a prática criminosa era estruturada da

seguinte maneira: M. P. C. M, ora denunciado, atual

Deputado Estadual e diretor e ex-coordenador-geral da

ASPRA, à época dos fatos, desde que assumiu o antigo

mandato de vereador deste Município, em março de

2013, determinava que seu assessor parlamentar, à

época, J. R. A. S, produzisse, com antecedência, as

atas de assembleia geral da respectiva Associação,

com a prévia indicação dos nomes e cargos que seriam

'eleitos'.

Ainda por determinação de M. P. C. M, o

Edital para realização das referidas assembleias eram

publicados no jornal Tribuna da Bahia, de menor

circulação e, portanto, com menor alcance na

mencionada associação, a fim de assegurar que a sua

empreitada criminosa obtivesse êxito, o que, de fato,

vinha ocorrendo.

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Mais especificamente, no que tange a ata

de assembleia geral do dia 23 de novembro de 2014,

acostada às fls. 26/31 do presente expediente,

destinada a 'exoneração, renúncia e posse' não foi

diferente. Com efeito, tal assembleia, presidida por F.

S. B, então diretor coordenador-geral da ASPRA,

acompanhado por P. H. P. S, então diretor secretário-

geral da ASPRA, também denunciado, não ocorreu.

É dizer, de acordo com o citado modus

operandi, o mencionado assessor parlamentar de M. P.

C. M, J. R., por sua determinação, a redigiu desde o

mês de outubro de 2014, fazendo constar, ainda, todos

os nomes que seriam destituídos, bem como aqueles

que seriam empossados.

Mas não é só. As respectivas assinaturas

contidas na lista de 'presença' da citada assembleia

geral de 23/11/2014 também foram manipuladas. Os

nomes que ali constam foram retirados,

aleatoriamente, de atas antigas que o próprio M. P. C.

M. fornecia, sendo que as assinaturas dos diretores

eram colhidas posteriormente à confecção da ata.

Ainda nesse contexto, importante

registrar que foi inserido na lista de presença, de

maneira fraudulenta, sem estar presente à assembleia,

entre outros, o nome do SD PM M. B. S. S, visto que

desde agosto de 2014 se encontrava preso

preventivamente no 15º Batalhão, sediado em

Itabuna/BA. Ademais, a destituição do SD PM J. L. F.

C. do cargo de Coordenador de Comunicação e

Imprensa, sob o fundamento de que não estava

'desenvolvendo a função para a qual foi eleito', contida

na referida ata, de igual modo, não passa de uma

manipulação. A bem da verdade, o mencionado

Policial Militar já havia solicitado a renúncia do cargo,

pois não concordava com as práticas da diretoria da

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ASPRA, conforme se verifica da fl. 78 do aludido

expediente.

Constata-se, ainda, a mesma prática

criminosa na ata de assembleia geral para 'destituição,

renúncia, eleição, posse e mudança de endereço', do

dia 20 de março de 2015, a qual, inclusive, elegeu M.

P. C. M para o cargo de Coordenador-Geral da referida

associação. Tal assembleia, também presidida e

secretariada pelos denunciados F. S. B. e P. H. P. S,

respectivamente, da mesma forma não o correu. M. P.

C. M, mais uma vez, determinou ao seu referido

assessor que preparasse a ata com antecedência,

entregando-lhe todos os nomes que seriam destituídos

bem como os que seriam investidos nos cargos.

Nessa esteira de intelecção, se observa

que os três denunciados, em comum acordo, atuaram

para 'inserir declaração falsa ou diversa da que deveria

ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar

obrigação e alterar a verdade sobre fato juridicamente

relevante.” (Denúncia de fls. 02/08) (Nomes

abreviados)

Como se observa, a denúncia refere-se a

supostos falsos relacionados à gestão da associação de classe antes

mencionada, mas não indica, minimamente, atuação atrelada ao

desempenho do mandato parlamentar baiano, do qual é titular um

dos denunciados.

Por tal razão, não se justifica a

incidência da prerrogativa funcional prevista na Constituição da

República, bem assim Estadual, nos termos do entendimento antes

explanado, razão pela qual, alternativa não resta senão o

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encaminhamento do caderno processual à primeira instância.

Ante o exposto, reconhecida a

inaplicabilidade do foro por prerrogativa funcional, determina-se a

remessa dos autos ao setor competente, a fim de que proceda à

distribuição do feito junto a uma das varas criminais desta Capital,

já que os fatos constantes da exordial aparentemente teriam

ocorrido em Salvador-BA, pelo que se extrai dos elementos

colacionados ao caderno processual.

O cumprimento da presente ordem,

porém, somente deve sobrevir após o trânsito em julgado desta

decisão. (…)” (Decisão Monocrática de fls. 101/116;

18.05.2018; Desembargador Relator: Julio Cezar Lemos Travessa).

A decisão acima transcrita, como visto, tomou por base o que restou

sedimentado pelo Supremo Tribunal Federal na Questão de Ordem Suscitada na Ação

Penal nº 937, tendo como Relator o Ministro Luiz Roberto Barroso, cujo caso fático

envolvia um membro do Legislativo Federal, bem assim subsequente decisão

monocrática do Ministro Luis Felipe Salomão, do Colendo STJ, que envolvia um

Governador de Estado.

Veja-se, todavia, que a alteração de entendimento extraída de tais casos

não se restringiu, de forma alguma, aos cargos públicos específicos tratados nos

respectivos processos, mas sim ao instituto do foro por prerrogativa funcional como um

todo, assentando-se que sua incidência seria indevido privilégio nas hipóteses de

delitos praticados em momento anterior ao exercício funcional, bem assim quando não

guardassem relação com as atribuições inerentes ao cargo.

Em verdade, manter a regra da prerrogativa funcional nos moldes que

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vinha sendo adotada até os dias de hoje se revela um verdadeiro contrassenso, que

privilegia indevidamente os detentores de determinados cargos públicos, no tocante a

fatos anteriores e/ou alheios ao desempenho de tais funções, o que, obviamente, não

possui sentido republicano legítimo.

Assim, por consequência lógica, como também para manutenção da

coerência do sistema jurídico como um todo, é óbvio, data venia, que tal interpretação

deve incidir quanto a todos os cargos que detenham a prerrogativa funcional discutida.

Aliás, parece ser essa a tendência inafastável a partir do paradigma

estabelecido pelo STF. Não por outra razão, após a fixação do entendimento da

Questão de Ordem mencionada, como também da própria decisão do STJ antes citada,

mais algumas sobrevieram no mesmo sentido, envolvendo outras autoridades públicas,

confirmando o entendimento aqui aplicado.

Inclusive, no âmbito da Questão de Ordem no Inq. 4.703/DF (caso que

envolvia o Ministro Blairo Maggi), julgada em 12/06/2018 pela Primeira Turma do STF,

tendo como Relator o Eminente Min. Luiz Fux, reiterou-se o entendimento

manifestado no caso guia, QO na AP 937/RJ, estendendo-o a outras autoridades

públicas, além dos membros do Congresso Nacional, e deixando transparecer que essa

será a lógica para todos que detenham a prerrogativa discutida, julgado este que

revela a inevitável tendência de aplicação desse novo posicionamento, aos poucos,

para qualquer cargo público que esteja em tal circunstância, o que muito fragiliza, diga-

se de passagem, a própria argumentação trazida nas razões recursais (que foram

apresentadas antes da decisão supra, em 08.06.2018), cujo enfoque, dentre outros

pontos, foi exatamente o fato da decisão anterior (oriunda da QO na AP 937/RJ) não

ter realizado tal extensão.

Ainda mais recentemente (em 20.06.2018), a Corte Especial do Superior

Tribunal de Justiça, seguindo a mesma linha do STF, como também da decisão

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monocrática do Ministro Luis Felipe Salomão, decidiu por aplicar a restrição do foro

especial a Governadores e Conselheiros dos Tribunais de Contas dos Estados,

oportunidade em que se assentou, inclusive, que caberia ao STJ definir tal questão no

tocante às autoridades detentoras de prerrogativa funcional junto a tal corte, não

sendo necessário aguardar uma definição do STF. Nesse sentido, transcreve-se o

conteúdo da certidão de julgamento da QO na AP nº 857/DF, de relatoria do Ministro

Mauro Campbell Martques:

“(...) Certifico que a egrégia CORTE ESPECIAL, ao apreciar o processo em

epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:

Prosseguindo no julgamento, após o voto-vista do Sr. Ministro Felix Fischer

acompanhando a divergência, os votos da Sra. Ministra Nancy Andrighi e dos

Srs. Ministros Humberto Martins, Herman Benjamin e Jorge Mussi, no mesmo

sentido, a retificação de voto do Sr. Ministro Relator no sentido de que a

competência penal originária do Superior Tribunal de Justiça em relação a

todas as autoridades listadas no art. 105 da Constituição é restrita aos

delitos praticados no período em que o agente ocupa a função e deve ter

relação intrínseca às atribuições exercidas e estabelecendo, ainda, outras

premissas, segundo o entendimento do Supremo Tribunal Federal, bem como

determinando a imediata remessa dos autos à Primeira Instância, no que foi

A informação disponível não será considerada para fins de contagem de prazos

recursais (Ato nº 135 - Art. 6º e Ato nº 172 - Art. 5º) Página 1 de 2 Superior

Tribunal de Justiça acompanhado pelo Sr. Ministro Og Fernandes, a Corte

Especial, por maioria, entendeu, preliminarmente, que cabe ao STJ

interpretar a sua competência constitucional, e, no caso concreto, por

unanimidade, determinou a baixa dos autos ao juízo de primeiro grau.

Lavrará o acórdão o Sr. Ministro João Otávio de Noronha. Votaram com o Sr.

Ministro João Otávio de Noronha os Srs. Ministros Maria Thereza de Assis Moura,

Luis Felipe Salomão, Felix Fischer, Nancy Andrighi, Humberto Martins, Herman

Benjamin e Jorge Mussi. Vencidos, parcialmente, os Srs. Ministros Relator e Og

Fernandes. Impedido o Sr. Ministro Benedito Gonçalves. Ausentes,

justificadamente, os Srs. Ministros Francisco Falcão, Napoleão Nunes Maia Filho

e Raul Araújo. (...)” (QO na APn 857 / DF) (Grifos acrescidos).

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A referida decisão faz cair por terra mais um dos argumentos trazidos nas

razões recursais, já que lá a Procuradoria Geral de Justiça baiana ponderou que se

deveria aguardar uma decisão da Corte Especial do STJ, sendo exatamente o que

ocorreu na hipótese acima.

Reitere-se, portanto, que a tendência é, de fato, a aplicação do

entendimento discutido para todas as hipóteses de prerrogativa funcional, até mesmo a

fim de que seja mantida a coerência do sistema jurídico, pois não há nenhum sentido

em dar tratamento diverso a autoridades que estão em semelhante situação em suas

respectivas esferas de governo e funções do Estado.

Nessa linha, salvo melhor Juízo, é imperioso reconhecer que a mesma

lógica adotada pelas instâncias Superiores se irradia para as hipóteses de autoridades

detentoras de mandato eletivo com prerrogativa funcional junto aos Tribunais de

Justiça e TRFs, porquanto, como visto, as razões que justificaram as decisões da

Suprema Corte, bem assim do Tribunal da Cidadania, são obviamente extensíveis a

todos os cargos detentores do foro especial, porquanto objetiva, como já dito, o

afastamento de um reprovável privilégio quanto ao processamento de crimes sem

qualquer vinculação com a função pública exercida, em completo desrespeito para com

o cidadão comum, contrariando a lógica republicana.

Outrossim, na mesma esteira do que entendeu o STJ, cabe aos membros

deste Tribunal de Justiça interpretar as regras relativas às prerrogativas funcionais das

autoridades locais, no que se insere, por exemplo, os Prefeitos Municipais e os

Deputados Estaduais.

Até mesmo porque não seria razoável que os Juízes e Tribunais de todo o

país aguardassem a definição pela Suprema Corte de todas as variáveis possíveis quanto

ao tema (como parecer pretender a Procuradoria Geral de Justiça do Estado da Bahia),

relacionadas às mais diversas autoridades públicas, omitindo-se em relação à questão

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de fundo, diante do surgimento de situação peculiar, e simplesmente mantendo a

prerrogativa funcional como um privilégio indevido, quando já há elementos

suficientes, por intermédio da tese fixada pela Suprema Corte e seguida pelo Tribunal

da Cidadania, para se examinar qualquer caso concreto, bastando se valer dos

mecanismos de interpretação constantes do sistema jurídico, cotejando a hipótese

fática com os paradigmas inicialmente estabelecidos na Questão de Ordem Suscitada na

Ação Penal nº 937.

Diga-se, outrossim, que embora as decisões mencionadas ainda não

constituam precedentes vinculantes, como sustenta a Procuradoria Geral de Justiça

baiano, podem e devem pautar os órgãos julgadores, dada a sua importância prática e

a necessidade de manutenção de um sistema jurídico coeso e coerente, não sendo

razoável, portanto, que seja dado tratamento diverso a situações bastante semelhantes

nas distintas esferas de governo, conforme já mencionado parágrafos acima.

Ademais, o Agravante busca, fragilmente, afastar a aplicação do princípio

da simetria na hipótese dos fólios, colacionando em suas razões trecho de acórdão do

STF que, além de ser anterior à mudança de entendimento ora discutida, trata de

situação jurídica totalmente alheia à presente (relacionada à possibilidade de controle

por parte do legislativo quanto à imposição de medidas cautelares penais aos seus

membros), logo, sem qualquer relevância, in casu.

Chama atenção, outrossim, a postura manifestamente contraditória da

Procuradoria Geral de Justiça do Ministério Público do Estado da Bahia, que vem

apresentando pronunciamentos processuais diametralmente opostos acerca do tema,

desde que houve a mudança de entendimento multicitada.

Com efeito, com a decisão paradigma do STF, este Relator, respeitando o

acertado posicionamento da Corte Suprema, cuidou de encaminhar à primeira instância

todas as Ações Penais Originárias em trâmite no gabinete criminal perante o qual atua,

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cujos fatos apurados fossem anteriores ao exercício do mandato eletivo respectivo, ou

não detivessem relação com ele.

Em duas das referidas demandas, APO nº 0024741-70.2015.8.05.0000 e

APO nº 0024099-29.2017.8.05.0000 - que tramitam na Segunda Câmara Criminal,

considerando que os então detentores da prerrogativa funcional exercem cargos de

Prefeito em Municípios do interior baiano – os denunciados interpuseram Agravo

Interno para atacar justamente as decisões declinatórias da competência, semelhantes

à dos presentes autos, de modo que a Procuradoria Geral de Justiça do Ministério

Público do Estado da Bahia, em sede de contrarrazões, em ambas as situações,

concordou integralmente com o posicionamento deste Desembargador. Por oportuno

transcreve-se alguns trechos das referidas manifestações processuais:

“(...) Lastreado em nova interpretação quanto ao alcance do foro por

prerrogativa de função garantido no art. 102, I, b e c da CF/88, emitida por

quem tem a função de interpretar a Constituição (STF), não resta alternativa

que não aquiescer e adequar as regras previstas nas constituições estaduais para

se adequar à novel interpretação. Caso contrário, o nosso sistema jurídico

viraria uma balburdia com consequente colapso.

Entendendo assim, tanto STF como o STJ, dando nova interpretação ao

privilegio de foro, entenderam que os crimes comuns alheios ao exercício do

mandato, devam ser julgados e processados perante o Juízo de Primeiro Grau

por não guardar qualquer relação com o norte que justifica o foro privilegiado,

que visa garantir o exercício do mandato.

Tanto é assim que o Tribunal da Cidadania (STJ), ao cuidar da matéria em ação

penal sob sua responsabilidade, assim decidiu (…)

Como restou demonstrado, não se trata de decisão isolada da Corte

Constitucional como pretende fazer crer o Agravante. Esse é o norte

estabelecido (relativização do foro especial por prerrogativa de função), e

que vai predominar doravante, aproximando direitos e garantias entre todos

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os cidadãos, como professa a nossa Carta Magna.

Ante o exposto, pugna-se pelo IMPROVIMENTO do Agravo Regimental

matendo-se o julgado exarado, uma vez que a decisão monocrática

impugnada encontra-se em consonância com as normas legais e

jurisprudência pátria (...)” (Contrarrazões de fls. 601/609, apresentadas em

25.06.2018, autos nº 0024741-70.2015.8.05.0000) (Grifos acrescidos)

“(...) Lastreado em nova interpretação quanto ao alcance do foro por

prerrogativa de função garantido no art. 102, I, b e c da CF/88, emitida por

quem tem a função de interpretar a Constituição (STF), não resta alternativa

que não aquiescer e adequar as regras previstas nas constituições estaduais para

se adequar à novel interpretação. Caso contrário, o nosso sistema jurídico

viraria uma balburdia com consequente colapso.

Entendendo assim, tanto STF como o STJ, dando nova interpretação ao

privilegio de foro, entenderam que os crimes comuns alheios ao exercício do

mandato, devam ser julgados e processados perante o Juízo de Primeiro Grau

por não guardar qualquer relação com o norte que justifica o foro privilegiado,

que visa garantir o exercício do mandato.

Tanto é assim que o Tribunal da Cidadania (STJ), ao cuidar da matéria em ação

penal sob sua responsabilidade, assim decidiu (…)

Como restou demonstrado, não se trata de decisão isolada da Corte

Constitucional como pretende fazer crer o Agravante. Esse é o norte

estabelecido (relativização do foro especial por prerrogativa de função), e

que vai predominar doravante, aproximando direitos e garantias entre todos

os cidadãos, como professa a nossa Carta Magna.

Ante o exposto, pugna-se pelo IMPROVIMENTO do Agravo Regimental

matendo-se o julgado exarado, uma vez que a decisão monocrática

impugnada encontra-se em consonância com as normas legais e

jurisprudência pátria (...)” (Contrarrazões de fls. 336/344, apresentadas em

20.06.2018, autos nº 0024099-29.2017.8.05.0000) (Grifos acrescidos).

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Estranhamente, por outro lado, a mesma Procuradoria-Geral de Justiça do

Ministério Público baiano manejou o Agravo Interno nestes autos, apresentando razões

totalmente divergentes do conteúdo das contrarrazões dos recursos indicados no

parágrafo anterior, conforme já visto nas próprias explanações feitas anteriormente.

Agiu do mesmo modo, segundo chegou ao conhecimento deste Julgador,

ao se manifestar, quando instado, nos autos da APO nº 0001760-57.2009.8.05.0000,

oriunda da Primeira Câmara Criminal desta Corte, de Relatoria do Eminente

Desembargador Nilson Soares Castelo Branco.

Daí a afirmação da manifesta contradição do órgão de cúpula do Parquet

baiano.

Ora, como é possível que em processos que possuem a mesma discussão

fático-jurídica de fundo, que tramitam de forma concomitante, possa o mesmo Órgão

do Ministério Público (Procuradoria Geral de Justiça) apresentar posições totalmente

antagônicas em intervalo de tempo tão reduzido (menos de 20 – vinte – dias entre as

manifestações)?

Fica a dúvida, nessa linha, do porquê se dar um tratamento aos Prefeitos

dos dois Agravos Internos em que a Procuradoria Geral de Justiça concordou com este

Julgador e outro ao Deputado Estadual que figura como Agravado nestes fólios, se a

situação fático-jurídica é a mesma. Obviamente, tal postura contraria a necessária

isonomia, mandamento constitucional impositivo no sistema jurídico pátrio.

Indaga-se, assim, qual é, afinal, a posição da Procuradoria Geral de

Justiça do MP-BA acerca do tema, uma vez que não se pode admitir, até mesmo em

respeito à boa fé processual, que veda a adoção de comportamentos contraditórios,

uma atuação tão incongruente de um mesmo Órgão do Ministério Público baiano em

situações extremamente semelhantes.

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Diga-se, para afastar eventuais dúvidas, que nem mesmo o princípio da

independência funcional legitima a postura ora questionada, isso porque o referido

postulado normativo, de grande relevo, busca possibilitar que os membros do Ministério

Público desempenhem as suas funções de forma autônoma, devendo respeito tão só ao

ordenamento jurídico, desvinculados de pressões externas ou ingerências da própria

instituição, nada impedindo, assim, que membros ministeriais distintos possuam

posições jurídicas diversas.

Não se trata, porém, de um “cheque em branco”, a permitir que um

mesmo Órgão do Ministério Público passe a se manifestar de forma totalmente

diferente e aleatória em casos juridicamente semelhantes, em curtíssimo intervalo de

tempo, sem fazer qualquer ressalva acerca de eventual mudança de entendimento, até

mesmo em respeito à segurança jurídica que é esperada na atuação de todos os órgãos

componentes do sistema de Justiça.

Admitir isso, seria o mesmo que permitir – guardadas as devidas

proporções -, sob semelhante fundamento, que um mesmo Magistrado prolatasse

sentenças distintas em situações fático-jurídicas semelhante, em processos em trâmite

de forma concomitante, desrespeitando a isonomia e privilegiando a arbitrariedade e a

insegurança jurídica.

Veja-se, assim, que a atuação contraditória do Recorrente (Procuradoria

Geral de Justiça do MP-BA), só faz enaltecer a fragilidade dos argumentos que o

referido Órgão levanta em suas razões, corroborando todo o raciocínio que vem sendo

sustentado por este Julgador.

Do mesmo modo, não se poderia deixar de tecer considerações acerca das

subjetivas e desarrazoadas especulações trazidas pela multicitada Procuradoria Geral

de Justiça do Parquet baiano, quanto às supostas consequências práticas relacionadas à

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restrição da prerrogativa funcional, quando exarou sua manifestação nos autos da Ação

Penal Originária nº 0001760-57.2009.8.05.0000 (em trâmite na Primeira Câmara

Criminal), antes mencionada, conforme chegou ao conhecimento deste

Desembargador.

Naqueles autos, a Procuradoria Geral de Justiça assim se manifestou:

“(...) Ora, na experiência profissional desse subscritor, que há mais de 23 (vinte e três) anos integra o Ministério Público baiano e há 09 (nove) trabalha, exclusivamente, com questões atinentes ao foro especial alusivo aos prefeitos, com mais 6 (seis) colegas, todos com carreiras mais que vintenárias, por delegação do Procurador-Geral de Justiça, além de uma equipe de 8 (oito) servidores, cobrindo os 417 (quatrocentos e dezessete) município do Estado da Bahia, percebe-se, infelizmente, que os juízes e promotores de primeiro grau, de um modo geral, não dão seguimento aos processos que envolvam autoridades locais, como no caso de ex-prefeitos.

Importante destacar que esses feitos, quando não ficam paralisados anos, têm um andamento meramente protocolar, resultando na extinção da punibilidade pelo decurso do tempo ou absolvição por deficit probatório. Quando ocorre o acionado se reeleger, percebe-se que em muitas situações, os únicos despacho/manifestação proferidos é remessa dos autos ao TJ/BA, STJ ou STF, conforme o novo cargo do interessado. O Ministério Público já pugnou pela extinção de ações penais originárias em virtude dessa situação, não sendo o caso citar os envolvidos, até porque não se visa criticar o trabalho alheio, mas trazer à realidade as mazelas do sistema, que por vezes funciona na base da transferência de responsabilidades/encargos, apenas, sem ataque às causas dos problemas.

(...)

Raros juízes, presidentes natos dos processos, deixarão de instruir e de solucionar miríades de pretensões mais simples, também importantes, que engessam as estatísticas de produtividade e de metas estabelecidas pelos órgãos cúpula e correicionais, para se debruçarem sobre questões que envolvam autoridades ou ex-mandatários e daí condená-los. Com o Ministério Público a situação é similar, considerado como Órgão promotor da ação penal pública por ser o detentor, por excelência do munus acusatório. Dá para citar nos dedos as exceções a essas regras. (…) (Manifestação da Procuradoria Geral de Justiça do MP-BA nos autos nº 00001760-57.2009.8.05.0000)” (Grifos acrescidos).

De logo, é necessário registrar, com a devida venia ao Ministério Público

do Estado da Bahia, que o debate do tema em exame não pode ter como foco

afirmações subjetivas, generalizantes e até ofensivas, pautadas na opinião e suposta

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experiência pessoal isolada de alguns membros ministeriais, sem embasamento

concreto acerca do que ocorrerá com a alteração de entendimento em questão.

É inviável prever, no cenário atual, o resultado prático da relativização

examinada, não sendo razoável generalizar os juízes e promotores com atuação na

primeira instância, afirmando que estes não dão o devido andamento a feitos criminais

dessa magnitude, como fez a Procuradoria Geral de Justiça no referido processo,

conforme se pôde observar do trecho acima transcrito.

Em verdade, causa até espanto o que fora dito pela Procuradoria Geral de

Justiça do Estado da Bahia, pois, desarrazoadamente, ataca a atuação de toda a

Magistratura de primeiro grau, como também dos seus próprios membros, afirmando

que estes negligenciam o regular prosseguimento de feitos relacionados a autoridades

públicas, deixando de praticar atos de ofício, como se não detivessem compromisso

institucional, pautando-se em verdadeira argumentação apelativa, ofensiva e

empiricamente frágil, para minar uma mudança de posicionamento louvável, que

deveria, no entendimento deste Magistrado, ser aplaudida por todos os juristas com

compromisso democrático e republicano.

É certo, por seu turno, que existem profissionais descomprometidos nas

mais diversas áreas públicas e privadas, o que não exclui a Magistratura e o Ministério

Público. Por outro lado, a experiência revela que em tais carreiras esse número não é

expressivo. Ao revés, os Juízes de Direito e Promotores de Justiça tem demonstrado

afinco em garantir a efetividade e celeridade dos feitos, diante de todas as

dificuldades práticas que lhes são impostas, sendo absurdo, para não dizer vergonhoso,

que o órgão de cúpula do Parquet baiano manifeste, de forma insubsistente, suposto

despreparo e negligência dos órgãos de primeira instância em lidar com tais demandas,

insinuando que não proporcionam o devido andamento processual, ou seja, que deixam

de praticar atos inerentes às suas funções institucionais.

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Inclusive, recente relatório do Justiça em Números, divulgada pelo

Conselho Nacional de Justiça em 27 de agosto de 2018, indicou ter o TJ-BA alcançado o

1º lugar dentre os Tribunais Estaduais de médio porte do país em produtividade

(ficando à frete dos TJs do MT, MA, DFT, ES, SC, GO, CE, PE e PA) demonstrando que,

mesmo com todas as dificuldades estruturais e orçamentárias, o sistema de Justiça

baiano tem se esforçado e logrado êxito em promover uma tutela jurisdicional célere e

efetiva (relatório acessível no endereço eletrônico http://www.cnj.jus.br/).

Note-se, ainda, que o mesmo relatório apontou que o índice de

produtividade do Primeiro Grau do TJ-BA (tão criticado pela Procuradoria Geral de

Justiça do MP-BA, na oportunidade acima mencionada) foi de 100%, ficando acima da

média dos Tribunais Estaduais do país, que foi de 87%.

Tais dados são mais uma evidência da fragilidade das ofensivas

insinuações em foco.

Por seu turno, a partir da mudança de entendimento ora discutida, o

Juízo natural para o exame de questões dessa natureza passou a ser, e não poderia ser

diferente, a primeira instância, cabendo ao Judiciário, e ao próprio Ministério Público

baiano, fazer valer tal norma de viés constitucional, que encontra, inclusive, similar no

âmbito do Parquet, porquanto deve este atuar, também, através dos seus Promotores

naturais. Na hipótese, aqueles que oficiam no primeiro grau.

Ademais, ainda que se tomasse como verdadeira a falaciosa premissa de

que em primeiro grau a ausência de estrutura dificultaria o trâmite processual, é

perceptível que em segunda instância ele também possui muitos empecilhos. Não é a

toa que os processos originários se alongam, muitas vezes, por anos, pelas mais diversas

razões, sendo relativamente comum a ocorrência de prescrições de crimes ou o

julgamento de ações somente após muitos anos de sua instauração, sem contar a

tímida atuação da Procuradoria Geral de Justiça na ações relativas a delitos de

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competência originária do Tribunal Pleno, o que pode ser facilmente constatado por

intermédio das atas das sessões do órgão de cúpula desta corte.

Outrossim, é natural que em órgãos colegiados, compostos por diversos

julgadores, as ações tenham uma maior delonga temporal, considerando o

estabelecimento do debate (saudável e democrático), que acarreta, comumente,

pedidos de vista, o que é obviamente legítimo, mas que, inevitavelmente, termina por

prologar algumas demandas.

Ou seja, de um modo ou de outro, não há como negar que a tramitação

de ações penais originárias relacionadas a fatos não afetos ao desempenho funcional se

torna um verdadeiro privilégio, violador da isonomia para com os cidadãos comuns,

uma vez que os réus de tais demandas, além de contarem com um maior número de

Magistrados para exame da sua questão, terminam por conseguir prolongar ainda mais a

ação, até mesmo, infelizmente, com manobras processuais defensivas das mais diversas

ordens.

Logo, se por um lado o primeiro grau, em tese, teria menos estrutura para

enfrentar ações dessa natureza, como pretende fazer crer o Parquet baiano, por outro,

esta instância possibilita maiores artifícios processuais capazes de estender a marcha

da demanda.

Ou seja, de forma inevitável, em ambas as instâncias existirão problemas

práticos no deslinde dos feitos. Assim, definitivamente, salvo melhor juízo, não são tais

hipotéticas questões práticas que devem pautar a definição do tema em exame, mas

sim as premissas jurídicas que justificam a excepcional prerrogativa, em respeito à já

citada isonomia, bem assim ao princípio Republicano.

Outrossim, ainda que se venha a constatar, com o tempo, ser, de fato,

deficitária a estrutura da instância ordinária para processamento de tais causas, como

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sustenta a Procuradoria Geral de Justiça do Estado da Bahia, o correto será a busca por

munir os Juízes de Direito, Promotores de Justiça e demais operadores do sistema de

Justiça de instrumentos que possibilitem a mudança de tal panorama e não

simplesmente, por tal razão, beneficiar os acusados respectivos com um privilégio não

conferido ao restante da população.

Aliás, a busca por uma melhor estruturação do Primeiro Grau de

Jurisdição, ao menos no que diz respeito ao Poder Judiciário especificamente, já vem

sendo eficientemente implementada pelo atual Presidente desta Egrégia Corte de

Justiça, o Eminente Desembargador Gesivaldo Nascimento Britto, com a adoção de

diversas medidas para o alcance desse fim, a exemplo da formação de comissão e

contratação da banca examinadora para a realização do concurso para Juízes de

Direito, merecendo sua postura os devidos elogios.

Ademais, além do encaminhamento dos autos ser a medida mais acertada

em razão do novo entendimento seguido, é certo que traz também alguns benefícios

processuais para os próprios acusados, uma vez que terminam por ter a possibilidade de

exame de provas em duas instâncias, já que, havendo condenação, poderão obter a

reapreciação do material produzido em segundo grau, o que não ocorre nas demandas

penais originárias, já que os recursos contra decisões nela adotadas segue às instâncias

extraordinárias, em que a discussão restringe-se a matéria de direito.

Em verdade, a tentativa da Procuradoria Geral de Justiça, órgão de

cúpula do Ministério Público do Estado da Bahia, de manter sob seu leque de

atribuições a deflagração de ações penais contra autoridades públicas, mais parece,

com a devida venia, simples pretensão de manutenção do poder acusatório que possui

atualmente, em nada benéfica à busca de Justiça neste Estado.

De mais a mais, como defensor do regime democrático e da coerência do

sistema jurídico, deveria o Ministério Público baiano, especialmente o seu órgão de

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cúpula, buscar efetivar a mudança de entendimento multicitado, dando o devido

tratamento isonômico às autoridades das diversas instâncias, diante de um

posicionamento que restou consolidado junto ao mais importante órgão do Judiciário

brasileiro e que, inevitavelmente, repercutirá, mais cedo ou mais tarde, em todas as

esferas de governo.

Diante de todas as colocações acima, é induvidosa, salvo melhor juízo, a

necessidade de aplicação do novo entendimento dos Tribunais Superiores aos casos de

foro por prerrogativa funcional julgado por esta Corte de Justiça, de modo a afastar a

sua incidência em situações anteriores e/ou alheias ao exercício do cargo público

detentor do foro especial.

É exatamente a hipótese fática dos autos, uma vez que a análise do

conteúdo narrado na vestibular da Ação Penal permite concluir, com segurança, que a

suposta ação criminosa não detêm nenhuma relação com o desempenho do mandato

eletivo de Deputado Estadual, exercido atualmente por um dos denunciados em

questão.

Com efeito, relata o Ministério Público que o referido Deputado Estadual,

juntamente ao segundo denunciado, procedeu a inserção de informações falsas em Atas

da Assembleia Geral da ASPRA (Associação de Policiais e Bombeiros e de Seus

Familiares do Estado da Bahia), na condição de diretor e ex-coordenador-geral da

referida associação. A fim de se afastar dúvidas, necessária parcial transcrição da

exordial:

“(...) Do exame dos elementos que instruem o presente Procedimento Investigatório Criminal, se verifica que a prática criminosa era estruturada da seguinte maneira: M. P. C. M, ora denunciado, atual Deputado Estadual e diretor e ex-coordenador-geral da ASPRA, à época dos fatos, desde que assumiu o antigo mandato de vereador deste Município, em março de 2013, determinava que seu assessor parlamentar, à época, J. R. A. S, produzisse, com antecedência, as atas de assembleia geral da respectiva Associação, com a prévia indicação dos nomes e cargos que seriam 'eleitos'.

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Ainda por determinação de M. P. C. M, o Edital para realização das referidas assembleias eram publicados no jornal Tribuna da Bahia, de menor circulação e, portanto, com menor alcance na mencionada associação, a fim de assegurar que a sua empreitada criminosa obtivesse êxito, o que, de fato, vinha ocorrendo.

Mais especificamente, no que tange a ata de assembleia geral do dia 23 de novembro de 2014, acostada às fls. 26/31 do presente expediente, destinada a 'exoneração, renúncia e posse' não foi diferente. Com efeito, tal assembleia, presidida por F. S. B, então diretor coordenador-geral da ASPRA, acompanhado por P. H. P. S, então diretor secretário-geral da ASPRA, também denunciado, não ocorreu.

É dizer, de acordo com o citado modus operandi, o mencionado assessor parlamentar de M. P. C. M, J. R., por sua determinação, a redigiu desde o mês de outubro de 2014, fazendo constar, ainda, todos os nomes que seriam destituídos, bem como aqueles que seriam empossados.

Mas não é só. As respectivas assinaturas contidas na lista de 'presença' da citada assembleia geral de 23/11/2014 também foram manipuladas. Os nomes que ali constam foram retirados, aleatoriamente, de atas antigas que o próprio M. P. C. M. fornecia, sendo que as assinaturas dos diretores eram colhidas posteriormente à confecção da ata.

Ainda nesse contexto, importante registrar que foi inserido na lista de presença, de maneira fraudulenta, sem estar presente à assembleia, entre outros, o nome do SD PM M. B. S. S, visto que desde agosto de 2014 se encontrava preso preventivamente no 15º Batalhão, sediado em Itabuna/BA. Ademais, a destituição do SD PM J. L. F. C. do cargo de Coordenador de Comunicação e Imprensa, sob o fundamento de que não estava 'desenvolvendo a função para a qual foi eleito', contida na referida ata, de igual modo, não passa de uma manipulação. A bem da verdade, o mencionado Policial Militar já havia solicitado a renúncia do cargo, pois não concordava com as práticas da diretoria da ASPRA, conforme se verifica da fl. 78 do aludido expediente.

Constata-se, ainda, a mesma prática criminosa na ata de assembleia geral para 'destituição, renúncia, eleição, posse e mudança de endereço', do dia 20 de março de 2015, a qual, inclusive, elegeu M. P. C. M para o cargo de Coordenador-Geral da referida associação. Tal assembleia, também presidida e secretariada pelos denunciados F. S. B. e P. H. P. S, respectivamente, da mesma forma não o correu. M. P. C. M, mais uma vez, determinou ao seu referido assessor que preparasse a ata com antecedência, entregando-lhe todos os nomes que seriam destituídos bem como os que seriam investidos nos cargos.

Nessa esteira de intelecção, se observa que os três denunciados, em comum acordo, atuaram para 'inserir declaração falsa ou diversa da que deveria ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação e alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante.” (Denúncia de fls. 02/08) (Nomes abreviados)

Como se observa, a denúncia refere-se a supostos falsos relacionados à

gestão da associação de classe antes mencionada, mas não indica, minimamente,

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Page 36: 1 PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA TRIBUNAL DE JUSTIÇA … · 2019-12-13 · PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA TRIBUNAL DE JUSTIÇA Tribunal Pleno 3 Agravo Interno nº 0000166-90.2018.8.05.0000/50000

PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA

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Agravo Interno nº 0000166-90.2018.8.05.0000/50000

atuação atrelada ao desempenho do mandato parlamentar baiano, do qual é titular um

dos denunciados.

Aponte-se, por fim, que o feito ainda se encontra em fase inicial, não

incidindo a exceção estabelecida pela Suprema Corte, qual seja, as hipóteses em que

já houve a publicação do despacho de intimação para apresentação de alegações finais.

Destarte, alternativa não resta senão reconhecer o acerto da decisão

monocrática atacada, não merecendo acolhida a pretensão recursal.

Ante todo o exposto, vota-se pelo CONHECIMENTO e NÃO PROVIMENTO

deste Agravo Interno, devendo a demanda penal em questão ser efetivamente

encaminhada ao Primeiro Grau, pelas razões fáticas e jurídicas acima expostas.

Ademais, encaminhe-se esta sugestão de voto à AMPEB e à AMAB, a fim

de que tomem conhecimento das ofensivas manifestação exaradas pela

Procuradoria Geral do Ministério Público do Estado da Bahia nos autos da APO nº

0001760-57.2009.8.05.0000, em desfavor dos Juízes de Direito e Promotores de

Justiça do Estado da Bahia.

Salvador-BA, 10 de outubro de 2018.

Desembargador GESIVALDO BRITTO

PRESIDENTE

Desembargador JULIO CEZAR LEMOS TRAVESSA

RELATOR

PROCURADOR(A) DE JUSTIÇA

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