1. natureza, importÂncia e finalidades de...

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INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO Profa. Ma. Caroline Vargas Barbosa [email protected] 1. NATUREZA, IMPORTÂNCIA E FINALIDADES DE IED Com as discussões trazidas em sala e as noções preliminares de hermenêutica (interpretação) e históricas nós podemos concluir que a Natureza (Conceito) do Direito é amplo abarcando um conjunto de regras obrigatórias que garante a convivência social estabelecendo limites às ações de cada um dos seus membros que corresponde a fatos sociais, gerando obrigações e deveres para uma convivência ordenada de direção e solidariedade. Essas regras de comportamento “direito” quem o faz está agindo de forma correta, lícita (de acordo com a lei), que não o faz age “torto”, em desacordo com as convenções sociais (conceito de Contrato Social - Rosseau- que já trabalhamos). Só podemos falar de “experiência jurídica” onde e quando se formam relações entre os homens, por isso denominadas relações intersubjetivas, por envolverem sempre dois ou mais sujeitos. O Direito é um fenômeno social; não existe senão na sociedade e não pode ser concebido fora dela. Vimos que a histórica nos mostrou que o homem criou o Direito e a noção de Estado mas sem propor um significado lógico ou moral. Somente com o amadurecimento da civilização que as regras jurídicas adquirem estrutura e valores próprios que independem de questões religiosas (embora possam ter) ou costumeiras carecendo de estudos autônomos. Assim temos a importância 1 da Introdução ao Estudo ao Direito: Introduzir a disciplina significa apresentar os parâmetros necessários para que você comece a jornada de aprofundamento do Direito. Para tanto, precisamos conhecer noções gerais do Direito, de norma, de valor, de moral, princípios, discursos de linguagem e interpretações (hermenêutica) necessária para a formação ampla do profissional. No que se refere a finalidade da disciplina de IED temos um sistema de conhecimentos, recebidos de múltiplas fontes de informação, destinado a oferecer os elementos essenciais ao estudo do Direito com uma visão preliminar das partes que o compõem e de sua complementaridade, bem como de sua situação na história da cultura caracterizando um Eixo de Formação Fundamental. Os conteúdos mínimos do eixo de formação profissional, ao prepararem o estudante para aprender sempre mais, deverão, para além do enfoque dogmático, preocupar-se em estimular o discente a conhecer e aplicar o Direito, com rigorosidade metódica e adequada interlocução com os conteúdos de formação fundamental. Nesse sentido, o eixo de formação profissional deve apresentar, ao menos, as matérias que se encontram abaixo 1 O MEC estabeleceu diretrizes aos cursos de Direito. As diretrizes curriculares do curso de Graduação em Direito, elaboradas por força da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996), a partir das indicações fornecidas pelo Parecer no 776/97 da Câmara de Educação Superior (CES) do Conselho Nacional de Educação (CNE) e pelo Edital no 4/97 da SESu/MEC, sistematizam, com base na Portaria no 1.886, de 30 de dezembro de 1994 prevendo o ensino de Introdução ao Estudo do Direito como um eixo de formação fundamental.

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INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO

Profa. Ma. Caroline Vargas Barbosa [email protected]

1. NATUREZA, IMPORTÂNCIA E FINALIDADES DE IED

Com as discussões trazidas em sala e as noções preliminares de hermenêutica

(interpretação) e históricas nós podemos concluir que a Natureza (Conceito) do Direito é amplo

abarcando um conjunto de regras obrigatórias que garante a convivência social estabelecendo

limites às ações de cada um dos seus membros que corresponde a fatos sociais, gerando obrigações

e deveres para uma convivência ordenada de direção e solidariedade. Essas regras de

comportamento “direito” quem o faz está agindo de forma correta, lícita (de acordo com a lei), que

não o faz age “torto”, em desacordo com as convenções sociais (conceito de Contrato Social -

Rosseau- que já trabalhamos). Só podemos falar de “experiência jurídica” onde e quando se

formam relações entre os homens, por isso denominadas relações intersubjetivas, por envolverem

sempre dois ou mais sujeitos. O Direito é um fenômeno social; não existe senão na sociedade e não

pode ser concebido fora dela.

Vimos que a histórica nos mostrou que o homem criou o Direito e a noção de Estado

mas sem propor um significado lógico ou moral. Somente com o amadurecimento da civilização

que as regras jurídicas adquirem estrutura e valores próprios que independem de questões religiosas

(embora possam ter) ou costumeiras carecendo de estudos autônomos.

Assim temos a importância1 da Introdução ao Estudo ao Direito: Introduzir a disciplina

significa apresentar os parâmetros necessários para que você comece a jornada de aprofundamento

do Direito. Para tanto, precisamos conhecer noções gerais do Direito, de norma, de valor, de moral,

princípios, discursos de linguagem e interpretações (hermenêutica) necessária para a formação

ampla do profissional.

No que se refere a finalidade da disciplina de IED temos um sistema de conhecimentos,

recebidos de múltiplas fontes de informação, destinado a oferecer os elementos essenciais ao estudo

do Direito com uma visão preliminar das partes que o compõem e de sua complementaridade, bem

como de sua situação na história da cultura caracterizando um Eixo de Formação Fundamental.

Os conteúdos mínimos do eixo de formação profissional, ao prepararem o estudante para aprender sempre mais, deverão, para além do enfoque dogmático, preocupar-se em estimular o discente a conhecer e aplicar o Direito, com rigorosidade metódica e adequada interlocução com os conteúdos de formação fundamental. Nesse sentido, o eixo de formação profissional deve apresentar, ao menos, as matérias que se encontram abaixo

1 O MEC estabeleceu diretrizes aos cursos de Direito. As diretrizes curriculares do curso de Graduação em Direito, elaboradas por força da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996), a partir das indicações fornecidas pelo Parecer no 776/97 da Câmara de Educação Superior (CES) do Conselho Nacional de Educação (CNE) e pelo Edital no 4/97 da SESu/MEC, sistematizam, com base na Portaria no 1.886, de 30 de dezembro de 1994 prevendo o ensino de Introdução ao Estudo do Direito como um eixo de formação fundamental.

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listadas, enfatizando-se que não se trata de uma enumeração exaustiva, com outras podendo ser incorporadas em função da proposta pedagógica do curso.

2. CONTEÚDO DA DISCIPLINA

Propicia uma adaptação do leigo ao mundo jurídico, de forma a conciliar os

conhecimentos por ele já sabidos, com os outros que acaba de se deparar. Importante papel também

reside na simplificação de conceitos e situações inusitadas, que poderiam trazer certas dificuldades

à compreensão e formação de uma identidade e consciência jurídica. As bases de um raciocínio

jurídico são construídas nesse estágio. Ainda, oferece ao leigo uma visão global de todo o conteúdo

existente na área do Direito, e tal visão certamente nunca poderia ser obtida através do estudo

isolado de certas disciplinas.

3. O DIREITO COMO CIÊNCIA

Discutimos anteriormente se o Direito pode ser considerado ciência. Vamos aprofundar

o assunto.

Primeiro, partimos da ideia de “Conhecer”. Conhecer algo é trazer para o sujeito algo

que se põe como objeto de estudo. Então para conhecer o Direito, precisamos delimitar o objeto.

Assim, o objeto do Direito além das normas são as relações sociais que determinam ou carecem de

normas. A pessoa que investiga esse objeto chamamos de Cognoscente que é um adjetivo que

qualifica a pessoa que busca ou toma o conhecimento sobre algo. Assim temos uma tríade (três)

elementos fundamentais:

a) o sujeito: Na acepção jurídica, pessoa é o ente físico ou moral, suscetível de direitos e obrigações. b) O objeto: as normas e relações sociais c) O cognoscente: aquele que busca entender e aplicar as teorias necessárias para investigação daquela situação.

Segundo, vamos analisar o que é ciência. Ciência vem do vocábulo saber e no sentido

filosófico um complexo de conhecimentos, certos, ordenados e conexos entre si. A ciência,

portanto, é constituída de um conjunto de enunciados que tem por escopo a transmissão adequada

de informações verídicas sobre o que existe, existirá ou existiu. Logo, o conhecimento científico é

aquele que procura dar às suas constatações um caráter estritamente descritivo, genérico,

comprovado e sistematizado.

A ciência não é algo de saber vulgar! O que repetidamente iremos chamar de senso

comum. A ciência carece de fundamentação, argumentação, demonstração e deve ser vista de forma

sistematizada. A sistematicidade é o principal argumento para afirmar a cientificidade.

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Conhecimento Vulgar Conhecimento Científico Origem no cotidiano espontâneo, sem método

específico Adota metodologia

Pode até ser correto, mas não adota a prova Busca a verdade, a certeza Não esquematizado Passível de esquematização

Casual Causal Aleatório, fortuito Forma regras a partir de casos particulares

Terceiro, a ciência precisa de métodos. O método é a garantia de veracidade de um

conhecimento. Método é a direção ordenada do pensamento na elaboração da ciência. Logo, a

ciência requer uma atividade ordenada segundo princípios próprios e regras peculiares. Trata-se de

uma guia de investigação científica. Não se confunde método com técnica. Método é um conjunto

de princípios de avaliação da evidencia. Técnica é um conjunto de instrumentos, variáveis conforme

objeto e temas. Tércio Sampaio Ferraz Junior explica que as ciências se dividem em naturais e

humanas. As naturais se destinam a estudar fenômenos da natureza. E as humanas, acresce às

primeiras no que se refere ao ato de compreender fenômenos humanos os valorando. Logo, a

ciência humana é explicativa e compreensiva à medida que se reconhece a conduta humana; não

tem apenas sentido que lhe damos mas também o sentido que ela própria se dá; exige um método

próprio que faz repousar na sua validade.

Quarto, a investigação científica não indica que seja autossuficiente e completa, ainda

mais com objetos que andam em constante transformação.

Quinto, a fundamentação pode ser filosófica. A qual chamamos de epistemologia.

Nenhuma ramo da ciência pode viver sem filosofia, porque é nela que o cientista vai buscar linhas

mestras que orientam e norteiam o saber científico.

Temos então um novo conceito: ONTOLOGIA JURÍDICA: A ontologia jurídica, então, é a parte da Filosofia do Direito que tem, entre

outras funções, a de determinar o conteúdo do direito, fazendo conhecer seu objeto e por fim

possibilitando a determinação de seu conceito e posterior definição.

O conhecimento jurídico supõe a determinação do conceito do Direito. O conceito tem a

função lógica de um “a priori”, é um esquema prévio, um ponto de vista anterior, munido do qual o

pensamento se dirige à realidade, desprezando seus vários setores e somente ficando aquele que

corresponde às linhas ideias delineadas pelo conceito. Sendo esse conceito um suposto da ciência

jurídica, ela jamais poderá determiná-lo. Trata-se de um problema supracientífico ou jusfilosófico,

pois a questão do “ser” do direito constitui campo próprio das indagações da ontologia jurídica.

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Assim, a palavra Direito não é unívoca nem equívoca, mas designa realidades conexas

ou relacionadas entre si. Trata-se de uma ciência singular, eclética de constante inquietude ante ao

problemático. Sendo necessário que o cognoscente trace um caminho que possibilite-o a criar

analises consistentes ao seu objeto. Dentre as quais, destacam-se: a) historicidade, b) concepção

analítica reduzindo a atividade a uma condição do direito à lógica; c) a que tenta um relacionamento

do direito com as condições empíricas2 a ela subjacentes3, na busca do de estruturas funcionais.

Nesse viés, temos alguns adeptos do ceticismo científico-jurídico, o direito é

insuscetível de conhecimento de ordem sistemática, afirmando com isso que a ciência jurídica

não é, na realidade, uma ciência, baseados na tese de que o seu objeto (o direito) modifica-se n

tempo e no espaço, essa mutabilidade impede ao jurista a exatidão na construção científica, ao

passo que o naturalista tem diante de si um objeto permanente ou invariável, que lhe permite

fazer longas verificações, experiência e corrigir os erros que, porventura, tiver cometido.

Outros, no entanto, constituem a Jurisprudência como ciência. A jurisprudência

possui caráter científico, por se tratar de conhecimento sistemático, metodicamente obtido e

demonstrado, dirigido a um objeto determinado, que é separado por abstração dos demais

fenômenos.

3.1 Metodologia jurídica

O método indicará o caminho a ser percorrido pelo cientista para se chegar a um

determinado fim (uma verdade), enquanto que a técnica será a forma utilizada para percorrer este

caminho. O método indica "o que fazer" e a técnica indica "como fazer". O problema central da

metodologia jurídica é a escolha do procedimento lógico (o método) adequado para o conhecimento

do direito, ou seja, o conhecimento jurídico resulta do método empregado. As diversas teorias que

buscaram, e ainda buscam, explicar o Direito, apresentam cada qual a sua visão de qual seria o

método ideal a ser aplicado à ciência do Direito. Estudaremos os principais métodos aplicáveis ao

direito durante os trabalhos com as teorias do Direito.

Para a próxima aula pesquise os conceitos e diferenças entre: Direito, dever, norma, valor, moral,

interesse social e justiça.

2 Que se pauta ou resulta da experiência: pesquisa empírica. Desenvolvido a partir da prática, da observação, por oposição à teoria. 3 que não se manifesta claramente, ficando encoberto ou implícito