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10 1 INTRODUÇÃO A partir de 2001 e até o final do governo George W. Bush em 2008, a política externa dos Estados Unidos (EUA) foi marcada por ações principalmente a intervenção no Afeganistão e a invasão do Iraque que se mostraram custosas, tanto em número de mortes, quanto aos gastos do tesouro americano, provocando uma forte crítica e impopularidade de G. W. Bush e dos Estados Unidos na maior parte do mundo. Com a vitória nas eleições presidenciais de 2008, Barack Obama deu inicio à sua gestão, em 2009, com um discurso e algumas ações que pareciam sinalizar mudanças significativas na política externa do país, com ênfase no diálogo com países aliados e inimigos e respeito às Organizações Internacionais (OIs), como a Organização das Nações Unidas (ONU), em contraste com a política externa de G. W. Bush. No entanto, durante sua primeira gestão, algumas ações da política externa de Obama pareciam dar continuidade às políticas de G. W. Bush. O presente estudo propõe comparar a política de segurança na política externa dos EUA referente à primeira gestão de Obama com a política externa de G. W. Bush no período 2001 a 2008, para compreender as semelhanças e diferenças destes governos e, por fim, identificar até que ponto houve mudanças ou continuidade destas políticas. Com relação à justificativa de escolher esse tema, ao considerar a posição dos EUA como a principal potência militar, político e econômico na atualidade, é importante para tentar compreender a transição da linha de pensamento político do país e como isso afeta o sistema internacional como um todo. O problema de pesquisa do presente trabalho é verificar se a política de smart power do governo de Barack Obama, no período de 2009 a 2012, teve mais elementos de mudanças ou de continuidade da política externa estadunidense. A hipótese é que a política de smart power de Obama representou mudança significativa na política externa de segurança dos Estados Unidos, em comparação com a política externa do governo de G. W. Bush. Este trabalho tem como objetivo principal verificar até que ponto a política de smart power do Presidente Barack Obama, no período de 2009 a 2012, representou mudança significativa ou continuidade em relação ao governo do ex-presidente, George W. Bush, no período 2001 a 2008. O foco será a relação da política externa dos dois governos, em particular políticas de segurança, com o sistema internacional. Embora a política doméstica tivesse muita

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10

1 INTRODUÇÃO

A partir de 2001 e até o final do governo George W. Bush em 2008, a política externa dos

Estados Unidos (EUA) foi marcada por ações – principalmente a intervenção no Afeganistão

e a invasão do Iraque – que se mostraram custosas, tanto em número de mortes, quanto aos

gastos do tesouro americano, provocando uma forte crítica e impopularidade de G. W. Bush e

dos Estados Unidos na maior parte do mundo. Com a vitória nas eleições presidenciais de

2008, Barack Obama deu inicio à sua gestão, em 2009, com um discurso e algumas ações que

pareciam sinalizar mudanças significativas na política externa do país, com ênfase no diálogo

com países aliados e inimigos e respeito às Organizações Internacionais (OIs), como a

Organização das Nações Unidas (ONU), em contraste com a política externa de G. W. Bush.

No entanto, durante sua primeira gestão, algumas ações da política externa de Obama

pareciam dar continuidade às políticas de G. W. Bush. O presente estudo propõe comparar a

política de segurança na política externa dos EUA referente à primeira gestão de Obama com

a política externa de G. W. Bush no período 2001 a 2008, para compreender as semelhanças e

diferenças destes governos e, por fim, identificar até que ponto houve mudanças ou

continuidade destas políticas.

Com relação à justificativa de escolher esse tema, ao considerar a posição dos EUA como a

principal potência militar, político e econômico na atualidade, é importante para tentar

compreender a transição da linha de pensamento político do país e como isso afeta o sistema

internacional como um todo.

O problema de pesquisa do presente trabalho é verificar se a política de smart power do

governo de Barack Obama, no período de 2009 a 2012, teve mais elementos de mudanças ou

de continuidade da política externa estadunidense. A hipótese é que a política de smart power

de Obama representou mudança significativa na política externa de segurança dos Estados

Unidos, em comparação com a política externa do governo de G. W. Bush.

Este trabalho tem como objetivo principal verificar até que ponto a política de smart power do

Presidente Barack Obama, no período de 2009 a 2012, representou mudança significativa ou

continuidade em relação ao governo do ex-presidente, George W. Bush, no período 2001 a

2008. O foco será a relação da política externa dos dois governos, em particular políticas de

segurança, com o sistema internacional. Embora a política doméstica tivesse muita

11

importância na formulação da política externa dos dois governos, a delimitação do problema

de pesquisa do presente trabalho não permite uma discussão detalhada desse assunto.

Os objetivos específicos visam: contextualizar e descrever os conceitos de

neoconservadorismo, unilateralismo, multilateralismo, soft power, hard power e smart power

dos governos G. W. Bush e Obama; descrever e analisar as principais políticas de segurança

na política externa do governo Bush; descrever e analisar as principais políticas de segurança

na política externa do primeiro mandato do governo Obama; fazer uma comparação e análise

dos dois governos, com base nos conceitos citados, para verificar até que ponto a política

externa de Obama demonstrou mudança significativa.

Para analisar semelhanças e diferenças entre os governos de G. W. Bush e Obama, e

determinar se houve mudança significativa na política externa de Obama, em relação ao

governo G. W. Bush, foi adotado a análise comparativa. Inicialmente, foram consultados

textos e periódicos da internet referentes ao governo G. W. Bush, 2001-2009, publicados por

autores importantes e da área de Relações Internacionais que trazem abordagens do tema.

Para compreender essas políticas, foram consultados, também, livros e artigos de teóricos

conceituados que escrevem sobre a ideologia do neoconservadorismo, a estratégia do

unilateralismo e a tomada de ação baseada no conceito de hard power. Com relação à política

externa de Obama, encontrou-se na literatura referências à estratégia de multilateralismo,

abordagens de mudança e continuidade no contexto dos governos G. W. Bush e Obama;

conceitos de soft power e smart power. Optou-se por utilizar essas estratégias, abordagens

teóricas e conceitos como parâmetros para comparar e analisar a política externa dos dois

governos. Para facilitar a comparação da política externa de G. W. Bush e Obama, será usada

uma tabela que identifica as convergências e divergências. O trabalho terá as seguintes

divisões: antecedentes a política de segurança na política externa dos governos George W.

Bush e Barack Obama; política de segurança na política externa do governo G. W. Bush,

2001-2008; política de segurança na política externa do governo Obama, 2009-2012;

comparação e análise da política externa dos governos G. W. Bush, 2001-2008 e Obama, 2009

a 2012; e, por fim, conclusão.

12

2 ANTECEDENTES À POLÍTICA EXTERNA (NA ÁREA DE SEGURANÇA) DOS

GOVERNOS GEORGE W. BUSH E BARACK OBAMA

Para compreender a política externa do governo George W. Bush e o primeiro mandato de

Barack Obama, no que diz respeito à segurança é importante apontar algumas tradições

históricas da política externa do país, alguns antecedentes do contexto político e algumas

linhas de pensamento de importantes tomadores de decisão das políticas. Referência às

tradições históricas, antecedentes e linhas de pensamento serão importantes para identificar

elementos nas políticas externas de G. W. Bush e Obama que tem constituído certa

continuidade com essas tradições para contextualizar a análise comparativa, no item 5 das

convergências e divergências entre as políticas externas dos dois presidentes; e para

identificar elementos de continuidade e mudança da política externa de Obama em relação ao

governo Bush.

A hegemonia americana na atualidade tem origens no expansionismo1 e imperialismo dos

Estados Unidos no século XIX e início do século XX (RAPPAPORT, 1966, p. 55-84, 118-

168)2. O uso – ou ameaça para usar – intervenção por meio de força policial ou militar foi

adotado na política externa por vários presidentes, por exemplo, pelos Presidentes McKinley,

na Guerra com Espanha sobre Cuba, em 1898, e Theodore Roosevelt, na primeira década do

século XX, para fazer valer a política externa imperialista do país.

Já no período 1914 a 1920, o crescimento da influência dos Estados Unidos no mundo ficou

evidente na política externa do Presidente Woodrow Wilson referente ao período da Primeira

Guerra Mundial, inicialmente a neutralidade dos EUA, depois a entrada dos EUA na Guerra e,

após o final da Guerra, nas negociações da paz. Pecequilo (2003, p. 6-9) considera que o

Wilsonianismo é uma das mais importantes tradições na política externa americana porque

[...] trabalha com a ideia de sistematização ativa de todas as outras tradições,

1 Vários historiadores, incluindo Weinberg (1963) e Merk (1963) têm usado o termo manifest destiny (destino

manifesto) para sintetizar a ideologia que explicava e frequentemente justificava o expansionismo desse período. 2 Rappaport inclui cópia de documentos históricos que ilustram essas políticas: expansionismo é caracterizado

por políticas que incluem a Anexação de Texas (1845), o Tratado de Oregon (1846) e o Tratado de Paz com México (1848); imperialismo é ilustrado em documentos dos períodos 1881-1900 e 1903-1915, por exemplo: a

Mensagem do Presidente McKinley referente à Guerra com Espanha no caso de Cuba (1898); o Tratado de Paz

com Espanha (1898); Tratados com Cuba (1903) e Panamá (1903) e nos discursos do Presidente Theodore

Roosevelt, em 1904 e 1905 em que a Doutrina Monroe é citada como fundamento e justificativa para o uso de

força policial e militar para proteger interesses dos Estados Unidos (RAPPAPORT, 1966, p. 55-84, 118-168).

13

democracia, expansão, segurança, isolamento, unilateralismo, de maneira ativa e

lançando isso para uma ação direta dos Estados Unidos [...], já como maior potência

do mundo, vão assumir a tarefa de construção desse mundo [...] que seria disseminar

a democracia, disseminar a liberdade e disseminar o comércio livre a partir da sua

ação (PECEQUILO, 2003, p. 9).

No período de 1914 a 1917, a política externa dos Estados Unidos diante da Primeira Guerra

Mundial foi de uma expressa neutralidade e o Presidente Wilson falava de uma paz sem

vitória. Os Catorze Pontos (Fourteen Points) citados em discurso, no dia 8 de Janeiro de

1918, especificaram os princípios para embasar uma paz duradoura e se tornou a base legal

para as negociações de paz. No entanto, o que foi visto por autores incluindo Birdsall (1941)

como idealismo e busca de justiça, outros autores têm sido bastante crítico, por exemplo, ao

analisar Wilson, por um lado, como idealista e bem intencionado, porém, por outro lado, com

“pensamento e temperamento essencialmente teológico, não intelectual” (KEYNES, 1920, p.

223); Keynes argumenta que os Catorze Pontos foram baseados na visão de Wilson de

moralidade internacional; que Wilson não compreendeu a gama de interesses políticos e

econômicos dos aliados antes e após a guerra, e não teve as habilidades políticas de

negociação para evitar a imposição de uma paz que humilhou os alemães e, assim, plantou as

sementes para o surgimento do nazismo e a Segunda Guerra Mundial (KEYNES, 1920).

Foge do presente trabalho uma discussão detalhada do chamado idealismo wilsoniano ou

Wilsonianismo e do papel de Wilson na criação da Liga das Nações, mas vale a pena, destacar

a relevância das políticas associadas com Wilson para as tradições ideológicas na política

externa americana, em particular, disseminação da democracia, da liberdade e do livre

comércio e a crença que os EUA é um país moral, que poderia construir uma nova ordem

mundial com base em princípios de justiça. Quando Wilson fracassou ao não convencer o

congresso americano a aprovar a entrada dos Estados Unidos na Liga, iniciou-se um período

de isolamento na política externa americana. Em 1941 os Estados Unidos entraram na

Segunda Guerra Mundial, na presidência de Franklin Roosevelt, com uma visão multilateral

(PECEQUILO, 2003, p. 9).

Em 1947, a Doutrina Truman3 anunciou uma política de contenção do comunismo. O Plano

3 Harry S. Truman: foi o 33º Presidente dos Estados Unidos pelo partido Democrata (1945-1952) e destacou-se

pela reorientação da política externa estadunidense que ficou conhecida como Doutrina Truman. Para maiores

detalhes, veja: http://history.state.gov/milestones/1945-1952/TrumanDoctrine;

14

Marshall4 de assistência econômica para Europa buscou reconstruir a economia europeia,

tendo como finalidade, como a Doutrina Truman, proteger os países do avanço do comunismo

da União Soviética (MCGLINCHEY, 2009).

Na década de 1960, a política externa dos governos de John F. Kennedy e Lyndon Johnson,

em particular no hemisfério ocidental, foi influenciada pela Doutrina Truman, de contenção

do comunismo e, também, pela Doutrina Monroe5, no sentido de que os EUA justificava-se

intervir em países da América Central e América do Sul para proteger de avanços dos países

da Europa. A invasão fracassada na Baía dos Porcos, de Cuba, em 1961, lembra o período de

imperialismo dos EUA no hemisfério ocidental nas primeiras décadas do século XX.

Com o fracasso do governo Johnson na Guerra do Vietnã e a população americana dividida,

Richard Nixon, do Partido Republicano, ganhou a eleição para Presidente em 1968. Nixon

adotou uma política doméstica oposta à engenharia social da Great Society, de Johnson.

Nixon e seu assessor para segurança na política externa, Henry Kissinger, aplicaram uma

política externa formada pela linha de pensamento realista. Mas também, na década de 1970,

as ideias e os princípios do neoconservadorismo estavam ganhando mais apoio entre um

grupo de intelectuais e políticos influentes do partido Republicano. Segundo Fukuyama,

[...] as raízes do neoconservadorismo estão num grupo impressionante de

intelectuais judeus, alunos da City College of New York (CCNY), em meados a final

da década de 1930 e início da década de 1940, grupo que incluiu Irving Kristol,

Daniel Bell, Irving Howe, Nathan Glazer e, um pouco depois, Daniel Patrick

Moynihan6 (FUKUYAMA, 2006, p. 4, tradução nossa).

Na década de 1970, esse grupo juntou com outros estudantes, incluindo Fukuyama, e as ideias

4 George C. Marshall: Secretário de Estado pelo governo de Truman (1947-1949), Marshall teve uma carreira

militar de sucesso com atuação na I e II Guerra Mundial, e foi o responsável pela criação do amplo pacote de

assistência ao Oeste Europeu, que ficou conhecido como Plano Marshall. Para maiores detalhes, veja:

http://history.state.gov/departmenthistory/people/marshall-george-catlett; 5 James Monroe: foi o 5º Presidente dos Estados Unidos pelo partido Democrata-Republicano (1817-1825) e foi

responsável pela formulação da política externa estadunidense (junto do seu Secretário de Estado, John Quincy

Adams) com base na construção da nova ordem política em desenvolvimento nas Américas e o papel da Europa

no Ocidente, política que ficou conhecida como a Doutrina Monroe. “As três principais concepções da doutrina são: separar esferas de influência para as Américas e Europa; não colonização; e não intervenção”. Para maiores

detalhes, veja: http://history.state.gov/milestones/1801-1829/monroe. 6 […] the roots of neoconservatism lie in a remarkable group of largely Jewish intellectuals who attended City

College of New York (C.C.N.Y.) in the mid-to late 1930’s and early 1940’s, a group that included Irving Kristol,

Daniel Bell, Irving Howe, Nathan Glazer and, a bit later, Daniel Patrick Moynihan (FUKUYAMA, 2006, p. 4).

15

que compartilhavam como a disseminação da democracia, chegou a ser conhecido como o

movimento neoconservador, que aumentou sua influência em Washington com o apoio de

políticos importantes como Ronald Reagan e Donald Rumsfeld (SYKES, 2012, p. 1). Nos

mandatos de Reagan, de 1980 a 1988, foi marcante essa influência do pensamento

neoconservador e a atuação dos chamados falcões7 como Dick Cheney, Condoleezza Rice e

Paul Wolfowitz.

Segundo Fukuyama (2006, p. 3), “quatro princípios comuns ou linhas de pensamento

atravessaram o pensamento neoconservador até o final da Guerra Fria”:

[...] a crença de que o caráter interno do regime tem importância e que a política

externa deve refletir os valores mais profundos das sociedades liberais e

democráticas; a crença de que o poder americano tem sido e pode ser usado para fins

morais e que os Estados Unidos precisam permanecer envolvidos nos assuntos

internacionais; ceticismo a respeito da legitimidade e da eficácia às leis e instituições

internacionais para conseguir segurança ou justiça; e, por fim, a desconfiança em

relação a projetos ambiciosos de engenharia social, os quais frequentemente têm

consequências não antecipadas que agravam, em vez de resolver, os problemas

sociais8 (FUKUYAMA, 2006, p. 3, tradução nossa).

No primeiro e segundo desses princípios, observa-se aspectos da tradição do idealismo

wilsoniano, de difundir a democracia e usar o poder dos Estados Unidos para fins morais. O

terceiro princípio opõe-se à tradição de multilateralismo que caracteriza a Liga das Nações e

as Nações Unidas, e fundamenta uma linha de unilateralismo. O quarto princípio –

desconfiança em relação a projetos de engenharia social – reflete uma crítica dos programas

sociais do governo Lyndon Johnson. Semelhante ao Fukuyama, Teixeira (2007) identifica

como temas neoconservadores a difusão da democracia, o internacionalismo não institucional

e o unilateralismo (TEIXEIRA, 2007, p. 81).

No entanto, Teixeira diverge de Fukuyama ao destacar a centralidade do poder militar no

pensamento neoconservador ao ponto que “o uso da força é sempre uma alternativa a ser

constantemente considerada” (TEIXEIRA, 2007, p. 93). Esse ponto de vista tem base

7 Os chamados falcões ou hawks na política dos Estados Unidos são aqueles que defendem uma política externa

baseada em poder militar forte. Os chamados doves (pombos ou mensageiros da paz) são aqueles que procuram resolver conflitos internacionais sem uso da força militar (HAWKS AND DOVES, s.d.). 8 [...] a concern with democracy, human rights and, more generally, the internal politics of states; a belief that

American power can be used for moral purposes; a skepticism about the ability of international law and

institutions to solve serious security problems; and finally, a view that ambitious social engineering often leads

to unexpected consequences and thereby undermines its own ends (FUKUYAMA, 2006, p. 3).

16

histórica, desde as intervenções dos Presidentes McKinley e Theodore Roosevelt em países do

hemisfério ocidental ao final do século XIX e início do século XX.

Com relação ao tema de uso do poder dos EUA para fins morais, segundo um estudioso

A centralidade da moralidade na política externa neoconservador pode ser atribuída,

em grande parte, à reinvenção dessa perspectiva pelo [Robert] Kagan e [William] Kristol, em 1996. Kagan e Kristol propuseram que a América tornasse um

“hegêmono benevolente”, usando sua posição como a nação mais poderosa do

mundo para mudar as coisas para melhor mediante a disseminação dos valores que

os Americanos valorizam e mediante a luta contra o mal e a injustiça em todas as

partes do mundo (SYKES, 2012, p. 3; p. 8).

Se por um lado neoconservadores tiveram influência na política externa dos EUA pela

ocupação de cargos importantes no governo Reagan (1981 a 1988), no período dos governos

Bush sênior (1988-1992) e Bill Clinton (1993-2000), os neoconservadores ficaram afastados

do poder (PECEQUILO, 2005, p. 358-359). No entanto, isso

não os impediu de continuar investindo em suas prioridades originais da Era

Reagan. Ainda que estivessem ausentes da linha de frente da discussão do sistema político e dos principais cargos do governo, os neoconservadores construíram e

solidificaram suas fontes de influência, reformatando seu posicionamento e

programa de ação. Para isso, buscaram espaços alternativos9, mantendo contínua a

mobilização de suas bases em movimentos civis de cunho religioso, mídia e a sua

proximidade com importantes setores privados como o energético e o complexo

industrial militar (PECEQUILO, 2005, p. 358-359).

A queda do Muro de Berlim, em novembro de 1989, simbolizou o fim da Guerra Fria, vitória

total atribuído ao Governo Reagan. Esse evento parecia justificar o pensamento e políticas do

grupo neoconservador e dos falcões com relação à ameaça ou prontidão do uso da força

militar. No entanto, em retrospectiva, Fukuyama argumentou que “A maneira em que a

Guerra Fria acabou influenciou o pensamento dos que apoiaram a Guerra com o Iraque,

incluindo neoconservadores mais novos, como William Kristol e Robert Kagan”

(FUKUYAMA, 2006, p. 5), que parece ter criado uma expectativa de que todos os regimes

totalitários iriam implodir após pequeno empurrão de fora. Fukuyama considerou isso um

9 Outro espaço em que os neoconservadores fortaleceram a discussão e divulgação de suas ideias era nos think

tanks neoconservadores. Haass define think tanks como “[…] independent institutions organized to conduct

research and produce independent, policy-relevant knowledge […]” (HAASS, 2002, p.5). Um exemplo de um

think tank considerado neoconservador é a American Enterprise Institute. The Heritage Foundation é também um

think tank, porém, considerado conservador.

17

“otimismo exagerado sobre transições pós-guerra para a democracia” (FUKUYAMA, 2006, p.

6).

Tendo em vista que George H. W. Bush era o vice-presidente nos mandatos de Reagan, sua

vitória para Presidente, em 1988, representou continuidade significativa da política externa de

Reagan e do Partido Republicano. Cheney, Rumsfeld, Condoleezza Rice e Colin Powell

continuaram exercer cargos importantes. No entanto, segundo Martins (2010, p. 17) houve

divergências de pensamento entre membros da equipe do Presidente H. W. Bush, em

particular o pensamento mais moderado e multilateralista de Colin Powell, em contraste com

os falcões.

Essa divergência foi aspecto importante na política e nas ações do Governo H. W. Bush no

caso da Primeira Guerra no Golfo, em 1991, ações que teriam repercussões na política de G.

W. Bush com relação ao Iraque e Saddam Hussein10

.

Essa postura do Presidente George H. W. Bush, de aceitar a recomendação de alguns

assessores de deixar Iraque unificado e razoavelmente forte para contrabalançar o poder do

vizinho Irã sugere que houve influência da linha de pensamento realista nessa decisão, linha

mais associada com o setor de republicanos considerados conservadores, do que com os

neoconservadores que haviam exercido influência significativa no mandato Reagan. Portanto,

apesar da existência de vários aspectos de continuidade na política externa de George H. W.

Bush tanto em relação com o governo Reagan quanto com tradições históricas da política

externa americana – por exemplo, disseminação da democracia e uso ou ameaça do uso da

força para fins morais – a não aplicação de guerra sem limites contra Saddam nesse momento,

indica que, mesmo dentro essa continuidade não é absoluta.

Além de usar tradições históricas (PECEQUILO, 2005) ou temas (TEIXEIRA, 2007) para

identificar continuidade e mudanças na política externa americana, o uso dos conceitos de

hard power e soft power no trabalho de Joseph Nye (1991) e de smart power pelo mesmo

10 De acordo com o historiador Geoffrey Wawro (2011, p. 1), no período 1990-1991 Saddam Hussein ameaçava Kuwait com guerra caso o emir de Kuwait não entregasse o território rico em petróleo na fronteira com o Iraque.

O governo de George H. W. Bush vacilou em definir objetivos estratégicos da guerra – ou guerra limitada

(expulsando Saddam de Kuwait) – ou guerra sem limites (incentivar oficiais do Iraque, Kurdos ou Shiitas a

derrubar Saddam) e no final, Bush sênior aceitou a recomendação de alguns assessores de deixar o Iraque

unificado e razoavelmente forte para contrabalançar o poder do vizinho Irã.

18

autor (2004) também pode ajudar na avaliação do grau de continuidade ou mudança na

análise da área de segurança na política externa americana.

De acordo com Elizabeth Dickinson (2010), o conceito que embasa o termo smart power tem

suas origens aos grandes estrategistas desde Carl Von Clausewitz até Lawrence da Arabia, os

quais advogaram uma mistura de poder militar hard e influência ideológica soft como a

receita para ganhar guerras. Dickinson cita o Peace Corps como exemplo do uso de soft

power, na década de 1960, pelos Presidentes Kennedy e Johnson. Segundo Dickinson, Nye

definiu hard power como o tipo “associado com recursos tangíveis, como poder militar e

econômico”, enquanto soft power inclui coisas como “cultura, ideologia e instituições” (2010,

p. 1).

Ainda de acordo com Dickinson (2010), em Janeiro de 2004, Nye promoveu uma nova frase

no seu livro Soft Power: the means to success in world politics. Ele escreve: "smart

power não é nem hard nem soft [power]. Ele é ambos". O autor observa que smart

power significa "aprender a combinar melhor poder militar com proeza moral e cultural".

(2010, p. 1-2).

Se aplicarmos esses conceitos à política externa na área de segurança do

Governo Johnson, observa-se que o uso de hard power na Guerra do Vietnã foi acompanhado

pelo uso, na América Latina e outras regiões do Terceiro Mundo, de políticas que podem ser

vistos como soft power, por exemplo, o Peace Corps, proposto pelo Presidente John F.

Kennedy em 1961 (DICKINSON, 2010). O Presidente Lyndon Johnson continuou e até

expandiu esse programa, mas fracassou no Vietnã com o uso da força para tentar conter o

comunismo que, segundo o governo dos EUA na época, ameaçava avançar na Ásia. Então

houve uma combinação de ação militar (hard power) no Vietnã com o soft power do Peace

Corps, como no Governo Woodrow Wilson houve uma política de neutralidade e discurso de

paz e justiça, mas também ação militar dos EUA.

Nos próximos itens será discutida a política externa na área de segurança dos dois mandatos

do Presidente George W. Bush e o primeiro mandato do Presidente Barack Obama, buscando

determinar até que ponto as ações do governo Obama implementou os princípios de smart

power e se isso representou mudança significativa na política externa americana na área de

segurança, em particular na comparação com o governo de George W. Bush.

19

3 POLÍTICA EXTERNA DO GOVERNO GEORGE W. BUSH, 2001-2008

As eleições americanas de 2000 foram repletas de controvérsias, sendo decidida, por fim,

através da Suprema Corte Federal estadunidense. O candidato democrata, Al Gore, ganhou

nos votos populares, porém, perdeu para seu adversário republicano, George Walker Bush no

colégio eleitoral. A vitória de Bush, ainda que reconhecida judicialmente, provocou certa

desconfiança e questionamento quanto à sua legitimidade (SEABRA, 2007, p. 33).

George W. Bush assume a presidência dos Estados Unidos no dia 20 de Janeiro de 2001,

marcando a volta do neoconservadorismo à Casa Branca. Logo no início foram colocadas em

prática medidas que representaram mudanças no plano internacional. Pecequilo (2005, p. 367)

observa que um dos resultados dessas medidas foi o afastamento nas relações com

importantes potências na Europa e “em rota de colisão... com Rússia e China”. Apesar de

seguir o unilateralismo, o governo G. W. Bush poderia precisar do apoio de países da Europa

como França, Alemanha e até da Rússia e China, em coalizões, em algumas situações de

segurança regional, por exemplo, no Oriente Médio ou no caso da Coréia do Norte.

Retornaram alguns falcões11

que atuaram nos governos de Reagan e Bush sênior, como Dick

Cheney (o Vice-Presidente), Donald Rumsfeld (o Secretário de Defesa) e Condoleezza Rice

(Assessora de Segurança). Retornou, também, Colin Powell, no cargo importante como

Secretário de Estado. Segundo Pecequilo (2005, p. 367), Powell foi uma voz de moderação.

Diferentemente da gestão anterior, do ex-presidente Bill Clinton, a administração de George

W. Bush foi marcada pelo unilateralismo, internacionalismo não institucional, democracia e

poder militar na conduta da política externa, caracterizada por uma política de hard power.

Neste sentido, é possível identificar a postura unilateralista no governo G. W. Bush através do

distanciamento e a não ratificação de tratados com organismos internacionais, como o Tratado

Antimísseis Balísticos (1972); o Tratado sobre Armas Biológicas (1995); o Tratado para

Proibição de Testes Nucleares (1996); o Protocolo de Kyoto (1997); o Tratado sobre Minas

Terrestres (1997) e a rejeição à assinatura do Tribunal Penal Internacional (TPI), de 1997

(MARTINS, 2010, p. 13). A não ratificação desses tratados é relacionada à tradição de

11 Os chamados falcões ou hawks na política dos Estados Unidos são aqueles que defendem uma política externa

baseada em poder militar forte. Os chamados doves (pombos ou mensageiros da paz) são aqueles que procuram

resolver conflitos internacionais sem o uso da força militar (HAWKS AND DOVES, s.d.).

20

unilateralismo na política externa americana na área de segurança, o que ficou ainda mais

forte com a influência neoconservadora no governo George W. Bush. De acordo com Teixeira,

a defesa neoconservadora do unilateralismo baseia-se principalmente em dois argumentos. O primeiro [...] refere-se a uma alegada falta de legitimidade de

organismos supranacionais. O segundo argumento fundamenta-se na premissa de

que o unilateralismo é necessário para aumentar o raio de ação da superpotência no

plano internacional (TEIXEIRA, 2007, p. 88).

Teixeira (2007, p. 88) ainda cita dois intelectuais neoconservadores que justificam esse ponto

de vista, dizendo que Kristol (1986) comenta que, para uma superpotência, alianças desse tipo

concorrem para inibir a tomada de ação por sua parte no momento em que entender

conveniente; e para Krauthammer a opção pelo multilateralismo acarreta uma “obsessão com

convenções, protocolos, legalismos”, cujo efeito é “conter o poder americano”

(KRAUTHAMMER, 2004, p. 12).

Em relação aos fatos ocorridos no governo G. W. Bush, o mais determinante para as tomadas

de decisão que se seguiram ocorreram no dia 11 de Setembro de 2001. Nesta data, o mundo

viu a maior potência mundial ser devastada por ataques terroristas. E, estes ataques, alteraram

os rumos da política externa estadunidense. Em resposta aos ataques de 11 de Setembro, o

presidente George W. Bush engajou-se num plano de ação unilateralista para revidar aos

ataques terroristas, com o apoio dos aliados e o forte apoio do sentimento nacionalista da

sociedade americana. Em seu discurso, no dia dos ataques, o presidente faz uma declaração

embasado numa política de hard power:

Não faremos distinção entre os terroristas que cometeram esses atos e aqueles que os

abrigam [...] Nenhum de nós esquecerá jamais esse dia, porém, vamos seguir em

frente para defender a liberdade e tudo que é bom e justo em nosso mundo12 (BUSH,

2001).

No governo de G. W. Bush, segurança tornou-se uma prioridade na agenda internacional

voltada para o interesse nacional. Bush deu prioridade ao combate contra o terrorismo,

direcionando suas forças à organização Al Qaeda, liderada por Osama Bin Laden, e ao regime

Talibã. Bush e sua administração recorreram ao Congresso americano em busca de apoio para

implantar uma nova lei de segurança interna para a segurança nacional. A declaração de

12 “We will make no distinction between the terrorists who committed these acts and those who harbor them [...]

None of us will ever forget this day, yet we go forward to defend freedom and all that is good and just in our

world” (BUSH, 2001).

21

guerra ao terrorismo e a lei Patriot Act13

(107th. 1st. Section. H.R. 3162. Senate of the United

States) gerou divergências dentro do Congresso americano, tanto no âmbito interno quanto

externo, entre aqueles mais conservadores (hawks), que apoiavam uma ação unilateral

coordenado por uma política de hard power, e os multilateralistas (doves) que defendem uma

posição de política moderada por meio de diálogos e o apoio das Organizações Internacionais

(OIs).

Castro Santos (2010) observa que havia divergências, também, na equipe de política externa

de G. W. Bush. O discurso do Presidente G. W. Bush e do Secretário de Defesa, Donald

Rumsfeld, mantiveram ênfase na segurança, em contraste ao Secretário de Estado, Colin

Powell, que pronunciava mais a democracia. Castro Santos explica que Powell falava mais em

democracia porque o mesmo não se sentia confortável com a solução de força que foi usada

no caso do Iraque para combater o terrorismo e implantar a democracia no Oriente Médio e,

portanto, evitava falar de guerra. Por outro lado, ela comenta a relação entre democracia e

segurança nessa política.

Usando análise de discurso, Castro Santos identifica três princípios mais importantes na

política externa americana e comenta que “perceba-se, de imediato, a ligação inequívoca que

os princípios dois e três trazem entre democracia e segurança, não só segurança global, mas a

própria segurança dos Estados Unidos, sem falar em seus interesses econômicos” (CASTRO

SANTOS, 2010, p. 160):

Os valores e princípios da democracia liberal ocidental são universais, isto é, todos

os povos do mundo desejam tornarem-se democráticos. Portanto, a promoção da

democracia é para o bem da humanidade. Democracias não lutam entre si. Portanto,

exportar democracia significa promover a paz mundial. Aqui, a democracia é ligada

à segurança global. A promoção da democracia faz o mundo mais seguro e mais

próspero para os EUA. Aqui, democracia é ligada à segurança e aos interesses americanos (CASTRO SANTOS, 2010, p. 160).

No dia 26 de Outubro de 2001, o Congresso americano aprovou o Patriot Act (SENATE U.S.,

13 PATRIOT Act - Provide Appropriate Tools Required to Intercept and Obstruct Terrorism (PATRIOT). A lei

Ato Patriota foi aprovada pelo Senado dos Estados Unidos no dia 24/10/2001. Para maior conhecimento, veja:

<http://www.whitehouse.gov/omb/legislative_sap_107-1_hr2975-h/>.

22

2001). Em 2002, o Congresso aprovou o Homeland Security Act14

(HSA) e, também em 2002,

criou o Department of Homeland Security15

(DHS). Foram revitalizados os setores de

inteligência na área de Defesa do governo e atribuído novas responsabilidades. No mesmo

ano foi lançada a Estratégia de Segurança Nacional dos EUA e ficou conhecida como a

Doutrina Bush. De acordo com Castro Santos (2010), suas características alinham-se à

condução da administração Bush na resposta aos ataques de 11 de Setembro, realizada por

meio de uma política hard power com determinações para as áreas político-militar e

econômica.

Como parte da Doutrina Bush encontra-se a Doutrina Preventiva, formulada pelo National

Security Council16

(NSC). De acordo com Pecequilo (2005, p. 369), a estratégia consiste em

utilizar o uso do direito de autodefesa, de maneira preventiva e antecipada, através de uma

guerra preventiva onde os fins justificam os meios. Análise semelhante encontra-se em Castro

Santos (2010). Ela comenta que, para justificar, o governo usa um discurso que aponta

grandes ameaças percebidas e a necessidade de ações preventivas para garantir a paz e a

estabilidade. Segundo Görener (2004, p. 39), em seu discurso de 28 de janeiro de 2003 (State

of the Union Address), o Presidente G. W. Bush articulou a justificativa para a guerra

preemptiva17

no Iraque. O mesmo autor comenta que analistas de política externa

questionavam se caso o governo G. W. Bush conseguisse seus objetivos no Iraque, isso iria

14 Homeland Security Act (Lei de Segurança Nacional) foi criado e aprovado em 2002, sob o comando do

Presidente George W. Bush, com a finalidade de estabelecer uma forte estrutura para trabalhar próximo com

estados e governos locais, o setor privado, e cidadãos, para assegurar que recursos públicos e privados estejam

propriamente alinhados para proteger o território. Os quatro pilares principais desta lei são: Análise de

Informação e Proteção de Infraestrutura; Ciência e Tecnologia; Segurança de Fronteira e Transporte; Prontidão e

Resposta em casos de Emergência. Para maior conhecimento, veja: <http://www.whitehouse.gov/sites/default/files/omb/legislative/sap/107-2/HR5005-h.html>. Acesso em: 19 jul.

2013. 15 Department of Homeland Security - DHS (Departamento de Segurança Nacional) é a principal agência Federal

responsável pela prevenção do terrorismo e sofisticação da segurança, protegendo e controlando as fronteiras estadunidense, com o objetivo também de assegurar e administrar as leis de imigração, vigiar e proteger o espaço

cibernético, e assegurar rápida ação/resposta no caso de disastres. Para maior conhecimento, veja: < http://www.whitehouse.gov/omb/factsheet_department_homeland/>. Acesso em: 19 jul. 2013. 16 National Security Council (Conselho de Segurança Nacional) é o fórum principal do Presidente dos Estados

Unidos onde trata dos assuntos de segurança nacional e política externa com seus conselheiros superior de

segurança nacional e seus oficiais de gabinete. Desde sua criação, sob o Presidente Truman, a função do

Conselho tem sido de orientar e prestar assistência ao Presidente nas políticas de segurança e política externa.

Para maior conhecimento, veja: <http://www.whitehouse.gov/administration/eop/nsc>. Acesso em: 19 jul. 2013.

17 Guerra preemptiva ou princípio preemptivo, segundo Gorener, é uma estratégia de ataque preventivo, de

autodefesa em que o ex-presidente George W. Bush adotou após os ataques de 11/09/2001 e, foi vinculado à

Doutrina Bush com o argumento de que as estratégias de contenção e deterrência, utilizadas na Guerra Fria com

sucesso, não seriam adequadas e eficazes frente ao novo desafio de combate ao terrorismo (GÖRENER, 2004, p.

37-38).

23

dar incentivo para aplicar a doutrina no Irã e Coréia do Norte, países onde o programa nuclear

estava mais avançado (GORENER, 2004, p. 33).

De acordo com Martins (2010, p. 16-17), no dia 07 de Outubro de 2001, menos de um mês

após o ataque terrorista às Torres Gêmeas (World Trade Center) e ao Pentágono, o governo G.

W. Bush declarou uma intervenção militar americana no Afeganistão. No entanto, ao contrário

do que se pensava, não contava que a guerra seria tão difícil e complexa devido à composição

geográfica do país, como as numerosas cavernas presentes.

Ainda de acordo com Martins (2010, p. 17), além das dificuldades operacionais militares

houve divergências de pensamento entre o Departamento de Estado e o Departamento de

Defesa quanto à guerra. Colin Powell defendia uma atuação dos EUA com base no poder

moderado e de política multilateralista (soft power) e Donald Rumsfeld já se posicionava à

favor de uma política hard power. Com referência ao tema do presente trabalho, essa

divergência interna na equipe da política externa de G. W. Bush demonstra certa continuidade

com a política externa da equipe Bush sênior em relação ao Saddam Hussein na Primeira

Guerra do Golfo18

. Apesar dessas dificuldades operacionais militares e ambiguidades na linha

da política externa, em Janeiro de 2002, o presidente George W. Bush anunciou o sucesso da

guerra no Afeganistão e lançou uma nova estratégia (como parte da Estratégia de Segurança

Nacional) com base na prevenção19

e no Eixo do Mal20

.

No final de 2002 e início de 2003, o discurso do Governo G. W. Bush em relação ao Iraque

contém ameaças de invadir aquele país, anteriormente denominado como integrante do

chamado Eixo do Mal. Para contextualizar melhor esse discurso, é importante lembrar a

Primeira Guerra do Golfo, mais de uma década antes, “[...] quando o Presidente George H. W.

Bush comandou a coalizão que expulsou Iraque do Kuwait” (MARTINS, 2007, p. 25). De

acordo com o historiador Geoffrey Wawro (2011, p. 1), no período 1990-1991, Saddam

Hussein ameaçava Kuwait com guerra caso o emir de Kuwait não entregasse o território rico

em petróleo na fronteira com Iraque. O governo de George H. W. Bush vacilou em definir

18 Veja item 2. 19 Segundo Pecequilo, a política de ação preventiva representa mudança da política de contenção; visa a agir antes para prevenir perigos [...] mas como avaliar perigos! (PECEQUILO, 2003, p. 13). 20 Eixo do Mal, segundo Martins (2010, p. 20), em janeiro de 2002, no seu discurso State of the Union,

Presidente George W. Bush “[...] cria a expressão ‘eixo do mal’, como referente a Estados pários no âmbito

internacional que, na categorização do presidente, seriam, à época, Coreia do Norte, Iraque e Irã”. Pecequilo

(2005, p. 369) observa que o uso da retórica do Eixo lembra a política externa do governo Reagan.

24

objetivos estratégicos da guerra – ou guerra limitada (expulsando Saddam de Kuwait) – ou

guerra sem limites (incentivar oficiais do Iraque, Kurdos ou Shiitas a derrubar Saddam) e, no

final, Bush sênior aceitou a recomendação de alguns assessores de deixar Iraque unificado e

razoavelmente forte para contrabalançar o poder do vizinho Irã. Wawro observa que o

assessor neoconservador Paul Wolfowitz, que havia trabalhado com Dick Cheney no

Pentágono, havia sido muito crítico da posição, considerada fraca no encerramento do

conflito, e que, portanto, em 2003, teve grande influência em pressionar para a invasão do

Iraque, argumentando que em 1991 os Estados Unidos havia perdido grande oportunidade

para efetuar a mudança de regime no Iraque (WAWRO, 2011, p. 1). Portanto, a invasão do

Iraque, em 2003 foi, em grande parte, uma política de continuidade da política do Bush sênior.

No dia 08 de novembro de 2002, foi aprovada uma resolução da ONU, intitulada 1441, que

estabelecia o direito dos inspetores da ONU de inspecionar e obter total colaboração por parte

do Iraque na procura de criação e proliferação de Armas de Destruição em Massa (ADMs).

Apesar de que os relatórios da ONU nunca comprovassem a existência de ADMs, o Governo

G. W. Bush apresentava uma justificativa para invadir o Iraque:

[...] Saddam Hussein representava no Oriente Médio um ponto focal de instabilidade

e risco que, segundo estas avaliações, era capaz de promover ameaças reais a seus

vizinhos, dado a posse de ADMs e a seu comportamento conhecido de agressividade. Hussein teria sido, ao lado de Bin Laden, responsável por 11/09; [ ...]

era necessário, para a proteção dos EUA, uma ação preventiva (PECEQUILO, 2005,

p. 371).

Em entrevista no ano de 2005, um dos críticos da invasão do Iraque pelo governo G. W. Bush

apontou motivos econômicos (petróleo) e geopolíticos como fundamentais nas reais intenções

dessa decisão:

O Iraque [...] é o último canto do mundo no qual há recursos abundantes de petróleo,

praticamente inexplorados, talvez o maior do mundo ou pelo menos próximo dele

[...]. Os lucros com aquilo devem fluir primeiramente às corporações de energia [...]

dos EUA e [...] Grã Bretanha. E controlando aquele recurso, coloca os EUA numa posição muito poderosa, até mais poderosa do que hoje, para exercer influência sobre o mundo [...] e tendo bases lá que permitem você organizar a região voltada

para seu próprio interesse 21 (CHOMSKY, 2005, p. 2, tradução nossa).

21 Iraq [...] is the last corner of the world in which there are massive petroleum sources, pretty much unexplored,

maybe the largest in the world or close to it [...]. The profits from that must flow primarily to […] US and […]

UK energy corporations. And controlling that resource puts the U.S. in a very powerful position, even more

25

No dia 16 de Março de 2003, os Estados Unidos invadiram o Iraque, em ação orquestrada por

Donald Rumsfeld e sustentada na tática do Choque ao Terror, com o apoio da Espanha e Grã-

Bretanha. Pecequilo (2003, p. 13) afirma que isso constitui a primeira guerra preventiva.

Pecequilo (2005, p. 372) comenta que a guerra teve duração pouco mais de um mês, porém

Saddam Hussein foi capturado somente ao final de 2003.

A guerra no Iraque gerou repercussão internacional, e até hoje gera, com respeito à

justificativa utilizada pelos Estados Unidos para a invasão do Iraque. De acordo com Reis, é

questionada a legitimidade quanto à ação dos Estados Unidos: “[...] violação dos Direitos

Humanos para justificar a invasão do Iraque, após não serem encontradas as armas de

destruição em massa que supostamente estariam sendo desenvolvidas e armazenadas pelo

governo iraquiano [...]” (REIS, 2006, p. 37-38). Houve consequências, também, para o

governo americano. “O pós-guerra caótico no Iraque pôs em crise a política externa de

George W. Bush” (SEABRA, 2007, p. 110).

Na análise de Pecequilo (2005, p. 373-374), o presidente George W. Bush chegou ao fim do

seu mandato em 2004 com críticas da comunidade internacional pelas ações agressivas dos

Estados Unidos e a falta de evidências de ADMs no Iraque. Apesar da redução da

popularidade de G. W. Bush, o desemprego e o regresso da economia, o presidente

republicano conseguiu a reeleição em Outubro de 2004, mantendo o discurso de combate ao

terrorismo; alertando o perigo que líderes do Eixo do Mal representam à segurança regional e

a nível mundial, e assim, prosseguir com sua agenda de modo a dar continuidade às políticas

de sua primeira gestão.

O início do segundo mandato de George W. Bush, em 2005, apresentou continuidade das

políticas adotadas no pós 11 de Setembro, ou seja, permanência da Doutrina Bush e da

Doutrina Preventiva, e reforçou o neoconservadorismo no seu governo ao dispensar Colin

Powell do cargo como Secretário de Estado (DOS) e substituí-lo pela Condoleezza Rice, antes

Assessora de Segurança Nacional.

No entanto, a guerra no Iraque trouxe consequências domésticas para o governo G. W. Bush e

powerful than today, to exert influence over the world […] and having bases there that allow you to organize the

region in your own interests (CHOMSKY, 2005, p. 2).

26

o partido Republicano. A situação pós-guerra caótica no Iraque “[...] foi o fator primordial

para a mudança de perfil no Congresso americano, onde os Democratas recuperaram maioria

nas eleições de Novembro de 2006 [...]” (SEABRA, 2007, p. 110). Segundo Seabra (2007, p.

110), isso representaria o início do declínio do neoconservadorismo no governo G. W. Bush.

Concluindo essa breve descrição e análise da política externa do governo George

W. Bush, na área de segurança, pode-se afirmar que o governo foi marcado, no primeiro

mandato, pelos eventos de 11 de setembro, seguido pelo reforço de políticas influenciadas

pelo pensamento neoconservador: unilateralismo e hard power, exemplificado pela invasão e

Guerra do Iraque. Isso representou continuidade com a linha de política externa dos governos

Reagan, na década de 1980 e Bush sênior, no final da década de 1980 e início da década de

1990. Nos próximos capítulos serão examinadas as ações do primeiro mandato de Barack

Obama na política externa (na área de segurança), para verificar até que ponto isso representa

mudanças significativas ou continuidade com a política externa do governo George W. Bush.

4 POLÍTICA EXTERNA DO GOVERNO BARACK OBAMA, 2008-2012

Nas eleições estadunidenses para presidente em 2008, os Estados Unidos da América e o

mundo encontravam-se mergulhado na crise financeira que acabara de eclodir. O efeito da

crise foi imediato e provocou altas taxas de desemprego e baixíssimo nível de consumo. Os

EUA necessitavam de um candidato que colocasse ordem no setor doméstico, completamente

devastado, e que também reerguesse a política externa do país, uma vez que a imagem

americana no mundo estava totalmente defasada por causa da Guerra no Iraque.

Nas preliminares do partido Democrata que antecederam a corrida presidencial dos Estados

Unidos, Barack Obama contou com fortes adversários, principalmente Hillary Rodham

Clinton, Senadora do Estado de New York. Na campanha presidencial contra John McCain,

do partido Republicano, o senador democrata Barack Hussein Obama apresentou propostas

sob uma visão transformacional, no que tange a política doméstica e também na política

externa. Joseph Nye, em seu livro “Presidential Leadership and the Creation of the American

Era”(NYE, p. 7, 2013), utiliza a definição de James McGregor Burns para exemplificar

alguns presidentes estadunidenses com tendência a uma visão mais transformacional ou

transacional:

27

[…] líderes transformacionais utilizam conflito e crise para elevar a consciência dos

seus seguidores e transformá-los através dos seus ‘elevados acordos e valores morais ao invés de manter como base emoções de medo, ganância e ódio’. Seguidores

estão, portanto, inspirados a assumirem um trabalho de adaptação e responder a

mudanças para o bem do grupo. Líderes transacionais, em contra partida, baseiam-se

nos recursos de poder duro de indução e coação como apelo a seus seguidores a

voltarem-se para o próprio interesse’22 (BURNS, James P., 2008, apud NYE, Joseph,

2013, p. 7, tradução nossa).

No dia 15 de Julho de 2008, o jornal The New York Times publicou um texto do discurso de

Obama, disponibilizado pela sua campanha, referente à escolha, rumos, tomada de decisão e

os impactos que podem ocorrer a partir da elaboração de certas estratégias de política externa

feitas pela liderança estadunidense. Obama ressaltou estratégias de segurança adotada pelos

Estados Unidos em tempos de crise e tensão mundial, onde lideranças como Presidente Harry

Truman, o diplomata George Kennan, e ex-secretários de Estado George Marshall e Dean

Acheson foram decisivos ao optarem pelo bom julgamento na hora da tomada de decisão.

Obama enfatizou o uso do soft e smart power (ainda que de forma não declarada) por estas

lideranças com destaque especial para Marshall, e, em certo trecho do discurso, Obama tomou

como reflexão o cenário dos atentados de 11/09 de 2001 e o tempo que se seguiu, no qual

realizou uma simulação de todo o evento como se fosse o líder dos EUA, porém, aplicando

uma política contrária da qual foi utilizada por George W. Bush, a de smart power (THE

NEW YORK TIMES, 2008). Dessa maneira, Obama procurava demonstrar que sua política

externa iria dar continuidade a uma linha de ação bem sucedida de lideranças norte-

americanas após a Segunda Guerra Mundial, assim mudando a linha da política externa de

George W. Bush.

As propostas políticas de Obama para a política externa23

lançadas a seus eleitores de 2008

foram na sua maior parte relativos à segurança. Estas propostas são: fim à tortura e

fechamento de Guantánamo; envio de no mínimo duas brigadas de combate e um bilhão de

dólares adicionais destinados à assistência não militar no Afeganistão; cessar a guerra no

22 [..] transformational leaders use conflict and crisis to raise their followers’ consciousness and transform them

by appealing to their ‘higher deals and moral values rather than baser emotions of fear, greed and hatred’. Followers are thus inspired to undertake adaptive work and respond to change for the good of the group.

Transactional leaders, on the other hand, rely on the hard power resources of carrots and sticks to appeal to

their followers’ self-interest (BURNS, James P., 2008, apud NYE, Joseph, 2013, p. 7). 23 Para conhecimento sobre outras propostas referentes à política doméstica, conferir The Washington Post,

2010.

28

Iraque em 16 meses; engajar firmemente numa relação diplomática direta com o Irã sem pré-

condições; oferecer incentivos se o Irã abandonar o programa nuclear do país e o suporte ao

terrorismo; apoiar Israel de forma sustentável e alcançar o objetivo de dois estados – um

estado Judeu em Israel e um estado Palestino; e assegurar todo material nuclear solto no

mundo em quatro anos (THE WASHINGTON POST, 2010).

Na escolha de sua equipe para política externa, Obama mostrou uma combinação de intenção

de mudança da política de George W. Bush, mas, certa cautela também. Segundo Moreira,

a indicação de Hillary Clinton para o cargo de Secretária de Estado, que traz consigo

de volta a imagem negociante e conciliatória ostentada pelo ex-presidente Bill

Clinton. A despeito disso, a manutenção de Robert Gates como Secretário de Defesa

(lembrando que Gates substituiu Donald Rumsfeld ainda no governo de W. Bush,

em 2006) demonstra que a vitória de Obama não representaria uma ruptura imediata

com a condução das orientações de política externa praticadas pelos republicanos,

sobretudo em temas de defesa e segurança nacional (MOREIRA, 2011, p.2).

Além de Clinton e Gates, dois outros políticos importantes na equipe de política externa eram

Joseph Biden, Vice-Presidente e Leon Panetta. Biden era Senador experiente e já havia sido

Chefe da Comissão de Relações Externas do Senado. Panetta foi Diretor da Agência Central

de Inteligência (CIA), de 2009 a 2011 e Secretário de Defesa, de 2011 a 2012.

A política externa de Obama na área de segurança em seu primeiro ano como Presidente, em

2009, foi marcada muito mais pelos discursos que ele fez, nos quais procurou mostrar um tom

muito diferente do ex-presidente George W. Bush, do que na adoção oficial de novas políticas

ou tomada de decisões e ações concretas. Segundo Vianna:

A nova retórica oficial do governo dos EUA enfatiza a construção de um mundo de

multiparceiros que valoriza seletivamente o papel dos organismos de mediação

política internacional. Durante o primeiro semestre de 2009, Obama esforçou-se

pessoalmente em vencer as polarizações, desconfianças e ressentimentos criados, no

espectro político internacional, pela estratégia de defesa preventiva do governo Bush

(VIANNA, 2010, p. 3).

Um exemplo dessa mudança de tom e proposta de mudança de política externa foi o discurso

em Cairo, no dia 04 de junho de 2009. Logo no início do discurso, Obama disse:

Vim ao Cairo para buscar um novo começo nas relações entre os Estados Unidos e

muçulmanos no mundo inteiro, relações baseadas em interesses e respeito mútuos e

baseadas na verdade que América e Islão [...] não precisam estar em competição [...]

Pelo contrário [...] compartilhamos princípios em comum – princípios de justiça e

29

progresso; tolerância e a dignidade de todos os seres humanos24 (THE WHITE

HOUSE, 2009, tradução nossa).

Em maio de 2010 foi lançado um documento oficial atualizado de política externa dos

Estados Unidos, Estratégia de Segurança Nacional (National Security Strategy – NSS)25

do

governo Obama (NSC, 2010), poucos meses após a divulgação da Revisão Quadrienal de

Defesa do país -- QDR, 2010 (MOREIRA, p. 14). Segundo Moreira (2011, p. 15), “a NSS-

2010 não vincula o combate ao terrorismo internacional seu engajamento internacional”, [...]

“o terrorismo é uma das muitas ameaças” (NSC, 2010);

a NSS-2010 demonstra grande preocupação com a necessidade de renovação da

liderança internacional dos Estados Unidos, tendo como grande objetivo ao lado da

manutenção da segurança nacional: a prosperidade econômica do país; a promoção

da democracia e dos direitos humanos; e o fortalecimento da cooperação, das

alianças e das instituições multilaterais (NSC, 2010) (MOREIRA, 2011, p. 14).

Reynolds comenta que um aspecto importante desse documento de estratégia de segurança

nacional dos EUA é a modificação da Doutrina Bush, de defesa preemptiva, observando que,

em um parágrafo chamado “Use of Force”, o documento diz “[...] Enquanto o uso da força

seja às vezes necessário, sempre que possível, vamos esgotar outras opções antes de entrar em

guerra... quando a força for necessária, iremos continuar a usá-la de maneira que reflete

nossos valores e fortalece nossa legitimidade” (REYNOLDS, 2010).

Além dos discursos e desse documento oficial de estratégia de segurança nacional na política

externa, em 2009 e 2010, o Presidente Obama tomou algumas ações concretas em 2010 e

2011 em sua política externa em relação ao Iraque. No dia 31 de agosto de 2010,

No discurso televisionado, Obama anunciou o fim das operações de combate do

exército norte-americano no Iraque sem declarar vitória. "Esta noite eu anuncio que a

missão norte-americana de combate no Iraque terminou. A Operação Liberdade

Iraquiana acabou e o povo iraquiano agora carrega a responsabilidade pela segurança

em seu país", disse Obama (GAZETA ONLINE, 2010).

24 I've come here to Cairo to seek a new beginning between the United States and Muslims around the world, one

based on mutual interest and mutual respect, and one based upon the truth that America and Islam […] need not be in competition. Instead, they overlap, and share common principles -- principles of justice and progress;

tolerance and the dignity of all human beings (THE WHITE HOUSE, 2009).

25 Segundo Reynolds (2010), o Congresso dos Estados Unidos exige que o Presidente elabore esses documentos

de doutrina de quatro em quatro anos.

30

Em outubro de 2011, Obama comentou publicamente que, desde aquele anúncio um ano atrás,

o Estados Unidos havia retirado mais de 100.000 soldados e que o restante – dezenas de

milhares deles – “[...] irão embora para casa até o fim do ano. Depois de quase nove anos, a

Guerra Americana no Iraque será encerrada” (COUNCIL ON FOREIGN RELATIONS,

2011). Obama acrescentou que, a partir de 01 de janeiro de 2012, consistente com o acordo

estratégico entre os EUA e o Iraque, Strategic Framework Agreement with Iraque, [...] será

uma relação normal entre nações soberanas, uma parceria igual baseada nos interesses mútuos

e respeito mútuo [...] ajudaremos os iraquianos a fortalecer instituições que são justas,

representativas e transparentes (accountable) (COUNCIL ON FOREIGN RELATIONS,

2011).

Com relação à política de segurança do governo Obama em relação ao Afeganistão, em março

de 2009, ele adotou uma estratégia diplomática, a Af-Pak Strategy26

, que aumentou o foco em

ter como alvos os locais considerados seguros pelos terroristas em Paquistão. Ele decidiu,

também, aumentar o número de soldados americanos no Afeganistão por 33.000 como parte

de um plano de contra insurgência reforçada (COUNCIL ON FOREIGN RELATIONS,

2012).

No dia 2 de maio de 2011, Osama Bin Laden foi morto na cidade de Abbottabad, no

Paquistão, numa operação realizada pela as Forças Especiais da Marinha (conhecida pela sigla

SEAL). Em junho de 2011, Obama anunciou a retirada de 10.000 soldados até o fim daquele

ano, com retirada completa a ser concluída até 2014. Em outubro de 2011, no décimo

aniversário da Guerra no Afeganistão, Obama destacou sucessos da política do governo dele,

dizendo que “[...] Empurramos o Talibã para fora de seus locais mais seguros; forças de

segurança do Afeganistão estão ficando mais forte e o povo do Afeganistão tem nova chance

de construir seu próprio futuro” (COUNCIL ON FOREIGN RELATIONS, 2012).

No dia 21 de outubro Obama aproveitou declarações a respeito da política com o Iraque, para

anotar que

26 A Af-Pak Strategy, de acordo com o Departamento de Estado dos Estados Unidos, consiste numa estratégia

diplomática nos países do Afeganistão e Paquistão, na qual visa intensa diplomacia regional e cooperação

internacional, sob uma nova estrutura trilateral [EUA-Afeganistão-Paquistão] para o combate ao terrorismo.

Com esta estratégia, pretende-se também a melhoria do compartilhamento de inteligência e cooperação militar

nas fronteiras (US DEPARTMENT OF STATE, 2009).

31

[...] o fim da Guerra no Iraque reflete uma transição maior... A retirada de [soldados

de combate] no Iraque nos permitiu reforçar nossa luta contra Al Qaeda... Neste

momento, enquanto retiramos o restante dos nossos soldados de combate do Iraque,

começamos a retirar nossos soldados do Afeganistão, onde começamos uma

transição ao transferir questões de segurança e liderança aos Afegãos. Quando tomei

posse, aproximadamente 180.000 soldados estavam em ação nessas duas guerras.

Até o fim do ano, aquele número será cortado pela metade [...] (COUNCIL ON

FOREIGN RELATIONS, 2011).

No dia 01 de fevereiro de 2012, o Secretário de Defesa, Leon Panetta, anunciou que missões

de combate dos Estados Unidos no Afeganistão terminariam até meados de 2013, acelerando

a transição dos Estados Unidos para a função de assessoria de segurança. Em visita ao

Afeganistão, em maio de 2012, Obama assinou o Strategic Partnership Agreement, que define

um compromisso de dez anos dos Estados Unidos para apoiar segurança e desenvolvimento

no país após a retirada grande de soldados de combate planejado para 2014 (COUNCIL ON

FOREIGN RELATIONS, 2012).

Com relação a tratados internacionais na área de segurança nacional e internacional, um

documento do Council on Foreign Relations comenta que o Presidente Obama tem tomado

algumas iniciativas no tema de não proliferação nuclear, incluindo a New START Treaty com a

Rússia, em 2010, sancionado em 2011, que reduziu o estoque de armas atômicas dos dois

países; e que o governo Obama também emitiu a Nuclear Posture Review Report, que incluiu

compromisso de não usar armas nucleares contra países que estão em conformidade com o

Nuclear Non-Proliferation Treaty (COUNCIL ON FOREIGN RELATIONS, 2012). Um

catálogo do congresso americano sobre tratados e acordos na área de controle de armas e não

proliferação nuclear apontou que,

[...] enquanto o governo [G.W.] Bush de um modo geral preferia medidas unilaterais

ou ad hoc com relação a tratados e acordos formais relacionados com questões de

segurança nacional [...] o governo Obama retomou negociações bilaterais com a

Rússia e comprometeu-se apoiar várias iniciativas de controle de armamentos e não

proliferação nuclear (WOOLF et al., 2013).

Existe uma diversidade de opiniões entre especialistas sobre o desempenho de Obama na área

de política externa no setor de segurança no seu primeiro mandato. Joseph Nye compreende o

uso de discurso transformacional não apenas na campanha presidencial, mas, também, no

primeiro ano do mandato (2009) porque um dos seus objetivos era de mudar para melhor a

imagem dos Estados Unidos no mundo (NYE, 2013, p. 145).

32

No livro importante sobre o desempenho de Obama, três especialistas avaliam que, por um

lado, Obama não tem realizado os resultados transformativos que prometeu na companha

presidencial de 2008; e que houve erros – por exemplo, no processo de paz entre Israel-

Palestina. Por outro lado,

Obama tem se mostrado forte, disciplinado e, de modo geral, razoavelmente bem

sucedido ao confrontar os desafios imediatos de segurança nacional. Pode-se ser chamado realista relutante: mantendo suas visões idealísticas e as perseguindo

sempre que for possível, mas habilmente mudando para medidas mais rigorosas

quando necessário (INDYK et al., 2012).

A revista The Economist foi menos positivo em sua avaliação. Em relação ao assunto de

controle de armamentos e não proliferação nuclear, a revista considerou limitados os avanços

no primeiro mandato de Obama; considerou mais progresso possível no segundo mandato,

incluindo um esforço para nova rodada de negociações com a Rússia, mas o fato que relações

com Vladimir Putin estão bastante problemáticas pode ser um obstáculo (THE ECONOMIST,

2013).

Com relação à política dos Estados Unidos com Afeganistão, a revista considera que os

Estados Unidos já reduziram as metas de sua política e que Obama reconhece que nem todos

os objetivos originais haviam sido realizados. Resumindo, The Economist diz que, no lado

positivo, as políticas externas do primeiro mandato de Obama eram

racionais e razoáveis, combinando otimismo com cautela tática, e moderando grandes visões com avaliação cuidadosa dos custos. Apenas uma falha tem traído os

planos bem refletidos de Mr. Obama. Muitas vezes, realmente não tem funcionado

(THE ECONOMIST, 2013, p. 1).

Concluindo, avaliações por especialistas referentes ao primeiro mandato de Obama, de 2008 a

2012 sugerem que, por um lado, houve mudança grande em relação ao governo de G. W. Bush

no que diz respeito ao tom do discurso e a intenção de manter relações multilaterais ou

bilaterais com multiparcerias, ao em vez do unilateralismo de Bush. Houve realizações

importantes, como o fim da Guerra no Iraque e a retirada dos soldados americanos; e a morte

de Bin Laden. Por outro lado, diversas promessas feitas na campanha presidencial e no

primeiro ano de governo não foram realizadas.

No próximo capítulo, a política externa de Obama na área de segurança, nesse período, será

comparada com a política externa do governo G. W. Bush usando como referência os

33

conceitos de hard power, soft power e smart power para avaliar até que ponto houve mudança

significativa ou continuidade nessas políticas. Para melhor compreensão desta comparação,

pode ser consultado a tabela comparativa do anexo I na página 46.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS: GEORGE W. BUSH x BARACK H. OBAMA

O primeiro mandato de G. W. Bush foi marcado pela mudança na política externa dos Estados

Unidos, trajetória esta que teve como marco uma nova configuração da política de segurança

no pós-atentados do dia 11/09/2001, cujas características deram-se pelo unilateralismo e

intervencionismo sob o discurso de levar a democracia e liberdade para sociedades reprimidas

no mundo pela tirania, além da forte campanha de combate ao terror. A equipe de George W.

Bush composto pelos chamados falcões, cujas influências derivam do pensamento

neoconservador, foi determinante na implantação de uma política hard power para as tomadas

de decisão.

A invasão do Iraque em 2003 provocou grande descontentamento mundial uma vez que os

relatórios da Organização das Nações Unidas (ONU) não comprovaram nenhuma prova de

armas de destruição em massa (ADMs). Este exemplo de ação de política hard power mudou

o curso de ação natural dos EUA no que tange à estratégia militar de guerra, como visto no

capítulo 3, sobre a transição de uma política de contenção para uma política de ação

preventiva, onde neste caso, os EUA atacaram o Iraque com a justificativa de defesa.

Já o segundo mandato de G. W. Bush foi marcado pela continuidade da Doutrina Bush e da

Doutrina Preventiva, com ênfase na campanha de Guerra ao Terror. A falta de sucesso da

guerra no Iraque – apesar de Saddam Hussein ter sido capturado e seu regime derrubado –

como a desordem e o caos que permaneciam no país, ocasionou reflexo direto na política

externa (e política interna), além de fragilizar a economia doméstica. Os altos índices de

desemprego e regresso na economia, como analisados também no capítulo 3, provocaram

forte queda na popularidade de G. W. Bush e abriu espaço para os Democratas. Assim, o fim

da era Bush filho deixou um legado de alto poder e controle sobre a população americana

através das novas leis de segurança e combate ao terror, e uma antipatia da população mundial

em relação aos EUA.

34

O novo Presidente, Barack Obama teve que formular uma nova política de segurança para a

política externa, com destaque de mudança, porém sem apresentar uma imagem de fraqueza

que pudesse prejudicar a liderança global dos EUA e deixar vulnerável à crítica dos políticos

republicanos. Portanto, os diversos discursos de Obama durante sua campanha, relativos a

mudanças na política externa, criaram uma nova esperança à população americana.

A vitória de Obama como o 44º Presidente dos Estados Unidos trouxe de volta à Casa Branca

o partido Democrata, cuja ideologia se pauta mais nas relações multilaterais em política

externa. Obama trouxe consigo o slogan marcante de sua campanha presidencial, “Yes, we

can!” (“Sim, nós podemos!”), o qual faria frente às críticas dos republicanos durante seu

mandato, referente à sua conduta cautelosa no cenário internacional e à implantação de planos

considerados ousados no setor doméstico. Além de adotar políticas rígidas no combate à crise

econômica estadunidense, Obama colocou National Security no topo da lista da agenda

internacional, e optou por uma relativa mudança na composição da equipe responsável pelos

assuntos de política externa, o que neste caso, demonstrou pouca ou pequena ruptura em

relação à condução de política externa republicana.

Com dois anos de mandato, Obama lançou uma atualização do documento de Estratégia de

Segurança Nacional (National Security Strategy – NSS) para a política externa dos Estados

Unidos no qual destaca o papel do país na liderança internacional e os planos de ação na

política de segurança. Dentre as funções e planos, destacam-se: promoção da democracia e

direitos humanos; fortalecimento das alianças e instituições pela conduta multilateral;

combate à rede Al-Qaeda e todas as afiliações extremistas no Afeganistão, Paquistão e por

todo o globo; fortalecimento da segurança e recuperação doméstica aos moldes prósperos;

prosperar na economia através de investimentos, crescimento balanceado com

sustentabilidade e aceleração do desenvolvimento sustentável (NSS, 2010).

O papel dos Estados Unidos na liderança internacional depende, em grande parte, na maneira

como o é usado o poder e em quais circunstâncias. As relações de poder no sistema

internacional são compostas por ações e estratégias em que o ator ou, representante do Estado,

age conforme seus interesses e suas preferências, sendo permeado por constrangimentos e

possibilidades externas. Sob a lógica da abordagem tradicional de política externa, os Estados

possuem políticas externas coerentes implantadas em ações particulares. Em outras palavras,

os Estados têm objetivos em decorrência dos quais suas políticas são direcionadas e que os

35

governos calculam não só suas ações, mas também as consequências delas. (FIGUEIRA,

2011).

Com respeito à questão do poder, o autor Joseph Nye (2004, p. 2) define como “a habilidade

daquele de afetar o comportamento de outros para alcançar o que aquele deseja”, ele explica

que há três maneiras de realizar isto: através da coerção (o que ele aponta como sticks),

pagamento (apontado como carrots) e pela atração (cooptação). Assim, ele define o hard

power como o uso da coerção e pagamento, ao passo que o soft power seria a habilidade de se

obter um resultado desejável através da atração (NYE, 2004, p. 5-6). Na análise do governo

de George W. Bush, no capítulo 3, verificou-se uma tendência maior ao uso da política de

hard power na condução da sua política externa, e, após o ocorrido dos ataques de 11 de

setembro, o maior foco deste poder foi utilizado na área de Segurança.

Nye explica que a relação entre hard e soft power, “[...] se dá pela habilidade de atingir o

resultado de um ao afetar o comportamento de outros” (NYE, 2004, p. 7) e que diferem-se no

grau de comportamento e na qualidade de recursos. Assim, o autor associa a política de hard

power à ação de Command Power (capacidade de mudar o que os outros fazem, seja por

coerção ou indução), e a política de soft power à ação de Cooptive Power (capacidade de

moldar o que os outros querem, pela atratividade da sua cultura e valores) (NYE, 2007, p. 7).

De acordo com esta descrição de Nye, o que se pode constatar na análise do governo de G. W.

Bush é que o ex-presidente e sua administração utilizaram o Command Power como um meio

para justificar seus fins, principalmente após os ataques de 11 de setembro de 2001.

O discurso de G. W. Bush foi voltado para a exportação da democracia e liberdade na política

externa, como high politics27

na sua agenda internacional, e suas ações foram influenciadas

pela crença conservadora dos valores americanos e pela sua equipe neoconservadora. O

resultado desta forma de ação utilizada pelo governo G. W. Bush (abordado no capítulo 3),

portanto, teve reflexo negativo de imediato na comunidade internacional, incluindo seus

aliados (e causou um efeito negativo de médio-longo prazo no nível doméstico; porém, apesar

27 High politics ou “alta política” é um termo muito usado por analistas internacionais – referente à política

internacional – para designar questões prioritárias da agenda internacional de um Estado, como é o caso dos

EUA, tendo como o hard power (uso da força coercitiva) o centro do poder. Este termo é abordado pela linha de

pensamento realista que acredita que a força é um instrumento político utilizável e eficaz. Para maior

compreensão sobre o termo high politics, pode ser consultado o livro Power and Interdependence: World

Politics in Transition, dos autores Robert Keohane e Joseph Nye, publicado em 1977, e o livro Princípios de

Relações Internacionais da autora Karen Mingst, edição de 2009.

36

disso, conseguiu aprovação suficiente da população americana para a condução de um

segundo mandato).

O emprego do soft power no primeiro mandato de G. W. Bush foi baixíssimo, discreto e quase

nulo em seu segundo mandato. Isso foi um desafio na sua política externa referente à

Segurança Nacional no pós-guerra do Iraque, em particular a queda no apoio dos aliados, o

que não contribuía para a luta contra o terrorismo.

Em entrevista na televisão americana em 2004, Nye28

(WASHINGTON JOURNAL, 2004)

explicou que a tentativa de aplicação do soft power para a Guerra contra o Terrorismo no pós-

11 de setembro, revelou dificuldades na área de comunicação – foi implantado um canal

televisivo de notícias estadunidense no Iraque, no qual gerou repercursões e pouco efeito

surtido – e o investimento em diplomacia pública foi escasso; ao passo que os gastos com a

força militar (hard power) foram muito maiores. Nye destacou, também, sobre a importância

da opinião pública e dos líderes, e também a falta de coordenação dos Departamentos do

governo para dar coesão às políticas adotadas na política externa, assim como a dificuldade na

política doméstica advinda dos impasses do Congresso.

A necessidade de mudanças imediatas na política externa dos Estados Unidos e a adoção de

estratégias eficazes que colocassem o país no rumo certo eram fundamentais para a

consagração de Obama no papel de liderança. O desafio estava na elaboração de um plano

sustentável, atrativo e que possibilitasse condições de reerguer a imagem do país de forma

geral.

Em 2003, Nye desenvolveu o termo smart power para designar o uso de instrumentos de

poder hard e soft como uma combinação de estratégias smart (inteligentes) (NYE, 2009). Para

o desenvolvimento e popularização do smart power, Nye trabalhou em conjunto com o ex-

vice Secretário de Estado dos Estados Unidos, Richard Armitage, como parte de uma

comissão bipartidária pelo Center for Strategic and International Studies29

(CSIS) em 2007

28 Entrevista com Joseph Nye realizada por Susan M. Swain, no dia 31 de março de 2004, pelo noticiário

Washington Journal do canal de televisão C-SPAN, na qual foi realizada uma discussão sobre seu livro Soft

Power: the means to success in world politics. Para maiores detalhes, acesse a entrevista completa pelo site:

<www.c-span.org/video/?181191-4/book-discussion-soft-power-success-world-politics>. 29 Center for Strategic and International Studies (CSIS) é um think tank de Washington D.C., EUA, cuja

instituição sem fins lucrativos e de segment bipartidário reúne uma equipe de estudiosos acadêmicos que

37

(NYE, 2009). Segundo Nye, para que a combinação do hard power e soft power tornasse em

smart power era preciso o que ele chama de contextual intelligence (NYE, 2009), isto é, o

líder/chefe deverá saber utilizar ferramentas necessárias e ter habilidade de atuação como

figura de liderança no que tange seu papel, poder e gênero, sob o entendimento de que o papel

desta liderança pode variar dependendo do contexto (CARNEGIE COUNCIL, 2008).

O resultado desta parceria entre Nye e Armitage trouxe frutos à Administração da Casa

Branca, pouco tempo depois através da Hillary Clinton, a qual fez abertura do seu discurso de

confirmação como Secretária de Estado, no dia 13 de janeiro de 2009, quando discursou:

[...] devemos usar o que tem sido chamado de smart power, um alcance completo de

ferramentas à nossa disposição – diplomacia, economia, militar, política, legalidade

e cultura – pegando a ferramenta correta ou combinação de ferramentas para cada

situação. Com o smart power, a diplomacia será vanguarda da nossa política externa30 (THE NEW YORK TIMES, 2009, tradução nossa).

No discurso em que o Presidente Barack Obama apresentou na Universidade de Cairo, no

Egito, em junho de 2009 (mencionado no capítulo 4) é possível identificar elementos de

mudança referente ao seu plano de política externa em comparação ao de G. W. Bush, e

também a abordagem de estratégias inteligentes, ou, smart power. A escolha da sua visita ao

Egito para realizar este discurso demonstrou uma nova faceta das relações multilaterais, com

o intuito de aproximação das nações do Oriente Médio deixados de lado pelo Bush.

Algumas questões citadas por Obama dado como prioridade a ser tratado na política externa

estadunidense em relação ao Oriente Médio, foram: combate ao terrorismo; retomada dos

diálogos de paz entre Israel-Palestina e as situações de tensão no mundo árabe; os direitos e

responsabilidades das nações sobre armas nucleares (Tratado de Não-Proliferação de Armas

Nucleares); promoção da democracia de forma pacífica e sem imposição/defesa dos direitos

humanos; liberdade religiosa e a relação entre americanos e muçulmanos sem restrição ou

limite da religião; direitos da mulher na sociedade muçulmana. Segundo Obama, todas estas

iniciativas e propostas citadas só poderiam ser realizadas através da coordenação e parceria

conduzem pesquisas e análises, e o desenvolvimento de iniciativas políticas que visam o futuro e antecipam a

mudança. Para maiores detalhes, acesse: <http://csis.org/>.

30 [...] we must use what has been called smart power, the full range of tools at our disposal – diplomatic,

economic, military, political, legal and cultural – picking the right tool or combination of tools for each

situation. With smart power, diplomacy will be the vanguard of our foreign policy (THE NEW YORK TIMES,

2009).

38

entre os Estados Unidos e toda a comunidade muçulmana (THE WHITE HOUSE, 2009).

O fim do governo G. W. Bush e o primeiro mandato de Barack Obama representou uma

transição de governo com a política de segurança de política externa baseada no hard power

para um governo com abordagem intervencionista de caráter humanitário. Na visão de Obama

e sua equipe, mudança na política externa estadunidense era necessária para que se pudesse

dialogar com a comunidade internacional e ganhar seu apoio, mudando a imagem negativa

deixada por George W. Bush.

Apesar das dificuldades com aprovação de medidas no Congresso americano no plano

externo, e apesar de não realizar algumas promessas feitas relativas à política externa, Obama

abriu caminho para diálogo com países denominados por Bush como Eixo do Mal; adotou o

multilateralismo e a cooperação para questões referentes à segurança nacional e internacional,

como a criação e implantação da Estratégia de Segurança Nacional (National Security

Strategy, NSS-2010) e iniciativas pela não proliferação nuclear mundial. Obama cumpriu

ainda, a promessa pela captura de Osama Bin Laden, uma operação especial e sigilosa que

representou ações de hard power, porém, sem excessos de combate ou derramamento de

sangue.

Na verdade, pode-se dizer que Obama realizou um plano de ação com base na estratégia de

smart power, ao combinar as ferramentas necessárias para a utilização destas num contexto

específico. A política de segurança na política externa de Obama demonstrou coerência à

estratégia de política smart power ao longo do seu primeiro mandato, o que diverge da

maioria das ações e políticas adotadas por G. W. Bush. Outra realização importante de Obama

foi o apoio para encaminhamento final da Guerra no Iraque e a retirada gradual de tropas

americanas no Afeganistão, o que mostra a limitação do uso da força.

Porém, em meio às realizações positivas de Obama, surge o escândalo do Wikileaks. Em

novembro de 2010, foram publicadas inúmeras informações sigilosas do governo

estadunidense, especificamente no que tange a diplomacia pública na política externa. Estes

vazamentos ocorreram pelo Wikileaks, uma organização da internet com versão incensurável

do Wikipédia31

(2014). Julian Assange, fundador do Wikileaks (2006) e porta-voz principal

31 Wikipédia é um projeto de enciclopédia coletiva universal e multilíngue criado para uso pela internet sob o

princípio wiki, o qual significa “rápido, veloz” no idioma havaiano.

39

pelo website, publicou milhares de arquivos sobre o envolvimento dos Estados Unidos nas

guerras do Afeganistão (publicado em julho) e Iraque (publicado em outubro), e contou com o

apoio dos principais jornais internacionais para publicações de telegramas diplomáticos dos

EUA, ao final de novembro do mesmo ano (WIKIPEDIA, 2013).

As revelações de Assange, pelo Wikileaks provocou fortes críticas ao governo de Obama e ao

mesmo tempo grande repercussão internacional, o que colocou em xeque-mate a

transparência do governo na conduta da política externa. Estas revelações também levaram ao

questionamento sobre questões de accountability e compliance – em outras palavras, a

prestação de contas ao povo americano e o cumprimento de acordos – tanto no plano interno

quanto no plano externo, referentes aos tomadores de decisão do governo de Obama.

Até o final do seu mandato, em 2012, o presidente Barack Obama conseguiu, portanto, certas

mudanças importantes na política externa dos EUA, através do seu carisma e discurso ao

utilizar o smart power como sua estratégia política. Porém, ao analisar se houve mudanças

significativas ou continuidade na área de segurança da política externa de Obama em

comparação aos dois mandatos de George W. Bush, a conclusão desta pesquisa passa a

indagar a hipótese formulada ao princípio do presente trabalho, e sugere, portanto, uma

relativa mudança em certos aspectos, mas, houve uma continuidade da política de caráter hard

power do seu predecessor.

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Anexo I

Tabela Comparativa de Estratégias: Bush x Obama

BUSH (2001-2008)

Soft Power Hard Power

- Criação do plano emergencial de

ajuda ao combate à AIDS na África

- Política externa unilateral

- Internacionalismo não institucional

- Invasão ao Iraque

- Adoção da estratégia de Defesa

Preemptiva

- Criação da prisão de Guantánamo:

relatos de prática de tortura; violação

dos direitos humanos

Smart Power

Nenhuma ação considerável

OBAMA (2009-2012)

Soft Power Hard Power

- Política externa multilateral

- Retomada do diálogo de paz entre

Israel e Palestina

- Nova aproximação nas relações

com a Rússia e Oriente Médio

- Pedido de fechamento da prisão de

Guantánamo: proibição da prática de

tortura

- Caçada e execução de Bin Laden

- Informações adversas obtidas pelo

governo de forma ilegítimo e sem

transparência (accountability)

Smart Power

- Implantação da estratégia de Segurança Nacional

(NSS-2010)

- Execução de Bin Laden

- Retirada gradual de tropas americanas no Afeganistão

- Relação diplomática direta com Irã sem pré-condições

- Iniciativas e negociações bilaterais com a Rússia sobre

temas de não proliferação nuclear

Fonte: Autoria própria