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Ayala Calvo, J.C. y grupo de investigación FEDRA Conocimiento, innovación y emprendedores: Camino al futuro
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O PAPEL DA INOVAÇÃO E DO CONHECIMENTO
NA CONTRUÇÃO DA COMPETITIVIDADE REGIONAL
Maria José Silva, Universidade da Beira Interior
O PAPEL DA INOVAÇÃO E DO CONHECIMENTO
NA CONTRUÇÃO DA COMPETITIVIDADE TERRITORIAL
RESUMEN
Este artículo presenta una propuesta de investigación que pretende estudiar los factores que influencian el éxito
de un proceso de desarrollo territorial, teniendo por base la innovación y el conocimiento. Este trabajo evidencia
la justificación del estudio, así como la presentación las teorías de referencia en la temática. La teoría sistémica
de la innovación, los modelos inter-organizacional de la generación y transferencia del conocimiento y el
concepto de la ventaja construida. Para posteriores trabajos se construirá un modelo conceptual que describa los
componentes de un sistema regional de la innovación con el objetivo de promover la competitividad y el
desarrollo regionales.
PALAVRAS CLAVE: Innovación, Conocimiento, Sistema regional de innovación, Desarrollo regional,
Competitividad Regional, Ventaja construida.
ABSTRACT
This article presents an investigation proposal that pretends to study which factors influence the success of a
territorial development process, based in innovation and knowledge. This work presents the justification of the
study, as well as the theories of reference in this thematic. The innovation systems theory, the inter-
organizational knowledge models of generation and transference, and the concept of the constructed advantage.
For posterior works a conceptual model will be developed to describe the components of a regional innovation
system, with the aim to promote the competitiveness and the regional development.
KEY WORDS: Innovation, knowledge, regional innovation systems, regional development, regional
competitiveness, constructed advantage
1. INTRODUÇÃO
Este artigo tem como propósito apresentar um projecto de investigação que tem como objectivo o estudo em
profundidade dos processos de inovação e de geração e transferência de conhecimento numa base territorial. Este
propósito está na ordem do dia, sendo especialmente pertinente e necessário se considerarmos os desafios
colocados pela Estratégia de Lisboa e as orientações lançadas no Plano Tecnológico.
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Estabelecida em 2000 durante a Presidência Portuguesa da União Europeia, a Estratégia de Lisboa define
claramente o Conhecimento e a Inovação como os pontos base para a promoção do desenvolvimento e da
competitividade do espaço Europeu.
Em Portugal, para dar resposta aos desafios da Estratégia de Lisboa e colmatar o relativo atraso económico do
país na União Europeia, o Governo lança em 2005, o Plano Tecnológico, que surge como um plano de acção
evolutivo, dinâmico e interactivo, que mobiliza diversos agentes, entre eles o Governo, os territórios, as
instituições, as empresas e os cidadãos. O Plano Tecnológico define a sua estratégia de actuação baseada em três
eixos de acção: conhecimento, tecnologia e inovação.
Como refere Lopes (2001), a globalização fez emergir a escala territorial local e as suas especificidades no
contexto global como factores críticos. Neste âmbito, a nível Europeu, conjuntamente com as políticas
transnacionais, é reconhecida a necessidade das actuações atenderem às especificidades locais, concretizadas em
programas como o IRE (Innovating Regions in Europe) Network ou KnowReg “Regions of Knowledge”, no
contexto da chamada “Europa das Regiões”.
Também no contexto nacional se torna fundamental analisar numa base territorial as dinâmicas de acção dos
eixos enunciados no Plano Tecnológico, e de que forma contribuem para a construção da competitividade das
regiões e do país. Face aos desafios levantados a Portugal, e concretamente, às regiões portuguesas, é importante
desenvolver os conceitos, modelos e ferramentas que sejam apropriadas para este objectivo.
Em Portugal, a investigação realizada por Silva (2003) revela a importância do estudo dos factores
impulsionadores e limitadores da capacidade inovadora ao nível empresarial, carecendo estudos aos nível de
desenvolvimento territorial. Neste sentido será relevante e inovador o estudo de factores críticos de sucesso de
um sistema regional de inovação, bem como, analisar quais desses factores de sucesso são “universais” e,
portanto, replicáveis de região para região, e quais aqueles que são dependentes de condições eminentemente
locais, como a cultura, a história ou a geografia. Será também pertinente estudar quais as ligações entre os vários
agentes de um determinado território que potenciam a geração e a transferência de conhecimento e inovação.
Neste projecto de investigação pretende-se estudar o fenómeno da geração e transferência de conhecimento e de
inovação a partir de um ponto de vista integrador. As abordagens teóricas sobre esta temática são muitas e
variadas, e procurar-se-á aproveitar conceitos e evidências consideradas pelas distintas concepções, quer nos
aspectos em que elas são convergentes e compatíveis, quer nos aspectos particulares que as distinguem, de forma
a aprofundar o entendimento do fenómeno a estudar. Nesta investigação, considera-se o papel da geração e
transferência do conhecimento inter-organizações como fonte de inovação, de forma a analisar as suas
implicações para a competitividade e desenvolvimento regionais.
2 - INOVAÇÃO, GERAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO
Hoje em dia é geralmente aceite que o conhecimento e a inovação contribuem para o aumento da produtividade,
o crescimento económico e, consequentemente, para o desenvolvimento dos países e das regiões. Assim, será
importante estudar os mecanismos que regem os processos de inovação e a geração e a transferência de
conhecimento.
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As abordagens actuais de referência sobre os processos de inovação têm essencialmente uma natureza sistémica,
focada nos fluxos de conhecimento e na aprendizagem colectiva, envolvendo a interacção de vários agentes
económicos, sociais e políticos. Dentro desta abordagem, foi desenvolvido o conceito de Sistema Nacional de
Inovação, por autores como Freeman (1987), Lundvall (1992) ou Nelson (1993).
Freeman (1987) formulou o conceito de sistema nacional de inovação no seu livro, sobre política tecnológica e
performance económica no Japão, intitulado “Technology and Economic Performance: Lessons from Japan”. Na
descrição do sistema nacional de inovação do Japão, Freeman (1987:4) identifica claramente quatro elementos: o
papel do Ministry of International Trade and Industry (MITI); o papel das empresas de I&D especialmente
relacionadas com a importação de tecnologia; o papel da educação e formação e das inovações sociais e, por
último, a estrutura de conglomeração da indústria. O autor definiu o conceito de sistema nacional de inovação
como “a rede de relações de instituições do sector público e privado, cujas actividades, interacções iniciais,
importações, modificam e difundem as novas tecnologias” (Freeman, 1987:1).
Com os trabalhos publicados por Dosi et al. (1988), no livro “Technology Change and Economic Theory”, o
conceito de sistema nacional de inovação tornou-se tema central para futuros estudiosos em temas relacionados
com especialização nacional, inovação e desempenho económico.
Posteriormente, Lundvall (1992:2) define “o sistema de inovação como sendo constituído por elementos e
relações, os quais interagem na produção, difusão e utilização de novos conhecimentos economicamente úteis".
O mesmo autor define explicitamente o sistema nacional de inovação “em sentido global, incluindo todas as
partes e aspectos da estrutura económica e institucional que afectam o conhecimento, bem como, a pesquisa e
exploração - o sistema de produção, o sistema de marketing e o sistema financeiro representam eles mesmos os
sub-sistemas nos quais o conhecimento tem lugar” (Lundvall, 1992:12).
E acrescenta ainda que “determinar em detalhe quais os subsistemas e instituições sociais que podem ser
incluídos, ou excluídos na análise do sistema é uma tarefa que envolve análises históricas, bem como
considerações teóricas. Em diferentes períodos históricos, partes do sistema económico, ou diferentes interacções
entre os sub-sistemas, podem desempenhar um papel mais ou menos importante no processo de inovação”
(Lundvall, 1992:12-13). Segundo este autor, uma definição do sistema de inovação nacional deve ser flexível e
manter-se em aberto atendendo aos subsistemas que devem ser incluídos e aos processos que devem ser
estudados.
Nelson (1993), no seu livro “National Systems of Innovation: a Comparative Study”, também aborda o tema de
sistema nacional de inovação. No entanto, a abordagem de Nelson (1993) é muito diferente da abordagem de
Lundvall (1992), podendo mesmo ser considerada como complementar. Enquanto Lundvall (1992) apresenta
uma orientação teórica, Nelson (1993) essencialmente dá ênfase às evidências empíricas, apresentando estudos
de casos de 15 países, escritos na sua grande maioria por investigadores que residiam nesses mesmos países. Esta
orientação torna-se evidente na afirmação feita por Nelson e Rosenberg (1993), na qual referem: “a intenção
deste projecto foi descrever, comparar e tentar entender, em vez de primeiro teorizar e depois tentar provar ou
calibrar a teoria” (Nelson e Rosenberg, 1993:4).
Segundo estes investigadores, o sistema nacional de inovação é constituído por um "conjunto de instituições,
cujas interacções determinam o desempenho inovador das empresas" (Nelson e Rosenberg, 1993:4). De um
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modo geral, e recorrendo às conclusões da análise das características dos Sistemas Nacionais de Inovação em 15
países, concluiu-se que os sistemas diferem significativamente de país para país, dependendo da sua estrutura
económica, base de conhecimentos e instituições específicas. E também se concluiu que a envolvente nacional
influencia o desempenho inovador e a competitividade empresarial.
Posteriores investigações sobre o sistema nacional de inovação não alteram substancialmente o conceito. Edquist
(1997:14) considera que o "sistema de inovação é composto por todas as entidades económicas, organizações
sociais e políticas e outros factores que influenciam o desenvolvimento, difusão e uso da inovação". Também
Rodrigues (2001:17) define “sistema de inovação como um conjunto de instituições interligadas que contribuem
para criar, desenvolver, absorver, utilizar e partilhar conhecimentos economicamente úteis num determinado
território nacional”.
Como se pode constatar na abordagem do sistema nacional de inovação, a inovação resulta de um processo
colectivo de aprendizagem onde as instituições desempenham um papel de relevo, já que a aprendizagem resulta
da interacção da estrutura económica com a estrutura institucional.
Verifica-se igualmente nesta abordagem que os limites do próprio sistema são dados e correspondem aos limites
geográficos nacionais. Assim, os actores que interagem no processo de inovação partilham da mesma cultura,
história, linguagem e instituições políticas e sociais (Lundvall, 1992). Com base nesta abordagem, os estudos,
que analisam o processo de inovação, consideram o sistema de inovação delimitado pelas fronteiras nacionais,
focando de uma forma global todos os sectores de actividade, todas as tecnologias e regiões, não
particularizando cada um desses aspectos como importantes elementos de definição de um sistema de inovação.
Só posteriormente surge o interesse em estudar o sistema de inovação sob determinados enfoques. Assim,
emergem abordagens que estudam o sistema de inovação ao nível tecnológico, sectorial e regional.
Alguns autores argumentam a existência de um sistema tecnológico de inovação, definido como uma rede de
agentes que interagem numa área industrial/económica específica, sob uma infra-estrutura institucional
particular, envolvendo a geração, difusão e utilização de uma determinada tecnologia (Carlsson e Stankiewicz,
1991, Carlsson, 1994, 1997). “O sistema tecnológico é definido em termos de fluxo de conhecimentos e
competências, em vez do fluxo corrente de bens e serviços” (Carlsson e Stankiewicz, 1991:111). Os defensores
desta abordagem assumem ser mais frequente a interacção entre actores económicos face a um problema
tecnológico comum e o recurso a bases de conhecimento similar, do que essa interacção ocorrer simplesmente
como resultado da proximidade geográfica (Carlsson e Stankiewicz, 1995; Carlsson, 1997).
Segundo estes autores, a fronteira natural do sistema tecnológico de inovação é o próprio país, mas por vezes
pode fazer sentido falar num sistema tecnológico regional ou local. Noutros casos o sistema tecnológico pode ser
internacional ou mesmo global. “O desenho das fronteiras depende de certas circunstâncias, tais como, os
requisitos tecnológicos e de mercado, a capacidade dos vários agentes e o nível de interdependência entre os
agentes, etc.” (Carlsson e Stankiewicz, 1995:49).
Sob esta abordagem, os estudos sobre inovação dão maior ênfase às empresas que partilham tecnologias comuns
e às indústrias que estão relacionadas com a geração e difusão de novas tecnologias, considerando o elemento
tecnológico, como principal na definição dos contornos de um sistema de inovação. Este estudo é enriquecido
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pela abordagem que se segue, ao considerar não só os elementos tecnológicos, mas também os elementos
sectoriais na definição dos contornos do sistema de inovação.
O sistema sectorial da inovação pode ser definido como “um sistema (grupo) de empresas activas na concepção e
desenvolvimento de produtos de um determinado sector de actividade e para isso geram e utilizam uma
tecnologia comum” (Breschi and Malerba, 1997:152). Segundo os mesmos autores, as empresas do sistema
sectorial da inovação relacionam-se nas actividades inovadoras e nas actividades de mercado, através de
processos de interacção e cooperação e, simultaneamente, através de processos de competição.
Os defensores desta abordagem dão ênfase às interacções que ocorrem entre actores económicos no
desenvolvimento de uma tecnologia comum e ao processo de concorrência e selecção que se desenrolam no
mercado (Breschi and Malerba, 1997). Portanto, estes autores centralizam os seus estudos no campo tecnológico
e na área do produto, que pode não se restringir a um único sector de produção.
De acordo com estes autores, a delimitação de um sistema de inovação depende dos regimes tecnológicos que
prevalecem nas indústrias dominantes. Apesar de certas indústrias estarem localizadas em regiões específicas e
se constituírem deste modo como unidades de análise, existem outros sectores industriais, nos quais predominam
as interacções com agentes em diferentes regiões geográficas, pelo que os elementos tecnológicos e sectoriais
são cruciais na definição dos contornos do sistema de inovação. No entanto, nos últimos tempos verifica-se que
existe, na literatura sobre sistemas de inovação, uma particular atenção para a dimensão regional da inovação.
A importância da perspectiva regional da inovação foi evidenciada por vários investigadores. Nesta perspectiva
utiliza-se, frequentemente, o conceito de “Cluster” introduzido por Porter (1990, 1998), no qual é reconhecida
uma importante componente territorial nas relações empresariais e de conhecimento, e a partir do qual se
desenvolveu a importante fileira da competitividade regional.
Estudos empíricos revelam que actividades inovadoras em certos campos tecnológicos tendem a estar
concentradas em regiões ou localizações específicas (Audrestsch e Feldman, 1996; Almeida e Kogut, 1997 e
Simmie e Sennett, 1999).
Os estudos a nível regional sobre regiões inovadoras (innovative milieux) mostram que o processo de inovação é
intrínseco à região, levando à formação de um sistema regional de inovação (Cooke, 1998). A conceptualização
da inovação no contexto territorial é impulsionada pelo GREMI – Groupe de Recherche Européen sur Milieux
Innovateurs. De acordo com este grupo de investigadores, o meio, nomeadamente o meio inovador, serve de
suporte contextual das redes de inovação através das quais se organiza a aprendizagem colectiva. Este meio
abarca, de forma coerente, um sistema de produção, diferentes actores tanto sociais como económicos, uma
cultura específica e é nele que se desenvolve um processo dinâmico de aprendizagem colectiva (Camagni, 1991,
Cooke e Morgan, 1994). Nesta linha de pensamento, a inovação é compreendida como um processo de
aprendizagem colectiva, num determinado contexto territorial.
Num sistema regional de inovação podem ser identificados certos factores e mecanismos que se constituem
como vantagens, designadamente: Existência de efeitos externos regionais, Aprendizagem colectiva,
Proximidade geográfica e Políticas regionais.
Existência de efeitos externos regionais, dado que as regiões diferem entre si em determinados requisitos
relacionados com a inovação, tais como: qualificação da força de trabalho, educação, instituições de pesquisa,
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externalidades de conhecimento, difusão de conhecimento. Muitos destes factores são imóveis, proporcionado
vantagens a certas regiões relativamente a outras (Tödtling, 1992; Malecki, 1997; Simmie, 1997, Autio, 1998).
Num sistema regional de inovação, as empresas acedem ao conhecimento tácito e aprendem nesse meio, uma
vez que o conhecimento tácito, não codificado, só se transfere com aprendizagem colectiva, através da
interacção social, localizada e enraizada em organizações e ambientes específicos (Camagni, 1991; Johnson e
Lundvall, 2001). Assim, a transferência do conhecimento tácito ou pessoal requer contactos face a face e
mobilidade pessoal. Ambos se realizam predominantemente num pequeno limite espacial (Kaufmann e Tödtling,
2001). Como refere Nohria e Eccles, (1992) as localizações próximas dos vários actores podem levar ao
estabelecimento de tais relacionamentos, dado que este tipo de relações necessita de comunicação face à face.
Conforme se pode constatar a partir da exposição dos pontos anteriores, a proximidade geográfica permite
relacionamentos frequentes e face a face entre os parceiros, possibilitando quer a transmissão do conhecimento
tácito e consequentemente aprendizagem interactiva, quer ainda o desenvolvimento de uma tecnologia regional.
No estudo de Fritsch e Lukas (1999), constatou-se que a proximidade geográfica entre as empresas e as
instituições de pesquisa públicas é também muito importante para as relações de cooperação no âmbito da
inovação.
As políticas regionais assumem um papel mais activo no processo e no fornecimento de apoio inovador através
de medidas específicas associadas a casos e a problemas concretos dessas mesmas regiões (Malecki e Tödtling,
1995 e Hassink, 1996).
As vantagens acima referidas revelam a importância do sistema de inovação ao nível regional, salientando que a
difusão da inovação e os efeitos externos das actividades inovadoras necessitam de proximidade espacial de
modo a tornarem-se efectivos. Esta abordagem realça ainda que o processo de inovação da empresa é gerado e
sustentado através de relações entre empresas e, particularmente, através de vínculos intra-regionais de actores
que integram em circuitos inovadores.
Nesta linha de pensamento, Cooke et al. (1997) defendem a necessidade do conceito de Sistema Regional de
Inovação, uma vez que a inovação resulta de processos interactivos de aprendizagem, os quais ocorrem num
determinado contexto territorial. Recentemente, Fritcth e Stephan (2005) enunciaram algumas vantagens em
perspectivar regionalmente a Inovação, as quais, dada a prevalência actual dos sistemas de inovação
centralizados, se traduzem num grande potencial para melhorar as políticas de inovação.
Em síntese, as abordagens revistas conferem às interacções estabelecidas territorialmente o papel determinante
no fomento dos processos de inovação, dado que enfatizam o papel das economias externas, das sinergias de
aprendizagem inerentes ao próprio sistema e das relações que se estabelecem entre os diversos agentes
localizados numa determinada região.
Os sistemas de inovação podem ter uma perspectiva analítica (e.g. explicar desenvolvimento económico) ou
normativa (e.g. como promover o desenvolvimento pela inovação), entre outras. A abordagem sistémica da
inovação permitiria explicar o aparente paradoxo do sucesso económico de pequenos países, como por exemplo
os quatro países nórdicos europeus, assim como processos de “catch-up” por parte de países menos
desenvolvidos Lundvall (2005).
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Segundo Lundvall (1992) o mais importante recurso das economias modernas é o conhecimento, e portanto, o
mais importante processo a aprendizagem. Pode considerar-se a inovação como um processo interactivo de
aprendizagem, pelo que há assim que considerar o papel dos processos de geração e transferência de
conhecimento, e a sua relação com a inovação. Neste âmbito não existe até ao momento uma base teórica única,
pelo que se fará uma revisão e análise de diversos estudos sobre essa temática. A geração de conhecimento foi
inicialmente abordada por Nonaka e Takeuchi (1995). A transferência de conhecimento ao nível inter-
organizacional foi estudada principalmente por Zander e Kogut (1995), Tsai (2001) e Cummings (2004).
3 - COMPETITIVIDADE REGIONAL E VANTAGEM CONSTRUÍDA
Contrariamente à competitividade das empresas, não existe uma definição clara do conceito de competitividade
territorial, ao qual podemos associar, quer as noções de produtividade, quer a capacidade de exportar e ganhar
posição em mercados externos. Como referência, a Comissão Europeia (1999) define competitividade como “a
capacidade que as empresas, as indústrias, as regiões, as nações e as regiões supra-nacionais têm de gerar,
quando expostas a concorrência internacional, níveis de rendimento e de emprego relativamente elevados.”
Genericamente, e na perspectiva deste estudo, a competitividade de uma região provém não só da
competitividade das empresas que aí residem, e das suas interacções, mas também de outros activos de carácter
colectivo, como sejam redes formais e informais de inovação e conhecimento, capital social, confiança
institucional, o que remete para as abordagens sistémicas anteriormente referidas.
O conceito de “Vantagem Construída”, inicialmente introduzido por de la Mothe e Mallory (2003), surge como
uma evolução da noção de vantagem competitiva de Porter (1990, 1998), à qual adiciona o protagonismo do
sector público como motor de desenvolvimento, num processo de empreendedorismo institucional e colectivo.
A ideia da construção da vantagem foi recentemente referida por Cooke e Leydesdorff (2006) como sendo, em
conjunção com os sistemas regionais de inovação, o modelo preferido para alcançar um desenvolvimento
regional de sucesso. Nele a inovação surge como um processo local baseado no conhecimento, numa dinâmica
de liderança regional. Neste âmbito da construção da competitividade, o modelo “Triple Helix” proposto por
Etzkowitz e Leydesdorff (1995, 1996) descreve o importante papel empreendedor da Universidade na
dinamização dos processos locais de inovação. Também recentemente Asheim et al. (2006) referem a crescente
relevância dos Sistemas Regionais de Inovação, como formalização das complementaridades entre os sectores
público e privado na construção de vantagens regionais, para além daquelas dadas pelas teorias tradicionais das
vantagens comparativa e competitiva, as quais partem de perspectivas estáticas baseadas, respectivamente, nos
recursos e nos mercados.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este artigo tem como finalidade apresentar parte da proposta de investigação que se pretende estudar quais os
factores que determinam o sucesso de um processo de desenvolvimento regional com base na inovação e no
conhecimento. Esta investigação está numa fase inicial de elaboração, onde decorrem simultaneamente as
actividades de pesquisa bibliográfica e redacção do corpo do trabalho. Por este facto, procurou-se neste trabalho
evidenciar a justificação do estudo, bem como apresentar as abordagens de referência sobre a temática. Partindo
de uma abordagem sistémica da inovação, em modelos de geração e transferência de conhecimento inter-
organizacional e no conceito de Vantagem Construída, para posteriores trabalhos será desenvolvido um modelo
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conceptual que descreva os componentes de um sistema regional de inovação com o objectivo de promover a
competitividade e o desenvolvimento regionais. Esse modelo será objecto de contraste na investigação empírica,
de natureza quantitativa e qualitativa, a qual analisará processos de desenvolvimento com base na inovação e no
conhecimento ocorridos em algumas regiões europeias.
Face ao exposto ao longo deste trabalho e dada a importância crescente desta temática e os seus contributos para
o desenvolvimento das regiões, torna-se necessário um conhecimento mais profundo sobre o estudo do os
factores que determinam o sucesso de um processo de desenvolvimento regional com base na inovação e no
conhecimento. Perante a revisão da literatura, e partindo dos seguintes pressupostos:
• A Inovação e o Conhecimento são motores de crescimento, desenvolvimento e
competitividade;
• O Conhecimento e a Inovação são fenómenos localizados, que ocorrem num contexto
social e político;
• A proximidade espacial facilita a troca de conhecimentos e a aprendizagem;
• Os processos de desenvolvimento devem incorporar construtivamente as
especificidades locais;
Pretende-se aprofundar as seguintes questões de investigação:
• Como construir a competitividade e o desenvolvimento regional através do
Conhecimento e da Inovação?
• Quais as especificidades locais, de índole física, social e cultural que condicionam um
sistema regional de inovação?
• Como incorporar os recursos locais numa estratégia de competitividade construída?
Assim, o objectivo desta investigação consistirá em conhecer com mais profundidade os processos de inovação e
de geração e transferência de conhecimento numa base territorial, centrando a sua análise no estudo empírico de
várias regiões europeias.
Pretende-se então atingir os seguintes objectivos específicos:
• Identificar quais os componentes (actores e ligações) de um sistema regional de
inovação e sua articulação com os sistemas de inovação nacionais e transnacionais;
• Determinar quais os factores de sucesso de um sistema regional de inovação;
• Analisar quais desses factores de sucesso são “universais”, e portanto replicáveis de
região para região, e quais aqueles que são dependentes de condições eminentemente locais,
como a cultura, a história, a geografia;
• Estudar quais as ligações efectivas entre os vários agentes localizados num
determinado território que potenciam a inovação e a geração e transferência de conhecimento.
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• Construir um modelo conceptual sobre o processo de desenvolvimento com base na
inovação e no conhecimento numa perspectiva territorial, que será objecto de contraste na
investigação empírica.
Por fim, em termos de linhas orientadoras para trabalhos futuros no âmbito da investigação procurar-se-á
desenvolver a primeira parte de índole teórica, apresentando-se de uma forma mais detalhada e profunda os
principais conceitos e definições. Posteriormente, desenvolve-se a revisão da literatura sobre abordagem
sistémica da inovação, em modelos de geração e transferência de conhecimento inter-organizacional. Na segunda
parte da investigação, de índole prática, apresentar-se-á a metodologia mais adequada ao desenvolvimento do
estudo empírico de acordo com os objectivos específicos e hipóteses de investigação que se pretendem testar. No
desenvolvimento do estudo empírico utilizar-se-ão métodos de investigação quantitativos e qualitativos,
nomeadamente o Método de Estudo de Caso, a efectuar em regiões do espaço europeu onde tenham ocorrido
processos de desenvolvimento com base no conhecimento e na inovação.
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