1. introduÇÃo a mutaÇÃo antropolÓgica: uma crÍtica À
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“Do rio que tudo arrasta se diz que é violento. Mas ninguém diz violentas as margens
que o comprimem.” !"#$%&' !#"()$*
1. INTRODUÇÃO
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545 Foucault, Michel. Vigiar e Punir: Nascimento da Prisão. 34. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007, p. 143-187.
546 Go"man, Erving. Manicômios Prisões e Conventos. São Paulo: Perspectiva, 2005, p. 13-15.
547 Za"aroni,Eugênio Raúl. Em busca das penas perdidas. Rio de Janeiro, Revan, 1991.
A MUTAÇÃO ANTROPOLÓGICA: UMA CRÍTICA À TECNOLOGIA DA ALMA. *
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RENATO DE ALMEIDA FREITAS JÚNIOR
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2. O CORPO E A ALMA
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551 Foucault, Michel. Obra citada, p.127
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548 O conceito de Eu por nós adotado é o utilizado por Jung: O Eu “Constitui, inclusive, uma aquisição empírica
da existência individual. Parece que resulta, em primeiro lugar, do entrechoque do fator somático com o mun-
do exterior e uma vez que existe como sujeito real, desenvolve-se em decorrência de entrechoques posteri-
ores, tanto com o mundo exterior quanto com o mundo interior.” Pieri, Paolo F. Dicionário Junguiano. Petrópolis:
Vozes; SP: Paulus, 2002.549
“Toda instituição conquista parte do tempo e do interesse de seus participantes e lhes dá algo de um
mundo; em resumo, toda instituição tem tendência de ‘fechamento’. Quando resenhamos as diferentes insti-
tuições de nossa sociedade ocidental, veri/camos que algumas são muito mais ‘fechadas’ do que as outras.
Seu ‘fechamento’ ou seu caráter total é simbolizado pela barreira à relação social com o mundo externo e por
proibições à saída que muitas vezes estão incluídas no esquema físico – por exemplo, portas fechadas, paredes
altas, arame farpado, fossos, água, <oresta ou pântanos. A tais estabelecimentos dou o nome de INSTITUIÇÕES
TOTAIS.” (grifos meus). Go"man, Erving. Manicômios Prisões e Conventos. São Paulo: Perspectiva, 2005, p. 16.
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2. APONTAMENTO SOBRE
UMA CULTURA CRIMINOSA
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554 Bourdieu, Pierre. O poder simbólico. 12.ed. - Rio de Janeiro; Bertrand Brasil, 2009, p.199,241
555 Durkheim, Emile. As regras do método sociológico. Martin Claret. 1.ed. 2001, p.105.
556 Thorsten Sellin, Cultur Con&ict and Crime, Nueva York: Social Scince Research Council, Boletín, 41, 1938, p. 25
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552 Foucault, Michel. Obra citada, p.117.
553 Go"man, Erving. Estigma: Notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. 4.ed. -Rio de Janeiro: LTC,
2008, p.41
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558 Primeiro Comando da Capital. É a maior e mais organizada facção criminosa, atua dentro e fora dos presí-
dios. Possui uma hierarquia rígida a semelhança da própria policia militar.559
Durkheim, Emile. As regras do método sociológico. Martin Claret. 1.ed. 2001. ciS
Tal poder coercitivo é nominado, por alguns autores como sistema penal subterrâneo (Cf. ZAFFARONI, E. R.
et alii. Direito Penal Brasileiro I, Rio de Janeiro: Revan, p. 69 e ss.)
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557 Parsons, Talcott. The social system. Londres: Routledge & Kegan Paul, 1970, p.27-28.
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por uma espécie de privilégio de justiça, com suas leis próprias, seus delitos
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561
Marx, Karl. O 18 Brumário de Luís Bonaparte. In: GIANNOTTI, J.A (Org.). Os pensadores.
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136 137
4. A LINGUAGEM
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564 Heidegger, Martin. A essência da linguagem. In: A caminho da linguagem. Trad. Márcia de Sá Cavalcante
Schuback. Petrópolis: Vozes, 2003.565
Idem. p.68-76.
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'-.$-38B".* Esse efeito ideológico produz a cultura dominante dissimulando a função
de divisão na função de comunicação: a cultura que une (intermediário de comuni-
cação) é também a cultura que separa (instrumento de distinção) e que legitima as
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se pela sua distância em relação à cultura dominante.” 563
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563
Bourdieu , Pierre. Obra citada, p. 10-11. (grifos meus).
138 139
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568 As entrevistas foram realizadas com a autorização da direção da Penitenciária Central do Estado e do Centro
de Detenção e Ressocialização-II. Além destas unidades prisionais entrevistei internos e ex-internos de difer-
entes unidades. Contudo houve uma grande resistência dos presos em preencher formulários, pois não que-
riam ser reconhecidos pelos escritos, motivo pelo qual faço referência às pesquisas embora não tenha anexado
nenhum documento o/cial no presente artigo.
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566Bourdieu, Pierre. Obra citada, p.09.
567 Curiosidade: A palavras jumbo tem sua origem histórica em um grande supermercado de São Paulo que se
chamava jumbo. As famílias dos presos costumavam comprar alimentos para entregá-los no dia da visita neste
supermercado, e os produtos entravam com a sacola, desta forma a alimentação trazida /cou conhecida como
jumbo, e logo se espalhou pelas prisões do Brasil todo.
TIS 141
5. A TRANSMISSÃO DE VALORES
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569 Foucault, Michel. Obra citada. p.195-220.
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142 143
6. O CRIMINOSO
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“Das mãos da justiça ele recebe um condenado; mas aquilo que sobre ele
deve ser aplicado, não é a infração, é claro, nem mesmo exatamente o infrator,
$% &/$&049#"0&/$&)0/(0&'!.#,#+"#-&#&'#5+!'0&)0,&;%,!<;#! &1/#&)#*0&$#+0 &+0&início não foram levadas em conta na sentença, pois só eram pertinentes para
uma tecnologia corretiva. Esse outro personagem, que o aparelho penitenciá-
rio coloca no lugar do infrator condenado, é o delinquente.”573
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-3$"#"..13$" .69.$-$6-8/% '% %9?"$% .%9 >61& -3(-'" 1 correção disciplinar: “A
técnica penitenciária se exerce não sobre a relação de autoria, mas sobre a
572 O criminoso não é uma realidade em si mesmo tal como queriam os positivistas e evolucionistas, ele é,
sobretudo, uma construção histórica, alvo de um poder disciplinar e objeto de incidência de um saber total.573
Foucault, Michel. Obra citada. p.210
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cqS Idem. p.199.
571 Rusche, Georg; Kirchheimer, Otto. Punição e estrutura social. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1999.
144 145
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578 Idem. p.213.
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“A técnica penitenciária e o homem delinquente são de algum modo
irmãos gêmeos. Ninguém creia que foi a descoberta do delinquente por uma
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to das técnicas penitenciárias. Nem tampouco que a elaboração interna dos
métodos penitenciários terminou trazendo à luz a existência ‘objetiva’ de um
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ber.” 575
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574 Idem. p.211.
575 Idem. p.213.
576 Penitenciária Central do Estado do Paraná.
577 Colônia Penal Agrícola do Estado do Paraná.
146 147
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621 #"(%3.$#68/% '1 1&21 " '% (%#,%0 "2 .621D jO delinquente é um produto
da instituição. Não admira, pois, que, numa proporção considerável, a bio-
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'-2"3$%.0 $;(3-(1.0 3A:"-. '" 1,&-(18/% " 2".2% '" 1&:%.b “ela é uma física ou
uma anatomia do poder, uma tecnologia.” 583
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582 Foucault, Michel. Obra citada. p.249.
583 Idem. p. 172
7. CONCLUSÕES
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(%3:"381 .%9#" 1 ?6.$-81 '% ,#"("-$% '-:-3o não roubarás:
“Não há então natureza criminosa, mas jogos de força que, segundo
a classe a que pertencem os indivíduos, os conduziram ao poder ou à prisão:
Pobres, os magistrados de hoje sem dúvida povoariam os campos de trabalhos
forçados; e os forçados, se fosse bem nascidos, ‘tomariam assento nos tribu-
nais e aí distribuiriam justiça’. No fundo, a existência do crime manifesta feliz-
mente uma incompreensibilidade da natureza humana; deve-se ver nele, mais
que uma fraqueza ou uma doença, uma energia que se ergue, um brilhante
protesto da individualidade humana que sem dúvida lhe dá aos olhos de todos
seu estranho poder de fascínio.” 584
G Y.$1'% (#-1 % "F(&6A'%0 % (#-2"0 " ,%# H2 $#13.<%#21 % "F(&6A'% "2
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584 Idem. p. 240.
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