1 direito penal teoria da lei penal teresa pizarro beleza fdunl2010/2011
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DIREITO PENALTEORIA DA LEI PENAL
TERESA PIZARRO BELEZA
FDUNL
2010/2011
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NORMAS PENAIS
PREVISÃO: CRIME (“FACTO TÍPICO”)ESTATUIÇÃO: PENA (SANÇÃO)
“Quem matar outra pessoa…”“O médico que não prestar auxílio…”
Estes preceitos contêm normas de comportamento:
- proibições (de matar, de roubar, de violar)- comandos (de prestar auxílio)
CRIMES
Catálogos variam
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Criminalização?
Adultério, Prostituição, Lenocínio (favorecimento da prostituição), Abuso sexual de menores, Falsificação de documentos, Abstenção em eleições nacionais, Consumo de marijuana ou heroína, Violação de direitos de autor (fotocópias não autorizadas de um livro, por ex), Plágio de uma dissertação académica, Homossexualidade, Furto de documentos?
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Criminalização/descriminalização
Ambiente
Violência doméstica
Crimes de titulares de cargos políticos
‘Sexualidade’
Serviço militar
Consumo de drogas
PENAS
Variação histórica e geográfica
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Penas?
Morte
Tortura
Açoites
Mutilação
Prisão
Multa
Trabalho comunitário
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Variação histórica e geográfica
Quanto ao que é considerado crime e sua gravidade– Adultério– Consumo de drogas– Prática de actos homossexuais/homossexualidade
Quanto às sanções e seus limites– Pena de morte– Prisão– Alternativas
Fins das Penas
Devem servir para alguma coisa?
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E para que servem?
ASSUSTAR, dar exemplo
Demonstrar o poder do soberano
Reformar o condenado
Reafirmar simbolicamente o Direito
Dar satisfação à(s) vítima(s)
Apaziguar a sociedade
Evitar vinganças privadas…
FINS DAS PENAS
Prevenção– Geral
Negativa (ameaça de pena)
Positiva (reforço validade lei)
– EspecialNegativa (constrangimento)
Positiva (reintegração, recuperação)
Retribuição
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Morte ‘sem dor’?
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17Almost anything you take from a man can be given back except time.
TO DO TIME (PRISON)
“Almost anything you take from a man can be given back except time”
(Google, Poems in Prison…)
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Charles Dickens American Notes for General Circulation (1842)
“In its intention I am well convinced that it is kind, humane, and meant for reformation; but … I hold this slow and daily tampering with the mysteries of the brain to be immeasurably worse than any torture of the body.”
[on Eastern State Penitentiary, Philadelphia]
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PRISÃO
"For prison life with its endless privations and restrictions makes one rebellious. The most terrible thing about it is not that it breaks one's heart - hearts are made to be broken - but that it turns one's heart to stone."
Oscar Wilde, De Profundis (1895)
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PRISÃO
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One day in the life of # 12345
“… boredom, time-slowing boredom, interrupted by occasional bursts of fear and anger, is the governing reality of life in prison”
“The Contemporary Prison”, Norval Morris, in The Oxford History of the Prison, 1998
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Século XX
Anos 50, 60, 70: Optimismo, ressocialização, penas indeterminadas; motim Attica (1971);Anos 70: Nothing works (Martinson);Anos 80/90: – sobrelotação (em Portugal começa em 1984,
com Código fortemente ressocializador); – eleitoralismos punitivos (R. Nixon); Law and
Order Arguments for Socialism; – governing through crime;
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Séculos XX - XXI
Não des-socialização;
Penas “alternativas”; cumulativas?
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Rapper T.I. to serve community service on MTV
The show will feature the hip-hop artist performing his 1,000+ hours of community service, which precedes his one-year prison sentence.
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Reformas recentes ou em curso
Revisão do Dt Penitenciário (1979-2009)
Reconstrução do “parque penitenciário”– O problema do círculo vicioso do
overcrowding– As condições de detenção; os standards
internacionais– O “populismo penal”: insegurança,
demagogia…
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“Novas prisões-hoteis, com cinema e salas de encontro” (DN online, 27.6.08)
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DO USO DA PRISÃO
Números, variações
Taxas de encarceramento
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Europe - Prison Population Rates per 100,000 of the national population
Russian Federation 633Belarus 426Georgia 415Ukraine 325Latvia 287Estonia 259Moldova (Republic of) 246Lithuania 239Poland 230Azerbaijan 210
6 Dec 2007
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Europe
Jersey (United Kingdom) 198Czech Republic 186Luxembourg 160Bulgaria 159Slovakia 155Spain 154United Kingdom: England & Wales 152Guernsey (United Kingdom) 149Hungary 147United Kingdom: Scotland 145
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Europe
Macedonia (former Yugoslav Republic of) 107Portugal 105Greece 99Gibraltar (United Kingdom) 96Belgium 95Croatia 93France 91Germany 88Malta 86United Kingdom: Northern Ireland 85
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North America - Prison Population Rates per 100,000 of the national population
United States of America 751
Bermuda (United Kingdom) 394
Greenland (Denmark) 216
Canada 108
http://www.kcl.ac.uk/ 6 Dec 2007
PORTUGAL. 2010
Prison population total (including pre-trial detainees / remand prisoners) - 11,542 at 1.9.2010 (national prison administration - includes 156 in psychiatric institutions)
Prison population rate (per 100,000 of national population) - 108 based on an estimated national population of 10.64 million at beginning of September 2010 (from Eurostat figures)
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PORTUGAL.2
Pre-trial detainees / remand prisoners (percentage of prison population) - 19.3% (1.9.2010 - 14.3% untried, 4.9% awaiting final sentence)
Fonte: International Centre for Prison Studies, King’s College, London, http://www.kcl.ac.uk/schools/law/research/icps
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PORTUGAL. 3
Female prisoners (percentage of prison population) - 5.3% (1.9.2010)
Juveniles / minors / young prisoners incl. definition (percentage of prison population) - 0.7% (31.12.2009 - under 19)
Foreign prisoners (percentage of prison population) - 20.6% (1.9.2010
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ABOLICIONISMO
Da prisão (da pena de morte)
Do sistema penal
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QUAKERS canadianos
"The prison system is both a cause and a result of violence and social injustice. Throughout history, the majority of prisoners have been the powerless and the oppressed. We are increasingly clear that the imprisonment of human beings, like their enslavement, is inherently immoral, and is as destructive to the cagers as to the caged."
Em alternativa à abolição…
Reforma (contínua…) do sistema:– Descriminalização alguns comportamentos– Penas não detentivas– Formas de diversão processual
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DIVERSÃO
Tentativas de diminuir alcance de repressão penal
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Alternativas
Alteração de valoração substancial (ex. crimes sexuais)
Idem, mas com ‘deslocação’ para outro subsistema jurídico (ex. consumo drogas: DMOS+tratamento)
Idem, mas com ‘liberalização’ limitada (ex. aborto)
Diversão pp dita (processual!)
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Criminalização/descriminalização
Ambiente
Violência doméstica
Crimes de titulares de cargos políticos
‘Sexualidade’
Serviço militar
Consumo de drogas
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Sistemas de Diversão
Mediação penal
Oportunidade (incluindo prioridade investigação – Leis de Política Criminal)
Crimes não públicos
Suspensão provisória do processo, etc
Direito de Mera Ordenação Social (contra-ordenações, coimas…)
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Contra-correntes
neo-criminalizações e reivindicações de maior
intervenção penal
Neocriminalizações
Ambiente
Saúde pública, Economia nacional…
Violência doméstica
Actos de titulares de cargos políticos
Crimes contra a Humanidade
Pessoas Colectivas
Crimes de mercado…
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CONSTITUIÇÃO PENAL
Princípios constitucionais em matéria penal
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CONSTITUIÇÃO
CONTEÚDO DIREITO PENAL– CRIMES
Artº 18: “intervenção mínima” (ex: legitimidade de tipificação de crimes de perigo abstracto?)
– PENASNão há pena de morte, nem penas perpétuas, indefinidas, crueis ou degradantes (artºs 24, 25, 30)ProporcionaisIntransmissíveisAplicação judicial
DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS(DUDH) 1948
Artigo 5°
Ninguém será submetido a tortura nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes.
(...)
Artigo 9°
Ninguém pode ser arbitrariamente preso, detido ou exilado.
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DUDH
Artigo 10°
Toda a pessoa tem direito, em plena igualdade, a que a sua causa seja equitativa e publicamente julgada por um tribunal independente e imparcial que decida dos seus direitos e obrigações ou das razões de qualquer acusação em matéria penal que contra ela seja deduzida.
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DUDH
Artigo 11°
Toda a pessoa acusada de um acto delituoso presume-se inocente até que a sua culpabilidade fique legalmente provada no decurso de um processo público em que todas as garantias necessárias de defesa lhe sejam asseguradas.
Ninguém será condenado por acções ou omissões que, no momento da sua prática, não constituíam acto delituoso à face do direito interno ou internacional. Do mesmo modo, não será infligida pena mais grave do que a que era aplicável no momento em que o acto delituoso foi cometido.
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Princípios constitucionais penais
Legalidade
Intervenção mínima
Culpa
‘Humanidade’ das penas
Proporcionalidade das penas (igualdade)
Pessoalidade da responsabilidade criminal
Proibição efeitos automáticos das penas
Judicialização processo crime (=/= mediação?)
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CONSTITUIÇÃO
LEGALIDADE– Não há crime nem pena sem lei– Lei da AR (ou autorização legislativa ao
Governo)– Lei anterior– Lei clara, precisa, expressa: problema
conceitos indeterminados ou dificilmente compreensíveis – ex ‘Actos sexuais de relevo’ (< StGB).
LEGALIDADE
Aspectos ou ‘consequências’
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LEGALIDADE
Proibição integração de lacunas
Proibição interpretação extensiva
Proibição aplicação retroactiva
– DAS NORMAS “DESFAVORÁVEIS”
ANALOGIA / INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA
Art. 1º CP 1982
(Princípio da Legalidade)
ANALOGIA / INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA
Art. 18º do CP de 1886(...)
"Não é admissível a analogia ou indução por paridade ou, ou maioria de razão, para qualificar qualquer facto como crime; sendo sempre necessário que se verifiquem os elementos essencialmente constitutivos do facto criminoso, que a lei penal expressamente declarar."
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DISTINÇÃO NECESSÁRIA
NORMAS “DESFAVORÁVEIS”– Definem crimes– Definem penas– Definem circunstâncias agravantes– Agravam regimes anteriores
NORMAS “FAVORÁVEIS”– Excluem, atenuam, diminuem
responsabilidade
CIRCUNSTÂNCIAS AGRAVANTES
CP 1982 (Art. 71º)
CP 1886 (Art. 34º)
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TEMPO
IRRETROACTIVIDADE– Normas desfavoráveis -> legalidade
RETROACTIVIDADE– Normas favoráveis -> intervenção mínima
Momento prática do facto CP, artº 3.
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RETROACTIVIDADE
Normas descriminalizadoras
Normas que diminuem penas
Normas que estabeleçam “regime mais favorável” artº 2, nº 4 CP (p. ex. crime público transformado em semi-público).
O problema da ressalva do caso julgado.
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LIMITES?
Alteração “valor elevado” (furto) por via da passagem do tempo - mecanismo legal (UC indexada a salário mínimo) - pode beneficiar retroactivamente arguido?
Ver Ac. TC na página!!!
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CASO JULGADO
CRP não ressalva caso julgado
TC, Ac nº 644/98
TC, Ac nº 677/98
Solução da Lei de Revisão (59/2007): máximo pena da nova medida legal cumprido; entra no CP na revisão de 2007.
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Artigo 29.º
(Aplicação da lei criminal)
1. Ninguém pode ser sentenciado criminalmente senão em virtude de lei anterior que declare punível a acção ou a omissão, nem sofrer medida de segurança cujos pressupostos não estejam fixados em lei anterior. 2. (…)3. Não podem ser aplicadas penas ou medidas de segurança que não estejam expressamente cominadas em lei anterior. 4. Ninguém pode sofrer pena ou medida de segurança mais graves do que as previstas no momento da correspondente conduta ou da verificação dos respectivos pressupostos, aplicando-se retroactivamente as leis penais de conteúdo mais favorável ao arguido. 5. (…) 6. (…)
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Artigo 282.º(Efeitos da declaração de inconstitucionalidade ou de
ilegalidade) 1. A declaração de inconstitucionalidade ou de ilegalidade com força obrigatória geral produz efeitos desde a entrada em vigor da norma declarada inconstitucional ou ilegal e determina a repristinação das normas que ela, eventualmente, haja revogado. 2. (…)3. Ficam ressalvados os casos julgados, salvo decisão em contrário do Tribunal Constitucional quando a norma respeitar a matéria penal, disciplinar ou de ilícito de mera ordenação social e for de conteúdo menos favorável ao arguido. 4. (…)
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LEIS DE EMERGÊNCIA
Excepção à retroactividade das leis favoráveis?
Distinguir– Cessação da situação de emergência– Revogação da lei de emergência (AR “muda de
ideias”)
Possibilidade de a realidade politico-social “misturar” as duas coisas: a exportação ilícita de capitais (1974).
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Precisão das normas penais
Normas penais em branco:– Imprecisas (conceitos vagos)– Atribuindo competência definidora de
pressupostos de responsabilidade a instâncias “inferiores”
Inevitabilidade?
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Normas penais em branco
Ac do Tc 427/95
(Rel. M. F. Palma)
aditivos alimentares
Decreto-Lei nº 28/84, de 20 de Janeiro
artigo 24º, nº 1, alínea a)
artigo 82º, nº 2, alínea a), I
Portaria nº 833/89, de 22 de Setembro
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Normas penais em branco
"O Decreto-Lei nº 192/89, de 8 de Junho, vem regular a 'utilização de aditivos nos géneros alimentícios', referindo no seu artigo 4º, nº 1, que 'os aditivos alimentares admissíveis nos géneros alimentícios, os respectivos critérios de pureza e as condições da sua utilização constarão de portaria conjunta ...'.
Tal Portaria consiste precisamente na nº 833/89, de 22 de Novembro, invocando-se no seu preâmbulo que se utilizou tal forma 'porque a constante evolução dos conhecimentos técnico-científicos neste domínio, o eventual aparecimento de novos aditivos e a necessidade de harmonização com a legislação comunitária impõem uma disciplina legal que permita uma maior flexibilidade ...'. (Juiz de instrução)
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Normas penais em branco“A norma remissiva não é uma norma em branco que delegue na portaria o poder de definir o conteúdo da incriminação. Os critérios do ilícito penal - desvalor da acção proibida, desvalor do resultado lesivo e identificação do bem jurídico tutelado - encontram-se nas normas dos artigos 24º, nº 1, alínea a), e 82º, nº 2, alínea a), I, do Decreto-Lei nº 28/84 (aprovado mediante autorização legislativa da Assembleia da República). Tais critérios hão-de ser compreendidos a partir da ideia de utilização de aditivos que afectem a pureza dos produtos alimentares. A descrição, feita pela portaria, dos aditivos admissíveis é apenas uma concretização do critério legal, através da enumeração de substâncias que são insusceptíveis de afectar a pureza dos produtos, apesar de constituirem aditivos alimentares. Mas tal enumeração de substâncias não documenta nenhum critério autónomo de ilicitude - consiste apenas numa aplicação de conhecimentos técnicos.”
Ac TC 115/2008
Violação de regras de construção… Art. 277º CP.
CULPA
O que significa este princípio no Dt Penal
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CONSTITUIÇÃO
O princípio da culpa, a dignidade humana e a integridade moral inviolável da pessoa (Constituição, artºs 1º e 25º). – Ambiguidade (polissemia) de “culpa”
Responsabilidade subjectiva (dolo ou negligência, artº 13 CP)Imputabilidade (liberdade, artºs 19 e 20 CP)Medida de culpa como limite a medida de pena (artº 40 CP)
E as pessoas colectivas?
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Casos de Exclusão/diminuição da Culpa?
Naufrágio do navio britânico Mignonette =>Homicídio?
Desastre aéreo nos Andes (antropofagia)Þ Profanação de cadáver?
Þ Crime como acção típica, ilícita, culposa (e punível)
Þ Cláusulas de exclusão de ilicitude (do facto) ou de culpa (do agente) - arts 31º ss CP
Exercícios
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Exercícios: Governo “original”
Governo publica decreto-lei:
“Durante três anos, homicídio a pedido passa a ser punido com pena de multa. No final desse período, resultados serão avaliados e lei será revista.”
“Quem fumar dentro de estabelecimentos de ensino será punido com proibição de conduzir veículos automóveis durante três anos.”
Analise problemas de constitutcionalidade
Cont.
‘Quem contrair empréstimos bancários acima da suas possibilidades financeiras fica sujeito a pena de prisão na medida correspondente à medida da sua dívida’
‘Quem prometer casamento a outrem e não cumprir, será obrigado a indemnizar a vítima, celebrar o casamento prometido ou sofrer dois anos de prisão’
Analise problemas de constitucionalidade84
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BIBLIOGRAFIA
Beleza, T. P. Direito Penal 1º volBrito, J. de S. (1978) “A lei penal na Constitução” in Textos de Apoio de DPCarvalho, A. T. de (1997) Sucessão de leis penais (ult. ed)Dias, J. de F. (2004) 2ªed, 2007Palma, M. F. (1998) “A aplicação da lei no tempo..” in Jornadas sobre a Revisão do CP
Cont.
Palma, M. F. (2007) Direito Penal Constitucional
Roxin, Claus “Sentido e Limites da penal Estadual”, em Questões Fundamentais de Direito Penal
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