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1 Diagnóstico por meio da análise de mapas mentais: planejamento de ações em educação ambiental. Paola Maia Lo Sardo a* , Vânia Gomes Zuin b , Haydée Torres de Oliveira c . a Universidade Federal de São Carlos. Rodovia Washington Luiz, km 235, São Carlos, Brasil. [email protected] b Departamento de Metodologia de Ensino, Universidade Federal de São Carlos. Rodovia Washington Luiz, km 235, São Carlos, Brasil. [email protected] c Departamento de Hidrobiologia, Universidade Federal de São Carlos. Rodovia Washington Luiz, km 235, São Carlos, Brasil. [email protected] * Autora para correspondência: [email protected] Palavras-chave: Educação Ambiental, Percepção Ambiental, Assentamento Rural, Mapa Mental, Araraquara. Keywords: Environmental Education, Environmental Perception, Rural Settlement, Mental Map, Araraquara. Título abreviado: Análise de mapas mentais.

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Diagnóstico por meio da análise de mapas mentais: planejamento de ações em educação

ambiental.

Paola Maia Lo Sardo a*, Vânia Gomes Zuin b, Haydée Torres de Oliveira c.

a Universidade Federal de São Carlos. Rodovia Washington Luiz, km 235, São Carlos, Brasil. [email protected] b Departamento de Metodologia de Ensino, Universidade Federal de São Carlos. Rodovia Washington Luiz, km 235, São Carlos, Brasil. [email protected] c Departamento de Hidrobiologia, Universidade Federal de São Carlos. Rodovia Washington Luiz, km 235, São Carlos, Brasil. [email protected] * Autora para correspondência: [email protected]

Palavras-chave: Educação Ambiental, Percepção Ambiental, Assentamento Rural, Mapa

Mental, Araraquara.

Keywords: Environmental Education, Environmental Perception, Rural Settlement,

Mental Map, Araraquara.

Título abreviado: Análise de mapas mentais.

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ABSTRACT

This study of environmental perception allows understanding the interrelationships

between humans and the environment for the development of effective actions of

environmental education. The mental maps (drawings) can be used to express the

perception that the individual has of a certain place. The objective of this study was an

initial diagnosis of the environmental perception of the students from the sixth year of

the elementary school from Escola do Campo “Professor HermínioPaggôtto”, located in

the settlement Bela Vista do Chibarro (Araraquara/SP). The environmental perception

of the students was analyzed from two aspects, topophilical and topophobic experiences

related with the settlement where they live. From the analysis, it was found that the

students have a topophilical relationship with the place where they live, especially

towards the esthetic appreciation of natural landscapes, being in this way one of the

possibilities found for the development of education actions.

RESUMO

O estudo da percepção ambiental permite compreender as interrelações dos seres

humanos com o ambiente para o desenvolvimento de forma efetiva de ações de

educação ambiental. Os mapas mentais (desenhos) podem ser utilizados para expressar

a percepção que o indivíduo tem de um determinado lugar. O objetivo deste trabalho foi

realizar um diagnóstico inicial sobre a percepção ambiental das/os educandas/os do

sexto ano do Ensino Fundamental da Escola do Campo “Professor Hermínio Paggôtto”,

localizada no assentamento Bela Vista do Chibarro (Araraquara/SP). A percepção

ambiental das/os educandas/os foi analisada sob dois aspectos, as experiências

topofílicas e topofóbicas em relação ao assentamento onde vivem. Verificou-se que

as/os educandas/os possuem uma relação de topofilia com o lugar onde moram,

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principalmente no sentido da valorização estética das paisagens naturais, sendo uma das

potencialidades levantadas para o desenvolvimento das ações educativas.

INTRODUÇÃO

O ambiente é o resultado de interações múltiplas e complexas, mutáveis e

dinâmicas entre o espaço natural e a ação social que permitem a construção do sentido

de localidade, territorialidade, identidade, pertencimento e de contextualização para os

sujeitos individuais e os coletivos (Loureiro, 2004). Um dos objetivos da Educação

Ambiental é estabelecer e reforçar o vínculo de pertencimento à natureza, explorando

relações entre identidade, cultura e natureza, além de reconhecer os vínculos entre

diversidade biológica e diversidade cultural e apreciar esta diversidade (Sauvé, 2003).

As diferentes formas como os seres humanos compreendem e valorizam a

natureza estão diretamente influenciadas por seus contextos socioculturais; assim, as

relações estabelecidas com o mundo não-humano diferem entre culturas, momentos

históricos e mesmo entre indivíduos dentro da mesma cultura. Desse modo, as

percepções sobre a natureza são histórica e culturalmente determinadas e o

reconhecimento dessas diferenças pode auxiliar na análise crítica sobre as maneiras

de lidar com o mundo natural (Hoeffel & Fadini, 2007).

As ações em Educação Ambiental devem se adaptar a cada realidade,

trabalhando questões específicas de cada lugar em respeito à cultura, aos hábitos, aos

aspectos psicológicos, às características biofísicas, socioeconômicas e históricas de cada

localidade (Guimarães, 1995). Neste sentido, o estudo da percepção ambiental torna-se

primordial para compreender as interrelações dos seres humanos com o ambiente para o

desenvolvimento de forma efetiva de ações de Educação Ambiental que colaborem na

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solução de conflitos e problemas socioambientais e na valorização das potencialidades

locais.

A percepção do meio ambiente é uma forma de tentar entender e explicar as

relações entre o ser humano e o ambiente, buscando a compreensão de como uma

pessoa, seja individualmente, ou como parte de um grupo, percebe seu entorno e quais

os valores que estão implícitos quando toma determinadas decisões (Di Tullio, 2005).

Para analisar as relações do ser humano com o meio, é necessário compreender,

como está estruturado esse espaço percebido na mente das pessoas, ou seja, como

ocorre a construção das imagens mentais (Oliveira, 2006). Os mapas mentais (desenhos)

podem ser utilizados para expressar a percepção que o indivíduo tem de um

determinado lugar. São imagens que uma pessoa faz e transporta em seu sistema

cognitivo, derivadas da experiência num local ou das informações que dele tenha

(Vestena & Vestena, 2003).

Os desenhos devem ser interpretados como uma forma de comunicação, pois

estão relacionados às características do mundo real, construídos por sujeitos históricos,

reproduzindo lugares reais, vividos, produzidos e construídos materialmente (Kozel &

Nogueira, 1999 apud, Kozel, 2001)

Tuan (1980), citado por Marin (2003), se referia ao termo topofilia como atração

do ser humano aos aspectos físicos, especialmente paisagísticos, de um determinado

ambiente, representando a ligação afetiva que as pessoas apresentam com um ambiente

qualquer, natural ou construído, variando entre os indivíduos, na medida das diferenças

de suas experiências.

Assim, existe uma tendência natural para o desenvolvimento de sentimentos

positivos, como cuidado e admiração, em relação às paisagens consideradas belas.

Enquanto que, quando uma paisagem está associada a um sentimento negativo, como

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medo, desconforto visual ou olfativo, pode ocorrer uma desvalorização da mesma a

ponto de perder seu valor de existência. Isso demonstra a importância em compreender

o valor atribuído ao ambiente visando ações educativas e de conservação da

biodiversidade (Tonissi, 2005). Por outro lado, a identificação dos problemas

ambientais percebidos também se torna válida para adotar os recursos didáticos, as

metodologias e as ações educativas cabíveis visando a transformação da realidade local.

Além disso, o meio rural precisa de uma Educação Ambiental específica para

estimular um processo de reflexão sobre modelos de desenvolvimento rural que sejam

responsáveis do ponto de vista econômico, social e ecológico e voltada aos interesses

dos povos que moram e trabalham no campo (Zakrzevski, 2004).

Diante do exposto, o objetivo geral deste trabalho foi realizar um diagnóstico

inicial sobre a percepção ambiental das/os educandas/os a fim de reunir subsídios para

futuras ações educativas. Neste sentido, os objetivos específicos foram: (1) investigar as

relações positivas ou negativas das/os educandas/os com lugar onde moram

(experiências topofílicas e topofóbicas); (2) conhecer a percepção das/os educandas/os

sobre a relação ser humano-natureza-sociedade; e (3) avaliar o uso de mapas mentais

como um procedimento metodológico para o estudo da percepção ambiental e a

realização de diagnósticos.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A pesquisa foi realizada na escola pública “Professor Hermínio Paggôtto”,

localizada no assentamento de reforma agrária Bela Vista do Chibarro (Araraquara/SP),

de responsabilidade do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, localizado

a cerca de 30 km da cidade de Araraquara, Estado de São Paulo. O trabalho foi

realizado no ano de 2007.

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Bastos (2005) relata que a partir de uma demanda originada da própria

comunidade, a escola foi municipalizada dentro do projeto “Escola do Campo” da

Prefeitura Municipal de Araraquara. O processo de construção desse programa ocorreu

em 2001, dentro da I Conferência Municipal de Educação do Município de Araraquara.

Segundo a mesma autora (2005), a fim de que essas diretrizes pudessem

realmente entrar na dinâmica das escolas, também foram definidos alguns complexos

temáticos - Identidade, Meio Ambiente, Ética, Trabalho, Saúde e Política- que foram

incluídos no projeto para orientar a elaboração dos planos de ensino e que deveriam ser

articulados com as atividades e conteúdos que o/a professor/a desenvolve na sala de

aula.

De acordo com as diretrizes e temas expostos, a escola possui projetos

específicos para cada série e/ou ciclo, dentre eles o “Projeto N°2- Educação

Ambiental”. Este trabalho contribuiu para um diagnóstico inicial sobre a percepção

ambiental de educandas/os visando o desenvolvimento de ações de educação ambiental.

Para alcançar os objetivos propostos para este estudo optou-se pelo

desenvolvimento de um estudo qualitativo (Ludke & André, 1986). A pesquisa em

Educação Ambiental tem como objetivo produzir conhecimentos acerca dos processos

educativos nos quais se envolve, a fim de consolidar a dimensão ambiental da educação,

ou seja, a produção de conhecimentos para a ambientalização da educação (Tozoni-

Reis, 2005).

A investigação envolveu aproximadamente dez educandas/os do sexto ano do

Ensino Fundamental em encontros realizados durante as aulas de Ciências. Esta

proposta de trabalho foi desenvolvida a partir de desenhos (mapas mentais) produzidos

pelas/os educandas/os. Cada educanda/o produziu dois desenhos, um sobre ‘o que mais

gostava do local onde mora’ e o outro sobre ‘o que menos gostava do local onde mora’.

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Além disso, cada um/a apresentou seu desenho para a turma e explicou o que desenhou

e por quê. Todas as explicações foram gravadas em áudio e transcritas e os desenhos

recolhidos para posterior interpretação e análise.

De acordo com Di Giovanni (2001), para a interpretação e análise dos mapas

mentais os símbolos apresentados foram classificados em componentes naturais,

divididos em elementos biológicos ou físicos, e componentes antrópicos. Também foi

feito o levantamento das freqüências de aparecimento desses componentes (Tabela 1 e

Tabela 2).

A partir do material visual obtido e das gravações em áudio, elaborou-se um

texto de análise, a partir do entendimento da pesquisadora e seus estudos sobre

interpretação de desenhos (Moreira, 1987; Silva, 1998; Kozel, 2001). É importante

destacar que existem outras possibilidades de interpretação por outras/os intérpretes,

podendo gerar diferentes resultados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram interpretados e analisados oito mapas mentais, dois deles produzidos por

meninos e os outros seis por meninas. (Figura 1). Os mapas mentais sobre as

experiências topofílicas – sobre o que mais as/os educandas/os gostavam no local onde

vivem - em sua maioria (75% do total dos desenhos) retrataram paisagens naturais

diferentes umas das outras. Todas as paisagens foram produzidas por meninas. Em suas

explicações, afirmaram que os desenhos correspondem aos locais do assentamento que

podem ser vistos na agrovila ou nos lotes do assentamento.

Nas paisagens foram representados, sobretudo, elementos físicos ou geográficos

(sol, nuvem, montanha, água etc.) e biológicos (árvores, vegetação herbácea, aves). O

componente antrópico apareceu em um desses desenhos, a representação da casa da

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própria educanda, onde se pode avistar a paisagem que desenhou. Não houve

representação de seres humanos nesses mapas mentais.

Em 25% do total de mapas mentais foi abordado o sentimento da amizade, sendo

que o ser humano foi representado somente em um dos mapas metais (12,5 % do total

dos desenhos), no qual o educando representou seu amigo e a casa deste. No outro, o

educando representou a escola, mencionada por ele como local de encontro com os

amigos.

Representações simbólicas Freqüência (%) Sol 100.0 Montanha 75.0 Nuvem 62.5 Água 25.0 Terra 25.0

Fís

icos

Rocha 12.5 Árvore 85.5 Flor 75.0 Vegetação herbácea

62.5

Flo

ra

Vegetação aquática 12.5 Ave 25.0 Ser humano 12.5

Com

pone

ntes

Nat

urai

s

Bio

lógi

cos

Fau

na

Peixe 12.5

Casa 25.0

Com

pone

ntes

an

tróp

icos

Escola 12.5

Tabela 1. Freqüência relativa de aparecimento das representações simbólicas dos componentes naturais e antrópicos nos mapas mentais sobre as experiências topofílicas em relação ao lugar onde moram.

Baseando-se na Tabela 1, observou-se que entre os componentes naturais

biológicos mais representados pelas/os educandas/os destaca-se a flora. A partir dos

mapas mentais, pode-se inferir que existiu uma maior preferência em compor paisagens

com vegetação verde de diferentes tipos e tamanhos e também flores. Entre os

componentes naturais físicos, a representação do céu apareceu em todos os desenhos.

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Os mapas mentais sobre as experiências topofóbicas – sobre o que as/os

educandas/os menos gostavam no local onde vivem - retrataram locais e/ou situações no

assentamento que despertam nas/os educandas/os sentimentos e opiniões sobre alguns

problemas socioambientais locais ou ainda medos e desconfortos pessoais. Nas visões

topofóbicas, educandas/os captaram algumas relações existentes no espaço, embora não

fazendo parte do visível, são representadas como imagens negativas do espaço vivido.

Em 37,5% do total dos desenhos, foi abordada a poluição no assentamento em

diferentes compartimentos ambientais (corpos d’água, solo, atmosfera), gerada

principalmente pelo acúmulo de lixo nos rios e na agrovila, bem como pela queimada da

cana-de-açúcar.

A problemática dos resíduos sólidos no assentamento não é recente. De acordo

com entrevista realizada com a diretora da escola, desde a década de noventa, nos seus

primeiros contatos com o assentamento, uma das principais problemáticas observadas

por ela foi a questão do lixo.

Atualmente, a problemática da disposição dos resíduos diminuiu, no entanto,

ainda é um desafio para a comunidade, pois algumas/alguns moradoras/es não

acondicionam o lixo de forma adequada, e os resíduos ficam espalhados pelas ruas,

gerando grande potencial para proliferação de vetores de doença, como ratos e

mosquitos. Além das/os educandas/os, educadoras/es e a direção da escola sempre

relatavam esta dificuldade encontrada no assentamento e como trabalhar a problemática

do lixo durante as aulas.

A poluição dos corpos d’água foi apresentada por meio de uma representação

composta por elementos naturais físicos e biológicos, enfatizando um rio com lixo em

seu interior. No assentamento existem muitas nascentes, além dos rios Chibarro e Jacaré

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Guaçú que passam por suas terras. A comunidade já vivenciou alguns problemas

relacionados com a qualidade de água do assentamento.

O terceiro desenho, relacionado à poluição, representa uma plantação de cana-

de-açúcar, no qual o aspecto negativo levantado foi a poluição do ar e o incômodo

devido à queimada da palha da cana. Não há dúvidas de que a queima da cana traz

prejuízos ambientais, sendo que esta é cultivada na forma de monocultura em 80 % dos

lotes; as plantações são muito próximas às moradias e a prática da queima da cana para

o corte ainda é comum, não só no assentamento, mas em toda região de Araraquara.

Em 25% do total dos mapas mentais foram representadas situações de conflito

entre pessoas, enfatizando o contato físico. Em suas explicações mencionaram a palavra

violência, manifestando o desagrado em relação às situações de agressão. Em 37,5% do

total dos mapas mentais as representações estão relacionadas aos desconfortos e medos

pessoais como o medo de serpentes ou de ficar sozinha em casa.

Representações simbólicas Freqüência (%) Nuvem 100.0 Sol 87.5 Água 25.0

Fís

icos

Terra 25.0 Árvore 50.0 Vegetação herbácea

35.5

Flo

ra

Plantação de cana 12.5 Ser humano 37.5 Ave 25.0 Serpente 12.5

Com

pone

ntes

Nat

urai

s

Bio

lógi

cos

Fau

na

Peixe 12.5

Casa 62.5

Lixo 25.0

Com

pone

ntes

an

tróp

icos

Cesto de lixo 12.5

Tabela 2. Freqüência relativa de aparecimento das representações simbólicas dos componentes naturais e antrópicos nos mapas mentais sobre as experiências topofóbicas em relação ao lugar onde moram.

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Baseando-se na Tabela 2, observou-se que nos mapas mentais sobre as

experiências topofóbicas, assim como naqueles relacionados aos sentimentos positivos,

os componentes físicos e biológicos são mais freqüentemente representados. A

freqüência de aparecimento de componentes antrópicos e representações de seres

humanos nos mapas mentais que retrataram as experiências topofóbicas foi maior que

nos mapas sobre topofilia. Não houve representações direta ou indiretamente

relacionadas ao ser humano em apenas um dos mapas mentais, no qual o desenho é uma

paisagem essencialmente natural.

Figura 1. Mapas mentais produzidos pelas/os educandas/os sobre as experiências topofílicas e topofóbicas em relação ao lugar onde moram (assentamento).

Portanto, nos mapas mentais sobre topofilia houve o predomínio de paisagens

naturais sem a presença humana direta ou indireta. De modo contrário, nos mapas

mentais sobre topofobia as representações sobre as experiências negativas foram

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bastante diversas entre as/os educandas/os, mas estiveram presentes componentes

antrópicos e representações de seres humanos na maioria dos desenhos.

A baixa freqüência de representações de seres humanos e animais nos mapas

mentais poderia estar relacionada à maior dificuldade em desenhá-los e não exatamente

a percepção à eles associada. No entanto, para este estudo isso não pode ser

considerado, pois, como já apontado, nos mapas mentais sobre as experiências

topofóbicas essas representações apareceram. Com outros públicos, principalmente com

adultos, este aspecto deve ser considerado no momento da análise dos mapas mentais,

pois pode haver dificuldade na expressão por meio de desenhos. Assim, os mapas

mentais podem ser associados a outras técnicas que utilizem diferentes formas de

comunicação para complementar a análise da percepção.

A partir da análise, verificou-se que as/os educandas/os possuem uma relação de

topofilia com o lugar onde moram, principalmente no sentido da valorização estética

das paisagens naturais, pois o ambiente natural do assentamento teve grande destaque

nos mapas mentais, sendo uma das potencialidades levantadas para o desenvolvimento

das ações educativas.

De modo geral, há uma visão quase que predominante de ambiente como

natureza original e “pura”, excluindo-se o ser humano como sua parte integrante. Essa

percepção do ambiente está relacionada com um sentimento de contemplação e

admiração perante o ambiente, do qual, muitas vezes, o indivíduo é apenas um

observador da natureza, não se sentindo integrado a ela. O ambiente natural é percebido

como algo a ser apreciado e preservado, do qual os seres humanos podem estar

dissociados (SAUVÉ, 1997). Este é outro ponto para ser desenvolvido nas ações

educativas, por meio de atividades que estimulem a percepção da necessária integração

do ser humano com o meio ambiente e também de uma visão sistêmica e complexa do

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ambiente, seu equilíbrio dinâmico e a interdependência entre todos os elementos da

natureza.

A outra potencialidade levantada foi o ambiente da escola, mencionado como

lugar de encontro, de convívio e de amizade. A amizade foi valorizada como algo

importante no local onde vivem.

CONCLUSÕES

Com este estudo foi possível levantar e analisar a percepção ambiental das/os

educandas/os sob dois aspectos, as experiências topofílicas e topofóbicas em relação ao

assentamento onde vivem. Além disso, o diagnóstico inicial por meio de mapas mentais

proporcionou o início da compreensão do contexto do assentamento de reforma agrária

e da escola do campo, ambos em suas potencialidades e dificuldades.

O uso de mapas mentais como um instrumento metodológico para compreender

as experiências topofílicas e topofóbicas em relação ao assentamento se mostrou

adequado, pois permitiu que cada educada/o pudesse se manifestar livremente,

explicitando sua percepção sobre o local onde mora. Quando se utilizam questionários

ou entrevistas, por mais abertas que sejam as questões, estas podem restringir e/ou

influenciar as respostas dos/as participantes. Outra vantagem de se utilizar os mapas

mentais é o nível de detalhe dos desenhos, que pode auxiliar na análise de como as

pessoas percebem o ambiente. A riqueza de detalhes é mais dificilmente percebida na

escrita ou na fala.

O estudo da topofilia contribuiu para elucidar alguns dos aspectos mais

apreciados no local, como a paisagem natural, que podem ser trabalhados em ações

educativas a fim de potencializar essa topofilia e/ou para reduzir as relações de

topofobia levantadas (poluição, violências, medos e desconfortos). Além disso, a

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percepção do ambiente como algo à ser apreciado e preservado, do qual os seres

humanos podem estar dissociados, também é dos focos que exige reflexão para o

desenvolvimento das ações educativas.

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