1. caderno do professor poemas

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Poetas da escola

O poeta se aproxima da criana, que v o mundo com olhos virgens e que, por quase nada saber, est aberta ao mistrio das coisas. Para a criana como para o poeta viver uma incessante descoberta da vida.Ferreira Gullar

Copyright 2010 by Cenpec e Fundao Ita Social

Coordenao tcnicaCentro de Estudos e Pesquisas em Educao, Cultura e Ao Comunitria Cenpec

Crditos da publicaoCoordenao Sonia Madi Equipe de produo Anna Helena Altenfelder Maria Alice Armelin Consultoria especializada Frederico Barbosa Norma Seltzer Goldstein Tatiana Fraga Leitura crtica Zoraide Faustinoni Silva Colaborao Egon de Oliveira Rangel Organizao Beatriz Pedro Cortese Projeto grfico e capa Criss de Paulo e Walter Mazzuchelli Ilustraes Criss de Paulo Editorao e reviso agwm editora e produes editoriaisDados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP) (Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Poetas da escola : caderno do professor : orientao para produo de textos / [equipe de produo Anna Helena Altenfelder, Maria Alice Armelin]. So Paulo : Cenpec. (Coleo da Olmpiada) Vrios colaboradores Bibliografia. ISBN 978-85-85786-88-5 1. Olimpada de Lngua Portuguesa 2. Poemas 3. Poesias escolares brasileiras 4. Textos 5. Versos escolares I. Altenfelder, Anna Helena. II. Armelin, Maria Alice. III. Srie. 09-13445 ndices para catlogo sistemtico: CDD-371.0079

1. Olimpada de Lngua Portuguesa : Escolas : Educao 371.0079

ContatoCenpec Rua Minas Gerais, 228 01244-010 So Paulo SP Telefone: 0800-7719310 e-mail: [email protected] www.escrevendoofuturo.org.br

IniciativaMinistrio da Educao

Caro Professor,Bem-vindo Olimpada de Lngua Portuguesa Escrevendo o Futuro, iniciativa do Ministrio da Educao (MEC) e da Fundao Ita Social (FIS), com a coordenao tcnica do Centro de Estudos e Pesquisas em Educao, Cultura e Ao Comunitria (Cenpec). A unio de esforos do poder pblico, da iniciativa privada e da sociedade civil visa um objetivo comum: proporcionar ensino de qualidade para todos. O MEC encontrou no Programa Escrevendo o Futuro a metodologia adequada para realizar a Olimpada uma das aes do Plano de Desenvolvimento da Educao, idealizado para fortalecer a educao no pas. A Olimpada um programa de carter bienal e contnuo. Constitui uma estratgia de mobilizao que proporciona, aos professores da rede pblica, oportunidades de formao. Em anos mpares, atende diversos agentes educacionais: tcnicos de secretarias de educao que atuam como formadores, diretores, professores. Em anos pares, promove um concurso de produo de texto para alunos do 5 ano do Ensino Fundamental ao 3 ano do Ensino Mdio. Este Caderno do Professor traz uma sequncia didtica desenvolvida para estimular a vivncia de uma metodologia de ensino de lngua que trabalha com gneros textuais. As atividades aqui sugeridas propiciam o desenvolvimento de habilidades de leitura e de escrita previstas nos currculos escolares e devem fazer parte do seu dia a dia como professor. Ao realiz-las, voc estar trabalhando com contedos de lngua portuguesa que precisam ser ensinados durante o ano letivo. O tema do concurso O lugar onde vivo e escrever sobre isso requer leituras, pesquisas e estudos, que incitam um novo olhar acerca da realidade e abrem perspectivas de transformao. Para que os alunos dos vrios cantos do Brasil produzam textos de qualidade fundamental a participao e o envolvimento dos professores, contando com o apoio da direo da escola, dos pais e da comunidade. Nesta Olimpada, os alunos concorrero em quatro categorias, cada uma delas envolve dois anos escolares: Poema 5 e 6 anos do Ensino Fundamental. Memrias literrias 7 e 8 anos do Ensino Fundamental. Crnica 9 ano do Ensino Fundamental e 1- ano do Ensino Mdio. Artigo de opinio 2 e 3 anos do Ensino Mdio. A Olimpada no est em busca de talentos, mas tem o firme propsito de contribuir para a melhoria da escrita de todos. O importante que os seus alunos cheguem ao final da sequncia didtica tendo aprendido a se comunicar com competncia no gnero estudado. Isso contribuir para que se tornem cidados mais bem preparados. E voc, professor, quem pode proporcionar essa conquista. Desejamos a voc e seus alunos um timo trabalho!

Coleo da OlimpadaAs escolas pblicas brasileiras que atendem um ou mais anos escolares entre o 5 ano do Ensino Fundamental e o 3 ano do Ensino Mdio recebero uma coleo da Olimpada de Lngua Portuguesa Escrevendo o Futuro com quatro pastas. Em cada uma delas h material que visa colaborar com o professor no ensino da leitura e da escrita em um gnero textual: 1 Caderno do Professor, 10 exemplares idnticos da Coletnea de textos e 1 CD-ROM.

Caderno do Professor Orientao para produo de textosAqui voc encontra uma sequncia didtica, organizada em oficinas, para o ensino da escrita de um gnero textual. As atividades propostas esto voltadas para o desenvolvimento da competncia comunicativa, envolvendo leitura e anlise de textos j publicados, linguagem oral, conceitos gramaticais, pesquisas, produo, aprimoramento de texto dos alunos etc. Consiste em material de apoio para planejamento e realizao das aulas.

Poema 5 e 6 anos do Ensino Fundamental.

Memrias literrias 7 e 8 anos do Ensino Fundamental.

Crnica 9 ano do Ensino Fundamental e 1- ano do Ensino Mdio.

Artigo de opinio 2 e 3 anos do Ensino Mdio.

Coletnea de textosPara que os alunos possam ter contato com os textos trabalhados nas oficinas, a Coletnea de textos os traz sem comentrios ou anlises. Uma publicao complementar ao Caderno do Professor, que por ser de uso coletivo ter maior durabilidade se manuseada com cuidado, evitando anotaes.

CD-ROMEsta mdia traz os mesmos textos da Coletnea e outros complementares, em duas modalidades:

Sonora: nas primeiras faixas, h alguns textos lidos em voz alta e sonorizados. Para ouvi-los necessrio um aparelho de som ou um computador compatvel. Ouvir a leitura desses textos uma forma de aproximar os alunos de obras literrias ou artigos publicados.

Grfica: os textos podero ser reproduzidos por uma impressora ou projetados, com o auxlio de um aparelho do tipo datashow. Inclui um aplicativo especial que permite o uso de grifos coloridos para destacar palavras ou trechos, com a finalidade de chamar a ateno dos alunos.

Professor, inscreva-se!Sua escola recebeu esta Coleo que poder ser permanentemente utilizada, no apenas na preparao para a Olimpada. Para seus alunos participarem do concurso imprescindvel que voc faa sua inscrio. Ao se inscrever, passar a integrar a rede Escrevendo o Futuro e a receber gratuitamente a revista Na Ponta do Lpis uma publicao peridica com artigos, entrevistas, anlise de textos e relatos de prtica docente. Outra oportunidade de formao a distncia oferecida pela Olimpada a Comunidade Virtual Escrevendo o Futuro, voltada para o ensino de lngua um espao para que integrantes de todo o Brasil possam trocar informaes e experincias e participar de cursos on-line. Faa sua inscrio na Olimpada de Lngua Portuguesa Escrevendo o Futuro pelo site .

Sumrio8 Apresentao 16 Introduo ao gnero 24 Memria de versos e mural de poemas ...................................................Coleta de poemas com a comunidade

1 2 3 4 5 6 7 8

30

O que faz um poema ...................................................Versos, estrofes, ritmos, rimas, repeties

38

Primeiro ensaio ...................................................A primeira produo

42

Dizer poemas ...................................................Poemas consagrados ditos pelos alunos

48

Toda rima combina? ...................................................Diferentes combinaes de rimas

64

Sentido prprio e figurado ...................................................Conceito de denotao e de conotao

72

Comparao, metfora, personificao ...................................................Figuras de linguagem

80

Sonoridade na poesia ...................................................Som e sentido, expressividade das repeties

9 10 11 12 13 14 15

Poetas do povo ...................................................Rima e ritmo em poema popular

88

O lugar onde vivo ................................................... Poemas de diferentes autores sobre a terra natal Um novo olhar ................................................... Um olhar original sobre o lugar onde os alunos vivem Nosso poema ................................................... Produo de poema coletivo Virando poeta ................................................... Produo individual Retoque final ................................................... Aprimoramento do poema Exposio ao pblico ................................................... Organizao do sarau

100

110

118

124

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136

Critrios de avaliao para o gnero poema 140 Referncias 142

ApresentaoLer e escrever: um desafio para todosNeste Caderno falamos diretamente com voc, que est na sala de aula com a mo na massa. Contudo, para preparar este material conversamos com pessoas que pesquisam, discutem ou discutiram a escrita e seu ensino. Entre alguns pesquisadores e tericos de diferentes campos do conhecimento que tm se dedicado a elaborar propostas didticas para o ensino de lngua destacamos o Prof. Dr. Joaquim Dolz, do qual apresentamos, a seguir, uma pequena biodata e um texto, de sua autoria, uma espcie de prefcio, em que esse ilustre professor tece comentrios sobre o projeto Olimpada de Lngua Portuguesa Escrevendo o Futuro.Juntamente com Jean-Paul Bronckart, Bernard Schneuwly e outros pesquisadores, Joaquim Dolz pertence a uma escola de pensamento genebrina que tem influenciado muitas pesquisas, propostas de interveno e de polticas pblicas de educao em vrios pases. No Brasil, a ao do trabalho desses pesquisadores se faz sentir at mesmo nos Parmetros Curriculares Nacionais (PCN). Dolz nasceu em 1957, em Morella, na provncia de Castelln, Espanha. Atualmente, professor da unidade de didtica de lnguas da Faculdade de Psicologia e das Cincias da Educao da Universidade de Genebra (Sua). Em sua trajetria de docncia, pesquisa e interveno, tem se dedicado sobretudo didtica de lnguas e formao de professores. Desde o incio dos anos 1990 colaborador do Departamento de Instruo Pblica de Genebra, atuando notadamente na elaborao de planos de ensino, ferramentas didticas e formao de professores.

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A Olimpada de Lngua Portuguesa Escrevendo o Futuro: uma contribuio para o desenvolvimento da aprendizagem da escritaJoaquim DolzFaculdade de Psicologia e das Cincias da Educao, Universidade de Genebra (Sua) [Traduo e adaptao de Anna Rachel Machado]

Os antigos jogos olmpicos eram uma festa cultural, uma competio em que se prestava homenagem aos deuses gregos. Os cidados treinavam durante anos para poderem dela participar. Quando o baro de Coubertin, na segunda metade do sculo XIX, quis restaurar os jogos olmpicos, ele o fez com esses mesmos ideais, mas tambm com o de igualdade social e democratizao da atividade desportiva. Os organizadores da Olimpada de Lngua Portuguesa Escrevendo o Futuro, imbudos desses mesmos ideais desportivos, elaboraram um programa para o enfrentamento do fracasso escolar decorrente das dificuldades do ensino de leitura e de escrita no Brasil. Ao fazer isso, no imaginaram que, alguns anos depois, a cidade do Rio de Janeiro seria eleita sede das Olimpadas de 2016. Enquanto se espera que os jogos olmpicos impulsionem a prtica dos esportes, a Olimpada de Lngua Portuguesa tambm tem objetivos ambiciosos. Quais so esses objetivos? Primeiro, busca-se uma democratizao dos usos da lngua portuguesa, perseguindo reduzir o iletrismo e o fracasso escolar. Segundo, procura-se contribuir para melhorar o ensino da leitura e da escrita, fornecendo aos professores material e ferramentas, como a sequncia didtica proposta nos Cadernos , que tenho o prazer de apresentar. Terceiro, deseja-se contribuir direta e indiretamente para a formao docente. Esses so os trs grandes objetivos para melhorar o ensino da escrita, em um projeto coletivo, cuja importncia buscaremos mostrar a seguir.

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Ler e escrever: prioridades da escolaLer e escrever so duas aprendizagens essenciais de todo o sistema da instruo pblica. Um cidado que no tenha essas duas habilidades est condenado ao fracasso escolar e excluso social. Por isso, o desenvolvimento da leitura e da escrita a preocupao maior dos professores. Alguns pensam, ingenuamente, que o trabalho escolar limita-se a facilitar o acesso ao cdigo alfabtico; entretanto, a tarefa do professor muito mais abrangente. Compreender e produzir textos so atividades humanas que implicam dimenses sociais, culturais e psicolgicas e mobilizam todos os tipos de capacidade de linguagem.

Aprender a ler lendo todos os tipos de textoTrata-se de incentivar a leitura de todos os tipos de texto. Do ponto de vista social, o domnio da leitura indispensvel para democratizar o acesso ao saber e cultura letrada. Do ponto de vista psicolgico, a apropriao de estratgias de leitura diversificadas um passo enorme para a autonomia do aluno. Essa autonomia importante para vrios tipos de desenvolvimento, como o cognitivo, que permite estudar e aprender sozinho; o afetivo, pois a leitura est ligada tambm ao sistema emocional do leitor; finalmente, permite desenvolver a capacidade verbal, melhorando o conhecimento da lngua e do vocabulrio e possibilitando observar como os textos se adaptam s situaes de comunicao, como eles se organizam e quais as formas de expresso que os caracterizam. Dessa forma, o professor deve preparar o aluno para que, ao ler, aprenda a fazer registros pessoais, melhore suas estratgias de compreenso e desenvolva uma relao mais slida com o saber e com a cultura. No suficiente que o aluno seja capaz de decifrar palavras, identificar informaes presentes no texto ou l-lo em voz alta necessrio verificar seu nvel de compreenso e, para tanto, tem de aprender a relacionar, hierarquizar e articular essas informaes com a situao de comunicao e com o conhecimento que ele possui, a ler nas entrelinhas o que o texto pressupe, sem o dizer explicitamente,

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e a organizar todas as informaes para dar-lhes um sentido geral. Ele precisa aprender a tomar certo distanciamento dos textos para interpret-los criticamente e ser capaz de identificar suas caractersticas e finalidades. Se queremos que descubra as regularidades de um gnero textual qualquer (uma carta, um conto etc.), temos de fornecer-lhe ferramentas para que possa analisar os textos pertencentes a esse gnero e conscientizar-se de sua situao de produo e das diferentes marcas lingustico-discursivas que lhe so prprias.

Aprender a escrever escrevendoEntretanto, o que se pretende sobretudo incentivar a escrita. Por isso, essa Olimpada acertadamente afirma que estamos em uma batalha e para ganh-la precisamos de armas adequadas, de desenho de estratgias, de objetivos claros e de uma boa formao dos atores envolvidos. No suficiente aprender o cdigo e a leitura para aprender a escrever. Escrever se aprende pondo-se em prtica a escrita, escrevendo-se em todas as situaes possveis: correspondncia escolar, construo de livro de contos, de relatos de aventuras ou de intriga, convite para uma festa, troca de receitas, concurso de poesia, jogos de correspondncia administrativa, textos jornalsticos (notcias, editorial, carta ao diretor de um jornal) etc. Do ponto de vista social, a escrita permite o acesso s formas de socializao mais complexas da vida cidad. Mesmo que os alunos no almejem ou no se tornem, no futuro, jornalistas, polticos, advogados, professores ou publicitrios, muito importante que saibam escrever diferentes gneros textuais, adaptando-se s exigncias de cada esfera de trabalho. O indivduo que no sabe escrever ser um cidado que vai sempre depender dos outros e ter muitas limitaes em sua vida profissional. O ensino da escrita continua sendo um espao fundamental para trabalharmos os usos e as normas dela, bem como sua adaptao s situaes de comunicao. Assim, consideramos que ela uma ferramenta de comunicao e de guia para os alunos compreenderem melhor seu funcionamento todas as vezes que levam em conta as convenes, os usos formais e as exigncias das instituies em relao s atividades de linguagem nelas praticadas.

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Do ponto de vista psicolgico, a escrita mobiliza o pensamento e a memria. Sem contedos nem ideias, o texto ser vazio e sem consistncia. Preparar-se para escrever pressupe ler, fazer registros pessoais, selecionar informaes atividades cognitivas, todas elas. Mas escrever tambm um auxlio para a reflexo, um suporte externo para memorizar e uma forma de regular comportamentos humanos. Assim, quando anotamos uma receita, as notas nos ajudam a realizar passo a passo o prato desejado, sem nos esquecermos dos ingredientes nem das etapas a serem seguidas. Do mesmo modo, quando escrevemos um relato de uma experincia vivida, a escrita nos ajuda a estruturar nossas lembranas. Do ponto de vista do desenvolvimento da linguagem, escrever implica ser capaz de atuar de modo eficaz, levando em considerao a situao de produo do texto, isto , quem escreve, qual seu papel social (jornalista, professor, pai); para quem escreve, qual o papel social de quem vai ler, em que instituio social o texto vai ser produzido e vai circular (na escola, em esferas jornalsticas, cientficas, outras); qual o efeito que o autor do texto quer produzir sobre seu destinatrio (convenc-lo de alguma coisa, faz-lo ter conhecimento de algum fato atual ou de algum acontecimento passado, diverti-lo, esclarec-lo sobre algum tema considerado difcil); algum outro objetivo que no especificamos. Deve-se tambm, para o desenvolvimento da linguagem, planificar a organizao do texto e utilizar os mecanismos lingusticos que asseguram a arquitetura textual: a conexo e a segmentao entre suas partes, a coeso das unidades lingusticas que contribuem para que haja uma unidade coerente em funo da situao de comunicao. Esses aspectos de textualizao dependem, em grande parte, do gnero de texto. As operaes que realizamos quando escrevemos uma receita ou uma carta comercial ou um conto no so as mesmas. Mas, independentemente do texto que escrevemos, o domnio da escrita tambm implica: escolher um vocabulrio adequado, respeitar as estruturas sintticas e morfolgicas da lngua e fazer a correo ortogrfica. Alm disso, se tomarmos a produo escrita como um processo e no s como o produto final, temos de levar em considerao as atividades de reviso, de releitura e de reescrita, que so necessrias para chegarmos ao resultado final desejado.

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Escrever: um desafio para todosEssa Olimpada lanou um desafio para todos os alunos brasileiros: melhorar as prticas de escrita. Incentivar a participar de um concurso de escrita uma forma de motiv-los coletivamente. Para que todos possam faz-lo em igualdade de condies, os materiais disponibilizados pela Olimpada propem uma srie de situaes de comunicao e de temas de redao que antecipam e esclarecem o objetivo a ser alcanado. O papel do professor indispensvel nesse projeto. A apresentao da situao de comunicao, a formulao clara das instrues para a produo e a explicitao das tarefas escolares que tero de ser realizadas, antes de se redigir o texto para a Olimpada, so condies essenciais para seu xito. Entretanto, mais importante ainda o trabalho de preparao para a produo durante a sequncia didtica. Por meio da realizao de uma srie de oficinas e de atividades escolares, pretende-se que todos os alunos, ao participar delas, aperfeioem o seu aprendizado, colocando em prtica o que aprendero e mostrando suas melhores habilidades como autores. S o fato de participar desse projeto j importante para se tomar conscincia do desafio que a escrita. Entretanto, o real desafio do ensino da produo escrita bem maior. Assim, o que se pretende com a Olimpada iniciar uma dinmica que v muito alm da atividade pontual proposta neste material. Espera-se que, a partir das atividades da sequncia didtica, os professores possam comear a desenvolver um processo de ensino de leitura e de escrita muito mais amplo. Sabemos que a escrita um instrumento indispensvel para todas as aprendizagens e, desse ponto de vista, as situaes de produo e os temas tratados nas sequncias didticas so apenas uma primeira aproximao aos gneros enfocados em cada uma delas, que pode ampliar-se aos poucos, pois escrever textos uma atividade complexa, que envolve uma longa aprendizagem. Seria ingnuo pensar que os alunos resolvero todas as suas dificuldades com a realizao de uma s sequncia.

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A sequncia didtica como eixo do ensino da escritaA sequncia didtica a principal ferramenta proposta pela Olimpada de Lngua Portuguesa Escrevendo o Futuro para se ensinar a escrever. Estando envolvido h muitos anos na elaborao e na experimentao desse tipo de dispositivo, iniciado coletivamente pela equipe de didtica das lnguas da Universidade de Genebra, um prazer ver como se adapta complexa realidade das escolas brasileiras. Uma sequncia didtica um conjunto de oficinas e de atividades escolares sobre um gnero textual, organizada de modo a facilitar a progresso na aprendizagem da escrita. Cinco conselhos me parecem importantes para os professores que utilizam esse dispositivo como modelo e desenvolvem com seus alunos as atividades aqui propostas: 1) Fazer os alunos escreverem um primeiro texto e avaliar suas capacidades iniciais. Observar o que eles j sabem e assinalar as lacunas e os erros me parece fundamental para escolher as atividades e para orientar as intervenes do professor. Uma discusso com os alunos com base na primeira verso do texto de grande eficcia: o aluno descobre as dimenses que vale a pena melhorar, as novas metas para superar, enquanto o professor compreende melhor as necessidades dos alunos e a origem de alguns dos erros deles. 2) Escolher e adaptar as atividades de acordo com a situao escolar e com as necessidades dos alunos, pois a sequncia didtica apresenta uma base de materiais que podem ser completados e transformados em funo dessa situao e dessas necessidades. 3) Trabalhar com outros textos do mesmo gnero, produzidos por adultos ou por outros alunos. Diversificar as referncias e apresentar um conjunto variado de textos pertencentes a um mesmo gnero, propondo sua leitura e comparao, sempre uma base importante para a realizao de outras atividades. 4) Trabalhar sistematicamente as dimenses verbais e as formas de expresso em lngua portuguesa. No se conformar apenas com o entusiasmo que a redao de um texto para participar de

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uma competio provoca e sempre buscar estratgias para desenvolver a linguagem escrita. 5) Estimular progressivamente a autonomia e a escrita criativa dos alunos. Os auxlios externos, os suportes para regular as primeiras etapas da escrita so muito importantes, mas, pouco a pouco, os alunos devem aprender a reler, a revisar e a melhorar os prprios textos, introduzindo, no que for possvel, um toque pessoal de criatividade.

Uma chama olmpica contra o iletrismoPouco me resta a dizer. Primeiro, parabenizar os autores das sequncias didticas. Segundo, expressar toda a minha admirao pela organizao da Olimpada de Lngua Portuguesa Escrevendo o Futuro, que envolve a parceria entre uma entidade governamental, o Ministrio da Educao, e uma fundao empresarial, a Fundao Ita Social, com a coordenao tcnica do Cenpec. Terceiro, incentivar professores e alunos a participar desse projeto singular. Que a chama olmpica contra o iletrismo percorra esse vasto e magnfico pas que o Brasil. Ensinar a escrever uma tarefa nobre e complexa que merece o maior dos reconhecimentos sociais. Nos antigos jogos olmpicos, a chama olmpica se mantinha acesa diante do altar do deus Zeus durante toda a competio. Que a chama da esperana do acesso leitura e escrita no se apague. Essa competio todos ns podemos e devemos ganhar!

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Introduo ao gnero

Sobre poemas e poetasConvitePoesia brincar com palavras como se brinca com bola, papagaio, pio. S que bola, papagaio, pio de tanto brincar se gastam. As palavras no: quanto mais se brinca com elas mais novas ficam. Como a gua do rio que gua sempre nova. Como cada dia que sempre um novo dia. Vamos brincar de poesia?Jos Paulo Paes. Poemas para brincar. 2 ed. So Paulo: tica, 1991. -

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Seus alunos certamente j leram ou ouviram poemas: parlendas, cantigas de roda e trava-lnguas que fazem parte das brincadeiras; msicas que ouvem e cantam, repentes, quadrinhas e cordel todas so formas poticas. Um poema pode, ou no, apresentar rimas; pode, ou no, ter ritmo uniforme; pode ser regular ou irregular. Ele pode ainda falar sobre qualquer assunto: pessoas, ideias, sentimentos, lugares ou acontecimentos comuns, por exemplo, uma pedra no meio do caminho, como fez Carlos Drummond de Andrade em seu poema No meio do caminho. No entanto, h um aspecto que diferencia o poema de um texto informativo ou de outro texto literrio, como o romance ou o conto o modo pelo qual o poeta escreve seu texto. O poema criado como se fosse um jogo de palavras. Ele motiva o leitor a descobrir no apenas a leitura corrente, mas tambm a buscar outras leituras possveis. E como o poeta faz isso? Ora... com as palavras e com tudo o que se pode fazer com elas. O poeta busca mostrar o mundo de um jeito novo, com a inteno de sensibilizar, convencer, fazer pensar ou divertir os leitores. Ele sugere associaes entre palavras, seja pela posio que ocupam no poema, seja pela sonoridade, seja por meio de outros recursos. Observe o incio do poema Convite, de Jos Paulo Paes: Poesia brincar com palavras como se brinca com bola, papagaio, pio.

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O verbo brincar repetido, como uma pista para deduzir que tudo aquilo com que se brinca poderia ser aproximado: poesia, bola, papagaio, pio. Convite sugere que a leitura de poemas pode ser uma atividade divertida. Outro trecho: [...] quanto mais se brinca com elas [as palavras] mais novas ficam. Como a gua do rio que gua sempre nova. Como cada dia que sempre um novo dia. Nessa passagem, a repetio do comparativo como leva o leitor a associar os termos palavras, gua do rio e cada dia. Qual o sentido do termo novo nesse caso? No contexto do poema, ele sinnimo de renovado, em permanente movimento. Sugere-se assim o carter original e inovador da palavra potica. Quanto mais o poeta usa as palavras, mais ele se torna capaz de criar sentidos novos para elas, num processo de renovao permanente, como o movimento do rio e a sucesso dos dias. No final do poema, vem o convite, em forma de pergunta: Vamos brincar de poesia? Ao estabelecer esse dilogo, o poeta motiva o leitor a se interessar pela leitura de outros poemas, outros jogos de palavra marcados pelo ritmo das repeties e pela originalidade.

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O poeta o artista que usa as palavras para fazer uma obra de arte o poema. Ele sabe como combinar as palavras, como dar ritmo a essa combinao, como fazer com que elas conquistem e surpreendam o leitor. As atividades propostas neste Caderno visam apropriao, por parte de crianas e jovens, da linguagem e das palavras como meios de comunicao e de expresso da criatividade. So brincadeiras srias, na medida em que exigem treino de leitura e percepo; e tambm divertidas, porque a poesia permite que se brinque com as palavras. Ler e produzir poemas pode ser uma atividade ldica, criativa e original. Brincar de poesia exerccio para uma vida quanto mais se sabe, mais se quer descobrir e aprender. um exerccio de perceber o que se diz, como se diz ou se escreve e, ainda, como se busca levar o leitor a interpretar o sentido. Jos Paulo Paes, alm de poemas, escreveu ensaios. Num deles, ele afirma: [...] a lucidez da tcnica e da experincia do poeta tcnica e experincia cuja aquisio exige anos de leitura e de aplicao quase diria ao ofcio de escrever que ir desenvolver as sugestes onricas em poemas acabados e compreensveis. Enquanto o sonho pessoal e s comove ou impressiona quem o sonhou, o poema tem de comover e impressionar, se no todas as pessoas que o leem, pelo menos aquelas cuja sensibilidade foi aprimorada pela leitura regular de poesia.Jos Paulo Paes. Quem, eu? Um poeta como outro qualquer. 5 ed. So Paulo: Atual, 1996. -

Nas oficinas, voc encontrar atividades que ajudaro a construir brincadeiras com as palavras, a brincar de poesia. Marisa Lajolo, no livro Palavras de encantamento, da Coleo Literatura em Minha Casa, nos fala de poetas, poemas e poesia:

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[...] poeta brinca com as palavras [...] parece que o poeta diz o que a gente nunca tinha pensado em dizer [...] [...] um poema um jogo com a linguagem. Compe-se de palavras: palavras soltas, palavras empilhadas, palavras em fila, palavras desenhadas, palavras em ritmo diferente da fala do dia a dia. Alm de diferentes pela sonoridade e pela disposio na pgina, os poemas representam uma maneira original de ver o mundo, de dizer coisas [...] [...] poeta , assim, quem descobre e faz poesia a respeito de tudo: de gente, de bicho, de planta, de coisas do dia a dia da vida da gente, de um brinquedo, de pessoas que parecem com pessoas que conhecemos, de episdios que nunca imaginamos que poderiam acontecer e at a prpria poesia! [...]Marisa Lajolo. Palavras de encantamento: antologia de poetas brasileiros. v. 1. So Paulo: Moderna, 2001.

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Poema ou poesia?Qual a diferena entre poema e poesia? O poema um texto marcado por recursos sonoros e rtmicos. Geralmente o poema permite outras leituras, alm da linear, pois sua organizao sugere ao leitor a associao de palavras ou expresses posicionadas estrategicamente no texto. A poesia est presente no poema, assim como em outras obras de arte, que, como o poema, convidam o leitor/espectador/ ouvinte a retornar obra mais de uma vez, desvendando as pistas que ela apresenta para a interpretao de seus sentidos.Norma Goldstein. Versos, sons, ritmos. 14a ed. So Paulo: tica, 2006.

Ento, essa a diferena. Quando falamos em poema, estamos tratando da obra, do prprio texto. E, quando falamos em poesia, tratamos da arte, da habilidade de tornar algo potico. Uma pintura, uma msica, uma cena de filme, um espetculo de dana, uma obra de arquitetura tambm podem ser poticos. Apesar da distino, h pessoas que afirmam ler poesias, como se o termo fosse sinnimo de poemas.

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O tempo das oficinasCada oficina foi organizada para tratar de um tema, um assunto. Algumas podero ser realizadas em uma ou duas aulas; outras levaro trs ou quatro. Por isso, essencial que voc, professor, leia todas as atividades antecipadamente. Antes de comear a trabalhar com os alunos, preciso ter uma viso do conjunto, de cada etapa e do que se espera que eles produzam ao final. Aproprie-se dos objetivos e estratgias de ensino, providencie o material e estime o tempo necessrio para que sua turma faa o que foi proposto. Enfim, preciso planejar cada passo, pois s voc, que conhece seus alunos, conseguir determinar qual a forma mais eficiente de trabalhar com eles. Comece o quanto antes; assim, voc ter mais tempo para desenvolver as propostas e acompanhar melhor o Cronograma de atividades, cartaz que dever ser afixado na sala dos professores e consultado regularmente.

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Oficina

..........................................................................................

Memria de versos e mural de poemas

...................

ObjetivosIdentificar questes polmicas. comunidade. Resgatar e valorizar a cultura da Reconhecer bons argumentos. de poemas Avaliar e ampliar o repertrio conhecidos pelos alunos. Escolher ou formular uma questo polmica. Reconhecer os poemas em suas diversas formas.

Prepare-se! Prepare-se! Na ltima etapa desta oficina seus alunos escreveroo primeiro artigo de opinio no seVoc precisar ajud-los Voc sabe que boas aulas deles. do por acaso: a definir questes tempo e definir o que se queroeque preciso investir polmicas. Procure identificar polmico em sua alcanar ao final de cadafaro o que se pretende comunidade. Seus alunos dia, um debate. Ajude-os a as propostas de atividades. alm de refletir sobre traar uma preparao e um comportamento apropriado para essa seus alunos Nesta oficina, propomos que voc e situao. montem um mural de poemas. Organize os materiais com antecedncia.

Material Folhas de papel kraft ou de cartolina Canetas hidrogrficas coloridas e fita crepe Mural ou varal para fixar ou pendurar cartazes e textos Caderno (ser seu Dirio da Olimpada) CD-ROM de poemas Aparelho de som

1- etapaMemria de versos dos alunos

Atividades26poetas da escola

O objetivo descobrir o que seus alunos e as pessoas da comunidade j conhecem sobre poemas para lev-los a ampliar o repertrio deles. Se a maioria conhece poemas infantis, vamos apresentar alguns clssicos. Se conhecerem os grandes poetas, vamos lhes propor poemas populares. O levantamento do repertrio serve, portanto, para que cada professor saiba quais pontos do trabalho devem ser mais enfatizados, de modo que os alunos possam compreender e apreciar mais e melhor os poemas. Inicialmente, converse com os alunos sobre poesia, procurando saber se conhecem alguns poemas, se gostam ou no de poesia e por qu. Esse pode ser um ponto de partida para a compreenso das caractersticas do gnero. Uma sugesto ouvir o udio com versos gravados por alguns alunos semifinalistas durante o encontro regional, da Olimpada de Lngua Portuguesa Escrevendo o Futuro, realizado na cidade de Fortaleza em 2010. Se verificar que j conhecem alguns poemas ou apenas trechos deles, pea que os registrem no papel para afix-los no mural.

Proponha-lhes que leiam em voz alta os poemas. Pergunte como sabem que se trata de poemas. Deixe que expressem as ideias deles, procurando observar quais elementos desse gnero j so percebidos por eles. Nesse momento, no importa tanto a qualidade do que vo dizer nem se est certo ou errado. O importante que falem, manifestem livremente as impresses que tm acerca do que leram ou escreveram. Pode ser que faam referncia ao ritmo, s rimas, forma, a uma ou a outra figura por enquanto sem nomear nenhum desses recursos, limitando-se a identific-los. Faa voc tambm observaes sobre os poemas que apresentarem, procure lev-los a perceber repeties, rimas e outros efeitos sonoros.

2- etapaMemria de versos da comunidade

Atividades

Em seguida, sugira aos alunos que coletem os poemas que a comunidade conhece. Planeje com eles como faro essa coleta. Podem sair pelas ruas do bairro ou entrevistar os moradores. Fazer a pesquisa na prpria escola, com professores, funcionrios e colegas mais velhos. E, como tarefa de casa, conversar com pais, avs, vizinhos e parentes. A ideia entrevistar pessoas, perguntando se conhecem poemas, se gostam de poemas, se sabem o nome de algum poeta. Em caso afirmativo, o aluno vai pedir pessoa que escreva esse poema ou o dite para que ele o anote.

27poetas da escola

Se na cidade morar algum poeta, interessante convid-lo a visitar a escola, durante essa fase inicial, para conversar com os alunos, ou, ainda, pedir-lhe que envie um de seus poemas para a turma. Voc, professor, tambm faz parte da comunidade, por isso pode contribuir, trazendo dois ou trs poemas para ampliar a coleta. O ideal seria escolher criaes de poetas consagrados, de diferentes pocas, sem esquecer os modernistas, como Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Ceclia Meireles; nem os contemporneos, como Ferreira Gullar, Paulo Leminski e outros. Lembre-se de incluir poemas regionais, ou seja, do lugar onde vocs vivem. Finalizada a coleta, os alunos vo selecionar os poemas mais interessantes entre os recolhidos na comunidade e os que resgataram de memria. Ajude-os a revis-los, para depois afix-los no mural.

3- etapaUm mural caprichado

Atividades28poetas da escola

Voc no acha que seria interessante um registro de tudo o que seus alunos vo aprender? Para isso, sugerimos que organize um mural na sala. Nele sero afixados, ao longo deste trabalho, os poemas estudados e as produes da turma. No final, os alunos tero uma coletnea dos poemas j conhecidos, dos descobertos durante o processo, dos preferidos e dos que eles prprios produziram. Construa com eles o mural. Pode ser bem simples, por exemplo, delimitando um espao na parede e recobrindo-o com folhas de papel kraft ou de cartolina. Ele pode ser ilustrado e ter um visual bem chamativo. Mas o mais importante que ele facilite a leitura dos poemas. Afinal, eles so a alma do projeto, a razo de ser do mural.

Converse com os alunos para planejar a organizao.

Onde o mural vai ser colocado? Como deix-lo bem organizado e com boa apresentao?Para inaugurar o mural, coloque os poemas escolhidos pelos alunos.

H palavras que o vento no levaO registro muito importante para voc aperfeioar o seu trabalho. Ele nos ajuda a fazer questionamentos e descobrir solues que nos fazem crescer. Sabemos que mais uma tarefa. Mesmo assim, precisamos desenvolver essa prtica e vencer a falta de tempo. Anote, no seu Dirio da Olimpada, as atividades desenvolvidas, suas impresses e dificuldades e as reaes do grupo. Como diz a educadora Madalena Freire (1996): O registrar de sua reflexo cotidiana significa abrir-se para seu processo de aprendizagem. O professor de aluno semifinalista da Olimpada dever, com base em seus registros, apresentar por escrito o relato de experincia e do percurso vivido em sala de aula.

29poetas da escola

Oficina

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O que faz um poema

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ObjetivoIdentificarequestes polmicas. Conhecer sistematizar informaes sobre as caractersticas de um poema: versos, Reconhecer bons argumentos. estrofes, ritmos, rimas, repeties. Escolher ou formular uma questo polmica.

Prepare-se!Seus alunos iro analisar os poemas do mural. Para isso, importante que voc leia todos os que esto afixados e faa comentrios sobre eles, antes de propor-lhes a atividade. Lembre-se de que os alunos precisaro de informaes que sero dadas por voc.

Material Mural de poemas (feito por voc e pelos alunos na oficina anterior) Coletnea de poemas CD-ROM de poemas Aparelho de som Datashow (reserve com antecedncia na secretaria da escola) Cartolina ou papel kraft, canetas hidrogrficas e fita crepe

1- etapaLeitura do mural

Atividades32poetas da escola

Agora vamos ampliar um pouco mais a discusso sobre aspectos importantes que caracterizam um poema. Instigue os alunos a pensar, trocar ideias, tirar concluses, buscar informaes. Seu papel coordenar e aquecer o debate. Para iniciar, fale dos poemas que esto no mural. Algumas questes podem animar a conversa.

Do que tratam os poemas? Por que escolheram esses poemas? Como sabem que so poemas? Por que so diferentes de uma notcia de jornal, de uma receita de bolo, de uma lista de supermercado, de um verbete de dicionrio? Ou de um conto? Como eles se organizam no papel? Eles preenchem todo o espao das linhas, da margem esquerda direita?

H linhas em branco entre os versos? H sons que se repetem? E construes? H palavras ou expresses que, mesmo distanciadas dentro do texto, podem ser associadas, por terem semelhana sonora ou figurarem em construes iguais?Relacione as observaes que fizerem com aquela conversa da 1- etapa da oficina anterior. Ser que perceberam as caracters ticas que constituem um poema? Avalie o progresso e, se preciso, motive-os com questes para que isso ocorra e se amplie.

2- etapaSistematizao das observaes

Atividades

Divida a classe em grupos, entregue para cada um deles uma Coletnea e pea-lhes que abram na pgina do poema Tem tudo a ver, de Elias Jos. Voc poder l-lo em voz alta ou colocar o CD para que eles ouam.

AtenoA Coletnea de uso coletivo da escola; por isso, as anotaes, os destaques, os registros comuns de estudo devero ser realizados sempre no caderno do aluno.33poetas da escola

Poema

Tem tudo a verA poesia tem tudo a ver com tua dor e alegrias, com as cores, as formas, os cheiros, os sabores e a msica do mundo. A poesia tem tudo a ver com o sorriso da criana, o dilogo dos namorados, as lgrimas diante da morte, os olhos pedindo po. A poesia tem tudo a ver com a plumagem, o voo, e o canto dos pssaros, a veloz acrobacia dos peixes, as cores todas do arco-ris, o ritmo dos rios e cachoeiras, o brilho da lua, do sol e das estrelas, a exploso em verde, em flores e frutos. A poesia s abrir os olhos e ver tem tudo a ver com tudo.Elias Jos, in: Segredinhos de amor. 2 ed. So Paulo, Moderna, 2002. -

34poetas da escola

Atividades

Depois da leitura ou da audio, converse com os alunos sobre o que entenderam do poema. Leve-os a observar o modo como o poema ocupa a pgina, com margens tanto direita quanto esquerda do texto, como se formasse um desenho no papel, uma espcie de coluna no meio da pgina. Em seguida, proponha-lhes que verifiquem as linhas ou versos do texto e o modo como se agrupam em estrofes. Este poema tem 25 versos distribudos em 4 estrofes. Para fazer isso, voc pode projetar o poema na parede e fazer grifos coloridos, projetando o CD por meio do datashow. Pea aos alunos que observem as palavras iniciais de cada estrofe: A poesia. Questione-os se saberiam dizer por qual razo todas elas comeam assim. Oriente-os a verificar se apenas essas palavras so repetidas ou se ocorre a repetio de versos que compreendem uma frase inteira. muito provvel que apontem a reiterao de a poesia tem tudo a ver com.... Os alunos possivelmente relacionaro os termos com que a poesia tem a ver, do incio ao final: dor, alegrias, cores, formas, cheiros, sabores e msica, na primeira estrofe; sorriso, dilogo, lgrimas diante da morte, olhos pedindo po, na segunda; pssaros, peixes e elementos da natureza, na terceira. A quarta estrofe faz a sntese, indicando que a poesia tem tudo a ver com tudo. Procure mostrar-lhes que, para o autor, a poesia viva, dinmica, e pode falar de pessoas, de animais, de objetos, de acontecimentos de tudo. Algumas pessoas acham que a funo da poesia cantar amores ou mgoas. Mas, na verdade, a poesia pode falar de qualquer assunto. Como diz Elias Jos, a poesia tem tudo a ver com tudo. Comprove essa afirmao mostrando aos alunos a diversidade de temas presentes nos poemas afixados no mural.

35poetas da escola

Finalmente, organize e sistematize as observaes do grupo em relao ao conjunto de poemas lidos. Possivelmente, surgiro as seguintes constataes: as palavras rimam quando terminam com sons idnticos ou parecidos; nem todos os poemas apresentam rimas; os versos so as linhas do poema e podem ter extenso variada; estrofes so conjuntos de versos separados por um espao (linha em branco); um poema pode ter uma ou mais estrofes e cada estrofe pode ter nmero variado de versos; os poemas costumam apresentar repeties de letras, de palavras ou expresses, de versos; eles tambm podem ter repetio da mesma construo sinttica; as palavras que apresentam semelhanas de sonoridade, de posio dentro do poema (incio, meio ou final do verso), de funo sinttica podem ser associadas para apoiar a interpretao do sentido do poema. Oriente os alunos a copiar essas concluses no caderno. Um aluno poder fazer um cartaz com essas informaes para ser afixado no mural.

A importncia de participarLembre-se de que as atividades deste Caderno foram planejadas para abordar alguns dos contedos de ensino de lngua portuguesa. Todos os alunos devem participar das oficinas, pois podero alcanar uma escrita mais aprimorada, ainda que no tenham seus textos selecionados para as prximas etapas.

36poetas da escola

Paralelismo sintticoA sintaxe de uma lngua remete ao modo como as palavras se combinam para formar expresses ou frases. Nos poemas, costuma ser empregado o PARALELISMO SINTTICO: uma mesma construo se repete ao longo do texto. Por exemplo, observe abaixo, na estrofe do poema Convite, que um tipo de construo se repete nos versos assinalados com grifo simples e outro tipo retomado nos versos marcados com grifo pontilhado:

Como a gua do rio que gua sempre nova. Como cada dia que sempre um novo dia.Note mais um exemplo de paralelismo em Tudo a ver:

A poesia tem tudo a ver [...] com as cores, as formas, os cheiros , [...] com a plumagem, o voo, [...]

37poetas da escola

Oficina

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Questes Primeiro ensaio polmicas

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ObjetivosIdentificar questes polmicas. Apresentar a situao de produo. Reconhecer bons argumentospara avaliar o Escrever um primeiro poema . conhecimento dos alunos. Escolher ou formular uma questo polmica.

Prepare-se! Prepare-se!

Seus alunos iro escrever os primeiros poemas deles. Na ltima etapa desta oficina seus alunos escrevero Leia todas as produes e faa anotaes para saber o primeiro artigo de opinio deles. Voc precisar ajud-los o que cada um precisar melhorar. Procure identificar a definir questes polmicas. Procure identificar o que as informaes que os alunos j tm sobre poemas polmico em sua comunidade. Seus alunos faro e as que precisam apreender. um debate. Ajude-os a traar uma preparao e um comportamento apropriado para essa situao.

Primeiro poemaA primeira produo propicia um diagnstico dos conhecimentos e das dificuldades de cada aluno. Esses dados daro pistas para que voc possa planejar as intervenes necessrias no desenvolvimento de cada etapa do trabalho.

Atividades40poetas da escola

Diga aos alunos que cada gnero textual tem caractersticas prprias, e a situao de produo tambm varia, ou seja, preciso levar em conta alguns dados:

Quem escreve? Para quem? Com qual finalidade? Onde o texto ser publicado? Jornal, livro, revista, internet, mural da escola?Explique ao alunos que os poemas deles sero conhecidos por muitas pessoas. Mesmo que apenas um texto seja escolhido para representar a escola na Olimpada de Lngua Portuguesa Escrevendo o Futuro, os outros no devem ficar na gaveta, podem ser reunidos em um livro, feito pelo grupo, e entregue para os pais, para a biblioteca da escola ou da cidade. Podem ser apresentados em cordis, em grandes murais ou em saraus, se houver condies locais para isso.

Distribua uma folha de papel para cada aluno e pea-lhes que escrevam um primeiro poema. O tema O lugar onde vivo. Explique-lhes que podem fazer rascunhos do poema no caderno e refaz-lo, se acharem necessrio. Quando chegarem forma final, vo passar a limpo na folha que voc entregou a eles.

Primeira escritaEsse primeiro texto importante para que os alunos avaliem a prpria escrita. Com sua ajuda, eles podem perceber o que preciso melhorar e podero comprometer-se com as oficinas, tendo mais chances de melhorar a escrita. Alm disso, ser possvel comparar essa produo com o texto final e reconhecer os avanos, constituindo um processo de avaliao continuada.

AtenoCaso seu aluno seja semifinalista da Olimpada, voc precisar levar a primeira produo para o encontro regional.

41poetas da escola

Oficina

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Dizer poemas

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ObjetivosConhecer alguns poetas e poemas consagrados da literatura brasileira. Descobrir a importncia de ouvir e de dizer poemas.

Prepare-se!Os alunos iro se organizar para dizer poemas em voz alta. Voc, professor, um importante modelo de leitura para eles. Por isso, selecione os poemas com antecedncia e prepare a sua leitura!

Material

Coletnea de poemas CD-ROM de poemas Aparelho de som Cpias de poemas diversos (selecionados por voc e pelos alunos) Folhas coloridas, papel crepom (material para decorar a sala de aula)

Atividades44poetas da escola

Faa uma seleo entre seus poemas preferidos e os dos alunos. Providencie cpias dessa seleo para que leiam em grupos. Solicite-lhes que ouam as duas leituras, gravadas no CD, de O buraco do tatu que ser trabalhado na Oficina 9. Converse com eles sobre as impresses que tiveram de cada uma das audies. Pergunte-lhes se h diferena entre as leituras e se os efeitos sonoros marca registrada dos poemas so facilmente percebidos. Sugira-lhes que sempre leiam os poemas em voz alta, pelo menos uma vez, para treinar a audio dos recursos sonoros e do ritmo do texto. Divida a classe em grupos de trs ou quatro alunos e distribua para cada um deles uma Coletnea e uma cpia da seleo que voc organizou. Diga-lhes que devero apresentar para a classe um dos poemas que receberam. Para isso, devem se preparar lendo vrias vezes o poema e ensaiando as vrias formas de interpretar o texto para os colegas. Podero utilizar gestos, movimentos, efeitos sonoros, fundo musical etc. Devero diz-lo em voz alta, de modo claro, seja em forma de jogral ou de coro falado, seja individualmente, sempre atentando para o ritmo, as pausas e a entonao da voz. D ateno a cada grupo, ajudando na leitura. Para isso, veja orientaes no quadro Buscando sentido, na pgina 47.

Combine com eles a data da apresentao e um prazo para que se preparem adequadamente. No dia combinado, organize o ambiente com a ajuda dos alunos. Disponha as carteiras em semicrculo ou escolha um outro espao da escola. O local escolhido pode ser decorado, caso haja condies, eventualmente com apoio do professor de arte. Depois, pea aos alunos que escolham alguns dos poemas apresentados para afixar no mural.

Orientaes para o trabalho com leitura de poemasRelacionamos algumas orientaes para que voc trabalhe a leitura de poemas. Essas mesmas sugestes podem, e devem, ser usadas em todas as oficinas. Leia poemas em voz alta para os alunos. Para apreciarmos devidamente um poema preciso escut-lo com ateno. O seu exemplo um bom incentivo para eles. Poemas evocam sensaes, impresses, sentimentos, ideias, imagens, reflexes. Ajude os alunos a descobrir o que o poema desperta em cada um deles. Voc pode fazer perguntas como:

O que perceberam ao ouvir/ler o poema? O que ele despertou em vocs? Fechando os olhos, vocs conseguem imaginar o que o poema sugere? Relendo o poema, vocs compreendem melhor o seu sentido?

45poetas da escola

Poetas exprimem um olhar nico, pessoal, sobre os mais diversos assuntos: um acontecimento, o ser humano, a vida, os relacionamentos, os problemas do mundo, a realidade, o sonho, os fatos corriqueiros. Ajude seus alunos a relacionar os poemas lidos com as experincias e a sensibilidade deles, perguntando, por exemplo:

Voc v o assunto do poema da mesma forma que o poeta? J aconteceu algo parecido com voc? Voc se lembra de um lugar (pessoa, fato, situao, sonho etc.) que lhe causou a mesma impresso que o autor deste poema descreve?Uma forma de penetrar no texto observar os recursos expressivos que ele apresenta: organizao, ritmo, repeties, construes. Um exerccio valioso consiste em relacionar os termos que se assemelham: por apresentarem rima ou repetio de letra ou por se repetirem eles prprios; por estarem ambos na mesma posio, em versos diferentes: incio, meio ou final; por exercerem a mesma funo sinttica: so sujeitos, predicativos do sujeito, objeto etc.; por pertencerem mesma classe gramatical: adjetivos, substantivos etc. Para aprofundar e ampliar a interpretao do texto, voc pode perguntar aos alunos por que o poeta teria usado tais recursos nos versos dele. Para dizer em voz alta, preciso que os alunos leiam e compreendam o poema a ser apresentado, absorvendo e respeitando o ritmo proposto, sem, no entanto, deixar de respeitar tambm a pontuao e a sequncia lgica do texto.

46poetas da escola

Atividades nas quais os alunos so convidados a dizer ou ler poemas favorecem o trabalho com a leitura. Para apresentar oralmente um poema necessrio compreender o seu sentido em profundidade e apreender o que o autor quis exprimir. Se possvel, oua com os alunos outros CDs de poemas apresentados por seus autores ou por artistas famosos. Por exemplo: Coleo Poesia Falada, da editora Nossa Cultura; Ou Isto ou Aquilo, da gravadora Luz da Cidade (poemas de Ceclia Meireles lidos por Paulo Autran). Enfim, importante preparar a apresentao com cuidado, e isso vale tambm para voc, professor.

Buscando sentidoPara ler um texto, no basta identificar letras, slabas e palavras; preciso buscar o sentido, compreender, interpretar, relacionar e reter o que for mais relevante. Quando lemos algo, temos sempre um objetivo: buscar informao, ampliar o conhecimento, meditar, entreter-nos. O objetivo da leitura que vai mobilizar as estratgias que o leitor utilizar. Sendo assim, ler um artigo de jornal diferente de ler um romance, uma histria em quadrinhos ou um poema. Ler textos traz desafios para os alunos. Para venc-los fundamental a mediao de um professor que deve ajud-los a compreender, gradativamente, diferentes gneros textuais por meio da leitura individual e autnoma. Algumas estratgias podem facilitar essa conquista, uma delas a leitura cativante, emocionada, enftica feita pelo professor; outra a escuta do CD-ROM que faz parte do material de apoio desta Olimpada. Contudo, ouvir textos lidos em voz alta no pode substituir a leitura dos alunos, pois so jeitos diferentes de conhecer um mesmo texto. Alm disso, papel da escola desenvolver habilidades de leitura.

Lembrete

47

poetas da escola

Oficina

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Toda rima combina?

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ObjetivosReconhecer rimas em poemas. Conhecer as diferentes combinaes de rimas. Produzir poemas com rimas.

Prepare-se!A oficina est dividida em quatro etapas. Leia as atividades propostas e planeje quantas aulas sero necessrias.

Material

Coletnea de poemas CD-ROM de poemas Aparelho de som Datashow Papel kraft ou cartolina, canetas hidrogrficas e fita crepe Dicionrio de lngua portuguesa

1- etapaRimas e quadras

Atividades

Compor rimas um exerccio divertido, mas d trabalho! Muitas vezes, preciso recorrer memria e ao dicionrio para encontrar palavras que normalmente no usamos. Com as rimas os poemas podem ganhar sonoridade. Num primeiro momento, importante levar os alunos a reconhecer rimas, comeando por poemas que tm uma forma simples e popular, como as quadrinhas. Pergunte aos alunos se sabem o que quadrinha. Explique-lhes que se trata de um poema de apenas quatro versos. uma forma potica antiga, comum na cultura popular e bastante conhecida pelas crianas, principalmente por meio das cantigas de roda. Quem no se lembra? O cravo brigou com a rosa, Debaixo de uma sacada. O cravo saiu ferido, E a rosa despedaada.

50poetas da escola

Escreva na lousa a quadra: L no fundo do quintal Tem um tacho de melado Quem no sabe cantar verso melhor ficar ____________Ricardo Azevedo. Armazm do folclore. So Paulo: tica, 2000.

Pergunte quais palavras rimam com melado que poderiam completar o ltimo verso. A palavra que o autor usou calado, mas seus alunos podem dar outras sugestes, como: chocado, irritado, preocupado, aliviado. O importante construir a rima de forma que o verso no perca o ritmo nem o sentido. Desse modo, os alunos devero compreender que a palavra tem de completar o ritmo do verso e tambm o sentido da quadra. Entre as vrias sugestes, o termo calado o que preenche plenamente essas condies. Eles tambm percebero que a sonoridade fundamental no poema, mas no um elemento isolado. Ela combina com o sentido, com o ritmo e com todos os outros recursos, pois o conjunto de todos esses elementos que sustenta o sentido do poema. Muitas vezes os alunos ficam to preocupados em encontrar palavras que rimam que se esquecem de verificar se o verso construdo combina com o sentido do texto. Voc pode, e deve, conversar com eles a esse respeito. Com o auxlio do datashow, projete o poema Cano do exlio, de Gonalves Dias. Leia e analise o poema junto com eles, mostre como os poetas, ao usarem o recurso da rima, so cuidadosos na escolha das palavras. Os versos e as estrofes no so construdos apenas com palavras que rimam entre si, mas de modo que esses elementos se articulem com o conjunto para produzir um sentido.

51poetas da escola

Rima e VersosRima a semelhana sonora entre duas palavras ou a identidade de sons no final das palavras, a partir das vogais tnicas, aquelas que esto na slaba tnica, ou seja, na slaba da palavra que pronunciada com mais intensidade. Versos regulares so os que apresentam ritmo regular e rimas. Quando um poema tem versos de ritmo regular que no apresentam rimas, dizemos que ele se compe de versos brancos. Um verso que no rima com os demais do poema recebe o nome de verso solto.

2- etapaOnde esto as rimas?

Atividade52poetas da escola

Escreva na lousa as quadras da pgina ao lado ou pea aos alunos divididos em grupos que os leiam na Coletnea e pergunte-lhes quais palavras rimam e em quais versos elas esto. Veja se a turma consegue descobrir diferenas entre a forma como as rimas se apresentam nos dois poemas.

No sei se v ou se fique No sei se fique ou se v Ficando aqui no vou l E ainda perco o meu pique.Slvio Romero. Contos populares do Brasil. Rio de Janeiro: Jos Olympio, 1954.

seu moo inteligente Faa o favor de dizer Em cima daquele morro Quanto capim pode ter?Ricardo Azevedo. Armazm do folclore. So Paulo: tica, 2000.

Fique rima com piqueOs versos podem rimar de diferentes formas. Na primeira quadra, recolhida por Slvio Romero, o primeiro verso rima com o quarto (fique e pique) e o segundo verso rima com o terceiro (v e l). J Ricardo Azevedo rima o segundo verso com o quarto (dizer e ter).

53poetas da escola

3- etapaMais quadras

Atividades54poetas da escola

Embora seja uma forma potica popular, a quadrinha tambm est presente em obras consideradas cultas. Grandes poetas compuseram quadrinhas, entre os quais Fernando Pessoa, um dos mais consagrados poetas da lngua portuguesa. Os estudiosos de sua obra registraram mais de quatrocentas quadras, algumas sem data. Acredita-se que ele tivesse a inteno de compor um livro com elas, mas isso nunca ocorreu. Antes de iniciar os exerccios, explique aos alunos que muitos poetas usam pseudnimo: um nome inventado para assinar alguns poemas ou at mesmo livros. O estilo da produo com nome verdadeiro e aquele com pseudnimo se assemelham. J com o heternimo isso no ocorre. Nesse caso, o poeta assume outra personalidade, outro modo de compor, outro estilo. A obra do heternimo no se parece com aquela assinada pelo prprio poeta. Inicie a atividade apresentando Fernando Pessoa aos alunos. Fale da importncia dele e leia a frase que ele escreveu sobre as quadras: A quadra um vaso de flores que o Povo pe janela da sua alma.

Fernando Pessoa, Lisboa (Portugal), 1888-1935. considerado um dos maiores poetas da lngua portuguesa de todos os tempos. Em sua obra, ele usou vrios heternimos, que formavam personalidades completas. Tinham biografia, estilos literrios prprios, maneiras diversas de ver o mundo. Era como se Fernando Pessoa encarnasse outras pessoas imaginadas por ele. Em alguns poemas, Pessoa assinava o prprio nome. Em outros, assinava Alberto Caeiro, um poeta que buscava a simplicidade da natureza e preferia linguagem e vocabulrio simples. Em outros ainda, assinava Ricardo Reis, que tinha uma forma humanstica de ver o mundo e procurava um equilbrio similar ao dos clssicos. Outro heternimo era lvaro de Campos, um poeta moderno, um homem identificado com o gosto e os costumes de seu tempo.

Divida os alunos em grupos e entregue a Coletnea a eles. Coloque o CD e ouam a leitura das quadras abaixo:

Quadras ao gosto popularEu tenho um colar de prolas Enfiado para te dar: As per las so os meus beijos, O fio o meu penar.Quadra 2 (27/8/1907)

Vale a pena ser discreto? No sei bem se vale a pena. O melhor estar quieto E ter a cara serena.Quadra 18 (18/8/1934 data provvel)

A caixa que no tem tampa Fica sempre destapada. D-me um sorriso dos teus Porque no quero mais nada.Quadra 9 (11/7/1934)

No digas mal de ningum, Que de ti que dizes mal. Quando dizes mal de algum Tudo no mundo igual.Quadra 62 (11/9/1934)Fernando Pessoa. Obra potica VI. Porto Alegre: L&PM, 2008.

No baile em que danam todos Algum fica sem danar. Melhor no ir ao baile Do que estar l sem l estar.Quadra 17 (4/8/1934)

55poetas da escola

As quadrinhas tm quatro versos, geralmente com sete slabas poticas, ritmo tpico da poesia popular. Veja: No / di / gas / mal / de / nin / gum,/. 1 2 3 4 5 6 7

Esse verso tambm chamado de redondilha maior. O ritmo aliado s rimas d s quadras cadncia e sonoridade peculiares. Pea aos alunos que leiam novamente as quadrinhas. Pergunte-lhes que palavras rimam em cada quadra. Observe com eles que nas trs primeiras quadras o segundo verso sempre rima com o quarto: dar/penar; destapada/nada; danar/estar. Nas duas ltimas, o primeiro verso rima com o terceiro: discreto/ quieto; ningum algum. A seguir, pea para cada grupo criar uma quadra. Se verificar que eles tm dificuldade para iniciar, sugira um primeiro verso. Veja alguns exemplos: Essa noite tive um sonho... Menina dos olhos tristes... Voc vive reclamando... Um jardim cheio de flores... Meu medo de tempestade... Voc diz que sabe tudo... Atirei um cravo ngua... Que passeio divertido... Uma mquina moderna... Na curva daquele rio...

Assim que terminarem, pea-lhes que leiam as quadras para a turma. Depois de revisadas, elas devero ser passadas a limpo e afixadas no mural.

56poetas da escola

4- etapaQual o papel das rimas?Nessa atividade, a turma vai compor um texto coletivo. No se trata de uma simples colagem de frases. O texto deve fazer sentido e ser harmonioso.

Atividades

Para iniciar, diga aos alunos que eles iro ler trechos de dois poemas: Duas dzias de coisinhas toa que deixam a gente feliz, de Otvio Roth; e Doze coisinhas toa que nos fazem felizes ( moda de Otvio Roth), de Ruth Rocha. Leve-os a observar que a poetisa homenageia o poeta, anunciando retomar seu estilo. Coloque na lousa os dois ttulos, e, antes de ler os versos, pea-lhes que falem de coisinhas toa que os deixam felizes. Talvez alguns mencionem coisas grandes e importantes, como ganhar na Loteria Federal, viajar, a paz no mundo. Comente que os ttulos remetem simplicidade do dia a dia e insista em que pensem tambm em coisas simples, alm das essenciais. Os dois tipos de coisa esto presentes em nossa vida. Divida a lousa ao meio: de um lado, escreva as coisas simples sugeridas pelos alunos; do outro, as grandes e importantes. Solicite aos alunos que acompanhem a leitura dos versos transcritos na prxima pgina.

57poetas da escola

PoemasDuas dzias de coisinhas toa que deixam a gente felizPassarinho na janela, pijama de flanela, brigadeiro na panela. [...] Almoo de domingo, revoada de flamingo, heri que fuma cachimbo. [...]Otvio Roth. Duas dzias de coisinhas toa que deixam a gente feliz. So Paulo: tica, 1994.

Doze coisinhas toa que nos fazem felizes ( moda de Otvio Roth)[...] Ver gelatina tremendo no prato Nadar depressa usando p de pato Mostrar a lngua pra tirar retratoRuth Rocha, in: Toda criana do mundo mora no meu corao. So Paulo: Salamandra, 2007 p. 43. ,

Rimas externas e internasRimas externas Aquelas das palavras posicionadas no final dos versos: No digas mal de ningum, Que de ti que dizes mal. Quando dizes mal de algum Tudo no mundo igual. Rimas internas As das palavras que se localizam no interior dos versos: Passarinho na janela, pijama de flanela, brigadeiro na panela. Almoo de domingo, revoada de flamingo, heri que fuma cachimbo.

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Atividades

Converse com os alunos sobre os versos lidos. Eles devem perceber que apresentada uma espcie de lista potica, marcada por rimas externas e tambm internas. Observe nos versos do quadro sobre rimas, as rimas em -ela e em -ingo tanto no interior quanto no final dos versos: as internas e as externas so semelhantes. Nos versos de Ruth Rocha, tambm h rimas externas e internas, mas elas no so semelhantes: internas em -ar e externas em -ato: Ver gelatina tremendo no prato Nadar depressa usando p de pato Mostrar a lngua pra tirar retrato Voc pode escrever os versos na lousa e grifar as rimas junto com eles. Instigue-os com perguntas:

Por qual razo os poetas teriam feito essa escolha? Esse recurso poderia favorecer a unidade do verso, da estrofe, do poema?Em seguida, pea aos alunos para observar a pontuao de cada grupo de versos. Otvio Roth emprega um ponto-final, no fim de cada verso. Dentro deles, so enumeradas trs coisinhas, separadas uma da outra por vrgulas. Ruth Rocha enumera uma coisinha por verso e no emprega sinais de pontuao. Comente a diferena de ritmo: alongado e lento, nos versos de Otvio Roth; gil e curto nos de Ruth Rocha.

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Atividades60poetas da escola

Comente o dilogo entre os dois poemas, isto , a intertextualidade, que pode ocorrer de duas maneiras: a parfrase, que retoma um texto com o mesmo ponto de vista do original; e a pardia, que o faz, deslocando o seu sentido, em tom bem-humorado, brincalho ou crtico. Pergunte aos alunos se os versos de Ruth Rocha parafraseiam ou parodiam os de Otvio Roth. Leve-os a notar o verso final mostrar a lngua pra tirar retrato. Mesclam-se a homenagem, a brincadeira, o bom humor. Proponha-lhes transcrever as coisinhas na lousa, novamente dividida ao meio: de um lado, coisas simples e cotidianas; de outro, as mais abrangentes. A atividade semelhante realizada anteriormente, agora retomando os versos que acabaram de ler. Essa organizao pode suscitar discusses, e a interveno do professor deve nortear os alunos. As expresses dos versos de Otvio Roth que devem figurar entre as ABRANGENTES, por envolver o grupo social, so as seguintes: almoo de domingo [reunies familiares] e heri que fuma cachimbo. J em Ruth Rocha, prevalecem as coisas simples, do dia a dia, uma delas marcada pela irreverncia (mostrar a lngua pra tirar retrato). O termo pra da linguagem informal combina com as coisas do cotidiano.

Sobre a organizao dos dois blocos de versosSintaticamente, os dois versos de Otvio Roth se organizam pela enumerao de expresses nominais diversas: a) substantivo seguido de adjetivo ou locuo adjetiva: pijama de flanela; almoo de domingo; revoada de flamingo; b) substantivo seguido de adjunto adverbial: passarinho na janela; brigadeiro na panela; c) substantivo seguido de orao adjetiva: heri que fuma cachimbo; As expresses nominais substantivos, adjetivos e palavras que exercem essa funo nomeiam os elementos da realidade de forma esttica, enquanto os verbos nomeiam os elementos da realidade de forma dinmica. Levando isso em conta, podemos dizer que os versos de Otvio Roth tendem para o esttico, pelo predomnio de expresses com valor nominal; j nos versos de Ruth Rocha, empregam-se tanto substantivos quanto formas verbais no infinitivo: Ver gelatina tremendo no prato / Nadar depressa usando p de pato / Mostrar a lngua pra tirar retrato. Este recurso sugere dinamismo.

Atividades

Os alunos vo observar as duas listas de coisinhas importantes para a felicidade dos poetas e, talvez, de outras pessoas. Tanto as banais quanto as essenciais so importantes, todas preenchem nossa vida. Procure levar a classe a observar que tanto a sonoridade as rimas quanto a combinao de palavras organizao sinttica contribuem para o sentido do texto e garantem sua unidade, sua composio coerente. No poema, todos os aspectos so importantes para a significao do texto.

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Em seguida, os alunos vo compor, em grupos, um poema com recursos parecidos. Devero, pois, criar um texto com as seguintes caractersticas: semelhante a uma lista de meia dzia, de uma dzia, duas ou trs dzias de coisas que sejam importantes para eles; composto de cinco ou mais versos que apresentem rimas internas e, se possvel, externas. Os alunos podem optar por uma parfrase ou por uma pardia dos versos lidos. Pea a cada aluno que pense numa coisinha e a anote no caderno. A palavra selecionada deve combinar com outras para compor uma expresso. A seguir, cada aluno vai procurar dois colegas cuja expresso rime com a dele. Incentive os alunos a buscar palavras e encontrar rimas para elas. Sugira-lhes que faam listas e procurem termos no dicionrio. Devem evitar o uso de aumentativo e diminutivo, porque esta seria uma soluo fcil e por vezes empobrecedora. D ateno a todos os grupos para ajudar com sugestes, quando for preciso. Se os alunos no conseguirem outras expresses com a mesma rima, devero mudar as palavras, buscar sinnimos ou trocar as escolhas, at juntar trs com as mesmas rimas. Formam-se assim grupos de trs alunos, sendo importante que cada trio obtenha trs coisinhas includas em trs expresses que rimem.

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Em seguida, caso optem por criar como Otvio Roth, o trio vai compor um verso, comparando as escolhas de cada um de seus membros, para decidir em que ordem elas vo aparecer: qual a primeira, a segunda, a terceira. Cada trio apresentar, ento, o que comps. O conjunto talvez resulte num longo poema. Para comp-lo, copie os versos na lousa ou numa folha grande de papel. A classe, em conjunto, vai decidir em qual ordem eles devem figurar no poema. Voc pode orientar essa organizao, por exemplo, do particular para o geral ou o inverso tudo depender do que vai ser proposto pelos alunos. Caso prefiram uma coisinha por verso, como fez Ruth Rocha, devem decidir em que ordem colocar as trs selecionadas, para compor um poema, como o da poetisa. O processo seguinte ser o mesmo apontado acima: copiar os versos na lousa ou numa folha grande, para que a classe em conjunto selecione a ordem dos versos na estrofe de trs versos e, depois, organize os tercetos criados para compor o poema. Ao comporem os versos, os alunos podem optar pelo uso exclusivo de nomes, sugerindo estaticidade; ou usar tambm verbos, que indiquem dinamismo. Chega ento a vez do ttulo. Conte quantas coisinhas toa deixam a classe feliz e pea aos alunos que sugiram um ttulo para os poemas.

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Oficina

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Sentido prprio e figurado

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ObjetivosApresentar os conceitos de denotao e conotao. Delimitar o texto potico.

Prepare-se!Voc sabe encontrar sentidos conotativos e denotativos nos versos dos poemas? Antes de comear a fazer as atividades com seus alunos, procure analisar poemas para identificar esses sentidos.

MaterialColetnea de poemas CD-ROM de poemas Aparelho de som Dicionrio de lngua portuguesa

1- etapaSentido prprio, ou denotao, e sentido figurado, ou conotaoA proposta de atividades desta oficina incentivar os alunos a perceber a expressividade do poema com sua linguagem sugestiva, aberta a mltiplas interpretaes.

Atividades66poetas da escola

O texto potico se vale de recursos que supreendem, provocam e inquietam o leitor. Isso o diferencia dos textos informativos, como as notcias, ou dos textos expositivos didticos, que costumam apresentar um nico sentido. Ele est mais prximo dos textos literrios em prosa, como contos e romances, mas tambm difere deles por ter caractersticas especficas prprias. O convvio e o trabalho com textos poticos ajudam a desenvolver nos alunos a capacidade para perceber esses recursos expressivos. Tambm os leva a descobrir que o poema, quando lido com ateno, sugere mltiplos sentidos, todos decorrentes dos recursos selecionados pelo poeta para compor seu texto. Divida os alunos em grupos e pea-lhes que abram a Coletnea no poema Livros e flores, que tambm est gravado no CD.

Poema

Teus olhos so meus livros. Que livro h a melhor, Em que melhor se leia A pgina do amor? Flores me so teus lbios. Onde h mais bela flor, Em que melhor se beba O blsamo do amor?Machado de Assis. Obra completa III. Rio de Janeiro: Aguilar, 1962.

Comente que Machado de Assis, um de nossos maiores romancistas, tambm escreveu poemas. Leve-os a observar a composio do poema Livros e flores: dois quartetos, com rimas nos versos pares (2/4 e 6/8), e mesma organizao sinttica: o verso inicial uma afirmao; os trs versos seguintes, sintaticamente ligados, terminam com uma interrogao. Verifique se o texto foi compreendido. possvel que o termo blsamo seja desconhecido dos alunos. Pea-lhes que pesquisem no dicionrio, onde provavelmente encontraro: lquido perfumado que escorre de plantas; medicamento que alivia a dor, que tem efeito balsmico.

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Retome verso por verso, a partir do primeiro: Teus olhos so meus livros. Questione se uma afirmao absurda, considerada isolada do texto, no sentido prprio, isto , no sentido que usualmente empregamos. E, no sentido figurado, frequente em textos elaborados, particularmente os literrios? Como se pode compreender esse verso? Diante das sugestes, leve os alunos a perceber que se trata de leitura num sentido especial, que s se pode compreender levando em conta o texto, explicada pelos trs versos seguintes: Que livro h a melhor, Em que melhor se leia A pgina do amor? Trata-se de interpretar os olhos da amada para descobrir se eles revelam o que ela sente.

Alguns sentidosAo ler e interpretar textos, falamos de dois tipos de sentido:

sentido prprio, que as palavras costumam ter nos textos informativos, tambm chamado denotao; sentido figurado, decorrente no s do contexto em que a palavra empregada como tambm do leitor que interpreta o texto, apoiado em sua prpria experincia de vida e em seu repertrio de leituras, chamado tambm conotao.

Observe que o sentido conotativo, ou conotao, se sobrepe ao sentido denotativo, ou denotao; um no substitui o outro, mas somam-se. Desse modo, o sentido do poema se amplia, abrindo-se a mais de uma interpretao.

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O termo pgina, no verso 4, prope duas reflexes: a pgina, em sentido prprio, ou denotativo, faz parte do livro; dentro dos olhos das pessoas, no h pginas; portanto, trata-se de conotao, ou sentido figurado. Qual? A tendncia que respondam que o poeta ama a pessoa a quem dedica os versos e quer saber se correspondido. A pgina, denotativamente, pode ser lida e se revela a todos os leitores; a pgina, conotativamente no contexto do poema , s pode ser lida por quem conhece bem os olhos nos quais ela se esconde. Um sentido no descarta o outro, ambos se complementam. A segunda estrofe talvez cause estranhamento por causa da construo em que me equivale a para mim: Flores me so teus lbios. Os alunos tampouco esto habituados inverso sinttica. Convm, ento, apresent-la como um recurso que favorece o ritmo, frequente na nossa poesia at o incio do sculo XX. Vale recuperar a ordem direta, para efeito didtico de compreenso do verso, que equivale a: Teus lbios so flores para mim. Segue-se a pergunta dos trs versos finais: Onde h mais bela flor, Em que melhor se beba O blsamo do amor? Nesse trecho, so aproximados lbios e flor. O mesmo raciocnio sobre sentido prprio, ou denotao, e sobre sentido figurado, ou conotao, pode se aplicar aqui. Por que seria possvel beber nos lbios da pessoa amada o blsamo do amor? Mais uma vez h um jogo de superposio de sentidos. Beber, no sentido denotativo, soma-se a beber no sentido conotativo, indicando absorver, recolher. O termo lbios remete a palavras e a beijos. De ambos viria o blsamo, o remdio para a dor de amor do poeta.

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2- etapaQual o sentido?

Atividade

Coloque os versos abaixo na lousa e pea aos alunos que indiquem qual o sentido denotativo e qual o sentido conotativo dos termos sublinhados no trecho em que se encontram. a) S que bola, papagaio, pio de tanto brincar se gastam. As palavras no: quanto mais se brinca com elas mais novas ficam.

O termo novas, denotativamente, indica nunca usado; no contexto, sobrepe-se o sentido conotativo: renovadas, usadas de forma nunca vista antes, mesmo que sejam as mesmas palavras de sempre. b) A poesia tem tudo a ver / com [...] a veloz acrobacia dos peixes. A acrobacia denotativamente atribuda a artistas remete movimentao dos peixes, num emprego conotativo. c) A poesia tem tudo a ver / com [...] a exploso em verde, em flores e frutos. Exploso denotativamente aplicado a um mecanismo que detona; aqui remete conotativamente pujana da vegetao. d) Eu tenho um colar de prolas Enfiado para te dar: As per las so os meus beijos, O fio o meu penar. Conserva-se o sentido denotativo original de pedra preciosa, no caso de prola, e de cordo, no caso de fio; acrescentam-se os sentidos conotativos, associados aos beijos e mgoa do poeta.

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3- etapaDefinies poticas

Atividades

Dada a possibilidade de jogar com o sentido das palavras, h escritores que criam definies poticas para algumas palavras de modo criativo e bem humorado. Apresente trs delas aos alunos: Prosa: A prosa como trem, vai sempre em frente. Poesia: A poesia como o pndulo dos relgios de antigamente, que ficava balanando de um lado para outro.Jos Paulo Paes. Vejam como eu sei escrever. So Paulo: tica, 2001.

Reticncias: As reticncias so os trs primeiros passos do pensamento que continua por conta prpria o seu caminho...Mario Quintana. Sapo amarelo. So Paulo: Global, 2006. by Elena Quintana.

Divida a classe em grupos, pea-lhes que abram a Coletnea em Definies poticas e debatam os possveis significados. Depois do tempo estabelecido, sorteie uma das definies para ser apresentada pelos grupos. Um aluno de cada grupo expe para os demais as concluses a que chegaram, com direito a complementaes pelo professor. Leve-os a perceber o porqu da metfora presente na definio: a prosa como trem e a poesia como pndulo referem-se ao modo como cada uma delas ocupa a pgina; o pensamento que continua por conta prpria o seu caminho remete ao carter sugestivo que as reticncias podem assumir. Proponha-lhes a seguir que, individualmente ou em duplas, produzam suas prprias definies poticas. Podem escolher um objeto, um animal, uma pessoa, um sentimento, um lugar etc., e criar, para defini-lo, uma frase potica, buscando trabalhar o sentido denotativo, bem como o conotativo.

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Oficina

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Comparao, metfora, personificao

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ObjetivoIdentificar e usar as figuras de linguagem.

Prepare Prepare-se!Os poemas analisados nesta oficina no esto gravados no CD-ROM de poemas. Portanto, professor, voc quem tem de diz-los em voz alta para diz os alunos. Lembre-se de treinar para essa leitura. Lembre Afinal, a sua leitura o principal modelo para eles.

MaterialColetnea de poemas Dicionrio de lngua portuguesa

1- etapaRecursos que aproximam dois termos

Atividades

Uma das mais marcantes caractersticas da linguagem potica a utilizao da linguagem figurada. Vamos agora tratar de trs das mais importantes figuras de linguagem: comparao, metfora e personificao. Nesta oficina, os alunos vo identificar, aprender e empregar esses recursos. Diga-lhes que vo trabalhar, primeiramente, com um trecho da letra de uma cano infantil feita por um poeta famoso, Vinicius de Moraes. Divida os alunos em grupos, entregue-lhes a Coletnea e pea que abram na pgina de O leo.

O leoLeo! Leo! Leo! Rugindo como o trovo Deu um pulo, e era uma vez Um cabritinho monts. Leo! Leo! Leo! s o rei da criao! Tua goela uma fornalha Teu salto, uma labareda Tua garra, uma navalha Cortando a presa na queda. [...]

Vinicius de Moraes. A arca de No: poemas infantis. So Paulo: Companhia das Letras, 1991. AutORIzAdO PELA VM EMPREENdIMENtOS ARtStICOS E CuLtuRAIS LtdA. VM

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Pergunte por que no verso rugindo como o trovo o poeta aproxima o rugido do leo do trovo. provvel que os alunos falem do barulho do rugido, similar ao trovo. Amplie o comentrio e converse sobre fora, poder, capacidade de assustar e causar medo. Questione se a comparao tambm poderia ser estendida a esses aspectos. Pea-lhes que grifem a palavra como e explique-lhes que se trata de um termo de comparao. Isso ocorre tambm quando usamos as expresses pequeno como uma formiga, suas unhas so to afiadas como as de um gato. A comparao uma relao de semelhana entre elementos por meio de termos comparativos, entre os quais: como, qual, feito, que nem, parece etc. Os poetas costumam utilizar comparaes, instituindo relaes de sentido, ora previsveis, ora inesperadas, entre as palavras. H casos em que o escritor elimina o termo comparativo. Por exemplo, em vez de dizer o leo rugiu como um trovo, ele prefere: O leo um trovo rugindo. Quando isso ocorre, temos outra figura, a metfora, como nos trs primeiros versos da estrofe seguinte: Tua goela uma fornalha Teu salto, uma labareda Tua garra, uma navalha Cortando a presa na queda.

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Converse com o grupo sobre os possveis sentidos desses trs versos. Mostre que aqui se sugere uma semelhana; no entanto, o poeta no utilizou nenhum termo de comparao (como, qual, feito etc.). A transio rpida de goela para fornalha traz vrias sugestes: a viso da boca enorme do leo; o efeito ttil da fornalha, assim como o rudo imaginrio de seu crepitar. O mesmo se aplicaria s outras duas metforas: labareda e navalha, esta ltima com a indicao imaginria de ferimento, corte, sangue etc. Ao aproximar dois termos sem nenhum termo comparativo, a metfora produz efeitos de sentido que ampliam a significao do texto e as possibilidades de interpretao.

2- etapaPersonificao

Atividades

Leia para os alunos o poema Meus oito anos que se encontra na Coletnea. Copie na lousa os versos desse poema de Casimiro de Abreu ou projete o poema pelo datashow. Pea aos alunos que observem os sublinhados: O cu bordado destrelas , A terra de aromas cheia, As ondas beijando a areia E a lua beijando o mar! Converse com os alunos sobre o sentido da estrofe, particularmente das expresses sublinhadas e dos versos em que se encontram. Leve-os a identificar a metfora do verso inicial: o modo como as estrelas enfeitam o cu se assemelha a um bordado. Isso dito sem emprego de um termo comparativo.

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Depois questione: ondas e lua do beijos? Nos dois versos finais aparece outro tipo de figura: personificao. Atribui-se comportamento humano a elementos da natureza. Mostre como as figuras deixam os versos mais significativos. Se o poeta dissesse apenas que havia muitas estrelas no cu, as ondas se aproximavam da areia e a lua refletia sua luz no mar, os versos no seriam to sugestivos e poticos. Do modo como foi construda a estrofe, a natureza valorizada pelas figuras que indicam dinamismo, vida, contato entre os elementos. Pea aos alunos que procurem, no mural, outros versos que apresentem comparaes, metforas ou personificaes.

3- etapaEstabelecer comparaes

Atividades

Agora os alunos vo fazer comparaes para contar sobre o lugar onde vivem. Voc pode fazer um ensaio com eles na lousa, criando coletivamente as comparaes e as metforas. Faam juntos uma lista de caractersticas, qualidades e problemas do lugar onde vivem. O registro das comparaes e das metforas deve ser usado mais tarde, na produo final. Convide a turma a pensar no rio que corta a cidade, no mar, se for uma cidade litornea, ou na rua da escola. Ou, ainda, lembrar uma praa, uma rvore, um lugar da cidade de que eles gostem. Um ponto em que as pessoas se encontrem. Um local em que as crianas brinquem. Um prdio que julguem valorizar a cidade. Faa perguntas sobre as sensaes que esse lugar desperta. Quais as cores que percebem? E os sons e os cheiros que l existem?

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Copie o exerccio abaixo na lousa e pea aos alunos que completem fazendo as comparaes. Vamos usar, como exemplos, o rio, a cidade e a rua, mas voc deve adaptar as frases e ampliar seu nmero, conforme os lugares que sejam significativos para os alunos. Essa tarefa pode ser feita em duplas ou individualmente.

Assim como

, o rio da minha cidade

O rio tem um cheiro que me faz lembrar de As guas do rio so A cor do rio parece A minha rua tem um Minha cidade se apresenta como tal qual feito

Aquele(a) (prdio, bairro, praa, clube, campo esportivo, conjunto de construes, morro etc.) . comoDepois de completadas as frases, pea aos alunos que as apresentem e debata cada exemplo com o grupo. Escolha os mais sugestivos e transcreva-os na lousa para todos copiarem.

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4- etapaTransformar comparaes em metforas

Atividades

Agora incentive a turma a criar metforas, como fazem os poetas. Diga a eles que podem cri-las simplesmente retomando as frases que fizeram no exerccio anterior, das quais sero eliminados os termos de comparao (como, assim como, feito, tal qual), ou substituindo o verbo lembrar pelo ser (), ou at mesmo por uma vrgula, como fez Vinicius de Moraes. Por exemplo: Assim como uma serpente, o rio de minha cidade sinuoso e gil. (comparao) O rio da minha cidade uma serpente sinuosa e gil. (metfora) Minha cidade at parece uma colmeia agitada. (comparao) Minha cidade uma colmeia agitada. (metfora) Pea aos grupos que escolham entre as frases que produziram aquela que consideram como a melhor metfora e a copiem numa folha. Cada aluno ou dupla ler a que escolheu e depois afixar a folha no mural.

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Oficina

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Sonoridade na poesia

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ObjetivosInvestigar as relaes entre som e sentido na poesia. Observar a expressividade das repeties de palavras ou da mesma consoante. Escrever textos com repeties.

Prepare-se!Seus alunos iro ouvir trava-lnguas. Selecione alguns e treine bem a leitura.

MaterialColetnea de poemas CD-ROM de poemas Aparelho de som Datashow

1- etapaSom e sentido

Atividades

Entregue a Coletnea para grupos de alunos e pea-lhes que abram nos poemas de Sidnio Muralha e de Guilherme de Almeida.

Pssaro livreGaiola aberta. Aberta a janela. O pssaro desperta, A vida bela. A vida bela A vida boa. Voa, pssaro, voa.Sidnio Muralha. A dana dos pica-paus. Rio de Janeiro: Nrdica, 1985.

HaicaiUm gosto de amora comida com sol. A vida chamava-se Agora.Guilherme de Almeida, in: Frederico Ozanam Pessoa de Barros. Guilherme de Almeida. So Paulo: Abril Educao, 1982.

Leia os textos em voz alta e depois comente-os com os alunos. Eles devem notar as repeties de palavras, de versos, de letras. Caso isso no ocorra, proponha questes que os levem a essa percepo.

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Aliterao1. No primeiro poema, alm de vrias repeties de palavras e de rimas, ocorre tambm a aliterao, isto , repetio da mesma consoante. Pea aos alunos que localizem essas recorrncias: repetio de palavras, rimas e aliterao. Sugira-lhes que debatam com os colegas como interpretar esse recurso, verificando que efeitos de sentido ele sugere no poema: Repetem-se os termos pssaro, aberta, vida, bela; e os versos quatro e cinco a vida bela. Ocorrem aliteraes de b: aberta, bela, boa; e de v: vida, voa. Aparecem trs rimas: aberta / desperta; janela / bela; boa / voa. A mesma vogal e est presente em duas rimas, prolongando o eco sonoro e propondo associar o sentido das palavras em que est presente. Esses recursos criam elos entre as partes do poema, associando o voo e a abertura de portas e janelas, isto , a liberdade que a abertura representa. A vida seria bela e boa, com liberdade de voar sejapor meio deasas, sejapor meio do pensamento e da imaginao. 2. No segundo poema, alm das rimas externas e da rima interna (comida / vida), ocorre outro tipo de repetio ou recurso de sonoridade: sons recorrentes. Localize a aliterao ou repetio da(s) mesma(s) consoante(s) e comente de que modo ela complementa o sentido do texto: Gosto aGora; aMora coMida chaMava; Comida Com. Esses sons coincidentes estendem o gosto ao agora; a amora comida e nomeao (chamava); a comida preposio com e ao seu complemento (sol). Associa-se, desse modo, o sentido do gosto que algo experimentado pelos sentidos fruta amora e ao momento presente, vivido pelo poeta.

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Ritmo irregular1. A maioria dos exemplos lidos at aqui apresenta ritmo regular. No entanto, h casos em que o ritmo irregular, assim como o tamanho dos versos, ora longos, ora curtos. Veja dois exemplos: um trecho do poema de Vinicius de Moraes (Ptria minha) e alguns versos de Cora Coralina (Coisas do reino da minha cidade).

Ptria minha[...] No te direi o nome, ptria minha Teu nome ptria amada, patriazinha No rima com me gentil Vives em mim como uma filha, que s Uma ilha de ternura: a Ilha Brasil, talvez. [...]Ptria minha in: Eucana Ferraz (org.). , Vinicius de Moraes: Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2004. AutORIzAdO PELA VM EMPREENdIMENtOS ARtStICOS E CuLtuRAIS LtdA. VM

Coisas do reino da minha cidadeOlho e vejo por cima dos telhados patinados pelo tempo copadas mangueiras de quintais vizinhos.