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1 PROCESSO DE CONSULTA PÚBLICA PARA A CRIAÇÃO DA FLORESTA ESTADUAL DO TROMBETAS _____________________________________________________ RESUMO TÉCNICO 1. APRESENTAÇÃO Este relatório resume os levantamentos técnicos realizados para orientar à criação da Floresta Estadual do Trombetas, Unidade de Conservação de Uso Sustentável, situada nos municípios de Oriximiná e Óbidos, Estado do Pará. A Floresta Estadual de Trombetas (Flota do Trombetas, como será referida nesse relatório) foi definida com base no Macrozoneamento Ecológico-Econômico do Pará (MZEE). As principais análises realizadas foram: (i) avaliação do potencial para uso florestal manejado (madeira, produtos não-madeireiros) com base na aptidão florestal (vegetação); (ii) condições acesso considerando o alcance econômico da atividade madeireira; (iii) sinais de ocupação humana tais como pressão humana, rede de estradas não-oficiais e desmatamento, (iv) potencial para mineração e turismo, (v) biodiversidade e (vi) situação fundiária. A área destinada para a criação da Flota do Trombetas, cuja área totaliza 3.303.606 (aproximadamente 3,3 milhões de hectares), está situada na margem esquerda (calha norte) do rio Amazonas no Estado do Pará. A grande maioria (86%) da área da Flota do Trombetas ocorre no município de Oriximiná enquanto 13% está situada em Óbidos e apenas 1% em Alenquer. A Flota do Trombetas possui alto potencial para uso florestal manejado (madeira e produtos não-madeireiros) por abrigar florestas de alto valor econômico. A Flota de Trombetas apresenta potencial para ecoturismo, serviços ambientais e mineração. A criação da Flota de Trombetas poderá amplia as oportunidades de renda e emprego para a população local principalmente nos municípios de Oriximiná e Óbidos. Além disso, a criação da Flota do Paru garantirá a conservação ambiental, pois o desmatamento será proibido, e assegurará os direitos das populações tradicionais, as quais podem continuar habitando e explorando, em bases manejadas, a Flota do Trombetas. 2. JUSTITIFICATIVA A área foi selecionada de acordo com as diretrizes do Macrozoneamento Ecológico-Econômico do Estado do Pará (Lei estadual nº 6.745/05) e está 100% inserida na zona destinada a criação de Unidades de Conservação de Uso

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1

PROCESSO DE CONSULTA PÚBLICA PARA A CRIAÇÃO DA

FLORESTA ESTADUAL DO TROMBETAS

_____________________________________________________

RESUMO TÉCNICO

1. APRESENTAÇÃO

Este relatório resume os levantamentos técnicos realizados para orientar à

criação da Floresta Estadual do Trombetas, Unidade de Conservação de Uso

Sustentável, situada nos municípios de Oriximiná e Óbidos, Estado do Pará. A

Floresta Estadual de Trombetas (Flota do Trombetas, como será referida nesse

relatório) foi definida com base no Macrozoneamento Ecológico-Econômico do

Pará (MZEE). As principais análises realizadas foram: (i) avaliação do potencial

para uso florestal manejado (madeira, produtos não-madeireiros) com base na

aptidão florestal (vegetação); (ii) condições acesso considerando o alcance

econômico da atividade madeireira; (iii) sinais de ocupação humana tais como

pressão humana, rede de estradas não-oficiais e desmatamento, (iv) potencial

para mineração e turismo, (v) biodiversidade e (vi) situação fundiária.

A área destinada para a criação da Flota do Trombetas, cuja área totaliza

3.303.606 (aproximadamente 3,3 milhões de hectares), está situada na margem

esquerda (calha norte) do rio Amazonas no Estado do Pará. A grande maioria

(86%) da área da Flota do Trombetas ocorre no município de Oriximiná enquanto

13% está situada em Óbidos e apenas 1% em Alenquer.

A Flota do Trombetas possui alto potencial para uso florestal manejado

(madeira e produtos não-madeireiros) por abrigar florestas de alto valor

econômico. A Flota de Trombetas apresenta potencial para ecoturismo, serviços

ambientais e mineração. A criação da Flota de Trombetas poderá amplia as

oportunidades de renda e emprego para a população local principalmente nos

municípios de Oriximiná e Óbidos. Além disso, a criação da Flota do Paru

garantirá a conservação ambiental, pois o desmatamento será proibido, e

assegurará os direitos das populações tradicionais, as quais podem continuar

habitando e explorando, em bases manejadas, a Flota do Trombetas.

2. JUSTITIFICATIVA

A área foi selecionada de acordo com as diretrizes do Macrozoneamento

Ecológico-Econômico do Estado do Pará (Lei estadual nº 6.745/05) e está 100%

inserida na zona destinada a criação de Unidades de Conservação de Uso

2

Sustentável. Além disso, essa foi uma das áreas priorizadas no detalhamento do

Macrozonemento Ecológico Econômico do Pará para o setor florestal sustentável

executado pelo Imazon (Instituto Homem e Meio Ambiente da Amazônia) e

concluído em março de 2006. O referido estudo encontra-se disponível na página

da Secretaria do Estado de Produção (Seprod) (www.seprod.pa.gov.br) desde o

dia 23 de março de 2006. Esse estudo foi apresentado em dois amplo seminários.

O primeiro realizado no dia 23 de março no auditório da Federação das Indústria

do Estado do Pará (FIEPA) e o segundo no dia 28 de junho no auditório da

SECTAM.

O Estado do Pará possui aptidão para a atividade florestal em bases

manejadadas. Há abundância de florestas ricas em madeiras de valor comercial e

produtos florestas não-madeireiros. Essas florestas têm grande importância para

conservação da biodiversidade e regulação do clima (local, nacional e global).

Além disso, essas florestas abrigam ricos depósitos minerais e possuem grande

beleza cênica revelando potencial para ecoturismo. Para assegurar o uso

sustentável e a conservação desses amplos recursos naturais, o poder público

(estadual e federal) priorizou os instrumentos de apoio ao manejo florestal

sustentável, entre os quais se destacam

Macrozoneamento Ecológico Econômico do Estado do Pará,

aprovado em 2005, é um instrumento central da política de ordenamento

territorial do Pará. Os objetivos gerais do Macrozoneamento são incentivar o

desenvolvimento das atividades econômicas em bases manejadas, a redução dos

conflitos fundiários e a diminuição do desmatamento ilegal. De acordo com o

Macrozoneamento Ecológico Econômico, a área territorial do Estado foi distribuída

em quatro grandes zonas, a saber: (i) Terras Indígenas ocupando pelo menos

28% do Estado; (ii) Unidade de Conservação de Uso Sustentável existentes e a

serem criadas, ocupando pelo menos 27% do Estado; (iii) Unidades de

Conservação de Proteção Integral existente e proposta, ocupando um mínimo

10%. E, finalmente, uma zona para a consolidação de atividades produtivas de no

máximo 35% do território estadual.

Lei de Gestão de Florestas Públicas, sancionada pelo Presidente da

República em março de 2006, A nova lei prevê a descentralização da gestão

florestal para os Estados. A nova lei tem por objetivos: (i) regulamentar a gestão

das florestas em áreas públicas (União, Estados e municípios); (ii) criar o Sistema

Florestal Brasileiro (SFB) como órgão regulador da gestão das florestas públicas;

e (iii) criar o Fundo Nacional de Desenvolvimento Florestal para promover o

desenvolvimento tecnológico, assistência técnica e incentivos para o

desenvolvimento do setor florestal.

3

A lei define três formas de gestão: (i) Unidade de Conservação para

produção florestal (por exemplo, Flonas/Flotas, RDS); (ii) uso comunitário

(assentamentos florestais, Resex, PDS etc.); e (iii) concessões florestais fora de

Unidade de Conservação. O processo de licitação considera não apenas o melhor

preço ofertado pelo concessionário, mas também os benefícios sócio-econômicos

a serem gerados pelo empreendimento no local e a melhor técnica de manejo

florestal (menor impacto ambiental) apresentada.

3. O QUE SÃO FLORESTAS ESTADUAIS ?

As Florestas Estaduais (Flotas) são Unidades de Conservação de Uso

Sustentável caracterizadas pela cobertura florestal de espécies nativas, cujo

objetivo principal é o uso múltiplo dos seus recursos florestais com base em

técnicas de manejo florestal (Artigo 17 do Sistema Nacional de Unidades de

Conservação -SNUC). Além disso, as Flotas têm a função de garantir a proteção

dos serviços ambientais, conservação da biodiversidae, propiciar as atividades de

recreação e turismo, apoiar pesquisa científica e possibilitar o uso dos recursos

naturais em bases sustentáveis. As Flotas permitem que a população residente e

empresas interessadas – por meio de concessão – utilizem os recursos naturais

de acordo com o plano de manejo da Unidade. Nas Flotas as populações

tradicionais podem permanecer residindo e explorando, em bases manejada, a

unidade.

Função Sócio-Econômica. A criação da Flota do Trombetas pode

contribuir para o desenvolvimento de uma economia florestal sustentável para os

municípios beneficiados (Oriximiná e Óbidos) bem como para todo o Estado do

Pará. Em termos específicos, a criação da Flota do Trombetas pode atrair

investimentos de empresas florestais comprometidas com práticas de manejo

florestal e sócio-ambientalmente responsáveis. Além disso, a criação da Flota do

Trombetas pode dinamizar o manejo florestal comunitário com tem ocorrido em

outras áreas da Amazônia como é o caso da Floresta Nacional do Tapajós. Além

disso, há potencial para o desenvolvimento do ecoturismo e o aproveitamento

racional dos recursos minerais. Em síntese, a criação da Floresta do Tromebtas

pode ampliar as oportunidades de emprego, renda e tributos em base

sustentáveis para as comunidades locais, os municípios diretamente beneficiados

e o Estado do Pará como um todo.

Função Ambiental. As Florestas Estaduais (Flotas) são um complemento

essencial para a proteção ambiental dentro de uma estratégia nacional e

estadual, o qual inclui Unidades de Conservação de Uso Sustentável como é o

caso das Flotas com Unidades de Conservação de Proteção Integral (por

4

exemplo, Parques). A Flota do Trombetas formará uma zona tampão ao redor

das futuras Unidades de Conservação de Proteção Integral a serem criadas nos

limites norte (de acordo o que estabelece o macrozoneamento) bem como

aquelas já existentes tais como Flona Saracá-Taquera e Reserva Biológica do

Trombetas. A Flota do Trombetas assegurará a conservação dos recursos naturais

(especialmente, os florestais), recursos hídricos, biodiversidade e, portanto, o

potencial para geração de serviços ambientais.

O que é Manejo Florestal ?

Consiste basicamente na extração seletiva de árvores (somente duas a

cinco árvores por hectares); planejamento da exploração (estradas, pátios etc) e

corte direcionado das árvores para evitar acidentes de trabalho e danos à

floresta. Além disso, o manejo deve conter técnicas para estimular a regeneração

natural e o crescimento das árvores de valor comercial após a exploração.

Fundamental: o manejo requer que a área explorada fique em repouso por um

período de 25 a 30 anos até que possa ser novamente explorada. Por fim,

através do manejo, os impactos ambientais negativos são reduzidos

substancialmente e os lucros da exploração madeireira aumentam. O manejo

florestal pode contemplar produtos não-madeireiros (frutos, óleos, fibras, resinas,

fármacos etc), ecoturismo e prover serviços ambientais. (Maiores informações

sobre manejo florestal podem ser obtidas nos sites www.imazon.org.br ,

www.amazonia.org.br , www.imaflora.org , www.embrapa.gov.br

Biodiversidade. A área destinada à criação da Floresta Estadual do

Trombetas é uma área relevante para a conservação da biodiversidade. de

acordo com o mapa elaborado no seminário de Macapá em 1999. Esse seminário

contou com a presença de mais de 230 cientistas com larga experiência em

biodiversidade, uso sustentável dos recursos naturais e ocupação humana. As

áreas temáticas incluíram: aves, biota aquática, botânica, invertebrados,

mamíferos, répteis e anfíbios, eixos e pólos de desenvolvimento, funções e

serviços de ecossistemas, oportunidades econômicas, povos indígenas e

populações tradicionais, pressões antrópicas e Unidades de Conservação (ISA et

al. 2001).

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4 LOCALIZAÇÃO DA FLOTA DO TROMBETAS

A área proposta para a Flota do Trombetas ( 3.303.606 hectares)

abrangerá uma relativa pequena dos municípios sendo 26% do território de

Oriximiná, 15% de Óbidos e apenas 2% de Alenquer. A Flota limita-se ao sul

com a Reserva Biológica do Trombetas, a área proposta para Flota do

Nhamunda-Mapuera e por áreas destinadas para consolidação e expansão das

atividades econômicas de acordo com o Macrozoneamento Ecológico-Econômico

do Pará (MZEE). No oeste a Flota do Trombetas limita-se com a Terra Indígena

Nhamundá-Mapuera, enquanto no leste limita-se com a futura Flota do Paru e a

Terra Indígena Zo È. No norte limita-se com as áreas definidas no MZEE para

criação de Unidades de Conservação de Proteção Integral (Parques, Reservas

Biológicas ou Estações Ecológicas).

Figura 1. Área Proposta para Flota do Trombetas.

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5. FLOTA DO TROMBETAS E O MACROZONEAMENTO ECOLÓGICO-

ECONÔMICO DO PARÁ (MZEE)

A Flota do Trombetas está integralmente situada em uma zona destinada

para a criação de Unidades de Conservação de Uso Sustentável pelo

Macrozoneamento Ecológico-Econômico do Estado do Pará (Figura 2).

Figura 2. Área Proposta para Flota do Trombetas de acordo MZEE.

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5. VEGETAÇÃO NA FLOTA DO TROMBETAS

A classificação da vegetação foi realizada em uma escala bem detalhada

(1:50.000) por meio técnicas de sensoriamento remoto que utilizam imagens de

satélite das faixas do visível, infravermelho, radar e dados de topografia

SRTM/NASA. Para isso, combinou-se esse mapeamento detalhado (1:50.000)

com o mapa de cobertura vegetal disponível pelo IBGE/SIVAM (2005) na escala

menos detalhada (1:250.000). Além disso, utilizou-se os relatórios de campo

sobre os levantamentos das formações florestais do Projeto RadamBrasil (IBGE

1996).

No processamento das imagens, inicialmente eliminou-se os sinais de

neblina e fumaça das imagens Landsat para reduzir possíveis erros na

classificação. Em seguida, georreferenciou-se as imagens Landsat com as

imagens do mosaico da Nasa, Projeto ZULU. As imagens de RADAR (Jers –

estação úmida e seca) e SRTM (Shuttle Radar Topographic Mission 2000) foram

registradas com base nas imagens Landsat, prevalecendo à resolução espacial

das imagens Landsat (30 metros). O passo seguinte foi fundir as imagens de

satélite Landsat (bandas 1-7) e as de radar e sobrepor o mapa de vegetação do

IBGE/Radam com as imagens fundidas (cobertura do solo mais topografia) para

a coleta visual de 2.000 amostras de treinamento por classe de formação florestal

na imagem. Essa amostragem foi aplicada na classificação automática por árvore

de decisão, método de classificação automático de rápido processamento e pouca

interferência do analista, que separa classes com características espectrais

distintas (i.e., água, solos, florestas). O produto da classificação automática foi

combinado com a classificação de desmatamento 2004, tornando possível

distinguir o desmatamento das formações não-florestais. Os ruídos gerados na

classificação foram eliminados com filtros espaciais baseados em segmentação de

imagens que consideram as semelhanças espaciais dos pixels. Após a aplicação

dos filtros foi realizada a edição matricial da classificação final por meio do

programa ClassEdit (ENVI 3.2) na escala de 1:50.000 para corrigir eventuais

erros de classificação.

O mapa final foi sobreposto às regiões de Floresta Ombrófila Densa e

Floresta Ombrófila Aberta contidas no mapa IBGE e Sivam (1997) na escala de

1:250.000. Isso foi feito para extrair informações das formações de floresta

densa e aberta, dado que o classificador automático utilizado não conseguiu

separar essas classes de vegetação. Além do mapa de tipologia florestal, foi

possível identificar as formações não-florestais, desmatamento e corpos d´água

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Figura 3. Vegetação na área proposta para Flota do Trombetas, 2005.

Tabela 1. Vegetação na área proposta para Flota do Trombetas, 2004.

Classes Área (hectares) %

Floresta Densa Aluvial 11.701 0,35

Floresta Densa Terras Baixas 199.018 6,02

Floresta Densa Submontana 3.025.338 91,58

Floresta Aberta Submontana 33.337 1,01

Vegetação Não-Florestal 5.321 0,16

Desmatamento 5.061 0,15

Nuvem/sombra 983 0,03

Água (lagos, rios, igarapés etc) 22.846 0,69

Total 3.303.606 100

Formações não-florestais

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6. PRESSÃO HUMANA NA FLOTA DO TROMBETAS

Essa análise revela as áreas com sinais de ocupação humana, consolidada

e incipiente, identificadas a partir de focos de calor, desmatamento, estradas

oficiais, centros urbanos, assentamentos de reforma agrária e áreas de

mineração. Para efeito dessa análise, consideramos o termo “pressão humana”

consolidada” como “alta pressão” e as áreas com pressão humana incipiente

como “média pressão”. A análise foi feita com base no livro “Pressão Humana na

Floresta Amazônica Brasileira” publicado pelo Imazon no inicio de 2006 e

disponível no site do Instituto (www.imazon.org.br).

Figura 4. Pressão Humana na área proposta para Flota do Trombetas, 2005.

Tabela 2. Pressão Humana na área proposta para Flota do Trombetas, 2005.

Classes Áreas (hectares) %

Sem Pressão 3.028.600 91,7

Media Pressão 131.900 4,0

Alta Pressão 6.900 0,2

Não Classificada 113.627 3,5

Água 22.579 0,7

Total 3.303.606 100

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7. ACESSIBILIDADE ECONÕMICA NA FLOTA DO TROMBETAS

Utilizou-se modelos de alcance econômico da atividade madeireira

desenvolvidos por Souza Jr. et al. (1997) e Veríssimo et al. (1998). Esses

modelos estimam a distância máxima dos atuais pólos madeireiros

economicamente viáveis para explorar madeira ao considerar os custos da

extração, transporte e processamento de madeira. Os dados de custo de

produção e de transporte utilizados nessa modelagem são oriundos de

levantamentos feitos pelo Imazon em 1998 e 2004 nos pólos madeireiros do

Pará (Lentini et al. 2005).

O alcance econômico foi estimado por meio da modelagem de custo de

superfície na escala refinada (1:50.000). Esse método determina o custo de

transporte cumulativo para transportar toras de madeira da floresta para o pátio

das serrarias dos pólos madeireiros, considerando-se os diferentes tipos de

superfície. O modelo de alcance utiliza informações de estradas (IBGE 1999),

localização de centros de produção de madeira serrada (Lentini et al. 2005),

navegabilidade dos rios e dados socioeconômicos da atividade madeireira. O

resultado dessa análise indica as áreas com alta, média e baixa acessibilidade

para a atividade madeireira, bem como as áreas inaccessíveis.

Figura 5. Acessibilidade econômica da atividade madeira na área proposta para

Flota do Trombetas.

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Tabela 3. Acessibilidade econômica da atividade madeira na área proposta para

Flota do Trombetas,

Classe Área (hectares) %

Inacessível 1.408.947 42,6

Baixa Acessibilidade 1.776.955 53,8

Média Acessibilidade 84.104 2,5

Não classificado 33.600 1,1

Total 3.303.606 100

8. SITUAÇÃO DO ENTORNO

. Por meio da sobreposição de mapas, analisou-se a presença de áreas

protegidas (Unidades de Conservação e Terras Indígenas) e de assentamentos

rurais no entorno da área destinada à criação da Flota do Trombetas.

Considerou-se importante o conhecimento da situação de entorno dessas áreas,

uma vez que é possível localizar tanto as futuras pressões (no caso de

assentamentos) como os corredores ecológicos potenciais (no caso de Áreas

Protegidas).

No caso da área proposta para a Flota do Trombetas, a sua criação

permitirá formar um amplo mosaico de áreas protegidas na calha norte

paraense. De fato, a futura Flota do Trombetas estaráconectada com as futuras

Flotas do Nhamunda-Mapuera (sudoeste) e Flota do Paru (sudeste) formando o

maior complexo de florestas de produção da Amazônia ( totalizando 7,7 milhões

de hectares). Adicionalmente, a Flota do Trombetas limita-se com as Terras

Indígenas no oeste e lesta. No limite norte a área está previsto a criação de

Unidade de Conservação de Proteção Integral.

Por outro lado, A pressão antrópica para atividades agropecuárias

provém do limite sudeste onde há assentamentos de reforma agrária e expansão

da agropecuária em propriedades privadas. A localização estratégica da Flota do

Trombetas e a perspectiva de uso sustentável (geração de renda, emprego e

tributos) pode conciliar desenvolvimento e conservação nos municípios de

Oriximiná e Óbidos.

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9. SITUAÇÃO FUNDIÁRIA

A situação fundiária do área destinada a criação da Flota do Trombetas foi

classificada de acordo com dados fornecidos pelo Incra e pelo Iterpa. O Incra

disponibilizou informações cartográficas para o Estado por meio dos polígonos das

áreas arrecadadas (resultantes de arrecadação sumária), discriminadas

(resultantes de ações discriminatórias) e dos imóveis rurais. O Iterpa disponibilizou

informações cartográficas por meio das linhas (contornos) das áreas requeridas

para titulação. Os dados de requerimentos fornecidos pelo Iterpa foram

considerados como indicativo de pressão, embora não haja informação sobre

ocupação. Mesmo que essas áreas não estejam desmatadas, há um presumível

interesse de ocupação. As áreas não identificadas como federais, imóveis rurais e

assentamentos de reforma agrária foram classificadas como potencialmente

devoluta.

Na área proposta para Flota do Trombetas não foram identificados imóveis

rurais. Trata-se de terras devolutas apesar de ter sido registrado alguns

requerimentos (não áreas tituladas) junto ao ITERPA na porção sudeste da Flota

(Figura 6)

Figura 6. Síntese da situação fundiária na área proposta para Flota do

Trombetas.

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Tabela 4. Síntese da área destinada a Flota do Trombetas.

Flota do Trombetas

Localização (Municípios)

Oriximiná (86%)

Óbidos (13)

Alenquer (1%)

Área (hectares) 3.303.606

Cobertura Florestal

Floresta Densa (98%)

Floresta Aberta (1%)

Outros (0,85%)

Desmatamento 0,15%

Alcance Econômico Atual

57% acessível. 43% Inacessível

Potencial Madeireiro

Alto. Florestas densas. Riqueza de

espécies de valor comercial

Potencial Produtos Não Madeireiros

Alto.

Serviços Ambientais

Alto. Proteção de importantes bacias

hidrográficas na Calha Norte do Pará.

Ocupação Humana Atual

Favorável. Baixíssima ocupação humana

Benefício Social

Alto. Populações tradicionais podem

permanecer na área e realizar atividades

econômicas florestais e extrativistas.

Benefícios Econômicos

Alto. Madeira, não-madeireiros, serviços

ambientais, mineração, turismo etc

(Renda, empregos, taxas e impostos)

Benefícios Ambientais

Alto. Mantém a integridade da floresta

Conservação da biodiversidade e

manutenção dos serviços ambientais

Aderência ao Macrozoneamento

100% de acordo com as áreas destinadas

para Unidades de Conservação de Uso

Sustentável

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O que é Consulta Pública

A consulta pública é uma exigência legal (Decreto no 4320/02 – que regulamenta

a lei do SNUC) para assegurar que as populações locais, ambientalistas,

pesquisadores, profissionais liberais, empresários, organizações da sociedade civil

sejam informados e opinem sobre as propostas de criar e de ampliar unidades de

conservação e de mudar a categoria delas. No caso Consultas Públicas são

conduzidas pelo governo federal (Ibama), no caso das unidades federais ou pelo

governo estadual (Oemas), no caso das Unidades de Conservação Estaduais do

Pará, a consulta é conduzida pela SECTAM (Secretária de Ciência, Tecnologia e

Meio Ambiente)

9. REFERÊNCIAS

Amaral, P., Veríssimo, A., Barreto, P. & Vidal, E. 1998. Floresta para sempre: um

manual para a produção de madeira na Amazônia. Belém, Imazon, WWF e Usaid.

137 p.

Barreto, B.; Souza Jr., C.; Anderson, A.; Salomão, R. & Wiles, J. 2005. Pressão Humana no Bioma Amazônia. O Estado da Amazônia n. 3, Maio de 2005. http://www.imazon.org.br/.

Brandão Jr., A. & Souza Jr., C. No prelo. Mapping unofficial roads with Landsat images: a new tool to improve the monitoring of the Brazilian Amazon rainforest. International Journal of Remote Sensing.

ISA. 2001. Avaliação e Identificação de Ações Prioritárias para Conservação, Utilização Sustentável e Repartição dos Benefícios da Biodiversidade da Amazônia Brasileira. MMA – Ministério do Meio Ambiente, Instituto Socioambiental - ISA, Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia- Ipam, Grupo de Trabalho Amazônico - GTA, Instituto Sociedade, População e Natureza – ISPN, Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia - Imazon e Conservation Internacional. Brasília: MMA/SBF, 2001.

ISA. 2004. Terras Indígenas e Unidades de Conservação da Natureza: o desafio das sobreposições. São Paulo: Instituto Socioambiental. 687 p.

IBGE. 1996. Recursos naturais e meio ambiente: uma visão do Brasil. 2ª Edição. Rio de Janeiro: IBGE

IBGE. 1997. Diagnóstico ambiental da Amazônia Legal. Rio de Janeiro: IBGE/ DGC/ Derna - Degeo-Decar.

IBGE, 1999. Base Cartográfica Integral Digital do Brasil ao Milionésimo. <www2.ibge.gov.br/pub/Cartas_e_Mapas/Carta_Internacional_ao_Milionesimo/shape>. Acesso em 16/03/05.

IBGE. 2005. Censo Demográfico. <www.ibge.gov.br>. Acesso em 10/2/2006.

15

IBGE. 2002. Potencial Agrícola. Atlas Nacional do Brasil – 4ª Edição.

Incra. 2003. Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária. Divisão de Ordenamento Territorial. Cartografia/Geoprocessamento. Braília.

Inpe. 2005. Monitoramento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite – Projeto Prodes. <www.obt.inpe.br/prodesdigital/cadastro.php>. Acesso em 3/5/2005.

Ipea. 2002.Ipeadata: Dados Macroeconômicos e Regionais. <http://www.ipeadata.gov.br>. Acesso em 26/5/2005.

JPL - Jet Propulsion Laboratory. 2006. Shuttle Radar Topography Mission. <http://www2.jpl.nasa.gov/srtm/>. Acesso em 10/02/2006.

Lentini, M.; Pereira, D.; Celentano, D. & Pereira, R. 2005. Fatos Florestais da Amazônia 2005. Belém: Imazon. 141 p.

Ministério do Meio Ambiente (MMA). 2005. Áreas Protegidas no Brasil <http://www.mma.gov.br/port/sbf/dap/apbconc.html> acesso em 2/12/2005.

Ministério do Meio Ambiente (MMA). 2006. Programa Nacional de Áreas Protegidas.

Ministério dos Transportes. 2002. Banco de informações e mapas de transportes.

Brasília –DF.

Palmieri, R., Veríssimo, A., e Ferraz, M. 2005. Guia de Consultas Públicas paraUnidades de Conservação. Piracicaba: Imaflora; Belém: Imazon. 81p.

Projeto Radam Brasil, 1974-1976. As regiões fitoecológias, sua natureza e seus recursos econômicos. Levantamento dos Recursos Naturais (v.4, v.5, v.7, v.9, v.10) . Ministro das Minas e Energia. Departamento de Produção Mineral

SNUC. 2000. Sistema Nacional de Unidades de Conservação. Lei n°. 9.985, de 18/7/2000.

Souza Jr., C; Roberts, D. A. & Cochrane, M. A. 2005. Combining spectral and spatial information to map canopy damages from selective logging and forest fires. Remote Sensing of Environment 98: 329-343.

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Veríssimo, A.; Lima, E. & Lentini, M. 2002. Pólos madeireiros do Estado do Pará. Belém: Imazon. 75 p.

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ANEXO 1. Bases de informações utilizadas.

Informação Ano Fonte Escala

Cobertura Vegetal 1997 IBGE 1:2.500.000

Desmatamento

Focos de Calor 2005 Inpe 1: 250.000

Pólos e Zonas Madeireiras 2005 Imazon _

Áreas Protegidas 2004

2006

ISA

MMA 1:1.000.000

Assentamentos Rurais 2002 Incra 1:50.000

Macrozoneamento Ecológico-Econômico do Pará 2005 Sectam 1:6.000.000

Alcance Econômico 2005 Imazon 1:2.500.000

Pressão Humana 2005 Imazon 1:2.500.000

Estradas Não-Oficiais 2005 Imazon 1:50.000

Planos de Manejo Florestal 2004 MMA _

Situação Fundiária (Federal) 2002 Incra -

Situação Fundiária (Estadual) 2005 Iterpa _

Biodiversidade 2001 MMA 1:2.500.000

Base

s C

art

og

ráfi

cas

Aptidão Agrícola 2002 IBGE 1:5.000.000

Estatísticas Florestais 2004 Imazon -

Potencial Madeireiro 1996 IBGE/

Radam -

Unidade de Conservação 2000 Snuc -

População 2000 IBGE -

Ou

tras

Base

s

Dados socioeconômicos 2002 Ipea -

17

ANEXO 2. Relevo na área proposta para Flota do Trombetas.