068.08 - rg consultoria - concursos plagiados

28
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA COMARCA DE SEARA O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA, pelo Promotor de Justiça em exercício na Promotoria de Justiça de Itá, com fundamento nos arts. 127 e 129, III da Constituição da República, bem como no art. 17 da Lei n. 8.429/92, no art. 73, VI, “b”, da Lei nº 9.504/97, e no art. 5º da Lei nº 7.347/85, propõe AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA em face de: RG ASSESSORIA EM GESTÃO PÚBLICA LTDA., pessoa jurídica de direito privado, CNPJ nº 7.392.648/0001-08, com sede na Rua 29 de Julho, 699, apto 103, centro, no Município de Lindóia do Sul, Comarca de Ipumirim, representado pelo Sócio-Gerente Guilherme Vivian, residente no mesmo endereço; 1

Upload: eduardosens

Post on 23-Jun-2015

604 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: 068.08 - Rg Consultoria - Concursos Plagiados

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA

EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA COMARCA DE SEARA

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA

CATARINA, pelo Promotor de Justiça em exercício na Promotoria de

Justiça de Itá, com fundamento nos arts. 127 e 129, III da Constituição

da República, bem como no art. 17 da Lei n. 8.429/92, no art. 73, VI,

“b”, da Lei nº 9.504/97, e no art. 5º da Lei nº 7.347/85, propõe AÇÃO

DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA em face de:

RG ASSESSORIA EM GESTÃO PÚBLICA LTDA., pessoa

jurídica de direito privado, CNPJ nº 7.392.648/0001-08, com sede na Rua

29 de Julho, 699, apto 103, centro, no Município de Lindóia do Sul,

Comarca de Ipumirim, representado pelo Sócio-Gerente Guilherme

Vivian, residente no mesmo endereço;

GUILHERME VIVIAN, brasileiro, solteiro, nascido em 20 de

julho de 1985, filho de Antônio Vivian e de Idene Luzzi Vivian, portador

da CI nº 4.319.040, SSP, SC, CPF nº 053.234.139-21, sócio-gerente da

empresa RG Assessoria Em Gestão Pública Sociedade Simples Ltda,

1

Page 2: 068.08 - Rg Consultoria - Concursos Plagiados

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA

residente e domiciliado na Rua 29 de Julho, 699, apto 103, centro, no

Município de Lindóia do Sul, Comarca de Ipumirim;

ANTONIO VIVIAN, brasileiro, casado, filho de Albini e de

Sabina Vivian, nascido em 22 de dezembro de 1958, CPF nº

346.434.279-49, RG nº 1.231.696, residente e domiciliado na Rua 29 de

Julho, 699, apto 103, centro, no Município de Lindóia do Sul, Comarca de

Ipumirim, sócio da empresa Rg Assessoria Em Gestão Pública Sociedade

Simples Ltda;

MUNICÍPIO DE XAVANTINA, pessoa jurídica de direito

público, representada por seu Prefeito Osmar Dervanoski, com endereço

na rua Pref. Otávio Urbano Simon, 163, em Xavantina/SC

MUNICÍPIO DE ARVOREDO, pessoa jurídica de direito

público, representado pela Prefeita Janete Bianchin, com endereço na

Rua do Comércio, 183, em Arvoredo/SC.

1. Objetivo da ação

Esta ação de improbidade administrativa tem por objetivo

obter provimento que declare a nulidade dos Concursos Públicos nº

1/2007 e nº 1/2008, do Município de Arvoredo, e dos Concursos Públicos

nº 1/2007 e 2/2007, de Xavantina.

Tem também por objetivo obter provimento que constitua a

empresa RG Assessoria e Consultoria Ltda. e seus sócios,

solidariamente, na obrigação de restituir aos cofres públicos os valores

gastos com os concursos, além de aplicar à empresa e a seus sócios as

penalidades previstas na Lei de Improbidade Administrativa.

Para tanto, objetiva-se obter liminarmente o bloqueio de

bens da empresa requerida e de seus sócios para impedir que ocultem,

dilapidem ou alienem bens como modo de se furtarem à aplicação da

Lei nº 8.429/92 do §4º e §5º do art. 37 da Constituição da República.

2

Page 3: 068.08 - Rg Consultoria - Concursos Plagiados

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA

Diante da infame série de improbidades praticadas pela

empresa requerida e seus sócios, requer-se, igualmente em sede de

liminar, sejam proibidos de contratar com entidades públicas (União,

Estados e Municípios), de modo a evitar maior dano do que o já

causado.

2. Síntese fática

A Promotoria de Justiça de Seara recebeu informações da

Promotoria de Justiça de Clevelândia, no Paraná, de que a empresa RG

Assessoria e Consultoria Ltda. estaria promovendo diversos concursos

na região. Todos os concursos e testes seletivos conteriam, como

ocorrido no Paraná, diversas questões (a maioria) plagiadas de outros

concursos, em evidente afronta à moralidade e à legalidade na

condução de assunto tão sério quanto a vida funcional de um município.

E, de fato, cotejando as provas aplicadas nos concursos de

Xavantina e Arvoredo observou-se que a grande maioria das questões é

simples cópia de questões utilizadas em outros concursos, inclusive

em outros concursos da própria requerida.

A título de um pequeno exemplo, a tabela abaixo demonstra

as hipóteses de plágio detectadas em exame preliminar por

amostragem em todas as provas aplicadas:

Município Prova Questão Concurso plagiado

Questão plagiada

Arvoredo Auxiliar Administrativo

Questão 2 Escrivão de polícia 2006

Questão 4

Arvoredo Auxiliar Administrativo

Questão 4 Site Só Matemática

Índices, ensino médio

Arvoredo Auxiliar Administrativo

Questão 5 Concurso Anac 2007

Questão 27

Arvoredo Auxiliar Administrativo

Questão 8 Concurso Faxinal dos Guedes

Questão 8

Arvoredo Auxiliar Administrativo

Questão 11 Instituto Ludus

Questão 38 e

3

Page 4: 068.08 - Rg Consultoria - Concursos Plagiados

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA

E MPRJ Questão 33

Arvoredo Operador de Máquinas

Questão 3 TJ-CE Questão 9

Arvoredo Operador de Máquinas

Questão 5 Prefeitura de Pelotas

Questão 10

Arvoredo Operador de Trator

Questão 5 Prefeitura de Pelotas

Questão 10

Arvoredo Operador de Trator

Questão 2 TJ CE Questão 4

Arvoredo Operador de Trator

Questão 5 Prefeitura de Buíque/PE

Questão 30

Xavantina Administrador educacional

Questão 1 IRB - Advogado

Questão 12

Xavantina Administrador educacional

Questão 2 ACD Faxinal dos Guedes

Questão 2

Xavantina Administrador educacional

Questão 5 Site Só Matemática

Índices, ensino médio

Xavantina Administrador educacional

Questão 6 Fuvest 2007 Questão 13

Xavantina Administrador educacional

Questão 7 Fuvest 2007, Professor Alexandre

Questão 1

Xavantina Administrador educacional

Questão 16 Enade 2006 Questão 33

Xavantina Atividades gerais

Questão 2 Esaf 2002, TJ-CE

Questão 2

Xavantina Atividades gerais

Questão 4 Prefeitura de Pelotas

Questão 10

Xavantina Assistente social

Questão 1 IRB– Advogado

Questão 10

Xavantina Assistente social

Questão 2 Faxinal dos Guedes

Questão 2

Xavantina Assistente social

Questão 6 Fuvest 2007 Questão 13

Xavantina Assistente social

Questão 7 Fuvest 2007, Professor Alexandre

Questão 1

Xavantina Assistente social

Questão 12 Prefeitura Cambé

Questão 28

Xavantina Atendente administrativo

Questão 6 Acafe vestibular de verão 2006

Questão 48

Xavantina Serviços Questão 6 Acafe Questão

4

Page 5: 068.08 - Rg Consultoria - Concursos Plagiados

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA

gerais vestibular de verão 2006

48

Xavantina Contador Questão 1 IRB- Advogado

Questão 12

Xavantina Contador Questão 2 Faxinal dos Guedes

Questão 2

Xavantina Contador Questão 6 Fuvest 2007 Questão 13

Xavantina Contador Questão 7 Fuvest 2007, Professor Alexandre

Questão 1

Xavantina Engenheiro Civil

Questão 2 Faxinal dos Guedes

Questão 2

Xavantina Engenheiro Civil

Questão 6 Fuvest 2007 Questão 13

Xavantina Engenheiro Civil

Questão 7 Fuvest 2007, Professor Alexandre

Questão 1

Ocorre que a empresa requerida foi contratada para

elaborar a prova. Tal dinheiro saiu dos cofres públicos, dos

contribuintes. O fato de simplesmente “plagiar” a maior parte das

questões aplicada foge totalmente do razoável, pois igual serviço pode

ser feito por qualquer servidor, mesmo que inexperiente. O fato se

agrava porque a empresa, em negociações com outros Municípios, vem

repetindo inúmeras vezes essas mesmas perguntas.

Tal verdade, além de representar uma violação ao princípio

da moralidade e descumprimento contratual por parte da empresa

contratada, importam inevitável nulidade absoluta do concurso

público por ferir o ineditismo das provas.

Isto beneficia as pessoas que prestaram concursos em

outras cidades da região em detrimento de outras (incluindo habitantes

desta Comarca) que se dedicaram exclusivamente a este certame,

ferindo ainda os princípios constitucionais da isonomia, impessoalidade,

eficiência, etc.

5

Page 6: 068.08 - Rg Consultoria - Concursos Plagiados

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA

3. Direito

Como apontado anteriormente e devidamente demonstrado

pela documentação encartada, o plágio de provas aplicadas, além de

IMORAL e uma descarada violação contratual por parte da empresa,

fere os princípios da razoabilidade, impessoalidade, legalidade,

eficiência etc. Todos são princípios constitucionais (expressos ou

implícitos) e o seu desrespeito importa em nulidade absoluta. Vejamos:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)

II - a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)”.

Sobre a violação desses princípios, nunca é demais lembrar

a célebre lição de Celso Antonio Bandeira de Mello:

Violar um princípio é muito mais grave que transgredir uma norma qualquer. A desatenção ao princípio implica ofensa não apenas a um específico mandamento obrigatório mas a todo sistema de comandos. É a mais grave forma de ilegalidade ou inconstitucionalidade, conforme o escalão do princípio atingido, porque representa insurgência contra todo o sistema, subversão de seus valores fundamentais, contumélia irremissível a seu arcabouço lógico e corrosão de sua estrutura mestra.Isto porque, com ofendê-lo, abatem-se as vigas que o sustêm e alui-se toda a estrutura nelas esforçada." (Curso de Direito Administrativo, 12a edição, Malheiros, 2000, p. 748).

Ora, não é moralmente tolerável que uma empresa que foi

paga para realizar um concurso (e isso pressupõe a edição das

6

Page 7: 068.08 - Rg Consultoria - Concursos Plagiados

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA

questões), simplesmente copie e cole as questões de outros certames,

evitando dispêndio de trabalho e gastos (com uma equipe técnica que

deveria elaborar as provas inéditas).

Isto tudo sem contar o inegável enriquecimento às

custas dos Municípios. Lógico que nessas condições ela pode

apresentar preço inferior ao de empresas honestas, que realmente

contam com um corpo de profissionais qualificados para a elaboração

de questionamentos pertinentes e inéditos justamente para a seleção

dos candidatos mais preparados (em detrimento do princípio

administrativo da eficiência).

Por outro lado, não se pode vir alegar que as provas

copiadas encontram-se na internet à disposição de todos, de maneira

que não prejudicaria o certame plagiado. Isto contraria a própria

essência do concurso, que é a seleção dos melhores, a fim de se

garantir a eficiência dos serviços públicos (e a eficiência é também

um princípio expresso no art.37 da CF/88).

É exatamente por isso que se exige alto grau de

ineditismo da prova, ou seja, para selecionar os mais capacitados, os

que realmente sabem as matérias, os que estudaram e que prestarão

eficientemente os serviços públicos. Estes não podem ser preteridos em

prol dos “espertos”, que serão justamente os que não exercerão suas

funções com o mesmo brilho daqueles.

Sobre a necessidade dos concursos públicos para a seleção

dos melhores em respeito ao princípio da eficiência, anote-se:

O concurso público é o instrumento que melhor representa o sistema de mérito, porque traduz um certame de que todos podem participar nas mesmas condições, permitindo que sejam escolhidos os melhores candidatos" (CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 16ª ed. Rio de Janeiro: 2006).

7

Page 8: 068.08 - Rg Consultoria - Concursos Plagiados

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA

A respeito desse tema, o Prof. Hely Lopes Meirelles

arremata:

"[...] é o meio técnico posto à disposição da administração pública para obter-se moralidade, eficiência e aperfeiçoamento do serviço público e, ao mesmo tempo, propiciar igual oportunidade a todos os interessados que atendam aos requisitos da lei, consoante determina o art. 37, II, da CF. Pelo concurso, afastam-se, pois, os ineptos e os apanigüados, que costumam abarrotar as repartições, num espetáculo degradante de protecionismo e falta de escrúpulos de políticos que se alçam e se mantém no poder leiloando empregos públicos" (MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 30ª ed., Atualizado por Eurico de Andrade Azevedo, Délcio Balestro Aleixo e José Emmanuel Burle Filho. São Paulo: Malheiros, 2005).

Comentando a Lei de Improbidade Administrativa,

especificamente quanto a ilegalidades envolvendo concursos públicos, o

professor Wallace Paiva Júnior também esclarece:

Segundo o art. 11, V, atenta contra os princípios contra os princípios da Administração a frustração da licititude do concurso público, pois esta é a forma moral e eficiente de investidura em cargos, empregos e funções públicas, alijando as vicissitudes do provimento na Administração Pública direta e indireta, inclusive as empresas clandestinas ou estatais (nepotismo, compadrio, filhotismo, testamentos políticos, etc), exigida pela Constituição Federal (artigo 37, II), inclusive nas contratações excepcionais e temporárias (artigo 37, IX) por processo seletivo simplificado (Lei Federal n. 7.845/93 - art. 3o), sendo intolerável a infringência das normas legais no provimento dos cargos públicos. A proteção da regra do concurso público e da sua finalidade (admissão de pessoal com melhores condições para o desempenho de funções públicas) é decorrência inata do princípio da igualdade” (JÚNIOR, Wallace Paiva Martins. Probidade Administrativa. Editora Saraiva, 2a edição, p. 273/274. Grifos nossos) 

Ainda, em relação à matéria em enfoque, como ao poderia

ser diferente, têm decidido os tribunais pátrios:

8

Page 9: 068.08 - Rg Consultoria - Concursos Plagiados

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA

O objetivo aliado ao concurso é a seleção dos melhores profissionais para a administração pública, com vistas e em homenagem às peculiaridades do regime jurídico administrativo e o caráter eminentemente público do serviço prestado.A realização de concurso público para o ingresso na administração pública nada mais é que a pura realização do princípio da isonomia e da impessoalidade, entendidos como pilares da igualdade constitucional propugnada no art. 5º, caput, da Carta Magna.A doutrina de Adilson de Abreu Dallari, com muita propriedade consigna: Em resumo, o concurso público é um instrumento de realização concreta dos princípios constitucionais da isonomia e da impessoalidade (in Regime Constitucional dos Servidores Públicos, pág. 37)”1.

Portanto, o concurso público envolve uma regra

moralizadora e assecuratória da isonomia e da impessoalidade no

recrutamento dos candidatos aos cargos da Administração Pública. Sua

idéia é garantir que integrará os quadros da Administração Pública,

aquele indivíduo que estiver melhor preparado2. Logo, é impossível não

reconhecer a violação dos ditos princípios na realização de um concurso

público na forma verificada nesta Comarca, que em nada beneficia o

candidato que estudou, mas sim aqueles que tiveram a sorte de

participar do concurso anterior ou que foram orientados a olharem

determinada prova na internet antes de o concurso ser realizado.

Isto se agrava pelo fato de restarem confirmadas as

denúncias trazidas a esta Promotoria de que há tempos a mencionada

1 TJRO, 100.022.2001.002057-0 Apelação Cível; Origem : 02220010020570 São Miguel do Guaporé/RO (1ª Vara Cível); Apelante: Joaquim Domingos Boaria; Advogado: João Evangelista Minari (OAB/RO 574-A); Apelado : Ministério Público do Estado de Rondônia; Relator : Desembargador Rowilson Teixeira; Revisor : Desembargador Sansão Saldanha.2 Conforme Rafael Lago Régis, na monografia “O Princípio Constitucional do concurso público e o papel do Ministério Público do Trabalho no combate aos atos de improbidade administrativa”. JUSPODIUM. Disponível em: <http://www.juspodivm.com.br/i/a/%7B00E298F4-3A62-46DE-819C-47EBFE9C24A3%7D_o_principio_constitucional_do_concurso_publico.pdf>.

9

Page 10: 068.08 - Rg Consultoria - Concursos Plagiados

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA

empresa vem lucrando imoralmente com o Poder Público, aplicando

reiteradamente provas não inéditas, cujos conteúdos encontram-se

facilmente acessíveis na internet. As pessoas que já prestaram outros

concursos promovidos pela mencionada empresa facilmente já

perceberam a constante repetição.

De outro vértice, também não se pode ousar alegar que é

“comum” a repetição de questões em concursos públicos e que isso não

viciaria a seleção. Afinal, o aceitável e o que comumente ocorre é a

repetição de uma ou outra questão, e não de todas as questões da

prova de conhecimentos específicos de várias provas. A grande

maioria das provas possuem número irrazoável de questões

copiadas. Muitas delas chegaram a alcançar 90% das questões

copiadas e há de se reconhecer que, em se tratando de 30 testes para

cada cargo, a repetição de poucos já basta para influenciar em seus

resultados.

Tal discurso tolerante apenas fomenta essa imoralidade,

pois é muito fácil para uma empresa contratar com o Poder Público,

assumindo a função de, em seu lugar, elaborar e aplicar as provas de

um concurso público e depois copiar a maior parte dos questionamentos

de outras provas, não necessitando de muitas pessoas para tal fim (na

realidade, apenas uma poderá cumprir com tais tarefas).

Sem um corpo técnico especializado, é também muito

simples apresentar proposta de menor preço (superando as

concorrentes que tenham gastos reais com pessoal). Tal tolerância

jamais se pode aguardar deste Nobre Juízo, conhecedor da seriedade do

tema.

O Poder Judiciário, quando chamado a decidir questões

idênticas à dos autos vem se posicionando firmemente pela anulação

dos concursos, apontando violação dos princípios da impessoalidade,

10

Page 11: 068.08 - Rg Consultoria - Concursos Plagiados

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA

moralidade e eficiência. Da Justiça Federal colhe-se o seguinte

precedente:

ADMINISTRATIVO. CONSTITUCIONAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. CONCURSO PÚBLICO. DISPENSA DE LICITAÇÃO. OFENSA À LEI nº 8.666/93. VIOLAÇÃO DOS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA LEGALIDADE, MORALIDADE, IGUALDADE, IMPESSOALIDADE, PUBLICIDADE E EFICIÊNCIA ADMINISTRATIVAS. PRESENÇA DOS REQUISITOS QUE AUTORIZAM A CONCESSÃO DA MEDIDA LIMINAR. ART. 12 DA LEI Nº 7.347/85. SUSPENSÃO DOS ATOS SUBSEQÜENTES À HOMOLOGAÇÃO DO CERTAME. PROIBIÇÃO DE NOMEAÇÃO, POSSE E EXERCÍCIO DOS CANDIDATOS HABILITADOS[...]15. Quanto às questões de prova retiradas de exames anteriores, realizados por outras entidades, foram em número expressivo, capaz de ofender, como se verá, o princípio da igualdade, quando não aquele da impessoalidade da Administração Pública. 16. Observa-se das fls. 83 e seguintes que inúmeras questões do 121º exame da OAB/SP foram aproveitadas na prova de analista judiciário, sem que o Estado requerido tenha contestado tais assertivas. Ora, não se exige, com efeito, salvo previsão do edital, o ineditismo das questões, sendo tolerável que algumas questões já tenham "caído" em outros concursos, até porque, como asseverou a Fundação em nota à imprensa, o universo do saber é limitado... mas a reprodução de grande número de questões de concursos anteriores, e notadamente de um único, compromete sem dúvida o princípio da igualdade. 17. Compromete o referido princípio da isonomia de forma objetiva, pois beneficiará aqueles candidatos que eventualmente tenham participado do certame do qual as perguntas foram retiradas ou que tenham tido a sorte de, nos seus estudos preparatórios, haverem utilizado a prova em questão como forma de se exercitar. 18. A utilização de questões de outras provas, da forma como se deu, pode ainda comprometer o princípio da impessoalidade da Administração, que se baseia ele próprio, como já dito, no princípio da isonomia. A razão é a maior probabilidade de fraude, pois a informação de que a prova se basearia num determinado certame anterior se revelaria então decisiva

11

Page 12: 068.08 - Rg Consultoria - Concursos Plagiados

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA

para o êxito do candidato. O "vazamento", que seria criminoso, diga-se de passagem, desse tipo de informação, seria impossibilitado ou dificultado se as questões fossem inéditas ou mesmo se proviessem, em pequeno número, de concursos anteriores diversos. Assim, ainda que não tenham vindo aos autos elementos no sentido de que a referida conduta delituosa aconteceu, o incremento de sua possibilidade é, por si só, atentatório do princípio da impessoalidade que deve reger toda a atuação administrativa.19. Quando se contrata entidade para realizar um concurso, está de fato implícito que ela irá elaborar questões novas, ainda que inovando apenas a forma de abordar os temas ou, no mínimo, a ordem das alternativas! A utilização de questões anteriores, ou o número em que isso seria permitido, os operadores do direito e notadamente o Juiz devem analisá-los sob o prisma da razoabilidade, princípio do Direito Administrativo e do Direito em geral. E foi suficientemente demonstrado pela parte autora, sem argüição em sentido contrário no que respeita ao número de questões, que a Fundação requerida não procedeu de forma razoável”3.

Não bastasse a clareza do texto acima para ilustrar o nosso

caso, a ASSOCIAÇÃO JUÍZES PARA A DEMOCRACIA apresentou

representação ao CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA pugnando pela

anulação do concurso para juiz substituto no Estado do Tocantins/TO,

tendo como um dos fundamentos, a repetição de várias questões em

concursos anteriores, senão vejamos:

“A repetição de questões afronta o princípio da isonomia, uma vez que favorece candidatos que eventualmente tenham participado do outro certame ou que tenham acesso às perguntas do concurso anterior, nos dias de hoje plenamente facilitado por consultas à Internet. A repetição de questões vulnera a regra do sigilo da prova a todos os candidatos, que é indispensável para assegurar a impessoalidade no certame e a igualdade de oportunidade aos

3 PODER JUDICIÁRIO - JUSTIÇA FEDERAL - Seção Judiciária do Estado de Sergipe; Processo nº 2004.85.00.1754-0 - Classe 02000 - 3ª Vara; Ação: Civil Pública; Partes: Autor: CONSELHO SECCIONAL DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL – OAB; Réu :FUNDAÇÃO ESCOLA SUPERIOR DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE ALAGOAS E ESTADO DE SERGIPE

12

Page 13: 068.08 - Rg Consultoria - Concursos Plagiados

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA

participantes. Ademais, faz parte da atribuição da própria banca Examinadora, a “elaboração, aplicação, correção das provas”, nos termos do item 3, do referido Edital, não se podendo conceber como elaboração a montagem da prova com base em outras já realizadas anteriormente. Por todo o exposto, para a preservação da legalidade, da moralidade administrativa e do princípio da isonomia, que deve nortear a realização dos concursos públicos, notadamente o ingresso à carreira da Magistratura, é que nos dirigimos a este órgão colegiado, dando conhecimento das aventadas irregularidades, para que sejam sanadas, com a regularização do edital e reinício do certame, com a reabertura do prazo para novas inscrições. São Paulo, 20 de Julho de 2005 Marcelo Semer Presidente do Conselho Executivo da Associação Juízes para a Democracia”.

A propósito deste mesmo tema, o Conselho Nacional de

Justiça já teve a oportunidade de se manifestar. Vejamos a seguinte

notícia divulgada no INFORMATIVO STF, a respeito da anulação pelo

mencionado Órgão constitucional de um concurso para Juiz onde

questões foram copiadas

Magistratura – foi impetrado no Supremo Tribunal Federal (STF) o Mandado de Segurança 26163/AP, no qual candidatos inscritos e aprovados no sétimo concurso público para juiz de Direito substituto do estado do Amapá voltam-se contra o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) que anulou o certame. Alegam que o CNJ inverteu a ordem da pauta para julgar antes o feito, não oportunizou a sustentação oral requerida pelo Tribunal de Justiça do estado do Amapá (TJAP) e que julgou em 15 minutos um feito de grande importância para as partes envolvidas e para a sociedade amapaense. A decisão do CNJ, por seu turno, apontou vícios nas três primeiras fases do concurso público, tais como prova que não teria sido divulgada por qualquer meio e nem distribuída aos candidatos; as questões de Direito Administrativo copiadas de concurso realizado em Minas Gerais; questões de Direito Constitucional abordando assuntos locais e sem importância. Na segunda fase, “o examinador de direito constitucional teria abordado excessivamente assuntos locais, incluindo uma questão tributária inconstitucional”. Já na terceira fase, dos 30 candidatos que fizeram a prova de sentença, somente onze

13

Page 14: 068.08 - Rg Consultoria - Concursos Plagiados

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA

foram aprovados, sendo que dez são ou foram assessores e um deles é filha de desembargador, todos do TJ-AP”. (Informativo STF, 6.10.6).

O Mandado de Segurança (26163/AP) ajuizado pelos

aprovados no concurso nulo acima referido foi rejeitado pelo STF,

mantendo-se a anulação promovida pelo Conselho Nacional de Justiça.

Na decisão do Conselho Nacional de Justiça, reconheceu-se

que as provas do concurso para Juiz do Amapá tinham a reprodução

literal de questões aplicadas em concurso para a magistratura do

Tribunal de Justiça de Minas Gerais (feito em 2005) e que houve

questões abordando assuntos locais e sem muita importância. Anote-se

a conclusão do conselheiro Eduardo Lorenzoni:

“A anulação do VII Concurso Público para Provimento de Cargos de Juiz de Direito Substituto da Justiça Estadual do Amapá é medida que se impõe, a fim de se resguardar a credibilidade e seriedade de concursos dessa relevância, ao mesmo tempo em que visa dar efetividade aos princípios da impessoalidade, moralidade e publicidade administrativa”.

4. Atos de improbidade administrativa

As condutas da empresa requerida e de seus sócios

configuram atos de improbidade administrativa. O art. 11 da Lei nº

8.429/92, determina que “constitui ato de improbidade administrativa

que atenta contra os princípios da administração pública qualquer ação

ou omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade,

legalidade, e lealdade às instituições, e notadamente”.

As sanções, por sua vez, estão disciplinadas no art. 12, III,

com o seguinte texto: “Art. 12. Independentemente das sanções penais,

civis e administrativas, previstas na legislação específica, está o

responsável pelo ato de improbidade sujeito às seguintes cominações:

III - na hipótese do art. 11, ressarcimento integral do dano, se

houver, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos

14

Page 15: 068.08 - Rg Consultoria - Concursos Plagiados

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA

de três a cinco anos, pagamento de multa civil de até cem vezes

o valor da remuneração percebida pelo agente e proibição de

contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos

fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio

de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de três

anos”.

No caso específico dos autos, entende o Ministério Público

que a anulação do concurso, aliada à falta de prova de terem os

respectivos prefeitos concorrido para a fraude impõe, em relação aos

Municípios de Xavantina e Arvoredo tão-somente a anulação dos

concursos como sanção.

Com relação à requerida RG Assessoria e Consultoria Ltda. e

seus sócios, no entanto, a sanção deve ser o ressarcimento integral do

dano (devolução do valor recebido), a suspensão dos direitos políticos

por cinco anos, o pagamento de multa de cem vezes o valor da

remuneração (valor pago pelos contratos) e a proibição de contratar

com o Poder Público por três anos.

5. Liminar – proibição de contratar com o Poder Público

Diante de quadro tão preocupante, não se pode esperar

pelo trânsito em julgado da sentença final para que parem as agressões

da empresa requerida e de seus sócios ao patrimônio público. É preciso

a adoção de medidas enérgicas para fazer cessar as fraudes, sob pena

de admitir-se tacitamente que assim continuem impunemente.

Veja-se que a empresa requerida chegou a alterar o nome

social após ser processada também por improbidade administrativa na

Comarca de Canoinhas. À época, chamava-se Lindóia Consultoria e

Assessoria Ltda., mas mudou de nome para justamente fugir das penas

que lá porventura viessem a lhe ser impostas (vide extrato do SAJ

anexo, 015.05.002376-9).

15

Page 16: 068.08 - Rg Consultoria - Concursos Plagiados

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA

Na Comarca de Concórdia, foram a empresa e seus sócios

processados por fraudar concurso público realizado em Irani

(019.08.002621-2, extrato anexo). Na liminar que decretou a

indisponibilidade de bens dos requeridos consignou o magistrado que

“poucas, pouquíssimas são as situações nas quais as suspeitas de

fraude na realização de um concurso público encontram-se de tal forma

sustentadas em documentos e circunstâncias, como a presente”.

A mesma empresa realizou concurso no Município de Celso

Ramos, Comarca de Anita Garibaldi, e lá foi instaurado Procedimento

Administrativo Preliminar pela Promotoria de Justiça pa ra apuração

da fraude, ocorrendo inclusive busca e apreensão de provas e gabaritos

(docs. anexos).

Na Comarca de São Domingos, a partir de diversas

reclamações de populares o Promotor de Justiça Samuel Dal-Farra

Naspolini determinou a instauração de Procedimento Preparatório,

conforme cópia do despacho anexo.

No vizinho Estado do Paraná, a empresa requerida realizou

concurso público no município de Mariópolis, Comarca de

Clevelândia, concurso que já foi anulado por sentença judicial,

conforme documentos que instruíram a representação inicialmente

trazida à Promotoria de Justiça de Seara.

Outros concursos foram realizados na Comarca de Itá,

Faxinal dos Guedes, Abelardo Luz, Ponte Serrada, Arabutã,

Agronômica, Galvão, Alto Bela Vista e Piratuba, conforme se

observa do site da empresa, todos sob a análise do Ministério Público.

Sem a proibição liminar de a empresa ou seus sócios

contratarem com o Poder Público, seguirão ocorrendo os graves

atos de improbidade, as graves fraudes em concursos públicos que

tanto favorecem as más administrações e, diga-se, tudo impunemente.

16

Page 17: 068.08 - Rg Consultoria - Concursos Plagiados

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA

Note-se que a Lei de Improbidade Administrativa dispõe

expressamente em seu art. 20 que “a perda da função pública e a

suspensão dos direitos políticos só se efetivam com o trânsito em

julgado da sentença condenatória”. Ou seja, pelo que se percebe, o

objetivo do legislador era impedir tão-somente a concessão de liminares

para concederem perda da função pública e suspensão de direitos

políticos.

Logo, a contrario sensu, nada impede que a proibição de

contratar com o Poder Público seja, sim, deferida liminarmente,

pois, se assim não quisesse o legislador, teria inserido no artigo 20 esta

penalidade.

Além disso, estão presentes nos autos os requisitos

indispensáveis para a concessão da tutela pleiteada. E, por sua vez, os

riscos dos danos irreparáveis – se é que existem! – devem ser

suportados pela requerida como forma de acautelar a os interesses

maiores na probidade da administração pública.

Esta ação trata de direito difuso, que para ser preservado

deve se sobrepor ao interesses particulares das requeridas. Ou seja, o

possível dano que poderia ser causado é muito menor do que, caso a

tutela não seja deferida, atinja a todos os cidadãos do Estado de Santa

Catarina que estão à mercê de participar de concursos fraudulentos

realizados pela empresa RG Assessoria em Gestão Pública, que continua

atuando livremente no mercado.

Sobre a irreversibilidade do provimento, vale destacar o

seguinte entendimento:

O art. 273 afirma, no seu § 2°, que “não se concederá a antecipação da tutela quando houver perigo de irreversibilidade do provimento antecipado”.Em virtude dessa regra seria possível pensar que o juiz não pode conceder tutela antecipatória quando ela puder causar prejuízo irreversível ao réu. Contudo, se a tutela antecipatória, no caso do art. 273,I, tem por objetivo

17

Page 18: 068.08 - Rg Consultoria - Concursos Plagiados

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA

evitar um dano irreparável ao direito provável (é importante lembrar que o requerente da tutela antecipatória deve demonstrar um direito provável), não há como não admitir a concessão dessa tutela sob o simples argumento de que ela pode trazer um prejuízo irreversível ao réu. Seria como dizer que o direito provável deve ser sempre sacrificado diante da possibilidade de prejuízo irreversível ao direito improvável4.

Como intuito de corroborar o entendimento acima é

interessante colacionar a decisão do Dr. Ronivon de Aragão, Juiz Federal

no Estado de Sergipe, que nos autos n° 2007.85.02.000128-8, ao

receber a inicial, concedeu a liminar para proibição de contratação com

o poder público da empresa Gautama, a qual participou de fraudes em

processo licitatório, conforme largamente exposto na mídia.

É certo que a empresa Gautama, vinha fraudando licitações

milionárias. No entanto, percebe-se que entre ela e os agravados não

existe qualquer diferença, porque fraudes, que ontologicamente são

idênticas entre si, igualmente ocorreram. Vejamos:

Demais disso, no caso em exame, nem há de se falar em utilização do exclusivo poder geral de cautela. É que o autor requereu, expressamente, a liminar; essa medida liminar é adequada e encontra previsão legal; além disso, a Lei de Improbidade Administrativa traz como um dos consectários lógicos da procedência, em situações que tais, a impossibilidade de contratação com o poder público ou receber benefícios fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de 10 (dez) anos, na forma do art. 12 e seus respectivos incisos, da Lei nº 8.429/92.Ora, se se trata de uma sanção imposta a quem tenha cometido ato de improbidade, não se tem como objetar que seja vedado ao juiz antecipar esses efeitos, quando houver prova fundada para esse fim. No caso, como já afirmado acima, os indícios decorrentes das provas acostadas são veementes, no sentido da prática de ato de

4 Manual do Processo de Conhecimento. Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart. 3ª edição. RT, 2004. Pág. 272.

18

Page 19: 068.08 - Rg Consultoria - Concursos Plagiados

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA

improbidade administrativa por parte da Construtora Gautama Ltda. e do seu sócio, sr. Zuleido Soares de Veras.[...] Por fim, nem se pode alegar que a decisão inviabiliza a sociedade empresária, pois este juízo limita a decisão no que pertine a licitações e contratos futuros, ressalvando as contratações já existentes. (grifo nosso)

6. Liminar – indisponibilidade dos bens

Como há fundados indícios de responsabilidade, inclusive

com diversas outras ações de improbidade em andamento ou em fase

de investigação, é de se decretar liminarmente a indisponibilidade dos

bens da empresa requerida e de seus sócios, para que se garanta até

provimento final o pagamento integral das sanções pecuniárias a serem

impostas.

A possibilidade da providência cautelar está expressamente

contida no texto constitucional, prevendo o art. 37, § 4º, da Carta

Magna, que “os atos de improbidade administrativa importarão a

suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a

indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e

gradação previstas em lei [...]”.5

A Lei nº 8.429/92, que dispõe sobre as sanções aplicáveis

aos agentes públicos ímprobos, prevê, em seu art. 7º:

Art. 7º. Quando o ato de improbidade causar lesão ao patrimônio público ou ensejar enriquecimento ilícito, caberá à autoridade administrativa responsável pelo inquérito representar ao Ministério Público, para a indisponibilidade dos bens do indiciado.

Parágrafo único. A indisponibilidade a que se refere o caput deste artigo recairá sobre bens que assegurem o integral ressarcimento do dano, ou sobre o acréscimo patrimonial resultante do enriquecimento ilícito.

A concessão liminar é indiscutivelmente aceita pelo art. 12,

caput, da Lei da Ação Civil Pública, onde é previsto que “poderá o juiz

5 Grifo nosso.

19

Page 20: 068.08 - Rg Consultoria - Concursos Plagiados

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA

conceder mandado liminar, com ou sem justificação prévia, em decisão

sujeita a agravo”. A medida tem por escopo assegurar a suficiência de

bens para fins indenizatórios ou punitivos, como é o caso dos autos.

Os requisitos de plausibilidade do direito e de fundado

receio de dano grave e de difícil reparação estão patentes. O fumus

boni juris decorre do que já foi fartamente explorado no curso deste

arrazoado. O periculum in mora é manifesto na possibilidade de os

demandados, ao virem saber de tão grave imputação, derramarem seu

patrimônio com o fito de escapar à satisfação da multa civil objeto desta

ação.

Há, por isso, óbvia necessidade de resguardar o interesse

público, visando a assegurar a execução da sentença o pagamento da

multa aplicada.

7. Pedidos

Diante da prática de graves atos de improbidade

administrativa, o MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA

CATARINA requer:

a) a autuação da inicial, nos termos do procedimento

previsto na Lei de Improbidade Administrativa, com a notificação dos

demandados para a defesa preliminar, nos termos do artigo 17, § 7º, da

Lei nº 8.429/92;

b) a concessão de liminar para: b1) proibir liminarmente a

requerida RG Assessoria em Gestão Pública Ltda., por si ou por seus

sócios Guilherme Vivian e Antônio Vivian, ou por terceiros, de qualquer

forma, de contratar com o Poder Público Municipal, Estadual ou Federal,

sob pena de multa mensal de R$ 20.000,00 e prisão por crime de

desobediência; b2) tornar indisponíveis os bens de Antônio Vivian (CPF

nº 346.434.279-49), notadamente do veículo de placas MDN-4203; b3)

tornar indisponíveis os bens de Guilherme Vivian (CPF nº 053.234.139-

20

Page 21: 068.08 - Rg Consultoria - Concursos Plagiados

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA

21); b4) oficiar ao registro de imóveis de Ipumirim, de Concórdia e de

Coronel Freitas requisitando a averbação da indisponibilidade de bens

dos requeridos Antônio, Guilherme e RG Assessoria nas matrículas dos

imóveis que possuírem; b5) oficiar ao Detran para averbar a

indisponibilidade de bens nos automóveis de propriedade dos

requeridos Antônio, Guilherme e RG Assessoria;

c) a notificação dos Municípios Xavantina e de Arvoredo (art.

2º e do art. 3º da Lei nº 8.429/92) para que informem os valores pagos

à requerida, com cópia da nota de empenho, pelos Concursos Públicos

nº 1/2007 e nº 1/2008, do Município de Arvoredo, bem como dos

Concursos Públicos nº 1/2007 e 2/2007, de Xavantina;

d) o recebimento da inicial e a citação do requeridos para,

querendo, contestarem o feito, observado o procedimento previsto na

Lei nº 8.429/92;

e) a produção de prova testemunhal, pericial e documental

que porventura for necessária;

f) a condenação dos requeridos RG Assessoria em Gestão

Pública, Antônio Vivian e Guilherme Vivian às seguintes sanções: f1)

ressarcimento do valor gasto pelas prefeituras com os concursos; f2) a

suspensão dos direitos políticos por cinco anos; f3) o pagamento de

multa de cem vezes o valor da remuneração (valor pago pelos

contratos); f4) a proibição de contratar com o Poder Público por três

anos;

g) a anulação dos Concursos Públicos nº 1/2007 e nº 1/2008,

do Município de Arvoredo, bem como dos Concursos Públicos nº 1/2007

e 2/2007, de Xavantina;

h) a condenação dos requeridos em custas, despesas

processuais e honorários advocatícios (estes conforme art. 4º do

21

Page 22: 068.08 - Rg Consultoria - Concursos Plagiados

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA

Decreto Estadual nº 2.666/04, em favor do Fundo de Recuperação de

Bens Lesados do Estado de Santa Catarina).

Dá-se à causa o valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais,

estimativa dos gastos e da sanção pecuniária).

Seara, 1º de setembro de 2008

Eduardo Sens dos SantosPromotor de Justiça

22