062 tesouro maia

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  • Um pas fictcio da Amrica Central. Um tesouro que os

    ndios maias querem doar ao governo em troca de

    benfeitorias. O irmo do presidente raptado em troca do

    tesouro.

    1968 Lou Carrigan Publicado No Brasil Pela Editora Monterrey

    Ilustrao De Capa: Bencio JVS - 400612 400731

  • CAPTULO PRIMEIRO Prova de identidade

    Um tesouro maia

    Seqestro

    Boa inteno

    Por toda luz, a que proporcionava uma pequena lmpada

    de base flexvel, que dava diretamente sobre o carro da

    mquina de escrever, na qual via-se uma folha de papel

    escrita at a metade. O teclar era velocssimo, suave,

    ouvindo-se apenas no luxuoso escritrio o leve zumbido

    eltrico do motor da mquina quando as teclas ficavam

    momentaneamente em repouso. Sobre o teclado, duas mos

    belssimas, esguias, de um tom que parecia ncar dourado.

    As unhas no eram muito longas e pareciam recortadas em

    madreprola, magnfico remate de uns dedos afilados, geis,

    perfeitssimos. Em todo o escritrio, um perfume sutil, que

    sugeria o de uma rara flor no existente em nenhum lugar

    do mundo. Sobre uma poltrona, na penumbra, um diminuto

    cozinho de raa chihuahua, enroscado, dormitava, vez por outra movendo as agudas orelhas.

    No princpio da pgina escrita estava o titulo daquele

    rascunho, que depois se converteria num grosso volume,

    num verdadeiro tratado que forosamente seria muito

    interessante, pois que a pessoa que o escrevia tinha mais

    conhecimentos que ningum sobre o assunto, O titulo era

    Declogo do Espio. Eis o que estava escrito: Em nosso tempo, a espionagem torna-se uma

    atividade cada vez mais comum. Estende-se por

    isso a necessidade sempre crescente por parte de

    pases, empresas particulares e at mesmo

  • pessoas, ele possuir informaes a respeito de

    outras pessoas, seus projetos suas idias, suas

    tendncias. Deste modo, existe a espionagem

    poltica, militar, industrial, cientfica.

    Tendo-se em conta o progresso considervel

    verificado em todos os setores da atividade

    humana, compreende-se que a espionagem sela

    utilizada como arma poderosa, capaz de fazer

    triunfar ou fracassar aquele.s que, de um ou de

    outro modo, dependem no s de suas

    possibilidades ou talento, mas da capacidade dos

    demais em qualquer ramo do conhecimento.

    Como conseqncia dessa vigilncia mtua

    estabelecida em torno de qualquer criao ou

    ideologia, surge uma concorrncia desleal

    generalizada. Assim, por exemplo, a descoberta de

    determinada vacina num pas pode provocar um

    surto de espionagem, mais ou menos intenso

    segundo a importncia atribuda dita vacina. De

    um modo geral, o espio tem como misso bsica

    a obteno de informaes para o pas que paga

    seita servios; ou, tambm, para seu pas de

    origem, considerando-se a existncia de espies

    que ainda trabalham pelo que se chama

    idealismo.

    De qualquer forma, o espio profissional

    deveria reger-se por um declogo, por dez regras

    normalizadoras de sua atuao. Tais regras, no

    meu entender, so as que se seguem.

    Primeira: a morte no , necessariamente,

    um...

  • A discreta batida na porta do escritrio fez com que

    parasse o teclar. Por cima das mos belssimas, ouviu-se a

    voz da exmia datilgrafa, em tom levemente irritado.

    Entre, Peggy! A porta se abriu e a graciosa empregada nica da maior

    espi de todos os tempos surgiu no limiar.

    Uma visita, miss Montfort. Eu disso que no estava para ningum, Peggy. Tenho

    trabalho.

    Eu sei... Mas o cavalheiro que quer v-la assegura que o motivo de sua visita da maior importncia. Disse,

    tambm, que vem da parte de um grande amigo seu.

    Que amigo? Isso ele no disse. Ele... Est armado? O detector no acusa a presena de arma alguma. Bem... Est bem... Que entre. Mas se dentro de cinco

    minutos no tiver sado, venha avisar-me que estou sendo

    esperada com urgncia no Jornal. Entendido?

    Entendido. Peggy desapareceu. Voltou segundos depois

    acompanhada de um homem, o qual recebeu em cheio a luz

    da lmpada, quando as bonitas mos a dirigiram para a

    porta. Era um homem de trinta anos, cabelos pretos, olhos

    da mesma cor, boca bem desenhada e simptica, embora de

    expresso tristonha, queixo slido, firme. De estatura

    elevada, era delgado e tinha ombros estreitos. Parecia um

    pouco ossudo e de modo algum parecia que o esporte fosse

    sua atividade favorita. Corretamente vestido, exibia uma

  • elegncia natural, inata: um desses homens que, vistam o

    que vestirem, esto sempre bem.

    Seorita Brigitte Montfort? perguntou em castelhano.

    As es respondeu ela no mesmo idioma. Lhe agradeceria que fosse breve, seor...

    Amadeo Torrealba. Lamento t-la interrompido... Eu tambm lamentarei se o motivo de sua visita no

    for to importante quanto disse. Faa o favor de sentar-se.

    O chamado Amadeo Torrealba voltou-se um tanto

    timidamente para Peggy. Segurou a porta, olhou para ela e

    fez meno de fechar. Peggy compreendeu e, como no

    houve contra-ordem por parte de Brigitte, afastou-se.

    O visitante fechou a porta, sentou-se numa poltrona e

    ficou olhando para trs da lmpada, lugar onde devia

    encontrar-se a dona da casa.

    Hmmm... Antes de mais nada, devo dizer-lhe que no venho procura de miss Montfort, mas da agente Baby da CIA.

    No sei se o compreendo, seor Torrealba. Acredito que sim. A coisa muito simples: estou em

    grande dificuldade e um amigo comum assegurou-me que

    s uma pessoa me poderia ser de auxilio.

    Eu? Quero dizer a espi chamada Baby. Quem esse amigo comum, seor Torrealba? Chama-se Nataniel. Mas quando o conheceu, em

    Capri, seu nome era Nathan1.

    1 (ver UM EPISDIO EM CAPRI)

  • Creio que no sei o que est dizendo, seor Torrealba mentiu Brigitte.

    Nataniel advertiu-me que no seria fcil convenc-la. Entretanto, se me permite, tentarei. Quer dizer, o prprio

    Nataniel o tentar por meio de uma carta que trouxe comigo

    para entregar-lhe.

    Uma carta para mim ou para essa agente Baby? Leia a carta sorriu Amadeo Torrealba. Depois

    poderemos prosseguir com o assunto. Est de acordo,

    seorita Montfort?

    Acho que no perderei muito tempo lendo uma carta. Uma das bonitas mos apareceu na luz, apanhou a carta

    apresentada por Torrealba e desapareceu. Depois, no

    escuro, viu-se um delgado raio de luz violcea, que

    percorria lentamente as bordas do envelope, bem como o

    brilho de uma poderosa lupa de forma circular.

    A carta no foi aberta nem falsificada explicou amavelmente o visitante. Asseguro-lhe que genuna sob todos os aspectos.

    Ouviu o rasgar do envelope. Depois uma folha branca

    apareceu na luz, em cima da mquina de escrever. E ouviu-

    se a voz da espi da CIA:

    Querida Baby: Envio-lhe um amigo autntico, um homem que

    merece quanto auxlio voc lhe puder prestar. Seu

    nome Amadeo Torrealba. Incluo sua fotografia e

    impresses digitais, assim como um trecho de

    carta por ele escrita, para que voc possa fazer as

    devidas com provaes. Ele est ao corrente de

    nossa amizade e das circunstncias memorveis

  • em que esta nasceu. Poder responder a todas as

    suas perguntas. Se der alguma resposta errada,

    no se tratar de Amadeo Torrealba, por muitas

    que sejam as provas em apoio dessa pretenso.

    Uma vez dito isto, fica bem claro que minha

    confiana nele total e ilimitada. Tambm posso

    garantir que Amadeo Torrealba jamais trair a

    agente Baby. Peo-lhe, que uma vez comprovada sua identidade, confie nele como o

    faria em mim mesmo, e que o ajude desse modo...

    diablico que a distingue de qualquer outra espi.

    Compreendo que lhe acarretemos grande

    incomodo, mas voc bem sabe que eu faria o

    mesmo por Baby, se a situao fosse inversa. Naturalmente, tambm eu sou um espio

    magnfico, mas no posso ausentar-me de meu

    pais, no momento, j que se esto realizando

    reunies polticas da maior importncia, que

    exigem toda a minha ateno. S em voc me

    atrevo a confiar e peo-lhe que, se nada puder

    fazer por Amadeo, comunique-me imediatamente

    a fim de que eu possa ajeitar as coisas da melhor

    modo possvel para ajudar meu grande amigo.

    Sempre seu,

    com amor,

    NATANIEL

    Parece-lhe convincente? perguntou Torrealba. Sem dvida. Quanto fotografia, sua

    evidentemente. Tenha a bondade de escrever alguma coisa

    neste papel.

  • Amadeo Torrealba apanhou a folha, sacou uma caneta e

    escreveu qualquer coisa, rapidamente. O papel desapareceu

    na sombra atrs da limpada e novamente soou a voz de

    Brigitte:

    S falta confrontar minhas impresses digitais.

    Estou as suas ordens, Baby. Muito obrigado. Amadeo Torrealba

    So palavras muito infantis, no acha? sorriu o visitante.

    O que interessa a forma, no o contedo. Tenha a bondade de colocar os dedos sobre este vidro, apertando

    suavemente.

    Torrealba viu aparecerem agora as mos e os braos,

    aps ouvir o clssico deslizar de uma caixa. Comprimiu os

    dedos contra a lmina de vidro, depois se recostou na

    poltrona. A luz da lmpada dirigiu-se caixa com tampo de

    vidro, sobre a qual foi assestada a mesma poderosa lupa.

    Junto caixa, uma folha de papel na qual estavam

    claramente impressas dez impresses digitais.

    Parece mesmo que o senhor Amadeo Torrealba. Sem nenhuma espcie de dvida. Bem... Passo a ouvir. A luz da lmpada se apagou e, simultaneamente,

    acendeu-se a do escritrio, iluminando tudo. Amadeo

    Torrealba, que se dispunha a acender um cigarro, ficou

    Imvel, com a boca aberta, olhos arregalados, olhando para

    a lindssima jovem que tinha reflexos de ouro em sua pele e

    que sorria para ele, do outro lado da mesa, ataviada

    unicamente com um sumarssimo biquni vermelho.

    Santo Deus!

  • Surpreendido, se fiar Torrealba? No lhe disse Nataniel que eu era a mulher mais bonita do mundo?

    Sim... Disse, sim... Mas pensei que fosse exagero... E agora? Bem... Agora vejo que Nataniel no soube descrever

    sua beleza...

    Muito amvel riu Brigitte. Quer tomar alguma coisa?

    Perignon 55, talvez, seorita Montfort? Oh... Muito bem: primeiro ponto a seu favor.

    Tomaremos champanha.

    Muito gelada, no isso? timo aprovou Baby. J marcou dois

    pontos...

    Ouviu-se a batida na porta. Brigitte autorizou a entrada e

    Peggy tornou a aparecer.

    Miss Montfort, hora de... Esquea isso, Peggy. E traga-nos champanha. Imediatamente. A porta fechou-se. Torrealba deixou de olhar para l e

    fitou o diminuto chihuahua, que tambm parecia observ-lo, espetando as orelhas.

    Suponho que seja o Ccero comentou. Terceiro ponto, seor Torrealba sorriu Baby.

    Mas no exagere: um excesso de conhecimentos sobre

    minha pessoa poderia fazer-me desconfiar. Qual o caso?

    Suponho que ter alguma importncia poltica...

    internacional.

    Lamento. Trata-se apenas de uma questo interna de meu pas. Seja qual for seu desenlace, tudo continuar igual

    no mundo. Entretanto, preferia que o resolvesse de modo

  • que, embora s em beneficio de meu pas, continuasse

    havendo paz.

    Uma formosa palavra. J h alguns anos venho lutando para que seja uma realidade. Espero que no se

    engane a meu respeito, seor Torrealba: meu aspecto de

    mocinha simptica no significa nada.

    Sei muito bem que, se o achasse justo, me mataria tranqilamente, sem hesitao. Nataniel explicou-me sua

    personalidade. Est disposta a ajudar-me?

    Ao senhor ou a seu pas? A mim. Ser o mesmo que ajudar a meu pas. Compreendo. Qual esse pas, seor Torrealba. Maia Caribe... J ouviu falar? Muito pouco. um pais pobre, perto do Mxico, no

    litoral do Caribe. Sem inteno de ofend-lo, seor

    Torrealba, suponho que seja um pas insignificante.

    No para mim, miss Montfort. Naturalmente. Que acontece em seu pas? Mmmn... Certamente, j ouviu falar dos Maias... Mais que de seu pas riu Brigitte. Imagino que

    em Maia Caribe existam alguns milhares de ndios maias,

    ainda um pouco primitivos... No exato?

    No to primitivos, miss Montfort. Pelo menos, compreenderam a importncia que tem para o pas, e para

    eles mesmos, uma melhoria do sistema nacional de direitos.

    Ah... Est-me dizendo que seus ndios compreenderam a vantagem que para eles representaria

    serem autnticos cidados de Maia Caribe, legalmente

    reconhecidos, com direito a voto etc... etc...?

    exatamente o que estou dizendo.

  • timo, eles esto preparados para ser cidados com

    plenos direitos?

    Se no esto, bem que o merecem. De qualquer modo, receio que os lese um pouco... claro que tenciono

    assinar o pleno reconhecimento de seus direitos, mas a

    riqueza que do em troca no creio que lhes traga os

    benefcios que esperam.

    Que riqueza? A que colocaram minha disposio. No estou compreendendo, desculpe... J percebi que

    o senhor o chefe nacional de Maia Caribe, e que pensa

    favorecer os ndios de seu pas. Acho isso uma grande

    idia... Mas, entendi mal, ou disse-me que eles possuem

    uma riqueza?

    Algo assim como dez milhes de dlares. Brigitte ficou espantada.

    Seus ndios possuem dez milhes de dlares? Incrvel!

    um tesouro. Um...? Data de vrios sculos. Um desses remotos e

    discutveis tesouros dos ndios maias, que permaneceu

    oculto em certo lugar: ouro, pedras preciosas, prolas...

    Ora, vamos, seor Torrealba, por favor... Eu o vi. Viu? Com meus prprios olhos sorriu Torrealba.

    Pode crer, miss Montfort: vi esse tesouro, toquei-o com

    minhas mos. Garanto-lhe que existe. s ir busc-lo.

    E deseja que eu o v buscar?

  • No. Eu o colocarei em suas mos e lhe pedirei que o leve a um lugar que ainda no me foi indicado.

    Acho que o senhor est comeando pelo fim. Ou ento estou num de meus dias opacos, pois no consigo

    compreender...

    A histria simples: os ndios maias enviaram-me dois emissrios, dois chefes da maior categoria, que me

    pediram audincia e falaram do tesouro que me queriam

    entregar, porque sabiam que eu era bom e seria justo com

    eles. Queriam... ajudar-me a erguer o pas.

    Com dez milhes de dlares? estranhou Brigitte. Tudo relativo neste mundo sorriu Torrealba.

    O que para uns uma insignificncia, para outros pode ser

    vital. Neste caso, seria realmente importante para Maia

    Caribe um ingresso de dez milhes de dlares. Alm disso,

    considerado como uma coleo de peas de arte maia, esse

    tesouro poderia ser vendido por um preo bem maior.

    Compreendo. E estou de acordo. Continue, por favor. Entregaram-lhe o tesouro?

    Mostraram-me onde est. Como disse, resta apenas ir busc-lo.

    Muito bem. Mas no vejo nenhum problema, francamente.

    Tenho um irmo, miss Montfort. Chama-se Carlos. um rapaz algo extravagante... Mas, repito, tudo relativo:

    talvez Carlos seja considerado extravagante unicamente

    pelo fato de ser eu demasiado circunspeto...

    Peggy entrou com a bandeja que continha um balde de

    prata e duas taas. No balde, entre cubos de gelo, a garrafa

    de champanha. Amadeo Torrealba permaneceu em silncio

  • enquanto ela enchia as taas, depois estendeu a mo para

    receber a sua.

    Brigitte sorveu um gole da bebida geladssima, olhos

    atentamente fixos no inesperado visitante.

    Prossiga. Estava dizendo que seu irmo extravagante, ou que produz essa impresso porque o

    senhor demasiado circunspeto. Que mais?

    Bem... O fato que tenho grande estima por ele. natural. Na verdade, meu meio-irmo, filho da segunda

    mulher de meu pai.

    No importa. Continua sendo natural. Eu no tenho famlia, entretanto, gosto de todo o mundo. Um irmo por

    parte de pai ... muito irmo. Que acontece de especial com

    ele?

    Desapareceu. Houve um rpido claro de surpresa nos maravilhosos

    olhos azuis de Baby. Tomou outro gole de champanha, antes de murmurar:

    Desapareceu... E tem Isso alguma relao com o caso do tesouro mala de que me falou?

    Amadeo Torrealba assentiu sombriamente.

    H trs dias recebi uma mensagem: em troca da vida de meu irmo, era-me pedido o tesouro maia.

    Brigitte entrecerrou os olhos, talvez por no querer que

    Torrealba percebesse o interesse profundo com que o estava

    escutando.

    Assombroso... murmurou. Raptaram seu irmo e, como resgate, pedem-lhe um tesouro maia no valor de

    dez milhes. Bem, isto parece uma questo de... deciso

    prpria, seor Torrealba. O senhor tem o tesouro maia e

  • algum tem seu irmo. Sabe onde est, ou quem o

    seqestrou?

    No. Receberei instrues dentro de dois ou trs dias. Quantos anos tem seu irmo? Vinte e cinco. Oh... Bem, no sei que dizer, seor Torrealba. Veio,

    talvez, pedir-me um conselho?

    No. Como bem disse, para tomar essa deciso no necessito de conselhos de nenhuma espcie. Quero...

    quisera que encontrasse meu irmo antes de que eu me veja

    obrigado a entregar o tesouro maia, que tanto beneficiaria

    meu pais.

    Quer salvar o seu irmo e o tesouro maia... isso? Exatamente. Fui a San Nataniel para entrevistar-me

    com Nataniel. Sei que ele seria capaz de encontrar Carlos.

    Mas, realmente, est muito ocupado atendendo a questes

    importantes em seu pais, de modo que, sem hesitar, disse-

    me que aqui viesse pedir seu auxilio. Assegurou-me que

    Baby s no capaz de conseguir o que no se propuser. E deseja que me proponha livrar seu irmo de seus

    raptores antes de se ver obrigado a entregar o tesouro maia.

    Sim. Brigitte ficou pensativa uns segundos, antes de indagar:

    Compreende, seriar Torrealba, que seu procedimento irregular fazendo esta solicitao a uma agente da CIA?

    Sugeriu-me Nataniel que lhe pedisse para considerar isto como um... trabalho particular. No vejo motivo para a

    CIA intervir no caso. Mas Baby sozinha, sem comunicar a ningum, de um modo inteiramente particular... Suplico-

    lhe: no me negue sua ajuda.

    Compreenda que isto me coloca numa posio...

  • Nataniel disse-me que nem a CIA, nem mesmo os Estados Unidos tm para Baby uma importncia... especial: que luta a favor de ambos porque o merecem, de

    acordo com seus pontos de vista. Mas que, acima de tudo, a

    agente Baby luta sempre a favor de quem tem razo... No lhe pareo merecedor de sua ajuda?

    Para lhe ser franca, no sei. Qual exatamente a sua inteno?

    Salvar a vida de Carlos, ajudar meu pas e, ao mesmo tempo, ajudar alguns milhares de ndios, que por meio de

    seus chefes mais respeitados decidiram formar realmente

    parte de Maia Caribe. Isso significa que eles vivero melhor

    em todos os sentidos. Se eu no puder dispor desse tesouro

    mala, miss Montfort, as coisas continuaro como at agora...

    Ou seja, muito ruins. No? Para os habitantes de Maia Caribe de um modo

    geral... e para os ndios em particular. Eles o necessitam

    muito mais que os brancos mestios: um novo sistema de

    vida, de educao, de trabalho... Dois de seus chefes deram

    o primeiro passo e eu... no gostaria de ludibri-los. Seria

    como... roubar-lhes esse tesouro que durante tanto tempo

    mantiveram oculto. No sei se compreende o que significa,

    em toda a sua extenso, o fato de que eles tenham decidido

    entregar-me essas relquias...

    Em primeiro lugar, significa que esto vendo muito de perto as vantagens da civilizao. Alm disso, evidente

    que confiam de um modo absoluto no senhor, em sua

    palavra, em seus planos para o futuro, em sua bondade para

    com eles... Colocaram no senhor toda sua confiana. Numa

    palavra, esperam do chefe de Maia Caribe sua prpria

    salvao.

  • bem como diz, miss Montfort. Vai-me ajudar? Brigitte terminou sua taa de champanha em silncio e,

    durante alguns segundos, permaneceu pensativa. Por fim,

    olhou para Torrealba:

    Diga-me uma coisa: entendo que o senhor, para salvar seu irmo, entregaria esse tesouro maia?

    Sim. Receio... receio que sim. Em cujo caso, seu pas continuaria impossibilitado de

    progredir... e algum se transformaria num milionrio do

    dia para a noite.

    Sem dvida... Est bem. Temos ainda muito que falar, seor

    Torrealba. E amanh a agente Baby partir para Maia Caribe animada da boa inteno de salvar esse tesouro

    maia.

  • CAPTULO SEGUNDO Uma cabana no meio da mata

    Espionagem indgena

    Uma idia melhor?

    Conforme o combinado com Amadeo Torrealba numa

    conversa que durou quase at a uma da madrugada, a agente

    da CIA profissionalmente conhecida como Baby, em misso de carter estritamente pessoal, chegou ao aeroporto

    de Ciudad Caribe num avio misto de carga e passageiros,

    j que to-somente aparelhos desta classe faziam escala na

    capital. O que era facilmente compreensvel: apenas uma

    vez em cada dez dias saltava um passageiro para ficar.

    E assim, pelas cinco e meia da tarde, Brigitte Montfort

    encontrou-se sozinha ao p do avio, esperando que

    descarregassem sua bagagem.

    Um empregado do aeroporto lhe informou que poderia

    receb-la na Alfndega. Dirigiu-se para l, levando na mo

    a mgica maleta de couro vermelho com pequenas flores

    azuis, dentro da qual se podia encontrar desde o banalssimo

    microfone at um par de alfinetes cuja cabea era uma

    miniatura de emissor que facilitava sua localizao,

    estivessem onde estivessem, por meio de um detector... que

    tambm estava na maleta.

    Na Alfndega no houve dificuldade alguma. Um

    mestio de vasta cabeleira gordurosa sorriu para ela,

    autorizou a entrada da nica mala, aps olhar seu

    passaporte, e no perdeu de vista suas belas pernas quando a

    forasteira encaminhou-se para a sada do aeroporto,

    recusando sorridente o oferecimento de um carregador que

    desejava incumbir-se da bagagem.

  • E efetivamente, diante do pequeno e modesto edifcio do

    aeroporto, estava espera um carro preto, cujo modelo

    datava de uns seis anos atrs, pelo menos. Havia um homem

    sentado no volante, fumando, com a cabea voltada para a

    sada. E apenas viu Brigitte, jogou fora o cigarro,

    adiantando-se pressuroso.

    Seorita Brigitte Montfort? Sim. Eu sou lvaro... Por favor, sua mala. Deixou-a no cho para abrir a porta do carro. Depois,

    colocou-a sobre o assento a seu lado e voltou a tomar o

    volante, sem dizer palavra.

    O carro ps em marcha imediatamente. Baby acendeu um cigarro e, por ambas as janelas, dedicou-se a olhar a

    paisagem. Apos algumas curvas, a cidade tornou-se visvel,

    ao fundo, junto do mar. Uma cidade branca e vermelha,

    pequena, com cintilantes manchas verdes que eram copos

    de palmeiras. Brilhava ainda um formoso sol, mas ao longe,

    terra a dentro, viam-se espessas nuvens negras que

    certamente, dentro de pouco tem~, provocariam uma das

    clssicas tempestades tropicais.

    O carro ia a boa velocidade, apesar de seu motorista no

    parecer muito hbil. Quando, e em outra curva, Brigitte

    tornou a ver a cidade, compreendeu que no se estavam

    aproximando desta, mas afastando-se para o interior.

    Contraiu ligeiramente as sobrancelhas, mas conteve-se.

    Continuou fumando tranqilamente, enquanto com a maior

    naturalidade sua direita abria a maleta, introduzindo-se

    nesta. Os dedos afilados tatearam a pistola de coronha de

    madreprola, enquanto os ingnuos olhos azuis observavam

    os do motorista, fixos nela pelo espelho retrovisor.

  • No nos estamos afastando da cidade? perguntou sorrindo.

    No... A estrada assim mesmo, seorita... D muitas curvas.

    Mas no vejo por que dar curvas para o interior a mo de Brigitte apareceu, empunhando a pistola. Tenha a bondade de fazer a volta.

    Sinto muito, mas no posso. Est bem. Vai sentir muito mais quando eu apertar o

    gatilho, de modo que, ou faz o que lhe digo ou...

    No apertar gatilho nenhum... sorriu o homem. Veja: estamos beirando um precipcio... No l muito perigoso, mas com um pouco de m sorte qualquer um pode

    morrer aqui. Guarde a pistola, por favor: garanto-me que

    somos seus amigos.

    Somos? Voc... e quem mais? No faa perguntas, seorita. De nada lhe adiantar

    saber o que no de sua conta. Falando com franqueza, ns

    achamos que no devia ter sado dos Estados Unidos.

    lvaro se voc no... Meu nome no lvaro riu o homem. Oh, compreendo... Pois bem, amigo, seja voc quem

    for: se no parar o carro imediatamente e saltar, acho que

    ns dois vamos cair nesse precipcio.

    Olhe: vou parar logo depois da terceira curva. Aqui seria difcil para fazer qualquer manobra. Este um pas

    pobre, de estradas estreitas, aeroporto pequeno, uma velha

    ferrovia para a Guatemala e o Mxico... No um lugar

    para a seorita.

    J estive em piores. Quem voc e o que est tramando?

  • S lhe posso dizer que somos amigos. No precisa temer nada de ns, pois s queremos que se mantenha

    afastada deste assunto... No fcil?

    Muito fcil. A que assunto se refere? Ao do tesouro maia! riu o homem. Por favor,

    no nos julgue to idiotas, seorita Montfort. claro que se

    eu fui esper-la no aeroporto, em lugar de lvaro, porque

    sabemos o que est acontecendo, e o que... o que ns

    queremos. Comportando-se bem, no sofrer nenhum dano

    e dentro de poucos dias poder voltar aos Estados Unidos s

    e salva. Bem... O carro j est parado.

    Salte. Vejo que no entendeu, seorita. No parei o carro

    onde lhe convinha, mas onde convm a mim... No

    verdade, Pancho?

    Pela outra janela apareceu um homem hirsuto, de dentes

    branqussimos sorridentemente mostra. Tinha os olhos

    muito pequenos, negros, vivos, um enorme bigode e um

    revlver no menos enorme na mo que introduziu pela

    janela.

    linda a seorita, Benito comentou. Muito linda. No atire, salvo se ela quiser atirar...

    Mas estou certo de que bastante inteligente para

    compreender nossa atitude, que ser sempre amistosa

    enquanto ela no preferir o contrrio. Quer guardar sua

    pistola, seorita Montfort? Repito-lhe que somos seus

    amigos.

    Brigitte franziu graciosamente a testa e encolheu os

    ombros.

  • Est bem sorriu, guardando sua pequena arma. Seria uma estupidez se me deixasse matar em circunstncias

    que no beneficiariam a ningum.

    O do volante olhou-a com simpatia.

    Antes de morrer, poderia matar-me lembrou. E que ganharia com isso? Boa pergunta. Estou vendo que nos entenderemos

    muito bem, seorita Montfort. Sero poucos dias... E pode

    ter certeza de que a respeitaremos em todos os sentidos,

    pois sabemos muito bem de suas boas intenes vindo a

    Maia Caribe. Sente-se junto dela, Pancho. E... necessrio

    que o Pancho fique lhe apontando o revlver durante a

    viagem, seorita Montfort, ou d-nos sua palavra de que

    no tentar nada?

    Ser melhor que o Pancho fique me apontando o trabuco respondeu Brigitte, sorrindo suavemente. Nunca prometo nada que no estou disposta a cumprir.

    Sinto por voc, Pancho: ter que manter os olhos abertos, mas bem abertos. Vamos.

    Pancho tinha-se sentado junto de Brigitte e o carro ps-

    se novamente em marcha antes que ele soubesse onde

    colocar seu vastssimo sombrero de palha. Benito vestia-se

    corretamente, com muita sobriedade, mas Pancho usava

    umas calas brancas esfiapadas e sua camisa terminava por

    um n frente do estmago: tinha o aspecto clssico do

    bandolero centro-americano, mas sua expresso era

    simptica e amvel. No obstante, os olhos midos no se

    desviaram de Baby, e o grande revlver permanecia firme em sua mo nodosa e morena.

    Entendo que no pretendem matar-me? indagou Brigitte.

  • No, por Deus! exclamou Pancho. A no ser que nos obrigue a isso apressou-se a

    acrescentar Benito.

    Para quem vocs trabalham? Para a ptria riu Pancho. No verdade,

    Benito?

    Claro que sim, Pancho. Mmm... Ser melhor voc levar a maletinha da seorita. onde ela guarda a pistola e

    no sei o que... No abra!

    Por qu? sobressaltou-se Pancho, a ponto de faz-lo.

    Porque s vezes, abrindo coisas que no so nossas, podemos levar um susto. No verdade, seorita Montfort?

    verdade sorriu Brigitte. Parece que entende um pouco de espionagem, Benito.

    No, no... Que nada! Tudo quanto ns dois sabemos de espionagem aprendemos em alguns filmes... No

    mesmo, Pancho?

    . E alguns so muito bons... Diga, Benito: voc no gostaria de ser um espio?

    Mas no somos? riu Benito. Bah! Ns somos uns pobres-diabos com vontade de

    fazer grandes coisas. Isso tem seu mrito, no?

    Claro que tem. Sabe alguma coisa de espionagem, senrita Montfort?

    Um pouquinho sorriu Baby. Deve ser emocionante! Isso de nunca se saber quem

    amigo e quem inimigo... E todos os truques: microfones,

    bombas-relgio, armas secretas... Costuma usar tudo isso,

    senrita?

    Eu? pestanejou Brigitte. Muito raramente...

  • Mas sabemos que uma agente secreta e que veio meter o nariz no que no de sua conta, numa terra que no

    sua.

    Se sabem tanto, devero saber tambm que no estou aqui por um capricho pessoal.

    Sabemos, claro. E de certo modo, agradecemos suas intenes. No verdade, Benito?

    verdade, Pancho. Quem seu chefe? perguntou Brigitte. Pancho e Benito puseram-se a rir e, naturalmente, no

    responderam.

    O carro continuou rodando durante quase uma hora,

    afastando-se cada vez mais da cidade, terra adentro. Por

    fim, enfiou por um estreito caminho, entre grandes rvores.

    Pouco depois, detinha-se diante de uma cabana pouco

    menos que derruda, com paredes de taipa e teto de palha,

    oculta entre o cerrado arvoredo, em meio sombra.

    Pancho saltou do carro, sempre apontando o revlver

    para Baby, que compreendeu dever saltar tambm. Benito fez o mesmo, e reuniram-se os trs a um lado do veculo.

    Agora ele sacou seu revlver, que tambm apontou para

    Brigitte.

    Eu me encarrego dela. Voc, do lvaro. Bem. Para a cabana, senrita Montfort. Ser seu lar durante

    alguns dias. Sinto muito no poder oferecer-lhe as

    comodidades a que est acostumada, sem dvida.

    Arranjo-me perfeitamente em qualquer lugar... No poderei sair da cabana?

    Oh, sim. Quando quiser dar um passeio, ns a acompanharemos. Pancho e eu estaremos sempre aqui. E se

  • precisar de alguma coisa, pea. Faremos o possvel para

    servi-la, de acordo com as ordens do chefe. No mesmo,

    Pancho?

    Mas Pancho no respondeu. Estava muito ocupado,

    tirando um cadver do porta-malas, o que de modo algum

    Impressionou Benito. E menos ainda, apesar do inesperado,

    agente Baby da CIA. Como pesa o maldito! bufou Pancho. Por fim, o cadver caiu no cho. Ele agarrou-o por um

    p e comeou a pux-lo para o denso bosque que rodeava a

    cabana.

    Est morto disse Benito. Oh... Sofreu um acidente? No, no... Tive que mat-lo com dois balaos.

    Depois, Pancho me ajudou a met-lo a dentro, pois no

    momento no se podia fazer outra coisa. Ento fui busc-la

    no aeroporto e disse-lhe que era lvaro.

    Mostrou que possui grande astcia sorriu Brigitte, com ironia. Est satisfeito com seu trabalho, Benito?

    Por que no? Sente-se contente por ter assassinado um homem? Diga, antes: um traidor. Que espcie de traio tinha ele cometido? Bem, no sei exatamente, eis a verdade. Mas se o

    chefe disse que lvaro um traidor...

    Era. Era sorriu Benito. Enterre-o bem fundo,

    Pancho gritou. Bem. Brigitte olhava para um e outro, bastante perplexa.

    Tinham morto um homem, iam enterr-lo em qualquer lugar

  • e continuavam falando e agindo com a maior tranqilidade.

    A nica explicao que davam era que lvaro, o enviado de

    Amadeo Torrealba para receb-la no aeroporto, era... tinha

    sido um traidor. Ele trara a quem? E que eram realmente

    Benito e Pancho? Pela frieza com que aceitavam a morte de

    lvaro, pareciam dois espies experimentados. Entretanto,

    alm de ser evidente, eles prprios se declaravam dois

    pobres-diabos metidos a espies... Naturalmente, sentia-se

    interessada, sobretudo considerando que Pancho lhe

    assegurara estarem ambos trabalhando para a ptria... Como

    podiam estar trabalhando para a ptria homens que

    matavam uma pessoa de confiana de Amadeo Torrealba,

    chefe do pas, e que pretendiam ret-la para que no

    pudesse ajudar em nada? Claro que estavam contra Amadeo

    Torrealba. Entretanto, diziam trabalhar para a ptria.

    Ento...

    Vamos cabana, senrita. Olhou curiosamente para Benito. Era simptico e

    amvel, e parecia certo que no pensavam fazer-lhe o

    menor dano. Uma delicadeza da parte do chefe desconhecido, sem dvida.

    Claro que, conforme estavam as coisas, Brigitte podia

    desfazer-se dos dois espies quando bem entendesse. Podia, Inclusive, ensinar-lhes alguns truques que os

    pobrezinhos no tinham aprendido no cinema. Pancho tinha

    desaparecido entre o arvoredo, e Benito e ela estavam ss, a

    caminho da cabana. Benito parecia esperto, mas s isto no

    era o suficiente para que pudesse enfrentar uma espi de

    categoria internacional, que dezenas de vezes arriscara sua

    vida em muitssimo piores circunstncias.

  • Quando entraram na cabana, Benito moveu

    circularmente o revlver.

    Ter que se contentar com isto durante alguns dias, lamento.

    Est bem. Posso arrumar minhas coisas? Benito hesitou visivelmente.

    No... terminou por negar. Desculpe, senrita Montfort, mas sabemos que na bagagem dos espies h

    coisas que no convm a pessoas como Pancho e eu.

    Bombas e coisas assim? sorriu Brigitte. Mais ou menos. Compreendo o incmodo que lhe

    acarretar esta situao, mas peo-lhe que aceite tudo com a

    melhor boa vontade. So contratempos que lhe prejudicam

    menos do que a morte, no acha?

    Isso no sei: nunca estive morta. Benito soltou uma gargalhada. Parecia divertido, no

    ntimo. E olhava com absoluta simpatia para aquela

    preciosa boneca de olhos azuis. Com tanta simpatia, que

    Brigitte compreendeu: a despeito de qualquer advertncia

    que tivesse recebido, Benito no acreditava uma s palavra

    a respeito da periculosidade que ela pudesse apresentar.

    Sabe que uma excelente prisioneira, senrita Montfort? exclamou ele. Com exceo de suas coisas, poder pedir o que quiser. Se no tivermos, tentaremos

    conseguir. Pancho e eu somos pessoas afveis.

    Bem... Na verdade, causaram-me esta impresso, Benito. E tendo em conta a amabilidade, procurarei no ser

    muito severa com vocs.

    Muito severa? espantou-se Benito. Quero dizer que no os matarei, se puder evit-lo. Agora, Benito estava boquiaberto.

  • Matar-nos...? Olhe, senrita Montfort, quem est com o revlver sou eu, de modo que seja sensata o no

    procure fazer como no cinema, porque se sairia mal. Tenha

    pacincia, durma todo o tempo que quiser e, dentro de

    poucos dias, poder voltar para seu pas, s e salva. No

    uma boa idia?

    Muito boa. Mas tenho outra melhor. Qual? Fazer as coisas a meu gosto, no ao seu. Benito abriu a boca disposto a dizer alguma coisa. Sem

    dvida, o que menos esperava era que, depois daquelas

    palavras, a delicada boneca de olhos azuis se atirasse contra

    ele com tal mpeto que ficou entre seus braos. Assim, o

    revlver de Benito apontava agora para a parede,

    simplesmente. E quando quis encolher o brao, uma

    daquelas mos de ncar rosado se aferrara a seu pulso. E de

    imediato, aps uma eletrizante sensao de dor no brao, ele

    foi projetado de cabea contra a parede. Bateu nesta com

    tremenda fora, caiu no cho e, quando quis reagir,

    encontrou-se com a ponta de seu revlver pouco menos que

    metida no nariz.

    Quieto, Benito. No d lugar a que eu revele meu lado desagradvel.

    Minha... minha cabea... Isso no nada... sorriu Brigitte. Um pequeno

    galo sem importncia. Agora, sente-se comodamente, de

    costas para a parede... e pense que quem est com o

    revlver sou eu. Alguma dvida?

    Benito obedeceu. Ficou olhando turvamente para

    Brigitte, aplicando a mo parte dolorida da cabea.

    Que espera para matar-me?

  • Tenho sistemas muito diversos desse informou Brigitte. No vou bancar a boa moa, Benito, mas em geral, antes de apertar o gatilho, procuro possibilidades para

    meus inimigos. Quem o mandou?

    No vou dizer. Foi o prprio Amadeo Torrealba? Os olhos de Benito se arregalaram. Evidentemente, no

    era um espio profissional. E como amador, era dos mais

    deficientes.

    De acordo sorriu Brigitte. No foi Torrealba. Quem foi?

    Benito apertou os lbios. Certamente, tinha visto tal

    expresso num filme, e isso obrigou Brigitte a sorrir outra

    vez.

    No estou brincando... advertiu. E pela ultima vez dou-lhe o conselho de no se fiar em meu sorriso de

    garota inofensiva. Quem o mandou?

    V para o inferno, espi! grunhiu Benito. Baby empunhava o revlver na mo direita. Moveu-a

    como se fosse golpear Benito na cabea e, quando este

    ergueu os braos para proteger-se, recebeu o impacto da

    mo esquerda de Brigitte em plena garganta. Emitiu uma

    espcie de ronco... e foi s. Caiu de lado, perdendo

    instantaneamente os sentidos.

    Baby se incorporou e aproximou-se da porta da cabana, olhando para o exterior. Viu apenas o carro preto,

    ainda com o porta-malas aberto. No cho, a marca deixada

    pelo cadver de lvaro ao ser arrastado para o bosque.

    Tirou os sapatos, deixando-os cuidadosamente a um lado

    da porta. Depois, deslizou com rapidez para fora da cabana,

  • rumo ao arvoredo, paralelamente trilha deixada pelo corpo

    do morto.

    Em poucos segundos encontrou-se no meio das rvores.

    Permaneceu imvel por algum tempo, at orientar-se sem

    possibilidade de erro em direo ao rudo que estava

    escutando, para sua esquerda. Caminhou para l, no mais

    completo silncio e, pouco depois, numa pequena clareira,

    viu Pancho cavando um buraco no cho. Junto de uma

    rvore, o cadver de lvaro.

    Trs minutos mais tarde, Pancho terminava de abrir a

    cova. Sacou um leno enorme, muito sujo, e passou pelo

    rosto suado. Depois, olhou para o cu, respirou com fora e

    deslocou-se para o lugar onde ficara o cadver.

    Estava passando novamente o leno no rosto, quando

    por trs dele soou a voz:

    Agora, Pancho, tire o revlver, jogue-o para a cova e no se preocupe com mais nada.

    Aps uns segundos de imobilidade, Pancho perguntou:

    Que fez com Benito? Matou-o? No. E se voc se portar bem, tampouco morrer. No tenha dvida: me portarei bem. timo. Em primeiro lugar, jogue o revlver na cova. Pancho sacou o grande revlver, hesitou, olhou de

    relance para trs e, finalmente, fez o que lhe mandavam.

    E agora? Agora, diga-me uma s coisa, e tudo ir bem. Por

    minha parte, poderemos continuar sendo amigos...

    Que coisa tenho que dizer? Quem o chefe de vocs? Pancho foi muito menos delicado que Benito. Lanou

    uma cusparada.

  • A tem a resposta! No quer dizer? Nem que me taa em pedaos, peste! Por muito que...

    doe!

    Pancho recebeu o golpe de culatra em plena cabea.

    Caiu de joelhos pesadamente, e ento recebeu outro, que o

    atirou de bruos. Brigitte apareceu por trs dele e olhou-o

    com certa simpatia.

    Uma dupla de idiotas. Se eu quisesse, diriam agora mesmo o que me interessa, mas tenho uma idia que pode

    dar melhores resultados.

    Agarrou Pancho por um p, tal como ele fizera com o

    corpo de lvaro, e arrastou-o para a cabana. Depois o

    amarrou solidamente com uma corda que encontrou no

    carro. Fez isso de tal modo, que ficaram os dois atados com

    a mesma corda. Ou se desatariam ambos, ou nenhum. E

    para desatar-se, teriam trabalho para mais de um dia, com

    sorte, pois Baby recorreu aos seus melhores conhecimentos s obre o assunto, saindo da cabana, ela foi a

    demanda de lvaro e olhou-o por alguns segundos. De fato,

    o melhor que se podia fazer pelo coitado era enterr-lo. Mas

    s vezes o que primeira vista parece bom pode depois se

    revelar muito ruim.

    Pensou mais um pouco. Sim. Decididamente, sua ltima

    idia era a melhor.

  • CAPTULO TERCEIRO Quatro personagens maia-caribenses

    Um cadver ao volante

    Delineia-se um tringulo amoroso

    Algum est jogando sujo

    Quatro pessoas estavam reunidas naquela pequena vila,

    situada nos arredores de Ciudad Caribe, quase beira do

    mar.

    E as quatro revelavam preocupao, cada uma sua

    maneira. Quem estava mais inquieto, sem dvida alguma,

    era Amadeo Torrealba, que no parava de olhar pela janela

    para o caminho que, vindo da cidade, rodeava a vila por trs

    e terminava diante do grande prtico adornado de colunas

    brancas.

    Em inquietao, seguia-lhe a, nica mulher do grupo:

    Mercedes Gutierrez. Vinte e dois anos, grandes olhos

    negros, lbios vermelhos e polpudos, corpo fino e elstico,

    elegante, longos cabelos negros suavemente ondulados.

    Esteban Zorrilla, talvez por sua idade, era o que parecia

    dominar melhor suas reaes. Movia-se lentamente, com

    naturalidade, e nem uma vez sequer olhava pela janela.

    Tinha um sorriso amvel, sereno, e parecia convencido de

    que nada poderia acontecer. Seus cabelos quase

    completamente brancos contrastavam com o tom bronzeado

    da pele. Usava culos aparentemente destinados a proteger-

    lhe a vista contra o sol, j que a cor de suas lentes situava-se

    entre o marrom e o azul, mas de qualquer modo seriam

    lentes de grau, pois do contrrio as teria tirado ao anoitecer.

    Parecia homem inteligente, afvel, tranqilo.

    O mais frio, de rosto duro, seco, impenetrvel, era o

    general Juan de Dis Martinez. O muito jovem general

  • Martinez, que tinha alcanado as quatro estrelas aos trinta

    anos, quer dizer, dois anos atrs. Moreno, de aspecto viril,

    tinha uns olhos escuros de brilho intenso que denunciavam

    o vigor de sua vontade. Maxilar slido, bigode bem

    recortado, mos possantes, era de estatura regular, embora

    parecendo menor devido robustez dos ombros.

    Foi precisamente Juan de Dias Martinez quem, aps

    esgotar o seu copo de rum, Insistiu, ornando para Torrealba:

    No me custa nada ir ao aeroporto indagar, Amadeo Torrealba afastou-se da janela, movendo negativamente a

    cabea.

    No. Ela chegar mais cedo ou mais tarde. Mercedes Gutierrez, com uma fasca de raiva em seus

    bonitos olhos, voltou-se para o jovem general do Exrcito

    de Maia Caribe:

    Sentiria muito se ela no viesse, general? Juan de Dis franziu a testa, entrecerrando os olhos,

    como se incomodado pela fumaa do grosso charuto que

    tinha entre os dentes.

    No quero discutir, seorita Gutierrez. E menos ainda com uma mulher. Desculpe-me.

    O senhor preferiria que essa mulher no chegasse jamais a Maia Caribe? Realmente, a nica pessoa que a

    espera com autntica ansiedade sou eu! No fundo, o que os

    trs desejam que tudo saia mal, que esse tesouro no possa

    ser entregue... e que Carlos no volte nunca mais!

    Esteban Zorrilla limitou-se a olh-lo com tolerncia.

    Juan de Dis Martnez fez um gesto de resignao e

    continuou fumando. Amadeo Torrealba empalideceu e

    colocou-se nervosamente diante da jovem.

    Mercedes... como pode dizer semelhante coisa?

  • Eu seu No discuta com ela, Amadeo aconselhou muito

    sensatamente Juan de Dis. Est nervosa e assustada. bem capaz de acus-lo, e a todos ns, do rapto de seu noivo.

    Pois uma idia que j me ocorreu, general Martinez! quase gritou a bela Mercedes.

    Esto vendo? sorriu Juan de Dis. E diga-me, seorita Gutierrez, que ganharamos ns aqui presentes com

    tudo isso? Se entregarmos o tesouro maia, perderemos uma

    oportunidade nica para promover o progresso de Maia

    Caribe; se no o entregarmos, provavelmente mataro

    Carlos... Quem aqui sai ganhando com qualquer das duas

    coisas? Eu, acaso?

    Mercedes Gutierrez mordeu os lbios, apertou as mos

    quase histericamente e nada encontrou para dizer. Esteban

    Zorrilla aproximou-se dela, passou o brao por seus ombros

    e conduziu-a a um sof. F-la sentar-se, sentou a seu lado e

    acariciou-lhe as mos fidalgas.

    Calma, Mercedes, calma... O general tem razo: todos gostamos de Carlos e todos queremos ajudar Maia

    Caribe. Por isso, a idia de Amadeo foi a melhor: pedir a

    interveno de algum que pudesse agir mais

    objetivamente, com mais iseno do que ns. No

    ganhamos nada discutindo, a no ser aborrecimentos.

    Mas essa mulher no chega! J devia estar aqui h mais de duas horas!

    Bem... Isso verdade. Talvez algum a tenha considerado... perigosa, julgando melhor privar-nos de sua

    colaborao. Se assim , tudo continuar do mesmo modo:

    organizaremos uma expedio para transportar o tesouro ao

  • lugar que nos for indicado. Todos estamos ansiosos pelo

    regresso de Carlos... No verdade, cavalheiros?

    Uma cintilao irnica, fria, passou pelas escuras pupilas

    do jovem general Martinez. Por sua vez, Amadeo Torrealba

    inclinou a cabea um instante, no que pareceu um gesto de

    assentimento.

    Naturalmente disse Martinez. Todos desejamos seu regresso. De um modo especial, lgico, sua noiva. E

    seu irmo, est claro.

    Tudo acabar bem disse Zorrilla moa, tranqilizando-a. No tenha nenhuma dvida a esse respeito.

    Para quem? perguntou incisivamente Martinez. Para todos... No? O senhor quer dizer, sem dvida, que tudo acabar

    bem para ns, que estimamos Carlos Torrealba... e para os

    que ficarem com o tesouro maia. Mas eu pergunto: essa

    uma soluo feliz para Maia Caribe?

    Os trs olharam fixamente para Juan de Dis. Por um

    instante, pareceu que a jovem ia dizer alguma coisa, mas

    optou por calar. Todos sabiam o que estavam sacrificando

    por um s homem... O que estavam dispostos a sacrificar. E

    a sensao de culpa, de remorso ante aquele egosmo

    pessoal, emudeceu os trs.

    Juan de Dis continuou fumando, um duro sorriso

    imobilizado no rosto. Olhou seu copo vazio, depois o

    armrio aberto onde se viam garrafas de licor, e levantou-se.

    Tinha a cintura fina e a tnica lhe cala esplendidamente,

    acentuando a amplitude de seu peito.

    Algum quer mais? ofereceu. Ssst! No fale, Juan de Dis! exclamou Torrealba.

  • Ficaram todos imveis. Torrealba apontava para fora, os

    olhos quase fechados, com a expresso de que era todo

    ouvidos. E, realmente, ouviu-se a chegada de um carro.

    Quando isto foi uma certeza, todos se precipitaram para a

    janela. E viram deter-se um carro preto. No diante da casa,

    mas uns doze metros mais alm, sob um frondoso pltano.

    ela! exclamou Torrealba. Eu vou...! A mo de Juan de Dis pareceu cravar-se no brao do

    Chefe de Estado de Maia Caribe, imobilizando-o.

    Fique aqui, Amadeo. Eu irei ver quem . Mas...! Ele tem razo disse Esteban Zorrilla, sombrio.

    Esse carro devia ter parado diante da casa. lvaro sempre

    faz assim. Pode ser uma cilada, Amadeo.

    Uma cilada? Absurdo... Se temos que entregar o tesouro maia, ningum nos far nenhum mal at...

    Eu irei cortou secamente Juan de Dis. Desabotoou seu coldre militar, deixou o copo e o

    charuto e abriu a porta. Saiu ao prtico e caminhou at a

    extremidade deste. O carro continuava, silencioso agora,

    sob o grande pltano. Testa franzida, Juan de Dis hesitou

    uns segundos antes de decidir-se a avanar mais, o que fez

    j com o revlver na mo.

    A poucos passos, reconheceu lvaro, sentado ao volante

    do carro. Deteve-se de chofre, contraindo as plpebras.

    Apontou o revlver e perguntou:

    lvaro? Este no se moveu. Nem sequer deu resposta. Continuou

    imperturbvel, apoiado ao volante.

  • Ouvia-se o rumor do mar, muito prximo. Juan de Dis

    Martinez aproximou-se mais... e mais... Cautelosamente, a

    arma pronta na mo.

    Por fim, parou junto do carro. Viu que lvaro tinha, os

    olhos fechados, o rosto rgido e lvido. Tocou-o com um

    dedo, passando a mo por cima da porta, cujo vidro estava

    baixado. lvaro deslocou-se para o lado, tombando sobre o

    assento. Martinez olhou-o confuso, intrigado. Tanto, que

    durante alguns segundos manteve-se esttico, incapaz de

    tomar qualquer iniciativa.

    Afastou-se um pouco do veiculo, olhando para todos os

    lados. Naturalmente, no fora lvaro quem o trouxera at

    ali. Mas era evidente que quem o tinha feito no pensava

    deixar-se ver. Sem dvida, naquele momento estava se

    afastando a toda apressa...

    Amadeo! chamou Martnez. Torrealba apareceu no prtico e precipitou-se para o

    carro. Mercedes Gutierrez saiu atrs dele e Zorrilla veio por

    ltimo, com mais calma... Os quatro reuniram-se no mesmo

    lado do carro.

    Que...? Trouxeram o lvaro. Como? Trouxeram...? Mas... Juan de Dis abriu a porta e todos viram lvaro cado de

    lado sobre o assento, o jovem general agarrou as pernas do

    cadver, levantou-as e puxou, fazendo-o deslizar para fora.

    Zorrilla e Torrealba agarraram-no cada um por um brao,

    antes que batesse rudemente com a cabea no cho.

    Mercedes tinha retrocedido uns passos e tinha as mos

    diante da boca, olhando apavorada para aquele corpo.

  • Vamos para casa disse Martinez. E depressa. Ainda no estou certo de que isso no seja uma cilada.

    Mas... que cilada? murmurou Amadeo. No normal enviar cadveres. Fizeram-no com

    algum propsito determinado. Depressa.

    Dirigiram-se apressadamente para a casa, seguidos de

    Mercedes, que parecia no poder desviar os olhos do

    cadver de lvaro, do trgico balanar de sua inerte

    cabea...

    Entraram na casa, ofuscados, atentos ao exterior,

    temendo ainda alguma coisa.

    Feche a porta disse Juan de Dis. Naquele momento Mercedes soltava um grito. Tinha

    deixado de olhar para lvaro e agora seus olhos, mais

    arregalados ainda, estavam fixos em algo ou algum que

    estava atrs dos trs homens, que se voltaram

    sobressaltados.

    Juan de Dis Martinez largou os ps de lvaro e sacou

    rapidamente o revlver, o qual ficou apontado para a

    formosa jovem que, sentada numa poltrona, as magnficas

    pernas cruzadas, tinha na mo uma taa de champanha e nos

    lbios maravilhosos um amvel sorriso. Ao ver-se olhada

    por todos, ergueu um pouco a taa e disse:

    Agradeo-lhe a delicada ateno, seor Torrealba. Suponho que o balde de gelo com a garrafa de Perignon 55 estavam minha espera.

    Amadeo Torrealba passou a mo pela testa suada.

    Miss Montfort... Que... que...? Brigitte tomou um gole de champanha, inclinou

    levemente a cabea para um lado e comentou:

  • Exatamente como eu gosto: geladssima. No vai guardar o revlver, general Martnez?

    Juan de Dis olhou para Torrealba. ela? perguntou. ... ela, sim... Mas no compreendo... No se assombre com o espetacular de minha

    chegada, seor Torrealba. que estou um pouquinho

    desconfiada.

    Desconfiada de qu? perguntou abruptamente Juan de Dis.

    De tudo, general. E de todos. Oh... Juan de Dis sorriu secamente. Esta

    formidvel! Suponho que me inclui nesse todos. Brigitte sorriu, desviando o olhar para Esteban Zorrilla,

    que se adiantara alguns passas.

    As explicaes disse ele amavelmente deveriam comear pelas apresentaes. Sou...

    Esteban Zorrilla, conselheiro poltico de Amadeo Torrealba. Sei de tudo, seor Zorrilla. Ela Mercedes

    Gutierrez Incln, noiva de Carlos Torrealba. O general

    chama-se Juan de Dis Martinez e um brilhante militar...

    dentro das possibilidades que oferece, neste campo, um

    pequeno pas como Maia Caribe. O senhor Torrealba teve a

    gentileza de informar-me sobre todos quando me visitou, j

    que minha primeira entrevista ao chegar a Ciudad Caribe

    seria com os quatro.

    Juan de Dis olhou quase ironicamente para Torrealba.

    No sei se ela conseguir o que voc espera. Amadeu... Mas, pelo menos, tenho que admitir que

    simptica e inteligente.

    Muito obrigada, general.

  • No h de qu Inclinou-se elegantemente Juan de Dis, sem contudo abandonar sua atitude irnica. Mas creio que os aqui presentes merecem uma pequena

    explicao...

    Sobre meu atraso? Ou sobre a morte de lvaro? Sobre ambas as coisas... que suponho sejam

    relacionadas.

    A seorita matou lvaro? perguntou Zorrilla. No. Que pena, seorita Montfort! exclamou Juan de

    Dis. Isso lhe rouba um pouco de minha admirao. Juan de Dis estranhou Torrealba que est

    dizendo?

    No vai querer que eu lamente a morte de lvaro, hem, Amadeo? Faz tempo que no confiava nele.

    Que no confiava em lvaro? Em absoluto. E espero que miss Montfort, com suas

    explicaes, me d razo.

    Pois temo que esteja enganado, general disse Brigitte, aps tomar mais um gole de champanha. Realmente, no poderia acusar ningum, de nada. Receio

    que minha explicao possa parecer-lhes surpreendente,

    ambgua... diria mesmo que quase incrvel. Pelo menos,

    julgo-a assim.

    Torrealba tinha aproximado outra poltrona e sentou-se

    perto de Brigitte, olhando-a bastante excitado.

    Bem... Que aconteceu? Cheguei ao aeroporto e, aps passar pela Alfndega,

    dirigi-me para a sada, onde, de acordo com o combinado,

    deveria estar minha espera um carro cujo motorista seria

  • um homem chamado lvaro... No era isso, seor

    Torrealba?

    Sim, sim... Continue, por favor. Bem... Com efeito, l estava o carro com o homem.

    Disse que se chamava lvaro, recolheu minha bagagem e

    partimos. Em pouco tempo, percebi que no estvamos

    vindo para a cidade, mas que seguamos para o interior.

    Suspeitei de alguma coisa, apontei-lhe minha pistola e

    disse-lhe que parasse o carro e saltasse. Concordou e parou

    o carro pouco depois. Ento apareceu outro homem, que me

    apontou um enorme revlver, de modo que me pareceu

    melhor no lutar, quanto mais que, ao mesmo tempo,

    compreendia que no pretendiam prejudicar-me seriamente.

    Quem eram esses homens? perguntou Juan de Dis.

    Chamavam-se Benito e Pancho... Conhecidos? Olhou-os um por um, rapidamente, ao fazer a pergunta,

    mas a negativa foi unnime.

    Que queriam? Indagou Torrealba. No sei exatamente... Entendi que deviam levar-me

    para algum lugar e reter-me l por alguns dias. Vendaram-

    me os olhos e o carro prosseguiu. Depois, deteve-se, talvez

    meia hora mais tarde... Disseram-me que saltasse e levaram-

    me para uma cabana...

    No disse que lhe vendaram os olhos? interrompeu Juan de Dis.

    Brigitte olhou-o amavelmente e continuou como se no

    tivesse sido interrompida:

    ... para uma cabana onde, segundo me disseram, teria que passar uns quantos dias. Deixaram-me l e saram.

    Ento, tirei a venda dos olhos. Esperei um pouco e, como

  • no ouvia nem via nada, resolvi sair da cabana. E como j

    no tinha mais os olhos vendados olhou sorridente para Juan de Dis Martinez pude v-la perfeitamente. O carro estava ali perto. Entrei nele, regressei ao aeroporto e, ento,

    recordando as indicaes do seor Torrealba, vim at esta

    vila onde me esperavam os quatro. Detive o carro no

    caminho, pois queria ver se minha bagagem no tinha sido

    roubada e estava no porta-malas. Estava. Bem como o

    cadver de um homem que imaginei fosse lvaro. Isso me

    deixou perplexa... e positivamente no me agradou. De

    modo que pouco antes de chegar aqui, temendo alguma

    cilada, sentei lvaro ao volante. Ao chegar, sai do carro e,

    enquanto todos se dirigiam para l, entrei na, casa. J lhes

    disse que sou um pouquinho desconfiada. E isso tudo,

    senhores.

    Os quatro personagens ficaram olhando-a

    incredulamente.

    tudo? murmurou Torrealba. Sim. Mas... Mas absurdo! Primeiro matam o lvaro e

    levam-na a uma cabana, depois deixam-na escapar

    tranqilamente...

    Bem lhe disse que minha explicao podia parecer incrvel.

    No tem a menor lgica acentuou Juan de Dis. Estive pensando... Talvez Benito e Pancho tenham

    sofrido um contratempo e por isso no estivessem l quando

    resolvi sair da cabana...

    No os tornou a ver?

  • No. Nem me dei ao trabalho de procur-los, naturalmente. Vi o carro, entrei e dei a partida... Nem eu

    mesma acreditava no que estava acontecendo.

    Saberia voltar tal cabana? perguntou Torrealba. Mmm... Creio que no. Fui-me orientando primeiro

    por uma pequena bssola de meu equipamento, depois pelas

    luzes da cidade para chegar at a costa, mas parece-me que

    me desorientei algumas vezes, errei caminhos... Gostaria de

    voltar l para investigar bem, mas no o saberia fazer. Sinto

    muito.

    estranho tudo isto... murmurou Zorrilla. Esses dois homens no lhe disseram exatamente o que

    pretendiam?

    Reter-me por alguns dias. tudo o que sei. O que no me agradou, senhores, foi que soubessem meu nome, a hora

    de minha chegada, os propsitos de minha viagem a Maia

    Caribe... Sabiam tambm que um homem chamado lvaro

    estaria esperando-me com um carro, j que um deles, o

    chamado Benito, fez-se passar por lvaro... Talvez devesse

    descrever-me o lvaro em nossa entrevista nos Estados

    Unidos, seor Torrealba. Foi um erro no o fazer.

    Tem razo... Mas no me ocorreu que pudesse acontecer nada de semelhante...

    J no importa, realmente. O que importa que algum sabe de minha chegada a Maia Caribe e, se estou

    certa, no querem de modo algum que eu intervenha. Mas

    suponho que ser fcil encontrar essa pessoa.

    Fcil? estranhou Torrealba. Sem dvida. Diga-me os nomes daqueles com quem

    comentou minha chegada e... Que se passa, senhores?

  • Olhou-os um por um. Todos eles, por sua vez, olhavam-

    na fixamente, embaraados. Mercedes Gutierrez

    pestanejava, atnita. Brigitte optou por terminar sua taa de

    champanha, esperando que reagissem de um modo ou de

    outro, mas tal no aconteceu.

    Disse algo disparatado... ou ofensivo? que... Torrealba passou a lngua pelos lbios.

    que ningum mais que ns quatro sabia de sua chegada,

    esta tarde, a Ciudad Caribe. Nem sequer lvaro, que o

    soube apenas no momento de ir ao aeroporto com ordem de

    traz-la a esta vila.

    Brigitte abriu um pouquinho mais os esplndidos olhos

    azuis, revelando uma lgica perplexidade. Por fim, sorriu

    docemente.

    Bem... Nesse caso, teremos que procurar por outro lado, no lhes parece? Suponho seja esta a vila na qual vou

    ficar alojada, seor Torrealba.

    Oh, sim. Est sua disposio. Amanh lhe enviarei alguns empregados, para que seja atendida devidamente.

    Tambm pode dispor do carro. Quanto a esta noite, seria um

    prazer que aceitasse jantar comigo...

    Estou to cansada que tudo quanto me interessa dormir doze horas seguidas. De qualquer modo, agradeo. E

    agora, se me permitem...

    Os homens levantaram-se. Juan de Dis olhou-a

    atentamente.

    No pensa fazer nada esta noite? Penso dormir. Em minha opinio, no poderemos

    fazer grande coisa at que indiquem ao seor Torrealba

    onde e quando devemos levar o tesouro maia. Boa noite a

    todos.

  • A primeira a dirigir-se para a porta foi Mercedes

    Gutierrez. Amadeo Torrealba apressou-se a se despedir de

    Baby, saindo a toda a pressa atrs da jovem beldade. Esteban Zorrilla tomou delicadamente a mo de Brigitte,

    sorrindo como se estivesse muito fatigado. Juan de Dis

    Martinez, limitando-se a bater com os calcanhares, saiu por

    ltimo, cenho carregado, aparentemente no muito de

    acordo com os mtodos da famosa espi amiga de Nataniel.

    Apenas chegou ao seu carro, ele levou a mo cabea,

    emitiu um resmungo e olhou para a casa. Hesitou um

    instante, mas caminhou para l, esforando-se por no olhar

    para o carro de Torrealba, junto ao qual Mercedes e

    Amadeo conversavam quase excitadamente.

    Subiu ao prtico, empurrou a porta e entrou. Brigitte, de

    p janela, voltou-se para ele, sorridente.

    Esqueceu alguma coisa, general? Meu quepe. Est... espiando algo de interessante, pela

    janela?

    Tudo interessante. Vendo o seor Torrealba e a seorita Gutierrez, dir-se-ia que no se do muito bem,

    embora devam tornar-se cunhados.

    Talvez no agrade a Amadeo t-la como cunhada. Sem

    dvida, ele a merece mais que Carlos.

    Mmm... No sei se o entendo, general. Garanto que sim. So coisas que acontecem com

    freqncia. De qualquer modo, Amadeo um cavalheiro, e

    um homem como melhor no poderamos encontrar para

    governar Maia Caribe. Mercedes Gutierrez ... de

    mentalidade mais acanhada.

  • Esto muito excitados... Ela parece recrimin-lo por alguma coisa. Espero que no lhe tenha ocorrido a idia de

    que Amadeo quisesse descartar-se de Carlos para ficar com

    ela.

    Muito perspicaz sua observao, miss Montfort.

    E acertada? perguntou Brigitte. Juan de Dis foi mesinha onde estava seu quepe,

    apanhou-o e olhou para a maleta vermelho com pequenas

    flores azuis, parecendo intrigado. Depois olhou para

    Baby, que sorriu cndidamente. Nunca me separo dela: contm esses pequenos

    segredos que... toda mulher necessita.

    Oh... Entretanto, no me parece das que recorrem com excesso maquilagem e coisas assim. E devo admitir

    que isso no lhe faz falta alguma.

    Inesperada amabilidade a sua, general sorriu Baby. No estar procurando um modo de... ficar mais um pouco?

    Claro que no grunhiu Martinez, colocando o quepe quase raivosamente. Tambm para mim o dia foi pesado, de modo que desejo o descanso mais que nenhuma

    outra coisa.

    O senhor quase me humilha, general... Boa noite. E oxal seu descanso seja perfeito.

    Juan de Dis olhou-a, j da porta.

    Sempre . Boa noite. Tornou a sair. Brigitte viu-o afastar-se quando

    novamente olhou pela janela. Mas prestou mais ateno a

    Amadeo Torrealba e Mercedes Gutierrez... Esteban Zorrilla

    j havia partido.

  • Quando Juan de Dis Martinez passou em demanda de

    seu carro, Mercedes afastou-se abruptamente de Torrealba e

    correu para o militar. Falaram uns segundos, Martinez

    parecendo hesitar... Torrealba meteu-se em seu carro e

    ento o general prosseguiu para o dele, com a bela

    Mercedes. Estava claro que esta, de to aborrecida com

    Torrealba, preferia regressar com Martinez cidade

    prxima.

    Partiram os dois carros e Brigitte permaneceu ainda

    alguns instantes janela, pensativa.

    Por fim, foi sua maleta, abriu-a e sacou o detector de

    sinais dos diminutos emissores montados em cabeas de

    alfinete no maiores que meio gro de arroz. Pos em

    funcionamento o detector e, ato continuo, ouviu o sinal: bip-

    bip-bip-bip-bip...

    Esteve ouvindo-o ainda por mais de um minuto, com

    toda a clareza. Depois, o sinal foi baixando de tom, at que,

    segundos mais tarde, emudeceu completamente.

    Bem... Teria sido um prazer dedicar-se realmente ao

    repouso, mas no se podia permitir esse luxo quando tinha a

    possibilidade de Investigar, pelo menos, um dos

    personagens que intervinham no assunto do tesouro maia.

    Um dos quatro estava fazendo jogo sujo.

  • CAPTULO QUARTO Funo macabra de um jovem general

    Tempestade no trpico

    Problemas maia-caribenses

    O antiptico inimigo

    O carro com placa militar deteve-se junto da cabana,

    fora do caminho, ficando quase oculto, sob as rvores.

    Juan de Dis Martinez sacou do revlver e, sem sair do

    carro, chamou:

    Benito! Pancho! Ouvia-se o estridular dos insetos noturnos. Ao longe,

    roncavam alguns troves, precursores da tormenta tropical

    suspensa h vrias horas sobre Maia Caribe. E eram os

    nicos sons.

    O jovem general saiu por fim do carro, aps esperar

    quase meio minuto, aproximando-se lenta e cuidadosamente

    da cabana de taipa. Parou diante da porta e, ento, olhou

    para todos os lados, como se tivesse a esperana de

    enxergar na escurido. Empurrou a porta, devagar, com a

    ponta do revlver, enquanto acendia a lanterna. Acabou de

    abrir bruscamente e o jato de luz penetrou sbito na cabana,

    projetando um circulo amarelento na parede fronteira.

    Depois, o circulo deslocou-se para a direita e para baixo,

    procurando... Depois, para a esquerda...

    A luz passou banhando os perfis de Benito e Pancho

    que, segundo parecia, estavam sentados no cho, costas

    contra costas. Fixou-se no perfil de Pancho; depois, no de

    Benito. O general Martinez aproximou-se deles, j sem

    afastar a luz do rosto de Benito. Tinha os olhos abertos e

    trs grandes manchas de sangue no peito. Pancho tinha os

    olhos fechados, a cabea um pouco inclinada para um lado e

  • um fio de sangue escorria de sua boca para o queixo e o

    peito; tambm em seu peito viam-se manchas de sangue.

    Juan de Dis Martinez tinha guardado o revlver e sua

    mo, algo trmula, deslizou pela cabea do simptico e

    sorridente personagem.

    Pancho, pobre rapaz... Que fizeram, que fizeram com vocs...

    Estavam amarrados de costas um para outro. Amarrados

    com uma solidez e um conhecimento da arte de dar ns que,

    mesmo contando com a relativa vantagem de poderem usar

    as quatro mos com certa liberdade, teriam precisado de

    dois dias para desatar-se. E depois de amarrados, tinham-

    lhes enchido o peito de balas...

    O general deixou-se cair sentado no cho e apagou a

    lanterna.

    Foi ela... murmurou. Deve ter sido ela. A histria absurda que contou... Foi essa Brigitte Montfort

    quem os matou. E mentiu porque espera que algum venha

    v-los, para em seguida lhe pedir contas. Ento, saber por

    quem foram mandados, pois estou certo de que vocs no

    lhe disseram. uma armadilha contra mim. Se eu lhe pedir

    explicaes, cairei nela, saber que fui eu... isso

    exatamente o que ela est esperando.

    Tornou a acender a lanterna, fazendo deslizar a luz por

    toda a cabana. No havia ali nada que lhe interessasse. Saiu

    e esteve examinando o solo em frente cabana. Viu a marca

    deixada por um corpo ao ser arrastado e, pouco depois,

    descobria a picareta e a p. que Pancho tinha utilizado para

    abrir a cova destinada a lvaro.

    Durante vinte minutos, dedicou-se a cavar unia fossa

    bem funda na terra esponjosa, enquanto as nuvens iam-se

  • amontoando cada vez mais. Brilharam alguns relmpagos, a

    cuja luz podia ver-se o rosto tenso do jovem general,

    cavando com energia.

    Quando os cadveres de Benito e Pancho desatados, j

    estavam dentro da fossa, lado a lado, comearam a cair as

    primeiras gotas, lentamente. Umas gotas enormes, mornas,

    que se foram espessando rapidamente, at, transformar-se

    em chuva torrencial. Em meio quele verdadeiro dilvio,

    Juan de Dis Martinez continuou imperturbvel seu

    trabalho, lanando terra, j quase lama, em cima dos dois

    cadveres.

    Dez minutos depois, completamente encharcado, entrava

    em seu carro, apanhava a tnica que havia deixado sobre o

    quepe, e enxugava as mos e a cabea.

    Depois, ligou o motor, o rosto viril fortemente crispado.

    No! murmurou. No me espere, Brigitte Montfort. Terei toda a, pacincia do mundo, no cairei em

    sua armadilha... Ser voc quem cair na minha, juro!

    Era quase uma hora da madrugada quando deteve o

    carro porta de sua pequena vila. A chuva caa intensssima

    e o cu, cheio de relmpagos, parecia ir partir-se em

    pedaos de um momento a outro devido ao retumbar

    incessante dos troves.

    Juan de Dis saltou do carro, correu para o prtico e

    parou um momento, procurando a chave no bolso. Abriu a

    porta, entrou, fechou e dirigiu-se diretamente a seu quarto.

    Atirou a tnica e o quepe sobre uma poltrona, ainda sem

    acender a luz. Depois, aproximou-se da janela atravs de

    cuja vidraa via-se a furiosa tormenta. Suas botas molhadas

    rangiam sonoramente. Tirou-as, tirou o cinturo com o

    coldre do revlver, e ficou pensativo..

  • Alguma coisa no vai bem, general? Juan de Dis Martinez estremeceu violentamente e

    voltou-se em direo ao seu prprio jeito. Por um instante,

    pareceu incapaz de raciocinar, mas em seguida ergueu o

    cinturo, desabotoou o coldre e sacou rapidamente o

    revlver, apontando-o para a cama.

    No se mova! ordenou. Estou-lhe apontando meu revlver.

    Foi ao interruptor e acendeu a luz. Efetivamente, era

    Brigitte Montfort. Trajava calas pretas, coladas na perna, e

    um jrsei tambm preto, muito fino que modelava

    primorosamente seu admirvel busto. Estava sentada na

    cama, pernas cruzadas, costas apoiadas na cabeceira. Em

    sua mo brilhava a diminuta pistola com coronha de

    madreprola.

    Como v disse sorrindo tambm eu estou-lhe apontando uma arma, general Martinez.

    Que faz aqui? perguntou ele, apertando ameaadoramente as plpebras. Como conseguiu entrar?

    Oh, por favor, essa uma pergunta que no se faz a nenhum espio, general. Claro que entrei utilizando uma de

    minhas gazuas. Que fao aqui? Tambm evidente:

    esperava-o. Creio que nos est reservada uma interessante

    conversa... Viu seus amigos?

    Os olhos de Martinez pareceram despedir um autntico

    relmpago.

    Vi admitiu surdamente. Bem... Devem ter ficado muito satisfeitos por se

    verem desamarrados. Com semelhante tormenta, e numa

    cabana com o teto cheio de buracos, no lhes teria sido

    agradvel passar a noite l.

  • Acha necessria essa ironia? Baby arqueou as sobrancelhas, surpresa. Estou falando srio... afirmou. Sobre que

    poderia ironizar?

    Sabe muito bem a que me refiro. No creio que Benito e Pancho se preocupassem muito com o tempo.

    Depende de estarem habituados a... sbito, Brigitte parou de falar e olhou fixamente para Martinez. Encontrou-os mortos?

    No me diga que isso a surpreende. No... ela mordeu os lbios. No me

    surpreende. Talvez eu devesse ter imaginado...

    De que est falando? Imaginado o qu? Que poderiam mat-los. Um esgar, que queria parecer um sorriso, crispou os

    lbios de Juan de Dis Martinez.

    Vai dizer-me que no os matou? Claro que no os matei. Por quem me toma, general?

    Eram dois pobres-diabos... que terminei por achar

    simpticos. Deixei-os bem amarrados e planejei toda a

    mentira que contei aos senhores. Queria saber para quem

    trabalhavam... e logo o soube.

    Quando? Como foi que soube? Pouco depois de conhec-lo, general. Quando no

    hesitou em demonstrar seu desagrado para com lvaro, e

    inclusive comentou que h tempo desconfiava dele. Ouvi

    isto, e sabendo que Benito e Pancho consideravam lvaro

    um traidor, porque seu chefe o tinha dito, compreendi que esse chefe era o senhor.

    Muito simples, no lhe parece?

  • Todos em Maia Caribe so simples assim. Mas, alm disso, quis certificar-me. Vou-lhe dizer como: cravei um

    pequeno alfinete dentro de seu quepe. A cabea desse

    alfinete um diminuto emissor, cujo sinal captado por

    este detector.

    Brigitte mostrou-o, fazendo-o funcionar, e de imediato ouviu-se um dbil bip-bip-bip... Pouco depois que o senhor saiu de minha vila, vim para c, j que

    conheo seu domicilio, bem como os de Esteban Zorrilla e

    Mercedes Gutierrez...

    Por informao de Amadeo. Evidentemente. Antes de vir a Maia Caribe, fiz-lhe

    multas perguntas. No vai imaginar que uma espi viaje a

    um pas desconhecido completamente no escuro. E quando

    lhe so mencionados alguns personagens interessantes,

    lgico que trate de saber o mais possvel a seu respeito. Sei

    tudo sobre sua pessoa.

    Amadeo fala demais. S quando as perguntas so hbeis sorriu Brigitte.

    Alm disso, se no me quisesse assessorar convenientemente, eu no teria aceitado vir a Maia Caribe.

    Mmm... Como estava dizendo, pouco depois que o senhor

    saiu de minha casa, vim sua. Dissera que desejava

    recolher-se para descansar, mas meu receptor de sinais

    indicava que no estava aqui, nem a menos de uma milha de

    distncia. Foi o ltimo detalhe que me fez compreender

    quem era o chefe de Benito e Pancho. De modo que resolvi esper-lo.

    Sabendo que eu ia libert-los? No o quis impedir? Para qu? Achei-os simpticos e, sem inteno de

    ofend-los, direi que no eram inimigos para mim. Pareceu-

  • me melhor que o senhor os libertasse... e aguardar sua

    prxima jogada. Mas agora estou... um tanto confusa, j,

    que segundo parece algum mais intervm no caso... Como

    foi que os mataram?

    Com trs balaos no peito. Sem desat-los, sem lhes dar a menor oportunidade.

    Lamentvel... murmurou Brigitte. Mas isso algo que no deve surpreender a nenhum espio, general

    Martinez. Procuraremos os responsveis.

    Est mentindo... Quem os matou foi voc. No diga tolices, Juan de Dis. E guarde esse

    revlver... No compreende que se tivesse querido mat-lo

    voc j seria cadver? E tire essas roupas. Vista algo seco.

    Juan de Dis Martinez ficou no pouco espantado, mas

    seus olhos ainda revelavam desconfiana. Brigitte suspirou

    resignada. Saiu da cama, inclinou-se e tirou de sob a mesma

    sua maleta. Nela guardou o receptor de sinais e a pistola.

    Olhou para o general.

    Por favor, seu quepe? Quero de volta o meu alfinete. Martinez no se moveu e Baby, com outro suspiro de

    cmica resignao, foi at onde estava o quepe, tirou o

    alfinete de seu forro, mostrou-o a Juan de Dis e depois o

    guardou na maleta. Por fim, olhou amavelmente para o

    militar, um sorriso quase lhe aflorando os lbios.

    Estou em suas mos... disse. Por obsquio, procure no me salpicar demasiado de sangue. de mau-

    gosto.

    Juan de Dis resmungou, guardou o revlver, atirou o

    cinturo a um canto e foi ao armrio. Apanhou um pijama e

    meteu-se no banheiro, de onde saiu um minuto depois, com

    ele vestido. Brigitte estava sentada na beira da cama,

  • fumando pensativamente. Ergueu a cabea, sorriu e indicou

    o lugar a seu lado. Juan de Dis sentou-se e aceitou o

    cigarro que ela lhe oferecia.

    Est bem... murmurou. Voc no os matou. Quem foi, ento?

    Logo saberemos. Agora, querido general, diga por que no queria que eu interviesse.

    No quero que esse tesouro maia seja entregue. Nem em troca da vida de Carlos Torrealba? uma vida que no vale nada. Carlos Torrealba

    estar mais bem morto do que vivo. Se o matarem, todos

    sairemos ganhando. Inclusive Amadeo.

    Por qu? Porque mais tarde ou mais cedo casaria com

    Mercedes. Mas no s isso. Acontece que Carlos

    Torrealba um sujeitinho sem escrpulos, cnico, vivedor...

    O mais perfeito tipo de intil, do irresponsvel, do

    chantagista nato...

    No est sendo severo demais com ele? o menos que posso dizer desse patife. No serve

    para nada, a no ser para dar desgostos a Amadeo. Perde

    dinheiro no jogo, persegue as mulheres casadas, embriaga-

    se, comporta-se escandalosamente, ri dos que levam a vida

    a srio e querem fazer alguma coisa em beneficio do pas.

    um fardo para todos ns... Naturalmente, sabe que o

    suportamos por causa de Amadeo, mas isso parece torn-lo

    ainda mais insolente. No vale nada, nada.

    Bem. Nesse caso, talvez seja melhor deixar que o matem, e no entregar o tesouro maia.

    o que eu penso. Mas se disser isso a Amadeo, ele capaz de expulsar-me do Exrcito, apesar de sermos amigos

  • desde que nascemos. Eu poderia levantar o Exrcito em

    armas, porm no quero isso. Quero que tudo continue em

    paz e, sobretudo, quero que Amadeu continue governando

    Maia Caribe. o melhor homem que j apareceu neste pas.

    Sob sua direo, sei que minha ptria progredir

    rapidamente.

    Sobretudo, com o tesouro maia. Claro, seria um magnfico auxilio. E, portanto, voc no quer que seja entregue como

    resgate de Carlos Torrealba.

    Exato. Por isso, mandei Benito e Pancho intercept-la. Queria ret-la naquela cabana at que tudo estivesse

    terminado.

    No compreende que Amadeo entregaria esse tesouro mesmo que eu no tivesse chegado?

    Talvez no. Eu o estava... convencendo. Mas com voc aqui, ele pensar que o pode entregar com

    tranqilidade, j que voc capaz de recuper-lo. Mas se

    voc no tivesse chegado, ele temeria que se entregasse o

    tesouro nunca mais nele pusesse os olhos, e talvez

    resolvesse no o fazer. Embora eu duvide... O coitado adora

    o irmo. Seria capaz de qualquer coisa por ele.

    Assim sendo, no provvel que o possamos convencer a no entregar o tesouro. Bem... Voc acha que a

    morte de Carlos estaria... justificada?

    Estou certo de que um traidor. Como outros de que tenho conhecimento... que s esperam o pretexto para armar

    sua revoluo.

    E esse pretexto poderia ser a entrega do tesouro mala, que se supe deva fazer parte do patrimnio nacional... No

    assim?

  • . Quando Amadeo entregar esse tesouro, temo que haja uma revoluo em Maia Caribe. lvaro estava do lado

    deles... Conheo-os quase todos: Luis Estrada, Ministro da

    Fazenda; Juan Lpez, Ministro do Exterior; Marcos Ruiz,

    Ministro do Exrcito... E tenho minhas suspeitas sobre

    Esteban Zorrilla.

    Ora, vamos, Juan de Dis! Faz tempo que Benito e Pancho trabalhavam para

    mim como... informantes. E tambm outras pessoas me

    informam de tudo o que voem e ouvem...

    Deveria mand-las a uma escola de espionagem sorriu Brigitte, divertida. Ou encomendar para elas uns cursos por correspondncia. Em meu pas, h meninos que

    so melhores espies que Benito e Pancho.

    Este no o seu pas resmungou Juan de Dis. Mas apesar disso no quero revolues, nem mortes

    disse tranqilamente Baby. Nem neste pas, nem em nenhum outro. E tal no acontecer enquanto eu estiver

    em Maia Caribe.

    Juan de Dis Martinez olhou-a francamente assombrado.

    Se decidirem fazer uma revoluo, gostaria de saber como voc poderia evit-la.

    Estudaremos isso mais adiante. Por ora, terminemos de esclarecer o assunto Benito-Pancho. Segundo parece,

    foram assassinados por algum que est a favor da

    revoluo. Creio que se eu no me tivesse livrado dos dois

    por meus prprios meios, me teriam ajudado a escapar, j

    que lhes interessa que eu proporcione a Amadeo a suficiente

    confiana para entregar o tesouro maia. Certamente, no

    puderam impedir que Benito e Pancho matassem lvaro,

    mas vigiavam-nos de perto, dispostos a vingar lvaro e

  • deixar-me livre. Eu me libertei sozinha... E quando parti, os

    que querem a revoluo mataram Bonito e Pancho. De

    acordo?

    De acordo. timo. Agora, o que faremos ser dedicar-nos a

    vigiar esses... revolucionrios, enquanto esperamos

    instrues sobre o modo de entregar o tesouro maia... H

    uma coisa que no compreendo, Juan de Dis: se todos

    gostam de Amadeo Torrealba em Maia Caribe, por que essa

    revoluo? Entendo que o homem mais capacitado para

    promover o progresso do pas, com ou sem tesouro maia,

    Amadeo Torrealba. Por que derrub-lo, ento?

    Porque pensa reivindicar para os maias certas zonas do pas que at agora tm sido exploradas por uns quantos...

    privilegiados.

    Ah! Bem, bem... Tudo isto mais complicado do que Torrealba me deu a entender.

    Amadeo no sabe nada. E por que no lhe diz voc? Direi quando estiver resolvido o caso de seu irmo.

    At l, no estar em condies de ouvir-me com a. lucidez

    habitual.

    Compreendo. E agora, esclareamos um ponto: voc est contra mim ou a meu favor?

    Voc no entendeu... Entendi tudo muito bem. Carlos Torrealba uma

    coisa-ruim que estaria melhor morto. Certo. No vou

    discutir isso. Mas um amigo pediu-me um favor, e vou

    atend-lo, ajudando Amadeo a entregar esse tesouro como

    resgate de seu irmo. Feito isto, garanto-lhe que recuperarei

    o tesouro maia pouco depois.

  • Vejo que tem muita confiana em si mesma. No conte comigo.

    Inimigos, ento? sorriu Brigitte. J que voc quer assim. De acordo suspirou Brigitte. Eu quero entregar

    o tesouro e voc quer impedir que o entregue. Veremos

    quem vence, meu amigo. Mas atrevo-me a fazer-lhe uma

    ltima sugesto: por que no deixa em minhas mos o

    assunto do tesouro maia e passa a ocupar-se exclusivamente

    em vigiar essa revoluo?

    Juan de Dis Martinez franziu a testa, primeiro. Depois

    pareceu bastante perplexo, quase sobressaltado. Esteve uns

    segundos olhando para Brigitte, enquanto pestanejava.

    No conseguir convencer-me resmungou. Sinto por voc, querido sorriu Baby. Bom

    repouso.

    J vai? Est chovendo muito e... Tenho o carro aqui perto e no me assusta molhar-

    me. Estava imaginando que eu queria passar a noite com

    voc, Juan de Dis?

    Tenho coisas mais importantes em que pensar grunhiu ele.

    Pois fique pensando riu Brigitte. At ...... antiptico inimigo.

  • CAPTULO QUINTO Pausa para o caf

    O tesouro dos ndios

    Rdio de bolso

    Boa sorte, maias

    Haviam-lhe dito que no dia seguinte viriam empregados

    domstico da vila, mas o certo foi que nem sequer teve

    tempo de conhecer tais personagens: logo s oito horas,

    insistentes batidas na porta tiraram-na da cama. Vestiu um

    leve peignoir, a toda a pressa, e saiu do quarto. Atravessou

    o simptico living onde tivera lugar a entrevista na noite

    anterior e, aps esconder na palma da mo esquerda a.

    pistolinha de coronha de madreprola, abriu a porta,

    colocando-se imediatamente a um lado.

    O primeiro a entrar foi Amadeo Torrealba, j abrindo a

    boca para dizer alguma coisa. Mas, no vendo ningum

    sua frente, conservou-se mudo. E quando voltou a cabea

    para onde estava Brigitte, j tinham entrado tambm

    Esteban Zorrilla, Mercedes Gutierrez e Juan de Dis

    Martinez; os primeiros com expresso ansiosa, o ltimo

    com sua habitual frieza.

    Mmm... Miss Montfort: temos as condies! H caf na cozinha? perguntou Brigitte. Hem? Sim, h um armrio com tudo o que... Oh, por

    favor, estou dizendo que...

    Entendi muito bem, seor Torrealba... Quer fechar a porta, general?

    Martinez fechou a porta e ficou olhando torvamente para

    aquela com quem, horas antes, tinha firmado um pacto de

    inimizade.

  • Miss Montfort retomou Torrealba: esta manh, encontramos um envelope na caixa de correspondncia da

    Casa Presidencial...

    Isso significa que os raptores de seu irmo madrugam muito... ou tresnoitam muito. Como lhes ocorreu abrir to

    cedo a caixa de correspondncia?

    Foi aberta hora normal. A carta chegou pelo Correio Nacional de Maia

    Caribe?

    No, no... Quer dizer que foi colocada na caixa por algum

    diretamente interessado no assunto. Imagino, seor

    Torrealba, que essa caixa estaria devidamente vigiada.

    Oh, no. No... Um erro tremendo... e infantil. Mmm... verdade... Eu no... Posso ver a carta? O entusiasmo de todos parecia ter recebido um duro

    golpe. A excitao desapareceu ou, melhor, foi congelada

    pela frialdade da espi profissional, que apanhou o envelope

    da mo de Torrealba, olhou-o por todos os lados e, por fim,

    introduziu os dedos pela abertura superior, j praticada pelo

    destinatrio, sem dvida. Sacou a folha de papel,

    desdobrou-a e ergueu as sobrancelhas, numa expresso algo

    impertinente de estranheza.

    Isto um mapa... Oh, vejo agora a explicao... Mmm... Posso ler em voz alta, seor Torrealba?

    Pode... Claro! Bem... Seor Torrealba: Observe este mapa da parte

    norte do litoral do pas. A linha pontilhada indica o

    itinerrio que dever seguir o portador do tesouro maia.

  • Presumindo o peso do mesmo, autoriza-se a presena

    mxima de trs ou quatro pessoas, que o transportaro at o

    lugar marcado com um X. L, devero entreg-lo. Vinte e

    quatro horas mais tarde, seu irmo, o senhor Carlos

    Torrealba, ser devolvido a Ciudad Caribe so e salvo.

    Qualquer suspeita de que a entrega no ser realizada nas

    condies estabelecidas dar lugar morte imediata de seu

    irmo. Repetimos: trs ou quatro pessoas, no mximo, que

    iro a p, transportando o tesouro maia. Bem... No indica a data, nem sequer a hora da entrega.

    Supe-se que nos devemos por em movimento imediatamente, no assim? perguntou Zorrilla.

    Certamente. Isto implica uma vigilncia constante dessa zona por parte dos raptores de Carlos Torrealba.

    Ignoro a escala deste mapa... Qual a distncia a percorrer?

    Uns vinte quilmetros, depois de passado o Monte Atitcla. At l pode-se ir de jipe. Juan de Dis nos fornecer

    um do Exrcito. Est pronta para partir?

    No. Primeiro, tomarei caf. Alm disso, antes de seguir para o lugar indicado no mapa, quero um de todo o

    pas... No. Ainda me pareceria melhor ter um detalhado,

    em grande escala, dessa parte do litoral. possvel?

    Claro que sim. Ser tambm fornecido pelo general Martinez? Fica por minha conta prontificou-se Zorrilla.

    Posso ir agora mesmo ao Servio Cartogrfico e obter um.

    timo, seor Zorrilla. Temos j o jipe, o mapa... Falta-nos uma caixa de primeiros socorros...

    Para que isso? estranhou Torrealba. Nunca se sabe. Mas, por exemplo, se houver luta,

    possvel que desses primeiros socorros dependa a vida de

  • alguns dos componentes da expedio de entrega. Por outro

    lado, e o detalhe mais impo