06 o remanescente de israel e sua missão

31
O SIGNIFICADO TEOLÓGICO DO REMANESCENTE DE ISRAEL E A SUA MISSÃO Em seu livro Studies in the Name "Israel" in the Old Testament (Uppsala, 1946), o erudito sueco Gustaf A. Danell conclui que o vocábulo "Israel", além de ser usado como nome de uma pessoa, pode designar três grupos relacionados: (1) a união das doze tribos antes da divisão do reino; (2) as dez tribos do norte de Israel; (3) Judá, depois da queda do reino do norte, como o remanescente de Israel (p. 9). Nosso interesse primário procura penetrar além dessas designações externas até a natureza religiosa e o significado teológico da expressão "Israel" como apresentado no Velho e no Novo Testamentos. Nesse respeito, o erudito holandês do Antigo Testamento, A. R. Hulst, demonstrou que o vocábulo "Israel" tem duplo sentido desde o início: "pessoa", "nação" e "povo de Jeová" ou congregação religiosa". 1 Vamos considerar brevemente o uso teológico-religioso da expressão "Israel" no Velho Testamento. Israel no Velho Testamento

Upload: diego-fortunatto

Post on 23-Jun-2015

5.677 views

Category:

Documents


2 download

TRANSCRIPT

Page 1: 06   o remanescente de israel e sua missão

O SIGNIFICADO TEOLÓGICO DO REMANESCENTE DE ISRAEL E A SUA MISSÃO

Em seu livro Studies in the Name "Israel" in the Old Testament (Uppsala, 1946), o erudito sueco Gustaf A. Danell conclui que o vocábulo "Israel", além de ser usado como nome de uma pessoa, pode designar três grupos relacionados: (1) a união das doze tribos antes da divisão do reino; (2) as dez tribos do norte de Israel; (3) Judá, depois da queda do reino do norte, como o remanescente de Israel (p. 9). Nosso interesse primário procura penetrar além dessas designações externas até a natureza religiosa e o significado teológico da expressão "Israel" como apresentado no Velho e no Novo Testamentos. Nesse respeito, o erudito holandês do Antigo Testamento, A. R. Hulst, demonstrou que o vocábulo "Israel" tem duplo sentido desde o início: "pessoa", "nação" e "povo de Jeová" ou congregação religiosa".1 Vamos considerar brevemente o uso teológico-religioso da expressão "Israel" no Velho Testamento.

Israel no Velho Testamento

O primeiro uso da palavra "Israel" na Bíblia, em Gênesis 32, apresenta a origem e o significado deste novo nome. Quando estava para entrar na terra de Canaã, o patriarca Jacó, levado pela culpa e temendo por sua vida, começou numa noite a lutar com um "Homem" desconhecido que parecia possuir uma força sobre-humana. Jacó persistentemente pleiteava a bênção desse Homem. Então, a resposta foi dada, "já não te chamarás Jacó, e sim Israel, pois como príncipe lutaste com Deus e com os homens e prevaleceste'' (Gênesis 32:28; cf. 35:9-10). Mais tarde, o profeta Oséias interpretou a peleja de Jacó como uma luta "com Deus" e "com o anjo" (Oséias 12:3, 4). O nome "Israel" é dessa forma revelado como sendo de origem divina. Simboliza o novo

Page 2: 06   o remanescente de israel e sua missão

O Remanescente de Israel e Sua Missãorelacionamento espiritual de Jacó com Jeová e o representa reconciliado através da graça perdoadora de Deus.

Tem-se enfatizado que a luta de Jacó foi iniciada por Deus e a sua vitória foi o progresso "da resistência para o apego", significando que Jacó abandonara sua própria auto-suficiência e autodefesa ao apegar-se confiantemente ao Anjo de Deus, a fim de receber a garantia divina de aceitação.2 E. G. White explica a mudança do nome de Jacó como segue: "Como prova de que fora perdoado, seu nome foi mudado de um nome que lembrava seu pecado, para outro que comemorava sua vitória".3

Em outras palavras, o nome "Israel", desde o começo, simboliza um relacionamento pessoal de reconciliação com Deus. O restante das Escrituras nunca perde de vista a raiz sagrada desse nome. De fato, Deus queria repetir a Sua iniciativa de lutar com o homem em todos os israelitas que descenderam de Jacó. Através do profeta Oséias, Ele apresenta a luta de Jacó e a total confiança em Jeová como um exemplo que precisa ser imitado pelas tribos apóstatas de Israel que estavam confiando mais nos cavalos de guerra da Assíria e do Egito (Oséias 12:3-6; 14:1-3). Isto é, a luta de Jacó com Deus é colocada por Oséias como um protótipo do verdadeiro Israel, como um padrão normativo para a casa de Israel, a fim de tornar-se o Israel de Deus.

O propósito divino para o povo israelita foi indicado por Moisés quando disse a faraó, "Assim diz o SENHOR: Israel é meu filho, meu primogênito. Digo-te, pois: deixa ir meu filho, para que me sirva'' (Êxodo 4:22). As tribos israelitas são chamadas para adorar ao Senhor, o Santo, de acordo com a Sua vontade revelada. Eles são "Israel, seu povo" (Êxodo 18:1), "a comunidade do Senhor" (Números 20:4, NIV).

Israel é diferente de todas as outras nações, não por causa de qualquer qualidade étnica, moral ou política, mas unicamente porque foi escolhido pelo Senhor para receber Suas promessas feitas aos patriarcas (Deuteronômio 7:6-9). Deus redimiu a Seu povo do cativeiro no Egito a fim de ligá-lo exclusivamente a Si:

2

Page 3: 06   o remanescente de israel e sua missão

O Remanescente de Israel e Sua MissãoTendes visto o que fiz aos egípcios, como vos levei sobre asas de

águia e vos cheguei a mim. Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, então, sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os povos; porque toda a terra é minha; vós me sereis reino de sacerdotes e nação santa (Êxodo 19:4-6).

Podemos distinguir dois aspectos do concerto divino com Israel. Primeiro, este como uma unidade étnica foi escolhido para ser o próprio povo de Deus, a fim de adorá-Lo por causa de Sua graça redentora e do Seu amor (cf. Ezequiel 16). Segundo, Israel permaneceria a Sua preciosa possessão e nação santa apenas se Lhe obedecesse e guardasse o Seu concerto (Êxodo 20-24). Esse é claramente um aspecto condicional em relação ao status futuro de Israel no concerto divino.

É fundamental a revelação de que a unidade nacional de Israel foi desde o princípio baseada na ação redentora de Deus para com ele e na reivindicação divina de sua adoração e lealdade. Os conceitos étnico e religioso são mantidos juntos através da concepção veterotestamentária de um remanescente fiel.4 G. E. Ladd explica:

Os profetas viam a Israel como um todo, como rebeldes e desobedientes e, por isso destinados a sofrer o julgamento divino. Mas ainda permanecia dentro da nação infiel um remanescente de crentes que foram os objetos da atenção divina. No remanescente se encontrava o verdadeiro povo de Deus.5

O concerto divino com Israel, contudo continuaria sempre através do remanescente, mesmo quando as maldições do concerto dispersassem a nação como um grupo étnico entre todas as outras nações do mundo (ver Deuteronômio 27-28) e o templo fosse desunido (ver Levítico 26). A promessa divina é que, a despeito da desobediência e rebelião de Israel contra Deus, Ele garante, "não os rejeitarei, nem me aborrecerei deles, para consumi-los e invalidar a minha aliança com eles, porque eu sou o SENHOR, seu Deus'' (Levítico 26:44). O plano divino para Israel em favor das nações se cumprirá, mas da maneira surpreendente do próprio Deus.

3

Page 4: 06   o remanescente de israel e sua missão

O Remanescente de Israel e Sua MissãoO livro de Deuteronômio enfatiza o objetivo da eleição de Israel

como uma missão profundamente religiosa. Ele é caracterizado como "Filhos...do SENHOR, vosso Deus" (Deuteronômio 14:1), como "povo santo ao SENHOR, vosso Deus" (14:2), escolhidos "para serem o seu tesouro pessoal" (Deuteronômio 14:2, NVI). Israel foi chamado para responder ao Seu redentor adorando a Jeová (Deuteronômio 13:6-10) e assim tornar-se religiosamente inculpável perante Deus (Deut. 18:9-13).

Deus colocou uma obrigação sagrada sobre todos os israelitas:Eu sou o SENHOR, teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da

servidão. Não terás outros deuses diante de mim... - Êxodo 20:2-3Ouve, Israel, o SENHOR, nosso Deus, é o único SENHOR. Amarás,

pois, o SENHOR, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força. - Deuteronômio 6:4-5

E ainda:Guarda silêncio e ouve, ó Israel! Hoje, vieste a ser povo do SENHOR,

teu Deus. Portanto, obedecerás á voz do SENHOR, teu Deus, e lhe cumprirás os mandamentos e os estatutos que hoje te ordeno. - Deuteronômio 27:9-10

No monte Sinai, as tribos de Israel foram oficialmente constituídas como Israel, o povo do Senhor. A própria palavra e o ato de Deus elevou Israel a uma congregação veneradora ou a uma assembléia (qahal), a fim de ser uma luz sacerdotal para o resto da humanidade. A conclusão de A. Hulst em relação ao significado do nome "Israel" em Deuteronômio é significativa:

O seu interesse não é com um conglomerado de diferentes tribos e grupos, não com uma soma total de indivíduos, não com um povo como uma entidade étnica ao lado de outros povos – isso deve ser enfatizado – mas ao invés disso, com a "assembléia", a comunidade religiosa que encontra a sua unidade na palavra e na lei de Jeová, por isso, completamente no Próprio Jeová.

O nome "Israel" em Deuteronômio significa, por tanto, o povo em seu relacionamento com Jeová. O foco não é o povo em seu aspecto nacional, nem acima de tudo, como um grupo étnico, mas como uma unidade religiosa. Ele pertence á pureza de vida em sua esfera social, religiosa e cúltica.6

4

Page 5: 06   o remanescente de israel e sua missão

O Remanescente de Israel e Sua MissãoNo livro de Deuteronômio, o termo "israelitas" (literalmente, filhos

de Israel; [1:1; 4:44-46; 10:6; 28:69; 33:1; 34:8, 9; etc-]) parece designar mais os descendentes físicos de Jacó, enquanto o nome "Israel" indica a unidade religiosa do povo do concerto. Naturalmente, o relacionamento consangüíneo não é necessariamente idêntico ao da fé. Deuteronômio mostra uma distinção entre a comunidade que adora e os laços étnicos.

As leis religiosas de Deuteronômio 23 permitem às famílias egípcias e edomitas que haviam vivido por três gerações entre os israelitas, participarem na adoração da "assembléia do SENHOR" (qahal; Deuteronômio 23:7-8). A benção da prosperidade na terra prometida em Deuteronômio nunca é incondicional, mas sempre depende da obediência de Israel em guardar os mandamentos do Senhor e a Torah (ver Deuteronômio 26:16-19; 27:9-10). Josué, o sucessor de Moisés, relata como em Siquém Israel aceitou a adoração apenas do Senhor como a base de sua vida comum (Josué 24:16-18). Israel continuamente renovava o seu concerto com Deus na liturgia sagrada de suas festividades anuais:

No santuário, ao centro, a confederação das doze tribos era continuamente chamada de volta ao seu relacionamento de concerto com o Senhor e pleiteavam um renovado serviço a Deus através da obediência à Sua lei. Assina, aquelas coisas que aconteciam no Sinai não são simplesmente uma série de fatos do passado, mas na adoração solene das doze tribos tornavam-se novamente uma realidade presente e contemporânea. A palavra de proclamação torna visível a base do ser de Israel. A menos que essa palavra seja pronunciada, a corporação das doze tribos está em perigo de incorrer no erro da auto-afirmação e autodeterminação.7

No livro de Salmos, que contém o nome "Israel" cinqüenta e nove vezes, o vocábulo denota o povo como uma assembléia que adora a Jeová no templo em Jerusalém.8 A palavra "Judá" praticamente nunca é usada para designar a comunidade que adora.

Os profetas começaram a indicar que Israel como uma nação cairia, assim como as outras nações, sob a justiça punitiva do Senhor, por causa

5

Page 6: 06   o remanescente de israel e sua missão

O Remanescente de Israel e Sua Missãode sua apostasia religiosa e de sua injustiça social (Amos 3:2). Não obstante, um remanescente, uma "santa semente", permaneceria (1 Reis 19:18; Isaías 6:13; 8:17-18; 10:20-22). Amós foi o primeiro profeta a rejeitar a idéia popular de que Israel como uma nação seria salvo no dia do Senhor quando Jeová julgar o mundo (Amós 3:2; 9:1-4, 9, 10). Ele enfatizou a condição da sensibilidade religiosa de Israel à promessa de salvação:

Buscai ao SENHOR e vivei, para que não irrompa na casa de José como um fogo que a consuma, e não haja em Betel quem o apague (Amós 5:6).

Apenas um remanescente da nação israelita sobreviveria ao futuro juízo divino (Amós 3:12; 5:15). Esse remanescente seria peneirado pela fidelidade ao concerto no dia do Senhor (5:15), assim como Deus escolhera o Seu remanescente nos dias de Elias (1 Reis 19:18). Surpreendentemente, Amós revelou outro aspecto vital da promessa de restauração de Israel: os não israelitas também serão conduzidos ao círculo do remanescente escatológico de Israel e à casa de Davi:

Naquele dia, levantarei o tabernáculo caído de Davi, repararei as suas brechas; e,levantando-o das suas ruínas, restaurá-lo-ei como fora nos dias da antiguidade; para que possuam o restante de Edom e todas as nações que são chamadas pelo meu nome, diz o SENHOR, que faz estas coisas (Amós 9:11-12).

A profecia de Amós anuncia que o remanescente escatológico de Israel é "principalmente uma entidade de designação religiosa ao invés de nacional".9

O tema do remanescente torna-se um elemento dominante na proclamação de Isaías do julgamento e salvação. A combinação entre condenação e salvação é inerente ao conceito da santidade de Jeová. O profeta Isaías sentiu-se totalmente perdido, embora fosse graciosamente reconciliado, purificado e chamado para ser embaixador de Deus (6:1-8). G. F. Hasel explica, "Assim, o próprio profeta pode ser considerado o representante proléptico do futuro remanescente porque foi confrontado pela 'santidade' de Jeová e emergiu como um indivíduo limpo e purificado".10

6

Page 7: 06   o remanescente de israel e sua missão

O Remanescente de Israel e Sua MissãoO julgamento destrutivo sobre a casa de Israel e sobre a casa de

Davi não aniquilaria toda a vida em Israel. "Como terebinto e, como carvalho, dos quais, depois de derribados, ainda fica o toco, assim a santa semente é o seu toco" (Isaías 6:13). Este "toco" ou cepo de raiz, representa tanto a destruição da nação israelita, quanto a vida preservada que continuaria no remanescente. Porém, este remanescente de Israel será santo apenas porque, como Isaías, experimentou o juízo purificador de Deus. E, "por causa dessa experiência se posicionará corretamente no relacionamento de fé, confiança e obediência para com Jeová. Ele será então o portador da eleição".11

Isaías também usa o nome "Israel" para a casa de Judá (Isaías 1:1-3; 8:14). Ele anuncia a sua destruição como uma nação (Isaías 6:11-13) de maneira que apenas o remanescente fiel a Deus herdará as promessas do concerto. O propósito divino para Israel como uma nação "santa" (Êxodo 19:6) ou povo "santo" (Deuteronômio 7:6) era que "toda a terra" estivesse cheia da glória divina (Isaías 6:3). Este alvo havia sido frustrado pela infidelidade israelita, embora o eterno propósito de Deus permanecerá e será cumprido através do santo remanescente de Israel (Isaías 4:2-6; 6:13). Esse conceito de um remanescente santo pertence ao cerne da escatologia de Isaías (cf. Isaías 1:24-26).

Durante a crise sírio-efraimita em Jerusalém (734-733 A.C.), Isaías revelou que uma fé confiante em Jeová é o critério distintivo do remanescente santo (Isaías 7:9; cf. 30:15-18). Ele, seus filhos e seus discípulos, eram "sinais e símbolos da parte do SENHOR dos Exércitos" apontando adiante para o futuro remanescente (Isaías 8:18, NVI). Esse fato mostra que Isaías usa o tema do remanescente não apenas para o juízo divino escatológico, mas o aplica também à crise política de seu próprio tempo (cf. Isaías 1:4-9; 11:11, 16). A sua esperança é que o remanescente israelita contemporâneo proveja as condições para a manifestação do santo remanescente futuro. Isaías "não conhece a distinção temática entre um remanescente 'secular profano' e um

7

Page 8: 06   o remanescente de israel e sua missão

O Remanescente de Israel e Sua Missão'teológico'."12 Ele usa a questão do remanescente apenas em um sentido teológico-religioso, tanto para o seu tempo quanto para o futuro.

Mais do que as palavras de qualquer outro profeta, as profecias preditivas de Isaías dos capítulos 40-66 figuram como as grandes promessas de restauração israelita depois do exílio assírio-babilônico. Nessas garantias acumuladas da reunião de Israel da grande dispersão, o foco profético não está exclusivamente nos descendentes físicos de Jacó que se comprometeram a adorar Jeová.

Isaías visualiza que entre o Israel pós-exílico, muitos não israelitas que escolheram adorar ao Deus de Israel seriam congregados. Duas classes de pessoas, estrangeiros e eunucos (machos castrados), que eram proibidos de participar da assembléia em adoração a Jeová, de acordo com a lei de Moisés (Deuteronômio 23:1-3), agora são bem-vindos para adorar no novo templo, no monte Sião, sob a condição de que aceitem o sábado do Senhor e se mantenham fiéis ao concerto de Deus.

...também os levarei ao meu santo monte e os alegrarei na minha Casa de Oração; os seus holocaustos e os seus sacrifícios serão aceitos no meu altar, porque a minha casa Será chamada Caia de Oração para fedor os povos. Assina diz o SENHOR Deus, que congrega os dispersos de Israel: Ainda congregarei outros aos que já se acham reunidos (Isaías 56:78, ênfase acrescentada; cf. 45:20-25).

Quando os gentios se unirem em fé e obediência ao Senhor (Isaías 56:3), o Deus de Israel dará a esses estrangeiros "um memorial e um nome melhor do que filhos e filhas; um nome eterno darei a cada um deles..." (Isaías 56:5). Dessa maneira, Isaías demonstra como a benevolência universal de Deus para com o mundo, como indicada no seu concerto com Abraão (Gênesis 12:2-3) e Israel (Êxodo 19:16), será finalmente cumprida através de um novo Israel. A característica essencial deste não é a descendência étnica de Abraão, mas a fé de Abraão, a adoração a Jeová. Os crentes gentios gozarão os mesmos direitos e esperanças das promessas do concerto como israelitas crentes.

Claus Westermann observa em Isaías 56:

8

Page 9: 06   o remanescente de israel e sua missão

O Remanescente de Israel e Sua MissãoAqui...o físico e o espiritual cessaram a fim de estar necessariamente

unidos dessa forma. O nome [Israel] pode sobreviver sem descendentes nascidos do corpo físico de alguém...A nova comunidade está a caminho de uma nova forma de associação que já não é mais idêntica aos velhos conceitos do povo escolhido. Desde essa época [Isaías 56], encontramos importantes elementos do conceito neotestamentário de comunidade...Ele 'congrega' Israel também entre aqueles que até agora não foram capazes de pertencer a Israel.13

Westermann conclui que Isaías visualiza Israel, primariamente não como uma entidade étnica ou política, mas ao invés disso, como uma congregação religiosa ou uma "igreja", como o povo de Deus.

O profeta Miquéias une a promessa de um "remanescente de Israel" (2:12, NVI), o novo povo de Deus, à promessa do Messias que sairia de Belém (5:2). Ele congregará o remanescente de Israel "como ovelhas no aprisco, como rebanho no meio do seu pasto" (2:12). "Ele se manterá firme e apascentará o povo na força do SENHOR" (5:4). .

O profeta Jeremias, que serviu a Deus durante os últimos quarenta anos do reinado de Judá (625-586 A.C.), usa o nome "Israel" de várias maneiras, dependendo de cada contexto imediato. Torna-se claro, por isso, que Jeremias não focaliza suas promessas e predições sobre a restauração de Israel como um estado político independente, mas como um povo de Deus espiritualmente restaurado, congregado de todas as doze tribos. O novo concerto que Jeová fará com a casa de Israel e a casa de Judá depois do exílio babilônico será explicitamente diferente do concerto sinaítico (31:31-34). O Israel restaurado será um remanescente devoto e de oração, composto de todas as doze tribos, nas quais cada israelita individualmente experimenta um relacionamento salvífico com Deus e obedece a Sua santa lei com inteireza de coração (31:6; 32:38-40).

Embora Jeremias não inclua explicitamente os não israelitas em sua profecia do novo concerto de Deus com Israel, não obstante, todos os crentes em Jeová de todas as nações são incluídos a princípio. O privilégio de pertencer à comunidade do novo concerto tornou-se acidental, não sob condições étnicas ou políticas, mas sob a ligação

9

Page 10: 06   o remanescente de israel e sua missão

O Remanescente de Israel e Sua Missãopessoal e espiritual com Deus, "ou melhor, sob a atitude de Deus para com o homem".14 O propósito de Deus, de acordo com Jeremias, não é um estado judaico como tal, "mas um povo que obedece a Jeová, uma comunidade que O serve e é inteiramente orientada para Ele".15 Essa conclusão é grifada pelas predições de Jeremias de que até mesmo a arca do concerto do Senhor, o símbolo da presença visível de Deus no templo de Jerusalém, não será mais necessária ou relembrada (Jeremias 3:16).

O profeta Ezequiel, que foi deportado para Babilônia em 597 A.C., também predisse que um Israel novo e espiritual retornaria do exílio de todas as nações para a sua terra natal:

Voltarão para ali e tirarão dela todos os seus ídolos detestáveis e todas as suas abominações. Dar-lhes-ei um só coração, espírito novo porei dentro deles; tirarei da sua carne o coração de pedra e lhes darei coração de carne; para que andem nos meus estatutos, e guardem os meus juízos, e os executem; eles serão o meu povo, e eu serei o seu Deus. Mas, quanto àqueles cujo coração se compraz em seus ídolos detestáveis e abominações, eu farei recair sobre sua cabeça as suas obras, diz o SENHOR Deus. (Ezequiel 11:18-21).

Essas predições e outras similares (cf. 36:24-33; 37:22-26) enfatizam que o interesse central de Deus por Israel é a sua restauração, não como um estado secular e político, mas como uma teocracia unida, um povo espiritualmente limpo e que verdadeiramente adore a Deus. O foco de Ezequiel nas promessas de restauração não é primariamente sobre o retorno de Israel à terra prometida, mas ao seu retorno a Jeová. Ele afirma que Deus expurgará os exilados israelitas no "deserto das nações" de sua contaminante idolatria e espírito de secularização, de maneira que apenas um Israel arrependido e purificado retornará à sua terra (Ezequiel 20:32-36).16

O Israel pós-exílico era uma comunidade religiosa centralizada ao redor do templo reconstruído, não ao redor de um trono real. Embora, a maioria dos exilados retornados era das tribos de Judá e Levi, esse remanescente espiritual considerava-se como uma continuação e

10

Page 11: 06   o remanescente de israel e sua missão

O Remanescente de Israel e Sua Missãorepresentação do Israel de Deus (Esdras 2:2, 70; 3:1, 11; 4:3; 6:16-17, 21; Neemias 1:6; 2:10; 8:1, 17; 10: 39; 12:47; Malaquias 1:1, 5; 2:11).

O profeta Zacarias predisse que, em Israel, a diferença entre a santidade ritual e a vida ordinária será finalmente abolida e que nenhum idólatra ali permanecerá:

...sim, todas as panelas em Jerusalém e Judá serão santas ao SENHOR dos Exércitos; todos os que oferecerem sacrifícios virão, lançarão mão delas e nelas cozerão a carne do sacrifício. Naquele dia, já não haverá mercador na Casa do SENHOR dos Exércitos (Zacarias 14:21).

O último profeta, Malaquias, acentuou que aqueles israelitas que "temem ao Senhor" são o povo de Deus, e apenas o que "serve a Deus" é reconhecido como Seu particular tesouro e possessão no Dia do Juízo (Malaquias 3:16 – 4:3). Judá é considerado como os filhos de Jacó e o herdeiro do concerto de Deus com Israel (1:1; 2:11; 3:6; 4:4).

Em suma, o Velho Testamento usa o nome "Israel" de mais de uma maneira. Primeiro e acima de tudo, representa a comunidade do concerto religioso, o povo que adora a Jeová em espírito e em verdade. Segundo, denota um grupo étnico distinto ou uma nação que é chamada para tornar-se o Israel espiritual. Decisivo para os profetas do Antigo Testamento e suas profecias é a qualidade teológica do "povo de Deus", não as suas características étnicas e políticas. O significado original do nome "Israel", como um símbolo da aceitação de Deus através de Sua graça perdoadora (Gênesis 32:28), permanece para sempre a raiz sagrada para a qual os profetas chamam ao retorno as tribos naturais de Israel (Oséias 12:6; Jeremias 31:31-34; Ezequiel 36:26-28).

Sempre que os profetas do Velho Testamento retratam o remanescente escatológico de Israel, o caracterizam como uma comunidade fiel e religiosa que adora a Deus com um novo coração sobre a base do "novo concerto'' (Joel 2:32; Sofonias 3:12, 13; Jeremias 31:3134; Ezequiel 11:16-21). Esse fiel remanescente do tempo do fim se tornará a testemunha de Deus entre todas as nações e incluirá também os

11

Page 12: 06   o remanescente de israel e sua missão

O Remanescente de Israel e Sua Missãonão israelitas, pois não levará em consideração a sua origem étnica (Zacarias 9:7; 14:16; Isaías 66:19; Daniel 7:27; 12:1-3).

O panorama total da escatologia veterotestamentária revela que as bênçãos do concerto israelita como um todo serão cumpridas, não no Israel nacional descrente, mas apenas naquele fiel a Jeová e que confia no Seu Messias. Esse remanescente incorporará os fiéis de todas as nações gentílicas e assim cumprirá o propósito divino da eleição de Israel.

O Propósito Universal da Eleição de Israel

Moisés havia enfatizado o fato de que Deus escolheu e redimiu a Israel não por causa de qualquer virtude moral dos israelitas, mas exclusivamente devido à fidelidade divina às Suas graciosas promessas feitas aos patriarcas Abraão, Isaque e Jacó (Deut. 7:7-9; Êxodo 2:24-25). Aquele que tirara Abraão de Ur dos Caldeus (Gênesis 15:7) removeu as tribos de Israel para fora do Egito (Êxodo 20:2), a fim de cumprir o concerto abraâmico:

...de ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção! Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as famílias da terra (Gênesis 12:2-3; cf. 22:17-18; 26:4).17

Precisamos ter em vista a unidade orgânica dessa múltipla promessa e seu propósito universal: abençoar todos os povos da terra através de Abraão e sua descendência. Essa bênção universal indubitavelmente serve para contrafazer a maldição universal que havia caído sobre toda a raça humana por causa de sua rebelião contra Deus (Gênesis 3:17; 4:11-12). Enquanto a "maldição" representa os poderes destrutivos que finalmente levarão à morte, a "bênção" representa o poder restaurador, próspero e prevalecente que finalmente conduzirá à vida eterna (cf. Gênesis 22:17; Números 23:7-10, 20-24; 2 Samuel 7:29). À luz desse fato, torna-se claro que a eleição divina de Abrão e de Israel como um

12

Page 13: 06   o remanescente de israel e sua missão

O Remanescente de Israel e Sua Missãopovo serviu ao propósito universal de salvação. As promessas particulares à etnia e ao Israel geográfico estão subordinadas ao propósito de salvar a humanidade e não a um objetivo diferente e independente. O profeta Isaías afirma:

Pouco é o seres meu servo, para restaurares as tribos de Jacó e tornares a trazer os remanescentes de Israel; também te dei como luz para os gentios, para seres a minha salvação até à extremidade da terra (Isaías 49:6).

Jesus confirma: "a salvação vem dos judeus" João 4:22). A eleição particular de Israel é, por isso, organicamente uma com o plano divino de salvação universal. Como G. Vos sumariza,'A eleição de Abraão e o desenvolvimento ulterior das coisas de Israel, objetivava, como um meio particular, a finalidade universal".18

Desde o princípio, Israel foi chamado para ser uma luz sacerdotal entre as nações, "reino de sacerdotes e nação santa" (Êxodo 19:6). Todas as outras nações foram chamadas por Deus para partilhar das bênçãos dadas a Israel "se reconhecessem a Israel ou ao seu rei como portadores de bênção".19 O plano divino de bênção è paz universal através da eleição de Israel (Salmo 72:17; Jeremias 4:2) torna-se o assunto da profecia preditiva em Isaías:

Nos últimos dias, acontecerá que o monte da Casa do SENHOR será estabelecido no cimo dos montes e se elevará sobre os outeiros, e para ele afluirão todos os povos. Irão muitas nações e dirão: Vinde, e subamos ao monte do SENHOR e á casa do Deus de Jacó, para que nos ensine os seus caminhos, e andemos pelas suas veredas; porque de Sião sairá a lei, e a palavra do SENHOR, de Jerusalém. Ele julgará entre os povos e corrigirá muitas nações; estas converterão as suas espadas em relhas de arados e suas lanças, em podadeiras; uma nação não levantará a espada contra outra nação, nem aprenderão mais a guerra. Vinde, ò casa de Jacó, e andemos na luz do SENHOR (Isaías 2:2-5).

Essa predição, de maneira alguma, elimina ou enfraquece o Reino davídico ou a condição moral de obediência amorosa por parte de Israel à Torah revelada. Em nome de Deus, Jeremias confrontou um Israel apóstata em Jerusalém com a condição original: "Obedeçam-me, e eu serei o seu Deus e vocês serão o meu povo" Jeremias 7:23).

13

Page 14: 06   o remanescente de israel e sua missão

O Remanescente de Israel e Sua MissãoA eleição de Israel não implica a rejeição de outros povos, mas ao

contrário, a sua inclusão. Israel foi escolhido, não simplesmente pela sua própria salvação, mas para conduzir o mundo inteiro a partilhar do conhecimento da salvação e da bênção. Para resumir, Israel foi escolhido para representar o caráter atrativo e a vontade de Jeová em salvar os gentios. Comentando Jeremias 7:23, H. H. Rowley escreveu essas palavras instigadoras:

O propósito da eleição é o serviço, e quando este é retido, a eleição perde o seu significado, e por isso fracassa... Se ele [Israel] cessasse de reconhecer a Jeová como seu Deus, então estaria declarando não desejar ser mais o Seu povo. Isso está bem demonstrado na parábola do oleiro de Jeremias (Jer. 18:1v). O vaso que fracassa em realizar a intenção do oleiro será remodelado em outro vaso...Seu supremo chamado para ser o Povo Escolhido não foi a marca da indulgência ou do favoritismo divino, mas a convocação para uma tarefa exigente e incessante. A eleição e a tarefa estavam tão rigorosamente unidas que ele não poderia possuir uma sem a outra.20

Se Israel determinasse finalmente ser infiel a Jeová, perderia os seus privilégios de receber as bênçãos divinas e ainda se colocaria sob a maldição do concerto, como foi claramente afirmado em Levítico 26 e Deuteronômio 28. A história de Israel, como relatada por Moisés e os profetas, tem sido intitulada "uma história de fracasso" (R. Bultimann). Não obstante, o propósito de Deus para o mundo não pode ser frustrado Jó 42:2). Está escrito, "Eu o disse, eu também o cumprirei; tomei este propósito, também o executarei" (Isaías 46:11). Quando Israel fracassou como nação, o Senhor proveu um perfeito Israelita como uma bênção e luz tanto para o próprio Israel quanto para o mundo. O Messias prometido não falharia, porque "a vontade do SENHOR prosperará nas suas mãos'' (Isaías 53:10).

O propósito fundamental da missão de Israel alcança sua maior clareza nos quatro cânticos proféticos de Isaías ,"Cânticos concernentes ao Servo do Senhor" (Isaías 42:1-4; 49:1-6; 50:4-9; 52:13–53:12). Assumimos a posição de que o Servo representa tanto o Israel coletivo

14

Page 15: 06   o remanescente de israel e sua missão

O Remanescente de Israel e Sua Missãoquanto o israelita representativo em quem o povo de Israel foi incorporado. Israel como um todo foi chamado para ser uma comunidade missionária, mas finalmente apenas Um provaria cumprir a missão, como Isaías havia esboçado. O Servo escolhido serviria ao Senhor, não apenas em espalhar o conhecimento do verdadeiro Deus até aos confins da terra (Isaías 42:1-4), mas também em reconduzir Israel ao Senhor (Isaías 49:5-6). O Servo é chamado de Israel (Isaías 49:3) e também imaginado como possuindo uma missão em função deste (Isaías 49:5-6).

Para o pensamento moderno, essa tensão entre a identificação e a diferenciação estabelece uma antítese, mas como tem sido amplamente reconhecido hoje, "O conceito hebreu de personalidade corporativa pode reconciliar a ambos e passar sem explanação ou indicação explícita de um para o outro em uma fluidez de transição".21 Isto significa que no Israel antigo um representante individual poderia expressar o mais elevado propósito de um grupo ou nação. Por exemplo, o rei em Israel é chamado "filho" de Deus (2 Samuel 7:14; Salmo 2:7); enquanto Oséias também chama a nação israelita de "filho" de Deus (Oséias 11:1). Esse conceito hebreu de representação ou "personalidade corporativa" é o próprio fundamento da doutrina cristã de salvação pela fé em Cristo, como proclamado pelo apóstolo Paulo: '"Porque, assim como, em Adão, todos morrem, assim também todos serão vivificados em Cristo" (1 Coríntios 15:22).

O profeta Isaías faz distinção entre um Israel literal, que é um servo de Jeová "cego" e "mudo" (Isaías 42:19-20) e o servo sofredor de Jeová como o Israel fiel (Isaías 42:1-4; 49;1-6; 50:4-9; 52:13–53:12). Como observa um erudito:

Mas enquanto o Servo é em algum sentido o representante ou incorporação de Israel, é distinto da nação como um todo, para a qual a sua missão é de fato primeiramente dirigida, bem como (daí para frente) para o mundo gentílico.22

O Servo individual é fortalecido por Deus para a sua missão e é vindicado contra falsas acusações da oposição judaica e gentílica (Isaías

15

Page 16: 06   o remanescente de israel e sua missão

O Remanescente de Israel e Sua Missão50:4-9). O quarto Cântico do Servo do Senhor, Isaías 52:13–53:12, tem sido chamado de "a glória culminante da religião do Velho Testamento" (H. W. Robinson). O Servo aceitaria não apenas sofrimento e desprezo, mas também – diferente de qualquer outro profeta – mesmo a morte como um ato coroador de sua obediência, como "o próprio meio através do qual ele cumpre o propósito de Deus...e em conseqüência, traz a bênção e a libertação para as multidões".23

Porquanto foi cortado da terra dos viventes; por causa da transgressão do meu povo, foi ele ferido... Todavia, ao SENHOR agradou moê-lo, fazendo-o enfermar; quando der ele a sua alma como oferta pelo pecado, verá a sua posteridade e prolongará os seus dias; e a vontade do SENHOR prosperará nas suas mãos (Isaías 53:8b, 10).

Nessa profecia dramática a nova idéia é apresentada sobre um sofrimento que é representativo. Como H. H. Rowley explica:

Ele redime não apenas o sofredor, mas aqueles que infligem sobre ele o sofrimento; e redime não apenas por sua própria virtude, meramente porque está sofrendo, mas por causa do espírito no qual suporta o sofrimento. O Servo cumpre a sua missão para o mundo ao sofrer nas mãos deste, e por ceder a sua vida sem luta ou queixa, a fim de ser um sacrifício para aqueles que o mataram.24

Finalmente, o sofrimento do Servo escolhido é vicário perante Deus, porque "o SENHOR fez cair sobre ele a iniqüidade de nós todos" (Isaías 53:6). Essa mensagem surpreendente de triunfo para Israel e a raça humana seria compreendida e reconhecida pelos gentios apenas depois do cumprimento histórico da morte e ressurreição do Servo do Senhor (Isaías 52:13-15).

O Servo de Isaías 42-53 possui as características vitais do Messias davídico prometido de Isaías 11:1-10: "O Espírito de Jeová repousa igualmente sobre o Messias davídico e o Servo. Ambos administram eqüitativamente a justiça entre as nações bem como em Israel".25 Essa identificação do Servo sofredor com o Rei messiânico prometido nunca foi concebida como uma possibilidade no judaísmo. Como pode o Messias glorioso ser alguém que julga a terra, mata os ímpios com o sopro de seus lábios e ao mesmo tempo sofre passivamente a morte pelos seus inimigos?

16

Page 17: 06   o remanescente de israel e sua missão

O Remanescente de Israel e Sua MissãoAqui ficamos face a face com a nova compreensão revolucionária

de Jesus de Nazaré concernente à missão do Messias prometido. Ele une três diferentes conceitos da profecia israelita – a vinda do Rei davídico; o Filho do Homem (em Daniel 7); o Servo de Deus sofredor – todos em uma Pessoa: Ele mesmo.26

Jesus via uma ordem definida nas tarefas do Messias: primeiro, um aparecimento em humildade para cumprir a missão do Servo sofredor, e depois disso, Seu surgimento em glória divina como Rei-Juiz. Ele até mesmo reprovou os Seus discípulos por serem tardos de coração em acreditar nesse programa messiânico:

Porventura, não convinha que o Cristo padecesse e entrasse na sua glória? E, começando por Moisés, discorrendo por todos os Profetas, expunha-lhes o que a seu respeito constava em todas as Escrituras (Lucas 24:26-27.

O propósito de Deus em Sua eleição de Abraão e Israel para redimir o mundo e estabelecê-lo sob reinado divino foi, em princípio, cumprido na vida, morte e ressurreição do Messias Jesus. Cristo foi a única semente de Abrão perfeitamente obediente, o único israelita sem pecado que realmente merecia as infindáveis bênção do concerto divino com Israel. Ele agora oferece as bênçãos do reino redentivo de Deus a todos os homens, aos judeus e gentio igualmente, sem distinção (João 12:32; Gálatas 3:14). Portanto, o plano de Deus com Israel em favor dos gentios não foi frustrado ou adiado, mas ao contrário, prosperou no Messias (Isaías 53:10). O plano divino progrediu sem tardança, vindo a plenitude dos tempos (Gálatas 4:4, 5) e Cristo foi exaltado como o Governante messiânico à destra de Deus (Atos 2:36; 5:31; 1 Coríntios 15:25). Em Cristo todas as promessas divinas são "sim" (2 Coríntios 1:20). Ele estabeleceu o Seu próprio Israel messiânico, a Sua ekklesia ou Igreja, o Seu reino ou governo espiritual no mundo presente (Mateus 16:18; 13:41).

Referências Bibliográficas:1. A. R. Hulst, Wat betekent de naam "Israel" in het Oude Testament?,

Miniaturen No. 1, Bijlage Maandblad Kerk em Israel, Jrg. 16, No. 10 (Den

17

Page 18: 06   o remanescente de israel e sua missão

O Remanescente de Israel e Sua MissãoHaag: Boekencentrum, (1962). Ver também "Der Name 'Israel' im Deuteronomium", OTS 9 (1951): 65-106.

2. F. B. Meyer, Israel:. Prince with God (Ft. Washington, Penn.: Christian Literature Crusade, 1972), pp. 78-81.

3. Ellen G. White, Patriarcas e Profetas (Santo André, São Paulo: Casa Publicadora Brasileira, 1976), p. 199.

4. Ver G. F. Hasel, The Remnant: The History and Theology of the Remnant Idea from Genesis to Isaiah, Andrews University Monographs, Studies in Religion, Vol. 5, 3rd ed. (Berrien Springs, Mich.: Andrews University Press, 1980).

5. Ladd, A Theology of the New Testament, p. 108.6. Hulst, "Der Name 'Israel' im Deuteronomium", pp. 73, 103-104

(tradução do autor).7. H. J. Kraus, The People of God in the Old Testament, World

Christian Book No. 22 (London: Lutterworth Press, 1963), p. 21.8. Ver Danell, Studies in the Name 'Israel' in the Old Testament,

capítulo 4.9. Hasel, The Remnant, p. 393.10. Ibid., p. 243.11. Ibid., p. 247.12. Ibid., p. 401.13. C. Westermann, Isaiah 40-66: A Commentary (Philadelphia:

Westminster Press, 1977), pp. 314, 315. Cf. E. Jacob, Theology of the Old Testament (New York: Harper & Row, 1958), p. 324.

14. O. Eisfeldt, Geschchtliches und Ubergeschichtliches im Alten Testament, ThsSKr Bd 10912 (Berlin: Ev. Verlagsanstalt, 1947), pp. 14-15.

15. Hulst, Wat betekent de naam "Israel" in het Oude Testament, p. 20.

16. Ver H. Eichrodt, Ezekiel: A Commentary (Philadelphia: Westminster Press, 1970), p. 280.

17. Ver Kaiser, Toward an Old Testament Theology, pp. 13, 30f., para fortes argumentos preferindo a tradução passiva, "serão benditas" em Gênesis 12:3 acima da tradução reflexiva "abençoar-se-ão".

18

Page 19: 06   o remanescente de israel e sua missão

O Remanescente de Israel e Sua Missão18. G. Vos, Biblical Theology (Grand Rapids, Mich.: lm. B. Eerdmans

Pub. Co., 1963, reimpresso), p. 90.19. J. Scharbert, in TDOT, vol. 3, p. 307.20. H. H. Rowley, The Biblical Doctrine of Election (London:

Lutterworth Press, 1964), pp. 52, 51, 59.21. Robinson, Corporate Personality in Ancient Israel, p. 15.22. Bruce, New Testament Development of Old Testament Themes, p.

86.23. Ibid.24. H. H. Rowley, The Missionary Message of the Old Testament

(London: Cary Kingsgate Press, 1955), pp. 61-62.25. Bruce, New Testament Development of Old Testament Themes, p.

90. 26 Ver Rowley, The Missionary Message of the Old Testament, p. 54;

Ladd, The Last Things, capítulo 1.

19