05 tecnicas construtivas

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BUENO, Alexei; TELLES, Augusto da Silva; Cavalcanti, Lauro. Patrimônio Construído: as 100 mais belas edificações do Brasil. São Paulo, Capivara, 2002. MENDES, Chico; VERÍSSIMO, Chico; BITTAR, Willian. Arquitetura no Brasil de Cabral a Dom João VI. Rio de Janeiro: Imperial Novo Milênio, 2007. NEVES, Felipe Paniago Lordelo; Paula, Marcos Vinicius Lopes de; PICCOLO, Sara. Técnicas Construtivas do Brasil-colônia. Campo Grande/ MS. Trabalho de História e Teoria III, Curso de Arquitetura e Urbanismo, UFMS, 2006. REIS, Nestor Goulart. Evolução Urbana do Brasil 1500/ 1720. 2 ed. rev. e ampl. São Paulo, Pini, 2000. REIS, Nestor Goulart. Quadro da Arquitetura no Brasil. 4 ed. São Paulo, Perspectiva, 1970. SAIA, Luís. Morada Paulista. 2 ed. São Paulo, Perspectiva, 1976. VAINFAS, Ronaldo. Dicionário do Brasil Colonial. Rio de Janeiro, Objetiva, 2000. VILLELA, Clarisse M. Artes e ofícios. A cantaria mineira Técnicas Construtivas no Brasil Colonial BIBLIOGRAFIA Sítio Santo Antônio. São Roque – SP (1640)

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Page 1: 05 Tecnicas Construtivas

BUENO, Alexei; TELLES, Augusto da Silva; Cavalcanti, Lauro. Patrimônio

Construído: as 100 mais belas edificações do Brasil. São Paulo, Capivara,

2002.

MENDES, Chico; VERÍSSIMO, Chico; BITTAR, Willian. Arquitetura no Brasil

de Cabral a Dom João VI. Rio de Janeiro: Imperial Novo Milênio, 2007.

NEVES, Felipe Paniago Lordelo; Paula, Marcos Vinicius Lopes de;

PICCOLO, Sara. Técnicas Construtivas do Brasil-colônia. Campo Grande/

MS. Trabalho de História e Teoria III, Curso de Arquitetura e Urbanismo,

UFMS, 2006.

REIS, Nestor Goulart. Evolução Urbana do Brasil 1500/ 1720. 2 ed. rev. e

ampl. São Paulo, Pini, 2000.

REIS, Nestor Goulart. Quadro da Arquitetura no Brasil. 4 ed. São Paulo,

Perspectiva, 1970.

SAIA, Luís. Morada Paulista. 2 ed. São Paulo, Perspectiva, 1976.

VAINFAS, Ronaldo. Dicionário do Brasil Colonial. Rio de Janeiro, Objetiva,

2000.

VILLELA, Clarisse M. Artes e ofícios. A cantaria mineira

Técnicas Construtivas no Brasil ColonialBIBLIOGRAFIA

Sítio Santo Antônio. São Roque – SP (1640)

Page 2: 05 Tecnicas Construtivas

Com a chegada da frota de Cabral, iniciava-se oficialmente a

posse daquele extenso território. Na praia, a receber os

portugueses, homens pardos, maneira de avermelhados, nus,

coroados de penas coloridas e ornamentados com colares de

conchas. Aparentemente dóceis, onde habitavam? Como seriam

seus povoados?

Légua e meia mata adentro, algumas respostas: casas compridas

como uma nau, de madeira, cobertas de palha. Aqui se revelavam

dois importantes materiais que seriam fartamente utilizados na

construção da Colônia.

A madeira, de excelente qualidade, alem da ótima lenha produziu

a primeira cruz, lavrada pelos carpinteiros para o espanto dos

nativos diante das ferramentas de ferro, já que eles utilizavam a

pedra para o corte e confecção das "lâminas" de suas armas.

Madeira, palha, pedra. Faltava apenas o barro para completar a

lista de materiais com os quais os portugueses edificaram uma

nação, agenciando-os de formas variadas, incorporando e

sincretizando técnicas construtivas de povos conquistados em

suas viagens ultramarinas.

Técnicas Construtivas no Brasil Colonial

Primeira Missa no Brasil (Victor Meirelles – 1861)

Um binômio poderia indicar a opção construtiva, composto pelo

determinismo geográfico, que definia os materiais disponíveis na

região. Outro componente resulta de amálgamas culturais, uma fusão

da qualidade dos mestres-de-obras, trabalhadores livres ou escravos

disponíveis. Técnicas portuguesas, indígenas e africanas.

Page 3: 05 Tecnicas Construtivas

Certamente havia alguma forma de definição dos padrões

de medição. Para estes, ainda prevaleciam as relações do

corpo humanos comas referenciais: palmos, pés,

polegadas, sempre adaptados às condições locais. A

afinidade era tamanha que pode ter gerado desvios,

considerando regra ou que pode ter ocorrido como

exceção. A tradição da fabricação de telhas "nas coxas

escravas" certamente é uum exemplo que associa o

formato da peca ao correspondente humano, a coxa,

gerando esta versão popularizada coma absoluta.

Para efeito de conversão, podemos utilizar a seguinte

tabela, na qual e possível verificar as origens dos termos

antigos sempre associados ao corpo humano.

Técnicas Construtivas no Brasil ColonialUNIDADES DE MEDIDA

No século XII. o rei Henrique I,

da Inglaterra, fixou a braça

coma a distancia entre o seu

nariz e o polegar de seu braço

estendido. o que poderia ser

modificado conforme as

medidas de um novo rei.

O palmo era a medida obtida

com a mão toda aberta.

Consideremos para efeito de

conversão, um palmo =

0,22m.

Quadro 1

Jarda 2,2m

Braça 0,91m

Légua 4km/ 5,55m

Légua de sesmaria 6,6 km

Légua marítima 5,5 km

Palmo 0,22 a 0,24 m

Passo ordinário 0,825 m

Pé 0,305 m

Polegada 0,025 m

Um pé correspondia a onze polegadas e meia. Hoje, a medida é doze

polegadas, o tamanho médio dos pés masculinos. Um pé equivale a

0,305m.

A polegada tem sua origem na medida realizada com o próprio polegar

humano, não todo ele, mas distância entre a dobra do polegar e a ponta.

Urna medida rápida do polegar do ser humano adulto fornece

aproximadamente 0,025m de comprimento para esta distância.

Page 4: 05 Tecnicas Construtivas

Técnicas Construtivas no Brasil ColonialFUNDAÇÕES

O processo mais simples e rápido de assentar elementos verticais era o

pau-a-pique, diretamente apreendido do índio, que o utilizava em suas

paliçadas. Este consistia no fincamento de varas ou toras, muito

próximas, cuja base era incinerada para evitar apodrecimento pela

umidade do terreno .

Page 5: 05 Tecnicas Construtivas

Técnicas Construtivas no Brasil ColonialFUNDAÇÕES

No caso das estruturas autônomas, ou gaiolas, a cava de fundação poderia ser

disposta sob o esteio, apenas para receber as cargas concentradas.

De qualquer forma, abria-se uma vala fio terreno, investigava-se a resistência do

solo para iniciar o assentamento das pedras brutas, calçadas com pedriscos e

eventualmente recebendo uma "calda", um tipo de argamassa liquefeita

composta de barro, cal e algum aglomerante.2(fig. 83)

Para guarnecer a fundação das águas pluviais, a ultima fiada era discretamente

elevada em relação ao nível do terreno, recebendo uma laje de pedra, disposta ao

longo de toda a edificação, como um rodapé.

É comum indicar-se o óleo de baleia como aglutinante. No entanto,

pesquisas mais recentes referem-se à borra ou resíduo do cozimento, já

que o óleo seria muito caro. Portanto, o óleo só seria utilizado como

hidrorrepelente,

Também foi largamente utilizada a fundação

corrida, o baldrame, confeccionada de pedras

brutas, dispostas em uma cava de largura

variável por 1,50m de profundidade, aplicada

para receber paredes autoportantes, com

cargas distribuídas

Page 6: 05 Tecnicas Construtivas

Técnicas Construtivas no Brasil ColonialELEMENTOS VERTICAIS

Os elementos verticais podem ser classificados segundo suas características estruturais: paredes

autoportantes , que acumulam as funções de vedação e sustentação, recebendo todos os

empuxos da cobertura, descarregando-os de forma distribuída sobre as fundações; estrutura

autônoma ou gaiola, com esteios descarregando seus esforços de forma concentrada, associada

as paredes de vedação, de materiais diversos.

Não é rara a presença das duas técnicas em uma mesma edificação, decorrente de condições

locais ou a época dos acréscimos ou modificações.

Page 7: 05 Tecnicas Construtivas

Técnicas Construtivas no Brasil ColonialELEMENTOS VERTICAIS

Estrutura autônoma (sustentação) com alguns elementos utilizados para vedação:

Paredes de vedação

Page 8: 05 Tecnicas Construtivas

Para abertura de vãos sem comprometer a

estabilidade da parede, tornava-se

necessária a execução de arcos em tijolos

maciços vencendo a largura do vão.

Arcos plenos eram utilizados nos interiores das edificações

que adotavam a técnica da pedra argamassada, como na

Casa dos Contos, em Ouro Preto, MG.

Técnicas Construtivas no Brasil ColonialPAREDES AUTOPORTANTES DE PEDRA

Page 9: 05 Tecnicas Construtivas

Técnicas Construtivas no Brasil ColonialADOBE E TIJOLO

As peças de adobe ou tijolos eram paralelepípedos de dimensão

média 0,20m x 0,20m x 0,40 m, maciços e compactos,

confeccionados de barro, fibras vegetais e água, prensados

manualmente em formas de madeira.

Tratava-se de um material milenar, já conhecido na Mesopotâmia e

utilizado pelos romanos em construções de grande porte, pela sua

grande resistência à compressão.

A principal diferença reside no preparo da peça, pois o adobe é seco

à sombra, depois ao sol, enquanto os tijolos são cozidos em

fogueiras ou olarias, apresentando uma maior resistência em

relação a umidade. A escolha decorria, principalmente, da

disponibilidade de combustível para a queima, no caso, a madeira.

A execução não se diferencia dos procedimentos contemporâneos:

peças superpostas com mata-junta, argamassadas, ajustadas com

fios de prumo e níveis, configurando paredes com cerca de 0,40m

de espessura.

Neste caso, a abertura de vãos é facilitada pela possibilidade da

utilização de arcos de descarga sobre as envasaduras, a feição do

arco pleno romano, com sua pedra chave.

Casa Primitiva, Mali.

Page 10: 05 Tecnicas Construtivas

Sua fabricação é bem simples e rápida. Após a

escolha do barro apropriado, através de

conhecimento empírico, ele é então amassado

junto com fibras vegetais e colocado em formas

retangulares que deviam ser umedecidas para

fácil soltura da peça e depois colocadas para secar

ao sol, a secagem leva em torno de 10 dias e deve

ser virado a cada 2 dias.

Técnicas Construtivas no Brasil ColonialADOBE

Page 11: 05 Tecnicas Construtivas

Depois de seco é assentado sobre

algum tipo de fundação que deve ter

no mínimo 60cm, para evitar a

degradação pela água e então é

erguida a vedação, que pode também

ter função estrutural.

A caiação também é indicada para

evitar que a água enfraqueça a

parede. A construção pode durar até

20 anos dependendo das condições

do local.

Técnicas Construtivas no Brasil ColonialADOBE

Page 12: 05 Tecnicas Construtivas

Técnicas Construtivas no Brasil ColonialADOBE

Page 13: 05 Tecnicas Construtivas

Outra técnica secular do uso da terra, de ampla

utilização, inclusive encontrada em algumas

construções aborígines, é a taipa de mão, também

conhecida coma taipa de sebe, de sopapo, pau-a-

pique ou mesmo sape, conforme a região.

Tratava-se de um entramado de varas, ripas, cipós

ou bambus, constituindo um estrado vertical,

engastado na estrutura autônoma que recebia

uma mistura de barro, água e fibras vegetais,

amassados pelos construtores, por ambos os lados

da parede.

Técnicas Construtivas no Brasil ColonialTAIPA DE MÃO

Atualmente, as taipas de mão são empregadas nas zonas rurais em

construções rústicas ou como técnica alternativa nas edificações das

classes de baixo poder aquisitivo.

Ainda é encontrada praticamente em todos os estados brasileiros, mas

a técnica é muito rudimentar e normalmente não possui as

características de estabilidade, durabilidade e conforto.

Page 14: 05 Tecnicas Construtivas

Alguns cuidados eram tornados, como o

afastamento do solo, através da elevação do

baldrame; o cruzamento das ripas com

espaçamento nunca maior do que 0,l0m; a

proteção com beirais, devido as chuvas

tropicais; sucessivas molhagens no pano da

parede, recompondo prováveis fissuras e trincas

ate sua homogeneização, quando era aplicada

uma ultima camada de argamassa de barro para

posterior caiação.

Devido à flexibilidade da técnica, facilitava-as a

definição de vãos, em paredes mais delgadas

que poderiam chegar a cerca de 0,30m.

Este procedimento pode ser considerado uma

técnica vernacular, com grande permanência,

pois ainda é amplamente utilizado por

populações de poucos recursos e também em

projetos mais sofisticados que procuram uma

ligação com a terra ou um comportamento

politicamente correto

Técnicas Construtivas no Brasil ColonialTAIPA DE MÃO

1. Fixação dos esteios no solo

2. Amarração dos esteios aos baldrames e frechais; encaixe das varas verticais nos elementos horizontais.

Page 15: 05 Tecnicas Construtivas

Técnicas Construtivas no Brasil ColonialTAIPA DE MÃO

3. Amarração das ripas horizontais na estrutura de pau-a-pique, usando fibras vegetais.

Page 16: 05 Tecnicas Construtivas

A estrutura de madeira é montada com esteios,

normalmente de forma retangular, enterrada no

solo a profundidades variáveis, com um tipo de

fundação formada pela continuidade do tronco

em que era cortado o esteio.

Técnicas Construtivas no Brasil ColonialTAIPA DE MÃO

Page 17: 05 Tecnicas Construtivas

No nível do piso, esses esteios fincados no solo

recebiam encaixes para a colocação de vigas baldrames

mais altas que o solo para evitar a penetração da água.

Sobre as vigas se apoiavam os barrotes de sustentação

dos assoalhados, que era o piso mais empregado nesse

sistema construtivo.

Técnicas Construtivas no Brasil ColonialTAIPA DE MÃO

Page 18: 05 Tecnicas Construtivas

4. Aplicação da argamassa no estrado de madeira, utilizando-se as mãos para prensar a mistura na estrurutura.

Técnicas Construtivas no Brasil ColonialTAIPA DE MÃO

Após a construção dessa gaiola, ela era fechada com uma

malha de varas onde era aplicado o barro. Após a

amarração da trama, a terra previamente escolhida é

transportada até um terreiro onde é preparada a massa.

Logo depois o taipeiro, responsável pela colocação do

barro nas paredes, leva a massa do terreiro para perto da

parede. Então começa a lançar a massa contra a trama de

varas até a vedação de toda a parede.

O tempo de secagem de uma parede, que varia de 15 a 20

centímetros de espessura, é de aproximadamente um

mês, quando então pode receber revestimentos, também

utilizando a terra para ter aderência à parede.

As paredes de taipa de mão são empregadas interna ou

externamente, com predominância de utilização em

divisórias internas, devido a sua leveza, menor espessura

e menor tempo de execução, se comparada com a taipa

de pilão.

Page 19: 05 Tecnicas Construtivas

Técnicas Construtivas no Brasil ColonialTAIPA DE MÃO

A técnica da taipa de pilão também é um procedimento

milenar, registrado em todos os continentes.

Trata-se de uma técnica que utiliza barro, água, fibras vegetais

e algum tipo de aglomerante, que pode ser o estrume ou

sangue de animais. Estes componentes são apiloados em uma

forma de madeira, o taipal, confeccionada por tabuas com

cerca de 0,40m de altura, dispostas ao longo das fundações

corridas

Page 20: 05 Tecnicas Construtivas

A técnica da taipa de pilão também é um procedimento

milenar, registrado em todos os continentes.

Trata-se de uma técnica que utiliza barro, água, fibras vegetais

e algum tipo de aglomerante, que pode ser o estrume ou

sangue de animais. Estes componentes são apiloados em uma

forma de madeira, o taipal, confeccionada por tabuas com

cerca de 0,40m de altura, dispostas ao longo das fundações

corridas

Recebe esta denominação por ser socada (apiloada) com o auxílio de

um pilão. A forma que sustenta o material durante sua secagem é

denominada de taipal.

A taipa encontrada no período colonial brasileiro é executada com

terra retirada de local próximo à construção devido às dificuldades de

transporte e ao volume grande de material.

As argilas são escolhidas pelo próprio taipeiro que conhecia de forma

empírica as propriedades físicas do material.

Após o preparo da argamassa de barro, esta é disposta dentro do

taipal, em camadas de 10 a 15 centímetros, que depois de

perfeitamente apiloadas ficam com espessuras menores.

Técnicas Construtivas no Brasil ColonialTAIPA DE PILÃO

Page 21: 05 Tecnicas Construtivas

Como as espessuras das paredes variam de 30cm a 1.2m. O

apiloamento é interrompido quando a taipa emite um som

metálico característico, o que significa a mínima quantidade

de vazios ou que o adensamento manual máximo das argilas

foi atingido.

Os taipais possuem medidas que variavam de 1m a 1,5m de

altura por 2m a 4m de comprimento, compostos por tábuas

presas a um sarrafo formando uma caixa sem fundo.

A primeira parte da parede é apiloada diretamente sobre a

fundação, que pode ser de pedra ou outro material. Depois de

terminado o apiloamento até a borda do taipal é retirada o

mesmo e montado novamente sobre a parte já pronta da

parede para assim dar continuidade até que se atinja a altura

desejada.

A mistura é compactada em camadas de 0,20m, retirando-se

o excesso de umidade para que a mistura superior possa ser

assentada, e assim sucessivamente até a altura pré-

determinada através de guias de madeira (fig. 95).

Técnicas Construtivas no Brasil ColonialTAIPA DE PILÃO

Page 22: 05 Tecnicas Construtivas

Muitas vezes são adicionados reforços de madeira para dar maior firmeza à parede, assim como as barras de aço nas construções modernas de concreto.

O tempo de secagem é de no mínimo 3 meses e pode demorar até 6 dependendo das dimensões da parede.

A abertura dos vãos é previamente determinada com a inserção de esteios de pedra ou madeira coma guarnição das envasaduras, gerando pequenos nichos internos que são ocupados com conversadeiras.

Técnicas Construtivas no Brasil ColonialTAIPA DE PILÃO

Page 23: 05 Tecnicas Construtivas

Técnicas Construtivas no Brasil ColonialTAIPA DE PILÃO

Características da técnica:

· Requer uma mão-de-obra numerosa, pois trata-se de um processo artesanal, demorado;

· depende das condições meteorol6gicas, pois não deve ser executada em temporada chuvosa;

· as paredes são executadas em grande espessura, nunca menor do que 0,60m;

· os vãos devem ser previamente demarcados, devido àdificuldade de abri-los posteriormente;

· deve ser bem protegida em relação as chuvas e à umidade do terreno.

Page 24: 05 Tecnicas Construtivas

Vulnerável à água, as paredes devem ser protegidas por amplos

beirais e construídas acima do nível do terreno, preferencialmente

apoiada em fundações de pedra - "boas botas e um bom chapéu",

ideais para o c1ima tropical.

As residências do planalto paulista utilizaram a técnica da taipa de

pilão, inc1uindo todos os elementos protetores em relação ao c1ima

local, como no sítio do Padre Inácio, de meados do século XVII.

Sítio do Padre Inácio. Cotia – SP (1690)

Técnicas Construtivas no Brasil ColonialTAIPA DE PILÃO

Page 25: 05 Tecnicas Construtivas

A pedra natural, enquanto material imediato e acessível,

utilizada em objetos e construções, tem acompanhado o

homem desde o período pré-histórico e, em sua perenidade,

vem registrando a trajetória das civilizações. Inicialmente

empregada na forma bruta, foi sendo, ao longo do tempo,

dominada e transformada.

A pedra no Brasil – colônia foi usada mais em construções

publicas e religiosas. As casas, geralmente, possuíam apenas a

fundação e ou um barrado de pedra.

Cantaria é a pedra que, tendo sido afeiçoada manualmente,

com o uso de ferramentas adequadas, apresenta-se pronta

para ser utilizada em construções e equipamentos. Atua ora

como elemento estrutural, ora como ornamentação e, muitas

vezes, atende às duas funções.

Igreja de Nossa Senhora da Graça (Olinda – 1580)

Técnicas Construtivas no Brasil ColonialCONSTRUÇÕES EM PEDRA

Page 26: 05 Tecnicas Construtivas

As alvenarias de pedra, brutas ou aparelhadas, secas ou argamassadas, foram largamente

utilizadas na Colônia, tanto por sua abundância como pela resistência às intempéries. Alem

disso, o trabalho em cantaria era tradicional entre os portugueses, oficiais de grande

domínio no corte da pedra e na arte da estereotomia.

Resultava em muros ou paredes de grande largura, podendo atingir alturas superiores

aquelas de outras técnicas menos resistentes.

Técnicas Construtivas no Brasil ColonialCONSTRUÇÕES EM PEDRA

Page 27: 05 Tecnicas Construtivas

Em construções de porte médio, as paredes de pedra argamassada

adotavam cerca de 60 a 80 cm de espessura.

Para os grandes edifícios (igrejas; conventos e Casas de Câmara e Cadeia)

sua espessura variava de 1 a 1,5m.

Tal diferença decorria do aumento das cargas dos telhados sobre as

paredes perimetrais, evitando-se o comprometimento estrutural.

Técnicas Construtivas no Brasil ColonialCONSTRUÇÕES EM PEDRA

Page 28: 05 Tecnicas Construtivas

Dependendo das características do material in natura, tornava-se

necessário, alem da mão-de-obra numerosa, o trabalho de oficiais variados

para o corte das pedras (os mestres canteiros) e para execução da

alvenaria (mestres pedreiros).

Técnicas Construtivas no Brasil ColonialCONSTRUÇÕES EM PEDRA

Page 29: 05 Tecnicas Construtivas

Presente em toda a sucessão de estilos da

arquitetura ocidental, a cantaria começou a ser

empregada no Brasil na segunda metade do

século XVI. Escolhido por Dom João III para ser o

primeiro governador geral da colônia, Tomé de

Souza trouxe, em 1549, Luís Dias, chamado

mestre de pedraria.

Em muitos casos, porém, os projetos vinham já

prontos de Portugal para serem aqui realizados, e

o mesmo sucedia com pedras, principalmente o

Lioz, que cortadas e numeradas na metrópole,

funcionavam como lastro dos navios e eram aqui

montadas nas construções.

Solar Ferrão. Salvador, 1690

Técnicas Construtivas no Brasil ColonialCONSTRUÇÕES EM PEDRA

Page 30: 05 Tecnicas Construtivas

Em seguida, viriam os quartzitos ser amplamente

empregados em Vila Rica, sobretudo nas partes nobres

das construções.

Casa dos Contos (Ouro Preto: cerca de 1780)

Técnicas Construtivas no Brasil ColonialCONSTRUÇÕES EM PEDRA

Page 31: 05 Tecnicas Construtivas

A cantaria em quartzito Itacolomi, aparente, com acabamento refinado e

união das peças feita por encaixes ou argamassa foi introduzida na

arquitetura local para as obras do Palácio dos Governadores pelo

engenheiro militar português José Fernandes Pinto de Alpoim entre os

anos de 1735 e 1738.

Paço Imperial. Rio, 1743

Técnicas Construtivas no Brasil ColonialCONSTRUÇÕES EM PEDRA

Page 32: 05 Tecnicas Construtivas

A terceira fase do uso das rochas nas construções da vila

teve início por volta de 1755 com o emprego do esteatito,

conhecido como pedra-sabão. As ornamentações

encontraram a desejável maleabilidade nesta pedra talcosa

comum na região. Com ela, o Aleijadinho criou seus

frontões, portadas e esculturas.

Durante o século XVIII, o trabalho conjunto de mestres

portugueses e a primeira geração de artistas mineiros, o

emprego dos materiais pétreos locais e o aperfeiçoamento

da arte de construir deram origem às obras de tipologias

diversas que caracterizaram definitivamente a arquitetura

colonial de Ouro Preto.

Já no século XIX, com as mudanças estilísticas e o

desenvolvimento de novos materiais, houve um declínio do

emprego da cantaria.

As alvenarias, que levam canga na alma, revestidas com a

mais branca cal, fazem fundo para o quartzito rosa dos

embasamentos, cunhais e cimalhas que delineiam fachadas

e enquadram ornatos de pedra sabão em uma harmonia

cromática ímpar, formando a mais pura expressão do

barroco mineiro.

Aleijadinho

São Francisco de Assis

(Ouro Preto: 1765)

Técnicas Construtivas no Brasil ColonialCONSTRUÇÕES EM PEDRA

Page 33: 05 Tecnicas Construtivas

A vinda da corte de D. João VI e a chegada da missão francesa, no início século XIX, foram decisivos para o declínio da cantaria.

A adoção do estilo neoclássico, o emprego de novos materiais, a preferência pelos tijolos na execução das alvenarias e o fim do trabalho escravo levaram o ofício às vias de extinção.

Conseqüentemente, perdeu-se a mão-de-obra especializada em trabalhar a pedra, material agora restrito à pavimentação das ruas, pisos, degraus de escadas e revestimento de paredes, em forma de placas.

Grandjean de Montigny / Palácio do Comércio: atual Casa França-Brasil ( Rio: 1819 - 1820)

Técnicas Construtivas no Brasil ColonialCONSTRUÇÕES EM PEDRA

Page 34: 05 Tecnicas Construtivas

Técnicas Construtivas no Brasil ColonialCOBERTURA

Page 35: 05 Tecnicas Construtivas

Técnicas Construtivas no Brasil ColonialCOBERTURA

A disponibilidade do material mais uma vez determinou a opção

para as coberturas. Num primeiro momento, aplicando-se a

palha, como os nativos. Usavam-se também pequenas seções de

cascas de árvore, os cavacos.

A palha que poderia ser retirada das folhas de palmeiras e

também das gramíneas, secas e amarradas no madeiramento,

tradição que ainda persiste em todo o país, inclusive em

construções mais sofisticadas

Rugendas/ Ilustração ( séc. XIX)

Page 36: 05 Tecnicas Construtivas

Técnicas Construtivas no Brasil ColonialCOBERTURA

A pedra, disposta em lajeados, mantinha uma tradição européia, mas não era um material adequado

devido às condições climáticas e ao excesso de peso sobre a estrutura. Só passou a ser utilizada com

mais freqüência a partir do século XIX, quando a ard6sia recobriu palacetes ecléticos.

Com o inicio efetivo da colonização e a crescente necessidade de construções mais duradouras,

implantaram-se as olarias para produção não apenas de tijolos, mas das telhas capa-e-bica ou capa-

e-canal, verdadeiro marco da arquitetura colonial .

As telhas eram dispostas sobre os madeiramentos predominantemente em duas águas,

principalmente nas construções urbanas. Porem alguns elementos agregavam-se, com relativa

freqüência, aos telhados coloniais: águas furtadas, camarinhas ou torreões.

Page 37: 05 Tecnicas Construtivas

Técnicas Construtivas no Brasil ColonialCOBERTURA

Sistema de pontaletes e mãos-francesas como elementos de sustentação das coberturas.

Tesoura de linha alta ou caibro armada se caracteriza pela ausência do pendural e a elevação da linha ao térreo superior da perna.

Devido às características estruturais dos materiais, não

era possível vencer grandes vãos. A solução adotada para

as residências em geral foi o descarregamento do peso do

telhado através do sistema de pontaletes ou mãos

francesas.

Em naves das igrejas, para vencer vãos maiores,

utilizavam-se a tesoura de linha alta (caibro armado) ou as

aspas francesas ou cruz de Santo André.

Para minimizar os esforços construtivos, era comum a

utilização destes quadros com pouco espaçamento, não

mais que 0,80m, descarregando as cargas nos frechais das

paredes perimetrais. Tratava-se do telhado em cangalha

ou de cumeeira entalada.

Aspas francesas para vencer vãos maiores.

Page 38: 05 Tecnicas Construtivas

As telhas de barro são conhecidas do homem há

muito tempo e chegaram ao Brasil junto com os

portugueses que já conheciam a técnica. Eram

geralmente empregadas nas construções de casas

mais abastadas do Brasil - colônia.

A fabricação das telhas era extremamente rústica

e tosca. Em alguns casos, o barro após escolhido,

através de conhecimento empírico, pelo

responsável pela fabricação era amassado até

obter-se a liga desejada, então uma porção era

separada por um escravo e moldada sobre as

próprias coxas.

Em função disso muitos tamanhos e formas de

telhas podiam ser feitos e os encaixes das telhas

em sua maioria eram irregulares. Daí vem a frase

“feito nas coxas”, diz-se de algo que foi mal feito.

Técnicas Construtivas no Brasil ColonialCOBERTURA: Telhas Cerâmicas

Page 39: 05 Tecnicas Construtivas

As telhas são apoiadas sobre madeiramento

previamente construído.

Esse madeiramento deve ser mais resistente

que o madeiramento para cobertura vegetal,

visto que o peso das telhas é superior,

geralmente feito de madeira de lei.

Técnicas Construtivas no Brasil ColonialCOBERTURA: Telhas Cerâmicas

Page 40: 05 Tecnicas Construtivas

Diante do elevado índice pluviométrico era

imprescindível a proteção das paredes, quase todas

compostas de barro em sua execução, material

perecível se exposto diretamente às chuvas

tropicais. Recorrendo a práticas já desenvolvidas

tanto nas possessões na Índia ou Extremo Oriente,

o português fez uso recorrente de um elemento

que se tomou um verdadeiro referencial para a

arquitetura colonial: beirais alongados, com

curiosos ou exóticos acabamentos .

A experiência lusa no Oriente permitiu mais um

amálgama cultural associando o exotismo formal

dos beirais a sua funcionalidade ao proteger as

construções do elevado índice pluviométrico

tropical.

Fazenda Colubandê.

São Gonçalo – RJ (1760)

Técnicas Construtivas no Brasil ColonialCOBERTURA: Beirais

Byodo–in (Câmara do Fênix).

Japão(1053)

Page 41: 05 Tecnicas Construtivas

Diferente da idéia simplificadora, que atribui aos beirais a

função de elemento protetor em relação à insolação, tal

elemento é prioritariamente destinado a proteção contra

as chuvas e seus efeitos danosos ao panos verticais da

construção.

São executados de madeira, pedra ou argamassa, aplicados

coma arremates entre a parede e a projeção das ultimas

fiadas das telhas. Apresentam algumas formas

diferenciadas, ainda que permaneçam com sua função

principal inalterada. São cachorros, cimalhas ou sancas,

executados com menor ou maior apuro formal, conforme a

importância da edificação e a mão-de-obra disponível .

Técnicas Construtivas no Brasil ColonialCOBERTURA: Beirais

Sítio do Padre Inácio.

Cotia – SP (1690)

Byodo–in (Câmara do Fênix).

Japão(1053)

Page 42: 05 Tecnicas Construtivas

Diferente da idéia simplificadora, que atribui aos beirais a

função de elemento protetor em relação à insolação, tal

elemento é prioritariamente destinado a proteção contra

as chuvas e seus efeitos danosos ao panos verticais da

construção.

São executados de madeira, pedra ou argamassa, aplicados

coma arremates entre a parede e a projeção das ultimas

fiadas das telhas. Apresentam algumas formas

diferenciadas, ainda que permaneçam com sua função

principal inalterada. São cachorros, cimalhas ou sancas,

executados com menor ou maior apuro formal, conforme a

importância da edificação e a mão-de-obra disponível .

Técnicas Construtivas no Brasil ColonialCOBERTURA: Beirais

Sítio do Padre Inácio.

Cotia – SP (1690)

Byodo–in (Câmara do Fênix).

Japão(1053)

Page 43: 05 Tecnicas Construtivas

0 beiral em cachorrada no Sítio do Padre

Inácio (Cotia – SP , 1690).

Técnicas Construtivas no Brasil ColonialCOBERTURA: Cachorros

O beiral em cachorrada, como é popularmente

conhecido, trata-se de uma estrutura de madeira

cujo objetivo é afastar as águas pluviais dos

panos verticais, daí sua projeção além do

paramento da parede. Sua aplicação decorre da

ausência de lajes, necessitando uma amarração

de pecas independentes para que sua função

principal seja cumprida.

Os elementos de acabamento, os cachorros

propriamente ditos, podem receber um

entalhamento de marcenaria sofisticada,

inspirado em modelos advindos do oriente, como

animais fantásticos os ou peitos de pombo.

Page 44: 05 Tecnicas Construtivas

Técnicas Construtivas no Brasil ColonialCOBERTURA: Cimalhas e Sancas

Cimalhas e sancas são estruturas continuas de arremates dos telhados.

Confeccionadas de madeira, pedra ou argamassa, podem ser classificadas

de verdadeiras, quando funcionam coma elementos estruturais de descarga

dos esforços de cobertura ou falsas, apenas acabamentos .

Em algumas regiões do país apresentavam formas caprichosas, verdadeiros

rendilhados, com o nome de beira-sobre-beira, que a cultura popular

chamava de beira-saveira. Existe uma tradição em atribuir status aquele

proprietário com beirais requintados sob seus telhados. Por oposição,

aqueles com coberturas sem ornamentação não teriam "eira nem beira”.

Page 45: 05 Tecnicas Construtivas

Técnicas Construtivas no Brasil ColonialREVESTIMENTOS E PINTURA

Até o século XVIII, quando ocorreram grandes

transformações nos acabamentos das edificações, pouco se

alterou nos revestimentos das paredes. Basicamente era

aplicado um emboco de barro, completado por reboco de

cal e areia. Sobrevinha-se o processo de caiação, com cal

retirada da incineração de conchas e mariscos. O aspecto

dominante, portanto, era de uma cidade monotonamente

branca, conforme opinião recorrente de diversos visitantes

estrangeiros, coma Vauthier, Maria Graham, Saint-Hilaire,

Spix e Von Martius.

Contrastando com o branco, as esquadrias eram pintadas de

cores vivas, com predomínio do azul, vinho ou amarelo,

isoladas ou combinadas, a feição de algumas vilas

portuguesas. Neste caso a base é constituída de cola,

têmpera ou óleo (mamona ou linhaça), misturada a corantes

disponíveis no local: do anil, o azul; da cochonilha, o

escarlate; do açafrão, o amarelo; do urucum, o vermelho-

-vivo e do pau-braúna, o negro.

Casario e Igreja de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito

Parati / RJ, séc. XVII.

Page 46: 05 Tecnicas Construtivas

Técnicas Construtivas no Brasil ColonialPISOS: Terra Batida

Assim coma as coberturas, os revestimentos para

os pisos evoluíram a medida que a mão-de-obra

qualificava-se ou valorizavam-se os usos dos

ambientes de morar, trabalhar ou rezar, as

principais atividades coloniais. Os primeiros

exemplares simplesmente utilizavam materiais no

seu estado bruto, como a terra batida ou a pedra

sem nenhum aparelhamento.

A terra batida, ou barro batido, consistia

demarcação da área a ser pavimentada e a

aplicação direta de barro ou terra e algum tipo de

aglomerante rudimentar. A mistura era

diretamente apiloada, aguardando-se sua cura ou

seca para utilização .

Debret (Aquarela/ RJ, séc. XIX.)

Page 47: 05 Tecnicas Construtivas

Técnicas Construtivas no Brasil ColonialPISOS: Pedra

No caso da pedra, eram recolhidos fragmentos de dimensões variadas,

aplicados diretamente sobre o solo, argamassados com barro.

Era comum a utilização de pedras menores, seixos rolados de rios, para

pavimentação de interiores enquanto nas vias aplicavam-se blocos ou

laminas de maiores dimensões. Ambos os casos receberam a peculiar

denominação de calçamento pé-de-moleque . Pé-de-Moleque

Page 48: 05 Tecnicas Construtivas

Técnicas Construtivas no Brasil ColonialPISOS: Pisos em Tijolo

Com o aperfeiçoamento da mão-de-obra e o trabalho dos canteiros, foi

possível substituir a pedra bruta pela aparelhada, principalmente em

locais de maior prestígio, coma átrios de igrejas ou das Casas de Câmara

e Cadeia. Nos interiores mais sofisticados, o lajeado de pedra já se fazia

presente, inclusive com desenhos em sua execução.

Não foi rara a utilização da tijoleira ou peça de barro com dimensões

variadas, aplicadas em ambientes de menor status. Em algumas

ocasiões era utilizado o próprio tijolo como revestimento de piso, ainda

que não apresentasse boa resistência física a tração ou abrasão,

contando com pouca durabilidade.

Sítio do Padre Inácio. Cotia – SP (1690)

Casa do Capitão Xerez.Sobral– CR (séc. XVIII)

Page 49: 05 Tecnicas Construtivas

Técnicas Construtivas no Brasil ColonialPISOS: Madeira

A evolução da marcenaria e carpintaria, associada a utilização

de novo instrumental, permitiu a aplicação de pisos de

madeira, o conhecido tabuado corrido, outra referência

construtiva colonial. Eram peças com cerca de 6m de

comprimento, 0,40m de largura e 0,05m de espessura (trinta

ou quarenta palmos x dois palmos x duas polegadas), apoiadas

em barrotes de madeira, que por sua vez apoiavam-se nos

baldrames, no caso do pavimento térreo, ou em madres, nos

pavimentos intermediários.

As grandes tábuas poderiam ser justapostas sem nenhum

encaixe, as juntas--secas, ou utilizar macho-fêmea, meio-fio ou

45°, evitando frestas. Toda a madeira utilizada era de ótima

qualidade, de lei, chibatãs, jacarandás, mognos, sucupiras,

perobas, porem sem qualquer tratamento para aumentar sua

durabilidade, nem o cuidado para sua reposição. Continuava a

devastação das matas e a exaustão das reservas vegetais, sem

preocupação com o futuro próximo.Casa da Hera; Vassouras – RJ (séc. XIX)

Page 50: 05 Tecnicas Construtivas

Técnicas Construtivas no Brasil ColonialFORROS

Os forros foram utilizados de diferentes formatos para atender a

objetivos muito diferenciados: a diminuição do alto pé-direito, a

manutenção da ventilação cruzada ou, principalmente, a valorização do

ambiente social doméstico ou de uso público, como igrejas, lojas ou

câmaras.

Também como os pisos, evoluíram com a melhoria da mão-de-obra e

instrumento de marcenaria. Quanto à forma, poderiam ser encontrados

forros lisos , em gamela, caixotão ou abobadados, com sua peças presas

diretamente ao madeiramento da cobertura ou barrotes do pavimento

superior.

Em relação ao material, encontramos peças habitadas sem forros, a

conhecida telha vã, propícia para a ventilação, porém de acabamento

precário. Ainda com rusticidade, esteiras de taquara diminuíam o pé-

direito, mantinham a ventilação e poderiam apresentar desenhos em

seus trançados.

O estuque foi fartamente utilizado, tanto na arquitetura residencial

quanto em programas mais elaborados. Neste caso, uma trama de

bambus ou fasquias de madeira era amarrada na estrutura da cobertura

e sobre ela aplicada uma argamassa composta por pó-de-mármore, areia

fina e um aglomerante. Também era utilizada a esteira de taquara

trançada para receber a massa, com posterior pintura.

Forro Liso

Forro Saia-e-camisa

Page 51: 05 Tecnicas Construtivas

Técnicas Construtivas no Brasil ColonialFORROS

Entre todos os materiais, no entanto, devido as suas possibilidades, a

madeira predominou na confecção dos forros.

Tábuas mais estreitas e finas do que nos pisos, com encaixes mais

elaborados como o duplo-fêmea, ou a simples superposição, saia-e-

camisa , peças que eram arrematadas nas paredes através de

caprichosas sancas ou cimalhas.

Forro Caixotão

Solar Ferrão. Salvador, 1690

Page 52: 05 Tecnicas Construtivas

Técnicas Construtivas no Brasil ColonialESQUADRIAS: Muxarabi

Casa de Chica da Silva. Diamantina - MG, séc. XVIII

Sobre as ombreiras assentavam-se as esquadrias de madeira, quase

sempre duplas: os panos cegos e os vazados, peças maciças e

treliçadas, respectivamente.Pela face interna, tábuas justapostas

contra ventadas; pelo exterior, fasquias entrecruzadas de influencia

muçulmana: rótu1as, gelosias e muxarabis .

Estas esquadrias, mais uma vez, atestam a capacidade lusa de

adaptação, pois as tre1iças tornaram-se ideais como regu1adores

climáticos, pois propiciavam a venti1açao constante, auxiliada por

bandeiras sempre vazadas, iluminação disciplinada e a manutenção

da privacidade. Tais vantagens foram esquecidas ou simplesmente

desprezadas quando, com a chegada de D.João, as peças foram

proibidas e proscritas pelo rei para uma cidade que não poderia

continuar com "góticos costumes”.

Page 53: 05 Tecnicas Construtivas

Técnicas Construtivas no Brasil ColonialESQUADRIAS

Sistema de contraventamento interno das janelas

Casario e Igreja de Nossa Senhora do Rosário e S. Benedito

Parati / RJ, séc. XVII.

Deve ser registrado que a utilização do vidro foi muito rara no Período Colonial, já que

tal produto não era aqui fabricado. Quando necessária sua aplicação em obras de

grande porte, o mesmo era importado em pequenas peças e inc1uído em caixilharias de

vidro miúdo, em vitrais ou óculos da arquitetura religiosa.

Após sua proibição, seu uso se popularizou, substituindo as antigas treliças por janelas

de guilhotina. No entanto, todas as vantagens da esquadria original foram abolidas,

gerando uma peça que não permitia ventilação adequada, não controlava a

luminosidade enquanto a antiga privacidade foi mantida com a utilização de generosos

bordados que protegiam a folha inferior das guilhotinas, mantendo o sigilo do interior

das moradas em relação as ruas, cujo trafego gradativamente se intensificava .

Page 54: 05 Tecnicas Construtivas

Técnicas Construtivas no Brasil ColonialFERRAGENS

Para o fechamento, utilizavam-se ferrolhos, barras colocadas

verticalmente nas folhas, com funcionamento de cremona,

semelhante a modelos mais recentes

Devido às dificuldades de produção -tanto por causa da ausência da

mão-de-obra quanto pelas condições materiais - as ferragens eram

precárias, escassas, geralmente fabricadas pelos ferreiros, utilizando o

ferro forjado, de grande espessura.

Não raramente, eram substituídas por encaixes de madeira ou pedaços

de couro, muito frágeis para suportar o peso das peças de madeira

maciça que constituíam as folhas de esquadrias.

As dobradiças tipo machadinha , leme ou cachimbo eram fixadas com

grossos cravos de ferro, aplicados em peças transversais de madeira.

Page 55: 05 Tecnicas Construtivas

Técnicas Construtivas no Brasil ColonialFERRAGENS

Ainda eram aplicadas as aldrabas - alças de metal sobre

um batente -funcionando como uma campainha primitiva,

para avisar da presença do visitante.

Os espelhos das fechaduras, à medida que se

aproximava o século XVIII, poderiam contar com maior

cuidado na elaboração, verdadeiras cartelas de gosto

barroco ou rococó

Page 56: 05 Tecnicas Construtivas

“ Cada mestre, oficial ou aprendiz – pedreiro, taipeiro, carpinteiro, alvanéu – trazia consigo a

lembrança da sua província e a experiência do seu ofício, daí a simultânea adoção, logo de

início, das diferenciadas feições arquitetônicas próprias de cada modo de construir: a taipa de

sebe, ou de mão – pau-a-pique -, o adobe, a alvenaria de tijolo, a pedra e cal. (...) a taipa de

pilão, encontrando terreno propício, fixou-se principalmente em São Paulo; a alvenaria de

tijolo floresceu mais em Pernambuco e na Bahia; nas terras acidentadas de Minas, onde os

caminhos acompanhavam as cumeadas, com as casas despencando pelas encostas, o pau-a-

pique sobre baldrame de pedra foi a solução natural; já no Rio de Janeiro, a fartura de granito

marcou a perspectiva urbana com a sequência ritmaa das ombreiras e vergas de pedra –

suporte e arquitrave -, princípio construtivo da Grécia antiga.”

Desenhos de Lucio Costa

Técnicas Construtivas no Brasil ColonialA EVOLUÇÃO CONSTRUTIVA SEGUNDO LUCIO COSTA