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33 Neuroaccounting: reinterpretando resultados de pesquisas em Contabilidade Gerencial Neuroaccounting: reinterpreting research results in Managerial Accounting Francisco Carlos Fernandes a, * e Vinícius Costa da Silva Zonatto b a Programa de PósGraduação em Ciências Contábeis, Universidade Regional de Blumenau (PPGCC/FURB), Blumenau, Santa Catarina, Brasil; b Universidade Regional de Blumenau (FURB) , Blumenau, Santa Catarina, Brasil Resumo Este estudo objetiva analisar resultados de pesquisas anteriores realizadas em contabilidade gerencial, sob as perspectivas da neuroaccounting, considerandose os achados de Dickhaut, Basu, Mccabe e Waymire (2010), em Neuroaccounting: Consilience between the biologically evolved brain and culturally evolved accounting principles. Tratase de um ensaio teórico, baseado em uma pesquisa bibliográfica, que busca reinterpretar os resultados dos estudos desenvolvidos por Guerreiro, Casado e Bio (2001), Slomski, Batista e Carvalho (2003), Megliorini e Guerreiro (2004), Guerreiro, Crozatti e Ribeiro (2005a) e Guerreiro, Frezatti e Casado (2006). A justificativa para o estudo está nos achados de Dickhaut et al. (2010), o qual aponta para uma explicação científica da evolução das práticas de contabilidade. Segundo os autores, os princípios da contabilidade evoluíram culturalmente, emergindo e persistindo, porque é coincidente com a forma como o cérebro evoluiu biologicamente para fomentar o intercâmbio social. Logo, podese explicar o porquê do baixo grau de implementação de novas técnicas e conceitos de contabilidade gerencial em algumas organizações. Concluise que, por meio da neuroaccounting, é possível entender melhor alguns resultados de estudos anteriores. Verificase também que o processo de implementação de sistemas de controles gerenciais deve mudar, devendose ponderar sobre o condicionamento do cérebro humano. © Cien. Cogn. 2013; Vol. 18 (1): 033 045. Palavraschave: neuroaccounting; contabilidade gerencial; ensaio teórico. Abstract This study aims at analyzing the results of prior research in managerial accounting, under the perspectives of neuroaccounting, considering the thoughts of Dickhaut, Basu, Mccabe and Waymire (2010), in Neuroaccounting: Consilience between the biologically evolved brain and culturally evolved accounting principles. This is a theoretical essay, Ensaio Teórico F. C. Fernandes Endereço para correspondência: Rua Antônio da Veiga, 140 Sala D 202 Bairro Victor Konder Caixa Postal 1507 CEP 89012900 Blumenau/SC Brasil. Email para correspondência: [email protected] . V. C. S. Zonatto Endereço para correspondência: Rua Antônio da Veiga, 140 Sala D 202 Bairro Victor Konder Caixa Postal 1507 CEP 89012900 Blumenau/SC Brasil. Email para correspondência: [email protected] . Ciências & Cognição 2013; Vol 18 (1): 033045 <http://www.cienciasecognicao.org > © Ciências & Cognição Submetido em 13/06/2012 | Revisado em 20/03/2013 | Aceito em 26/04/2013 | ISSN 18065821 – Publicado on line em 30/04/2013

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 Neuroaccounting:  reinterpretando  resultados  de  

pesquisas  em  Contabilidade  Gerencial    

Neuroaccounting:  reinterpreting  research  results  in  Managerial  Accounting    

Francisco  Carlos  Fernandesa,  *  e  Vinícius  Costa  da  Silva  Zonattob  

 aPrograma  de  Pós-­‐Graduação  em  Ciências  Contábeis,  Universidade  Regional  de  

Blumenau  (PPGCC/FURB),  Blumenau,  Santa  Catarina,  Brasil;    bUniversidade  Regional  de  Blumenau  (FURB)  ,  Blumenau,  Santa  Catarina,  Brasil  

 Resumo    Este   estudo   objetiva   analisar   resultados   de   pesquisas   anteriores   realizadas   em  contabilidade   gerencial,   sob   as  perspectivas  da  neuroaccounting,   considerando-­‐se  os  achados   de   Dickhaut,   Basu,   Mccabe   e   Waymire   (2010),   em   Neuroaccounting:  Consilience   between   the   biologically   evolved   brain   and   culturally   evolved   accounting  principles.  Trata-­‐se  de  um  ensaio  teórico,  baseado  em  uma  pesquisa  bibliográfica,  que  busca  reinterpretar  os  resultados  dos  estudos  desenvolvidos  por  Guerreiro,  Casado  e  Bio   (2001),   Slomski,   Batista   e   Carvalho   (2003),   Megliorini   e   Guerreiro   (2004),  Guerreiro,   Crozatti   e   Ribeiro   (2005a)   e   Guerreiro,   Frezatti   e   Casado   (2006).   A  justificativa  para  o  estudo  está  nos  achados  de  Dickhaut  et  al.   (2010),  o  qual  aponta  para  uma  explicação  científica  da  evolução  das  práticas  de  contabilidade.  Segundo  os  autores,   os   princípios   da   contabilidade   evoluíram   culturalmente,   emergindo   e  persistindo,  porque  é  coincidente  com  a  forma  como  o  cérebro  evoluiu  biologicamente  para  fomentar  o  intercâmbio  social.  Logo,  pode-­‐se  explicar  o  porquê  do  baixo  grau  de  implementação  de  novas  técnicas  e  conceitos  de  contabilidade  gerencial  em  algumas  organizações.   Conclui-­‐se   que,   por   meio   da   neuroaccounting,   é   possível   entender  melhor  alguns  resultados  de  estudos  anteriores.  Verifica-­‐se  também  que  o  processo  de  implementação  de  sistemas  de  controles  gerenciais  deve  mudar,  devendo-­‐se  ponderar  sobre  o   condicionamento  do  cérebro  humano.  ©  Cien.  Cogn.  2013;  Vol.  18   (1):  033-­‐045.    Palavras-­‐chave:  neuroaccounting;  contabilidade  gerencial;  ensaio  teórico.    Abstract    This   study   aims   at   analyzing   the   results   of   prior   research   in  managerial   accounting,  under  the  perspectives  of  neuroaccounting,  considering  the  thoughts  of  Dickhaut,  Basu,  Mccabe  and  Waymire  (2010),  in  Neuroaccounting:  Consilience  between  the  biologically  evolved  brain  and  culturally  evolved  accounting  principles.  This   is  a   theoretical  essay,  

Ensaio  Teórico  

 F.  C.  Fernandes  -­‐  Endereço  para  correspondência:  Rua  Antônio  da  Veiga,  140  -­‐  Sala  D  202  -­‐  Bairro  Victor   Konder   -­‐   Caixa   Postal   1507   -­‐   CEP   89012-­‐900   -­‐   Blumenau/SC   -­‐   Brasil.   E-­‐mail   para  correspondência:  [email protected].  V.  C.  S.  Zonatto  -­‐  Endereço  para  correspondência:  Rua  Antônio   da   Veiga,   140   -­‐   Sala   D   202   -­‐   Bairro   Victor   Konder   -­‐   Caixa   Postal   1507   -­‐   CEP   89012-­‐900   -­‐  Blumenau/SC  -­‐  Brasil.  E-­‐mail  para  correspondência:  [email protected].

Ciências  &  Cognição  2013;  Vol  18  (1):  033-­045  <http://www.cienciasecognicao.org>                                                            ©  Ciências  &  Cognição  Submetido  em  13/06/2012  |  Revisado  em  20/03/2013  |  Aceito  em  26/04/2013  |  ISSN  1806-­‐5821  –  Publicado  on  line  em  30/04/2013  

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based   on   a   literature   research,   which   intends   to   reinterpret   the   results   of   studies  carried  out  by  Guerreiro,  Casado  and  Bio  (2001),  Slomski,  Batista  and  Carvalho  (2003),  Megliorini  and  Guerreiro  (2004),  Guerreiro,  Crozatti  and  Ribeiro  (2005a)  and  Guerreiro,  Frezatti  and  Casado  (2006).  The  justification  for  this  study  is  based  on  the  discoveries  of  Dickhaut   et   al.   (2010),   who   points   to   a   scientific   explanation   of   the   evolution   of  accounting  practices.  According  to  the  authors,  the  accounting  principles  have  evolved  culturally,   emerging   and   persisting,   because   it   is   coincident   with   the   way   the   brain  evolved  biologically   to  promote   social  exchange.  Therefore,   it   is  a  way   to  explain   the  low  level  of  implementation  of  new  techniques  and  concepts  of  managerial  accounting  in   some   organizations.   It   may   be   concluded   that,   through   neuroaccounting,   it   is  possible  to  understand  some  of  the  results  of  previous  studies.  It  is  also  observed  that  the  process  of   implementing  managerial   controlling   systems  must   change,  pondering  on  the  conditioning  of  the  human  brain.  ©  Cien.  Cogn.  2013;  Vol.  18  (1):  033-­‐045.    Keywords:  neuroaccounting;  managerial  accounting;  theoretical  essay.  

 1  Introdução       Em   tempos   de   reflexão   sobre   o   atual   estágio   de   desenvolvimento   da  contabilidade   gerencial   e   sua   efetiva   contribuição   no   processo   de   gestão   das  organizações,   diversos   estudos   tem   sido   desenvolvidos   sobre   a   perspectiva  institucional   (Souza,   Lisboa   &   Rocha,   2003;   Guerreiro,   Pereira   &   Lopes,   2004;  Guerreiro,  Frezatti,  Lopes  &  Pereira,  2005b;  Soutes  &  Zen,  2005;  Guerreiro,  Frezatti  &  Casado,  2006;  Zan,  2006;  Soutes  &  Guerreiro,  2007;  Oyadomari,  Cardoso,  Mendonça  Neto  &  Lima,  2008;  Grande  &  Beuren,  2011;  Teixeira,  Gonzaga,  Santos  &  Nossa,  2011),  onde   se   procura   entender   a   relação   existente   entre   a   contabilidade   gerencial   e   as  necessidades   informacionais   das   organizações.   Sob   este   enfoque,   um   aspecto   que  ganha   ênfase   nos   estudos   relacionados   a   este   tema,   são   os   controles   de   gestão  utilizados  pelas  organizações.         Os   controles   de   gestão   são   desenvolvidos   face   às   necessidades   identificadas  para  a  realização  dos  objetivos  da  organização.  Desse  modo,  evidencia-­‐se  o  papel  da  contabilidade   gerencial   neste   processo,   com   a   utilização   de   seus   artefatos   no  gerenciamento  do  sistema  de  informações  da  empresa,  com  a  finalidade  de  subsidiar  o  processo  decisório.     Os   artefatos   utilizados   pela   contabilidade   gerencial   são   instrumentos   que  auxiliam  os  gestores  no  controle  das  atividades  da  empresa.  Segundo  Borinelli  (2006),  a  concepção  de  artefatos  engloba  todos  os  instrumentos,  as  ferramentas  de  controle,  os  modelos  de  gestão,  as  filosofias  de  trabalho,  que  auxiliam  o  processo  de  gestão.       Assim   sendo,   entende-­‐se   que   a   contabilidade   gerencial   tem   sua   importância  justificada  na  medida  em  que  contribui  para  os  gestores  das  organizações  no  processo  de   tomada   de   decisão,   produzindo   informações   úteis   e   oportunas.   No   entanto,  “pesquisas   empíricas   constatam   que   apesar   de   fatores   indutores   e   facilitadores   do  ambiente   externo,   o   que   se   observa   é   o   baixo   grau   de   implementação   de   novas  técnicas  e  conceitos  de  contabilidade  gerencial  nas  empresas”  (Guerreiro  et  al.,  2006,  p.  7).       De   acordo   com   Guerreiro,   Casado   e   Bio   (2001,   p.11),   isto   pode   estar  relacionado   com   o   inconsciente   das   pessoas.   O   “inconsciente   próprio   de   um   grupo  pode   ser   definido   como   uma   camada   de   inconsciente   que   corresponde   a   um  determinado   grupo   humano,   caracterizado   por   um   conjunto   de   crenças,   hábitos,  costumes,  tradições  e  formas  de  pensar  comuns  destes  indivíduos”.  

Ciências  &  Cognição  2013;  Vol  18  (1):  033-­045  <http://www.cienciasecognicao.org>                                                            ©  Ciências  &  Cognição  Submetido  em  13/06/2012  |  Revisado  em  20/03/2013  |  Aceito  em  26/04/2013  |  ISSN  1806-­‐5821  –  Publicado  on  line  em  30/04/2013  

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    Deste   modo,   pode-­‐se   pressupor   que   as   decisões   humanas   estejam  indiretamente   relacionadas   ao   seu   inconsciente.   Logo,   a   adoção   ou   abandono   de  determinado   instrumento   de   controle   pode   estar   relacionado   diretamente   com   o  cérebro,  a  evolução  do  gestor  e  o  contexto  onde  este  está  inserido.       Nesta   perspectiva,   Dickhaut,   Basu,   Mccabe   e   Waymire   (2010,   p.   222)  desenvolveram   uma   pesquisa   buscando   relacionar   a   evolução   dos   princípios   da  contabilidade  a  evolução  do  homem,  por  meio  da  neurociência.  Segundo  os  autores,  “os   princípios   contábeis   surgiram  e  persistem  porque   são   consonantes   com  a   forma  como  o  cérebro  evoluiu  biologicamente  para  avaliar  oportunidades  de  intercâmbio”.       Assim  sendo,  é  plausível  se  pensar  em  neuroaccounting,  onde  se  passaria  a  ter  uma  explicação   científica   sob  a   evolução  das  práticas  de   contabilidade  gerencial   nas  organizações.  Neste  contexto,  utilizando-­‐se  desta  abordagem,  realizou-­‐se  este  ensaio,  cujo   propósito   central   consistiu   na   análise   dos   resultados   de   pesquisas   anteriores  realizadas   em   contabilidade   gerencial,   sob   as   perspectivas   da   neuroaccounting,  levando-­‐se  em  consideração  os  achados  de  Dickhaut  et  al.  (2010).       A(s)   questão(ões)   problema   que   norteou(aram)   a   pesquisa   foi(ram):   A  neuroaccounting   efetivamente  modificaria   as   conclusões   de   trabalhos   anteriores?  As  conclusões  seriam  as  mesmas  ou  se  modificariam?  Poder-­‐se-­‐ia  explicar  o  baixo  grau  de  implementação  de  novas  técnicas  e  conceitos  de  contabilidade  gerencial,  evidenciadas  em   algumas   organizações?   Para   que   fosse   possível   responder   a(s)   questão(ões)  problema,   procurou-­‐se   reinterpretar   os   resultados   dos   estudos   realizados  anteriormente  por  Guerreiro,  Casado  e  Bio  (2001),  Slomski,  Batista  e  Carvalho  (2003),  Megliorini   e   Guerreiro   (2004),   Guerreiro,   Crozatti   e   Ribeiro   (2005a)   e   Guerreiro,  Frezatti  e  Casado  (2006).       O   ensaio   teórico   justifica-­‐se   por   contribuir   para   o   desenvolvimento   de  pesquisas   com   uma   nova   abordagem   científica,   denominada   de   neuroaccounting,   a  qual   busca   relacionar   estudos   da   neurociência   com  a   contabilidade.  O   trabalho   está  estruturado  em  quatro  partes:  inicialmente  apresentam-­‐se  os  estudos  que  estimulam  a   discussão.   A   seguir,   descrevem-­‐se   os   achados   de   Dickhaut   et   al.   (2010)   e   a  neuroaccounting.   Por   fim   são   apresentados   os   resultados   da   pesquisa   e   as  considerações  finais  do  estudo.    2  Apresentação  dos  estudos  que  estimulam  a  discussão         A   proposta   apresentada   na   introdução   deste   estudo   foi   constituída   de   uma  pesquisa   empírica   realizada   a   partir   dos   achados   de   cinco   estudos,   os   quais   são  analisados  a  seguir,  na  sequência  de  sua  publicação.    2.1  Guerreiro,  Casado  e  Bio  (2001)         Guerreiro   et   al.   (2001,   p.   6)   desenvolveram   um   estudo   com   o   objetivo   de  promover   “uma   reflexão   sobre   as   causas   de   aceitação,   por  muitas   pessoas   da   área  contábil,  de  conceitos  que   já   foram  comprovados  como   ineficazes  para  a  gestão  das  empresas”.   Para   tanto,   utilizaram-­‐se   de   conceitos   da   psicologia   (Teoria   Junguiana),  estabelecendo  duas  hipóteses  de  pesquisa.         Na  primeira  (H1),  os  autores  inferem  sob  a  existência  de  determinadas  causas  de  natureza  comportamental,  as  quais  condicionam  e  induzem  um  grupo  de  pessoas  a  

Ciências  &  Cognição  2013;  Vol  18  (1):  033-­045  <http://www.cienciasecognicao.org>                                                            ©  Ciências  &  Cognição  Submetido  em  13/06/2012  |  Revisado  em  20/03/2013  |  Aceito  em  26/04/2013  |  ISSN  1806-­‐5821  –  Publicado  on  line  em  30/04/2013  

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aceitarem  determinados  conceitos.   Já  a  segunda   (H2),  com  base  na  premissa  de  que  processos   de   reflexão   levam   as   pessoas   a  mudar   suas   percepções,   crenças,   valores,  conceitos   e   comportamentos,   os   autores   buscam   identificar   se   o   Programa   de   Pós-­‐Graduação  em  Controladoria  e  Contabilidade  da   FEA/USP,   ao  propiciar  processos  de  reflexão,  constitui-­‐se  em  instrumento  eficaz  de  mudança  na  forma  de  pensar  de  seus  alunos.       Além  de  revisitarem  obras  fundamentais  da  área  de  contabilidade  de  custos,  os  autores   desenvolvem  uma  pesquisa   exploratória   com  alunos   do   PPGCC  da   FEA/USP,  sob   a   perspectiva   da   teoria   junguiana.   Neste   estudo   são   apresentados   conceitos   da  psicologia  de  consciente,  inconsciente  pessoal,  inconsciente  coletivo  e  arquétipo.       O   consciente   das   pessoas   está   relacionado   com   o   nível   de   conhecimento  adquirido  pelo  indivíduo  em  seu  meio  de  convivência.  Ao  que  se  refere  ao  inconsciente  pessoal,   Santos   (1976,   p.   21)   explica   que   este   “vai   se   formando   com   o   indivíduo.  Constitui-­‐se   de   coisas   simplesmente   esquecidas;   de   coisas   que,   por   exemplo,  passaram-­‐se  ao  nosso  redor,  mas  a  que  não  demos  atenção  para  podermos  concentrar  em   outras   que,   no  momento,   nos   estavam   interessando  mais   (coisas   suprimidas);   e  também  de  coisas  reprimidas  (de  que  fizemos  até  força  para  não  lembrarmos  mais)”.       Em  relação  ao  inconsciente  coletivo,  Jung  (1995,  p.  86)  explica  que  este  “é  uma  figuração  do  mundo,  representando  a  um  só  tempo  a  sedimentação  multimilenar  da  experiência.   Com   o   correr   do   tempo,   foram-­‐se   definindo   certos   traços   nessa  configuração.   São  os  denominados   arquétipos  ou  dominantes   –  os   dominadores   (...)  isto   é,   configurações   das   leis   dominantes   e   dos   princípios   que   se   repetem   com  regularidade   à   medida   que   se   sucedem   as   figurações   as   quais   são   continuamente  revividas  pela  alma”.         Os  resultados  encontrados  indicam  a  validade  das  duas  hipóteses  de  pesquisa.  Contudo,  os  autores  destacam  neste  estudo  que  (2001,  p.  20)  “dentre  os  alunos  que  já  passaram   pelo   programa   de   pós-­‐graduação,   alguns   não   conseguiram   libertar-­‐se   dos  antigos   sistemas   de   pensamento,   apesar   do   processo   de   reflexão   a   que   foram  submetidos”.   Os   autores   destacam   ainda   que   estes   alunos   “são   pessoas   altamente  intelectualizadas,  mas  que  aceitam  conceitos  contábeis   inadequados  para   finalidades  gerenciais  específicas”.      2.2  Slomski,  Batista  e  Carvalho  (2003)         Os   autores   desenvolveram   uma   pesquisa   empírica   realizada   com   alunos   da  Universidade  Estadual  de  Montes  Claros  (UNIMONTES)  e  da  Universidade  de  São  Paulo  (USP),   incluindo  os  conceitos  advindos  da  psicologia  analítica  de  Jung,  relacionados  a  personalidade   dos   indivíduos   (consciência,   inconsciente   pessoal   e   inconsciente  coletivo).  A  motivação  desta  pesquisa  surgiu  a  partir  dos  achados  de  Guerreiro  et  al.  (2001),   onde   os   autores   destacam   a   sua   preocupação   com   a   pesquisa   de   aspectos  psicológicos   que   influenciam   as   crenças   e   preconceitos   dos   profissionais   de  Contabilidade   relacionados   com   a   área   de   Contabilidade   de   Custos   (Slomski   et   al.,  2003,  p.  10).       O  propósito  central  do  estudo  foi  verificar  a  formação  do  inconsciente  de  grupo  entre  os  alunos  pesquisados.  A  pesquisa  inicia  apresentando  os  achados  de  Guerreiro  et  al.  (2001),  onde  estes  concluíram  que  existe  um  inconsciente  do  grupo  de  pessoas  ligadas   a   contabilidade,   e   que   por   esta   razão,   as   pessoas   estariam   pré-­‐dispostas   a  

Ciências  &  Cognição  2013;  Vol  18  (1):  033-­045  <http://www.cienciasecognicao.org>                                                            ©  Ciências  &  Cognição  Submetido  em  13/06/2012  |  Revisado  em  20/03/2013  |  Aceito  em  26/04/2013  |  ISSN  1806-­‐5821  –  Publicado  on  line  em  30/04/2013  

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assumir   o   custeio   por   absorção   como   o  método   de   custeio  mais   adequado   para   se  custear  produtos  em  um  entidade,  independente  de  sua  pouca  (ou  nenhuma)  utilidade  no  processo  decisório.       A  construção  da  pesquisa  tem  início  com  o  estabelecimento  de  duas  hipóteses  de  pesquisa:  H1-­‐  o  inconsciente  de  grupo  começa  a  ser  formado  nos  alunos  a  partir  do  estudo   da   disciplina   de   Contabilidade   de   Custos   na   graduação   e;   H2-­‐   os   alunos   de  Contabilidade,   antes   do   contato   com   a   disciplina   de   Contabilidade   de   Custos,  entendem  como  forma  de  se  custear  os  produtos  o  custeio  variável.         Na   literatura,   são   revisitados   conceitos   da  psicologia   analítica,   discorrendo-­‐se  sobre   a   Teoria   Junguiana   (conceitos   de   personalidade,   consciência,   inconsciente  pessoal  e   inconsciente  coletivo).  De  acordo  com  o  teórico,  o  desenvolvimento  do  ser  humano   leva  em  consideração  o  passado  na  busca  pelo   futuro.  Os  autores   (2003,  p.  11)  destacam  que  “o  reconhecimento  desta   interação  passado  e  futuro  é   importante  para  a  sequência   lógica  do  estudo”.  Assumem  o  pressuposto  de  que  “o   inconsciente  coletivo   funciona,   na   interpretação   psicológica,   como   o   denominador   comum   que  reúne   e   explica   numerosos   fatos   impossíveis   de   entender   no   momento   atual   da  ciência”.           Nesta   concepção,   os   autores   procuram   relacionar   estes   conceitos   com   a  contabilidade   de   custos,   mais   especificamente   ao   custeio   por   absorção   e   o   custeio  variável,  procurando  identificar  se  existem,  entre  os  indivíduos  pesquisados,  mudanças  de  concepção  relacionada  ao  tratamento  dos  custos.  A  expectativa  dos  pesquisadores  eram   encontrar   indícios   do   surgimento   do   inconsciente   próprio   da   contabilidade   de  custos,   caracterizados   por   Guerreiro   et   al.   (2001)   nos   alunos.   No   entanto,   os  resultados   encontrados   evidenciaram   que   para   a   amostra   pesquisada   não   foram  encontrados  indícios  que  sustentem  a  formação  do  inconsciente  de  grupo.         Assim  sendo,  não  se  pode  afirmar  com  propriedade  se  ocorre  uma  mudança  na  concepção   do   entendimento   de   custos   entre   os   grupos   de   alunos   de   contabilidade,  uma  vez  que  os   resultados  apresentados  não  demonstraram  sinais  de  seguirem  uma  tendência.   Pode-­‐se   concluir   também  que,   ainda  para   o   grupo  pesquisado,   os   alunos  não  apresentam  uma  concepção  de  custos  congruente  com  o  custeio  variável  antes  do  estudo   da   disciplina   e   que   esta   concepção   vai   se   modificando   após   o   cursarem   os  conteúdos  relacionados  às  disciplinas  de  contabilidade  e  análise  de  custos  (Slomski  et  al.,  2003,  p.  18).          2.3  Megliorini  e  Guerreiro  (2004)         Neste  artigo  os  autores  realizam  um  estudo  buscando   identificar  os  conceitos  de   mensuração   empregados   para   a   realização   da   estimativa   de   custos,   informação  importante   para   a   fixação   do   preço   de   venda   para   empresas   que   fabricam   sob  encomenda,  e  para  apuração  dos  resultados.  O  objetivo  desta  pesquisa  é  identificar  os  conceitos  que  são  utilizados  na  prática  pelas  empresas.         Para  isto,  foi  realizada  uma  pesquisa  empírica  com  gestores  de  um  conjunto  de  dez  empresas  fabricantes  de  bens  de  capital  sob  encomenda,  conduzida  por  meio  de  entrevistas   do   tipo   estruturadas,   visando   identificar   os   principais   conceitos   de  mensuração   empregados   nas   mesmas.   A   motivação   para   o   estudo   surge   dos  problemas   teóricos   e   práticos   evidenciados   para   a  mensuração   de   lucros,   tais   como  

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percepções   e   referências   das   pessoas   e   as   decisões   por   elas   tomadas   (Megliorini   &  Guerreiro,  2004,  p.  2).       A   revisão   da   literatura   apresenta   uma   discussão   sobre   alguns   conceitos   de  mensuração.   Foram   apresentados   neste   estudo   os   conceitos   de   mensuração   do  Sistema  de  Gestão  Econômica  pesquisados:  Método  de  Custeio  Variável;  Margem  de  Contribuição;   Impactos   Tempo-­‐Conjunturais;   Valor   de   Mercado   à   Vista   e   Custo  Corrente  Corrigido.       Os   resultados   da   pesquisa   evidenciam   que   os   conceitos   de   mensuração  empregados  são  derivados  dos  Princípios  Fundamentais  de  Contabilidade,  os  quais  são  retratados  por  diversos  pesquisadores   como  não   sendo,  do  ponto  de   vista  da   teoria  normativa,   os  mais   apropriados   para   a   formação   do   preço   de   venda   e   apuração   de  resultados  em  nível  gerencial.  Segundo  os  autores  (2004,  p.  12-­‐13),  o  fato  de  a  maioria  das  empresas  não  utilizar  os  conceitos  do  Sistema  de  Gestão  Econômica,  ainda  que  os  gestores   percebam   sua   superioridade,  merece  mais   pesquisas.   No   entanto,   pode-­‐se  inferir,  em  concordância  com  a  literatura,  que  a  razão  de  sua  não  utilização  resulta  da  comodidade   de   utilizar   um   único   sistema   de   informação   contábil   ao   invés   de  desenvolver  um  para  cumprir  as  exigências  legais  e  outro  para  fins  gerenciais,  embora  se   possa   considerar   que   a   transição   de   um   sistema   em   uso   para   um   novo   não   se  processa  de  maneira  tão  suave.       Megliorini   e   Guerreiro   (2004)   destacam   ainda   que   o   gestor   responsável   pela  formação   do   preço   de   venda   realiza   ajustes   arbitrários   nos   custos   ou   no   preço,  apoiado  em  seu  feeling  e  na  experiência  acumulada.  Embora  a  intuição  e  a  capacidade  de   percepção   complementem   a   capacitação   técnica   para   a   tomada   de   decisões,   os  gestores  necessitam  de  ferramentas  adequadas  de  apoio  à  gestão,  com  as  quais  seja  possível   avaliar   de  maneira   rápida  um  vasto  número  de  alternativas  que  os   levem  a  aproveitar   as   oportunidades   como   elementos   de   diferenciação   e   de   vantagem  competitiva  (2004,  p.  13).    2.4  Guerreiro,  Crozatti  e  Ribeiro  (2005a)         Neste  estudo,  Guerreiro  et  al.   (2005a)  buscam   identificar  como  determinados  conceitos  apresentados  na  teoria  contábil  estão  sendo  usados  por  empresas  brasileiras  na  prática  da  mensuração  de  ativos  para  efeito  de  elaboração  de  relatórios  gerenciais.  Foram  analisados  na  pesquisa  53  questionários,  obtidos  por  meio  de  um  levantamento  (survey)  junto  a  um  conjunto  de  empresas  cadastradas  no  banco  de  dados  da  FIPECAFI.         Os   autores   destacam   (2005,   p.   92)   que   “os   relatórios   gerenciais   são   mais  completos   e   podem   suportar   de   forma   mais   eficiente   o   processo   decisório   das  organizações”.  Assim  sendo,  confrontou-­‐se  a  prática  nas  empresas  com  os  parâmetros  da   teoria   contábil   apresentada   na   bibliografia,   no   que   se   refere   aos   conceitos   de  mensuração   de   ativos   (mensuração   a   valores   de   entrada:   custo   histórico,   custo  corrente,  custo  corrente  corrigido;  mensuração  a  valores  de  saída:  valor  de  realização,  valor   de   liquidação,   valor   atual   das   entradas   futuras   de   caixa;   métodos   de   custeio:  custeio   pleno,   custeio   por   absorção,   custeio   baseado   em   atividades,   unidade   de  esforço  de  produção,   custeio   variável,   contabilidade  de  ganhos;  dimensão   financeira  na  dimensão  de  ativos:  moeda  de  poder  aquisitivo  constante,  efeitos   financeiros  nas  transações;  e,  depreciação).  

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    Neste   estudo,   a   preocupação   em   focar   os   conceitos   que   suportam   a  mensuração  de  ativos  relaciona-­‐se  ao  fato  de  que  essa  mensuração  está  no  cerne  da  teoria   da   contabilidade   e   afeta   toda   a   experiência   e   as   decisões   dos   gestores  (Iudícibus,  2000).         Os   resultados   encontrados   na   pesquisa   evidenciaram   que   os   conceitos   de  mensuração  de  ativos  que  seguem  os  preceitos  da  legislação  societária  e  fiscal  são  os  mais   utilizados   na   preparação   dos   relatórios   gerenciais   pelas   empresas   da   amostra.  Estes  resultados  indicam  que,  no  âmbito  das  grandes  empresas  brasileiras,  a  prática  da  contabilidade   gerencial   está   intimamente   associada   às   normas   e   regulamentos   da  contabilidade   fiscal   e   societária   e   que   conceitos   de   mensuração   contábeis  considerados  inovadores  têm  baixo  grau  de  utilização  (Guerreiro  et  al.,  2005a,  p.  105).       Para  explicar  estes  achados  os  autores  destacam  quatro  prováveis  explicações.  A  primeira  estaria   relacionada  aos  arquétipos  prevalecentes  no   inconsciente  coletivo  do  profissional  da  contabilidade,  resultantes  da  prática  contábil  que  remonta  há  alguns  séculos  (Guerreiro  et  al.,  2001).  Uma  segunda  explicação,  possivelmente  relacionada  à  anterior,   seria   a   dificuldade   dos   profissionais   de   acessarem   os   novos   conceitos,   em  virtude   da   baixa   frequência   a   cursos   ou   da   pouca   leitura   e   discussão   de   trabalhos  divulgados,  apesar  de  toda  a  facilidade  oferecida  pela  tecnologia  da  informação.         A   terceira   explicação   apresentada   pelos   autores   para   as   constatações   desta  pesquisa  poderia  estar   relacionada  a  um  temor  do  profissional  de   realizar  mudanças  nos   sistemas   em   funcionamento.   E   a   última   possível   explicação   destacada   pelos  autores,  poderia  estar  ligada  ao  nível  de  dificuldade  para  realizar  mudanças  com  vistas  na   implementação   de   novos   conceitos.   Contudo,   apesar   das   possíveis   explicações  apresentadas   pelos   autores,   os   mesmos   destacam   que   não   deve   haver   uma   única  explicação,  mas  sim,  uma  combinação  destas  com  outros  fatores  não  mencionados  na  pesquisa.    2.5  Guerreiro,  Frezatti  e  Casado  (2006)         O  estudo  desenvolvido  pelos  autores  é  caracterizado  como  um  ensaio  teórico.  Este  ensaio  inicia  chamando  a  atenção  para  a  baixa  implementação  de  novos  artefatos  de   controle   gerencial   nas   organizações.   Segundo   os   autores   (2006,   p.   7),   a   teoria  institucional,   que   é   uma   abordagem   sociológica,   tem   sido   aplicada   na   área   contábil  para   estudar   esse   fenômeno.   Essa   teoria   foca   a   contabilidade   como   uma   instituição  dentro   da   empresa,   isto   é,   uma   rotina   formada   por   hábitos   que   dá   sentido   a  determinado   grupo   de   pessoas.   O   ponto   central   sobre   o   qual   repousa   a   teoria  institucional  é  a  ideia  de  hábitos  de  um  grupo  de  pessoas:  a  instituição  é  estruturada  a  partir  de  rotinas  e  as  rotinas  dependem  de  hábitos.         A  hipótese  de  pesquisa  levantada  pelos  autores  é  que  determinados  conceitos  da   psicologia   e   da   cultura   organizacional   podem   contribuir   para   uma   melhor  compreensão   da   abordagem   institucional   aplicada   à   Contabilidade   Gerencial.   Assim  sendo,   o   objetivo   do   estudo   desenvolvido   foi   aprofundar   o   nível   de   entendimento  sobre   as   causas   do   gap   que   existe   entre   a   teoria   e   a   prática   da   Contabilidade  Gerencial.         Guerreiro   et   al.   (2006,   p.   8),   explicam   que   este   estudo   sustenta-­‐se   na  pressuposição   de   que   a   prática   da   Contabilidade   Gerencial   pode   ser   explicada   pela  teoria   institucional   e   que   os   conceitos   fundamentais   empregados   por   essa   teoria   –  

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hábitos  e  rotinas  –  possuem  suas  raízes  conceituais  na  dimensão  sociológica  de  cultura  organizacional   e   na   dimensão   da   psicologia   humana.   Segundo   os   autores,   a   relação  entre   a   dimensão   pessoal   e   a   dimensão   social   é   uma   via   de  mão   dupla.   Indivíduos  influenciam  o  grupo  e  o  grupo  influencia  os  indivíduos.         A   abordagem   proposta   pelos   autores   vai   ao   encontro   da   abordagem   de  Guerreiro  et  al.  (2001),  “do  inconsciente  coletivo”.  A  qual  também  é  corroborada  pelos  estudos   de   Slomski   et   al.   (2003),   Megliorini   e   Guerreiro   (2004)   e   Guerreiro   et   al.  (2005a).         Após   a   apresentação   de   uma   discussão   sobre   as   mudanças   ambientais   e   a  estabilidade  da   contabilidade   gerencial,   os   autores   apresentam  as   críticas   existentes  sobre  a  teoria  neoclássica  como  base  da  contabilidade  gerencial.  A  seguir,  apresenta-­‐se   a   teoria   institucional   e   a   relação   desta   com   a   contabilidade   gerencial   como   uma  instituição.   Analisando-­‐se   a   contabilidade   gerencial   sob   esta   perspectiva,   são  apresentadas   variáveis   comportamentais   que   tendem   a   influenciar   a   contabilidade  gerencial  nas  organizações,  como  os  fatores  inconscientes  da  psicologia  humana  e  os  fatores  inconscientes  da  cultura  organizacional.       Os   achados   do   estudo   levam   a   conclusão   de   que   a   visão   da   Contabilidade  Gerencial  como  uma  instituição,  como  conjunto  de  rotinas  desempenhadas  de  forma  habitual   por   um   grupo   de   indivíduos,   evidencia   a   natureza   social   e   não   técnica   do  problema  da  Contabilidade  Gerencial.  De  acordo  com  os  autores,  é  possível  inferir  que  as   causas   fundamentais   do   problema   correspondem   aos   hábitos   instalados   na  organização.         A   abordagem   da   cultura   organizacional   adverte   que   os   hábitos   residem   na  camada   mais   profunda   da   cultura   da   empresa   e   são   caracterizados   como  pressuposições  básicas  subjacentes.  A  abordagem  psicológica  psicanalítica  orienta  que  os  hábitos  são  em  grande  parte  inconscientes.  Os  hábitos  profundamente  enraizados  na  mente  dos  indivíduos  e  na  cultura  do  grupo  são  simplesmente  aceitos,  não  importa  quão  adequados  ou  inadequados  sejam  para  a  organização.  Eles  são,  em  grande  parte,  de   natureza   inconsciente   e   são   aceitos   pelos   indivíduos   e   pelo   grupo   sem  questionamento  (Guerreiro  et  al.,  2006,  p.  19).       Os   autores   concluem   que,   tendo   em   vista   que   os   hábitos   e   rotinas   que  estruturam   a   Contabilidade   Gerencial   são   em   grande   extensão   de   natureza  inconsciente,  eles  (i)  não  são  racionais  e  (ii)  não  são  fáceis  de  serem  modificados.      3  Neuroaccounting  e  os  achados  de  Dickhaut,  Basu,  Mccabe  e  Waymire  (2010)         Em  um  estudo  recente,  Dickhaut  et  al.  (2010)  propõe  que  a  neurociência  pode  fornecer   uma   compreensão   de   como   os   princípios   fundamentais   da   contabilidade  evoluíram.  Segundo  os  autores,  estes  foram  modelados  ao   longo  de  sua  história,  por  meio  da  evolução  do  cérebro  humano.  O  cérebro  humano  evoluiu  através  da  seleção  natural  para  explorar  melhor  os  seus  instintos  sociais  para  o  ganho  recíproco  (Darwin,  1871  apud  Dickhaut  et  al.,  2010).         Esta  hipótese  tem  suas  raízes  na  investigação  sobre  o  cérebro  dos  primatas  em  biologia,   psicologia,   antropologia   e   economia.   Os   autores   comentam   que   o   núcleo  dessa   hipótese   decorre   da   ideia   de   que   o   cérebro   humano   está   adaptado   para   a  reciprocidade  na  troca.  Neste  contexto,  para  se  concluir  sobre  esta  hipótese,  diversos  estudos  sobre  neurociências  foram  analisados  pelos  autores.    

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    De   acordo   com   Basu   e  Waymire   (2006),   as   raízes   históricas   da   contabilidade  moderna   residem   na   manutenção   de   registros   de   práticas   simples   que   fornecem  memória   da   troca   passada   para   o   cérebro.   Logo,   verifica-­‐se   que   o   cérebro  naturalmente   processa   informações,   selecionando   alternativas   de   resposta   a  determinada  informação.         Dickhaut  et  al.   (2010,  p.  224)  explicam  que  “o  cérebro  evoluiu,  assim,  através  da   seleção   da   mesma   forma   como   outras   características   da   anatomia   e   fisiologia  humana.  A  variação  é  produzida  por  mutações  genéticas  que  são  herdadas  e  que  seja  de   consequências,   a   sobrevivência   diferencial   e   capacidade   reprodutiva   de   um  organismo   específico”.   Os   autores   ainda   destacam   que,   na   construção   do   cérebro  humano,   a   seleção   natural   tem   características   dos   cérebros   de   espécies   que   vieram  antes  de  nós.         Neste   contexto,   inicialmente   os   autores   apresentam   uma   discussão   sobre   a  relação   do   cérebro   com  as   normas   comportamentais   e   a   convivência   dos   indivíduos  em   grupos   sociais.   Para   os   autores   (2010,   p.   225),   “uma   das   implicações  comportamentais  da  hipótese  do  cérebro  social  é  que  os  humanos  têm  uma  habilidade  evoluída   para   participar   de   intercâmbio   social,   isto   é,   a   fazer   favores   através   de  reciprocidade”.         Este  processo  de  troca  é  denominado  por  pesquisadores  da  área  da  psicologia  como   intercâmbio   bilateral.   Os   autores   citam   no   estudo   reflexos   que   ocorrem   no  cérebro   humano,   decorrentes   das   situações   que   ocorrem   naturalmente   quando   há  troca  de  bens  entre  os  indivíduos.  Neste  caso,  quando  ocorre  uma  troca,  há  no  cérebro  um  estímulo  neural  que  busca  avaliar  os  benefícios  da  operação  para  o  indivíduo,  bem  como  os  riscos  desta  troca.  Os  riscos  da  operação  são  avaliados  no  subconsciente  por  meio  da  procura  de  registros  históricos.         Segundo  os  autores,  a  avaliação  de  um  potencial  parceiro  de  troca  se  baseia  em  quatro  fatores  básicos:  uma  confiabilidade  inferida  a  partir  de  câmbio  (pré-­‐interações);  por  meio  da  cooperação  existente  nas  trocas  anteriores  com  essa  pessoa;  na  história  da  cooperação  do  parceiro  em  potencial,  em  troca  com  os  outros;  e,  na  comparação  do  potencial  parceiro  para  com  outros  indivíduos  semelhantes.  Destacam  ainda  que  o  surgimento  de  normas  de  conduta  nas   instituições  sociais  de   intercâmbio  econômico  são  construídas  de  forma  incremental,  ou  seja,  a  partir  de  padrões  de  comportamento.         Logo,   se   pode   sugerir   que   a   auditoria   e   o   controle   interno   também   surgiram  para   transmitir   confiança   às   partes   relacionadas,   uma   vez   que   estas   permitem   que  suas   ações   em   operações   de   câmbio   possam   ser   analisadas   e   relatadas   de   forma  independente.   Um   histórico   de   trocas   benéfico,   bem   sucedido,   tende   a   incentivar  futuras  transações.         Nesta   perspectiva,   Dickhaut   et   al.   (2010,   p.   234)   explicam   que   “os   registros  contábeis  e  as  operações  são  suscetíveis  e  úteis  de  duas  formas  na  melhor  organização  de  avaliação  do  cérebro  de  conveniência  de  câmbio”.  Uma  delas  é  que  a  contabilidade  alivia  uma  restrição  de  capacidade  de  memória,  ou  seja,  o  cérebro  tem  limitações  de  memória   a   respeito   dos   resultados   do   passado   da   troca   (Basu  &  Waymire   2006).   A  outra   se   refere   aos   benefícios   advindos   da   contabilidade.   Por   meio   desta,   pode-­‐se  melhorar   a   coordenação   entre   os   vários   módulos   dentro   do   cérebro   que   estão  implicados  na   avaliação  de   câmbio,   como  por   exemplo,   equilibrando  emoção  e  uma  avaliação  mais  racional  de  custo-­‐benefício  com  base  em  dados  quantitativos.  

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    No   experimento   realizado   pelos   autores,   a   análise   proposta   baseou-­‐se   nos  princípios   contábeis   culturalmente   evoluídos.   Foram   apresentadas   evidencias  científicas  para  os  quatro  princípios  de  contabilidade,  relacionados  com  a  avaliação  de  custo-­‐benefício.  São  eles:  dualidade;  realização  da  receita;  despesa  correspondente  e  gestão  de  custos;  e,  conservadorismo.         Ao   que   se   refere   ao   princípio   da   dualidade,   os   autores   (2010,   p.   238)  apresentam   a   hipótese   de   que   “a   contabilidade   de   dupla   entrada   produz   uma  mentalidade   que   leva   naturalmente   para   a   avaliação   do   lucro.   Um   fator   que  provavelmente  contribui  para  a  viabilidade  de  dupla  entrada  é  sua  semelhança  com  a  forma  como  o  cérebro  controla  a   frequência  de   fenômenos  diferentes  quando   toma  uma  decisão”.         Em   relação   ao   princípio   da   realização   da   receita,   os   autores   (2010,   p.   239)  evidenciaram   que   “quando   a   probabilidade   é   alta   de   que   uma   recompensa   será  recebida,  um  disparo  neuronal  é  observado  principalmente  quando  o  estímulo  ocorre  com  a  ativação   limitada,  quando  a  recompensa  é  efetivamente  recebida”.  Em  outras  palavras,   “a   realização  da   receita  é  coincidente  com  a   forma  como  a  área   tegmental  ventral  do  cérebro  dos  primatas  se  comporta  na  avaliação  de  recompensas  incertas”.       O   princípio   da   despesa   correspondente   e   gestão   de   custos   é   abordado   pelos  autores   sob  a  percepção  de  possibilidades  de  ganhos,  ou   seja,  da  análise  da   relação  custo  x  benefício.  Os  autores  citam  o  experimento  de  Quervain,  Fischbacher,  Treyer,  Schellhammer,   Schnyder,   Buck   e   Fehr   (2004),   que   fornecem   evidências   de   que   o  cérebro   humano   se   envolve   na   avaliação   de   custo-­‐benefício   que   se   assemelha   a  correspondência  de  recompensas  e  sacrifícios.         Finalmente,   em   relação   ao  princípio   contábil   do   conservadorismo,   os   autores  (2010,   p.   243)   sugerem  que,   “usando   o   nível   de   ativação   de   determinadas   áreas   do  cérebro   é   possível   predizer   a   aversão   à   perda   para   assuntos   específicos.   Isto   sugere  que  a  explicação  definitiva  para  o  princípio  do  conservadorismo  pode  derivar  de  como  os  ganhos  e  as  perdas  são  diferencialmente  processados  pelos  neurônios  no  cérebro  humano”.       Os   resultados   encontrados   por   Dickhaut   et   al.   (2010),   neste   experimento,  indicam   uma   relação   positiva   entre   a   ativação   neuronal   e   os   itens   observados   na  pesquisa.  Nesta  mesma  perspectiva,  Basu  e  Waymire  (2006)  desenvolveram  a  hipótese  de  que  as  novas  ferramentas  de  gestão  de  câmbio  surgem  quando  o  cérebro  humano  é  apresentado  com  novas  oportunidades  de   intercâmbio,  que  não  pode  ser  avaliado  em  uma  base  stand-­‐alone.  Essas  ferramentas  incluem  melhorias  tanto  para  a  memória  do  passado  de  câmbio,  bem  como  ferramentas  para  avaliar  a  conveniência  da  troca.     Assim   sendo,   pode-­‐se   verificar   que   as   escolhas   realizadas   por   cada   gestor  também   estaria   vinculada   a   sua   percepção   natural,   ou   seja,   aos   seus   instintos   de  ganhos   movimentados   pelo   cérebro.   Deste   modo,   passa-­‐se   a   ter   uma   explicação  científica  do  por  que  do  baixo  grau  de  implementação  de  novas  técnicas  e  conceitos  de  contabilidade  gerencial  em  algumas  organizações.       O   inconsciente   coletivo   evidenciado   em   estudos   anteriores,   como   fator   que  influencia   a   racionalidade   dos   gestores,   bem   como   suas   opções   para   a   gestão   do  negócio,  poderia  estar  diretamente  relacionado  aos  estímulos  que  o  cérebro  do  gestor  desenvolveu  em  seu  instinto  de  sobrevivência  para  manter-­‐se  competitivo.  O  que  vai  ao   encontro   dos   achados   de  Dickhaut   et   al.   (2010),   quando   estes   pressupõe   que   os  

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princípios  de  contabilidade  persistiram  porque  eram  coincidentes  com  a  forma  como  o  cérebro  humano  evoluiu  para  avaliar  o  intercâmbio  social.    4  Reinterpretando  resultados  de  pesquisas  em  Contabilidade  Gerencial       Os   artigos   analisados   neste   ensaio   teórico   conduzem   a   uma   reflexão   similar,  onde   se   busca   compreender   os   achados   destes   estudos,   a   partir   da   interpretação  anterior  de  seus  autores  e  a  perspectiva  da  neuroaccounting.       Nos  achados  de  Guerreiro  et  al.  (2001),  os  autores  ao  procurarem  entender  as  causas   de   aceitação,   por  muitos   profissionais   da   contabilidade,   de   conceitos   que   já  foram  comprovados  como  ineficazes  para  a  gestão  das  empresas,  depararam-­‐se  com  resultados  contraditórios.  Foram  confirmadas  as  duas  hipóteses  estabelecidas  para  a  pesquisa,  no  entanto,  verificou-­‐se  que  alguns  alunos  que  já  passaram  pelo  programa,  não  conseguiram  “libertar-­‐se  de  alguns  conceitos”.     Por  sua  vez,  Slomski  et  al.  (2003),  dando  continuidade  aos  estudos  de  Guerreiro  et   al.   (2001),   desenvolveram   uma   pesquisa   empírica   realizada   com   alunos   de   duas  Universidades,   buscando   verificar   a   formação   do   inconsciente   de   grupo   entre   os  alunos  pesquisados.  Contudo,  os   resultados  encontrados  na  amostra  pesquisada  não  confirmaram  a  formação  de  inconsciente  de  grupo.     Com  relação  aos  achados  de  Megliorini  e  Guerreiro  (2004),  verificou-­‐se  que  os  conceitos  de  mensuração  empregados  pelas  empresas  pesquisadas  são  derivados  dos  Princípios  Fundamentais  de  Contabilidade.  Os  autores  destacam  que  tais  conceitos  não  são  os  mais  apropriados  para  a  formação  do  preço  de  venda  e  apuração  de  resultados  em  nível  gerencial.  No  entanto,  mesmo  que  os  respondentes  da  pesquisa  reconheçam  esta  limitação,  persistem  em  utilizar  tais  conceitos.     O   mesmo   se   observa   nos   resultados   encontrados   na   pesquisa   realizada   por  Guerreiro  et   al.   (2005a).  Os  autores   verificaram  que  os   conceitos  de  mensuração  de  ativos  que  seguem  os  preceitos  da  legislação  societária  e  fiscal  são  os  mais  utilizados  na  preparação  dos  relatórios  gerenciais  das  empresas  objetos  de  estudo.       Os   resultados  destes  estudos  vão  ao  encontro  dos  achados  de  Dickhaut  et  al.  (2010).   Segundo   os   autores,   as   características   gerais   de   contabilidade,   refletidas   na  base   de   princípios   gerais,   são   impulsionadas   pela   demanda   por   informações   de   alta  qualidade,  útil  para  avaliar  as  oportunidades  de  intercâmbio.  Por  isto  sua  origem  nos  conceitos  dos  princípios  da  contabilidade.     Logo,   pode-­‐se   admitir   que,   assim   como   o  cérebro   humano,   os   princípios   contábeis   evoluíram   mediante   a   seleção   de  oportunidades,  decorrentes  do  intercâmbio  social.       Talvez   seja  por  este  motivo  que  alguns   indivíduos  possuem  maior  dificuldade  em   abandonar   alguns   conceitos   e   testar   novos   experimentos.   Tais   conceitos  permanecem   enraizados   no   inconsciente   do   indivíduo,   não   sendo   fáceis   de   serem  modificados.  Esta  perspectiva  também  é  evidenciada  nos  achados  do  estudo  proposto  por  Guerreiro  et  al.  (2006).       Neste   caso,   há   também   que   se   considerar   outros   aspectos   relacionados   ao  inconsciente   do   indivíduo,   como   por   exemplo,   as   características   genéticas   recebidas  por   este   de   seus   antecedentes.   Tais   características,   também   podem   influenciar   as  seleções  realizadas  pelos  mesmos.      

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5  Considerações  finais  e  recomendações  a  estudos  futuros         Não  se  pretende  com  este  estudo  obter  uma  conclusão  final  sobre  este  tema,  mas  sim  fornecer  elementos  que  subsidiem  uma  reflexão  científica  a  respeito  de  uma  nova   linha  de  pesquisa  em  contabilidade,  denominada  neuroaccounting,  a  qual  pode  fornecer   subsídios   para   um   melhor   entendimento   de   resultados   encontrados   em  estudos  práticos  já  desenvolvidos  anteriormente.       É   possível   que   os   resultados   encontrados   até   agora   possam   ser   refutados   ou  confirmados  por  meio  da  neuroaccounting.  No  entanto,  uma  contribuição  interessante  pode   estar   relacionada   ao   entendimento   da   evolução   das   práticas   de   contabilidade  gerencial  nas  organizações.       O  processo  de  implementação  de  sistemas  de  controles  gerenciais  deve  mudar.  Neste   caso,   deve-­‐se   ponderar   sobre   o   condicionamento   do   cérebro   humano.   Bio  (1987)   já   alertava   para   uma  necessidade   de  mudança   na   forma  de   como   se   deveria  treinar   os   indivíduos   nas   organizações,   a   fim   de   se   obter   um   melhor   resultado  (desempenho).       Os   resultados   apresentados   por   Dickhaut   et   al.   (2010),   combinado   com  pesquisas  teóricas  recentes  (Nowak,  Page  &  Sigmund,  2000),  sugerem  que  a  avaliação  do  cérebro  pode  ter  evoluído  por  processos  de  seleção.  Logo,  é  possível  se  pensar  em  neuroaccounting.   Deste   modo,   torna-­‐se   oportuno   o   desenvolvimento   de   estudos  relacionando  a  contabilidade  a  neurociências.       Além   disto,   há   de   se   incluir   em   estudos   futuros,   outras   variáveis   além   das  comportamentais   que   advém   de   experiências   anteriores   dos   indivíduos.   Deve-­‐se  considerar   que   na   formação   do   cérebro   do   indivíduo,   o   mesmo   recebe   outras  características  genéticas  que  provem  de  seus  antepassados,  o  que,  portanto,  também  pode  influenciar  na  sua  seleção.    6  Referências  bibliográficas    Basu,   S.;   Waymire,   G.   (2006).   Recordkeeping   and   human   evolution.   Accounting  Horizons,  20  (3),  1-­‐29.  Bio,   S.   R.   (1987).   Desenvolvimento   de   sistemas   contábeis-­‐gerenciais:   um   enfoque  comportamental   e   de   mudança   organizacional.   Tese   de   Doutorado,   Faculdade   de  Economia  Administração  e  Contabilidade,  Universidade  de  São  Paulo,  São  Paulo.  Borinelli,  M.  L.   (2006).  Estrutura  conceitual  básica  de  controladoria:   sistematização  à  luz   da   teoria   e   da   práxis.   341   fls.   Tese   de   Doutorado,   Faculdade   de   Economia  Administração  e  Contabilidade,  Universidade  de  São  Paulo,  São  Paulo.  Dickhaut,   J.;   Basu,   S.;  Mccabe,  K.;  Waymire,  G.   (2010).  Neuroaccounting:  Consilience  between   the   biologically   evolved   brain   and   culturally   evolved   accounting   principles.  Accounting  Horizons,  24  (2),  221-­‐255.  Grande,   J.   F.;   Beuren,   I.  M.   (2011).  Mudanças  de  práticas  de   contabilidade   gerencial  identificadas   nos   relatórios   da   administração   de   empresas   familiares.   Revista  Contabilidade,  Gestão  e  Governança,  Brasília,  14  (3),  18-­‐33.  Guerreiro,  R.;  Casado,  T.;  Bio,  S.  R.  (2001).  Algumas  reflexões  sobre  os  arquétipos  e  o  inconsciente  coletivo  na  contabilidade  de  custos:  um  estudo  exploratório.  Revista  de  Contabilidade  CRC-­‐SP,  04-­‐21.  

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Guerreiro,  R.;  Crozatti,  J.;  Ribeiro,  M.  S.  (2005a).  Mensuração  de  ativos  nos  relatórios  gerenciais  de  companhias  abertas.  Revista  de  Gestão  USP,  12  (3),  91-­‐107.  Guerreiro,  R.;  Frezatti,  F.;  Casado,  T.  (2006).  Em  busca  de  um  melhor  entendimento  da  contabilidade   gerencial   através   da   integração   de   conceitos   da   psicologia,   cultura  organizacional  e  teoria  institucional.  Revista  Contabilidade  &  Finanças,  USP,  São  Paulo,  Edição  Comemorativa,  7-­‐21.  Guerreiro,   R.;   Frezatti,   F.;   Lopes,   A.   B.;   Pereira,   C.   A.   (2005b).   O   entendimento   da  contabilidade   gerencial   sob   a   ótica   da   teoria   institucional.   Revista   Organizações   &  Sociedade  -­‐  O&S,  12  (35),  91-­‐106.  Guerreiro,  R.;  Pereira,  C.  A.;  Lopes,  A.  B.  (2004).  Uma  contribuição  ao  entendimento  da  estabilidade   e   da   mudança   da   contabilidade   gerencial   sob   a   ótica   da   teoria  institucional.  Anais...  XXVIII  EnANPAD,  Curitiba.  Iudícibus,  S.  (2000).  Teoria  da  contabilidade.  6.  ed.  São  Paulo:  Atlas.  Jung,  C.  G.  (1995).  Psicologia  do  inconsciente.  Petrópolis:  Vozes.  Megliorini,  E.;  Guerreiro,  R.  (2004)  Conceitos  de  mensuração  utilizados  pelas  empresas  produtoras  de  bens  de  capital  sob  encomenda.  Anais...  4º  Congresso  de  Controladoria  e  Contabilidade,  USP,  São  Paulo.  Nowak,  M.  A.;  Page,  K.;   Sigmund,  K.   (2000).  Fairness  versus   reason   in   the  ultimatum  game.  Science,  289  (5485),  1773–1775.  Oyadomari,  J.  C.;  Cardoso,  R.  L.,  Mendonça  Neto,  O.  R.;  Lima,  M.  P.  (2008).  Fatores  que  influenciam  a  adoção  de  artefatos  de  controle  gerencial  nas  empresas  brasileiras:  Um  estudo  exploratório  sob  a  ótica  da  Teoria  Institucional.  RCO  –  Revista  de  Contabilidade  e  Organizações,  São  Paulo,  2  (2),  55-­‐70.  Quervain,   J.;   Fischbacher,   U.   ;   Treyer,   V.;   Schellhammer,  M.;   Schnyder,   U.;   Buck,   A.;  Fehr,  E.  (2004).  The  neural  basis  of  altruistic  punishment.  Science,  425  (5688),  785-­‐791.  Santos,  C.  C.  (1976).  Individualização  junguiana.  São  Paulo:  Sarvier.  Slomski,  V.;  Batista,   I.  V.  C.;  Carvalho,  E.  M.  (2003).  Os  métodos  de  custeio  variável  e  por   absorção   e   o   inconsciente   coletivo   na   contabilidade   de   custos.   Revista   de  Contabilidade  do  Mestrado  em  Ciências  Contábeis  da  UERJ,  8  (1),  9-­‐20.  Soutes,  D.  O.;   Zen,  M.   J.  C.  M.   (2005).   Estágios  evolutivos  da   contabilidade  gerencial  em  empresas  brasileiras.  Anais...  5°  Congresso  USP  de  Controladoria  e  Contabilidade,  São  Paulo.  Soutes,  D.  O.;  Guerreiro,  R.   (2007).  Estágios  evolutivos  da  contabilidade  gerencial  em  empresas  brasileiras.  Anais.  XXXI  EnANPAD,  Rio  de  Janeiro.    Souza,   M.   A.;   Lisboa,   L.   P.;   Rocha,   W.   (2003).   Práticas   de   contabilidade   gerencial  adotadas   por   subsidiárias   brasileiras   de   empresas   multinacionais.   Revista  Contabilidade  &  Finanças,  USP,  32  (ano  XIV),  40-­‐57.  Teixeira,  A.   J.  C.;  Gonzaga,  R.  P;  Santos,  A.  V.  S.  M.;  Nossa,  V.   (2011).  A  utilização  de  ferramentas   de   contabilidade   gerencial   nas   empresas   do   estado   do   Espírito   Santo.  Brazilian  Business  Rev.,  8  (3),  108-­‐127.  Zan,  A.  (2006).  Mudanças  na  Contabilidade  Gerencial  de  uma  Organização:  Estudo  de  caso   com   diagnóstico   institucional.   116f.   Dissertação   de   Mestrado,   Faculdade   de  Economia,  Administração  e  Contabilidade,  Universidade  de  São  Paulo,  São  Paulo.    

Ciências  &  Cognição  2013;  Vol  18  (1):  033-­045  <http://www.cienciasecognicao.org>                                                            ©  Ciências  &  Cognição  Submetido  em  13/06/2012  |  Revisado  em  20/03/2013  |  Aceito  em  26/04/2013  |  ISSN  1806-­‐5821  –  Publicado  on  line  em  30/04/2013