03-tg do processo coletivo.ação civil pública

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LFG – PROCESSO CIVIL – Aula 03 – Prof. Fernando Gajardoni – Intensivo II – 18/12/2009 TEORIA GERAL DO PROCESSO COLETIVO Novidades legislativas – não têm a ver com processo coletivo, mas com processo civil. Como são matérias que eu dei, tenho que avisar. Duas leis alteraram o CPC: 1. Lei 12.122/09 (de 15/12/09) – Essa lei alterou o art. 275, do CPC, que é o que trata do procedimento sumário. A gente adota dois critérios para definir o cabimento do procedimento sumário: Valor – Qualquer causa até 60 salários-mínimos Assunto – Causa de pedir (aí não tem teto. É qualquer valor) elencadas pelo inciso II. A grande novidade é que agora o art. 275 ganhou uma nova alínea: “g”. Hoje causas que versem sobre revogação de doação, não importando o valor, obedecerão ao procedimento sumário. Art. 275 - Observar-se-á o procedimento sumário: I - nas causas cujo valor não exceda a 60 (sessenta) vezes o valor do salário mínimo; II - nas causas, qualquer que seja o valor: a) de arrendamento rural e de parceria agrícola; b) de cobrança ao condômino de quaisquer quantias devidas ao condomínio; c) de ressarcimento por danos em prédio urbano ou rústico; d) de ressarcimento por danos causados em acidente de veículo de via terrestre; e) de cobrança de seguro, relativamente aos danos causados em acidente de veículo ressalvados os casos de processo de execução; f) de cobrança de honorários dos profissionais liberais, ressalvado o disposto em legislação especial; g) que versem sobre revogação de doação; (Acrescentado pela L-012.122-2009 ) h) nos demais casos previstos em lei. (Alterado pela L- 012.122-2009 ) 2. Lei 12.125/09 (de 16/12/09) Trata dos embargos de terceiro (também um dos temas que trabalhamos aqui). Eu lembro de ter feito o seguinte comentário: o art. 1.050, do CPC estabelece que nos embargos de terceiro, o autor da ação principal é réu. Vou dar um caso de execução que fica mais fácil: eu sou exequente, você é réu (devedor). O terceiro é o dono do carro que eu penhorei. Esse terceiro opõe os embargos de terceiro contra o 33

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Bibliografia:

LFG PROCESSO CIVIL Aula 03 Prof. Fernando Gajardoni Intensivo II 18/12/2009

Teoria Geral do Processo Coletivo

Novidades legislativas no tm a ver com processo coletivo, mas com processo civil. Como so matrias que eu dei, tenho que avisar. Duas leis alteraram o CPC:

1.Lei 12.122/09 (de 15/12/09) Essa lei alterou o art. 275, do CPC, que o que trata do procedimento sumrio. A gente adota dois critrios para definir o cabimento do procedimento sumrio:

Valor Qualquer causa at 60 salrios-mnimos

Assunto Causa de pedir (a no tem teto. qualquer valor) elencadas pelo inciso II.

A grande novidade que agora o art. 275 ganhou uma nova alnea: g. Hoje causas que versem sobre revogao de doao, no importando o valor, obedecero ao procedimento sumrio.

Art. 275 - Observar-se- o procedimento sumrio:

I - nas causas cujo valor no exceda a 60 (sessenta) vezes o valor do salrio mnimo;

II - nas causas, qualquer que seja o valor:

a) de arrendamento rural e de parceria agrcola;

b) de cobrana ao condmino de quaisquer quantias devidas ao condomnio;

c) de ressarcimento por danos em prdio urbano ou rstico;

d) de ressarcimento por danos causados em acidente de veculo de via terrestre;

e) de cobrana de seguro, relativamente aos danos causados em acidente de veculo ressalvados os casos de processo de execuo;

f) de cobrana de honorrios dos profissionais liberais, ressalvado o disposto em legislao especial;

g) que versem sobre revogao de doao; (Acrescentado pela L-012.122-2009)

h) nos demais casos previstos em lei. (Alterado pela L-012.122-2009)

2.Lei 12.125/09 (de 16/12/09)

Trata dos embargos de terceiro (tambm um dos temas que trabalhamos aqui). Eu lembro de ter feito o seguinte comentrio: o art. 1.050, do CPC estabelece que nos embargos de terceiro, o autor da ao principal ru. Vou dar um caso de execuo que fica mais fcil: eu sou exequente, voc ru (devedor). O terceiro o dono do carro que eu penhorei. Esse terceiro ope os embargos de terceiro contra o autor da execuo que quem requereu a penhora do veculo. Eu disse que, de acordo com o sistema, eu, que sou ru dos embargos de terceiro, tenho que ser citado pessoalmente para os embargos de terceiro porque se trata de uma ao. E que, portanto, eu no poderia ser citado na pessoa do meu advogado. Na prtica, voc manda citar o ru nos embargos (autor da execuo) na pessoa de seu advogado. O cara j tem advogado constitudo! Eu fao isso direto. O art. 1.050, 3 agora estabelece que a citao ser pessoal se o cara no tiver advogado constitudos nos autos. Ou seja, a prtica mudou a lei. Em bom Portugus, o que o novo art. 1.050, 3 est dizendo? Se o autor da execuo, ru dos embargos, tem advogado, a citao vai ser feita na pessoa do advogado. Se, eventualmente, ele no tem advogado, a voc faz a citao pessoal. uma novidade que s ps a prtica na lei.

Art. 1.050 - O embargante, em petio elaborada com observncia do disposto no Art. 282, far a prova sumria de sua posse e a qualidade de terceiro, oferecendo documentos e rol de testemunhas.

1 - facultada a prova da posse em audincia preliminar designada pelo juiz.

2 - O possuidor direto pode alegar, com a sua posse, domnio alheio.

3 A citao ser pessoal, se o embargado no tiver procurador constitudo nos autos da ao principal. (Acrescentado pela L-012.125-2009)

Eu estava falando sobre competncia. A gente viu o critrio funcional hierrquico (todas as aes coletivas so processadas em primeira instncia, tirando o mando de segurana coletivo que tem regra prpria). Depois, conversamos sobre o critrio material (da causa de pedir. Dependendo do assunto, a ao pode correr na justia trabalhista e eleitoral. Para definir a competncia da justia federal no interessa o assunto, mas a parte). Depois falamos do critrio valorativo (valor da causa. Isso s serve para definir a competncia dos juizados especiais. No cabe ao coletiva no mbito dos juizados especiais. O critrio valorativo, portanto, no serve para nada no mbito do processo coletivo).

Hoje, retomo de onde havia parado. Deixei em aberto o critrio territorial, que o critrio do local, de qual comarca ou subseo judiciria ser ajuizada a ao coletiva. Em momento anterior, j ficou definido, pelo critrio material, qual a justia competente (eleitoral, trabalhista, federal ou estadual). O que resta definir o seguinte: na estadual? De onde? SP, Salvador, Curitiba? federal? De onde?

H duas posies a respeito da definio territorial no mbito do processo coletivo.

1 Posio (dominante)

Sustenta que a todos os interesses metaindividuais (difusos, coletivos e individuais homogneos) se aplica o art. 93, do CDC, simplesmente por causa do microssistema processual coletivo (normas centrais: LACP e CDC que se comunicam e interagem que ainda so aproveitveis outras leis que circundam o tema).

Art. 93 - Ressalvada a competncia da Justia Federal, competente para a causa a Justia local:

I - no foro do lugar onde ocorreu ou deva ocorrer o dano, quando de mbito local;

II - no foro da Capital do Estado ou no do Distrito Federal, para os danos de mbito nacional ou regional, aplicando-se as regras do Cdigo de Processo Civil aos casos de competncia concorrente.

E o que quer dizer o art. 93, do CDC? Ele vai dizer o seguinte:

Dano local Competncia do local do dano. Uma propaganda enganosa na comarca de Piriri da Serra. um direito difuso. A ao para obstar ajuizada em Piriri da Serra. Dano ambiental em terreno em SP. A ao ser ajuizada na comarca de SP. Se for um dano de interesse da Unio, na justia federal, caso contrrio, ser na justia estadual. Essa a regra mais fcil.

Voc tem que tomar muito cuidado com uma Smula do STJ que foi revogada e eu queria que voc anotasse:

STJ Smula n 183 - DJ 31.03.1997 - Cancelada - CC n. 27.676-BA - 08/11/2000 - Compete ao Juiz Estadual, nas Comarcas que no sejam sede de vara da Justia Federal, processar e julgar ao civil pblica, ainda que a Unio figure no processo.

Essa smula dizia que onde no tivesse justia federal, quem julgaria a ao coletiva (para qualquer assunto) seria a justia estadual. Seria uma nova hiptese de delegao de competncia da justia federal para a estadual, como acontece no art. 109, 3, da CF (previdencirio). Esse dispositivo diz que nas comarcas onde no haja justia federal, quem julga os processos previdencirios o juiz estadual.

3 - Sero processadas e julgadas na justia estadual, no foro do domiclio dos segurados ou beneficirios, as causas em que forem parte instituio de previdncia social e segurado, sempre que a comarca no seja sede de vara do juzo federal, e, se verificada essa condio, a lei poder permitir que outras causas sejam tambm processadas e julgadas pela justia estadual.

A Smula 183 falava algo parecido. Qual o raciocnio que se fazia: como se trata da competncia do local do dano, quem tem que julgar o juiz que est no local do dano. E se no tem justia federal, quem julga o juiz da justia estadual, seguindo essa regra. Por que o STJ revogou essa smula, declarando o seu cancelamento? Pelo seguinte: a definio sobre se da federal ou estadual foi feita no momento anterior da anlise da competncia. Para definir a justia, o critrio usado o material e no o territorial. O principal fundamento do cancelamento foi o seguinte: ainda que no haja sede da justia federal naquela cidade, algum juiz federal tem competncia sobre aquele territrio. Exemplo: em Sumar (SP) no tem justia federal. Por isso um juiz federal no poder apreciar nada que envolva Sumar? Isso errado. A rea territorial da justia federal de Campinas abrange vrios municpios, inclusive, Sumar. Ento, se tiver um dano ambiental em Sumar e a Unio tem interesse porque o bem dela quem julga a justia federal que abarca o territrio de Sumar: a de Campinas. Sempre haver um juiz federal com competncia territorial sobre a cidade, ainda que a sede do juzo federal no seja na cidade. Ento, muito cuidado com a Smula 183, do STJ. No existe no Brasil mais nenhuma ao coletiva julgada por juiz estadual quando a competncia da justia federal, ainda que no local do dano no tenha justia federal.

A primeira posio vem agora e diz o seguinte: dano local, local do dano.

Dano estadual Que o que o art. 93 do CDC chama de dano regional, a competncia vai ser da capital do Estado. Se o dano em todo SP, a competncia vai ser de SP. Se eu tenho um dano em MG todo, a competncia vai ser de BH, porque pega a capital do estado. Foi opo legislativa. O legislador achou que o juiz da capital tem melhores condies de julgar esse processo. E, nesse caso, a deciso tem que valer para o Estado inteiro porque o juiz competente para apreciar toda a extenso desse dano.

A terceira observao, sobre essa primeira posio que diz que para todo interesse metaindividual se aplica o CDC sobre:

Dano nacional Ou seja, dano que pegue o Brasil inteiro, a competncia vai ser do DF ou da capital de qualquer dos Estados envolvidos.

Aqui, entretanto, quanto a essa primeira posio (para todo e qualquer interesse metaindividual se aplica o art. 93, do CDC e essas trs regrinhas), existe uma derradeira crtica, que pode ser feita a essa posio a partir da leitura do art. 93, do CDC. E a crtica a respeito do art. 93, do CDC a seguinte: a lei usa expresses como dano regional, dano de mbito nacional e dano de mbito local. O grande problema desse dispositivo que no define o que um dano local, regional ou nacional. No h um critrio de definio de dano. Como no h definio do que um dano local, regional e nacional, surgem algumas situaes bizarras e que no d para indicar a regra de competncia a ser aplicada.

Um dano abrangendo duas comarcas contguas regional ou local? local? Qual das duas comarcas vai apreciar? Se o dano considerado regional, vai para a capital. O que a capital do Estado tem a ver com um dano que aconteceu a 300 km de distncia dela?

O dano pegou os estados de SP e MG. um dano regional ou nacional? Se voc fala que dano estadual, a competncia da capital do Estado. Qual? Mas se voc responde que nacional, a competncia do DF. O que o DF tem a ver com isso se o dano s atingiu MG e SP?

Deu para perceber a falha do critrio do art. 93, quando ele no define o critrio nacional, regional e local? Por isso, por essa falta de definio, a crtica que feita.

Mas como resolver esse problema? A doutrina indica que para resolver essa crtica, embora seja uma meia resoluo do problema (e eu estou aqui hoje mais para apresentar o problema do que a soluo) voc usa as regras de preveno. A doutrina tem indicado que tm que ser utilizadas as regras de preveno. E isso significa que se Franca, Ribeiro Preto e Patrocnio Paulista foram atingidos pelo dano, se a primeira ao caiu em Patrocnio, est prevento. O juiz da comarca de Patrocnio vai apreciar todo o dano, inclusive o que atingiu Franca e Ribeiro Preto. Se no caso de SP e BH uma ao foi ajuizada primeiramente em BH, BH est prevento e a deciso ali proferida vai valer tambm para o Estado de SP. Enfim, a nica maneira de solucionar, ainda que precariamente, seria pela regra da preveno. E isso na primeira posio.

Um ltimo alerta sobre a primeira posio: no estudo da competncia voc aprende que a competncia pode ser absoluta (o juiz age de ofcio sob pena de nulidade) ou relativa (o juiz age por provocao, sob pena de prorrogao). A regra absoluta utiliza o critrio funcional e material e a relativa utiliza o critrio valorativo e territorial. Isso s um lembrete. Entretanto, essa regra do art. 93 para proteger, em regra, o interesse pblico. Apesar de a preveno ser uma regra de competncia territorial, uniforme na doutrina o entendimento que se trata de um critrio de competncia absoluta.

Ah, Gajardoni, quer dizer que se o juiz de Patrocnio Paulista julgar uma ao de mbito nacional, ele fica prevento? No! A nulo! Por qu? Porque violou uma regra de competncia absoluta, j que dano de mbito nacional quem pode julgar s capital do Estado ou Distrito Federal. Trata-se daquilo que alguns autores chamam de competncia territorial funcional. Eu prefiro muito mais a nomenclatura competncia territorial absoluta. Mas no tem problema. Alguns autores usam territorial funcional e estamos falando exatamente a mesma coisa. E o que importante saber? Que essa regra obrigatria. Violou, gera nulidade no processo.

2 Posio

A segunda posio aceita uma distino. Na primeira posio, para todos os interesses metaindividuais, aplica-se o art. 93, do CDC. A segunda posio traz uma distino. Para alguns autores:

Quando se tratar de interesses difusos e coletivos, a regra a do art. 2., da Lei de Ao Civil Pblica. E o que diz a regra do art. 2? Local do dano.

Entretanto, se se tratar de interesse individual homogneo, a regra a do art. 93, do CDC.

Para essa posio, feita uma distino entre o tipo de interesse metaindividual em jogo. Se for difuso e coletivo o local do dano. Ento, por exemplo, um rio corta 4 cidades. Onde ser o processo? No local do dano. E onde foi o local do dano? Nas quatro cidades. Portanto, quem julga qualquer uma dessas 4 cidades. Define por preveno. Ainda que sejam 6 cidades afetadas e se considere que esse dano tenha sido um dano estadual, a competncia no vai apontar para a capital do Estado porque o interesse discutido difuso. No um interesse individual homogneo. Portanto, no se aplicaria a regra do art. 93, do CDC, mas a do art. 2., da Lei de ACP. E esse dispositivo diz o seguinte:

Art. 2 As aes previstas nesta Lei sero propostas no foro do local onde ocorrer o dano, cujo juzo ter competncia funcional para processar e julgar a causa.

No tem que verificar se o dano nacional, regional. Agora, se for individual homogneo, tipo caderneta de poupana, o dano seria varivel conforme sua extenso. A competncia se definiria conforme a extenso do dano. Ento, se for caderneta de poupana, dano nacional, capital de qualquer dos Estados ou DF. No teria que verificar onde aconteceu o dano.

Importante verificar nessa posio o seguinte: lembra que quem adota a primeira diz que sempre a regra de competncia absoluta. Aqui, no. Para a segunda posio:

Se se tratar de difusos e coletivos, a regra do local do dano absoluta (se o juiz que no o do local do dano julgar o processo, haver nulidade);

Se se tratar de individuais homogneos, a regra do local do dano relativa. Se for interesse individual homogneo e for inobservada a regra do art. 93, isso geraria apenas um vcio relativo, de modo que se ningum alegar, a deciso proferida pelo juiz seria uma deciso vlida.

Quem adota essa segunda posio, entre outros, o professor Hugo Nigro Mazzilli. De qualquer maneira, estabelecidas essas duas posies, a primeira posio dominante. largamente dominante na doutrina, apesar das crticas que podem ser feitas a ela, em especial por no definir o que dano local, regional e nacional.

Para encerrar competncia, lembra que eu analisei quatro critrios? Vou inaugurar o ltimo item, que trata do art. 16, da Lei de ACP.

8.5.A questo do art. 16, da Lei de Ao Civil Pblica e do art. 2-A, da Lei 9.494/97

Art. 16. A sentena civil far coisa julgada erga omnes, nos limites da competncia territorial do rgo prolator, exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficincia de provas, hiptese em que qualquer legitimado poder intentar outra ao com idntico fundamento, valendo-se de nova prova. (Redao dada pela Lei n 9.494, de 10.9.1997) Art.2-A.A sentena civil prolatada em ao de carter coletivo proposta por entidade associativa, na defesa dos interesses e direitos dos seus associados, abranger apenas os substitudos que tenham, na data da propositura da ao, domiclio no mbito da competncia territorial do rgo prolator. (Includo pela Medida provisria n 2.180-35, de 2001)

Ele diz que a sentena civil far coisa julgada erga omnes. Isso a gente j tinha visto quando eu falei de coisa julgada. S que fala em nos limites da competncia territorial do rgo prolator. Est, com isso, dizendo que se o juiz de uma comarca ou de uma subseo judiciria julgar um processo coletivo, a deciso s vale no territrio que o magistrado tem competncia. Em bom Portugus significa dizer que se o juiz de SP determinar tratamento de Alzheimer para todo mundo que tem a doena, a deciso s vale para quem mora na comarca de SP. Se o cara mora em Campinas e tem Alzheimer, a consequncia que essa deciso no pode ser aproveitada por ele. Se a defensoria pblica entra em Curitiba com uma ao para discutir poupana, a deciso s valeria para os moradores de Curitiba e comarcas respectivas. Se voc morar, por exemplo, em Jacarezinho, que no comarca de Curitiba, no poderia se beneficiar.

Eu acho que todos concordam que o motivo da alterao desse art. 2-A, que era uma MP que depois virou lei, um s: diminuir o alcance do processo coletivo. A finalidade diminuir o alcance do processo coletivo. Sobre esse dispositivo, art. 16, da Lei de Ao Civil Pblica, o seu significado no sentido que dever haver um monte de aes coletivas para resolver o mesmo problema, ns temos que verificar o que diz a doutrina a respeito do tema e depois o que diz a jurisprudncia. A gente vai perceber que vo andar totalmente separadas.

a)Posio da doutrina

A doutrina, de modo uniforme ( uma das poucas unanimidades que temos dentro do processo coletivo) diz que esse dispositivo inconstitucional e , ao mesmo tempo, ineficaz. E por que seria inconstitucional e ineficaz? Seria inconstitucional por violar a proporcionalidade. Em algum momento da sua carreira acadmica voc estudou que a proporcionalidade um corolrio do devido processo legal, de modo que se voc viola a proporcionalidade, viola o devido processo legal. E qual o sentido lgico do processo coletivo? resolver o problema de forma coletiva, de bacia. Se eu digo que a deciso no processo coletivo s vale nos limites territoriais, a consequncia prtica que eu estou individualizando algo que deveria ser coletivizado. Eu estou fazendo um caminho contrrio ao que se prega no processo coletivo. Ento, o dispositivo seria desproporcional e inconstitucional nessa medida: na medida em que individualiza algo que deveria ser coletivo.

A doutrina diz que esse dispositivo ineficaz porque no alterou os arts. 93 e 103, do CDC. O art. 16 diz que a deciso s vale nos limites territoriais do rgo prolator. O art. 103, do CDC, diz que a deciso tem eficcia erga omnes e no coloca nos limites de competncia territorial do rgo prolator. Lembra do microssistema? Se tem uma restrio aqui eu vou beber em outra norma. E eu bebo o art. 103 e observo que l no est escrito que a deciso s vale nos limites territoriais do rgo prolator. A consequncia prtica que, apesar da restrio do art. 16, ela se torna intil porque o art. 103 no fala nos limites.

Na verdade, a doutrina dirige essas crticas e diz que o dispositivo inconstitucional e ineficaz. Nelson Nery Jr. Teve uma sacada fantstica e faz uma observao arguta, que eu quero repetir: ele diz que o legislador no art. 16 ele confundiu dois institutos jurdicos. Quais? Competncia e coisa julgada. Ele diz que misturou alhos com bugalhos. E para provar isso, ele d o seguinte exemplo que dissipa qualquer dvida: se eu, individualmente, me separar da minha esposa em Franca, quando eu saio de Franca e vou para Ribeiro Preto, eu posso me casar de novo (a deciso do divrcio vale em qualquer lugar). Isso no processo individual. O que o legislador est fazendo aqui a mesma coisa, s que no processo coletivo. Competncia uma coisa. Coisa julgada algo completamente diferente. E ele ainda traz um outro argumento que mostra o quo absurda a regra: a sentena brasileira pode valer no estrangeiro. Claro que pode. A sentena brasileira pode at valer no estrangeiro, mas se for proferida em processo coletivo, no vale na comarca do lado. No tem sentido. E essas so as crticas que a doutrina dirige. Infelizmente a doutrina no manda, mas a jurisprudncia.

b)Posio da jurisprudncia

STJ A jurisprudncia no mbito do STJ est uniformizada por conta de um precedente absolutamente recente. A Corte Especial do STJ, que a corte que uniformiza a jurisprudncia no mbito do prprio STJ, no EREsp 399357/SP (de 05/10/09), entendeu que esse dispositivo constitucional. Portanto, a Corte Especial entendeu, uniformizando a jurisprudncia do STJ, que esse dispositivo absolutamente constitucional, ou seja, vale a limitao territorial, de modo que o legislador pode, sim, dizer que uma determinada deciso s vale em determinados limites territoriais. Os argumentos que sustentam essa posio do STJ so muitos simples: o legislador no tem que ser tcnico, o legislador no tem que se preocupar com a diferena entre coisa julgada e competncia. Ele pode fazer isso por opo poltica. E a opo poltica do nosso legislador foi falar que a deciso coletiva s vale nos limites territoriais do rgo prolator. EREsp 399357 / SP - Ministro FERNANDO GONALVES - rgo Julgador S2 - SEGUNDA SEO Data do Julgamento 09/09/2009 Data da Publicao 14/12/2009

1 - Consoante entendimento consignado nesta Corte, a sentena proferida em ao civil pblica far coisa julgada erga omnes nos limites da competncia do rgo prolator da deciso, nos termos do art. 16 da Lei n. 7.347/85, alterado pela Lei n. 9.494/97. Precedentes. 2 - Embargos de divergncia acolhidos.

(Obs.: Fui l no site pegar o julgado. Mas ser que esse mesmo?? A data no coincide e onde est dito que isso foi julgado pela Corte Especial? Seria Segunda Seo da Corte Especial?? Realmente, fiquei sem saber...)

Antes desse precedente, voc encontrava no STJ julgados dizendo que no aplica os efeitos do art. 2-A da Lei 9.494/97, ou seja, j havia julgados antes desse dizendo que era inconstitucional esse dispositivo. E a principal artfice desses julgados era a Ministra Nancy Andrighi, que a doutrina estava certa, que no dava para confundir competncia com coisa julgada. Mas essa posio foi afastada por conta da uniformizao de jurisprudncia pela Corte Especial do STJ. D para tentar salvar alguma coisa dessa deciso do STJ para tentar melhorar o processo coletivo? D. Eu no deixaria de anotar que essa deciso deixou, entretanto, uma brecha. E qual a brecha? O art. 512, do CPC, que fala do efeito substitutivo do julgamento pelo tribunal. Em bom Portugus, ele estabelece se, eventualmente, a deciso for proferida pelo tribunal como julgamento do recurso, o acrdo faz o qu? Substitui a sentena. E se o STJ julgar o recurso? O acrdo do STJ substitui o acrdo do TJ, do TRF. E se o STF julgar o recurso? O acrdo do STF substitui o acrdo do STJ que houvera substitudo o do juiz do primeiro grau. Quem julgar por ltimo substitui.

Art. 512 - O julgamento proferido pelo tribunal substituir a sentena ou a deciso recorrida no que tiver sido objeto de recurso.

Olha a brecha que o STJ abriu: se, eventualmente, quem julgar o processo for um tribunal, como o TJ, o TJ tem uma competncia territorial sobre o Estado. O TRF, por exemplo, da 3 Regio, tem competncia territorial em SP e MS. Quando o juiz em SP profere uma deciso em ao coletiva, voc recorre para o TJ. Bateu no TJ e o TJ mudou, o acrdo substitui a sentena. A competncia territorial do TJ sobre todo o Estado. A deciso que s valia para SP passa a valer para todo o Estado. E se for do STJ? O STJ apreciou o mrito. A deciso teria mbito nacional, pois valeria nos limites territoriais do rgo prolator. E a competncia territorial do STJ nacional. No caso do TRF, dois ou trs estados. Ento, esse caso do STJ um caso de poupana. A defensoria do RS tinha entrado com uma ao para discutir poupana. Julgou em primeiro grau. Perdeu. Julgou em segundo grau. Ganhou. A deciso vale para o Estado inteiro. S para o RS.

Sabe o que vai comear a acontecer a partir desse entendimento do STJ? Eu entro em SP, perdi, fao a seguinte avaliao: vale a pena recorrer? Se o tribunal, mantiver, vai valer para o Estado inteiro. Ento, olha que situao esdrxula. O efeito do tribunal apreciar e manter a sentena pode ser pior do que se eu ficar quieto. Esquisito. a brecha que o STJ deu.

Com essas consideraes espero ter resolvido o problema do art. 16, da Lei de Ao Civil Pblica. Mas qual posio adotar no concurso? Depende. Se for uma prova da defensoria, MP, desce o porrete nesse artigo. Mas se for uma prova para AGU, voc vai falar que esse art. 16 o melhor dispositivo que existe no mundo. Se adotar a posio do STJ mais fcil depois de conseguir anular a questo. Eu sempre sigo a jurisprudncia para prestar concurso. No caso de prova aberta, preciso pensar politicamente.

Vamos ao ltimo item da aula de teoria geral do processo coletivo.

9.LIQUIDAO E EXECUO DE SENTENA COLETIVA

Julgou o processo, ganhei. E da? O que eu fao com a sentena coletiva? Para eu poder explicar isso, vou dividir a exposio em trs partes. Primeiro vamos ver a execuo e liquidao da sentena nos difusos e coletivos, ou seja, nos direitos naturalmente coletivos, utilizando a classificao do professor Barbosa Moreira.9.1.Liquidao e execuo da sentena nos difusos e coletivos

Existem dois tipos de execuo nos difusos e coletivos: execuo da pretenso coletiva e a execuo da pretenso individual na hiptese de a sentena ser proferida no processo em que se discutem direitos difusos e coletivos.

a)Execuo da pretenso coletiva

Eu queria pegar vrios exemplos de difusos e coletivos, aqueles que tm natureza indivisvel. Ento, vamos usar o exemplo tradicional, s para a gente ter como apoiar os argumentos que vou utilizar. Vamos supor que um caso de dano ambiental. Poluir determinado rio. Feito isso, preciso fazer algo para despoluir aquele rio. Ento, o exemplo que vamos utilizar esse. Julgou procedente a ao. Mandou o caboclo despoluir o rio e reparar o dano ao meio ambiente pagando uma quantia de 5 milhes de reais. Essa foi a sentena proferida no processo de tutela de interesses difusos e coletivos. A execuo da pretenso coletiva ser feita com base nos 5 milhes. Eu tenho 5 milhes para receber. Quem tem a legitimidade para poder ajuizar essa execuo coletiva? Est no art. 15, da Lei de ACP, que um artigo que j estudamos quando falamos do princpio da indisponibilidade da execuo coletiva. Voc lembra quem pode executar uma sentena coletiva? O autor. Se o autor no executar em 60 dias do trnsito em julgado, quem executa qualquer outro legitimado ou o MP. Art. 15. Decorridos sessenta dias do trnsito em julgado da sentena condenatria, sem que a associao autora lhe promova a execuo, dever faz-lo o Ministrio Pblico, facultada igual iniciativa aos demais legitimados.

Ento, na execuo da pretenso coletiva, teremos

Autor

Qualquer legitimado

Ministrio Pblico

Esses so os caras que podem propor a execuo para receber os 5 milhes de reais de indenizao. Para quem vai esses 5 milhes de reais? Quem o destinatrio dessa grana? Quem vai levar essa bolada? A resposta a isso algo criado pela Lei de ACP no art. 13: vo para um fundo, que um fundo de reparao de bens difusos e coletivos lesados.

Art. 13. Havendo condenao em dinheiro, a indenizao pelo dano causado reverter a um fundo gerido por um Conselho Federal ou por Conselhos Estaduais de que participaro necessariamente o Ministrio Pblico e representantes da comunidade, sendo seus recursos destinados reconstituio dos bens lesados.

Pargrafo nico. Enquanto o fundo no for regulamentado, o dinheiro ficar depositado em estabelecimento oficial de crdito, em conta com correo monetria.

Eu quero falar brevemente sobre esse fundo. O art. 13 estabelece a criao de um fundo e parece que um fundo s, mas na verdade, so dois grandes grupos: h o fundo federal e o fundo estadual. O federal so para as verbas das aes ligada justia federal e o estadual, cada Estado tem o seu. Dentro de cada um desses fundos h ainda subdivises: fundo de crianas, fundo de idosos, de adolescentes, fundo de consumidor. Cada tipo de condenao, a verba vai para uma conta diferente. A lei que regulamenta o fundo federal (no caso do estadual, cada Estado tem a sua lei regulamentando cada um dos fundos), a Lei 9008/95. Essa lei regulamenta o Fundo Federal de Reparao de Danos. Todos esses fundos so muito parecidos e o que voc tem que saber sobre eles a finalidade: para reparao de bens lesados. Significa que esse dinheiro vai ser utilizado para reparar os bens, fazer campanhas educativas, etc. Como gerido esse fundo? Est tudo na lei. E um fundo gerido pela sociedade civil, pelo MP. Tem representantes de um monte de rgos e so eles que decidem para onde vai esse dinheiro.

A grande crtica que se faz a esse fundo que esse dinheiro sub-aproveitado. Voc manda o dinheiro para o fundo e ele fica l parado. Perde a agilidade por conta da burocracia. Para levantar o dinheiro depois um parto (tem que seguir os trmites oramentrios, etc.). E o fundo tem se mostrado um grande problema. Mas, por hora assim. No projeto, que vai virar a nova Lei de ACP, esse fundo vai ter pouca importncia porque est previsto que, diante de um dano coletividade, o dinheiro vai ser aplicado naquela coletividade levada. O dinheiro vai para despoluir aquele rio poludo. Vai direto e o juiz e o promotor vo fazer uma licitao para que, com aquele dinheiro, se consiga despoluir o rio. S em ltima hiptese que vai mandar o dinheiro para o fundo.

Para fechar a execuo da pretenso coletiva, vamos falar da competncia:

A regra de competncia para a execuo da pretenso coletiva: processo sincrtico. Onde voc acha que corre a execuo quando a sentena coletiva for proferida nos difusos e coletivos? O juiz da condenao o mesmo da execuo. Juzo da condenao.

Portanto, na execuo da pretenso coletiva, a legitimidade do autor, qualquer legitimado e MP; o destinatrio o fundo e a competncia do juiz da condenao.

Mas existe um outro tipo de execuo da sentena proferida nos difusos e coletivos, que a execuo da pretenso individual.

b)Execuo da pretenso individual

Ateno! Esta execuo da pretenso individual fruto do art. 103, 3, do CDC e representativa daquilo que voc j estudou comigo que a questo do transporte in utilibus da coisa julgada que tem previso no art. 103, 3, do CDC.

3 - Os efeitos da coisa julgada de que cuida o Art. 16, combinado com o Art. 13 da Lei n 7.347, de 24/07/1985, no prejudicaro as aes de indenizao por danos pessoalmente sofridos, propostas individualmente ou na forma prevista neste Cdigo, mas, se procedente o pedido, beneficiaro as vtimas e seus sucessores, que podero proceder liquidao e execuo, nos termos dos artigos 96 a 99.

O juiz do processo coletivo julga procedente a ao e o indivduo pega a sentena coletiva e se beneficia dela. Uma poluio no rio, alm de lesar o rio, pode ter atingido tambm um monte de pescadores ribeirinhos. O pescador ribeirinho pode pegar uma cpia da sentena coletiva e executar a pretenso individual dele, para receber uma indenizao pelo perodo que ele ficou sem pescar. E isso e execuo da pretenso individual: pegar uma sentena dos difusos e ver, na medida do que se aplica, qual o prejuzo que eu, individualmente, sofri.

Legitimidade Quem vai poder executar a pretenso individual? Aqui, no se trata de uma ao ou de uma execuo coletiva, mas de uma execuo de uma pretenso individual. Portanto, quem executa so as vtimas e os sucessores.

Essa execuo um pouco diferente porque na anterior j havia um valor fixo: 5 milhes: indenize o meio ambiente em 5 milhes. Eu quero pegar essa sentena e, com base no comando dela (que o que diz que a pessoa foi culpada pela poluio do meio ambiente) e transformar aquilo em um valor para mim. Portanto, nesse caso, eu preciso proceder a uma liquidao da sentena genrica. Eu tenho que proceder a uma prvia liquidao da sentena genrica.

Essa liquidao que feita no processo coletivo um pouco diferente das liquidaes do CPC. A liquidao de sentena serve para apurar o quantum debeatur. Na sentena individual, eu s apuro o valor. Aqui muda. Quando h uma liquidao de sentena genrica coletiva, ela serve para, no s apurar o quantum, como tambm serve para apurar o an debeatur. Como assim, an debeatur? O pescador vai ter que provar, antes de mais nada, que pescador, que pesca naquele rio para, s depois, verificar o quantum. Ento voc percebe que quando se trata de liquidao de sentena genrica, uma liquidao um pouco diferente porque voc s no prova o quantum, mas o an debeatur. Por isso, a gente poderia parar de usar a expresso liquidao de sentena quando se tratar de processo coletivo, para no confundir a liquidao aqui, com aquela liquidao do CPC. Seria muito melhor usar que expresso aqui? Habilitao. Essa seria uma expresso muito mais adequada para designar esse fenmeno que um fenmeno distinto do fenmeno do processo individual. Se eu usar a habilitao, eu resolvo esse problema e mostro, para quem est de fora, que estou falando de um instituto que no apenas para discutir o quantum, mas para discutir tambm o an debeatur.

Mas se voc no concorda e quer usar a palavra liquidao, pelo menos faa como faz o Dinamarco. Ele fala que gosta da expresso liquidao e vai continuar usando, mas para diferenciar, ele chama a liquidao da sentena genrica de liquidao imprpria.

Destinatrios Liquidou, provou que pescador, provou que ficou sem pescar um ms. Conseguiu apurar um valor de 50 mil reais (caro esse peixe!). Quem vai receber essa grana? No o fundo porque o dano individual. Quem recebe so as vtimas e sucessores.

Competncia Quem vai julgar esse processo em que o pescador, pegando a sentena que condenou o ru a pagar 5 milhes ao meio ambiente, vem justia e prova que sofreu dano? Pode ser: ou o juzo do domiclio do lesado (art. 101, I, do CDC) ou o juzo da condenao (art. 98, 2, I, CDC):

Art. 101 - Na ao de responsabilidade civil do fornecedor de produtos e servios, sem prejuzo do disposto nos Captulos I e II deste Ttulo, sero observadas as seguintes normas: I - a ao pode ser proposta no domiclio do autor;

Art. 98 - A execuo poder ser coletiva, sendo promovida pelos legitimados de que trata o Art. 82, abrangendo as vtimas cujas indenizaes j tiverem sido fixadas em sentena de liquidao, sem prejuzo do ajuizamento de outras execues.

2 - competente para a execuo o Juzo: I - da liquidao da sentena ou da ao condenatria, no caso de execuo individual;

O pescador pode vir at SP, pegar a cpia da sentena que condenou a empresa a pagar o valor de 5 milhes, voltar para So Sebastio e liquidar e executar em So Sebastio. Ou, se ele quiser, pode fazer isso em So Paulo porque a opo da vtima e seus sucessores.

Com essas observaes, eu encerro a execuo e liquidao dos difusos e coletivos.9.2.Liquidao e execuo dos individuais homogneos

Diferentemente do modelo anterior em que havia dois tipos de execuo, aqui haver trs tipos de execuo: execuo da pretenso individual, execuo da pretenso individual coletiva e a execuo da pretenso coletiva residual.

a)Execuo da pretenso individual

Essa a mais fcil. Exemplo do Microvlar (plula de farinha). Execuo da pretenso individual significa que cada mulher vai pegar a sentena que condenou a empresa a indeniz-la. Note-se que no caso do pescador, a sentena condenou ao pagamento de 5 milhes para a defesa do meio ambiente e o pescador se beneficiou dela: transporte in utilibus. Aqui, no. Aqui a sentena j para indenizar o indivduo, condena a empresa a indenizar todas as mulheres que tomaram a plula de farinha. A execuo da pretenso individual tem previso no art. 97, do CDC:

Art. 97 - A liquidao e a execuo de sentena podero ser promovidas pela vtima e seus sucessores, assim como pelos legitimados de que trata o Art. 82.

Tudo o que eu falei no tpico anterior (item c de 9.1) igual aqui. Legitimado para a pretenso individual: vtima e sucessores. Precisa de liquidao aqui tambm? Claro. A mulher precisa provar que tomou a plula de farinha e provar o seu prejuzo. Destinatrios do dinheiro aqui: a vtima e sucessores. E quem julga? Ou o domiclio da vtima ou o juzo da condenao. igualzinho. No mudou nada.

b)Execuo da pretenso individual coletiva

A execuo da pretenso individual coletiva tem previso no art. 98, do CDC:

Art. 98 - A execuo poder ser coletiva, sendo promovida pelos legitimados de que trata o Art. 82, abrangendo as vtimas cujas indenizaes j tiverem sido fixadas em sentena de liquidao, sem prejuzo do ajuizamento de outras execues.

1 - A execuo coletiva far-se- com base em certido das sentenas de liquidao, da qual dever constar a ocorrncia ou no do trnsito em julgado.

2 - competente para a execuo o Juzo:

I - da liquidao da sentena ou da ao condenatria, no caso de execuo individual;

II - da ao condenatria, quando coletiva a execuo.

Vamos considerar as mulheres que tomara a plula de farinha. A Joana vai l e liquida: 10 mil, a Maria vai l e liquida, 10 mil, a Joana vai l e liquida, 20 mil, a Paula vai l e liquida, 100 mil. H cinqenta mulheres e cada uma faz a sua liquidao individual.

O problema que elas se sentem mais fortes na hora de executar juntas. Ento, o que a execuo da pretenso individual coletiva? a execuo das pretenses individuais j liquidadas em conjunto. As 50 mulheres vo at a associao, o MP e pede para esses rgos executarem para elas, em conjunto, todas as liquidaes individuais j feitas. o que diz o caput do art. 98. A ideia, portanto, bastante clara.

Quem executa a pretenso individual coletiva? Art. 82: Art. 82 - Para os fins do Art. 81, pargrafo nico, so legitimados concorrentemente:

I - o Ministrio Pblico;

II - a Unio, os Estados, os Municpios e o Distrito Federal;

III - as entidades e rgos da Administrao Pblica, Direta ou Indireta, ainda que sem personalidade jurdica, especificamente destinados defesa dos interesses e direitos protegidos por este Cdigo;

IV - as associaes legalmente constitudas h pelo menos 1 (um) ano e que incluam entre seus fins institucionais a defesa dos interesses e direitos protegidos por este Cdigo, dispensada a autorizao assemblear.

Associao, MP, defensoria, rgo pblico, administrao direta, indireta. quem pode propor ao civil pblica. Quem pode propor ao civil pblica, pode propor ao coletiva e executar. Ento, ele pega todas as liquidaes de sentenas e faz uma execuo s.

O cara que est entrando com a ao est fazendo isso em nome prprio na defesa do direito alheio ou est, literalmente, executando o direito alheio em nome alheio? O que eu quero mostrar que a doutrina aponta que essa hiptese a de representao. No legitimao extraordinria. Quando a defensoria pblica vai executar a liquidao de cada uma das mulheres, o faz em nome das mulheres para a defesa do direito das mulheres. Ento, aqui tpica hiptese de representao. Aqui, igual me que entra em nome do filho para pedir alimentos. A me age em nome do filho para postular direito do filho. Aqui tambm. O MP ou a defensoria age em nome das mulheres para executar direitos que so das mulheres.

Destinatrios Quem leva essa bolada? Para quem vai o dinheiro? Para as vtimas e sucessores. Aqui direito individual homogneo. bvio que o direito do indivduo. No difuso.

Competncia A regra de competncia aqui diferente porque a execuo est sendo coletiva. A pretenso individual, mas a execuo coletiva. Assim, s pode ser o juzo da condenao. No tem como ser em outro lugar. Quem tem que executar a pretenso individual coletiva o prprio juiz que proferiu a sentena condenando a Microvlar a indenizar todas as mulheres. O MP julga todas as sentenas de liquidao, faz um processo s e executa pelo prprio juzo da condenao. assim que funciona essa bizarrssima execuo da pretenso individual coletiva.

c)Execuo da pretenso coletiva residual

Isso aqui uma coisa que existe no Brasil e a previso para esse monstrinho est no art. 100, do CDC. E isso ns herdamos do sistema norteamericano. Isso tem um nome l e bom voc anotar porque eu j vi vrias vezes em provas eles no se referirem a isso em Portugus. Chama-se fluid recovery.

Voltando ao exemplo da Microvlar. Quando o juiz condenou a empresa a indenizar todas as mulheres que tomaram a plula de farinha, ele o fez luz de uma estimativa de que entre 1.000 e 1.500 mulheres foram atingidas pelo evento (eu sei disso porque tive acesso aos autos). Passado 1 ano da data do trnsito em julgado, ele descobre que apenas 50 mulheres se habilitaram, liquidaram e executaram as pretenses individuais. Ou seja, quem sai no lucro? A empresa, j que no vai ter que indenizar as outras 950 mulheres que no apareceram ou no conseguiram provar que tomaram a plula de farinha, o que algo difcil de provar. O art. 100, do CDC, diz o seguinte:

Art. 100 - Decorrido o prazo de 1 (um) ano sem habilitao de interessados em nmero compatvel com a gravidade do dano, podero os legitimados do Art. 82 promover a liquidao e execuo da indenizao devida.

Pargrafo nico - O produto da indenizao devida reverter para o Fundo criado pela Lei n 7.347, de 24 de julho de 1985.

O juiz faz o clculo da condenao por estimativa. Calcula tantos lesados, valor por lesado, multiplica isso e pronto. Qualquer dos legitimados coletivos executa e liquida fluidamente a reparao do que sobrou. Depois que pega essa bolada (a empresa no fica no lucro), manda o produto da indenizao para o fundo.

Fluid Recovery - A execuo da pretenso coletiva residual, ou fluid recovery, o fenmeno atravs do qual, no havendo habilitados em nmero compatvel extenso dos danos, permite aos legitimados coletivos apurar o valor supostamente devido e execut-lo a bem no mais dos indivduos, mas sim da coletividade.

A partir disso que eu ditei e est no art. 100, vamos fazer algumas observaes:

Legitimidade Quem faz a execuo da pretenso coletiva residual? Quem o autor dessa execuo? Os legitimados do art. 82. Os caras que podem propor a ao coletiva podem fazer a execuo da pretenso coletiva.

Destinatrios Para quem vai a bolada? No d para ser para o indivduo porque eu no sei quem eles so. o Fundo do art. 13.

Competncia Por ser uma execuo coletiva (se fosse individual, cabvel o domiclio da vtima), portanto, juzo da condenao (art. 98, 2, do CDC).

Critrios para a estimativa do valor devido:

O juiz vai fixar um valor supondo que esse seria o valor que as vtimas receberiam. Esse o raciocnio. E o juiz usa dois critrios para definir a bolada:

Gravidade do dano Quanto maior o dano, maior o valor (plula de farinha mais grave do que 20ml a menos no leite longa-vida porque no mexe com sade pblica).

Nmero de indivduos habilitados e indenizados o segundo critrio. Se forem 1000 habilitados, eu no vou mandar a empresa pagar para os 1000 que j recorreram. Eu vou mandar pagar para os 500 que esto faltando. Agora, se forem s 50 habilitados, seria o correspondente a 1450 que esto faltando.

9.3.Duas observaes finais

Se for dano ao patrimnio pblico, o valor no revertido para o fundo, mas para o prprio patrimnio pblico. O prefeito desviou verba, a empresa de licitao causou prejuzo. Devolve o dinheiro para a prefeitura.

No concurso entre a indenizao de pretenses coletivas e individuais (a empresa que poluiu s tem dinheiro para pagar um: ou paga o pescador ou repara o meio ambiente), prevalece a pretenso do indivduo. Existe uma opo poltica (art. 99, do CDC):

Art. 99 - Em caso de concurso de crditos decorrentes de condenao prevista na Lei n 7.347, de 24 de julho de 1985, e de indenizaes pelos prejuzos individuais resultantes do mesmo evento danoso, estas tero preferncia no pagamento.

(Intervalo 01:36:00)10.Prescrio das aes coletivas:

Prescrio um fenmeno tpico das pretenses condenatrias.

O art. 21 da LAP diz que a ao popular prescreve em 5 anos.

O art. 23 da LIA diz que a ao de improbidade administrativa prescreve no prazo da prescrio da sano disciplinar para os funcionrios de carreira (a maioria das leis fala que de 5 anos) e para os que no so funcionrios de carreira (nomeados ou eleitos) prazo de 5 anos.

Qual a prescrio da ACP? A LACP omissa a respeito do prazo prescricional. 3 posies a respeito do tema:1) Edis Milar/Ricardo Barros Leonel por no ter prazo prescrito na lei a ACP imprescritvel. A ACP no tem interesse patrimonial (O Professor no concorda aqui).

2) Quando falta norma em uma das leis, busco outra norma CDC (vai para o microssistema). Da, o prazo de 5 anos, aplicando por integratividade o art. 21 da LAP, com base no microssistema.

Essa posio foi adotada no STJ Resp. 1089.206/RS, Resp. 1070.896 plano econmico prescreveu as aes coletivas.

3) Gajardoni/Scarpinela/Hermes e Fredie: o que tem que definir a prescrio a pretenso, o direito material. Quem define o direito material.

Contudo, mesmo para os adeptos da existncia da prescrio, h dois tipos de tutela via ACP que so imprescritveis:

1) dano ao patrimnio pblico (art. 37, 5, CF). No tem prazo prescricional (STJ).

Ada Pelegrini Grinover e Scarpinela acham que tem que ter prescrio.

2) dano ao meio ambiente (STJ).

10.1.Prescrio da execuo coletiva:

a) difusos e coletivos: diz-se que a prescrio segue o regime da Smula 150 do STF (prescreve a execuo no mesmo prazo de prescrio da ao). Exemplo: pega a ao, v o seu trnsito em julgado, da, do trnsito em julgado, conta a sua prescrio da execuo. Se a ao for imprescritvel, a execuo tambm imprescritvel. O corte o trnsito em julgado.

b) individuais homogneos: 2 posies:

Aplica a Smula 150 do STF trnsito em julgado, da comea o prazo. Outros dizem que o prazo do at. 100 do CDC (1 ano para habilitar) o ente coletivo faz e manda para o fundo, caso tenha passado 1 ano. O Professor acha que essa a mais correta e melhor, mas pior para o jurisdicionado. AO CIVIL PBLICA Lei 7.347/851.PREVISO LEGAL E SUMULAR

A ao civil pblica nasceu por conta do art. 14, 1, da Lei 6.938/81. Esta lei est em vigor at hoje, bastante defasada porque vrias leis a alteraram, mas foi a primeira lei que tivemos sobre meio ambiente, a Lei Nacional de Meio Ambiente. E o que tem de diferente nessa lei? que ela criou um negcio que, at ento, ningum nunca tinha ouvido falar. Ela falava que, para a proteo do meio ambiente o Ministrio Pblico ajuizaria uma tal de ao civil pblica. Mas em 1981 ningum tinha ideia do que era a ao civil pblica. E voc vai entender porque deram esse nome. E isso porque tudo o que o MP tinha at ento era a tal da ao penal pblica. E foi a maneira mais fcil de autorizar o MP a trabalhar no cvel: criar uma corruptela e criar, paralelamente ao penal pblica, a ao civil pblica. E o nome vem da. Art. 14, 1, da Lei 6.938/81 - Sem obstar a aplicao das penalidades previstas neste artigo, o poluidor obrigado, independentemente da existncia de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministrio Pblico da Unio e dos Estados ter legitimidade para propor ao de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente.

E novos debates foram levados at o ponto que, no famoso congresso que aconteceu em Ibina, interior de SP, em 1993, nasceu o projeto de ao civil pblica apresentado pelo MP de SP, por professores consagrados na rea de direitos difusos e coletivos. O projeto foi apresentado com base num outro projeto feito pela Ada, Dinamarco e Kasuo Watanabi, os trs de SP. E esse projeto apresentado pelo MP/SP, somado com o dos outros trs, acabou se tornando a Lei de Ao Civil Pblica, que a Lei 7.347/85. Ento, a partir do art. 14, 1, da Lei 6.983/81, foi elaborado um projeto para regulamentar esse art. 14, 1 e esse projeto acabou se transformando na Lei de ACP.

Depois de 1985 houve um grande reforo da Lei 7.347/85 por um motivo simples: a Constituio Federal de 1988 estabeleceu no art. 129, III, uma ao a ser ajuizada pelo MP, entre outros, chamada de Ao Civil Pblica. O art. 129, III, da CF, consolidou no sistema brasileiro a ao civil pblica, ao estabelecer que compete ao MP instaurar e presidir o inqurito civil e instaurar a Ao Civil Pblica. Esse o modelo legal da ao civil pblica: origem (Lei 6.938/81), regulamento (Lei 7.347/85) e reforo (CF/88).

As aulas mais importantes que tivemos sobre processo coletivo foi a primeira e esta, at a metade. Porque tudo o que falei at ento, se aplica aqui. Se te perguntarem: o que regulamenta a ACP? o microssistema. No pode esquecer. E o microssistema o CDC, Lei de ACP e tudo o mais que trata do tema. Eu s no estou falando aqui de microssistema e de CDC porque j falei e bom deixar isso claro. Microssistema cuida de tudo o que processo coletivo.

Apesar dos 24 anos da Lei de Ao Civil Pblica, a ao civil pblica no contou com muitas smulas dos tribunais superiores. H hoje, em vigor, sobre ao civil pblica, duas smulas: 643, do STF que j vimos quando eu expliquei a diferena entre difusos, coletivos e individuais homogneos e a Smula 329, do STJ:

STF Smula n 643 - DJ de 13/10/2003 - O Ministrio Pblico tem legitimidade para promover ao civil pblica cujo fundamento seja a ilegalidade de reajuste de mensalidades escolares.

STJ Smula n 329 DJ 10.08.2006 - O Ministrio Pblico tem legitimidade para propor ao civil pblica em defesa do patrimnio pblico.

E isso uma coisa bvia, evidente, mas foi preciso editar essa smula porque tinha gente falando que o MP podia defender tudo, menos o patrimnio pblico. Quem tinha que defender o patrimnio pblico seria a prpria parte prejudicada. Ento, roubaram a prefeitura. Quem defende a prefeitura a prefeitura e no o MP? E isso no tem p nem cabea porque voc institucionaliza a robalheira.

Tinha aquela smula que a gente viu na primeira parte da aula, a Smula 183, s que essa foi cancelada. Portanto, s h essas duas smulas.

2.OBJETO DA AO CIVIL PBLICA

O objeto da ao civil pblica tem previso nos arts. 1, 3 e 11, da Lei de Ao Civil Pblica.

Art. 1 Regem-se pelas disposies desta Lei, sem prejuzo da ao popular, as aes de responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados: (Redao dada pela Lei n 8.884, de 11.6.1994) I - ao meio-ambiente;

II - ao consumidor;

III a bens e direitos de valor artstico, esttico, histrico, turstico e paisagstico; IV a qualquer outro interesse difuso ou coletivo; V-por infrao da ordem econmica e da economia popular; VI- ordem urbanstica.

Pargrafo nico.No ser cabvel ao civil pblica para veicular pretenses que envolvam tributos, contribuies previdencirias, o Fundo de Garantia do Tempo de Servio - FGTS ou outros fundos de natureza institucional cujos beneficirios podem ser individualmente determinados.

Art. 3 A ao civil poder ter por objeto a condenao em dinheiro ou o cumprimento de obrigao de fazer ou no fazer.

Art. 11. Na ao que tenha por objeto o cumprimento de obrigao de fazer ou no fazer, o juiz determinar o cumprimento da prestao da atividade devida ou a cessao da atividade nociva, sob pena de execuo especfica, ou de cominao de multa diria, se esta for suficiente ou compatvel, independentemente de requerimento do autor.

O objeto da ao civil pblica a tutela preventiva, inibitria, de remoo do ilcito ou ressarcitria material e moral dos seguintes bens e direitos metaindividuais. E a o legislador vem e fala:1. Meio ambiente

2. Consumidor

3. Bem de valor histrico e cultural

4. Qualquer outro direito metaindividual

5. Ordem econmica

6. Ordem urbanstica

Grosseiramente, de forma bem ampla, o objeto da ao civil pblica esse a listado. Eu preciso trabalhar algumas questes com vocs. E vou fazer isso atravs de notas, de observaes. Sero quatro discusses importantes do ponto de vista doutrinrio, acadmico e jurisprudencial:

2.1. Tutela preventiva e ressarcitria

Eu fiz uma diviso da tutela em dois grandes grupos:

Tutela preventiva Tutela ressarcitria (ou reparatria)

O que define e o que diferencia a tutela preventiva, que tem lastro no art. 461, do CPC e no art. 84, do CDC, da tutela ressarcitria?

CPC - Art. 461 - Na ao que tenha por objeto o cumprimento de obrigao de fazer ou no fazer, o juiz conceder a tutela especfica da obrigao ou, se procedente o pedido, determinar providncias que assegurem o resultado prtico equivalente ao do adimplemento.

CDC - Art. 84 - Na ao que tenha por objeto o cumprimento da obrigao de fazer ou no fazer, o Juiz conceder a tutela especfica da obrigao ou determinar providncias que assegurem o resultado prtico equivalente ao do adimplemento.

O que diferencia o momento do dano. Se eu quero evitar o dano e, portanto, o meu objetivo, meu momento antes do dano, estou diante de uma tutela preventiva. Se, por sua vez, a tutela judicial se d aps a ocorrncia do dano, eu j no estaria diante de uma tutela preventiva, mas sim de uma tutela ressarcitria. Dentro da tutela preventiva (porque a diferena entre tutela preventiva e ressarcitria muito fcil de ser averiguada), a maior dificuldade surge na diferenciao das duas espcies de tutela preventiva. E quais so as duas espcies de tutela preventiva (que gnero)? Tutela inibitria antes do ilcito Tutela de remoo do ilcito aps ilcito

Qual a diferena entre uma e outra? A diferena a ocorrncia do ilcito. A inibitria antes do ilcito e a de remoo do ilcito aps o ilcito. A tutela preventiva gnero ( aquela que quer evitar o dano) e dentro dela, h dois momentos diferentes: a inibitria e a de remoo do ilcito.

Como regra, a responsabilizao surge em momentos distintos. S depois de cometido o ilcito que ocorre o dano. Ento, o ilcito pressuposto do dano. Se eu quero evitar a ocorrncia do dano, eu posso tentar evitar a ocorrncia do ilcito porque fazendo isso eu evito o dano. Se o ilcito no aconteceu e eu quero evitar que ele acontea, a modalidade de tutela preventiva que eu uso a inibitria. Se, eventualmente, o ilcito j aconteceu, mas ainda no aconteceu o dano (porque pode ser que no tenha dado tempo de causar prejuzo), a tutela a preventiva de remoo do ilcito. Se j aconteceu o ilcito e j aconteceu o dano, a tutela j no mais de remoo do ilcito. A, j virou ressarcitria.

Quem faz essa diferenciao muito bem Luiz Guilherme Marinoni e ele d um exemplo escolstico, que permite diferenciar exatamente o momento de cada uma das tutelas. o exemplo da importao de medicamentos proibidos. Uma empresa quer importar um medicamento cuja comercializao no autorizada em territrio nacional. Se eu entrar com uma ao coletiva para impedir a vinda desse medicamento para o Brasil, eu estaria me valendo de uma tutela preventiva na modalidade inibitria (porque no quero deixar acontecer o ilcito: a importao). Suponhamos que a mercadoria j foi importada. O ilcito, portanto, j foi praticado. A medida agora no inibitria porque o ilcito j foi praticado. Estando o ilcito praticado, eu j posso evitar a ocorrncia do dano. E como eu fao isso? Atravs da tutela da remoo do ilcito. Eu vou pedir para queimar as mercadorias importadas, devolver para a origem, apreender, etc. Mas no deu tempo, porque essa mercadoria j foi importada e j foi comercializada. Nesse caso, j aconteceu o dano. Nesse caso, a tutela j no mais preventiva. Virou ressarcitria. Essa a diferena e a ao civil pblica serve para tutelar as trs situaes.

Essas trs tutelas so plenamente cumulveis. O que eu quero dizer para vocs que uma ao civil pblica pode ter ao mesmo tempo: a tutela inibitria, de remoo do ilcito e pode ter tambm a tutela ressarcitria. Tudo em um nico processo.

Nesse caso do medicamento seria interessante a gente imaginar a seguinte situao jurdica: a empresa importou mercadoria proibida, colocou venda no mercado, no mercado h mais mercadoria e ainda continua importando mais mercadoria de mesmo teor que essa que j est acabando. O MPF entra com uma ao e pede o qu? Obste a importao que est vindo tutela inibitria (quer evitar a ocorrncia do ilcito)

Apreenda todas as mercadorias que esto no estoque (remoo do ilcito)

Indenize todos os danos causados sade pblica em virtude da comercializao do medicamento proibido.

Na ao civil pblica pode-se fazer essas maluquices: juntar trs tutelas numa s.

2.2. Meio ambiente

A aula no sobre direito ambiental. A aula sobre processo coletivo, mas como o meio ambiente a origem e o principal foco de atuao da ao civil pblica, eu preciso fazer um breve destaque sobre a proteo do meio ambiente pela ao civil pblica. E eu preciso fazer isso para quando voc for estudar direito ambiental. E h dois livros sobre direito ambiental muito bons: um do Marcelo Abelha Rodrigues e o outro do Luis Paulo Sirvinskas (Saraiva Manual de Direito Ambiental). Esse do Paulo bem legal para quem vai comear. E uma das coisas que ele explica bem, para quem no tem noo nenhuma e que importante para entender o objeto da ao civil pblica, que o meio ambiente pode ser dividido em trs grandes grupos: Meio ambiente natural fauna e flora Meio ambiente artificial espao urbano Meio ambiente cultural patrimnio histrico

Todos tm proteo. A feijoada, o carnaval so patrimnios histricos brasileiros e merecem proteo atravs do meio ambiente cultural. Uma cidade poluda, poluio sonora diz respeito ao meio ambiente artificial e merece proteo atravs da ACP. Por que estou falando isso? O que isso tem a ver com a aula? Isso porque eu queria que voc tivesse plena noo do seguinte:

Meio ambiente do trabalho - O meio ambiente do trabalho est no meio ambiente artificial. E d para proteger por ACP o meio ambiente do trabalho? Smula 736 do STF. D para proteger meio ambiente do trabalho por meio de ao coletiva e essa ao coletiva vai ser julgada pela justia do trabalho. O que importante saber que o meio ambiente do trabalho objeto de proteo via ao civil pblica exatamente porque compe o meio ambiente artificial.

Muitos autores dizem que o legislador no precisava ter previsto bem e valor histrico e cultural e nem ordem urbanstica. Isso porque quando ele fala em meio ambiente e no faz qualquer ressalva, est abrangendo quais meios ambientes? Todos: o natural, o cultural e o artificial. Portanto, de acordo com alguns autores, poderiam ser suprimidos os incisos IV e VI, que no mudaria absolutamente nada, j que a expresso meio ambiente alcana tambm os bens e valores histricos e culturais, como alcana tambm a ordem urbanstica.

2.3. Bens de valor histrico e cultural

A Cespe pede prova sim, prova tambm, essa questo. Ento, vamos esclarec-la. A grande discusso aqui no a definio sobre o que bem de valor histrico e cultural. Isso j est integrado nossa cultura como um todo. A discusso aqui sobre o tombamento. a nica discusso que vou travar.

O tombamento, juridicamente falando, uma certificao administrativa de que determinado bem tem valor histrico e cultural.

O tombamento uma limitao ao direito de propriedade (no pode reformar sem autorizao, etc.). A grande discusso que h e que invariavelmente eles perguntam, naquelas provas de verdadeiro e falso, a seguinte:

Imvel no tombado pode ser protegido pela ACP? A resposta : o tombamento um atestado administrativo de que o bem tem valor histrico e cultural. Apesar de no tombado, pode ter valor histrico e cultural? A jurisprudncia entende que sim, que possvel. Se assim, qual a diferena entre haver e no haver o tombamento? a presuno de valor histrico. essa a diferena. Se o imvel j foi tombado, o autor no precisa provar o valor histrico. Se o imvel no for tombado, compete ao autor tal prova. E a fica fcil equacionar. Se voc imaginar que esse prdio onde estamos tem valor histrico, se algum quiser proteg-lo, pode, mas tem que provar que isso representa um valor histrico para a sociedade.

2.4. Qualquer outro direito metaindividual

Sobre essa expresso da lei, uma observao. Quando voc olha a ACP, num primeiro momento, voc chega concluso de que os principais bens e direitos tutelados seriam o meio ambiente, consumidor, patrimnio histrico, ordem econmica, ordem urbanstica, que so os destaques. Acontece que o Cdigo de Defesa do Consumidor acabou influenciando diretamente a Lei de ACP por causa do microssistema. Isso porque no se previa, originariamente, na Lei 7.347/83, a tutela dos direitos individuais homogneos pela Lei de Ao Civil Pblica. Vou deixar isso mais claro. O que estou dizendo que, na origem, a Lei 7.347/83 s se preocupava com os direitos difusos e coletivos. No havia previso para a tutela dos interesses individuais homogneos. Qual foi a importante contribuio que deu o CDC para a Lei de ACP? Foi que quando ele saiu, em 1990, o art. 90, do CDC, acabou incorporando Lei de ACP aquilo que no direito a gente chama de norma de encerramento. Em que consiste essa norma de encerramento? Consiste em dizer que alm de todos os bens e direitos j previstos aqui, seria possvel ainda a tutela de qualquer outro direito metaindividual, seja difuso, coletivo ou individual homogneo. H uma pliade de direitos difusos e coletivos que acabam entrando nessa discusso (adolescentes, patrimnio gentico, etc.). E ningum hoje duvida mais de que qualquer bem ou direito coletivo pode ser tutelado por ACP.

Alguns cdigos tem a redao truncada e que do a impresso de que o inciso IV, do art. 1, da Lei de Ao Civil Pblica est revogado. No est revogado. O inciso IV, que fala qualquer outro direito difuso e coletivo est plenamente em vigor. Se voc no concorda com isso, te aconselho a leitura do REsp 706791/PE, do STJ (Maria Thereza de Assis Moura a relatora), julgamento de 17/02/09REsp 706791 / PE - Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA - SEXTA TURMA - Julgamento 17/02/2009 - DJe 02/03/2009

1. De acordo com a jurisprudncia consolidada deste Superior Tribunal de Justia, o artigo 21 da Lei n 7.347/85, com redao dada pela Lei n 8.078/90, ampliou o alcance da ao civil pblica tambm para a defesa de interesses e direitos individuais homogneos no relacionados a consumidores.

2. Recurso especial improvido.

VEDAO DE OBJETO Cabe ao civil pblica para a tutela de qualquer direito coletivo, individual homogneo ou difuso no qual (?) essa norma de encerramento. Todavia, nosso legislador, marotamente, e ainda atravs de MP, acrescentou no art. 1 um pargrafo nico que estabelece uma vedao do objeto, quer dizer, uma hiptese de no cabimento da Lei de Ao Civil Pblica. Cabe tudo, menos; Pargrafo nico.No ser cabvel ao civil pblica para veicular pretenses que envolvam tributos, contribuies previdencirias, o Fundo de Garantia do Tempo de Servio - FGTS ou outros fundos de natureza institucional cujos beneficirios podem ser individualmente determinados.

Esse dispositivo estabelece, portanto, uma vedao de objeto, em que no cabe ao civil pblica. Nesse caso, em que matrias no caber? Tributria, contribuio previdenciria e FGTS. Algum tem a mnima ideia do porqu o legislador proibiu aes coletivas com relao a isso? O motivo um s: se julgar procedente uma ao civil pblica dessa, pega o bolso de quem? Do Governo Federal. E uma ao coletiva dessa poderia ter um impacto oramentrio gigantesco. ridculo, mas mais uma vez prevaleceram interesses econmicos em detrimento dos interesses da sociedade.

Como se comporta a jurisprudncia com relao a esse dispositivo, que sofre da doutrina as mais duras crticas? Todos escrevem que esse dispositivo uma aberrao porque no se pode querer proibir a tutela coletiva de algo que acaba se tornando milhes de processos individuais para discutir o mesmo assunto. E o Judicirio que se esfola. A jurisprudncia pacfica, do STF e do STJ diz que esse dispositivo constitucional e vlido.

O STJ, entretanto, tem aceitado ACP para questionar a concesso indevida de iseno tributria e incentivo fiscal (Resp. 1101808).3.LEGITIMIDADE NA AO CIVIL PBLICA

3.1. Legitimidade ativa art. 5, da Lei de ACP e no art. 82, do CDC

Art. 5 Tm legitimidade para propor a ao principal e a ao cautelar: (Redao dada pela Lei n 11.448, de 2007). I - o Ministrio Pblico; (Redao dada pela Lei n 11.448, de 2007). II - a Defensoria Pblica; (Redao dada pela Lei n 11.448, de 2007). III - a Unio, os Estados, o Distrito Federal e os Municpios; (Includo pela Lei n 11.448, de 2007). IV - a autarquia, empresa pblica, fundao ou sociedade de economia mista; (Includo pela Lei n 11.448, de 2007). V - a associao que, concomitantemente: (Includo pela Lei n 11.448, de 2007). a) esteja constituda h pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil; (Includo pela Lei n 11.448, de 2007). b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteo ao meio ambiente, ao consumidor, ordem econmica, livre concorrncia ou ao patrimnio artstico, esttico, histrico, turstico e paisagstico. (Includo pela Lei n 11.448, de 2007).

Art. 82 - Para os fins do Art. 81, pargrafo nico, so legitimados concorrentemente:

I - o Ministrio Pblico;

II - a Unio, os Estados, os Municpios e o Distrito Federal;

III - as entidades e rgos da Administrao Pblica, Direta ou Indireta, ainda que sem personalidade jurdica, especificamente destinados defesa dos interesses e direitos protegidos por este Cdigo;

IV - as associaes legalmente constitudas h pelo menos 1 (um) ano e que incluam entre seus fins institucionais a defesa dos interesses e direitos protegidos por este Cdigo, dispensada a autorizao assemblear.

Primeiro farei quatro observaes genricas. E depois eu vou pegar legitimado por legitimado e falar sobre cada um deles.

1 Observao:Esses artigos estabelecem uma espcie de legitimao concorrente e disjuntiva. Por legitimao concorrente j se sabe que porque esses dispositivos estabelecem mais de um legitimado. Agora, voc consegue identificar o que seria uma legitimao disjuntiva? Isso fundamental. disjuntivo significa que um no necessita de autorizao ou omisso do outro. Na legitimao concorrente e disjuntiva, a defensoria no precisa pedir bno para o MP para entrar com a ACP. No tem que esperar que ele se omita para que s ento ela comece a exercitar suas tarefas.

A legitimidade ativa tambm autnoma, pois o ajuizamento independe da participao do titular do direito material.

2 Observao:Natureza da legitimao coletiva Quando um desses caras do art. 5 (e art. 82) entra com uma ACP, qual a natureza da legitimao dele? Para responder isso, h na doutrina 3 posies para indicar qual a natureza da legitimao para o ajuizamento de aes coletivas. E vou lembrar que no modelo do processo civil brasileiro, a regra da legitimao ordinria (entra em nome prprio na defesa de direito prprio). E, excepcionalmente, quando a lei expressamente autorizar, possvel a legitimao extraordinria. quando algum age em nome prprio na defesa de direitos alheios (hiptese de substituio processual). No processo coletivo, entretanto, a doutrina diverge sobre a natureza da legitimao. E h trs correntes:

1 Corrente: Diz que a legitimao extraordinria. Quando o MP, a associao, a defensoria entram com uma ACP, no interessa o tema, sempre entram em nome prprio na defesa de direitos alheios. Trata-se, portanto, da tutela de um direito em nome prprio na defesa de um direito alheio. Quem adota essa posio: Hugo Nigro Mazzili (adotou durante muitos anos). No interessa se se trata de direito difuso, coletivo ou individual homogneo. Qualquer que fosse a atuao, se daria atravs de legitimao extraordinria.

2 Corrente: Eu acho essa posio tecnicamente mais correta, embora no seja dominante. Para essa corrente, a legitimao para o ajuizamento da ao coletiva uma legitimao simplesmente coletiva. uma legitimao de natureza prpria. Ao lado da legitimao ordinria e extraordinria, que so modelos de legitimao forjados exclusivamente para o processo individual, haveria um segundo tipo de legitimao, que seria a legitimao coletiva. Ela no se encaixaria nesses modelos de direito prprio em nome prprio ou de direito alheio em nome prprio. Ela seria uma terceira categoria. Eu acho que a adoo dessa posio resolve muitos problemas prticos. E quem adota essa posio o professor Luiz Manoel Gomes Jnior que, inclusive, o relator da nova Lei de ACP.

3 Corrente: a que prevalece. Diz o seguinte: se o direito for difuso ou coletivo, se for naturalmente coletivo, estaremos diante de uma legitimao autnoma ou autnoma para conduo do processo. Basicamente, quem adota essa terceira posio salienta que no d para poder colocar o modelo da tutela do difuso e do coletivo dentro do padro do ordinrio e extraordinrio. Ou seja, o argumento o mesmo da turma que adota a legitimao coletiva. O que significa isso? Eu no consigo encaixar nos modelos do processo individual algo que no individual. Portanto, preciso de uma categoria autnoma, chamada de legitimao autnoma para a conduo do processo. Agora, se se tratar de interesses individuais homogneos, porque a o direito tutelado no do autor e nem da coletividade. Os direitos individuais homogneos so do indivduo. O direito no da coletividade, como o caso dos difusos e coletivos. Por isso, quando se trata de direitos individuais homogneos eu estou diante da legitimao extraordinria. Ou seja, compatibilizam-se os dois modelos anteriores: de legitimao extraordinria e de legitimao coletiva. A diferena que se d o nome, para a legitimao coletiva, de legitimao autnoma para a conduo do processo. Quem adota essa posio a grande maioria da doutrina brasileira, em especial, Nlson Nery Jr. Se eu fosse voc, na hora da prova, adotaria essa.

3 Observao:Parte da anlise do art. 5, 2 e 5, da Lei de Ao Civil Pblica.

2 Fica facultado ao Poder Pblico e a outras associaes legitimadas nos termos deste artigo habilitar-se como litisconsortes de qualquer das partes.

5. Admitir-se- o litisconsrcio facultativo entre os Ministrios Pblicos da Unio, do Distrito Federal e dos Estados na defesa dos interesses e direitos de que cuida esta lei. (Includo pela Lei n 8.078, de 11.9.1990) (Vide Mensagem de veto) (Vide REsp 222582 /MG - STJ)

Esses dispositivos estabelecem a possibilidade de, no mbito da ao civil pblica, se formar um litisconsrcio entre os colegitimados. Isso plenamente possvel que todos os que podem propor ao coletiva possam formar um litisconsrcio, um somatrio de foras a bem da tutela coletiva. E hoje isso muito comum na prtica. Vira e mexe voc tem ao coletiva ajuizada ao mesmo tempo pelo Procon e MP. s vezes, MP estadual e federal.

O que interessa classificar esse litisconsrcio. Qualquer litisconsrcio entre dois legitimados coletivos, como encaixado dentro da classificao dos litisconsrcios? litisconsrcio:

Ativo (bvio),

Inicial Porque a lei no autoriza a entrada depois que o processo comeou. A ele vai ser assistente. A assistncia litisconsorcial a forma de permitir que aquele que poderia ter sido litisconsrcio facultativo possa ingressar depois do incio do processo. A assistncia litisconsorcial o litisconsrcio posterior disfarado. No comeo, litisconsrcio, se depois, assistente litisconsorcial. o que pretende dizer o art. 5, 2.

Facultativo bvio. No obrigatria a formao desse litisconsrcio, at porque legitimao concorrente e disjuntiva.

Unitrio Tem como proteger o meio ambiente para o MP de SP e no proteger para o MP federal? Tem como proteger o interesse do Procon e no proteger o da Associao de Defesa dos Consumidores? Portanto, a deciso sempre vai ser igual para todos os legitimados.

4 Observao:Quando falei dos princpios de processo coletivo, falei sobre o controle da representao adequada e disse que h duas posies diametralmente opostas no Brasil: uma que diz quem controla se o autor representa ou no adequadamente os interesses do grupo ou da categoria a lei. E a representao adequada seria oper legis. Mas eu disse que tem uma outra corrente que diz que alm da lei, tambm haveria o controle judicial e o critrio que o juiz usa para verificar se a pessoa representa ou no os interesses do grupo, da categoria ou da classe a finalidade institucional, a pertinncia temtica. Quer dizer, o legislador j previu que pode, mas o MP pode em todas? No. De acordo com a segunda posio, o juiz verificaria se a ao est dentro das funes institucionais do MP. Se tivesse, ele poderia. Se no tivesse, ele no poderia.

Para eu explicar os legitimados, eu tenho que adotar uma das posies. Se eu adotar a primeira (s a lei), no preciso nem estudar os legitimados porque eles sempre poderiam entrar com a ao civil pblica. Por isso, a quarta observao que vou levar em conta a adoo da possibilidade de controle judicial da representao adequada. Ns vamos adotar esse entendimento. possvel ao juiz controlar judicialmente a representao adequada. S assim, eu vou conseguir desenvolver os tpicos seguintes. Caso contrrio, no haveria o que se analisar. E o juiz faz esse controle com base na finalidade institucional e na pertinncia temtica. isso que o juiz usa para controlar a adequada representao. E vamos comear com o cara que mais ajuza ao civil pblica no Brasil, que o MP, digamos que quase com exclusividade.

a)Ministrio Pblico

Finalidade institucional Em que semrio o MP pode ajuizar ao civil pblica, se voc admitir que o juiz pode controlar? Para obter essa resposta, vamos ao art. 127, caput, da CF:

Art. 127 - O Ministrio Pblico instituio permanente, essencial funo jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurdica, do regime democrtico e dos interesses sociais e individuais indisponveis.

O MP pode ajuizar em dois grandes grupos de temas colocados pelo art. 127, da CF: Interesses sociais

Interesses individuais indisponveis

A partir disso, dentro desses dois temas, o MP teria representao adequada. Fora desses dois temas, no teria representao adequada. Vamos fazer uma lista (proforme) sobre os temas em que o MP poderia ajuizar a ACP:

Interesses sociais Sade, segurana pblica, moradia, educao, meio ambiente.

Interesses individuais indisponveis O que seria o interesse individual indisponvel? Exemplo: proteo da vida, dignidade da pessoa humana, etc.

Ou seja, o leque de assuntos que o MP pode ajuizar gigantesco e no a toa que ele o maior guardio dos interesses coletivos do Brasil e ningum nega isso. Onde surgem os pontos de dvida? Onde a jurisprudncia conflitante? Loteamentos privados (loteamento clandestino outro problema) Os moradores fecham o bairro com uma guarita. O MP entra com uma ao para destruir a guarita. Tem legitimidade para isso? social o interesse? Tem gente que diz que sim, porque a rua pblica, mas por outro lado, no passa carro l. Plano de sade Isso interesse social? H vrios julgados dizendo que no h interesse social porque o plano de sade particular.

Tarifas pblicas Aumento de tarifa de energia eltrica. Poderia o MP ajuizar uma ao? O interesse social? O problema que individualizado. E a jurisprudncia fica reticente.

Vamos tentar chegar a um consenso: na dvida, admite-se, j que a ideia ampliar a tutela dos interesses coletivos e individuais homogneos. Na dvida, vamos ampliar. O que no d para admitir , por exemplo, o MP entrar com uma ao para discutir aumento da tarifa da TV a cabo.

Existe uma afirmao na doutrina que me parece razovel: a doutrina costuma dizer que para os difusos e para os coletivos cuja caracterstica central a indivisibilidade. Nos difusos e nos coletivos, de acordo com boa parte da doutrina, sempre estaria presente o interesse pblico. E, portanto, de acordo com essa parcela da doutrina, toda vez que a ao versar sobre direitos difusos e coletivos, o interesse sempre teria legitimidade. Sempre ele poderia tutelar atravs dos direitos difusos e coletivos. Se o bem indivisvel, j surge, a partir da, o interesse pblico e surgindo o interesse pblico, o MP j poderia entrar com a ao.

A grande dvida que surge nos individuais homogneos. Nesse caso os interesses so individuais, se assim, no pblico. A voc teria que fazer o qu? Casustica. Os interesses individuais homogneos teriam que ser verificados casuisticamente, caso a caso. E qual o critrio que vou usar para verificar caso a caso? Finalidade institucional: interesse social ou individual indisponvel. o caso dos portadores de Alzheimer. Individual homogneo. H interesse social? Melhor: tem interesse individual indisponvel. No caso da TV a cabo, o interesse no nem social e nem individual indisponvel. individual. Que entre a associao, mas no o MP, que tem coisa mais importante a fazer do que verificar se o caboclo est tendo desconto no filminho de sacanagem que ele assiste ou no.

Em qual justia atua o MP? H duas posies a respeito do tema.

1 Corrente: O STJ diz que a competncia da justia federal quando ele entra com a ao porque o MPF rgo do art. 109, I da CF. Resp. 440.002/SE: o MP federal acaba fazendo as vezes do rgo federal, seria similar ao rgo federal. E toda vez que o MPF atua, atrairia a competncia para a justia federal. No importa o objeto. Se o MPF entra para discutir a publicidade da garapa, justia federal, mesmo que o assunto no tenha relao com a justia federal. Essa posio no boa porque voc poda, principalmente, o MP estadual, que ficaria a depender do federal. Tanto o professor quanto a doutrina, falam que est errada.

2 Corrente: Diz que o MP atua em qualquer justia. Qualquer MP pode ajuizar ao em qualquer das justias. o que pensa o resto da doutrina. Isso quer dizer que o MP/SP pode ajuizar ACP junto justia de MG e por a vai. A atuao seria livre. essa a recomendao. No haveria vinculao. O MP estadual poderia entrar na justia federal e vice-versa. Sabe por que razovel esse entendimento? Porque voc potencializa, maximiza, expande o objeto do processo coletivo. Quem adota isso o Fredie Didier. Um dano ao ambiente no Amazonas repercute aqui embaixo. importante voc saber isso.

O STF julgou (bem federalista)a reclamao 7.358 dizendo que o Procurador de Justia pode entrar com reclamao direto no STF. O MP Estadual tem legitimidade para postular perante o STF, no s o Procurador Geral da Repblica. PAGE 63