03 - a arte de ter razão

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[email protected] A Arte de ter Razão 38 estratagemas que podem ser usados para vencer uma discussão sem ter a razão O livro "A Arte de ter Razão", de Arthur Schopenhauer, apresenta, de modo irônico, 38 estratagemas que podem ser usados para vencer uma discussão sem ter a razão. Nas  palavras do autor, "afinal de contas é em ganhar que você está interessado, não na verdade". Alguma pessoa que eu desconheço fez um resumo dos 38 estratagemas, e venho aqui  postar eles. Também sugiro que você leia os posts sobre argumentos falaciosos, pois é em torno disso que Schopenhauer discorre em seu livro.  Nº 1. Leve a proposição do seu oponente além dos seus limites naturais; exagere-a. Quanto mais geral a declaração do seu oponente se torna, mais objeções você pode encontrar contra ela. Quanto mais restritas as suas próprias proposições permanecem, mais fáceis elas são de defender.  Nº 2. Use significados diferentes das palavras do seu oponente para refutar a argumentação dele. Exemplo: a pessoa A diz: “Você não entende os mistérios da filosofia de Kant”. A pessoa B replica: “Ah, se é de mistérios que estamos falando, não tenho como participar dessa conversa”.

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    A Arte de ter Razo38 estratagemas que podem ser usados paravencer uma discusso sem ter a razo

    O livro "A Arte de ter Razo", de Arthur Schopenhauer, apresenta, de modo irnico, 38estratagemas que podem ser usados para vencer uma discusso sem ter a razo. Nas

    palavras do autor, "afinal de contas em ganhar que voc est interessado, no naverdade".

    Alguma pessoa que eu desconheo fez um resumo dos 38 estratagemas, e venho aquipostar eles. Tambm sugiro que voc leia os posts sobre argumentos falaciosos, pois

    em torno disso que Schopenhauer discorre em seu livro.

    N 1. Leve a proposio do seu oponente alm dos seus limites naturais; exagere-a.Quanto mais geral a declarao do seu oponente se torna, mais objees voc podeencontrar contra ela. Quanto mais restritas as suas prprias proposies permanecem,mais fceis elas so de defender.

    N 2. Use significados diferentes das palavras do seu oponente para refutar a

    argumentao dele. Exemplo: a pessoa A diz: Voc no entende os mistrios dafilosofia de Kant. A pessoa B replica: Ah, se de mistrios que estamos falando, notenho como participar dessa conversa.

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    N 3. Ignore a proposio do seu oponente, destinada a referir-se a alguma coisa emparticular. Ao invs disso, compreenda-a num sentido muito diverso, e em seguidarefute-a. Ataque algo diferente do que foi dito.

    N 4. Oculte a sua concluso do seu oponente at o ltimo momento. Semeie suaspremissas aqui e ali durante a conversa. Faa com que o seu oponente concorde comelas em nenhuma ordem definida. Por essa rota oblqua voc oculta o seu objetivo atque tenha obtido do oponente todas as admisses necessrias para atingir o seu objetivo.

    N 5. Use as crenas do seu oponente contra ele. Se o seu oponente recusa-se a aceitaras suas premissas, use as prprias premissas dele em seu favor. Por exemplo, se o seuoponente membro de uma organizao ou seita religiosa a que voc no pertence,voc pode empregar as opinies declaradas desse grupo contra o oponente.

    N 6. Deixe a questo confusa mudando as palavras do seu oponente ou aquilo que eleest procurando provar. Chame uma coisa por um nome diferente: diga boa reputaoao invs de honra, virtude ao invs de virgindade, animais de sangue quente aoinvs de vertebrados.

    N 7. Declare a sua proposio e demonstre a verdade dela fazendo ao oponente umalonga lista de perguntas. Fazendo muitas perguntas abrangentes ao mesmo tempo, voc

    pode ocultar aquilo que est tentando fazer com que o seu oponente admita. Voc emseguida avana o argumento a partir de uma admisso do oponente.

    N 8. Deixe o seu oponente furioso. Uma pessoa enfurecida menos capaz de usar o seujulgamento ou de perceber onde residem as suas vantagens.

    N 9. Use as respostas que o seu oponente d sua pergunta de modo a alcanarconcluses diferentes ou opostas.

    N 10. Se o seu oponente responde a todas as suas perguntas negativamente e recusa-sea ceder em qualquer ponto, pea que ele concorde com a verso oposta das suas

    premissas. Isso pode confundir o seu oponente quanto ao ponto em particular a respeitodo qual voc est tentando fazer com que ele ceda. Pois a natureza humana tal que, seA e B esto refletindo em conjunto, e comunicando as suas opinies um ao outro a

    respeito de qualquer assunto, e A percebe que os pensamentos de B sobre o mesmoassunto no so os mesmos que os seus, ele no comea revisando o seu prprio

    processo de raciocnio, a fim de descobrir qualquer erro que possa ter cometido, maspressupe que o erro tenha ocorrido no raciocnio de B.

    N 11. Se o seu oponente admite a verdade de algumas de suas premissas, abstenha-sede pedir que ele concorde com a sua concluso. Mais tarde introduza suas concluses naconversa como coisa resolvida ou admitida por ele. O seu oponente e outros naassistncia podero ser levados a acreditar que foi de fato com a sua concluso que eleconcordou.

    N 12. Se o argumento move-se para o terreno de idias gerais que no tm nomesparticulares, voc deve usar uma linguagem ou metfora que seja favorvel sua

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    proposio. Exemplo: O que uma pessoa imparcial chamaria de f pessoal ou oporeligiosa descrito pelo seu partidrio como santidade ou devoo, e pelo seuoponente como preconceito ou superstio.

    N 13. A fim de fazer com que o seu oponente aceite a sua proposio, apresentetambm uma contra-proposio oposta. Se o contraste for acentuado, seu oponenteacabar aceitando a sua proposio para evitar parecer controverso. Exemplo: Se vocquer que ele admita que um rapaz deve fazer absolutamente qualquer coisa que o seu

    pai manda que ele faa, pergunte se o seu adversrio acredita que devemos em tudodesobedecer aos nossos pais. como colocar o cinza ao lado do preto e cham-lo de

    branco, ou colocar o cinza perto do branco e cham-lo de preto.

    N 14. Tente lograr o seu oponente. Se ele respondeu diversas de suas perguntas semque as respostas inclinem-se em favor da sua concluso, avance a sua concluso

    triunfantemente, mesmo se no procede. Se o seu oponente for tmido ou estpido, e sevoc possuir uma grande dose de descaramento e uma boa voz, essa tcnica podefuncionar.

    N 15. Se voc quer apresentar uma proposio que difcil de provar, coloque-a delado por um momento. Ao invs disso, pea que o seu oponente aceite ou rejeite alguma

    proposio verdadeira, como se fosse atravs disso que voc fosse extrair a sua prova.Se o seu oponente rejeit-la suspeitando de alguma armadilha, voc obtm o seu triunfodemonstrando o quo absurdo o seu oponente rejeitar uma proposio que obviamente verdadeira. Se o seu oponente aceit-la, a razo permanece com voc pelomomento. Voc pode ento ou tentar demonstrar a sua proposio original ou, como no

    N 14, agir como se a sua proposio original tivesse sido provada pelo que o seuoponente admitiu. Essa tcnica requer um grau extremo de descaramento para quefuncione, mas a experincia j comprovou inmeras vezes a sua eficcia. AControvrsia Dialtica a arte de debater, e debater de modo a sair por cima, quer vocesteja certo ou no.

    N 16. Quando o seu oponente apresenta uma proposio, considere-a inconsistente comas declaraes, crenas, aes ou omisses do oponente. Exemplo: Se o seu oponentedefende o suicdio, pergunte imediatamente: Ento porque voc no se enforca? Seele observar que a sua cidade no um lugar bom para se viver, pergunte: Ento porque voc no parte no primeiro avio?

    N 17. Se o seu oponente pression-lo com uma evidncia contrria, voc pode comfreqncia safar-se defendendo alguma distino sutil. Tente encontrar algumsignificado subjacente ou ambigidade na idia do seu oponente.

    N 18. Se o seu oponente abriu uma linha de argumentao que acabar levandoinevitavelmente sua derrota, no permita que ele a leve at a sua concluso.Interrompa o debate, retire-se imediatamente ou leve o seu oponente a mudar deassunto.

    N 19. Se o seu oponente desafi-lo expressamente a apresentar uma objeo a algumponto definido da sua argumentao e voc no tem mais nada a dizer, tente fazer oargumento dele menos especfico. Exemplo: Se ele pedir algum motivo pelo qual

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    determinada hiptese no deva ser aceita, fale da falibilidade do conhecimento humanoe ilustre com vrios exemplos.

    N 20. Se o seu oponente aceitou todas ou a maior parte das suas premissas, no peaque ele concorde diretamente com a sua concluso. Ao contrrio, exponha a conclusovoc mesmo como se ela tambm tivesse sido admitida. Uma pessoa pode estarobjetivamente com a razo, e mesmo assim sair por baixo na opinio dos observadores(e algumas vezes na sua prpria opinio). Por exemplo, suponha que eu apresente uma

    prova para demonstrar uma afirmao minha. Se o meu adversrio refutar a prova, dara impresso de estar refutando tambm a afirmao para a qual podem, no entanto,haver outras provas. Nesse caso, claro, meu adversrio e eu trocamos de posio: elesai por cima quando, na verdade, est errado.

    N 21. Quando o seu oponente utilizar um argumento superficial e voc enxergar essa

    falsidade, refute-o estabelecendo a natureza superficial desse argumento. Melhor ainda rebater o oponente com um contra-argumento to superficial quanto o dele, s paravenc-lo afinal de contas em ganhar que voc est interessado, no na verdade.Exemplo: Se o seu oponente apelar para o preconceito, para a emoo ou para ataques

    pessoais, devolva o ataque na mesma moeda.

    N 22. Se o seu oponente pedir que voc admita alguma coisa a partir da qual o pontoem discusso pode ser concludo, recuse-se a faz-lo, declarando que ele incorre em

    petio de princpio.

    N 23. Contradio e contenciosidade irritam a pessoa de modo a faz-la exagerar suas

    declaraes. Contradizer o seu oponente pode lev-lo a estender a sua declarao almdos limites, e quando voc contradiz essa manifestao exagerada parece estar refutandoa declarao original. Do modo correspondente, se o seu oponente tentar estender a sua

    prpria declarao mais do que voc tencionou, redefina os limites da sua declarao eafirme: foi isso que eu disse, e no mais do que isso.

    N 24. Recorra a um falso silogismo (Silogismo: A=B e B=C, ento A=C). Seuoponente faz uma declarao, e voc por falsa inferncia e distoro das idias deleextrai fora proposies no-tencionadas e absurdas da afirmao original. Fica

    parecendo assim que a proposio do seu oponente trouxe luz essas inconsistncias,restando a impresso de que ela mesma foi indiretamente refutada.

    N 25. Se o seu oponente est fazendo uma generalizao, encontre uma instncia quedemonstre o contrrio. Basta uma contradio vlida para derrubar a proposio do seuoponente. Exemplo: Todos os ruminantes tem chifres generalizao que pode sersubvertida pela instncia nica do camelo.

    N 26. Uma manobra brilhante virar a mesa e utilizar os argumentos do seu oponentecontra ele mesmo. Exemplo: Seu oponente declara: fulano ainda uma criana, vocdeve fazer-lhe uma concesso. Voc retruca: justamente porque ele criana devocorrigi-lo, caso contrrio ele persistir em seus maus hbitos.

    N 27. Se o seu oponente surpreender voc ficando particularmente indignado diante deum argumento seu, insista nesse argumento com ainda maior zelo. Isso no apenas

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    deixar o seu oponente furioso, mas vai deixar a impresso de que voc tocou um pontofrgil na argumentao dele, e de que seu oponente est mais suscetvel a um ataque noque diz respeito a esse ponto do que voc esperava.

    N 28. Quando a audincia consistir de indivduos (ou uma pessoa) que no sejamautoridade no assunto, voc pode levantar uma objeo invlida e o seu oponente

    parecer ter sido derrotado aos olhos da sua audincia. Esta estratgia particularmenteefetiva quando a sua objeo faz o seu oponente parecer ridculo, ou quando a audinciari. Se o seu oponente tiver de fazer uma longa, prolixa e complicada explicao paracorrigi-lo, a audincia no estar disposta a ouvi-lo.

    N 29. Se voc perceber que est sendo vencido na argumentao, crie uma diverso isto , comece de repente a falar sobre outra coisa, como se isso tivesse importncia namatria em questo. Isso pode ser feito sem medo se a diverso mostrar ter alguma

    relao mesmo que genrica com a questo.

    N 30. Apele para a autoridade ao invs de para a razo. Se o seu oponente respeitadeterminada autoridade ou especialista, cite essa autoridade para avanar o seuargumento. Se necessrio, cite o que essa autoridade disse em outro sentido oucircunstncia. Autoridades que o seu oponente no chegou a entender so em geral sque ele admira mais. Voc pode, se necessrio, no apenas distorcer as autoridadescitadas em seu favor, mas tambm falsific-las, citando algo inteiramente inventado porvoc. Falam sem pensar, e mesmo que depois percebam que esto errados, querem

    parecer o contrrio. O interesse da verdade d lugar aos interesses da vaidade: assim,por causa da vaidade, o que verdadeiro deve parecer falso, e o falso verdadeiro.

    N 31. Se sabe no ter uma resposta para os argumentos apresentados pelo seuoponente, voc pode num golpe de ironia declarar-se um juiz incompetente. Exemplo:O que voc diz ultrapassa os meus pobres poderes de compreenso. Pode muito bemser verdade, mas no sou capaz de entender, por isso abstenho-me de expressar qualqueropinio sobre o assunto. Desta maneira voc insinua sua audincia, diante da qual

    permanece com uma boa imagem, de que o que seu oponente est dizendo um contra-senso.

    N 32. Um mtodo rpido de livrar-se da declarao de um oponente, ou de coloc-lasob suspeita, classific-la debaixo de uma categoria odiosa. Exemplo: Voc pode

    dizer: Isso fascismo, ou atesmo, ou nazismo, ou superstio. Fazendo essaobjeo voc est pressupondo tacitamente que: 1) a declarao em questo idntica categoria mencionada ou est pelo menos contida nela; e 2) o sistema mencionado foiinteiramente rejeitado pela presente audincia.

    N 33. Admita as premissas do seu oponente mas negue a sua concluso. Exemplo:Isso muito bom na teoria, mas na prtica no funciona.

    N 34. Se voc apresenta uma pergunta ou um argumento e seu oponente no lhe duma resposta direta, contorna-os com outra pergunta ou tenta mudar de assunto, sinalclaro de que voc atingiu um ponto fraco, por vezes de forma no intencional. Voc, porassim dizer, reduziu seu oponente ao silncio. Insista, portanto, ainda mais no ponto emquesto, e no deixe que seu oponente o evite, mesmo quando voc no sabe ainda em

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    que consiste a fraqueza que acaba de descobrir. Ao seguirmos estas regras com estafinalidade, no devemos nos preocupar em qualquer sentido com a verdade objetiva,

    porque normalmente no sabemos onde est a verdade.

    N 35. Ao invs de concentrar-se no intelecto do seu oponente ou no rigor de seusargumentos, concentre-se nos motivos dele. Se voc conseguir fazer com que a opiniodo seu oponente, caso se mostre verdadeira, parea distintamente prejudicial ao seu

    prprio interesse, ele a abandonar imediatamente. Exemplo: Um clrigo estdefendendo algum dogma filosfico. Demonstre que sua proposio contradiz algumadoutrina fundamental da sua igreja, e ele se ver forado a abandonar o argumento.

    N 36. Voc pode tambm confundir e desconcertar seu oponente atravs degrandiloqncia pura e simples. Se seu adversrio fraco ou se no deseja aparentar noter idia sobre o que est falando, voc pode impor facilmente sobre ele algumargumento que parea profundo e erudito, ou soe como inquestionvel.

    N 37. Se seu oponente estiver certo mas, felizmente para voc, apresentar uma provadeficiente, voc pode com facilidade refutar a prova e em seguida alegar que refutou a

    posio inteira. dessa forma que maus advogados perdem boas causas. Se seuoponente for incapaz de produzir uma prova irrefutvel, voc ganhou o dia.

    N 38. Parta para o ataque pessoal, insultando grosseiramente, to logo perceba que seuoponente est com a vantagem. Partindo para o ataque pessoal voc abandona o assunto

    por completo, passando a concentrar o seu ataque na pessoa, fazendo uso deobservaes ofensivas e malevolentes. Esta uma tcnica muito popular, porque requer

    pouca habilidade para ser colocada em prtica.