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FLVIO MARCELO CORREIA
ANLISE DE DISTRBIOS DE COMPACTAO DE CAVACOS DE EUCALIPTO
EM DIGESTORES CONTNUOS FASE VAPOR
Dissertao apresentada Universidade Federal de Viosa,
como parte das exigncias do Programa de Ps-Graduao do
Mestrado Profissional em Tecnologia de Celulose e Papel, para
obteno do ttulo de Magister Scientiae.
VIOSA
MINAS GERAIS BRASIL
2010
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FLVIO MARCELO CORREIA
ANLISE DE DISTRBIOS DE COMPACTAO DE CAVACOS DE EUCALIPTO
EM DIGESTORES CONTNUOS FASE VAPOR
Dissertao apresentada Universidade Federal de Viosa,
como parte das exigncias do Programa de Ps-Graduao do
Mestrado Profissional em Tecnologia de Celulose e Papel, para
obteno do ttulo de Magister Scientiae.
APROVADA: 02 de Julho de 2010.
Prof. Jos Lvio Gomide Prof. Adair Jos Regazzi
(Co-orientador) (Co-orientador)
Prof. Jorge Luiz Colodette
(Orientador)
-
ii
A Esperana ...
No morre !
minha esposa Cludia,
Aos meus filhos Vtor e Mariana...
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iii
AGRADECIMENTOS
CENIBRA, pela oportunidade.
Ao professor Jos Lvio Gomide, pelas agradveis reflexes nos ltimos 20 anos sobre
Filosofias de Cozimento.
Ao professor Adair Jos Regazzi, pela ajuda imprescindvel durante a anlise
estatstica dos dados.
Ao professor Jorge Luiz Colodette pela amizade, incentivo e pacincia nas
orientaes.
s professoras do Departamento de Engenharia Qumica da UFMG, Odete Gonalves
e Solange Vaz, pela aprendizagem e exemplo de postura.
Ao amigo e tcnico Ricardo Antunes Accio, quem primeiro me ensinou o conceito e
aplicao da palavra DETERMINAO.
Aos amigos Jos Vicente, Juan Canellas, Robson Monteiro, Rodrigo Rincn (em
memria) e Vincius Almeida pelos momentos de inspirao.
Turma PCPB pelas experincias de communio.
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iv
NDICE
LISTA DE FIGURAS ........................................................................................................... vi
LISTA DE TABELAS ........................................................................................................ viii
TERMOS TCNICOS UTILIZADOS: ................................................................................. ix
SIGLAS ................................................................................................................................ xi
RESUMO ............................................................................................................................ xii
ABSTRACT ....................................................................................................................... xiii
1 - INTRODUO ................................................................................................................ 1
2 - REVISO DA LITERATURA ......................................................................................... 4
2.1 - Processo Kraft ............................................................................................................ 4
2.2 - Digestor Contnuo ...................................................................................................... 6
2.2.1 - Histrico .............................................................................................................. 7
2.2.1.1 - Lavagem Hi-Heat ................................................................................................... 14
2.2.1.2 - Cozimento Contracorrente ...................................................................................... 17
2.2.2 - Tecnologia de Cozimentos Modificados ............................................................. 21
2.2.2.1 - Cozimento MCC .................................................................................................... 22
2.2.2.2 - EMCC .................................................................................................................... 23
2.2.2.3 - ITC ........................................................................................................................ 24
2.2.2.4 - KOBUDO MARI
COOKING .................................................................................... 25
2.2.2.5 - COMPACT COOKING TM
.................................................................................... 26
2.2.2.6 - LO-SOLIDS TM
COOKING ................................................................................... 26
2.2.3 - Digestor Contnuo Fase vapor ............................................................................ 28
2.3 - Fatores que afetam a Qualidade do Cozimento da Polpa Kraft: ................................. 33
2.3.1 - Temperatura ....................................................................................................... 33
2.3.2 - Reagentes Qumicos de Cozimento .................................................................... 33
2.3.3 - Qualidade da Madeira ........................................................................................ 33
2.3.4 - Tempo de Residncia ......................................................................................... 34
2.3.5 - Compactao da Coluna de Cavacos .................................................................. 36
2.3.5.1 - Coluna de Cavacos ................................................................................................. 36
2.3.5.2 - Compactao de Cavacos ....................................................................................... 38
2.4 - Fatores que afetam a Compactao de Cavacos ........................................................ 40
2.4.1 - Tamanho dos Cavacos: ...................................................................................... 40
2.4.2 - Densidade dos Cavacos ...................................................................................... 41
2.4.3 - Espessura dos Cavacos ..................................................................................... 411
2.4.4 - Vaporizao dos Cavacos ................................................................................... 43
2.4.5 - Relao Lquido/Madeira (L/W Ratio) ............................................................... 45
2.4.6 - Fator de Diluio ............................................................................................... 45
2.4.7 - Foras de Superfcie ........................................................................................... 45
2.4.7.1 - Presso do Licor ..................................................................................................... 46
2.4.7.2 - Presso dos Cavacos .............................................................................................. 46
2.4.8 - Fluxo de Licor ................................................................................................... 53
2.4.9 - Peneiras de Extrao / Circulao ...................................................................... 59
2.4.10 - Fluxo de Cavacos ............................................................................................. 60
2.4.11 - Grau de Deslignificao ................................................................................... 64
2.4.12 Temperatura de Cozimento .............................................................................. 65 2.4.13 - Diferena de nvel de licor e cavacos ................................................................ 66
-
v
2.5 - Controle do nvel de cavacos: ................................................................................... 67
2.6 - Distrbios de Compactao de Cavaco ..................................................................... 69
2.7 - Simulao e Modelos de Predio em Digestor Contnuo ......................................... 71
2.7.1 - Modelos do Movimento Hidrulico e Compactao da Coluna de Cavacos ........ 73
2.8 - Diagnstico de Falhas .............................................................................................. 75
2.8.1 - Diagnstico de Falhas em Polpao Qumica ..................................................... 76
3 - MATERIAIS E MTODOS ........................................................................................... 81
3.1 - Materiais .................................................................................................................. 81
3.1.1 - Cavaco de Eucalipto........................................................................................... 81
3.1.2 - Digestor 1 .......................................................................................................... 81
3.1.3 - Digestor 2 .......................................................................................................... 83
3.2 - MTODOS .............................................................................................................. 85
3.2.1 - Dados de Processo ............................................................................................. 85
3.2.2 - ndice de Distrbios de Compactao ................................................................. 85
3.2.3 - Composio do ndice de Distrbios de Compactao ........................................ 86
3.2.4 - Avaliaes estatsticas dos dados compilados ..................................................... 89
4 - RESULTADOS E DISCUSSO.............91
4.1 - Dados do Digestor 1 ................................................................................................. 91
4.2 - Dados do Digestor 2 ................................................................................................. 94
4.3 - Perdas de Produo .................................................................................................. 97
4.4 - Comparativo entre os Digestores .............................................................................. 98
4.5 - Avaliao das variveis de Processo ....................................................................... 100
4.6 - Recomendaes durante os Distrbios de Compactao de Cavacos de Eucaliptos em
Digestor Contnuo em Fase Vapor .................................................................................. 100
5 - RESUMO GERAL E CONCLUSES .......................................................................... 104
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ................................................................................ 106
ANEXOS ........................................................................................................................... 115
-
vi
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Processo Kraft. ........................................................................................................ 6
Figura 2: Primeiros prottipos de digestor contnuo (DUNBAR 1928). .................................. 8
Figura 3: Digestor Contnuo Bauer Messing-Durkee fase vapor (RYDHOLM, 1967). ............ 9
Figura 4: Digestor Durkee Duplo Tubo (CLAYTON, 1969). ................................................ 10
Figura 5: Digestor Esco (CLAYTON, 1969). ....................................................................... 11
Figura 6: Cozimento Correspondente Patente Sueca de 1938 (RICHTER 1981). ............... 12
Figura 7: Planta Piloto de Cozimento para 8 t/dia (RICHTER, 1981). .................................. 12
Figura 8: Equipamentos auxiliares do digestor contnuo proposto por Richter (1949). .......... 13
Figura 9: Parte interna de um alimentador de alta presso. ................................................... 14
Figura 10: Fluxo simplificado com lavagem Hi-Heat. ........................................................ 15
Figura 11: Evoluo da altura dos digestores (LAAKSO, 2008). .......................................... 16
Figura 12: Evoluo da altura da zona de lavagem (LAAKSO, 2008). ................................. 17
Figura 13: Digestor contnuo Kamyr Tpico. ........................................................................ 18
Figura 14: Instalao tpica de um silo de cavacos com adio de vapor ou licor flash para
pr-vaporizao (Metso Automation, 2005). ................................................................. 19
Figura 15: Detalhamento dos equipamentos acessrios do digestor Kamyr. .......................... 20
Figura 16: Digestor hidrulico EMCC vaso duplo. ............................................................... 23
Figura 17: Digestor Cozimento ITC. .................................................................................... 24
Figura 18: Cozimento KOBUDO MARI
com fluxos invertidos das circulaes (CORREIA,
2001). ........................................................................................................................... 25
Figura 19: Digestor Compact Cooking TM
. ........................................................................... 26
Figura 20: Efeito do perfil de concentrao de lignina dissolvida comparativo com cozimento
EMCC ao longo do digestor (MARCOCIA, 1996). ....................................................... 27
Figura 21: Cozimento convencional e cozimentos modificados. ........................................... 28
Figura 22 A: Separador de Topo digestor Hidrulico (invertido). 22 B: Separador de Topo
digestor Fase Vapor. 22 C: Separador de Topo digestor Fase Vapor. ............................. 30
Figura 23: Modelo do tempo de residncia associado s taxas de produo em digestor
industrial (RANTANEN & KORTELA, 2006). ............................................................. 35
Figura 24: Digestor industrial aplicados ao Modelo de RANTANEN & KORTELA (2006). 35
Figura 25: Foras em ao no fluxo de movimento da coluna de cavaco (MIYANISHI, 2001).
..................................................................................................................................... 37
Figura 26: Perfil de compactao de cavaco ao longo do digestor (MICHELSEN, 1995). .... 38
Figura 27: Perfil da Presso do cavaco e seus impactos na compactao (AVEHLAMPI e
UUSITALO). ................................................................................................................ 39
Figura 28: Variao da Densidade do Cavaco e Licor ao longo do Digestor (MICHELSEN,
1995). ........................................................................................................................... 41
Figura 29: Cavaco como meio poroso (LEE, 2006). ............................................................. 43
Figura 30: Incremento da densidade pela adequada vaporizao do cavaco. ......................... 44
Figura 31A: Presso de cavaco (m coluna gua). 31B: Frao de volume de cavaco (%)
(HARKONEN, 1987). .................................................................................................... 48
Figura 32: Perfil de compactao de cavaco ao longo do digestor (BARTHYIA et al., 2003),
com variao do coeficiente da eq. 2. ......................................................................... 49
-
vii
Figura 33: Perfil do nmero kappa ao longo do digestor (BARTHYIA et al., 2003), com
variao do coeficiente da eq. 2. ................................................................................. 49
Figura 34: Variao da presso de Cavaco (MICHELSEN, 1995). ....................................... 50
Figura 35: Equipamentos especiais de solda. ........................................................................ 51
Figura 36: Equipamentos Especiais de solda em atividade. ................................................... 51
Figura 37: Vista da parede reparada e normal. ...................................................................... 52
Figura 38: Detalhe da parede reparada.................................................................................. 52
Figura 39: Perfil Axial da Velocidade de Cavaco (www.psl.bc.ca). ...................................... 53
Figura 40: Direo de fluxos de licor em relao ao fluxo de cavaco. ................................... 54
Figura 41: Desempenho do digestor em relao densidade de fluxo de circulao. ............ 55
Figura 42: Perfil de velocidade do licor (HE 1999). .............................................................. 58
Figura 43 A: Desenho de Peneira convencional. 43B: Desenho de Peneira convencional. 43C:
Supescreen .. .............................................................................................................. 60
Figura 44: Perfil de velocidade de Cavaco e Licor ao longo do digestor. .............................. 62
Figura 45: Perfil de velocidade axial de cavaco e licor (HE, 1999). ...................................... 63
Figura 46: Perfil da Densidade do Cavaco e Licor ao longo do digestor (MICHELSEN, 1995).
..................................................................................................................................... 64
Figura 47: Representao esquemtica da compactao de cavacos conforme evoluo das
reaes de deslignificao (JANSSON et al., 2008). ..................................................... 64
Figura 48: Perfil de Compactao e Nmero Kappa ao longo do digestor. ............................ 65
Figura 49: Perfil da presso de cavaco ao longo do digestor ( LAAKSO, 2008). .................. 66
Figura 50 A: Detalhamento Apalpador Mecnico / Vista Frontal. 50 B: Detalhamento
Apalpador Mecnico / Vista Lateral. ............................................................................. 67
Figura 51: Detalhamento dos recursos para controle de nvel de cavaco e licor..................... 68
Figura 52A: Nvel de Cavaco controlado 52B: Nvel de Cavaco alterado. 52C: Variaes do
Nvel de Cavaco de 0 a 100 %, em momentos de distrbios .......................................... 70
Figura 53: DDS: Sistema de Diagnstico do Digestor proposto por Ahvenlampi et al. (2005).
..................................................................................................................................... 78
Figura 54: Digestor 1- Cozimento Industrial ........................................................................ 82
Figura 55: Digestor 1- Equipamentos auxiliares ................................................................... 82
Figura 56: Digestor 2 - Cozimento Industrial........................................................................ 83
Figura 57: Digestor 2 - Equipamentos auxiliares .................................................................. 84
Figura 58: Digestor 2 - Detalhe das circulaes/extrao ...................................................... 84
Figura 59: Visualizao on line do ndice de Distrbios de Compactao de Cavacos .......... 97
Figura 60: Variao das perdas de produo antes e aps a utilizao do aplicativo do ndice
de distrbios de compactao. ....................................................................................... 98
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viii
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Exemplos de coeficientes de compressibilidade - Eq.3 (RANTANEN e KORTELA,
2006) ............................................................................................................................ 57
Tabela 2: Exemplos de constantes k da frao de cavaco (Eq.4 - RANTANEN e KORTELA,
2006) ............................................................................................................................ 57
Tabela 3: Identificao das variveis de processo nas equaes ............................................ 90
Tabela 4: Estatstica descritiva das variveis do ndice de Distrbios de compactao (Y) ... 91
Tabela 5: Distribuio de frequncia do ndice de distrbios de compactao ...................... 92
Tabela 6: Correlao das variveis com o ndice de Distrbios de Compactao (Y) ............ 92
Tabela 7: Resumo das variveis de seleo da equao ...................................................... 933
Tabela 8: Estatstica descritiva das variveis do ndice de Distrbios de Compactao (Y)... 94
Tabela 9: Distribuio de Frequncia do ndice de Distrbios de Compactao (Y) ............ 954
Tabela 10: Correlao das variveis com o ndice de Distrbios de Compactao (Y) .......... 95
Tabela 11: Resumo das variveis de seleo da equao ...................................................... 96
Quadro 1: Limites de Referncia de Contribuio ao ndice de Distrbios de Compactao . 89
-
ix
TERMOS TCNICOS UTILIZADOS:
AA lcali Ativo: Soluo que possui os componentes qumicos ativos da soluo do
cozimento. Constitudo de NaOH e Na2S. Pode ser expresso em g/l de Na2O ou NaOH
AE lcali Efetivo: Soluo que possui os componentes qumicos efetivos da
soluo de cozimento Kraft. Expresso como as concentraes de NaOH + Na2S , como
resultado da reao de hidrlise do Sulfeto em soluo aquosa: Na2S + H2O NaOH +
NaSH. Pode ser expresso em g/l de Na2O ou NaOH.
lcali Total: Total dos compostos de sdio no sistema de cozimento/recuperao
qumica. Constitudo de NaOH + Na2S + Na2CO3 + Na2SO4 + Na2SO3. (No inclui NaCl).
Pode ser expresso em g/l de Na2O ou NaOH.
Downflow: Fluxo vertical na direo descendente.
Sulfidez: Razo entre as concentraes de Na2S e lcali Ativo (ou lcali total). Sua
concentrao precisa expressar em qual base se refere. Expressa em percentual, como base em
NaOH ou Na2O.
% = Na2S / (AA)
Lignina: Substncia qumica que confere rigidez parede da clula da madeira,
agindo como agente de ligao entre as clulas, gerando uma estrutura resistente ao impacto,
compresso e dobra.
Carbohidratos: So as substncias sintetizadas pelos organismos vivos, de funo
mista polilcool-aldedo ou polilcool-cetona. No contexto da indstria de celulose e papel,
so constitudas pelas celulose, e hemi-celuloses.
Celulose: Polissaricardeo formado por unidades do monossacardeo -D-glucose, que
ligam entre si atravs dos carbonos 1 e 4, dando origem a um polmero linear
Hemiceluloses: Mistura de polmeros polissacardeos de baixa massa molecular, os
quais esto intimamente associados com a celulose no tecido das plantas
Licor Branco: Licor utilizado no cozimento. Constitudo de soluo qumica de
hidrxido de sdio e sulfeto de sdio. Utilizado industrialmente nas concentraes de 100 a
120 g/l.
-
x
Licor Verde: Licor resultante das reaes de reduo da caldeira de recuperao
qumica. a matria prima para processamento na caustificao visando gerar o Licor
Branco. Constitudo de soluo qumica de carbonato de sdio e sulfato de sdio.
Licor Negro: Fase lquida resultante do processo de cozimento. Conforme sua
concentrao de slidos denominado LICOR NEGRO FRACO (antes de evaporado,
concentrao abaixo de 20 %), ou LICOR NEGRO FORTE (depois de evaporado
concentrao acima de 50 %). Algumas fbricas utilizam ainda a denominao LICOR
NEGRO DILUDO, referindo-se ao licor resultante da lavagem, com concentrao abaixo de
10 %. Contm uma grande variedade de produtos qumicos, incluindo os produtos como
lignina, celulose, hemicelulose e os resultantes da degradao de carbohidratos.
Madeira Softwood: Termo genrico utilizado para as madeiras conferas.
Biologicamente so aquelas a partir de rvores gimnosprmicas (plantas com sementes sem
cobertura). Exemplos destas para aplicaes na indstria de celulose e papel so os pinheiros.
Possuem densidade menor do que as hardwood, normalmente possuem dois tipos de clulas
(traquedos e clulas transversais). Seu teor de hemicelulose predominante so as
glucomananas, ao contrrio das xilanas para as madeiras hardwood.
Madeira Hardwood: Termo genrico utilizado para as madeiras de folhosas.
Biologicamente so as denominadas angiosprmicas (plantas que produzem sementes com
algum tipo de cobertura). Exemplos destas para aplicaes na indstria de celulose e papel so
os Eucaliptos. Uma das caractersticas que a diferenciam, a presena de elementos de vaso,
alm das clulas presentes na softwood.
Nmero Kappa: Termo utilizado para definir o grau de deslignificao de uma polpa.
Normalmente medido em laboratrio, e em algumas fbricas de instrumentao moderna,
com analisadores on-line na polpa de descarga, ou mesmo na parte interna do digestor (mid-
kappa). A medida realizada atravs de uma reao de oxidao com permanganato de
potssio (KMnO4), que fornece a quantidade de material oxidvel em uma amostra.
Upflow: Fluxo vertical na direo ascendente.
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xi
SIGLAS
DDS - Sistema de Diagnstico do Digestor (Digester Diagnosis System)
EMCC- Cozimento Contnuo Modificado Estendido (Extend Modified Continuous
Cooking)
GPC - Controle Preditivo Generalizado (Generalized Predictive Control)
ITC - Cozimento Isotrmico (Iso Thermal Cooking )
LB - Licor Branco
LN - Licor Negro
LND - Licor Negro Diludo
MCC - Cozimento Contnuo Modificado (Modified Continuous Cooking)
PIMS - Sistema de Gerenciamento de Informaes de Processo (Process Information
Management System)
TAPPI - Associao Tcnica das Indstrias de Celulose e Papel EUA (Technical
Association of Pulp and Paper Industries)
SDCD - Sistema Digital de Controle Distribudo
UKP - Polpa Kraft No Branqueada (Unbleached Kraft Pulp)
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xii
RESUMO
CORREIA, Flvio Marcelo, M.Sc., Universidade Federal de Viosa, Julho de 2010. Anlise
de distrbios de compactao de cavacos de eucalipto em digestores contnuos fase
vapor. Orientador: Jorge Luiz Colodette. Co-orientadores: Adair Regazzi e Jos Lvio
Gomide
Um dos principais problemas de operao do digestor contnuo (em particular nos
digestores em fase vapor) o adequado controle de nvel de cavaco. Esta varivel de
significativa importncia, pois vrios fatores afetam seu resultado, e a ela est associado o
tempo de reteno de cozimento e, por conseguinte, o controle das reaes de deslignificao.
Havendo problemas de desequilbrio no grau de compactao da coluna de cavacos e
instabilidades no movimento hidrulico desta no interior do digestor, perde-se por completo o
controle do tempo de reao. Assim, consequncias significativas refletem sobre a produo,
qualidade e uniformidade do produto. Trabalhos publicados de vrios autores, j mostraram as
relaes entre as diferentes variveis de processo e suas reaes de cintica qumica,
desenvolvendo diferentes modelos de reaes de cozimento. No obstante, tais modelos s
so aplicveis s condies de processo estacionrio e de continuidade do digestor. Vrias so
as possveis causas de instabilidade no controle de nvel de cavaco, e quase sempre no
possvel identificar ou atuar na causa fundamental imediatamente, considerando a
complexidade das diferentes variveis de processo (ainda que fortemente automatizadas) e a
sinergia entre elas. Este trabalho teve como objetivo agrupar em uma varivel as principais
informaes de processo relacionadas compactao de cavacos de eucaliptos em um
digestor contnuo fase vapor, avaliar a interao entre elas e os seus efeitos em distrbios
operacionais. Os resultados obtidos permitiram um melhor entendimento das ocorrncias de
reteno da coluna de cavacos, facilitando o controle operacional do equipamento durante
instabilidades, pela antecipao das aes nas alternativas manipuladas principais, e
minimizao das perdas de produo e de qualidade do produto.
-
xiii
ABSTRACT
CORREIA, Flvio Marcelo, M.Sc., Universidade Federal de Viosa, July, 2010. Eucalyptus
Chip compaction disturbance analysis in a vaphor phase continuous digesters.
Adviser: Jorge Luiz Colodette. Co-Adivisers: Adair Jos Regazzi and Jos Lvio Gomide.
A major operation issue at the continuous digester operation (particularly in the vapor
phase digesters) is the appropriate chip level control. This is a significant variable, concerning
the association with the cooking retention time. If there are problems in the chip compaction
bed, affecting chip level, the reaction time is out of control. Significant effects occurs on the
production, quality and uniformity product as result. Published papers of several authors, have
already demonstrated the relationships between the different process variables and their
reactions to chemical kinetics, developing different models of cooking reactions. However,
such models are applicable only to digester equilibrium conditions. There are several possible
causes of chips compaction disturbances in the continuous digesters, and often it is difficult to
identify and act on them immediately, considering the variables complexity (even if highly
automated), and synergy between them. This study aimed to cluster in one variable the
different key process information that affect Eucalyptus chip compaction disturbance in a
vapor phase continuous digester, evaluate the interaction between them and their effects in
chip bed retention disturbances. From results, expected to get a better understanding of chip
bed packing , making it possible to optimize liquor and chip flow in the digester, by doing
modifications in advance of the main manipulated alternatives, and thereby ensuring uniform
fiber quality and production efficiency.
-
1
1 - INTRODUO
O mercado mundial de celulose tem apresentado demanda crescente nas ltimas
dcadas. A produo tem acompanhado a demanda, com a criao de novas fbricas de porte
cada vez maior. Visando minimizar investimentos, os fabricantes tm projetado instalaes
em linha nica, construindo equipamentos de capacidade muito elevadas.
Em relao aos digestores, o incremento deste equipamento comeou aumentando a
altura, construindo equipamentos acima de 60 m, tendo como exemplo, a fbrica de Gruvon
na Sucia que construiu um digestor com 81 m em 1969.
Com os problemas apresentados pelos digestores de altura elevada, o incremento
passou a ser atravs do aumento do dimetro, chegando a atingir 10 m, como por exemplo, a
fbrica de Joutseno em 1999 (KNUTSEN reportado por LAAKSO, 2008).
Est previsto para entrar em operao em meados de 2010, um dos maiores do mundo,
que tem capacidade de projeto de 5.100 tSA/dia na China, com altura de 68 m e dimetro de
12,5 m.
O controle de nvel de cavaco e licor em um digestor contnuo uma das mais difceis
tarefas operacionais (MICHELSEN, 1995, PUOLAKKA et al, 2005, LAAKSO, 2008), e
passou a ficar ainda mais difcil com o perfil destas novas construes.
A qualidade da polpa resultante do cozimento normalmente determinada atravs da
medio do nmero Kappa.
Esta anlise realizada na descarga do digestor, sendo que as principais variveis de
processo esto localizadas no topo do digestor (nvel, temperatura e lcali).
Desta forma, considerando a varivel de controle em relao varivel manipulada,
apresenta-se com uma defasagem do tempo de reteno do digestor (normalmente superior a
quatro horas).
O controle do nmero kappa o item mais importante para o cozimento, e
determinante para as etapas subsequentes do processo (depurao e branqueamento), tendo
impactos significativos para os custos, o meio ambiente e a qualidade da celulose final. Neste
contexto, a modelagem matemtica tem sido aplicada ao processo kraft, em diferentes nveis
de complexidade para minimizar a variabilidade. A cintica de reaes qumicas, a influncia
-
2
do cavaco e tipo de madeira, impactos da temperatura, lcali, relao licor/madeira possuem
vastas informaes na literatura em relao aos processos de cozimento.
No entanto, o grau de compactao de cavacos, o controle de nvel de licor e cavaco,
bem como sua relao com o tempo de residncia (e consequente interferncia com o grau de
cozimento), so relativamente pouco explorados (WISNEWSKI, 1997).
Se o grau da compactao da coluna de cavacos conhecido no digestor, os distrbios
de processo so mais fceis de identificar e corrigir, adequando o processo s condies
padro de operao. Este um problema de controle tpico em digestores contnuos, com
nfase particular aos de processo fase vapor.
Modelos que explicam os fenmenos de compactao de cavacos em digestor
contnuo foram estudados por alguns pesquisadores utilizando madeiras de fibra longa, como
os apresentados por Harkoonen (1987), onde explicou as interaes entre a compactao de
cavacos e as demais variveis do digestor, descrevendo o movimento hidrulico vertical da
coluna de cavacos de um digestor fase vapor. Nesta descrio, aborda o fluxo de licor atravs
do leito de cavacos. Considera o licor como incompressvel e o leito de cavacos ao contrrio,
como um meio poroso compressvel, elstico e reversvel.
Na realidade, o tempo de permanncia ao longo do digestor, que uma
importantssima varivel, dependente da taxa de produo e o grau de compactao de
cavaco, que por sua vez no calculado por meio algum quando em condies adversas.
Ahvenlampi e Uusitalo (2006) estudaram a influncia do plugging de peneiras de
extrao e variaes no nvel de cavaco e licor com utilizao de dados industriais, visando
diagnosticar problemas quando em condies anormais de operao (isto , fora do estado
estacionrio). Avaliaram trs abordagens para o diagnstico de funcionamento normal e
anormal, considerando o fluxo de extrao, a compactao de cavaco e lgica fuzzy para o
diagnstico.
O objetivo deste trabalho foi agrupar em uma varivel, o conjunto das variveis de
processo relevantes na operao do digestor contnuo, atravs das variveis: temperatura da
polpa descarga, fluxo extrao de licor, fluxo de descarga, nvel apalpador cavaco, nvel
parcial e total do licor, diferencial de presso da extrao e descarga, corrente do raspador de
fundo, temperatura da circulao de cozimento e diferena de densidade do cavaco.Tais
variveis foram coletadas atravs do SDCD, e aplicadas a um teste de lgica, associadas a
limites empricos de variaes, resultando em um ndice de monitoramento dos distrbios de
compactao de cavacos.
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3
O conhecimento da tendncia deste ndice de referncia, a interao das variveis de
processo uma com as outras, bem como a ponderao de cada varivel de processo, permitiu
antecipar decises visando minimizar os impactos das variaes do tempo de reteno na
qualidade da polpa produzida e do ritmo de produo.
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4
2 - REVISO DA LITERATURA
2.1 - Processo Kraft
O processo Kraft (ou sulfato) com cozimento contnuo tem sido o processo dominante
de produo de celulose.
Suas origens se remontam ao final do sculo 19. As primeiras patentes que tratam da
deslignificao de madeira atravs de uma soluo de hidrxido de sdio e sulfeto de sdio
foram obtidas por A.K. Eaton em 1870 e 1871 atravs das patentes Improvement in the
manufacture of paper pulp - US Patent 106 143 em 09 de agosto de 1870 e da patente
Improvement in the manufacture of paper pulp- US Patent 119 224 de 26 de setembro de
1871 (SJOHOLM, 1999).
Nesta patente, o carbonato de sdio substitudo pelo sulfato de sdio (de menor
custo).
Apesar disso, usualmente creditado como o inventor do processo kraft, ao qumico
pesquisador C.F. Dahl, da cidade de Danzig, Alemanha. Ele descobriu a possibilidade da
substituio do carbonato de sdio por sulfato de sdio para reposio dos qumicos de
cozimento. Inicialmente os resultados no foram satisfatrios, e finalmente obteve a patente
deste mtodo (US Patent 296 935) em 15 de abril de 1884 (CLAYTON, 1969).
O grande efeito positivo ao novo mtodo (at ento realizado com hidrxido de sdio)
foi justificado s melhorias das propriedades de resistncia da polpa. Os primeiros processos
de utilizao industrial foram realizados com madeiras de conferas da Escandinvia, e o
primeiro papel foi produzido na Sucia na fabrica de Munkjo in Jonkopping em 1885. Este
papel apresentou propriedades de maior resistncia, passando a ser conhecido como processo
kraft, pela derivao da palavra sueca (e germnica) para o conceito de resistncia.
A primeira fbrica Kraft na Amrica do Norte foi feita na Brompton Paper Company,
East Angus em Quebec no Canad, em 1907. Logo em seguida, a primeira fbrica nos
Estados Unidos foi criada em 1911 em Pensacola, Flrida, atravs da converso do processo
soda ento existente por E.H. Mayo.
O processo Kraft (ou sulfato) passou a competir com o processo sulfito. Teve
progresso contnuo atravs do desenvolvimento das operaes unitrias nas reas de
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5
evaporao e queima de licor. O avano efetivo aconteceu na dcada de 1930, atravs do
Forno de Recuperao de Tomlinson, onde a evaporao final e a queima do licor negro,
gerao de vapor e recuperao dos qumicos de cozimento foram incorporados em uma nica
unidade na caldeira de recuperao qumica. Prosseguindo este desenvolvimento no final da
dcada de 1930 e da dcada de 1940, passou-se a utilizar industrialmente o digestor contnuo,
a lavagem por difuso de polpa dentro do digestor, os processos de recuperao do carbonato
em fornos de cal, os processos de caustificao, tratamento de efluente etc.
Termos tcnicos especficos do jargo industrial foram criados para este processo,
padronizados por associaes tcnicas do setor (TAPPI Information Sheet 061-05).
Extensa literatura disponvel sobre as caractersticas do processo Kraft, dentre elas,
Kleppe (1970) descreve a cintica de deslignificao, rendimento de polpa e suas variveis
com carga alcalina, sulfidez, tamanho de cavaco, temperatura de cozimento, nmero kappa,
qualidade da madeira, reaes de carboidratos, adsoro de hemiceluloses, propriedades da
polpa, aspectos de poluio etc., para dados de polpa de madeiras softwood.
O processo Kraft associado aos gases odorosos, principalmente organo sulforosos,
que possuem odor caracterstico de alta sensibilidade humana.
De uma forma geral, uma moderna indstria de processo Kraft de celulose de mercado
possui as etapas de descascamento, picagem de cavacos, cozimento, depurao, lavagem,
branqueamento e secagem indicados na Figura 1 a seguir. O foco do trabalho direcionado
para a etapa de cozimento, conforme destaque:
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6
Figura 1: Processo Kraft.
2.2 - Digestor Contnuo
Para produo de Celulose, pode-se utilizar digestores batch ou contnuo. Digestor
contnuo o equipamento em que se processam as reaes de cozimento em processo
contnuo.
Os digestores batch foram os primeiros utilizados (seja em grande ou pequena escala).
So vasos pressurizados que recebem uma batelada de licor e cavaco, processa-se o
aquecimento, e aps o tempo de reao so descarregados. Geralmente so fabricados em ao
carbono, com espessura especiais conforme o tamanho.
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7
De uma forma geral os fatores que favorecem aos digestores batch esto vinculados
maior confiabilidade da produo, flexibilidade de operao, flexibilidade de mix de matria
prima (hard wood / soft wood) em produo em bateladas de cada uma delas, fcil start up e
paradas e menores custos de manuteno (PATTON, 1981).
Por outro lado, os fatores que favorecem os digestores contnuos so relevantes, como
o menor consumo de vapor, menor consumo de energia, menor demanda de espao fsico
(mais compacto), melhor tratamento dos gases gerados e principalmente o determinante fator
para empresas de grande porte, que so os menores custos de instalao (SMOOK, 1998).
O digestor contnuo um reator tubular, onde ocorre deslignificao de cavacos de
madeira com lcali em altas temperaturas e presso. Apresenta simultaneamente as fases
slida, lquida e vapor, cujo comportamento fortemente dependente dos fenmenos de
transporte de calor e massa, bem como da evoluo das reaes qumicas em seu interior.
constitudo de trs regies distintas: zona de impregnao (onde ocorre a
impregnao de cavacos com licor aquecido), zona de cozimento (onde ocorrem as reaes de
deslignificao) e zona de lavagem (onde ocorrem as fases de lavagem, resfriamento e
remoo da lignina residual). O parmetro fundamental de controle do digestor o nmero
kappa (que indica o teor residual de lignina na polpa).
Ao longo dos anos, tem ocorrido evoluo nos projetos dos digestores visando atender
a necessidade do incremento de produo. Esta evoluo levou ao crescimento do tamanho
fsico dos digestores contnuos, assim como o aumento da produo por rea do equipamento.
A sinergia negativa entre a elevao das taxas de produo e o aumento fsico dos
digestores fez aumentar tambm a quantidade de situaes de falha nos mesmos
(PUOLAKKA et al., 2005).
As perdas econmicas para a fbrica de celulose podem ser significativas se tais
situaes no forem controladas, correndo o risco real de afetar o volume de produo.
2.2.1 - Histrico
No digestor contnuo, os cavacos e licores de cozimento so alimentados em taxas
controladas em um vaso tubular vertical pressurizado. Os cavacos se movem em fluxo
descendente, sendo descarregados ao fundo em forma de polpa.
A introduo do digestor contnuo veio consolidar o processo Kraft, viabilizando sua
larga utilizao industrial.
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8
Os principais obstculos iniciais para a operacionalidade do equipamento, eram como
alimentar cavacos continuamente em um vaso de presso, e como fazer para descarregar a
polpa em alta temperatura deste vaso presso atmosfrica.
As plantas de descascamento, picagem, depurao e tambm as mquinas de papel j
eram contnuas desde o sculo 19. Os conceitos das plantas de branqueamento contnuo
vieram a fortalecer e incentivar ao desenvolvimento dos conceitos de digestor contnuo.
Os primeiros desenvolvimentos deste cozimento foram realizados no final da dcada
de 1920, atravs da patente de Dunbar nos Estados Unidos em 1928, conforme Figura 2:
Figura 2: Primeiros prottipos de digestor contnuo (DUNBAR 1928).
Outro conceito de projeto das tecnologias iniciais foi o conceito do digestor Messing-
Durkee reportado por Rydholm (1965), conforme Figura 3. Nesta unidade, um reator
constitudo de um tubo inclinado de aproximadamente 1,5 m de dimetro e 15 m de
comprimento, possuindo em seu interior uma corrente para fazer o transporte de cavacos, seja
em fase lquida ou em fase vapor, com tempo de reteno de aproximadamente 1 hora. Pelas
caractersticas do equipamento, permitia um pequeno volume de produo.
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9
Figura 3: Digestor Contnuo Bauer Messing-Durkee fase vapor (RYDHOLM, 1967).
Pode se observar na figura a presena de equipamento tipo vlvula-rotativa para
separar diferentes zonas de presso.
Estes digestores podem tambm ser conectados em srie, sendo um para impregnao
e outro para cozimento, conforme Figura 4:
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10
Figura 4: Digestor Durkee Duplo Tubo (CLAYTON, 1969).
Pode se observar neste equipamento, conceitos importantes que permanecem nos
equipamentos atuais, como a rosca medidora de cavacos, o vaso de vaporizao, o controle de
nvel de licor e um tanque de descarga.
Outros digestores foram desenvolvidos tambm pelas empresas Pandia (Chemipulper),
Defibrator (Asplund), estes particularmente aplicados a sistemas semi-qumicos, bem como
Escher-Wyss, Impco (alimentado pelo fundo) e o digestor Esco conforme Figura 5:
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11
Figura 5: Digestor Esco (CLAYTON, 1969).
Apesar das diferentes tentativas das demais empresas, grande desenvolvimento do
processo contnuo de cozimento kraft foi conduzida pela empresa, Kamyr.
O nome Kamyr provm de duas Empresas AB Karlstads Mekaniska Werkstad da
Sucia e Myrens Verkstad da Noruega. Estas duas empresas se fundiram em 1920, e
desenvolveram vrios projetos na rea de produo de celulose, resultando na patente
registrada na Sucia 106 660 de 07 de abril de 1938. Esta patente tinha como conceito um par
de vasos superpostos, com lavagem intermediria na zona de cozimento, fluxo cocorrente de
licor, descarregado na mesma temperatura de cozimento, conforme Figura 6:
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12
Figura 6: Cozimento Correspondente Patente Sueca de 1938 (RICHTER 1981).
Em seu trabalho de 1981, Richter relata os fatos que fizeram a criao do projeto do
digestor Kamyr. O autor relata historicamente os desafios e sucessos, em que foram
apresentados os primeiros conceitos sobre cozimento contnuo em Buffalo, Estados Unidos
em um encontro da TAPPI em 1948. Reporta a evoluo dos projetos de pesquisa , com
alguns equipamentos de alimentao e descarga que deram origem aos hoje existentes,
conforme Figura 7:
Figura 7: Planta Piloto de Cozimento para 8 t/dia (RICHTER, 1981).
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13
Foram dcadas para se resolver os problemas mecnicos e outros envolvidos na
construo de um digestor de porte. O primeiro digestor comercial comeou com uma
produo de 30 t/ dia em Fengersfors na Sucia em 1950. Sua operao encerrou 20 anos
depois, pois era muito pequeno para ser econmico. Cavacos e licor de cozimento eram
alimentados no topo do digestor, com uma circulao de aquecimento separado para aquecer
o licor. O volume total do digestor era de cerca de 100-200 m3.
O problema chave para a operao do digestor contnuo era a dificuldade em alimentar
o digestor em alta presso. A Kamyr resolveu este problema construindo um alimentador a
alta presso, tendo registro atravs da patente de Johan Richter de 06 de outubro de 1970 nos
Estados Unidos. Nesta patente, Richter dispe um fluxograma bsico de um digestor
conforme Figura 8.
Figura 8: Equipamentos auxiliares do digestor contnuo proposto por Richter (1949).
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14
O alimentador de alta presso evoluiu tecnologicamente, tendo seu desenho como um
cilindro esfrico adequadamente perfurado para passagem de licor e cavaco, conforme
indicado na Figura 9:
Figura 9: Parte interna de um alimentador de alta presso.
Em seus relatos, Richter registra que inicialmente os digestores no estavam
apresentando boas propriedades da polpa por baixa resistncia da fibra. Ele chegou a assumir
em um encontro tcnico em Estocolmo em 1956, que o digestor contnuo teria qualidades da
polpa inferiores ao digestor batch.
Uma das razes para isso era a forte variao de temperatura ao descarregar a polpa
para presso atmosfrica.
Aps novos desenvolvimentos, verificou-se que se resfriando a polpa abaixo de 100
C antes de sua expanso, obtinha-se melhoras significativas na qualidade.
O resfriamento poderia ser feito com a adio de um filtrado em menor temperatura no
fundo do digestor.
2.2.1.1 - Lavagem Hi-Heat
Em 1960 na Austrlia, um digestor com cozimento soda (instalado em 1956), foi
equipado com lavagem contracorrente com sistema de filtrado em menor temperatura
(RICHTER, 1981). O fluxo contracorrente era esperado para ajudar ao fluxo descente da
coluna de cavaco, diminuindo o atrito do cavaco com a parede, minimizando a possibilidade
de variao do nvel da coluna de cavaco conforme Figura 10:
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15
Figura 10: Fluxo simplificado com lavagem Hi-Heat.
(setas contnuas fluxo de cavaco; setas tracejadas fluxo de licor).
Este sistema foi denominado de Lavagem Hi-Heat (marca registrada da Kamyr Inc.),
considerando seu significado em ingls de lavagem a quente.
Para as fbricas que buscavam investir em capacidade extra, as opes nos anos 60
eram comprar digestores adicionais batch, ou implantar um contnuo. Os digestores adicionais
exigiam mais espao, e o sistema de lavagem existente normalmente no eram suficientes
para se ajustar ao aumento da produo.
Neste caso, a fbrica tinha que investir tambm em acrscimo de capacidade. Desta
forma, um digestor contnuo j equipado com a etapa de lavagem tornou-se uma adequada
opo para incremento de produo com investimentos menores.
Outra item que contribuiu para aumentar o nmero de digestores contnuos, foi a
mudana de processo pelas fbricas de sulfito convertendo a sulfato.
Alm destes fatores, a simplicidade, a reduo nos consumos de lcali e vapor, bem
como a facilidade da manuteno do cozimento contnuo contribuiu significativamente em
tornar este processo dominante comercialmente.
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16
Apesar do inconveniente de aumentar o tamanho do digestor para acomodar um
estgio extra de lavagem, a possibilidade de descarregar a polpa em menor temperatura
promoveu sinergias em seus efeitos para melhorar a lavagem, melhorar as propriedades da
polpa e facilitar a operao do digestor. A utilizao da lavagem Hi-Heat veio se tornar um
padro em sistemas de cozimento contnuo Kamyr a partir de 1962, com as zonas de
impregnao, aquecimento, cozimento e lavagem.
Ao aumentar o tamanho do digestor para o novo estgio de lavagem, houve tambm a
demanda de aumento da capacidade de produo, tendo como resultado aumento significativo
na altura dos digestores. At ento os digestores tinham entre 20 a 30 metros de altura, e os
digestores instalados no princpio dos anos 70 tinham 70 a 80 medidores de altura. Por
exemplo, o digestor da fbrica de Gruvn (Figura 11) medindo mais de 80 m de altura.
Figura 11: Evoluo da altura dos digestores (LAAKSO, 2008).
Este incremento na altura da coluna de cavacos fez aumentar tambm os distrbios de
compactao de cavacos no digestor.
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17
Consequentemente, os fabricantes de digestor comearam a procurar alternativas para
reduzir os problemas de compactao de cavaco e aumentar a produo, sem comprometer os
resultados de lavagem. As opes eram aumentar o dimetro do digestor ou construir um vaso
de impregnao em separado.
A utilizao de vaso de impregnao em separado para o cozimento contnuo foi
desenvolvida nos anos 60, permitindo reduzir a altura do digestor, e em consequncia
diminuir a compactao de cavacos.
Conforme reportado por Laakso (2008), uma nova tendncia no final dos anos 1980
foi o aumento temperatura da zona Hi-Heat, ficando prxima temperatura de cozimento.
Esta por sua vez, foi reduzida gradativamente. Desta forma, a altura da seo Hi-Heat foi
reduzida para aproximadamente 10 metros conforme Figura 12.
Figura 12: Evoluo da altura da zona de lavagem (LAAKSO, 2008).
2.2.1.2 - Cozimento Contracorrente
Uma extenso lgica da lavagem contracorrente, o cozimento contracorrente. Neste
cozimento, o licor branco aquecido introduzido diretamente acima da zona de lavagem do
digestor, direcionando em fluxo contrrio ao fluxo de cavacos conforme indicado na Figura
13. Este sistema foi inicialmente aplicado na Austrlia, com cozimento de eucalyptus com
soda, aumentando a alvura e reduzindo o consumo de lcali (CLAYTON, 1969).
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18
Figura 13: Digestor contnuo Kamyr Tpico.
Neste sistema de cozimento Kamyr tpico, os cavacos so alimentados atravs de
correias transportadoras para um silo de cavacos (que podem ser de diversos tipos).
Aps o silo, os cavacos so direcionados ao dosador de cavacos (equipamento em que
ocorre a medida do volume de cavaco alimentado ao digestor). atravs desta informao
que se faz todos os controles do digestor para avaliao da madeira alimentada (detalhamento
na Figura 14).
Nesta fase, ocorre a etapa de remoo do ar do interior dos cavacos para prepar-los
para receber o licor de cozimento. atravs desta importante operao, que se consegue fazer
o cavaco mover-se em fluxo descendente no interior do digestor.
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Figura 14: Instalao tpica de um silo de cavacos com adio de vapor ou licor flash para
pr-vaporizao (Metso Automation, 2005).
Em seguida, os cavacos so direcionados para um alimentador de baixa presso,
passando da presso atmosfrica para uma zona de baixa presso. Posteriormente
alimentado a um vaso de impregnao, em que os cavacos so impregnados com vapor para
remoo do ar (instalaes modernas dispensam este equipamento, quando a pr-vaporizao
for realizada no prprio silo ou em vaso a parte).
Os cavacos pr-vaporizados, seguem para o alimentador de alta presso, em que
encaminhado ao interior do digestor (presso aproximada de 7 kg/cm2). No interior do
digestor, segue em fluxo descendente procedendo s reaes de deslignificao.
Detalhamento destes equipamentos auxiliares apresentado na Figura 15.
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20
Figura 15: Detalhamento dos equipamentos acessrios do digestor Kamyr.
A Kamyr, teve dominncia nos processos de patentes relativas alimentao e
descarga de digestor contnuo de cavacos., tendo se expandido com instalaes industriais em
vrios pases do mundo.
Dentre as principais modificaes tecnolgicas deste fornecedor, destacam-se a
converso de descarga a quente para descarga a frio (1958), o desenvolvimento do digestor
em fase vapor, desenvolvimento do separador de topo inclinado (1967), a incluso de um
estgio de lavagem por difuso (1962), a incluso de um silo com pr-vaporizao de cavacos
(1974), e finalmente o desenvolvimento de cozimento em dois vasos separados - de
impregnao e digestor (1972).
A Kamyr se estabeleceu na Amrica do Norte em 1953 como uma filial denominada
Kamyr Incorporation. A empresa era especializada na produo de digestores contnuos para
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21
o mercado norte-americano. J a Kamyr AB continuou a sua produo de digestores na
Sucia, Noruega e Finlndia.
A Kamyr AB se especializou em construo de digestores em fase vapor e a Kamyr
Inc. na produo de digestores hidrulicos. Em 1989, um dos trs scios fundadores vendeu
suas aes, resultando na ciso das empresas Kamyr AB com base em Karlstad, na Sucia e
Kamyr Inc. sendo propriedade da Ahlstrom nos Estados Unidos. Aps a separao, Kamyr
AB foi rebatizada com o nome de Kvaerner Pulping, e a Kamyr Inc. comeou a usar o nome
Ahlstrm Machinery.
As fuses entre fornecedores de mquinas de celulose e papel continuaram. Logo
depois da separao Kamyr, a Ahlstrm foi adquirida pela Andritz (2001) e Kvaerner Pulping
tornou-se parte da Metso (2006).
Os novos equipamentos e melhorias do sistema de lavagem marrom, os processos
tecnolgicos buscando cozimento com menor nmero kappa, bem como desenvolvimento de
novas peneiras para circulao e extrao do digestor, minimizaram a razo da lavagem Hi-
Heat. Ela foi praticamente transformada em uma seo de cozimento, denominado pelos
fornecedores de cozimento downflow, ou cozimento cocorrente.
Neste caso, o fluxo de licor da seo final, passa tambm a ter direo descendente,
isto , no mesmo sentido do fluxo de cavacos. Esta varivel significativa para estabilizar o
movimento da coluna de cavacos.
2.2.2 - Tecnologia de Cozimentos Modificados
O cozimento contnuo convencional considerado aquele em que toda a carga de
lcali necessria ao cozimento adicionada junto ao sistema de alimentao de cavacos em
um nico ponto. Desta forma, a impregnao e cozimento ocorrem simultaneamente em uma
nica zona, em fluxo cocorrente de licor e cavaco. Neste caso, para que se processe a mxima
remoo de lignina, ocorria tambm uma elevada degradao dos carbohidratos, reduzindo o
rendimento da polpa e tambm suas propriedades de resistncia. Esta foi a principal razo
para o desenvolvimento de Cozimentos Modificados no final dos anos 1970, com
aplicaes no incio da dcada de 1980.
Um dos aspectos relevantes do cozimento kraft, a demanda em remover a lignina,
sem atacar os carbohidratos da madeira. Nos esforos de fazer o cozimento em nmero kappa
mais baixo (minimizando carga ao efluente e consumo de qumicos do branqueamento) e ao
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22
mesmo tempo no ter perdas de qualidade da polpa produzida, que surgiram os diversos
tipos de cozimento modificados abaixo descritos.
De uma forma geral so estas suas principais caractersticas:
O perfil do lcali no digestor deve ser tal para que se evite elevadas concentraes no
incio do cozimento, e no ser baixa na fase final.
A concentrao de lignina dissolvida e de ons sdio no licor de cozimento deve ser a
mais baixa possvel, especialmente na fase final do cozimento. A lignina dissolvida no licor
acompanhando a polpa pode diminuir a viscosidade da polpa e suas propriedades de
resistncia, aumentar o consumo de lcali e diminuir a branqueabilidade da polpa.
De uma forma geral, a temperatura deve ser a mais baixa possvel, especialmente no
incio e fase final do cozimento.
Para atingir os objetivos acima, as alternativas tcnicas utilizadas foram o
parcelamento das adies de licor branco, e utilizao de mtodos de cozimento em
contracorrente para minimizar a concentrao de lignina no final do cozimento. Em
comparao ao cozimento kraft convencional, os cozimentos modificados comeam com uma
concentrao reduzida de lcali e termina a uma concentrao mais alta, visando diminuir a
concentrao de lignina dissolvida na fase final do cozimento.
Dentre outras modernizaes tecnolgicas, vale ressaltar os processos de incremento
na qualidade da polpa atravs do desenvolvimento de novos equipamentos e novos processos
de cozimento, os quais so destacados a seguir.
2.2.2.1 - Cozimento MCC
Modified Continuous Cooking (Andritz -Ahlstrom, Kvaerner):
Foi desenvolvido pelo Swedish Forest Products Research Institute STFI, e Royal
Institute of Technology da Sucia e utilizado pela primeira vez em 1983 em uma fbrica da
Finlndia.
A zona de cozimento dividida em duas zonas: a zona cocorrente (aproximadamente
90 minutos com 80 % da carga alcalina aplicada) e zona contracorrente (aproximadamente
com 60 min. e o restante da carga de lcali).
Esta segunda adio de licor branco durante o cozimento faz uma reposio do lcali
consumido, e assim reduz a chance de re-precipitao de lignina nas fibras, propiciada pela
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reduo do pH. Alm disso, o processo permite cozimento com maior seletividade comparado
ao cozimento convencional.
2.2.2.2 - EMCC
Extended Modified Continuous Cooking (Andritz -Ahlstrom, Kvaerner):
uma extenso do cozimento MCC, utilizando a zona de lavagem para aumentar a
deslignificao. Faz uma diviso maior em diversos pontos do lcali adicionado. A carga
alcalina distribuda percentualmente junto ao cavaco, topo, segunda (MCC) e terceira
circulao (EMCC). Com esta distribuio, inicia-se o cozimento com uma carga alcalina
menor, dificultando as reaes de degradao dos carbohidratos. Ao mesmo tempo, termina-
se o cozimento com uma alcalinidade maior, diminuindo a concentrao de lignina na fase
final para a etapa de lavagem e branqueamento. Conforme Figura 16, o cozimento dividido
em quatro zonas de cozimento.
Figura 16: Digestor hidrulico EMCC vaso duplo.
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24
2.2.2.3 - ITC
Iso Thermal Cooking (KVAERNER)
O cozimento ITC, expande o EMCC com uma circulao adicional (circulao ITC).
Esta circulao opera em um volume elevado de fluxo, e exige um tipo especial de peneiras
para permitir adequadas taxas de circulao, permitindo cozinhar ainda mais em
contracorrente. Em comparao com EMCC, a concentrao de soda inicial menor, tendo
em vista mais um ponto de adio de licor branco. A temperatura no digestor menor e quase
uniforme em todo o digestor. Aumenta-se a temperatura da zona de lavagem, buscando
aproximar das duas primeiras zonas. Com isso permite uma menor temperatura global,
buscando melhorar a qualidade da polpa, reduzir o consumo de vapor, menor teor de rejeitos e
melhoria do rendimento. A temperatura mais alta alcanada pela adio de um segundo
trocador de calor de licor conforme Figura 17.
Figura 17: Digestor Cozimento ITC.
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2.2.2.4 - KOBUDO MARI
COOKING
Processo de tecnologia da Kvaerner, cuja caracterstica principal a adio direta de
licor branco ao topo do digestor, e inverso da circulao dos filtrados (o licor retirado na
primeira peneira devolvido aps a segunda, e o licor retirado na segunda peneira,
devolvido aps a primeira (Figura 18). Esta inverso tem o objetivo de propiciar a
reprecipitao das xilanas dissolvidas no licor, tendo como resultado um incremento do
rendimento (CORREIA, 2001). Alguns trabalhos de cozimento em laboratrio com polpa de
eucalipto (ROBLES, 2005), indicam um rendimento depurado e um consumo de lcali
equivalente ao cozimento LO-SOLIDS TM
para o mesmo nmero kappa.
Figura 18: Cozimento KOBUDO MARI
com fluxos invertidos das circulaes (CORREIA,
2001).
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26
2.2.2.5 - COMPACT COOKING TM
Processo desenvolvido por Kvaerner Pulping AB. Caracteriza-se pelas altas taxas de
relao lquido/madeira durante as fases iniciais da etapa de cozimento, com um nvel muito
alto de licor negro presente no licor de cozimento. Opera em cozimentos em temperaturas
menores do que seus concorrentes, buscando maximizar o rendimento e propriedades da
polpa. Os equipamentos principais, so mostrados na Figura 19.
Figura 19: Digestor Compact Cooking TM
.
2.2.2.6 - LO-SOLIDS TM
COOKING
Desenvolvido pela ANDRITZ-AHLSTROM.
Considerando que o MCC e EMCC tenta reduzir a presena de slidos dissolvidos da
madeira durante o cozimento final, o cozimento LO-SOLIDS TM
busca reduzir os slidos
dissolvidos no incio e durante o cozimento. Ele deriva seu nome dos mltiplos fluxos de
extrao, reduzindo as concentraes de lignina dissolvida e ons de sdio, melhorando assim
a seletividade, para este fim, licor branco e licor do filtrado marrom so adicionados em
substituio ao licor extrado.
Principal vantagem divulgada pelo fabricante, refere-se a maior viscosidade da polpa e
menor consumo de lcali (MARCOCCIA, 1996), obtido pela remoo dos slidos dissolvidos
em toda a extenso do cozimento, conforme Figura 20:
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Figura 20: Efeito do perfil de concentrao de lignina dissolvida comparativo com cozimento
EMCC ao longo do digestor (MARCOCIA, 1996).
Por outro lado, alguns crticos deste mtodo (LINDSTROM e SNEKKENES, 2008),
reportam que este sistema sofre a desvantagem de que pode causar um menor rendimento,
causada pelo fato de que com a retirada de material orgnico como a lignina, tambm ocorre a
retirada de material que contm carboidratos principalmente a hemicelulose.
Sumariando, os mtodos de cozimentos MCC, EMCC e ITC so baseados nos
princpios de que o perfil de lcali deve ser o mais uniforme em todo o cozimento. Alm
disso, a concentrao de sulfeto de hidrognio deve ser elevada na fase inicial e tambm no
incio da fase principal do processo de deslignificao. A temperatura deve ser mantida to
baixa quanto possvel, especialmente no incio do cozimento.
Por outro lado, os cozimentos Compact CookingTM
e KOBUDOMARI
COOKING
buscam a melhoria da seletividade deslignificao, mantendo as concentraes dos ons de
hidrxido e sulfeto de hidrognio em ambas as fases inicial e de cozimento o mais alto
possvel. Consequentemente, as reaes da fase final se procedem mais lentamente e,
portanto, esperado um maior rendimento de polpa.
A Figura 21 faz uma comparao dos diferentes tipos de digestores, com os
respectivos pontos de adio de licor branco, bem como os fluxos de licor e cavaco:
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Figura 21: Cozimento convencional e cozimentos modificados.
Em relao ao nmero de vasos, atualmente existem quatro tipos de cozimento
contnuo: vaso simples hidrulico, vaso simples fase vapor, vaso duplo hidrulico e vaso
duplo fase vapor.
2.2.3 - Digestor Contnuo Fase vapor
Os digestores contnuos so classificados como hidrulicos ou em fase vapor. O
primeiro um vaso pressurizado, totalmente preenchido com licor e cavacos. J o digestor em
fase vapor, possui uma regio no topo em que coexistem as fases gasosa (pelo vapor
adicionado direto ao topo), lquida (pelo licor branco de cozimento) e fase slida (pelo
cavaco). Esta regio , portanto, uma zona compressvel, e a presso dentro do digestor em
fase vapor determinada pela presso do vapor adicionado.
Os primeiros desenvolvimentos com fase vapor foram realizados em digestores em
batelada. Deste modo, os benefcios em termos de tempo do processo no foram grandes (os
perodos de enchimento, aquecimento e descarga do digestor levava muito tempo, reduzindo
os ganhos de uma fase rpida de reao). Houve, no entanto, significativa economia no
consumo de vapor nos primeiros testes.
A investigao sobre os diferentes aspectos de polpao teve boa parte dos trabalhos
realizados em institutos de pesquisas do Canad. Os trabalhos iniciaram no final dos anos
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1950 e incio dos anos 1960, culminando em uma srie de patentes, dentre elas a de Bryce, de
19/07/1963.
No incio das aplicaes industriais, houve problemas de elevada quantidade de
rejeitos e dificuldades de operao a alta sulfidez. Embora com bons resultados em planta-
piloto, houve um longo perodo para adequao aos ritmos de grandes escalas, sendo as
principais razes voltadas para o desgaste de peas mecnicas, problemas de obstruo das
peneiras na zona de impregnao causados pela maior concentrao de slidos dissolvidos na
fase de impregnao (ENQVIST, 2006). Estas dificuldades levaram reduo das
expectativas dos benefcios esperados pelo novo processo no sistema fase vapor.
Na dcada de 1970, o processo fase vapor teve novos incrementos, principalmente os
concebidos para aprimoramento dos equipamentos auxiliares (RICHTER, 1970). Duas
dcadas depois, surgem os trabalhos buscando elevao do rendimento, como exemplo o de
Bofeng (1995), que destaca os efeitos da impregnao de fase vapor de polpao kraft de fibra
longa, buscando o maior rendimento (melhor reteno de hemiceluloses), menor taxa de
rejeitos, e menor consumo de lcali.
Em geral, o interesse para cozimento fase vapor foi crescendo gradativamente,
acompanhando o incremento da produo dos grandes digestores comerciais, pela facilidade
de aquecimento e obteno da temperatura.
O nvel de cavaco superior fase lquida, deve ser o mais estvel possvel, para no
causar diferenas na compactao do leito de cavacos, e em consequncia variabilidade na
polpa produzida.
No incio da dcada de 1990, novas pesquisas neste processo foram implementadas,
buscando maximizar o rendimento do processo. Alternativas como divises da carga de lcali
durante um estgio inicial da fase de vapor e uma adio posterior em uma das circulaes,
visando aumentar a viscosidade da polpa, foram idealizadas.
J no final desta dcada, trabalhos patenteados por Laakso e Stromberg (1999),
mostraram que realizando o cozimento em menor temperatura de topo (120 a 130 C), obtm-
se uma menor degradao dos carbohidratos, resultando em melhor rendimento. Neste
contexto, dados industriais reportados por CORREIA et al. (2000) mostraram ganhos da
ordem de 1,7 % no rendimento, ao se reduzir a temperatura de topo de 145 para 125 C.
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Quanto ao sistema de alimentao, ambos os digestores possuem equipamentos
similares quanto vaporizao/desaerao, aquecimento e alimentao ao sistema de alta
presso.
No caso do digestor hidrulico, a suspenso de cavacos e licor introduzido no
digestor em um transportador helicoidal dirigido para baixo ou inclinado, conhecido como
separador de topo" (Figura 22 A). Na fase vapor, a suspenso de cavacos e licor
transportada pelo separador de topo, dirigido para cima, caindo como overflow no interior
do digestor conforme Figura 22B/22C:
Figura 22 A: Separador de Topo digestor Hidrulico (invertido). 22 B: Separador de Topo
digestor Fase Vapor. 22 C: Separador de Topo digestor Fase Vapor.
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O nvel do cavaco deve ser controlado para ficar em contato com a fase gasosa
(portanto acima do nvel de licor).
As reaes qumicas de deslignificao requerem temperaturas superiores a 140C.
Uma vez que a soluo de licor branco entraria em ebulio presso atmosfrica nestas
temperaturas, faz-se necessrio pressurizar o reator (pelo menos a 5 atm).
Uma das diferenas entre os dois tipos de digestores a maneira como a polpa de
cozimento aquecida at a temperatura de cozimento. No digestor hidrulico, os cavacos e o
licor de cozimento so normalmente aquecidos por meio de circulaes. O licor removido
do digestor, passando por peneiras, bombeado e aquecido com vapor atravs de um trocador
de calor indireto, e ento re-introduzidos ao digestor atravs do tubo central. No digestor fase
de vapor, alm das circulaes, os cavacos so aquecido diretamente com vapor vivo na parte
superior do digestor. Por esta razo, normalmente um digestor hidrulico tem um nmero
maior de peneiras de circulao para permitir um maior fluxo de licor pelos trocadores de
calor.
Alm da diferena no aquecimento, naturalmente h diferena nos mtodos utilizados
para monitorar e controlar o nvel de licor e cavaco no digestor.
Como o digestor hidrulico completamente preenchido com licor, apenas o nvel de
cavaco precisa ser controlado.
O nvel de cavaco em um digestor hidrulico normalmente controlado por meio de
apalpador mecnico, e seus desvios so detectados por sensores. Normalmente, dois ou mais
desses dispositivos eletro-mecnicos esto localizados na superfcie interna do digestor
hidrulico. A presena ou ausncia de cavacos ao nvel do apalpador determinada pelo grau
de defleco deste.
O operador pode variar o nvel de cavaco, variando a alimentao de cavaco ou a sada
de polpa do digestor.
J no digestor em fase vapor, dois nveis devem ser controlados: o nvel de cavacos
(semelhante ao digestor hidrulico) e o nvel do licor.
Comparativamente, existem vantagens e desvantagens entre o cozimento em digestor
hidrulico e o em fase vapor.
Dentre as desvantagens para o cozimento em fase vapor, a principal se refere
exposio direta de cavaco ao vapor. Este aumento repentino de temperatura pode causar no
uniformidade na deslignificao do cavaco, causado pela desuniformidade da impregnao.
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Se os cavacos no forem uniformemente impregnados com produtos qumicos de cozimento,
o aumento da temperatura pode causar reao no uniforme, tendo como consequncia em
aumento da variabilidade do nmero kappa, e propriedades de resistncia da polpa.
O aquecimento mais uniforme previsto pelo digestor hidrulico menos propenso a
causar um tratamento no uniforme do cavaco, visto que estar submerso em licor. A outra
significativa caracterstica do digestor em fase de vapor a sua sensibilidade s variaes
relativas dos nveis de cavaco e licor. Uma variao do nvel de cavaco exposto temperatura
de topo tem uma reduo equivalente quantidade de calor recebido pelo cavaco e, em
consequncia, reduo da temperatura necessria para as reaes. Portanto, num digestor em
fase vapor, o nvel de cavaco deve ser sempre mantido suficientemente acima do nvel do
licor para garantir aquecimento adequado. No havendo este tempo adequado, corre-se o risco
de incremento de rejeitos do digestor, com expressivos problemas na rea de depurao
marrom.
Por este motivo, o operador do digestor em fase vapor deve continuamente monitorar e
controlar o nvel de licor e nvel de cavaco. Este problema no ocorre no hidrulico, cujo
aquecimento procedido atravs das circulaes. Outro item relevante no cozimento em fase
vapor, que o nvel de cavaco ficando acima do nvel do licor, ocorre uma distribuio de
presso no-uniforme na coluna de cavaco, e em consequncia um movimento no-uniforme
vertical de cavaco no interior do digestor.
Enquanto imerso em lquidos, o peso do cavaco tem uma fora contrria pela fora de
empuxo do lquido. No entanto, os cavacos no submersos, exercem uma presso sobre o leito
de cavacos, alterando a distribuio de cavacos no digestor. Uma vez que os cavacos so
normalmente introduzidos na parte central do digestor, tem-se uma curva cnica imaginria
como resultado da carga de cavaco do centro at as paredes do digestor. Esta carga adicional
no centro, em conjunto com o atrito da parede do vaso, promove um movimento em fluxo
preferencial do cavaco pelo centro do digestor, conhecido como "channeling flow".
O movimento no-uniforme de cavaco, o expe a um tratamento no uniforme,
manifestando variaes nas caractersticas da polpa produzida. Novamente, no hidrulico este
problema praticamente inexiste.
No entanto, justamente esta capacidade de variar o nvel de cavaco acima do nvel do
licor, pode ser til ao operador quando ele precisa promover intencionalmente um aumento na
velocidade do fluxo descendente da coluna de cavaco.
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2.3 - Fatores que afetam a Qualidade do Cozimento da Polpa Kraft:
A qualidade da polpa do cozimento est essencialmente definida pelas seguintes
variveis:
2.3.1 - Temperatura
o item necessrio para se atingir a energia de ativao da reao de deslignificao.
Esta temperatura tem como referncia a zona de cozimento.
Temperaturas de topo e da zona de lavagem so importantes no contexto de
preservao dos carboidratos e rendimentos.
2.3.2 - Reagentes Qumicos de Cozimento
A quantidade de lcali efetivo adicionado (expresso pela carga alcalina), o teor de
sulfidez do licor branco, a concentrao do lcali efetivo no licor de alimentao (e suas
interferncias na relao lquido/madeira) bem como a distribuio e pontos de alimentao
ao digestor contribuem para a adequada condio das reaes qumicas de cozimento
(GOMIDE, 1979).
2.3.3 - Qualidade da Madeira
Em termos de uso industrial, existem dois tipos de madeiras, Softwood e Hardwood.
A qumica e anatomia da madeira variam pouco com as espcies de rvores, mas h
semelhanas muito fortes entre as duas classificaes acima. Gulichsen (2000), reporta como
as principais caractersticas da matria prima a espcie (e as variaes da sua composio
qumica), a idade, o tempo de corte e armazenamento, as propriedades morfolgicas do
cavaco (espessura e sua distribuio de tamanho), o teor de impurezas do cavaco, o teor de
umidade e a densidade.
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2.3.4 - Tempo de Residncia
A degradao da lignina diretamente dependente do tempo de residncia dentro do
digestor. O tempo de residncia vai indicar o tempo em que os cavacos ficam expostos s
variveis acima indicadas de temperatura e concentrao de reagentes qumicos, e est
diretamente relacionado ao grau de compactao de cavacos.
Normalmente nas aplicaes industriais, o tempo de residncia dos cavacos
calculado com base na taxa de produo e no volume do digestor, considerando-se um fator
de compactao constante, geralmente fornecido pelo fabricante do equipamento. Este fator
de compactao dinmico e depende de muitas variveis.
O processo kraft tem sido amplamente investigado, e as condies timas de
cozimento em escala de laboratrio so bem conhecidas. No entanto, um problema tpico
que o cozimento em escala industrial, no tem as mesmas condies reproduzidas com
fidelidade. Esta uma consequncia da natureza complexa e heterognea do processo
industrial de cozimento. Grandes dimenses dos equipamentos (altura e dimetro),
dificuldades e inadequao de medies, variaes de qualidade das matrias-primas, altas
taxas de produo e elevado tempo de residncia, so algumas das razes para isso .
O tempo de reteno fortemente dependente do grau de compactao da coluna.
Rantanen e Kortela (2006) realizaram trabalhos de investigao do tempo de reteno
em funo da taxa de produo para um digestor contnuo em fase vapor, e comparou com os
valores de referncia do fabricante.
O tempo de residncia (Figura 23) foi calculado como uma funo da frao de
volume do cavaco conforme a Eq. 4 indicada no item 2.4.8 (Fluxo de Licor). Os resultados
foram comparados com os de um digestor industrial vaso duplo com ritmos normais de
operao. A converso do volume de cavaco em volume de polpa foi calculada considerando
um rendimento de 48% para softwood, e de 53 % para hardwood, com densidades
aproximadas de cavaco de 490 e 570 kg/m3 para softwood e hardwood, respectivamente.
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Figura 23: Modelo do tempo de residncia associado s taxas de produo em digestor
industrial (RANTANEN & KORTELA, 2006).
As curvas D1, D2, D3, D4, D5 e D6 indicadas na Figura 23 referem-se s posies do
digestor, conforme a Figura 24:
Figura 24: Digestor industrial aplicados ao Modelo de RANTANEN & KORTELA (2006).
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Observa-se que o tempo de residncia no tem linearidade com as taxas de produo.
Variaes na produo da ordem de 40 % (1000 para 1400 tSA/d), no tem a mesma variao
nos diferentes pontos de medida.
2.3.5 - Compactao da Coluna de Cavacos
2.3.5.1 - Coluna de Cavacos
A coluna de cavacos formada dentro do vaso do digestor, e constituda pela
suspenso de licor e bilhes de cavacos.
Estes cavacos contm material solvel, material insolvel e lquido. Dentro do vaso do
digestor, os cavacos perdem materiais solveis, os quais so repostos por lquido. Se as foras
externas aos cavacos so pequenas, eles mantm as caractersticas de volume. Entretanto, se
estas foras externas forem suficientemente fortes, os cavacos alteram suas formas e volumes.
Se o volume alterado, apenas a frao de volume do lquido dentro do cavaco modificada
(e no a parte insolvel e a parte slida). A frao de volume do lquido e cavacos, tambm
altera dentro do digestor. Uma parte dos cavacos dentro do digestor pode adquirir um volume
menor do que eles estavam quando alimentados. Os cavacos se apresentam em diferentes
formas (diferentes tamanhos, espessuras, densidades etc.).
Alm disso, o perfil do cavaco significativamente alterado conforme sua posio no
digestor (parte superior ou inferior), conforme se processa as reaes de cozimento.
medida que se tenha uma maior quantidade de cavacos pequenos, a coluna ocupa
menos espao, aumentando o grau de compactao.
Aumentando o grau de compactao, modifica-se o fluxo de licor dentro do digestor.
A coluna de cavacos assumida como elstica e compressvel, e a elasticidade da
coluna pode ser reversvel ou irreversvel (HARKONEN, 1987).
A flexibilidade da coluna de cavacos, afeta consideravelmente os espaos vazios
existentes. Diferentes foras afetam a presso total da coluna e sua compactao, conforme
Figura 25:
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Figura 25: Foras em ao no fluxo de movimento da coluna de cavaco (MIYANISHI, 2001).
Como a fora gravitacional direciona a coluna para baixo, se ela est em equilbrio de
fluxo contnuo, o grau de compactao aumenta na parte inferior do digestor.
Ao ocorrer o movimento para baixo da coluna, atua-se uma fora de atrito entre a
parede do digestor e o fluxo descendente de cavaco.
Da mesma forma, h fora de atrito entre o fluxo do licor e a coluna de cavacos em
direo contrria. O valor do atrito dependente dos sentidos e dos valores relativos dos
fluxos de cavaco e do licor dentro do digestor.
Outro fator relevante a constituio qumica dos cavacos.
Na parte inicial, os cavacos no reagiram, tendo em sua constituio a lignina ainda
no dissolvida.
J na fase final aps a zona de cozimento, as reaes de deslignificao j ocorreram,
tornando o cavaco mais macio e, portanto mais compactado.
Este um item relevante no controle da compactao e dos distrbios por ela
provocados.
Uma adequada compactao permite um adequado fluxo de cavaco no interior do
digestor e, por consequncia, um adequado tempo de reteno e seus reflexos de reao.
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2.3.5.2 - Compactao de Cavacos
O termo compactao de cavaco usado para expressar a intensidade que o cavaco
foi comprimido dentro do digestor, em relao ao seu volume na alimentao.
Pode ser definido como a relao entre o peso seco de madeira por m3 no digestor e na
alimentao.
Seu perfil pode ser visto na Figura 26 proposto por Michelsen (1995). Observa-se que
a compactao diminui medida que se aproxima do topo, e tambm ela ser maior para um
baixo ritmo de produo quando comparado a um alto ritmo de produo, como era de se
esperar:
Figura 26: Perfil de compactao de cavaco ao longo do digestor (MICHELSEN, 1995).
baixo ritmo de produo
alto ritmo de produo.
J na Figura 27, observa-se o mesmo perfil de tendncia em relao distncia da base
e topo, em relao presso do cavaco:
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Figura 27: Perfil da Presso do cavaco e seus impactos na compactao (AVEHLAMPI e
UUSITALO).
Quanto maior a compactao, maior ser a resistncia ao fluxo nos espaos livres entre
os cavacos. E da suas consequncias negativas em relao ao necessrio fluxo de licor para
as reaes de deslignificao.
Um dos maiores problemas em digestor contnuo a compactao anormal dos
cavacos e, consequentemente, seus distrbios do movimento hidrulico da coluna de cavacos.
Tais problemas so particularmente mais frequente em cozimentos de madeiras hardwood
(PUOLAKKA, 2005).
Os problemas de compactao de cavacos podem ocorrer em excessiva compactao
(over-compac), ou baixa compactao (under-compact).
Ambos os casos causam problemas no desempenho operacional, na variao do tempo
de reteno, na variao do grau de cozimento e consequentemente na forte influncia da
uniformidade das propriedades da polpa.
Esta variao do grau de compactao, afeta o tempo de reteno, o fluxo de cavaco e
o fluxo do licor dentro do digestor.
medida que as reaes de cozimento vo se processando ao longo do digestor, estas
caractersticas vo se alterando, aumentando a maciez dos cavacos. As reaes de
dissoluo da lignina alteram as caractersticas de compactao da coluna de cavacos,
alterando os fluxos de licor entre e dentro dos cavacos. Assim, o grau de compactao
aumenta, conforme diminui o teor de lignina dos cavacos.
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2.4 - Fatores que afetam a Compactao de Cavacos
2.4.1 - Tamanho dos Cavacos:
Alm da importncia econmica, na minimizao dos rejeitos (finos e overs) do
peneiramento de cavacos, o tamanho dos cavacos tem uma significativa importncia para o
equilbrio dentro do digestor.
Devido heterogeneidade da madeira, em suas caractersticas qumicas e
morfolgicas, as caractersticas dos cavacos tambm so naturalmente no uniformes.
Por exemplo, em uma mesma rvore, ocorrem diferentes densidades em seu perfil
longitudinal. Em uma mesma rvore, as fibras possuem diferentes idades (a rvore cresce na
gema apical), e, portanto caractersticas muito variveis em um mesmo indivduo.
Assim, o difcil objetivo de se atingir a uniformidade dos cavacos tem uma
significativa importncia para garantir a tambm difcil uniformidade nas variveis do
cozimento.
A variao do tamanho de cavaco pode interferir no desempenho do digestor atravs
dos finos, over e lascas.
Lascas podem interferir nos equipamentos de alimentao de cavaco (filtros da
circulao de funil), bem como na reduo do fluxo das peneiras de extrao e circulao do
digestor.
Alm disso, uma alta percentagem de material fino pode causar problemas na
extrao/circulao de licor, e com isso prejudicar o fluxo natural de licor e cavacos da
coluna.
J os cavacos sobre dimensionados, podem causar dificuldades de deslignificao,
podendo provocar rejeitos por cavacos mal cozidos.
Em seus trabalhos de otimizao de digestor contnuo, Janson et al. (2008),
modelaram equaes para avaliao do impacto do tamanho de cavaco no grau de
compactao.
Os cavacos normalmente retm suas dimenses fsicas originais atravs do processo
de cozimento, e no se transformam em fibras at a descarga final.
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Eles normalmente contm duas fases: Uma fase slida constituda das fibras, e uma
fase lquida entre elas (licor). A frao slida do cavaco de aproximadamente 0,1 a 0,35
(MARCOCCIA, 2000). Esta variao depende de fatores como densidade da madeira, grau de
vaporizao e extenso das reaes de cozimento (a frao slida vai diminuindo ao longo das
reaes). No quesito da compactao de cavaco, a espessura o item mais relevante.
2.4.2 - Densidade dos Cavacos
A varivel densidade est normalmente associada facilidade de impregnao, e pela
facilidade de difuso do licor pelos espaos vazios. Maior a densidade, menor os espaos
vazios e, portanto, mais difcil a difuso. J dentro do digestor, a densidade do cavaco vai
diminuindo em toda a extenso do digestor medida que as reaes de cozimento vo
ocorrendo.
Da mesma forma, a densidade do licor tambm varivel ao longo do digestor, pelos
fluxos de extrao e lavagem. Trabalhos de Michelsen (1995), reportam a sua variao
conforme Figura 28:
Figura 28: Variao da Densidade do Cavaco e Licor ao longo do Digestor (MICHELSEN,
1995).
2.4.3 - Espessura dos Cavacos
A espessura a menor dentre as trs dimenses do cavaco.
Ela a dimenso mais crtica em polpao kraft, e ainda mais crtica quando o cozimento
terminado em maior nmero Kappa. O comprimento por sua vez tem uma influncia menos
pronunciada e a influncia da largura do cavaco desprezvel (AKHT