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ESTUDO DE MERCADO SOBRE A MANDIOCA (FARINHA E FÉCULA) ESTUDOS DE MERCADO – ESPM/SEBRAE RELATÓRIO COMPLETO Janeiro de 2008

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ESTUDO DE MERCADO SOBRE A MANDIOCA(FARINHA E FÉCULA)

ESTUDOS DE MERCADO – ESPM/SEBRAE

RELATóRIO COMpLETO

Janeiro de 2008

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2008, Sebrae - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e pequenas Empresas

Adelmir SantanaPresidente do Conselho Deliberativo Nacional

paulo Tarciso Okamotto Diretor - Presidente

Luiz Carlos BarbozaDiretor Técnico

Carlos Alberto dos SantosDiretor de Administração e Finanças

Luis Celso de piratininga FigueiredoPresidente Escola Superior de Propaganda e Marketing

Francisco GraciosoConselheiro Associado ESPM

Raissa RossiterGerente Unidade de Acesso a Mercados

Juarez de paulaGerente Unidade de Atendimento Coletivo – Agronegócios

e Territórios Específicos

patrícia MayanaCoordenadora Técnica

Laura GallucciCoordenadora Geral de Estudos ESPM

Daniel Carsadale QueirogaCoordenador Carteira de Fruticultura

Guilherme UmedaPesquisador ESPM

Laura GallucciRevisora Técnica ESPM

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO1.1. Metodologia utilizada

2. A MANDIOCA – CARACTERÍSTICAS NATURAIS E CULTURAIS

2.1 Variedades de mandioca2.1.1 Melhoramento genético2.2 Contextualização histórica da cultura da mandioca

3. CONTEXTO MUNDIAL DO MERCADO DA MANDIOCA

4. EVOLUÇÃO HISTóRICA DE MERCADO E pRODUÇÃO NO BRASIL

4.1 Importações e exportações brasileiras da mandioca

5. CADEIA pRODUTIVA DA MANDIOCA DESTINADA À INDÚSTRIA

5.1 Caracterização dos produtores5.1.1 Cooperativas e associações5.1.2 Instituições de apoio5.1.3 Arranjos Produtivos Locais (APL’s)5.2 Farinha e fécula de mandioca: usos e características5.2.1 Farinha de mandioca5.2.2 Fécula de mandioca5.2.3 Modificação do amido5.3. Dados de produção e consumo de farinha e fécula de mandioca5.3.1. Produção de farinha de mandioca5.3.2 Distribuição do consumo de farinha no Brasil5.3.3 Produção de fécula de mandioca5.3.4 Indústrias e estados compradores de fécula de mandioca5.4 Preços da farinha e da fécula de mandioca5.5. Concorrência5.5.1 Competição entre produtores de farinha e fécula5.5.2 Competição com produtos substitutos5.6 Aspectos legais5.7 Distribuição – canais de comercialização5.8 Comunicação5.8.1 Eventos

6. DIAGNóSTICO DO MERCADO DE FÉCULA E FARINHA DE MANDIOCA

6.1 Tendências para a cadeia de derivados da mandioca6.1.1 Tendências para a farinha de mandioca6.1.2 Tendências para a fécula de mandioca6.2 Análise estrutural da indústria6.2.1 Ameaça de novos entrantes6.2.2 Ameaça de produtos substitutos6.2.3 Poder de barganha dos fornecedores6.2.4 Poder de barganha dos compradores6.2.5 Rivalidade entre competidores existentes6.3 Análise PFOA6.3.1 Potencialidades

SUMÁRIO

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6.3.2 Fragilidades6.3.3 Oportunidades6.3.4 Ameaças

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

8. REFERÊNCIAS

9. ESpECIALISTAS pARA CONTATO

10. GLOSSÁRIO

11. ANEXOS

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1. INTRODUÇÃO

É aceito como fato que o sucesso e o futuro de uma empresa dependem do nível de aceitação dos seus produtos e serviços pelos consumidores, da sua capacidade de tornar acessíveis esses produtos nos pontos de venda adequados ao mercado potencial - na quantidade e na qualidade desejadas e com preço competitivo - e do grau de diferenciação entre sua oferta de produtos e serviços frente à concorrência direta e indireta.

A análise mercadológica insere-se nesse contexto como um instrumento fundamental para os empresários das micro e pequenas empresas. A dinâmica dos mercados modifica-se continuamente e as exigências dos consumidores alteram-se e se ampliam na mesma velocidade. A falta de um conhecimento abrangente sobre o ambiente de negócios, a cadeia produtiva do setor de atuação, os mercados atuais e potenciais e os avanços tecnológicos que impactam da produção à comercialização de produtos e serviços pode levar o empresário a perder oportunidades significativas de negócios, além de colocar em risco não só seu crescimento e sua lucratividade, como a própria sobrevivência da empresa.

A maior parte dos empresários que gerem micro e pequenas empresas não tem uma compreensão ampla sobre características, desejos, necessidades e expectativas de seus consumidores e de seus clientes atuais (por exemplo, os inúmeros intermediários que participam da cadeia produtiva entre o produtor e os consumidores finais). Conseqüentemente, esses empresários tendem a desenvolver produtos, colocar preços e selecionar canais de distribuição a partir de critérios que atendem à sua própria percepção (às vezes, parcial e viesada) sobre como deve ser seu modelo de negócios.

Uma identificação mais precisa do perfil dos clientes e consumidores atuais e potenciais, bem como dos meios e das ferramentas que podem ser utilizadas para atingir (fisicamente) e atender esses mercados ajudam o empresário a concentrar seus investimentos, suas ações e seus esforços de marketing e vendas nos produtos/serviços, mercados, canais e instrumentais que lhe garantam maior probabilidade de aceitação, compra e, principalmente, fidelização de consumidores. Esta é, indiscutivelmente, uma das principais razões do sucesso das empresas de qualquer porte.

As tendências e as ações apresentadas neste conjunto de estudos fornecem elementos norteadores ao empresário com dois objetivos principais:

• no curto prazo, apontar caminhos “quase prontos” para detectar, adaptar-se e atender às demandas de novos mercados, novos canais de distribuição e novos produtos, sempre visando agregar valor à sua oferta atual – valor este definido a partir dos critérios do mercado, e não do empresário.

• no médio e longo prazo, pela sua familiarização com o uso dos instrumentos apresentados e com a avaliação dos resultados específicos dos vários tipos possíveis de ação, o empresário estará habilitado a aumentar a sua própria capacidade de detecção e análise de novos mercados, novos canais de

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distribuição e novos produtos com maior valor agregado, acompanhando a evolução do ambiente de negócios (inclusive em termos tecnológicos), de forma a melhorar, cada vez mais, a qualidade de suas decisões com foco estratégico de médio e longo prazo.

O empresário, tendo as informações destes estudos como suporte, será capaz de descortinar cenários futuros e de antecipar tendências que o auxiliarão a definir suas estratégias de atuação, tanto individuais quanto coletivas.

Além de informações detalhadas sobre consumidores, é fundamental que o empresário tenha levante, sistematicamente, informações sobre os concorrentes e seus produtos, o ambiente econômico regional e nacional e as políticas governamentais que possam afetar o seu negócio. Assim, antes de estabelecer estratégias de marketing ou vendas, é preciso que o empresário busque acesso a informações confiáveis sobre o mercado em que atua, seja em nível nacional, regional e local.

A informação consistente, objetiva e facilmente encontrada é uma necessidade estratégica dos empresários. A competitividade do mercado exige hoje o acesso imediato a informações relevantes que auxiliem a tomada de decisões empresariais. Com esse conjunto de estudos, o SEBRAE disponibiliza um relatório abrangente sobre diferentes setores, com forte foco na análise mercadológica e que visa suprir as carências do empreendedor em relação ao conhecimento atualizado do mercado em que atua, seus aspectos críticos, seus nichos não explorados, tendências e potencialidades.

Esta Análise Setorial de Mercado é mais uma das ferramentas que o SEBRAE oferece aos empresários de micro e pequenas empresas para que possam se desenvolver, crescer e lucrar com maior segurança e tranqüilidade, apoiados em informações que possibilitam a melhoria na qualidade da tomada de decisões gerenciais.

As informações contidas no conjunto de relatórios foram obtidas, primordialmente, por meio de dados secundários, em âmbito regional e nacional, com foco no mercado interno. Cada relatório disponibiliza para as MPEs atuantes no segmento estudado:

• informações de qualidade sobre oferta, demanda, estrutura de mercados, cenários e tendências;

• identificação de pontos fortes e fracos e das principais oportunidades e ameaças que se delineiam para cada setor;

• proposições de ações estratégicas que visam ampliar a visão estratégica do empresário sobre seu negócio e, sobretudo, apontar caminhos para a agregação de valor aos produtos e serviços atualmente comercializados por essas empresas.

1.1 Metodologia utilizada

De forma sintética, o estudo foi desenvolvido de acordo com o seguinte processo metodológico:

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• predominância de pesquisas documentais (ou seja, via dados secundários), coletados junto a diversas fontes públicas, privadas, de caráter nacional, regional ou local, sempre obtidas de maneira ética e legal;

• para complemento, correção e confirmação dos dados obtidos por via secundária, e na medida da disponibilidade para colaborar por parte de acadêmicos, experts e profissionais dos respectivos setores, foram realizadas pesquisas qualitativas (por telefone e/ou e-mail).

Para tornar transparente a origem das informações contidas nos relatórios, todas as fontes primárias e secundárias consultadas são adequadamente identificadas no capítulo Referências.

2. A MANDIOCA – CARACTERÍSTICAS NATURAIS E CULTURAIS

A prodigiosa variedade da fauna e flora no Brasil participa intensamente da moldagem das características culturais de seus habitantes. De nosso imaginário, as plantas e animais saltam para o cotidiano, fazendo-nos dar conta da grande contribuição dos índios no modo de vida e nas formas de pensar do brasileiro até os dias de hoje.

Quando o brasileiro utiliza a mandioca em suas inúmeras aplicações, a maioria das quais, alimentares, está atualizando as heranças indígenas que o constituíram. A raiz, nativa do território sul-americano, foi largamente explorada pelas sociedades pré-colombianas que, por ocasião da chegada do europeu ao continente, já a cultivavam e a processavam. Seu nome de origem tupi, mandioca (mani-óca, a casa de Mani), estabelece a força de sua disseminação no país com fortes condicionantes históricos.

Uma das lendas sobre a origem da mandioca conta que a filha de um chefe selvagem pariu uma criança a partir de uma gravidez misteriosa, que muito desgostara seu pai. No entanto, o carisma da menina, surpreendentemente branca, fez os aborrecimentos desaparecerem. Seu nome era Mani. Foi motivo de admiração e curiosidade naquela e em outras tribos, tanto sua aparência como pela precocidade com que andou e falou. Subitamente, Mani morreu com um ano de idade, deixando a todos muito tristes.

A criança foi enterrada dentro da própria casa, em sepultura diariamente regada e cuidada, conforme os hábitos de seu povo. Em pouco tempo, no local de sua sepultura brotou uma vistosa planta, cujos frutos, quando ingeridos pelos pássaros, causavam-lhes uma leve embriaguez. Os índios, encantados com aquela novidade, escavaram a terra para encontrar o que julgaram ser parte do corpo de Mani, devido à sua coloração muito branca. Desta maneira, os índios aprenderam a usar a raiz e atribuíram-lhe o nome mani-óca, a casa de Mani (CÂMARA CASCUDO, s.d., p.545-46).

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A mandioca é um arbusto pertencente à ordem Malpighiales, família Euphorbiaceae, gênero Manihot e espécie Manihot esculenta Crantz. É a única, dentre as 98 espécies conhecidas da família Euphorbiaceae, cultivada para fins de alimentação. Estudos indicam que a planta ancestral da mandioca é natural de vegetação de galeria associada a rios, na zona de transição entre a floresta Amazônica e o Cerrado, próxima às fronteiras entre Peru e Brasil (CARVALHO, 2005). As mais recentes pesquisas agrícolas e arqueológicas indicam que, provavelmente, a região amazonense foi o berço da mandioca, enquanto versões alternativas dão conta de seu surgimento no Peru (região dos Andes) ou mesmo na África.

Oriunda de região tropical, a mandioca é favoravelmente cultivada em climas tropicais e subtropicais, com uma faixa de temperatura-limite de 20°C a 27°C, em relação à média anual; a temperatura média ideal para a atividade gira em torno de 24°C a 25°C (EMBRAPA, s.d.) A mandioca não tolera alagamentos nem congelamento do solo e se desenvolve de maneira mais produtiva sob exposição direta ao sol. Obedecidas as condições mínimas para seu desenvolvimento, a adaptação da planta aos aspectos ambientais é muito eficiente e, por isso, é considerada uma cultura rústica ou “de quintal”.

A resistência da mandioca às condições climáticas é determinante na sua utilização como reserva alimentar nas regiões de grande estiagem, como é o caso do Nordeste brasileiro. Por constituir grande fonte de carboidrato com baixos custos de produção, tem importância social significativa em países tropicais de baixa renda (O’HAIR, 1998). Estimativas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) dão conta de que o número de pessoas que obtêm suas reservas habituais de carboidratos por meio da mandioca está entre 600 e 700 milhões ao redor do mundo (FOLEGATTI; MATSUURA, s.d.).

Um estudo realizado por FUKUDA (s.d.) evidencia que, além de conter carboidratos, a mandioca é uma excelente fonte de betacaroteno (precursor da Vitamina A) nas raízes de coloração amarela e de licopeno nas raízes de coloração rosada. A partir desta constatação, é possível adaptar a escolha das variedades a serem cultivadas em cada região, em função de deficiências alimentares específicas.

Na Tabela 1 estão relacionadas as propriedades nutricionais médias da mandioca. É importante notar que as folhas da planta não são, até este momento, utilizadas rotineiramente para consumo humano, sendo agregadas à alimentação animal, como uma forma barata para adicionar proteína às rações.

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Tabela 1 – Composição nutricional da raiz e folha de mandioca

Componentes Raiz Folha

Umidade (g/100g) 60-65 70-75

Carboidratos (g/100g) 30-35 14-18

Proteínas (g/100g) 0,5-2,5 7,0

Lipídios (g/100g) 0,2-0,4 1,0

Vitaminas:

A (µg/100g) 50 960-3.000

B1 (µg/100g) - 120-250

B2 (µg/100g) - 270-600

C (mg/100g) 25 29-31

Niacina (mg/100g) - 1,7-2,4

Minerais:

Cálcio (mg/100g) 50 300

Ferro (mg/100g) 0,9 7,6

Fósforo (mg/100g) 40 119

Fonte: FOLEGATTI, M.; MATSUURA, F. Mandioca e Derivados. Cruz das Almas: Embrapa Mandioca e Fruticul-tura, [s.d.]

Em geral a raiz da mandioca (a parte mais utilizada) é branca, mas pode adquirir coloração avermelhada ou amarelada, dependendo da variedade. As mudanças também podem ser notadas no formato das folhas e do caule.

2.1 Variedades de mandioca

Há uma grande variedade de nomes atribuídos à mandioca, alguns de cunho regionalista, outros denominando espécies diferentes da planta. Dependendo da região, pode ser popularmente conhecida como:

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[...] aipim, aimpim, candinga, castelinha, macamba, macaxeira, macaxera, mandioca-brava, mandioca-doce, mandioca-mansa, maniva, maniveira, moogo, mucamba, pão-da-américa, pão-de-pobre, pau-de-farinha, pau-farinha, tapioca, uaipi, xagala. (RETEC-BA, 2006)

Segundo Perez (2007), a sabedoria popular tem transmitido, geração após geração, a diferença entre dois grupos genéricos de variedades: as “mandiocas bravas”, cuja concentração de cianogênicos a tornam altamente tóxica para o consumo humano ou animal; e as “mandiocas doces” ou “mansas”, cujo consumo com pouco processamento é mais seguro. Hoje, as mandiocas mansas são conhecidas como as variedades de mesa. De fato, esta diferenciação é corroborada pela pesquisa dos cultivares conhecidos da planta, que diferem em termos de forma, tamanho, coloração e composição (amido, açúcar e vitaminas, por exemplo).

As mandiocas bravas possuem sabor amargo e são destinadas, quando para fins alimentares, sobretudo para a produção de farinha ou fécula. Já as mansas, cujo teor de toxinas é menor, são preparadas domesticamente para consumo in natura. O preparo por fritura ou cozimento são os mais comuns.

É importante destacar, porém, que “doce” ou “amarga” são caracterizações que não possuem grande precisão, uma vez que estas propriedades de sabor não estão necessariamente ligadas à produção dos glucosídeos cianogênicos, que são a base da toxidade da mandioca. Portanto, o cuidadoso estudo das variedades é fundamental para minimizar os riscos de intoxicação. Em pessoas com má nutrição, por exemplo, mandiocas bravas processadas de maneira inadequada podem ocasionar sérios problemas de saúde (O’HAIR, 1998).

O fato da cultura da mandioca ser considerada rústica e “de quintal” pode associar a ela um sentido pejorativo, pois leva a crer que seu cultivo é pouco lucrativo, exclusivamente voltado à sobrevivência e de tecnologia rudimentar. No entanto, como alerta Perez (2007), a disseminação doméstica na cultura foi fundamental para que se chegasse à atual diversidade genética. Cerca de 7 mil variedades estão disponíveis para melhoramento genético, concentradas nos principais bancos de germoplasma do país: o Centro Nacional de Pesquisa de Mandioca e Fruticultura (CNPF, da Embrapa), o Cenargen (da divisão Recursos Genéticos e Biotecnologia da Embrapa), a Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), o Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ – USP), em Piracicaba. A preservação desta diversidade é importante, pois permite o trabalho de melhoramento genético de mudas e garante o suprimento de cultivares adequados para cada situação de cultivo.

Outra forma de se classificar os cultivares de mandioca é de acordo com a duração do ciclo entre o plantio e a colheita. As três categorias usualmente conhecidas são as precoces (de 10 a 14 meses), semiprecoces (de 14 a 16 meses) e as tardias (mais de 18 meses).

Os nomes comuns dos cultivares têm duas origens: denominações regionais, tradicionalmente estabelecidas; e códigos institucionais, a partir da criação de

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variedades em laboratórios de pesquisa. Na Tabela 2, que lista cultivares adequados para as regiões Nordeste e Sul, é possível observar ambos os casos.

Tabela 2 – Variedades recomendadas para cultivo no Nordeste e Sul do Brasil

Nordeste Sul

Formosa Mani Branca

Arari BRS Guairá

BRS MulatinhaBRS Dourada

BRS Gema de OvoCrioula

Amansa BurroRosa

FibraOlho Junto

Fécula BrancaMico

IAC 14IAC 13

Fonte: EMBRAPA MANDIOCA E FRUTICULTURA TROPICAL. Perguntas e respostas: mandioca. Disponível em: <http://www.cnpmf.embrapa.br>. Acesso em: 23 abr. 2007.

2.1.1 Melhoramento genético

Há um grande número de organizações governamentais e privadas - que incluem acadêmicos, pesquisadores e agricultores - desenvolvendo trabalhos de melhoramento genético. Essas alterações têm objetivos comerciais, sociais e científicos, como a identificação e geração de novas variedades de mandioca. As propriedades buscadas com essas ações são maior valor nutricional, maior concentração de amido e menor teor de ácido cianídrico, dentre outros atributos que tornem as novas variedades mais completas, competitivas e atraentes para o mercado.

Um exemplo de melhoramento do valor nutricional é o trabalho com a variedade Rosada, desenvolvido por meio de parceria entre a Embrapa e o Centro Internacional de Agricultura Tropical (CIAT) de Cali, Colômbia - o detentor do maior banco de germoplasma de mandioca no mundo. Por meio de pesquisas genéticas, já foi possível aumentar o teor de licopeno, um antioxidante recomendado na prevenção do câncer, principalmente o de próstata (FUKUDA, 2007).

O aumento do teor de amido é importante para a indústria de farinha e fécula, pois garante maior produtividade na utilização desta matéria prima. O cultivar BRS Prata tem grande presença no semi-árido da Bahia e em Pernambuco, onde apresenta desempenhos diferenciados: seu rendimento médio é de 31,7 toneladas por hectare, em contraste aos 10,2 t/ha da variedade local (FUKUDA, 2007).

Outros estudos1 têm trabalhado com a hibridização de variedades mansas e bravas, observando o teor de HCN (ácido cianídrico) na polpa da raiz. As conclusões

1 Como em VALLE, Teresa Losada et al. Conteúdo cianogênico em progênies de mandioca originadas do cruzamento de variedades mansas e bravas. Bragantia, Campinas, v. 63, n. 2, 2004.

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apontam que as médias do índice HCN/kg das descendentes é muito próxima à média das parentais, porém existem variantes com maior e menor potencial cianogênico. Isto indica a possibilidade de se utilizar variedades bravas para o melhoramento de variedades mansas, aumentando significativamente as possibilidades de combinação entre os genótipos.

A Tabela 3 relaciona alguns cultivares selecionados e trabalhados no Projeto Mandioca Brasileira iniciado em 1996, com vistas ao seu melhoramento genético.

Tabela 3 – Cultivares integrantes de projeto de melhoramento no Projeto Mandioca Brasileira, divididos por região

Regiões Estados Cultivares

Nordeste

Maranhão Goela de Jacu

Piauí Vermelhinho, Amansa Burro, Babuti, Maria dos Anjos

Ceará Jaburú, EAB-451

Paraíba Chapéu de Couro, Passarinha

Pernambuco Passarinha, Aipim Bravo Branco, Amazonas, Escondida, Guagiru, Riqueza

Alagoas SIPEAL-01, Roxinha, Var. 77, Jaburu

Sergipe Aipim Bravo Branco, Cigana Preta, Itapicurú da Barra, Unhinha, Caravela, Mangue

Bahia Maria Pau, Paulo Rosa, Var. 77

Norte

Pará Tapioqueira, Chapéu de Sol, Inajá, Sacai

Amazonas Paulo Rosa, Cachimbo

Amapá Acreana

Centro-Oeste

Brasília IAC-24-1, IAC-14-18,IAC352-6, 1AC-352-7, IAC12-829, IAC-7-127

Minas Gerais Sonora, IAC-14-18, IAC-12-829, Engana Ladrão

Sudeste

São Paulo IAC-12-829, IAC-567-70

Rio de Janeiro Licona, São Paulo, Mirim, Cano de Espingarda, Julião, Unha, SFG-696

Espírito Santo Unha, Veada, Amazoninha Preta, Sutinga, Pão do Chile, Julião Roxo, Sinhá Está na Mesa, Cacai, Ovo

SulSanta Catarina Mico, Aipim Gigante, Mandim Branca, EMPASC-25, P. Machado, Taguari SRT

1090

Rio Grande do Sul Mico, Taguari

Fonte: FAO. A review of cassava in Latin America and the Caribbean with countries: case studies on Brazil and Colombia. Disponível em: <http://www.fao.org/docrep/007/y5271e/y5271e07.htm>. Acesso em: 15 maio 2007.

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2.2 Contextualização histórica da cultura da mandioca

Fácil produção, grande disseminação territorial e alta adaptabilidade ao clima do continente sul-americano propiciaram a extensa incorporação da mandioca aos hábitos alimentares das populações pré-colombianas. Hoje, o Brasil figura como o segundo maior produtor mundial da raiz, atrás da Nigéria.

Estima-se que sua plantação intencional pelo homem começou há cerca de 9 mil anos, o que reforça a tradição do seu consumo. Relatos de 1573 do cronista Magalhães Gandavo já faziam menção à existência da mandioca no Brasil e às suas diversas variedades. Os métodos razoavelmente uniformes utilizados pelos nativos das diferentes regiões incluíam um período de descanso do solo, uma vez que a mandioca absorve mais nutrientes que a maior parte das culturas tropicais. Uma vez conhecida pelos portugueses, foi levada à África, servindo de alimentação aos colonizadores e aos escravos transportados através do Oceano Atlântico, em direção às Américas (CAMARGO, s.d.). A partir de então, passou a assumir grande importância no combate à fome no continente:

Dentre todos os gêneros do complexo americano, foi a mandioca o produto agrícola que mais influenciou e transformou a fisionomia da agricultura da África central. Das costas angolanas vai ela penetrar cada vez mais profundamente o coração da África central, desempenhando assim um importante papel na história agrária destas sociedades. (MAESTRI FILHO apud CAMARGO, 2007)

Alguns produtos derivados da mandioca elaborados pelos índios e logo conhecidos pelos portugueses foram: mbeu (produto semelhante ao atual beiju); mambeca (ancestral do pirão); poqueca; curuba; cica; e puba (MAESTRI FILHO apud CAMARGO, 2007). Os índios processavam a raiz, ralando-a, comprimindo-a e cozinhando-a (processos que retiram naturalmente sua potencial toxidade); seu uso principal era na forma de farinha. Com o aprendizado das técnicas indígenas, foi também usada pelos bandeirantes como fonte de alimento duradoura e fácil de transportar durante suas expedições ao interior do continente.

Hoje, no Brasil, ainda existem muitas comunidades que dependem fortemente da mandioca e da sua farinha para sobrevivência. Seu cultivo é explorado sob o ponto de vista comercial e como cultura de subsistência. A conservação de variedades diferentes é valorizada pelos grupos de agricultores, dadas as diferenças nutricionais de cada cultivar:

[...] estes agricultores têm mantido esta diversidade sob uma forma de conservação que tecnicamente é designado como conservação “on farm”, ou seja, em seus próprios campos de cultivo, sob sua tutela. E, em todos os casos de agricultores tradicionais no Brasil, pode-se chegar a mesma conclusão, ou seja, a dependência é mútua, as populações humanas conservam as variedades, e estas variedades é que vão proporcionar alimento e autonomia em seus sistemas de cultivo. (PEREZ, 2007)

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3. CONTEXTO MUNDIAL DO MERCADO DA MANDIOCA

A mandioca se disseminou rapidamente após sua inserção no continente africano, que hoje detém grande parte da produção mundial. Dos vinte maiores produtores mundiais, onze se encontram naquele continente, seguido da Ásia (predominantemente o sudeste), com 06 países. A América do Sul tem três representantes: Brasil, Paraguai e Colômbia, nesta ordem. Da produção mundial, a África é responsável por 54,5%; a Ásia, por 27,8%; e a América Latina, 17,7%. O Gráfico 1 mostra a produção dos dez maiores no mundo.

Gráfico 1 – Dez maiores produtores mundiais de mandioca (em ton – 2005)

Fonte: FAOSTAT. Faostat database. Disponível em: <www.faostat.org>. Acesso em: 15 mar. 2007.

O maior produtor mundial é a Nigéria. São produzidas aproximadamente 41,5 milhões de toneladas de mandioca, a maior parte consumida no próprio país. De acordo com GROXKO (2006), praticamente não há, nos países africanos, indústrias dedicadas ao processamento da mandioca, sendo o consumo quase que exclusivamente in natura; ela é comercializada em pequenas quantidades nas feiras, mercearias e propriedades produtoras. Esta produção africana, que pouco se dedica a agregar valor ao produto, apresentou um crescimento significativo nas últimas décadas.

Em segundo lugar aparece o Brasil, que segue a tendência de diversos países da América Latina e do sudeste asiático ao focar sua atuação na crescente industrialização da mandioca. Atualmente, a produção brasileira gira em torno de 25,5 milhões de toneladas da raiz, o equivalente a 60% da quantidade da Nigéria.

A produtividade (medida em toneladas/hectare) varia bastante entre os países. Níger, situado no norte da África, possui o maior índice: 49,1 t/ha. O Brasil está situado acima da média neste quesito: sua produtividade é de 13,6 t/ha versus a média de 10,9 t/ha de todos os países produtores (dados de 2005).

Os maiores produtores, no entanto, não apresentam diferenças significativas com relação à produtividade, o que mantém a ordem dos países na lista de área dedicada à produção da mandioca bastante semelhante à lista por quantidade produzida.

-

5.000.000

10.000.000

15.000.000

20.000.000

25.000.000

30.000.000

35.000.000

40.000.000

45.000.000

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Novamente, Nigéria e Brasil lideram o ranking, com 3.782 mil e 1.901 mil hectares, respectivamente.

Dados da FAO (Food and Agriculture Organization – órgão da ONU dedicado a estudos e ações relativas à alimentação mundial) revelam que hoje a China é o maior importador do mundo de mandioca e seus derivados. Em 2005 foram aproximadamente 9,5 milhões de toneladas, quase 3,5 vezes mais que a soma dos outros nove maiores importadores (Tabela 4). No grupo abaixo, também aparecem países desenvolvidos como Espanha, Japão, Estados Unidos e Holanda.

Tabela 4 – Maiores importadores de mandioca e derivados (em toneladas – 2005)

país Quantidade importada

China 9.584.571

Coréia do Sul 495.292

Espanha 479.612

Malásia 405.464

Indonésia 380.561

Japão 352.567

Estados Unidos 278.636

Holanda 145.646

Filipinas 140.791

Portugal 105.324

Fonte: FAOSTAT.

Apenas 6% da produção mundial de mandioca é exportada. Algumas oportunidades se desenvolveram gradativamente no mercado externo a partir de decisões favoráveis na Organização Mundial do Comércio (OMC) em 2004. Tanto a União Européia (UE - que importa a maioria da mandioca dos países do sudeste asiático) quanto os Estados Unidos mantêm políticas protecionistas de subsídios à exportação e barreiras à importação de seus produtos agrícolas, visando aumentar sua competitividade (CARDOSO; ALVES; FELIPE, s. d.).

A mandioca sofre particularmente com essas barreiras, uma vez que é considerada como um substituto direto de culturas locais importantes como milho, batata e trigo. Apesar dos avanços nas negociações internacionais, as dificuldades para a exportação de mandioca continuam grandes.

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O maior exportador de mandioca e derivados é a Tailândia, quarta maior produtora (vide Tabela 5). Em 2005 foram aproximadamente 10 milhões de toneladas, abastecendo quase 80% do mercado europeu (que, conforme mencionado mais acima, privilegia o sudeste asiático como seu fornecedor). O Brasil é o 6º colocado no ranking dos países exportadores, mas o volume efetivamente exportado representa apenas 0,5% do total mundial, o que, em parte, se deve ao volume extremamente alto exportado do primeiro país da lista, a Tailândia.

Estes dados demonstram a característica “de vizinhança” da produção e do consumo de mandioca: os mercados locais são os mais importantes para os produtores. Essa constatação é confirmada pela lista de maiores consumidores (conforme dados da Tabela 6), uma vez que a maioria dos países exportadores também consta da lista de maiores produtores. Já nos dados de consumo per capita, há clara predominância dos países africanos; assim fica evidente o papel da mandioca como alimento de segurança nacional para estas populações.

Tabela 5 – Maiores exportadores de mandioca e derivados (em toneladas – 2005)

país Quantidade exportada

Tailândia 10.033.218

Vietnã 1.668.077

Indonésia 868.295

Costa Rica 177.528

China 84.780

Brasil 74.573

Holanda 65.497

Paraguai 42.126

Colômbia 32.023

Equador 29.632

Fonte: FAOSTAT.

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Tabela 6 – Maiores consumidores mundiais de mandioca (2005)

país Consumo alimentar (em mil toneladas) país Consumo por dia / per

capita (g)

Nigéria 15.150 Angola 787,4

República Democrática do Congo 13.995 Moçambique 680,5

Indonésia 12.027 República Democrática do Congo 652,7

Tailândia 7.529 República do Congo 636,9

Brasil 7.156 Gana 545,9

Índia 6.447 Libéria 389,9

Tanzânia 5.239 Tanzânia 373,1

Moçambique 5.099 Guinea 351,9

Angola 4.625 República Centro-Africana 347,2

Gana 4.490 Uganda 328,0

Fonte: FAOSTAT.

4. EVOLUÇÃO HISTóRICA DE MERCADO E pRODUÇÃO NO BRASIL

A raiz da mandioca constitui um dos principais fontes de carboidratos de uma parte significativa da população de baixa renda no Brasil. Seu consumo ocorre tanto por meio da compra do produto e de seus derivados quanto pela produção doméstica. Por conta da disseminação da mandioca em plantações de quintal, o volume agregado nacional efetivo é de difícil mensuração. Os dados oficiais levam em conta apenas a quantidade que passa por etapas formalizadas de comercialização. A compra de mandioca e de seus derivados pelas famílias com renda inferior a um salário mínimo é de 10% da despesa anual com alimentação, colocando-a em segundo lugar nos gastos alimentares dessa população, atrás apenas do feijão, que representa 13% (CARDOSO, 2003).

A escolha pelo cultivo da mandioca se dá em função de algumas características, como a alta produtividade em relação a outros alimentos (GAMEIRO, s.d.), a adequação do produto às condições naturais (climáticas e de solo) de quase todo o país e a flexibilidade da época de colheita – é possível atrasar a colheita sem prejuízo de qualidade, a espera de preços mais adequados de mercado. O resultado é a

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consolidação do Brasil como segundo maior centro produtor do mundo, com volumes que representam 12,5% da produção mundial, de acordo com dados da FAO.

Em termos econômicos, estima-se que as atividades ligadas ao cultivo da mandioca e seu processamento em farinha e fécula gerem aproximadamente um milhão de empregos diretos (CARDOSO, 2003, p. 5). A receita bruta anual dessa atividade ficou em R$ 4,1 milhões no ano de 2005, o que representa cerca de 4,3% da produção agrícola brasileira (IBGE, 2005).

Observando os dados de produção de mandioca no país (Tabela 7), nota-se um crescimento médio de 4,2% nos últimos cinco anos. Este movimento representa uma recuperação gradativa das perdas sofridas na segunda metade da década de 90, quando o setor sofreu um grande abalo no volume produzido. As oscilações para baixo, que remontam ao início dos anos 70 (quando os níveis de produção atingiam 30 milhões de toneladas), deveram-se à substituição da farinha de mandioca por massas (como macarrão, cuja base é a farinha de trigo) na alimentação do brasileiro e à substituição dos preparados à base de raizes e folhas de mandioca por rações balanceadas para a alimentação animal (GROXKO, 2006). As oscilações de preço também são vistas com desconfiança pelos produtores, o que contribuiu para a estagnação do setor durante esse período.

Tabela 7 – Evolução da produção brasileira de mandioca

2002 2003 2004 2005 2006 (est.) Média

Crescimento Médio (%)

produção (em 1000 toneladas) 23.065,6 21.961,1 23.926,6 25.725,2 27.552 24.134,6 4,2

Área colhida (em 1000 hectares) 1.675,3 1.633,6 1.754,9 1.886,4 1.935,2 1.758,8 3,1

produtividade (ton/hectare) 13,8 13,4 13,6 13,6 14,2 13,7 1,0

Fonte: IBGE. Levantamento sistemático da produção agrícola. Rio de Janeiro: 2006.

Também se observa uma recuperação na área dedicada ao cultivo, porém em ritmo menor (crescimento médio de 3,1% entre 2002 e 2006) que o da produção. Este número indica um aumento de produtividade das lavouras, cuja média estimada em 2006 foi de 14,2 toneladas por hectare. Logicamente, há diferenças entre a produtividade dos diversos estados e regiões, em função das condições climáticas, dos cultivares plantados e do aproveitamento de fertilizantes das culturas de soja e milho.

O Nordeste se destaca como a principal região brasileira produtora de mandioca, com 35,9% da produção nacional; o Norte é responsável por 25,2% e o Sul por 23,1%. Conseqüentemente, os cinco maiores estados produtores pertencem às três regiões: Pará, Bahia, Paraná, Maranhão e Rio Grande do Sul. Em termos de produtividade, o

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Paraná atinge um índice significativo (21,4 ton/ha), atrás apenas de São Paulo (23,2 ton/ha). Estes dados encontram-se consolidados nas Tabela 8 e Tabela 9.

Tabela 8 – Representatividade das regiões do Brasil na produção de mandioca

Região participação na produção nacional (%)Nordeste 35,9

Norte 25,2

Sul 23,1

Sudeste 9,7

Centro-Oeste 6,0

Fonte: IBGE. Produção agrícola municipal (PAM). Rio de Janeiro: 2005.

Tabela 9 – Produção (ton.) e área colhida da banana nos maiores estados produtores

Anopará Bahia paraná Maranhão R. Grande do Sul

produção Área colhida produção Área

colhida produção Área colhida produção Área

colhida produção Área colhida

1996 3.815 289 2.937 245 2.584 116 615 107 1.024 991997 3.870 285 3.047 244 2.941 138 674 113 1.385 971998 3.531 262 2.884 249 3.198 153 813 133 1.317 941999 4.067 282 3.153 256 3.494 165 829 125 1.306 902000 4.079 293 4.144 319 3.778 183 939 135 1.298 902001 3.995 282 3.568 287 3.615 173 1.034 141 1.262 852002 4.129 272 4.089 325 3.456 144 1.139 150 1.276 852003 4.469 293 3.898 330 2.355 111 1.241 165 1.315 892004 4.446 298 4.160 334 2.967 151 1.340 173 1.235 882005 5.082 315 4.414 350 4.255 199 1.719 212 1.306 88

Fonte: IBGE, 2005.

Dentre os estados com os maiores municípios produtores, destaca-se o Pará, representado por seis deles. Os demais são do Amazonas (dois deles), Bahia e Sergipe (Tabela 10). Além de extensas áreas de cultivo, é notória a boa produtividade obtida nestas localidades, sendo sete delas acima da média nacional. Alguns municípios do Sul e Sudeste também apresentam um desempenho bastante superior à média nacional: Paulínia (São Paulo) tem rendimento de 46,22 t/ha e; Arco-Íris (também em São Paulo), 44,6 t/ha; já em Aurora (Pará), a produtividade foi de 22 t/ha.

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Tabela 10 – Dez maiores municípios produtores de mandioca (Brasil – 2005)

Município Estado Área colhida (ha) produção (ton)

Acará Pará 45.000 720.000

Cândido Sales Bahia 23.000 299.000

Ipixuna do Pará Pará 16.000 288.000

Aurora do Pará Pará 10.200 224.400

Manicoré Amazonas 11.264 157.696

Santarém Pará 15.000 150.000

Lagarto Sergipe 7.800 148.200

Itaituba Pará 9.800 147.000

Tefé Amazonas 11.300 146.900

Alenquer Pará 6.500 130.000

Fonte: IBGE, 2005.

A produção do Nordeste conta com a presença de centenas de “casas de farinha”, dedicadas à produção de pequenos volumes de farinha de mandioca, tanto seca quanto d’água (ver a caracterização de cada uma no item “Produtos Derivados”). O produto é consumido quase exclusivamente na própria região. Já a quantidade gerada no Sul/Sudeste destina-se predominantemente ao processamento industrial, para a produção de farinha, fécula e outros derivados. Estes são utilizados tanto na indústria alimentícia quanto em outras aplicações.

4.1 Importações e exportações brasileiras da mandioca

Em 2005 a importação de mandioca e produtos derivados pelo Brasil foi de 33 mil toneladas (que o coloca como o 22º maior importador), um volume grande em relação a muitos países, porém irrisório frente à produção nacional. A evolução das quantidades importadas mostra um crescimento intenso a partir de 1997 e, predominantemente, em 2003 e 2004 (Gráfico 2).

O principal responsável por estes números foi a fécula, utilizada pelas empresas modificadoras de amido e que o fornecimento nacional não conseguiu suprir. A escassez ocorreu devido à maior demanda por amido em alguns processos industriais (CARDOSO; ALVES; FELIPE, 2007, p. 7). Os preços elevados no mercado interno levaram os potenciais compradores a comprar a fécula no exterior, especialmente em países como a Tailândia e Paraguai (Tabela 11).

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Gráfico 2 – Evolução das importações brasileiras de mandioca e derivados (toneladas)

Fonte: FAOSTAT.

Tabela 11 – Países de origem das importações brasileiras de fécula de mandioca

Ano 2001 2002 2003 2004 2005

Total (toneladas) 3.302 12.395 27.123 58.329 9.635

Tailândia 3.280 12.346 21.161 8.557 9.399

Paraguai - - 5.902 43.617 222

Estados Unidos 5 34 36 24 10

Alemanha - - 5 176 4

Fonte: IBGE, 2006.

A grande demanda interna por mandioca, farinha, fécula e outros derivados é suficiente para absorver a quase totalidade da produção nacional, e a quantidade de produto exportado, conforme já comentado, ainda é pequena (74,5 mil toneladas, representando apenas 0,5% do total mundial). Mais uma vez, a fécula é um dos derivados da mandioca mais importantes na exportação, tendo como destinos principais Estados Unidos, Holanda, Uruguai e Argentina.

Cabe, porém, destacar a grande concentração das exportações, o que justifica a sexta colocação que o Brasil assume: 94,5% das exportações mundiais estão nas mãos de apenas três países: Tailândia, Vietnã e Indonésia.

0

20000

40000

60000

80000

100000

120000

140000

160000

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

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Tabela 12 – Países de destino das exportações brasileiras de fécula de mandioca

Ano 2001 2002 2003 2004 2005

Total (toneladas) 17.936 24.780 15.741 8.444 11.545

Estados Unidos 933 2.268 2.487 3.537 3.910

Holanda 58 116 578 1.526 2.415

Uruguai 1.063 1.131 884 202 1.068

Argentina 4.188 2.727 3.850 503 842

Fonte: IBGE, 2006.

5. CADEIA pRODUTIVA DA MANDIOCA DESTINADA À INDÚSTRIA

Apesar de possuírem alguns pontos em comum, as redes de entregas de valor voltadas para a mandioca de mesa e para a mandioca destinada à indústria criam dinâmicas de mercado bastante distintas, devido à participação de agentes exclusivos para um ou outro tipo de finalidade. As figuras 1 e 2 resumem os principais elos de ambas as cadeias.

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Figura 1 – Cadeia agroindustrial da mandioca de mesa

Fonte: BARROS, Geraldo Sant’Ana de C. (coord.). Melhoria da competitividade da cadeia agroindustrial de man-dioca no Estado de São Paulo. São Paulo/Piracicaba: Sebrae/CEPEA (ESALQ/USP), 2004, p. 35.

Na cadeia agroindustrial da mandioca de mesa percebe-se, fundamentalmente, dois caminhos para a comercialização do produto: in natura (ou seja, sem nenhum tipo de transformação) ou minimamente processada (na qual a mandioca passa por transformações simples, que reduzem ao máximo a modificação do alimento para consumo).

Este segundo tipo vem apresentando tendência de crescimento, uma vez que procura unir duas características exigidas pelos consumidores modernos: a praticidade e a busca por alimentação saudável. O fator mais restritivo da comercialização da mandioca minimamente processada é sua alta perecibilidade. Neste contexto, são fundamentais a atenção com: a redução do período de tempo entre a colheita e o tratamento; os processos de sanitarização; a escolha de embalagens adequadas; e a temperatura adequada de transporte e armazenamento (MELO; SILVA, ALVES, s.d.).

A mandioca in natura tem grande venda nas Ceasas (as Centrais de Abastecimento regionais), nas feiras livres e nos supermercados. Canais informais também são utilizados, como barracas montadas à beira das estradas e até a venda em carrinhos

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de mão, apesar de o volume ser menos expressivo. Ela pode ser vendida com casca, sem casca ou até congelada.

Figura 2 – Cadeia agroindustrial da mandioca destinada à indústria

Fonte: BARROS, 2004, p. 35.

A cadeia da mandioca destinada à indústria (que é o foco deste relatório) possui maior número de elementos intermediários/agentes entre os mandiocultores e o consumidor final, uma vez que as raízes passam por processos mais complexos e também integram, como matéria-prima, a produção de diversos produtos industrializados. Os dois principais produtos desta rede de valor são a farinha e a fécula de mandioca; esta última, em especial, oferece diversas possibilidades de aplicação, tanto dentro quanto fora do setor alimentício.

5.1 Caracterização dos produtores

Podem ser identificados três tipos de unidades produtivas na mandiocultura brasileira. O primeiro tipo é a unidade doméstica. Nela, predominam pequenos produtores que empregam pouca tecnologia, muitas vezes com reduzido ou nenhum

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uso de fertilizantes e agrodefensivos. Este tipo de processo, desenvolvido manualmente da plantação à colheita, é comum nas plantações que abastecem o consumo local e que, em geral, são dedicadas às variedades mansas. Pode ser encontrado em praticamente todos os Estados, mas assume importância maior no Nordeste do país (FOLEGATTI; MATSUURA, 2007).

O segundo tipo de unidade é a familiar, estabelecida em áreas pequenas ou grandes, com maior ou menor grau de tecnologia. Produtores de maior porte já operam com máquinas que aumentam a eficácia dos processos produtivos e apresentam condições de competitividade para ingressar na cadeia produtiva da mandioca destinada à indústria. Este tipo de propriedade detém uma parte significativa do mercado.

Por fim, existe a unidade empresarial, que se distingue pela contratação de mão-de-obra de terceiros. O nível tecnológico nem sempre é fator distintivo, uma vez que os investimentos podem ser muito semelhantes aos produtores familiares. Também possuem boa participação de mercado, em especial nos estados do Sul e Sudeste, e participando fortemente das cadeias voltadas à transformação industrial da mandioca (BARROS, 2004, p. 33).

A competitividade estabelecida pelas indústrias de processamento tem levado as unidades domésticas a se afastar cada vez mais do mercado industrial, mantendo este espaço “reservado” para unidades familiares e empresariais. Isto se deve às exigências de qualidade e profissionalização, importantes na estabilidade das especificações do produto que é uma exigência e uma necessidade das empresas transformadoras. Entretanto, as unidades domésticas continuam exercendo um papel fundamental na alimentação da população rural de baixa renda.

5.1.1 Cooperativas e associações

Muitos produtores individuais e familiares de mandioca não participam das associações e cooperativas já estabelecidas. Entretanto, a representatividade de algumas destas deve ser destacada.

A Associação Brasileira de Produtores de Amido de Mandioca (ABAM)2 é uma delas. A ABAM desenvolve forte atividade de pesquisa e de divulgação de boas práticas nas lavouras e nas indústrias de processamento de mandioca. Age como representante dos produtores, defendendo seus interesses no diálogo com outras instâncias da sociedade, como governo, comércio e imprensa. O Sindicato de Indústrias de Mandioca do Paraná (SIMP)3 possui uma base numerosa de associados, de produtores a fecularias, servindo de sustentação em termos de informações e orientações.

Outras organizações coletivas como a Coopervale (PR) e a Coopasub (BA) têm sido de extrema importância para os pequenos produtores associados em diversas etapas de suas atividades, desde a disponibilização de equipamentos para produção de

2 ABAM. Disponível em: <http://www.abam.com.br>.

3 SIMP. Disponível em: <http://www.simp.org.br>.

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fécula até financiamento e vendas conjuntas. A Coopatan (Cooperativa de Produtores Rurais de Presidente Tancredo Neves – BA) também desenvolve parcerias com outros organismos de apoio (como o Sebrae e a Embrapa), à busca de melhores condições competitivas para seus associados.

5.1.2 Instituições de apoio

Pela importância nacional da mandiocultura, foi natural o surgimento de uma série de instituições – especialmente públicas – destinadas a apoiar essa atividade. A título de ilustração, o Instituto Agronômico de Campinas (IAC) é um dos mais ativos, conduzindo um número significativo de pesquisas de caráter genético, fitotécnico e fitossanitário desde a década de 30 (PEREZ, 2007).

Os bancos de germoplasma, de forma geral, devem ser lembrados como entidades relevantes no desenvolvimento da mandiocultura. Além da preservação das espécies, estas instituições são importantes para conservar a agrobiodiversidade e oferecer aos agricultores cultivares comerciais, mais resistentes que os naturais em relação a pragas.

A Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical de Cruz das Almas (BA), importante agente de apoio e pesquisa, inaugurou, em maio de 2006, o Centro de Tecnologia em Mandioca (CTM), dedicado a capacitar produtores no processo de transformação da raiz. A expectativa da entidade é que o suporte oferecido venha a ter alcance nacional e internacional. As dependências da instituição incluem casa de farinha, fecularia, área de panificação e de captação de manipueira (líquido extraído durante o processamento da mandioca e que deve ser tratado, por ser altamente tóxico), todos importantes para a geração de valor agregado na oferta de mandioca (PORTAL DO AGRONEGÓCIO, s.d.).

Outros importantes centros de pesquisa e de treinamento do agricultor e/ou do empresário é o SEBRAE, que desenvolve um valioso trabalho de capacitação junto a pequenos produtores. O CEPEA (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), ligado à Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (USP), é outro tradicional centro irradiador de conhecimento, fundamental na cadeia paulista do agronegócio.

Muitas outras entidades de menor porte – freqüentemente de âmbito regional – podem ser encontradas, porém não há uma listagem oficial com todas as que apóiam a cadeia produtiva da mandioca. Entre as mencionadas com maior freqüência, encontram-se: o Centro Tecnológico da Mandioca (CETEM); a Associação das Indústrias de Derivados de Mandioca do Paraná (ASSIMAP); e a Associação Técnica das Indústrias de Mandioca do Paraná (ATIMOP).

Finalmente, vale lembrar que, da relação direta entre produtores e governo, constituiu-se a Câmara Setorial da Cadeia Produtiva da Mandioca, cuja finalidade é “propor, apoiar e acompanhar ações para o desenvolvimento das atividades dos setores a ele associados” (MANDIOCA BRASILEIRA, 2007).

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5.1.3 Arranjos Produtivos Locais (APL’s)

Crescem em importância na literatura administrativa as referências a clusters ou arranjos produtivos locais (APL’s). Em paralelo ao debate sobre a globalização (e, às vezes, até em função dele), mantêm-se a preocupação de autores, políticos e produtores com respeito a questões relacionadas à localização das atividades produtivas. Apesar da redução das distâncias propiciadas por tecnologias aprimoradas de comunicação e transporte, o fator geográfico continua influenciando fortemente nas dinâmicas e nos resultados das mais diversas indústrias.

Não há unanimidade com relação aos limites dos conceitos de APL’s, clusters e distritos industriais, entre outros termos encontrados na literatura. Neste relatório, assumiu-se APL’s e clusters como sinônimos. A definição de Porter (1998) para os clusters é a seguinte:

[...] concentrações geográficas de companhias interconectadas e instituições de uma área particular. Abrangem uma série de indústrias ligadas e outras entidades importantes para a competição. Incluem, por exemplo, fornecedores de insumos especializados, como componentes, máquinas e serviços, e fornecedores de infraestrutura especializada. Clusters freqüentemente envolvem canais e consumidores, assim como fabricantes de produtos complementares e empresas de setores relacionados pelas habilidades, tecnologias ou insumos comuns. Finalmente, muitos clusters incluem instituições governamentais e outras – como universidades, centros de treinamento e associações de comércio – que provêm treinamento, educação, informação, pesquisa e suporte técnico especializados. (PORTER, 1998, p. 78)

No contexto do agronegócio, os APL’s são soluções importantes para os pequenos produtores, uma vez que as condições do ambiente de negócios podem representar grandes oportunidades para superar as barreiras impostas pelas economias de escala dos players de maior porte. Porém, não são apenas os pequenos que desfrutam das vantagens dos APL’s: grandes empresas encontram neles as condições ideais para o desenvolvimento de sua competitividade, até em nível internacional.

Alguns APL’s bem sucedidos na mandiocultura são o Pólo de Paranavaí (PR), o APL Mandioca no Agreste (AL) e o Vale do Ivinhema (MS). Outras cidades que sediam APL’s são Cruzeiro do Sul (AC), Tefé e Alvarães (AM) e Dom Eliseu – PA (BRASIL, s.d.). Os mais constantes parceiros destes pólos são o SEBRAE e o Banco da Amazônia (BASA).

A descrição da experiência do APL Mandioca no Agreste ganhou, em 2005, um prêmio do Banco Mundial. São 14 municípios e mais de 20 mil produtores de mandioca integrados neste sistema, cujo desenvolvimento conseguiu aumentar a produtividade das plantações em mais de 20%. Cabe ressaltar o indispensável apoio governamental para o sucesso deste tipo de empreitada. No caso citado, o Programa de Arranjos Produtivos Locais de Alagoas (PAPL) foi importante para a viabilização da iniciativa. O sentido cooperativo do APL fica claro na descrição de Maria Inês Nogueira Pacheco, uma das gestoras do projeto:

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Nesse processo, as instituições de apoio e cooperação técnica e financeira, articuladas com o PAPL, estão empreendendo esforços no sentido de dinamizar esse seguimento produtivo, através do fortalecimento da rede de cooperação entre produtores e instituições públicas e privadas, estabelecendo ações, que além do incremento na produção e mercado; facilitem e ampliem o dialogo entre os produtores e desses com as instituições; favoreça o desenvolvimento da cooperação e a busca de estratégias comuns para o beneficiamento e comercialização de produção e acelere o desenvolvimento da aprendizagem coletiva, necessária para a difusão e geração de inovações. (PACHECO, s.d)

O Vale do Ivinhema, no Mato Grosso do Sul, concentra um terço da produção de fécula do Estado. Cresceu como pólo de produção da mandioca a partir de irradiações das culturas paranaenses fronteiriças. Fazem parte do APL cerca de 3.300 pequenos produtores e oito fecularias, além de farinheiros, todos integrados em uma rede que também comporta agentes financiadores e de capacitação (LE BOURLEGAT; VALLE, 2005).

Em Paranavaí (PR), a organização de um APL garantiu uma série de melhoramentos nas condições gerais de plantação e processamento da mandioca. Pertencem ao pólo 2.500 produtores, 16 indústrias de fécula e 64 de farinha, estimando-se 1.500 empregos diretos na indústria e 6.000 nas lavouras. Esse APL conta, ainda, com apoio do SENAI, da prefeitura, de sindicatos e de outras entidades locais, que viabilizam investimentos em tecnologia e pesquisa. O município é sede do Centro Tecnológico da Mandioca, ligado ao SENAI, e que é responsável, entre outras funções, pela aproximação das instituições educacionais ligadas à cultura da mandioca. O resultado são pesquisas que aprimoram as técnicas utilizadas e aumentam o retorno financeiro dos agentes envolvidos na cadeia agroindustrial da mandioca (SISTEMA FIEP, s.d).

5.2 Farinha e fécula de mandioca: usos e características

Variedades amargas (ou “bravas”) prestam-se melhor à industrialização da mandioca, pois geralmente apresentam concentração de amido superior às variedades de mesa (variedades “mansas”). Os elevados níveis de ácido cianídrico não são obstáculos ao seu uso, uma vez que o processamento elimina quase por completo as substâncias potencialmente tóxicas. Os cultivares utilizados pelas indústrias costumam exigir colheitas mais tardias, para que todo o seu potencial de rendimento se desenvolva.

A ampla gama de cultivares disponíveis aos produtores, somadas às diferenças significativas de condições climáticas nos diversos ecossistemas brasileiros, impõem um cuidado especial na escolha das plantas. Recomenda-se a consulta a instituições locais, buscando-se as melhores opções para cada localidade. A título de ilustração, a Tabela 13 lista algumas variedades recomendadas por especialistas para três macro-regiões.

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Tabela 13 – Cultivares de mandioca destinada à indústria recomendados para três macro-regiões brasileiras

Região Cultivares

Centro Sul a

Branca de Santa Catarina, Roxinha (também conhecida como Mico ou Chuamba), Fibra, IAC 12, IAC 13, IAC 14, IAC 15,

Fécula Branca, Espeto.

Tabuleiros Costeiros (Nordeste) b Jussara, Valença, Caetité, Catulina, Bibiana

Semi-Árido brasileiro c Arari, Mani-Branca, Formosa

Fontes: a) EMBRAPA. Cultivo da mandioca na região centro sul do Brasil. Disponível em: http://www.embrapa.gov.br>. Acesso em: 23 abr. 2007; b) EMBRAPA. Cultivo da mandioca na região dos Tabuleiros Costeiros. Dispo-nível em: <http://www.embrapa.gov.br>. Acesso em: 23. abr. 2007; c) FUKUDA, Wania. Variedades de mandioca para a produção de fécula. Disponível em: <http://www.abam.com.br/mat_tecnicos>. Acesso em: 24 abr. 2007.

5.2.1 Farinha de mandioca

“Aleluia! Aleluia! Peixe no prato e farinha na cuia!” (CÂMARA CASCUDO, s.d., p. 386). O ditado popular revela a centralidade da farinha de mandioca, o “pão dos brasileiros”, na alimentação de nosso povo. É o principal derivado da mandioca no Brasil, dada à simplicidade do seu processo produtivo (ainda semelhante aos métodos herdados dos índios, em muitos casos) e à ampla aceitação no mercado. De acordo com Vilpoux (2003, p. 621), o Brasil é o único país da América Latina a consumir este produto: o mercado asiático o desconhece e o mercado africano possui pouco poder de compra e produção muito significativa para representar uma oportunidade comercial aos brasileiros. Portanto, o mercado da farinha fica restrito ao consumo nacional, mais freqüentemente, local. Os produtores de Ivinhema, por exemplo, só conseguem vender ao mercado nordestino quando há escassez do produto naquela região. No Maranhão, a produção é consumida nas próprias unidades de produção, sendo vendido no mercado local apenas o excedente (SILVA, 2005).

A farinha pode pertencer a um entre três grupos, dependendo da tecnologia de fabricação utilizada: a farinha seca, a d’água e a mista. Cada grupo é, por sua vez, dividido em subgrupos - de acordo com a sua granulação –, em classes – em função da coloração – e em tipos – pelas variações na qualidade do processamento (FOLEGATTI; MATSUURA, 2007, p. 4.). A predominância do tipo consumido varia de acordo com as preferências locais de cada região do país.

A farinha seca (ou de mesa) é a mais consumida. Seu processo de produção (Figura 3) passa pelos seguintes estágios:

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Figura 3 – Etapas do processamento da farinha seca de mandioca

Fonte: Baseado em MATSUURA, Fernando C. A. U.; FOLEGATTI, Marília I. S.; SARMENTO, Silene B. S. Iniciando um pequeno grande negócio agroindustrial: processamento da mandioca. Brasília: Embrapa/Sebrae, 2003. (Série Agronegócios).

• Recepção, lavagem e descascamento da mandioca. É importante que este processo tenha início tão logo as raízes sejam colhidas, uma vez que sua deterioração começa entre 24 e 48 horas após serem arrancadas do solo. Existem tanto processos manuais quanto mecânicos para o descascamento e a lavagem. Pode-se, ainda, fazer uma repinicagem manual, que consiste na retirada de cascas remanescentes nas raízes após o processo inicial. Embora melhore a qualidade do produto, nem sempre este processo final é feito pelas casas de farinha.

• Ralação. Com o auxílio de equipamentos específicos, a mandioca é reduzida em partículas uniformes e não muito finas.

• prensagem. Nesta etapa, retira-se 20 a 30% do volume da massa, por meio da sua compressão em equipamento manual ou hidráulico. É um processo importante, pois evita a gomificação da massa. O líquido extraído, chamado de manipueira, deve ser tratado, pois é altamente tóxico.

• Esfarelamento. Os blocos compactados, quando tirados das prensas, devem ser novamente quebrados em partículas. O equipamento pode ser específico para este fim, mas podem ser utilizadas, como alternativa, as máquinas de ralação das raízes. Se peneirada, extrai-se a crueira (restos de casca e fibras), freqüentemente aproveitada para compor a ração animal.

• Torração. É o processo-chave da produção da farinha. Há vários tipos de fornos para este processo, os quais modificam o resultado final e a produtividade da casa de farinha. Na torração é que se determina a cor, o sabor e o tempo de conservação do produto. A umidade final da farinha deve ser inferior a 14%.

Recepção, lavagem e descascamento

Ralação

Prensagem

Esfarelamento

Torração

Peneiragem

Acondicionamento e armazenamento

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• peneiragem. Aqui, a farinha já torrada é separada de acordo com sua granulação (mais grossa ou mais fina); as partículas excessivamente grandes podem ser moídas novamente.

• Acondicionamento e armazenamento. Deixa-se a farinha esfriar antes de embalá-la em sacos de algodão de 50 kg (quando vendida a granel) ou em sacos de polietileno de 500 g ou 1 kg (para venda em supermercados e mercearias).

De acordo com as especificações da Portaria n. 554, de 30 de gosto de 1995 (BRASIL, 2005), a mandioca de mesa deve ser classificada de acordo com uma destas seis classificações: extra-fina; fina beneficiada; fina; média; grossa; ou bijusada.

A farinha d’água (ou “farinha de puba”), de origem amazônica e mais consumida do norte do Brasil até o Maranhão, tem processo muito semelhante ao anteriormente descrito, porém com uma etapa adicional de fermentação, logo no início do processo. Antes ou após o descascamento, o produto passa pela pubagem ou fermentação, em períodos que variam de seis dias a 24 horas. Quanto mais tempo durar esta etapa, mais característico é o sabor do produto e mais mole fica a raiz, uma característica útil quando não há a presença de raladores mecânicos (VILPOUX, 2003, p. 625).

Para este produto existem duas classificações quanto à granulometria: a farinha fina (quando, no máximo, 30% dela fica retida na peneira número 10) e a farinha grossa (quando mais de 30% fica retida na mesma peneira).

Deve-se destacar que, devido ao processo mais demorado, ao caráter semi artesanal da produção e às perdas ocasionadas no processo de fermentação, a farinha d’água não consegue penetrar em outros locais (regiões) além daqueles que tradicionalmente a consomem. Em contrapartida, a farinha seca ganha espaço como substituto, gerando uma perda de mercado gradativa para a farinha d’água.

Por fim, a farinha mista (também conhecida como farinha do Pará) consiste na mistura, em diferentes proporções, dos dois tipos anteriores e também é consumida de maneira mais freqüente nas regiões Norte e Nordeste. A classificação em subgrupos da farinha mista é idêntica à da farinha d’água, inclusive nos critérios técnicos utilizados em sua análise.

As três classes da farinha, independente do grupo a que ela pertence, são: branca, amarela e de outras cores. Vale ressaltar que esta coloração é obtida de maneira natural, seja devido à cor original da raiz ou decorrente das técnicas de fabricação (especialmente durante o processo de torração).

Os tipos são definidos para todos os grupos e classes, em escala de 1 a 3, com exceção da farinha seca bijusada, que possui apenas um tipo. A classificação é feita pela análise física do produto, a partir da porcentagem de cascas, cepas, raspas, pó e umidade, entre outros fatores. As farinhas de tipo 1 seguem especificações mais rigorosas, exigindo-se mais pureza. Em anexo, encontra-se o texto integral da Portaria n. 554-95, em que todos os critérios de classificação da farinha de mandioca são definidos e descritos.

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Cada uma das variações de farinha de mandioca aqui descritas pode ter seu espaço de mercado. O importante para os produtores é estudar sua área de atuação, buscando compreender as preferências do consumidor local, de maneira a oferecer o produto ideal a um preço que corresponda às expectativas desse consumidor. Cabe lembrar que as diversas regiões brasileiras apresentam hábitos de consumo bastante diferentes, fator altamente determinante do sucesso dos empreendedores.

5.2.2 Fécula de mandioca

Conforme já mencionado, a fécula é um dos produtos mais importantes feitos a partir da mandioca, pois, além das múltiplas aplicações possíveis, transcendem os mercados locais e se prestam à exportação. A Food and Agriculture Organization (FAO), entidade associada à Organização das Nações Unidas (ONU), considera a fécula uma excelente oportunidade para que os países produtores de mandioca – geralmente nações em desenvolvimento – adicionem valor a este produto de baixo custo (FAO, 2006).

Na língua portuguesa (junto apenas à francesa), distingue-se o amido da fécula, apesar de ambos possuírem a mesma estrutura química (CEREDA, 2005). A diferença está no fato da fécula ser obtida de matérias-primas subterrâneas (ou seja, da parte da planta que fica abaixo do solo), enquanto o amido tem uma definição mais geral (pode ser obtido de partes da planta que ficam abaixo ou acima do solo – neste último caso, como o amido de milho). Em muitos documentos, as palavras são utilizadas de maneira intercambiável; neste relatório, este padrão também será adotado.

Uma possível definição de amido de mandioca, também conhecido como sinônimo de fécula, polvilho doce e goma, é:

Um carboidrato extraído da raiz da mandioca. Apresenta-se como um pó branco, inodoro, e sem sabor, utilizado como ingrediente gerador de uma série de produtos, em diversas áreas de atividade industrial (...). Segundo Ferreira, fécula é ‘uma substância farinácea de tubérculos e raízes. (ARIENTE, 2005, p. 54)

As aplicações da fécula são inúmeras, tanto na indústria alimentícia quanto em outras. É largamente utilizada como espessante, ou seja, substância adicionada a misturas a fim de lhes proporcionar melhor consistência. A fécula é ingrediente de molhos, sopas, comidas para bebês, pudins, sorvetes, embutidos, pães de queijo e massas em geral. A rejeição ao produto é baixa, uma vez que não deixa gosto residual, não contém glúten (substância à qual parte das pessoas é alérgica) e é mais barato que outros ingredientes semelhantes, como o amido de milho. Também pode servir como base para a tapioca, o beiju, o sagu e biscoitos diversos. Transformada em cera, a fécula pode revestir frutas e legumes como mangas, pêssegos, maçãs e pepinos, de forma a aumentar a durabilidade e torná-los mais brilhantes e vistosos (REIS, 2006, p. 487-93). O amido pode, ainda, ser base de bebidas alcoólicas – a empresa

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MN Própolis lançou em fevereiro de 2006 um shochu (destilado tipicamente japonês) fabricado a partir de mandioca orgânica (MANDIOCA..., 2006).

O álcool feito a partir do amido tem aplicações fora da indústria alimentícia. Suas características inodoras e insípidas o tornam adequado à composição de perfumes. A indústria de papel vem utilizando fortemente o amido de mandioca na sua produção, com significativas reduções de preço. Estima-se que 90% dos papéis de impressão no país tenham fécula de mandioca na sua composição, substituindo com vantagens de qualidade e preço o amido de milho (BATISTA, 2003).

A adição de fécula ou farinha de mandioca na farinha de trigo para a fabricação de pães foi tema de muita discussão no setor panificador em 2001, diante do projeto de lei proposto pelo deputado Aldo Rebelo O texto original previa a obrigatoriedade da mistura de fécula ou farinha de mandioca na farinha de trigo, com adição mínima de 10% e até casos excepcionais em que a proporção passaria a 20%.

A pressão dos fortes grupos associados à produção e ao processamento de trigo (que se indispuseram contra a imposição) junto a setores da sociedade provocou mudanças no projeto, que passou a prever a mistura apenas na farinha comprada pelo poder público, ou seja, aquela usada para alimentação em creches ,hospitais e escolas públicas, presídios e Exército. Com esta configuração, passou nas votações da Câmara e no momento (jul. 2007) aguarda análise do Senado Federal (FARINHA..., 2006).

As etapas do processo produtivo-padrão do amido de mandioca (Figura 4) são as seguintes:

Figura 4 – Etapas do processamento da fécula de mandioca

Fonte: baseado em MATSUURA; FOLEGATTI; SARMENTO, 2003, p. 33-7.

Recepção, lavagem e descascamento

Ralação

Extração da fécula

Secagem

Moagem

Acondicionamento e armazenamento

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• Recepção, lavagem e descascamento. É semelhante ao processo da produção da farinha. A entrecasca, retirada para aquele produto, deve ser conservada aqui, pois contém fécula e representa de 8 a 15% da raiz.

• Ralação. Deve ser bastante fina para maximizar o rendimento da matéria prima. É feita com adição de água no ralador e com velocidades altas das serras.

• Extração da fécula. Em tanques equipados de agitadores e peneiras, separa-se a água misturada à fécula do material fibroso, chamado de bagacilho. Este pode ser aproveitado em rações para animais, enquanto o “leite de fécula” segue adiante no processo. A separação da água e da fécula se dá por um de dois processos: a decantação (típica da produção em pequenas escalas) e a rotação centrífuga. No final desta etapa, chega-se a um produto com umidade reduzida a cerca de 45%.

• Secagem. Pode ser feita ao sol ou em secadores. O processo artificial garante maior pureza do produto, pois evita a contaminação por partículas carregadas pelo ar.

• Moagem. Dependendo do processo adotado na secagem, torna-se necessário reduzir as partículas a pó, por meio de compressão e peneiragem.

• Acondicionamento e armazenamento. A fécula já finalizada pode ser embalada em plástico (para consumo final) ou papel (comum na venda industrial). O local de armazenamento deve ser seco e bem ventilado, para que não haja modificação das características do produto.

Continuam a ser realizadas diversas pesquisas, no que tange ao desenvolvimento de novas aplicações para a fécula de mandioca. Um exemplo é a investigação desenvolvida em 2006/2007 pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, na qual tem sido trabalhado um filme plástico à base de amido de mandioca. O produto poderá ser utilizado na embalagem de alimentos, com características superiores aos atuais plásticos/filmes de PVC, pois é biodegradável e comestível. Além disso, possui propriedades antimicrobianas e muda de cor caso haja a deterioração dos alimentos nele embalados, tornando nítida a perda de qualidade do produto e sua inadequação ao consumo (AGÊNCIA FAPESP, 2007).

5.2.3 Modificação do amido

O amido processado conforme a descrição acima é conhecido como nativo ou natural. No entanto, grande parte das aplicações do amido, em especial nas indústrias não-alimentícias, requer alterações nas características do produto, de forma a adequá-lo às necessidades da indústria. O resultado são os chamados amidos modificados. A

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indústria de papel e papelão é a que mais faz uso deste tipo de amido, sendo apenas 10% destinado às empresas de industrialização de alimentos; o contrário acontece com o amido nativo, cuja aplicação no setor alimentício representa 70% do total produzido (RIQUEZAS..., 2004).

Tradicionalmente, as modificações feitas nas características do amido são de ordem química. Porém, a busca cada vez mais intensa de produtos saudáveis por parte dos consumidores tem motivado a pesquisa industrial à busca de processos de modificações físicas, que não prejudicam o conceito de “natural” dos produtos (CEREDA, 2005).

A Tabela 14 lista algumas possibilidades de aplicação a partir da modificação de amidos, subdivididas por setor produtivo.

Tabela 14 – Exemplos de aplicações de amidos de mandioca modificados

Setor propriedades Aplicações

Indústria alimentícia

• Espessantes• Controladores de umidade• Texturizantes• Agentes de viscosidade• Encapsulante de aromas e óleos

essenciais.

• Drageamento• Geléia de brilho• Pão de Queijo• Cremes e molhos instantâneos• Molhos atomatados• Catchup e condimentos em

geral• Embutidos (frigoríficos)• Cremes, recheios e coberturas

para confeitaria• Iogurtes

Indústria de papel

• Recobrimento Superficial• Reforçamento Mecânico• Retenção de finos e cargas• Melhor formação da folha• Aumento na força na colagem

entre Camadas• Aumento na resistência mecânica

do papel. • Aumento no corpo bulk • Aumento na absorção• Melhorias nas características,

lisura e maciez

• Em máquinas de papel para a produção de papéis alcalinos, ácidos e neutros

• Película para recobrir papel

Indústria têxtil

• Engomagem de tecidos e fios• Tratamento• Acabamentos• Aditivo para pigmentos• Espessante de pigmentos• Tinturaria• Produção de compounds

• Engomagem de fios de algodão e mesclas

• Preparação de pigmentos• Acabamento de tecido• Produção de compounds

Fonte: Recorvendas. Disponível em: <http://www.recorvendas.com.br/produtos>. Acesso em: 30 abr. 2007.

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5.3 Dados de produção e consumo de farinha e fécula de mandioca

5.3.1 Produção de farinha de mandioca

Devido ao acentuado consumo de farinha no Nordeste, a região acaba por concentrar uma parcela significativa da produção deste derivado. São centenas de casas de farinha, a maioria de pequeno porte (ou seja, que produzem menos de 15 sacas por dia) e que exercem importante papel no abastecimento local. O Pará destaca-se nesta produção (GROXKO, 2007), aproveitando a abundante oferta de matéria-prima, uma vez que o Estado é líder no cultivo da raiz.

Há ocasiões, porém, que o elevado nível de consumo da população nordestina não consegue ser totalmente suprido pela oferta de farinha localmente produzida; isso pode ocorrer em função de condições climáticas desfavoráveis. Neste caso, o espaço em aberto neste mercado é suprido pela comercialização de produtos de outros estados, como Mato Grosso do Sul e Paraná.

Nos estados do Centro Sul, o Paraná tem o maior volume de transformação da mandioca em farinha. Dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) indicam a destinação de 1,8 milhões de toneladas da raiz à atividade. O segundo estado produtor é São Paulo, com 680 mil toneladas, seguido por Santa Catarina, com 530 mil toneladas.

5.3.2 Distribuição do consumo de farinha no Brasil

Há grande disparidade no consumo per capita de farinha de mandioca entre as regiões e os estados. O levantamento da Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) realizada pelo IBGE confirma a primazia do Norte e Nordeste no consumo deste produto (Tabela 15). A média brasileira é de 7,8 quilos anuais per capita, média essa “inflada” pelos 33,8 quilos per capita da região Norte. O Nordeste consome 15,3 quilos anuais per capita, enquanto as demais regiões apresentam consumo inferior a 1,5 kg/capita/ano. O estado que se destaca neste índice é o Amazonas, com 43,4 kg/capita/ano, em contraste com os 0,7 kg/capita/ano do Paraná, apesar de sua considerável produção.

Tabela 15 – Consumo per capita anual de farinha de mandioca por região (em quilos)

Região Kg/capita/anoNorte 33,8

Nordeste 15,3Sudeste 1,4

Sul 1,0Centro-Oeste 1,4Média – Brasil 7,8

Fonte: IBGE. Pesquisa de orçamento familiar (POF). Disponível em: <http://www.sidra.ibge.gov.br>. Acesso em: 30 jul. 2007.

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Ainda de acordo com os dados consolidados na POF, fica caracterizado o maior consumo da farinha de mandioca por parte das famílias com renda mais baixa (Gráfico 3); o preço baixo e a manutenção de tradições culinárias são os principais fatores que explicam esse consumo.

Gráfico 3 – Consumo anual per capita de farinha de mandioca, por rendimento familiar mensal (Brasil, 2003 – em quilos)

Fonte: IBGE, s.d.

Outro dado interessante com relação ao consumo de farinha de mandioca está nas diferenças entre o consumo da população residente em áreas urbanas ou rurais. Seguindo a lógica, as áreas rurais despontam como as principais consumidoras do produto (20,6 kg/capita/ano), contra 5,1 kg/capita/ano da população urbana. Mais uma vez, os maiores índices aparecem nas áreas rurais da região Norte, onde chegam a 64,5 kg/capita/ano.

5.3.3 Produção de fécula de mandioca

Conforme já mencionado, a maior complexidade do processo produtivo da fécula de mandioca acabou por concentrar a produção brasileira nos estados do Centro Sul, dado o maior nível de investimento necessário, tanto em capacidade produtiva e quanto em tecnologia. A ABAM estimava uma produção de 574.746 toneladas de amido em 2006, volume inferior aos picos de 2001 e 2002, mas que demonstra uma retomada após as baixas das safras de 2003 e 2004 (Gráfico 4).

14,2 13,7

8,5

5,6

3,7

2,2

0

2

4

6

8

10

12

14

16

Até 400 Mais de 400 a 600

Mais de 600 a 1000

Mais de 1000 a 1600

Mais de 1600 a 3000

Mais de 3000

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Gráfico 4 – Produção brasileira de amido de mandioca (em mil toneladas – 2005)

Fonte: CEPEA/ABAM. Disponível em: <http://www.abam.com.br>. Acesso em: 15 jul. 2007.

Apesar do aumento do volume produzido, o valor desta produção foi menor do que em 2004, devido à baixa dos preços pagos pelas indústrias. Os baixos preços do amido de milho foram um dos fatores que provocou este cenário. De R$726 por tonelada o preço caiu para R$ 645/t pela fécula produzida em 2006, uma vez que seu substituto direto (amido de milho) teve os preços muito reduzidos. O valor das operações, portanto, pode ser estimado em R$ 370,9 milhões, aproximadamente 7% inferior ao ano anterior.

O Paraná é líder na produção de fécula de mandioca (Tabela 16). O cultivo extensivo, somado aos esforços integrados entre produtores e fecularias, proporcionaram condições favoráveis para a atividade. Em 2002, três novas fecularias foram instaladas no estado, representando um investimento de US$ 25 milhões financiados em parceria por grupos brasileiros e italianos. Toda a produção destas unidades é destinada à exportação (PARANÁ..., s.d.).

300328

368400

575

667

428,1395,4

545,5574,7

0

100

200

300

400

500

600

700

800

1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

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Tabela 16 – Produção de amido de mandioca por estado (2006)

Estado Volume (em toneladas) participação (%)

Paraná 372.990 65

Mato Grosso do Sul 103.989 18

São Paulo 72.327 13

Santa Catarina 23.438 4

Goiás 1.000 Menos que 1

Fonte: ABAM. Disponível em: <http://www.abam.com.br>. Acesso em: 15 jul. 2007.

A fécula nativa ainda é predominante no volume de produção: em 2006, foi responsável por 61% do total. O amido modificado representa 35%, o polvilho azedo, 3% e o polvilho doce, 2% (CEPEA/ESALQ-USP, s.d.).

5.3.4 Indústrias e estados compradores de fécula de mandioca

Em 2006 o setor de papel e papelão passou a ocupar a primeira colocação entre as indústrias compradoras de amido de mandioca no Brasil(Gráfico 5), posição pertencente, em 2005, ao setor de massas, biscoitos e panificação. As aplicações da fécula neste tipo de produção destacam-se cada vez mais, dadas as melhorias de qualidade. O fator que mais influencia na oscilação do consumo é o preço muito volátil do produto.

Outro setor relevante são os frigoríficos, que utilizam a fécula como agente de viscosidade na produção de embutidos. Sua participação de 19,5% é relevante, estando à frente de setores que são compradores tradicionais, como o atacado e o setor de panificação.

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Gráfico 5 – Consumo de amido de mandioca por segmento da indústria (2006)

Fonte: ABAM. Disponível em: www.abam.com.br. Acesso em: 12 jul. 2007.

Em termos de distribuição por estado, São Paulo se destaca como o maior consumidor, fundamentalmente por conta da sua economia industrializada e proeminente no cenário nacional. O Paraná, maior estado produtor, também apresenta índices significativos de consumo da fécula. Minas Gerais consumiu em 2006 o equivalente a 11,3% do total no país. Em seguida, Santa Catarina, Rio de Janeiro, Ceará, Distrito Federal, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul, todos com participações entre 5% e 9% (Gráfico 6).

Gráfico 6 – Participação dos Estados no consumo de fécula de mandioca (2006)

Fonte: CEPEA/ESALQ-USP. Valor de produção da fécula cai 7% em 2006, com produção 5,1% maior. Disponí-vel em: <http://www.cepea.esalq.usp.br. Acesso em: 12 jul. 2007.

Papel e papelão; 26,3%

Frigoríf icos; 19,5%Atacadistas; 16,8%

Outros; 22,9%

Massa, biscoito e panif icação; 14,5%

São Paulo; 24,4%

Paraná; 23,6%Minas Gerais; 11,3%

Santa Catarina; 8,8%

Rio de Janeiro; 6,4%

Ceará; 5,8%Distrito Federal; 4,4%

Rio Grande do Sul; 4,4%

Outros; 6,5%

Mato Grosso do Sul; 4,4%

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5.4 preços da farinha e da fécula de mandioca

É importante lembrar que o comportamento de preços da mandioca é determinado pela sua natureza de commodity: produtos indiferenciados, produzidos por grande número de agentes e cujos preços são conhecidos (hoje, em âmbito global) pelos compradores, em um regime próximo ao que os economistas chamam de “concorrência perfeita”. Nestas condições, a influência individual que cada produtor tem sobre seus preços é muito limitada.

Além disso, dada sua natureza agrícola, a precificação da mandioca segue padrões sazonais, ou seja, o preço final depende dos calendários de cultivo e das condições naturais, como clima, tipo de solo, variedades plantadas etc. As oscilações de preço nos mercados derivados (neste caso, farinha e fécula de mandioca) acompanham o padrão de sua matéria-prima. Esse movimento se dá fundamentalmente pela mudança nas condições de oferta, uma vez que a demanda tende a ser mais estável (EMBRAPA MANDIOCA E FRUTICULTURA TROPICAL, s.d.).

As oscilações nos preços da mandioca têm sido maiores que a de outros insumos agrícolas, como o trigo e o milho – dois produtos cujos derivados concorrem com os derivados da mandioca (com mais intensidade com fécula/amido de mandioca). Este é um fator que dificulta a atividade de mandiocultura, uma vez que as indústrias buscam tanto preços competitivos quanto estabilidade no fornecimento e no patamar de precificação.

De acordo com levantamentos do CEPEA, as médias para os anos de 2005, 2006 e 2007 (até a primeira semana de julho/2007) para os preços da farinha grossa e fina foram as seguintes (Tabela 17):

Tabela 17 – Preço médio da farinha de mandioca (grossa e fina) – R$ por tonelada

período Farinha grossa Farinha fina2005 494,58 461,202006 625,62 505,79

2007 (até jul.) 660,99 645,69

Fonte: CEPEA/ESALQ-USP. Levantamento semanal de preços (produtor). Disponível em: <http://www.cepea.esalq.usp.br. Acesso em: 11 jul. 2007.

Nota-se uma gradual recuperação dos preços da farinha ao longo dos últimos três anos. Este movimento tem apresentado reflexos para o consumidor final, que lida com um aumento de preços maior do que a inflação observada no período.

A série de dados sobre preços da fécula de mandioca compilada pelo CEPEA é extensa, compreendendo o período de 2002 até 2007. Fica clara a instabilidade dos preços deste insumo, que atingiu picos elevados entre 2003 e 2005, após chegar a valores muito baixos em 2002 (Tabela 18).

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Tabela 18 – Preço médio da fécula de mandioca – R$ por tonelada

Ano preço médio Variação2002 441,16 -2003 1144,31 159%2004 1443,23 26%2005 726,41 -50%2006 645,29 -11%

2007 (até jul.) 837,05 30%

Fonte: CEPEA/ESALQ-USP, s.d.

Economistas e estudiosos do setor têm frisado a necessidade de profissionalização e de um esforço maior de planejamento ao longo da cadeia produtiva da mandioca. Uma das formas para alcançar estas metas se dá pela integração dos agentes constitutivos da cadeia. Contratos de longo prazo entre produtores de mandioca, fabricantes da fécula e usuários industriais do produto poderão prevenir os efeitos danosos de variações altas e muito freqüentes. Os resultados podem ser benéficos para todas as partes, seja pela garantia de rentabilidade mínima para as atividades produtivas, seja pela segurança quanto à continuidade do fornecimento da matéria prima (FELIPE; ALVES; CAMPION, 2007).

Outro importante instrumento para a melhoria das condições de produção de mandioca, farinha e fécula é o rigoroso controle de custos envolvidos na atividade produtiva. Pelo fato de serem “tomadores de preço” (termo atribuído aos participantes de um mercado cujo regime é a concorrência perfeita, onde os players individuais têm pouca ou nenhuma possibilidade de determinação dos preços e se vêem obrigados a aceitar e seguir os valores propostos pelo mercado), a maneira mais eficiente para aumentar as margens da atividade econômica é por meio do monitoramento dos custos e, se possível, por sua redução (ALVES; FELIPE, BARROS, s.d.). Outra alternativa, mais restrita quando se lida com mercados pouco desenvolvidos, é a criação de produtos diferenciados, que carreguem valor agregado à oferta básica. Alguns exemplos são mandiocas minimamente processadas (congeladas, pré-cozidas, descascadas, lavadas etc.) ou farinhas temperadas (GAMEIRO, 2007, p. 2). Como exemplo, pesquisou-se o preço de produtos disponibilizados ao consumidor final pelo site do supermercado Pão de Açúcar. O pacote de farinha torrada da Yoki, que pesa 500 gramas, custa R$1,61; já a farofa pronta da marca Deusa, pesando os mesmos 500 gramas, chega a R$ 3,284.

4 www.paodeaçucar.com.br. Acesso em: 29 jan. 2008.

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5.5 Concorrência

Há dois tipos fundamentais de concorrência a se considerar no estudo setorial da mandioca no Brasil: a competição interna existente entre os produtores de farinha e fécula; e aquela que se dá entre a categoria (especialmente a da fécula) e outros produtos que, eventualmente, podem substituí-la em um processo produtivo.

5.5.1 Competição entre produtores de farinha e fécula

Os investimentos básicos para produção de farinha de mandioca são baixos. A tecnologia mais sofisticada aumenta o rendimento da produção, mas não é imprescindível, uma vez que grande parte das pequenas casas de farinha espalhadas pelo país ainda se utilizam de procedimentos quase artesanais. Esta facilidade para se começar um negócio caracteriza o setor como sendo altamente vulnerável à ameaça de novos entrantes (ver análise das forças competitivas, mais à frente). A demanda, em contrapartida, não evolui com a mesma rapidez, colocando os produtores diante de um cenário de elevada competição e margens baixas.

A produção de fécula é mais concentrada, apesar de ainda comportar produtores de pequeno porte que usam tecnologias rudimentares. Dado este fato, é de se esperar uma concorrência fundamentalmente voltada a preços baixos, com baixo nível de diferenciação e margens igualmente reduzidas.

A diferenciação de seus produtos é a alternativa que algumas empresas têm utilizado para tentar melhorar suas condições individuais de competitividade. No mercado de fécula, em particular, os amidos modificados representam oportunidades interessantes de crescimento, já que possuem características exclusivas. Conforme apontado anteriormente, os estados do Sul e Sudeste do Brasil são os que concentram o maior número de fecularias que atuam na produção de amidos modificados.

A importação de fécula também deve ser estudada como uma força competitiva. Em períodos em que há altas significativas nos preços do produto nacional, as indústrias consumidoras da fécula podem voltar-se ao mercado exterior para suprir suas necessidades a custos mais baixos. Foi o que aconteceu em 2003 e 2004, diante da grande elevação de preços ocasionada pela baixa dos estoques das fecularias.

5.5.2 Competição com produtos substitutos

A versatilidade da fécula de mandioca para aplicações industriais abre, por um lado, um amplo mercado para o produto, que pode ser utilizado em setores tão diversos como o alimentício, o têxtil e o de papel, entre outros. Por outro lado, essa mesma versatilidade é indicativa da concorrência abrangente que a fécula de mandioca tem que enfrentar, na medida em que pode ser substituída por diferentes matérias-primas utilizadas para as mesmas funções. Os substitutos mais fortes até este momento são o amido de milho e a fécula de batata.

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A existência de alternativas ao uso do amido de mandioca torna sua oferta mais elástica, ou seja, pequenas variações nos preços do amido de mandioca podem representar grandes variações nas quantidades vendidas do produto. Assim, caso o preço aumente, seus potenciais compradores “abandonam” – ao menos, temporariamente, o consumo do produto e passam a usar o produto substituto (no caso, amido de milho ou fécula de batata) que oferecer o melhor preço.

O mais forte concorrente substituto da fécula de mandioca é o amido de milho. No mercado externo, particularmente no norte-americano, percebe-se claramente este conflito, uma vez que a entrada da fécula de mandioca é dificultada pelas barreiras comerciais, quais sejam, medidas protecionistas impostas pelo governo dos EUA para favorecer as indústrias locais, que trabalham com base na grande produção de milho do país.

Um das vantagens competitivas estruturais desfrutadas pela indústria do amido de milho em relação à da fécula de mandioca é sua organização produtiva. Há forte concentração nos agentes produtores de amido de milho, com o domínio, no cenário brasileiro, de três grandes empresas multinacionais: Corn Products do Brasil, National Starch Chemical e Cargill.

A indústria de fécula de mandioca também possui grandes players que, no entanto, concentram parcelas bem menores do mercado (em relação à indústria do amido de milho), dividindo-o com inúmeras fecularias de pequeno e médio porte. O resultado é uma facilidade maior de articulação do oligopólio do amido de milho, em contraposição à fragmentação do mercado concorrencial da fécula de mandioca (CARDOSO, 2003, p. 98). Um dos efeitos da desestruturação desta indústria é a volatilidade dos preços.

Outras dificuldades competitivas enfrentadas pela cadeia da mandioca dizem respeito à baixa produtividade da matéria-prima, ao baixo valor dos resíduos e ao alto custo dos processos de tratamento. Além disso, os parcos investimentos em pesquisa e desenvolvimento tornam as inovações lentas e pouco exploradas pelo setor produtivo.

Por outro lado, a fécula de mandioca apresenta características superiores a de seus principais concorrentes e substitutos em diversos processos e aplicações. Sua extração é mais fácil, o produto final apresenta maior transparência e oferece alta viscosidade. O amido da raiz é inodoro e insípido, o que o torna excelente matéria-prima para a produção de álcool para fins laboratoriais, farmacológicos ou alimentícios – bebidas (ARIENTE et al., 2005, p. 56).

A Tabela 19 compara a competitividade dos amidos de algumas matérias-primas, analisada por indicadores qualitativos.

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Tabela 19 – Indicadores qualitativos de competitividade de amidos, segundo fonte de matéria-prima

Indicadores Fonte de matéria-primaMilho Trigo Batata Milho waxy Mandioca

Produtividade da matéria-prima *** *** *** *** *

Potencial para aumentar a produtividade ** * ** * ***

Competitividade do preço da matéria-prima *** ** * *** **

Flexibilidade na obtenção da matéria-prima *** *** ** *** *

Taxa de conversão do amido (eficiência) *** ** * *** **

Facilidade técnica da extração do amido ** ** *** ** ***

Valor dos subprodutos ** *** * ** *

Custo de tratamento dos resíduos * * ** * ***

Competitividade do preço do amido *** ** * ** **

Potencial de aplicação na indústria alimentar ** ** *** *** ***

Potencial de aplicação na indústria não-alimentar *** *** ** ** **

Aplicação como substituto de açúcares *** ** * *** **

Apropriação das intervenções políticas (UE, EUA) *** *** *** *** -

Avanços em P&D *** *** *** *** *

Oportunidades tecnológicas *** *** *** *** *

Apropriação privada dos avanços do setor agrícola *** *** ** *** *

Grau de cumulatividade *** *** ** *** *

Nível de organização da cadeia agroindustrial. *** *** *** *** *

Legenda: (***) alto; (**) intermediário; (*) baixo; (-) nenhuma.

Fonte: CARDOSO, Carlos Estevão Leite. Competitividade e inovação tecnológica na cadeia agroindustrial de fécula de mandioca no Brasil. 2003. Tese (doutorado) – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da Uni-versidade de São Paulo. Piracicaba, 2003, p. 103.

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Outra forma para analisar a concorrência enfrentada pela cadeia da mandioca é examinando o avanço de outras culturas em regiões onde a raiz é, tradicionalmente, predominante. Em um estudo promovido pelo CEPEA (ALVES; FELIPE, 2006, p. B-4), comprovou-se a pressão que o cultivo da cana-de-açúcar tem exercido em diversas áreas dos estados de São Paulo, Paraná e Mato Grosso do Sul. A valorização dos produtos dos derivados da cana (açúcar e álcool) tem motivado os proprietários rurais a empenhar-se na sua plantação. Para obter capital para investir nessa nova cultura, muitos desses proprietários se desfazem das suas plantações de mandioca a preços inferiores aos custos, o que pressiona o preço da raiz ainda mais para baixo.

Neste caso, configura-se uma ameaça de um produto substituto não em termos de usos semelhantes pelo mercado, mas como substituto que, potencialmente, aumentará o retorno dos investimentos feitos pelos ex-produtores de mandioca.

5.6 Aspectos legais

Por se tratarem de produtos destinados em grande parte à alimentação, os derivados de mandioca são submetidos a uma série de normas de ordem sanitária. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), órgão integrado ao Ministério da Saúde, disponibiliza em seu site (http://www.anvisa.gov.br/legis) um banco de dados com os textos completos de normas concernentes ao tema. Outra compilação de leis de interesse ao setor estudado é a do Ministério da Agricultura, intitulado Sislegis (http://extranet.agricultura.gov.br/sislegis-consulta/).

Especificamente no que diz respeito à produção e à comercialização de farinha e fécula de mandioca, há algumas normas que devem ser cuidadosamente analisadas e seguidas pelos empresários, de forma a se adequar a todas as exigências legais que a atividade impõe. Dentre elas, vale destacar:

• Portaria nº 80, de 20 de abril de 1988 (aprova as Normas destinadas à comercialização interna da Raspa de Mandioca). Esta norma classifica a raspa de mandioca segundo sua qualidade e características. É importante no processo de comercialização do produto, tanto para o varejo quanto para o atacado.

• Portaria nº 554, de 30 de agosto de 1995 (aprova a Norma de Identidade, Qualidade, Acondicionamento, Armazenamento e Transporte da Farinha de Mandioca, para fins de comercialização, estabelecendo novas especificações para a Padronização e Classificação da Farinha de Mandioca). Esta norma é fundamental para os empreendedores dedicados à produção da farinha de mandioca, uma vez que estabelece a classificação das variedades de farinha, de acordo com critérios como granulação, coloração, qualidade e tecnologia empregada.

• Resolução RDC nº 359, de 23 de dezembro de 2003 (Aprova Regulamento Técnico de Porções de Alimentos Embalados para Fins de Rotulagem Nutricional). Visando aperfeiçoar as informações que chegam aos consumidores de produtos alimentícios industrializados e adequá-los aos instrumentos harmonizados do Mercosul, a resolução padroniza os métodos de definição

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das porções cuja apresentação nutricional deve constar nas embalagens. Tanto a fécula quanto a farinha de mandioca estão regulamentadas nesta norma.

• Resolução RDC nº 263, de 22 de setembro de 2005 (aprova o “Regulamento Técnico para Produtos de Cereais, Amidos, Farinhas e Farelos”). Além de fixar as taxas de umidade máxima para farinha (15%) e fécula de mandioca (18%), recomenda a adoção de boas práticas de fabricação e rotulagem dos alimentos.

Finalmente, outro aspecto importante a se considerar na cadeia produtiva da mandioca é a legislação ambiental, dado o potencial poluidor dos resíduos líquidos obtidos na prensagem da raiz (FEIDEN, 2005). A manipueira (resíduo líquido gerado durante o processo de produção da fécula) deve ser cuidadosamente tratada, em vez de despejada em rios ou no solo. É necessário destacar que os tratamentos mais eficazes para esses resíduos exigem tecnologias mais complexas e, portanto, maiores investimentos por parte do produtor.

5.7 Distribuição – canais de comercialização

Os canais de marketing, conforme definidos por Philip Kotler e Kevin Lane Keller (KOTLER; KELLER, 2006, p. 464), são “conjuntos de organizações interdependentes envolvidas no processo de disponibilizar um produto ou serviço para uso ou consumo”. Entre as plantações de mandioca e o consumidor final atuam uma série de agentes que, por meio da transformação, embalagem, armazenamento ou simples transporte do produto, adicionam valor a ele a cada etapa da rede de entrega de valor. A Figura 5 ilustra as principais configurações dos canais observados na cadeia da farinha e fécula da mandioca:

Figura 5 – Configurações comuns dos canais de distribuição de farinha e fécula de mandioca

Fonte: Elaborado pelo autor.

produtor produtor / processador / Distribuidor

Consumidor final

processador / Distribuidor

Industria usuaria

Atacado

Feiras Livrespequeno varejo Super-mercados

Fécula Farinha

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Na cadeia da mandioca, em especial nas pequenas casas de farinha, os produtores freqüentemente plantam a própria mandioca para, posteriormente, utilizá-la como matéria-prima. Outros processadores, contudo, não estão envolvidos na mandiocultura, comprando o produto de diversos plantadores. É importante destacar a importância da proximidade entre as unidades de produção e as plantações, uma vez que o processamento deve ter início, no máximo, 24 horas após a colheita, para evitar a proliferação de microorganismos.

A instabilidade dos preços e da oferta de mandioca se configura como uma dificuldade relevante para as farinheiras e fecularias, quando não há verticalização da cadeia (qual seja, a integração das atividades de plantação e processamento pelo mesmo agente). Para garantir sua produção, muitas empresas têm optado por negociar contratos de longo prazo com os mandiocultores, estabelecendo quantidades e preços mínimos para o produto. Esta é uma política importante, que tende a ser adotada crescentemente, na medida em que o setor se profissionaliza e começa a visar o comércio exterior.

Uma vez processadas, farinha e fécula devem ser levadas até seus pontos de consumo, seja por indústrias ou por consumidores finais. Algumas vezes a produção e a primeira etapa da distribuição são realizadas pelo mesmo agente da cadeia produtiva (EMBRAPA MANDIOCA E FRUTICULTURA TROPICAL, 2007). Por exemplo, no caso da farinha, o produto pode ser vendido em feiras livres, supermercados ou varejos de bairro. A fécula, com mais freqüência, segue diretamente para as indústrias que a utilizam como insumo, principalmente no caso dos amidos modificados que exigem conhecimento especializado e vendas técnicas.

Conhecer o próximo elo da cadeia produtiva, ou seja, aquele que adquirirá seu produto é essencial, uma vez que todo o processo de embalagem, transporte e comercialização deverá ser adequado ao tipo de mercado a que o produto se destina.

O atacado é outro agente que participa com freqüência na distribuição dos derivados da mandioca. Algumas variações da fécula, como o polvilho azedo, a tapioca e o sagu, podem seguir por este caminho, mas a importância dos atacadistas é maior para os produtores de farinha que, muitas vezes, vendem seu produto a granel, sem colocar qualquer marca. Em outras ocasiões, o próprio fabricante desempenha o papel do atacadista, chegando diretamente aos pontos de venda no varejo. No caso de pequenos mercados e feiras livres, há presença intensa de casas de farinha atuando na informalidade, com produtos sem marca e de baixa qualidade, dificultando o acesso de empresas formalizadas a estes pontos de venda porque seus preços, quase obrigatoriamente, serão mais altos que os dos produtores informais (BARROS, 2004, p. 132).

Os supermercados precisam ser tratados à parte nas análises de varejo. A crescente concentração das redes varejistas em grandes grupos (muitas vezes, multinacionais) tem imposto mudanças significativas na distribuição dos produtos alimentícios no Brasil. Como parte das estratégias empreendidas pelos super e hipermercados visando reduzir a complexidade dos canais com os quais têm que lidar diariamente, estes mega-varejistas procuram cortar o número de intermediários,

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estabelecendo contratos diretamente com os processadores de farinha e mandioca. Com isso, reduzem os custos e aproveitam a escala oferecida pelo alto giro de suas mercadorias.

Por fim, vale mencionar as compras governamentais, realizadas fundamentalmente pela Companhia Nacional de Abastecimento – CONAB (BARROS, 2004, p. 132). O fato da mandioca e seus derivados constituírem elementos básicos da alimentação do brasileiro abre uma oportunidade de mercado para mandiocultores, farinheiras e fecularias. O governo, por meio do Ministério da Agricultura, fixa preços mínimos que podem ser bastante interessantes ao produtor, dependendo das oscilações dos valores vigentes no mercado.

5.8 Comunicação

A relativa homogeneidade dos produtos oriundos de fecularias e farinheiras dificultam a utilização das ferramentas habituais de comunicação. Somente a partir da exploração de características que destaquem um produtor dos demais será possível usar a comunicação de maneira mais sofisticada. Alguns exemplos de diferenciação na produção de fécula e farinha podem ser: farinhas especiais, temperadas ou de novas variedades de mandioca, féculas modificadas ou de qualidade controlada etc.

Os principais impulsionadores das vendas são o contato pessoal entre os agentes envolvidos na cadeia e a disponibilidade do produto diante das demandas. Entretanto, a comunicação não está de todo ausente na comercialização de fécula e farinha de mandioca. A seguir, encontram-se alguns exemplos de práticas de divulgação, fornecendo um conjunto de ações que poderiam ser aprofundadas e disseminadas entre os agentes dos estágios iniciais da cadeia da mandioca.

• A empresa Pantera (www.pantera.com.br), sediada na cidade de São Paulo, pode ser vista como uma empacotadora e distribuidora na cadeia da mandioca destinada ao uso industrial. Ela compra a farinha de mandioca de fornecedores selecionados, atribuindo ao produto sua própria marca, “Pantera”. Adicionalmente à colocação de sua marca, a empresa procura aprimorar a qualidade da farinha, processando-a em sistemas de descontaminação de metais e classificando-a devidamente para comercialização. Com isso, agrega ao produto um valor percebido e desejado por seus clientes, e divulga essa estratégia com campanhas publicitárias que reforçam sua marca perante seus mercados5.

• A Yoki Alimentos, empresa familiar que ganhou espaço significativo de mercado nos segmentos de cereais, farináceos e condimentos, atua de maneira diferenciada para seus dois públicos: o consumidor final e o cliente institucional. Sob a marca Yoki, comercializa (só na linha de derivados de mandioca) farinha de mandioca fina, grossa, bijusada e torrada, polvilho doce e azedo, sagu, tapioca e farofa pronta. Todos estes derivados da mandioca são apoiados pela grande força da marca, nacionalmente conhecida, e por sua

5 PANTERA ALIMENTOS. Site institucional. Disponível em: www.pantera.com.br. Acesso em: 10 jul. 2007.

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embalagem tradicional, semelhante a de seus outros produtos e facilmente identificável nos pontos de venda de auto-serviço (supermercados e outros). No mercado industrial atua sob a marca Indemil produzindo e comercializando amidos nativos e modificados. O site do grupo (www.yoki.com.br) apresenta, em cada uma de suas divisões (uma voltada ao consumidor final e outra ao cliente institucional), diferentes identidades visuais, ao mesmo tempo frisando a sinergia gerada pelas duas marcas e separando abordagens, qualidades, atributos e características de cada marca6.

• As associações públicas ou privadas exercem importante papel na divulgação das características e usos da mandioca e de seus derivados de mandioca:

- A ABAM assume a tarefa de prospecção de novos mercados e deapoio às campanhas mercadológicas de seus associados7;

- A EMBRAPA, além de apoiar a atividade por meio do financiamento e da realização de pesquisas, compartilha o conhecimento gerado com diversos setores da sociedade, aumentando a produção e o mercado da mandioca;

- O Sindicato das Indústrias de Mandioca do Paraná (SIMP)8 também participa dos sistemas representativos dos produtores e processadores da raiz.

Outros inúmeros órgãos poderiam ser aqui citados, demonstrando o espaço efetivo já estabelecido para o apoio na comunicação dos agentes envolvidos na cadeia da mandioca, porém os três acima citados exemplificam eficazmente o papel dessas instituições.

5.8.1 Eventos

Outro importante meio de contato entre produtores e compradores de diversos segmentos de mercado são as feiras de negócios. Em 2005, ocorreram 160 feiras de grande porte, movimento cerca de R$ 3,2 bilhões, segundo dados da União Brasileira dos Promotores de Feiras (UBRAFE). Alguns benefícios constatados na participação dos micro e pequenos produtores neste tipo de evento são9:

• Concentração. A união de diversos produtores é um atrativo para os clientes, que podem comparar com facilidade as diversas ofertas. Isso atrai um grande número de pessoas, cuja freqüência ainda pode ser potencializada pelos esforços de comunicação sobre o evento.

6 YOKI ALIMENTOS. Site institucional. Disponível em: www.yoki.com.br. Acesso em: 9 jul. 2007.

7 ABAM (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PRODUTORES DE AMIDO DE MANDIOCA). Site institucional. Disponível em: www.abam.com.br. Acesso em: 12 jul. 2007.

8 SIMP (SINDICATO DAS INDÚSTRIAS DE MANDIOCA DO PARANÁ). Site institucional. Disponível em: www.simp.org.br. Acesso em: 15 jul. 2007.

9 Baseado em: EXPOCACHAÇA. Site oficial do evento. Disponível em: www.expocachaca.com.br. Acesso em: 20 abr. 2007.

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• Avaliação de desempenho. Os produtores podem obter feedbacks imediatos sobre a aceitação de seus produtos. Modificações podem ser feitas com facilidade e rapidez.

• Interesse do público. Uma parte dos visitantes de uma feira já entra nela com a intenção de fechar negócios. Há uma predisposição positiva à busca de acordos comerciais.

• Estabelecimento de novos contatos. Importantes players do mercado costumam marcar presença em feiras, o que amplia a possibilidade de se desenvolver contatos que podem resultar em parcerias importantes para os produtores menores.

• Visão da competição. Estando ao lado de produtores concorrentes, é possível analisar as formas de competir, as práticas produtivas e as técnicas mercadológicas utilizadas por uma boa parte do setor.

Exemplos de eventos que podem representar oportunidades para os processadores de farinha e fécula de mandioca são:

• Congresso Brasileiro de Mandioca. Na sua 12ª edição, realizada em 2007 no pólo de Paranavaí, o evento se beneficiou de uma credibilidade consolidada, uma vez que dele participam, habitualmente, representantes das principais empresas processadoras de mandioca do país, além de pesquisadores de destaque na área. É um espaço rico de aprendizado e compartilhamento de informações. Evidentemente, serve como ponte de contato entre indústria e mercado, incentivando o comércio e incrementando os negócios de seus participantes. É interessante notar que a cidade-sede do congresso de 2007 realizou intensa campanha de marketing visando trazer o evento para o local. Não apenas conseguiu atingir seu objetivo, como fortaleceu a imagem do município como um dos principais pólos produtores do Brasil (FLASH..., 2005).

• Food Ingredients South America (Feira Internacional de Soluções e Tecnologia para a Indústria Alimentícia). Considerada como um dos maiores eventos do gênero, reúne fornecedores e fabricantes envolvidos na indústria alimentícia. Alguns associados da ABAM, como Cargill, Cassava, National Starch e Yoki/Indemil participaram da edição de 2005 com estandes próprios (ABAM..., 2005).

6. DIAGNóSTICO DO MERCADO DE FÉCULA E FARINHA DE MANDIOCA

A teoria administrativa e econômica propõe uma série de modelos que, quando aplicados, auxiliam na compreensão da situação atual e de cenários futuros de determinado setor ou organização. Após um mapeamento das principais tendências levantadas a partir de informações sobre o processamento e a comercialização da

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farinha e fécula de mandioca, serão aplicados dois modelos consagrados: a análise estrutural da indústria, conforme proposta por Michael Porter10 e a matriz PFOA.

6.1 Tendências para a cadeia de derivados da mandioca

6.1.1 Tendências para a farinha de mandioca

Nos últimos anos tem-se observado uma crescente profissionalização do setor de farinha de mandioca. As empresas vêm se tornando maiores, melhor organizadas e equipadas com máquinas que ampliam e aprimoram o processo produtivo. No entanto, a informalidade ainda é a grande marca da atividade farinheira, o que contribui, inclusive, para a dificuldade considerável para se obter números confiáveis sobre produção e consumo. Ao acompanhar este movimento de profissionalização, o pequeno empresário aumentará suas possibilidades de inserção neste mercado que se encontra bastante maduro e comoditizado.

Ignorar a possibilidade e o acesso às melhorias no processo produtivo e nos produtos finais, por outro lado, pode levar os micro e pequenos produtores a situações de perda de rentabilidade e até de risco de sobrevivência; o lucro, se houver, será muito baixo em função das margens cada vez mais reduzidas frente às novas demandas do mercado e à qualificação dos concorrentes de todos os portes.

Outra tendência observada no setor é a verticalização, compreendida como a integração (em geral, por uma única empresa), de várias etapas ao longo da cadeia produtiva da mandioca. No caso da farinha, os movimentos mais relevantes são as aproximações entre produtor e processador. Por vezes, é o mandiocultor que inicia atividades de processamento, agregando valor ao seu produto; em outras situações, o processador passa a produzir sua própria matéria-prima ou, alternativamente, a fechar parcerias com os agricultores, de maneira a melhorar seus custos, garantir o fornecimento no padrão de qualidade e no volume especificado, e aumentar suas margens. Este movimento de verticalização, seja contratual ou corporativa, tende a reduzir os custos de transação e a favorecer os agentes participantes da cadeia.

Por fim, uma terceira tendência importante resulta da crescente pressão das instituições (públicas e privadas) ligadas ao setor. O uso mais amplo da farinha de mandioca como matéria-prima de alimentos industrializados vem sendo estimulado, muitas vezes com apoio governamental. A criação de uma câmara setorial para estudar as melhores alternativas em relação às políticas públicas é um exemplo deste esforço cada vez mais organizado e articulado entre associações representativas, políticos e pesquisadores.

10 PORTER, Michael. Estratégia Competitiva: técnicas para análise de indústrias e da concorrência. Rio de Janeiro: Campus, 1986.

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6.1.2 Tendências para a fécula de mandioca

O amplo desenvolvimento nos campos da biotecnologia representa uma das tendências mais significativas para a economia atual. Seu alcance generalizado influenciará os mais diversos setores, gerando novas perspectivas econômicas, sanitárias, médicas e ecológicas. A versatilidade da fécula de mandioca coloca-a como importante objeto de estudo nesse campo. É provável que novos desenvolvimentos de aplicações e modificações do amido venham a expandir ainda mais suas possibilidades de utilização.

Outra tendência observada é o maior investimento na criação de fecularias, muitas das quais se localizam afastadas dos tradicionais pólos produtores desse derivado da mandioca. A maior exposição de alguns estados, como Goiás e Mato Grosso do Sul, se dá justamente em função deste crescimento da capacidade produtiva.

Uma terceira tendência, esta relacionada ao mercado externo, é a gradativa redução que alguns países como a Tailândia devem observar em suas participações nas vendas globais. Isto tende a acontecer porque uma parte da produção da raiz antes voltada para a fabricação da fécula deverá ser redirecionada às usinas de biocombustível. Cria-se, dessa forma, um espaço maior para a circulação internacional da fécula. No entanto, o Brasil encontra-se em desvantagem perante outros competidores internacionais, uma vez que sua moeda valorizada reduz a competitividade das empresas instaladas no país.

6.2 Análise estrutural da indústria

Porter chama de indústria um grupo de empresas fabricantes de produtos próximos entre si (ou seja, o que, no Brasil, é comumente chamado de “setor de atividade”). Segundo o autor, indústrias diferentes possuem estruturas distintas, que são determinantes para as condições de competitividade que as empresas a elas pertencentes enfrentarão, assim como são determinantes para suas perspectivas de lucratividade.

A estrutura proposta por Porter pode ser mais bem compreendida ao se estudar as cinco forças competitivas que a compõem. Caso todas sejam favoráveis, torna-se possível para um grande número de empresas atuarem nessa indústria (nesse setor) de maneira lucrativa. Porém, se uma ou algumas forças forem demasiadamente intensas e/ou desfavoráveis, podem restringir as chances de êxito de boa parte dos players dessa indústria.

O foco desta análise será a da mandioca destinada ao mercado industrial, com ênfase nas etapas de processamento e de comercialização da farinha e da fécula de mandioca.

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6.2.1 Ameaça de novos entrantes

Esta força se refere à possibilidade da entrada de novos concorrentes na indústria estudada. A produção de farinha e fécula é processo razoavelmente simples (em especial, o da farinha), o que implica em baixas barreiras de entrada e, conseqüentemente, uma ameaça considerável para os atuais produtores, em termos de excesso de oferta (inclusive informal) e queda nos preços, mesmo locais.

Uma forma tradicional para dificultar o aumento excessivo da competição em um setor é tentar desenvolver aspectos diferenciados ao longo da cadeia produtiva, desde a produção, em si, até a venda do produto. A credibilidade e a reputação de quem fabrica, vende ou “dá nome” ao produto (ou seja, coloca sua marca, como no caso relatado da empresa Pantera) tornam-se diferenciais intangíveis essenciais para garantir, no longo prazo, a sustentabilidade e a vitalidade dos negócios já existentes.

Deve-se tentar criar, como se diz no jargão econômico, “custos de mudança” para o cliente, ou seja, ganhar a fidelidade do cliente por lhe garantir segurança no fornecimento, na qualidade, nos preços, tudo isso em razão da confiança gerada pela marca do produto. Portanto, a criação de marcas fortes, com preços competitivos, garantia de entrega e apoiadas em produtos de qualidade excelente são alguns dos fatores para se utilizar esta estratégia.

É importante lembrar que, nas situações de crise que ocorreram nesse mercado em anos recentes (preço elevado e/ou falta de oferta de produtos), os compradores (eminentemente industriais) rapidamente buscaram alternativas de fornecimento fora do país, importando o amido de mandioca em quantidades muito superiores às que adquiriam até então. Isto significa que as barreiras para o mercado estrangeiro também não são altas; por ser o amido uma commodity, dependendo da conjuntura econômica nacional e internacional, a ameaça de novos entrantes também pode vir do exterior.

6.2.2 Ameaça de produtos substitutos

Esta é uma força altamente significativa no caso da fécula de mandioca. A possibilidade de se usar amido de milho ou outros compostos de modo praticamente intercambiável com a fécula de mandioca torna esta ameaça particularmente perigosa. Essa possibilidade de fácil substituição torna bastante alta a elasticidade-preço do amido de mandioca (ou seja, a sensibilidade do mercado às oscilações nos preços cobrados). Assim, pequenos aumentos de preço podem ocasionar reduções dramáticas na venda do produto, forçando seus produtores, algumas vezes, até a operar abaixo dos custos de produção, devido à perecibilidade do produto.

A farinha de mandioca também sofre com esta ameaça, uma vez que outros alimentos podem substituí-la; contudo, o hábito alimentar já consolidado dos consumidores conta a favor do produto.

A contrapartida da ameaça de novos entrantes pode ser vislumbrada por meio da inversão dos papéis, assumindo-se que a fécula de mandioca passe a avançar no mercado industrial como substituta com características superiores a outros amidos,

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em particular, o de milho. Portanto, diversos mercados em que hoje predomina o amido de milho podem ser vistos como oportunidades de negócio para as fecularias, desde que as características do produto sejam adequadas à aplicação em questão. No caso de empresas de micro e pequeno porte, é essencial que atuem em conjunto, para poder gerar uma oferta que atenda aos clientes industriais em termos de suas expectativas em relação a quantidade, qualidade, regularidade de entrega e preço competitivo do produto.

É essencial, portanto, que o empreendedor que participa da cadeia produtiva da mandioca conheça muito bem seus principais substitutos e acompanhe os movimentos econômicos desses mercados com a mesma atenção com que acompanha seu próprio setor. Preços, qualidade e quantidade das safras, entrada de novos produtores, inovações tecnológicas e desenvolvimento de novas variedades, entre outros pontos, devem ser monitorados de perto, para que as atividades desenvolvidas pelos agentes da cadeia da mandioca estejam apoiadas em fundamentos seguros.

6.2.3 Poder de barganha dos fornecedores

Esta força diz respeito ao poder que os fornecedores possuem nas negociações junto às empresas do setor. Dado o grande número de pequenos produtores da mandioca, as empresas de fécula e farinha podem facilmente mudar de fornecedores, o que atesta o baixo poder de barganha dos produtores. No entanto, o mercado da raiz, como mencionado anteriormente, sofre certa instabilidade na quantidade e preço oferecidos (até em razão das épocas de safra e entressafra), reduzindo ligeiramente o poder de barganha dos processadores, que precisam garantir o fornecimento permanente da matéria-prima sob pena de ter que parar temporariamente suas atividades.

Assim, quando há escassez da matéria-prima (a raiz da mandioca), os plantadores têm seu poder de barganha aumentado, pois poderão escolher seus clientes com base nas melhores ofertas. Adicionalmente, há uma interdependência entre os mercados de fécula e de farinha (BARROS, 2004, , p. 246): ambos competem pelo acesso à raiz, o que, em casos de escassez, ocasiona maior aumento de preço e uma disputa mais intensa entre os processadores.

Quanto aos equipamentos necessários à produção, em geral não são caros, principalmente quando comparados à maquinaria essencial a outros processos de industrialização de alimentos. Além disso, há diversas empresas que os fabricam, diluindo o poder de barganha destas organizações.

6.2.4 Poder de barganha dos compradores

As condições com que os compradores entram no processo de negociação também podem representar ameaças à lucratividade de um setor. Para a farinha, os canais de escoamento do produto são razoavelmente acessíveis, com exceção dos supermercados, cada vez mais concentrados e poderosos, conforme já explorado

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neste relatório. Portanto, a maior ameaça para as farinheiras que pretendem trabalhar com grande pulverização da distribuição é a entrada nestes canais; para conseguir esse ingresso, muitas vezes são submetidas a condições comerciais pouco vantajosas para o produtor.

A fécula, predominantemente comercializada em mercados industriais, defronta-se com compradores em número substancialmente menor e de maior porte; portanto, são agentes com maior poder de barganha. Por outro lado, as potencialidades da fécula para compor diversos processos produtivos (como na fabricação de embutidos, por exemplo) reduzem bastante este poder: determinados agentes (indústrias) aceitam pagar sobre-preços de até 20% na fécula de mandioca em relação a seus substitutos, em razão das vantagens únicas e dos atributos que seu uso proporciona (ARIENTE et al, 2005, p. 57).

6.2.5 Rivalidade entre competidores existentes

Apesar de concorrerem entre si, as empresas de micro, pequeno e grande porte diferem muito na maneira como se colocam no mercado como um todo. Os grandes players visam vender aos compradores institucionais igualmente poderosos; os volumes transacionados são significativos e os contratos celebrados tendem a ser mais rígidos e formais.

Já as pequenas casas de farinha ou fecularias trabalham predominantemente com fabricantes ou canais de porte médio a pequeno, com base em transações pontuais e, muitas vezes, pautadas pela informalidade. Ao contrário do mercado de grandes volumes, cujas oportunidades de diferenciação constituem boas fontes competitivas, é o preço que estabelece a principal dinâmica da concorrência dos produtores menores.

O grande número de competidores no setor (estimulado pelas baixas barreiras de entrada e pela aparente simplicidade do processo produtivo) pode acarretar dificuldades na manutenção de relações comerciais estáveis e de longa duração. Para tentar preservar essas relações sempre ameaçadas por outros concorrentes, os produtores devem ter atenção redobrada em relação a cumprimento de prazos, padrões de qualidade, quantidades de mercadoria e estabilidade de preços, considerados fatores críticos para o sucesso na indústria.

A Figura 6 resume os principais aspectos ligados à estrutura da indústria dos derivados de mandioca.

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Figura 6 – Forças competitivas para a indústria de derivados de mandioca

Fonte: elaborado pelo autor.

6.3 Análise pFOA

Uma das mais tradicionais matrizes de diagnóstico empresarial, a PFOA (também conhecida como SWOT – strenghts, weaknesses, opportunities and threaths, no original em inglês) reúne os principais aspectos ligados ao negócio, tanto internos quanto externos à organização analisada. A sigla se refere a Potencialidades e Fraquezas (fatores internos à empresa, positivos ou negativos) e Oportunidades e Ameaças (fatores externos à empresa, que podem lhe abrir perspectivas de crescimento e/ou lucratividade ou até colocar em risco sua sobrevivência).

Para a finalidade deste relatório, o foco da análise não foi centrado e, nenhuma empresa específica, mas na mandiocultura e, mais especificamente, no setor de farinha e fécula de mandioca. É importante observar que a aplicação setorial da PFOA para cada micro ou pequena empresa exigirá adequações, como a redefinição dos critérios de separação de Potencialidades/Fragilidades e Oportunidades/Ameaças. Os aspectos aqui sintetizados na PFOA foram detalhadamente tratados ao longo dos capítulos anteriores deste relatório.

Rivalidade- Concorrência diferente

entre pequenos produtores (foco em preços) e

grandes produtores (foco em diferenciação)

Ameaça de substitutos- Outras farinhas

- Amido de milho ou de babata são quase

intercambíveis

Ameaça de novos entrantes

- Baixos inverstimentos- Importação de fécula em

caso de escassez

poder de barganha dos fornecedores

-Baixa, devido ao grande número de pequenos

produtore de mandioca

poder de Barganha dos Compradores

- Atenção à concentração de supermercados e usuários

de amido

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Tabela 20 – Matriz PFOA para o setor de fécula e farinha de mandioca

pOTENCIALIDADES

• Hábito consolidado de consumo de farinha por parte do brasileiro

• Facilidade de cultivo da mandioca• Versatilidade nas aplicações industriais da fécula,

devido a suas características físico-químicas• Alta produtividade comparada a outras culturas

FRAGILIDADES

• Baixas margens• Baixo investimento em melhoria de

produtividade e qualidade• Falta de padronização da qualidade dos

produtos

OpORTUNIDADES

• Desenvolvimento de APL’s estruturados• Fortalecimento das instituições de apoio• Mercado internacional de fécula de mandioca• Uso de cultivares adequados a cada finalidade• Pesquisas tecnológicas envolvendo novas

modificações do amido, inclusive com ênfase em processos naturais

• Verticalização da cadeia produtiva

AMEAÇAS

• Crescente poder de barganha das redes varejistas

• O comportamento do consumidor torna a demanda da farinha inelástica

• Falta de articulação da cadeia produtiva• Fácil substituição no consumo dos derivados

de mandioca• Oscilações significativas dos preços

independente do controle dos produtores e processadores

Fonte: elaborado pelo autor.

6.3.1 Potencialidades

• Hábito consolidado de consumo de farinha por parte do brasileiro. Presente no território brasileiro mesmo antes do Descobrimento, a farinha de mandioca figura como alimento essencial para uma grande parte da população. É a mais popular fonte de carboidrato entre as famílias de menor poder aquisitivo, dada à facilidade de produção e ao baixo custo em relação a outros alimentos. Diversos pratos típicos utilizam-na como ingrediente. É possível aproveitar esta força histórico-cultural para sustentar os níveis de consumo e até aumentar a participação da farinha de mandioca na alimentação do brasileiro.

• Facilidade de cultivo da mandioca. Tida como cultura rústica, a mandioca é uma planta altamente resistente a pragas e estiagens (apesar de ambas prejudicarem seu pleno desenvolvimento). Não exige tecnologias avançadas para plantio ou colheita. Por estas características, é denominada cultura “de quintal” e sua disseminação é importante para o fornecimento de matéria-prima para a produção de farinha e fécula.

• Versatilidade nas aplicações industriais da fécula, devido a suas características físico-químicas. Há diversos usos já conhecidos para a fécula de mandioca, tanto na indústria alimentícia quanto na têxtil e de papel, entre outras. As

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características do produto conferem-lhe vantagens em alguns dos processos produtivos, justificando até o pagamento de sobre-preços por parte dos usuários, em relação a outros amidos. A fécula de mandioca é incolor e insípida, com boa viscosidade e elevada capacidade espessante.

• Alta produtividade comparada a outras culturas. A decisão de se plantar mandioca em vez de outras plantas para alimentação pode passar pela comparação dos níveis de produtividade: as limitações no tamanho das pequenas propriedades rurais podem incentivar a adoção daquela cultura gerando maior quantidade de alimento por área.

6.3.2 Fragilidades

• Baixas margens. Por serem produtos com baixo valor agregado, a fécula e principalmente a farinha de mandioca acabam obtendo baixas margens pagas sobre os custos de produção. Este fato pressiona a adoção de práticas que visem aumentar a escala, o que muitas vezes não é possível para os pequenos produtores.

• Baixo investimento em melhoria de produtividade e qualidade. Como conseqüência das baixas margens, não há recursos disponíveis para melhorar os índices de produtividade por meio da adoção de tecnologias mais avançadas. Também a qualidade dos produtos finais fica comprometida, dada a precariedade dos equipamentos utilizados nos sistemas de produção mais rústicos. Problemas como este desqualificam a entrada dos produtos brasileiros no mercado internacional.

• Falta de padronização da qualidade dos produtos. A não-adoção de práticas comprovadamente superiores no processo produtivo, em especial no caso da farinha de mandioca, pode gerar produtos em desacordo com as normas técnicas de segurança alimentar. Além disso, a cuidadosa classificação dos produtos é essencial para o crescimento e consolidação do consumo, pois é fator importante na etapa de comercialização.

6.3.3 Oportunidades

• Desenvolvimento de APL’s estruturados. A criação e o estímulo ao crescimento de Arranjos Produtivos Locais podem representar uma grande oportunidade para o desenvolvimento de todos os agentes envolvidos na cadeia industrial da mandioca. Para os produtores, o APL proporciona um apoio institucional determinante para seu sucesso; os processadores desfrutam da proximidade de seus fornecedores e podem trabalhar em conjunto com estes no desenvolvimento de melhores práticas de cultivo; a comercialização do produto pode ser facilitada pela melhoria da reputação do local, entre outras vantagens.

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• Fortalecimento das instituições de apoio. A existência de entidades como a Associação Brasileira de Produtores de Amido de Mandioca (ABAM), o Instituto Agronômico de Campinas (IAC), a Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical, o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA) e o Serviço Brasileiro de Apoio a Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), entre outros, é fundamental para o desenvolvimento da cadeia.

• Mercado internacional de fécula de mandioca. Alterações recentes nas regras de comercialização internacional do amido de mandioca têm criado novas oportunidades para exportação. Multiplicam-se as aplicações conhecidas, a demanda por parte dos países importadores e as possibilidades de modificações no amido que agregam valor ao produto e o diferencia em mercados mais exigentes.

• Uso de cultivares adequados a cada finalidade. O importante trabalho de pesquisa e desenvolvimento de novos cultivares, adequados a climas e usos específicos, deve chegar às propriedades rurais, de forma a que estas possam incorporar os resultados das pesquisas em seu processo produtivo e, dessa forma, obter um produto de melhor qualidade e rendimento.

• Pesquisas tecnológicas envolvendo novas modificações do amido, inclusive com ênfase em processos naturais. A crescente preocupação do mercado consumidor com aspectos relacionados à saúde tem alterado significativamente os hábitos de consumo de alimentos. Isto se reflete na procura cada vez maior por frutas e verduras orgânicas e também por produtos industrializados que contenham menos sal, gordura, conservantes e corantes. Pesquisas que dêem preferência às modificações por meios físicos em vez de utilizar componentes químicos podem se aproveitar estas mudanças, oferecendo à indústria ingredientes que contribuam para a criação de produtos mais naturais e, portanto, mais atrativos para este novo perfil de consumo.

• Verticalização da cadeia. A busca por melhor integração da cadeia da mandioca só tem a contribuir para o resultado obtido por todos os agentes nela envolvidos. O fortalecimento de produtores, processadores e distribuidores aumenta a competitividade da rede e a coloca em melhor posição de barganha, tanto interna quanto externamente ao país. Os contratos de longo prazo são uma das formas freqüentemente usadas para integrar os elos da cadeia, gerando maior previsibilidade, cooperação e retorno, ou seja, garantindo a estabilidade que é fundamental para a consolidação de uma indústria.

6.3.4 Ameaças

• Crescente poder de barganha das redes varejistas. Cada vez mais concentrados e poderosos, os supermercados impõem crescentes obstáculos aos pequenos produtores de farinha e fécula, especialmente na forma de

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precificação inadequada frentes aos custos de produção destes. O resultado é o acesso dificultado entre os produtores e os consumidores, principalmente os de renda mais elevada. A necessidade de escala se intensifica devido a esta ameaça.

• O comportamento do consumidor torna inelástica a demanda da farinha. Quando há escassez de matéria-prima, as farinheiras reduzem a produção e aumentam os preços. Por conta dos hábitos consolidados de consumo da farinha, há uma tendência de menor queda na quantidade demandada e de maior aumento de preços, resultando em prejuízo aos consumidores. Nos períodos de oferta excessiva e preços baixos, o consumo não cresce no mesmo ritmo, gerando prejuízo aos processadores. Novamente, a falta de estabilidade não incentiva novos investimentos e diminui as margens dos participantes da indústria.

• Falta de articulação da cadeia produtiva. Atualmente, os compromissos estáveis entre os elos da cadeia produtiva ainda são reduzidos. O comportamento do gênero “cada um por si” impossibilita o aproveitamento de sinergias e o crescimento cooperado.

• Fácil substituição no consumo dos derivados de mandioca. A farinha de mandioca teve uma diminuição no seu consumo desde a década de 70, dado o crescimento da participação de outras massas, como o macarrão, na alimentação básica do brasileiro. Já a fécula tem um forte concorrente substituto: o amido de milho. Em períodos de altos preços, as indústrias rapidamente mudam a sua matéria-prima, com necessidades mínimas de ajuste nos processos produtivos.

• Oscilações significativas dos custos do insumo principal. A raiz de mandioca apresenta variações muito amplas no seu preço, por ser uma commodity, o que dificulta a atuação dos processadores de derivados. A falta de previsibilidade na determinação dos custos prejudica os esforços de planejamento e desestimulam a entrada de novos players no setor.

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7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise setorial aqui realizada revela a importância da mandiocultura no Brasil. A cadeia formada a partir desta raiz, historicamente cultivada, e ligada de maneira muito forte com os hábitos e costumes do brasileiro, contempla desde produtos simples, como a mandioca in natura ou minimamente processada, até produtos de alto valor agregado, como os amidos modificados. A aplicação ampla dos derivados em indústrias variadas torna as oportunidades numerosas e vantajosas, caso sejam bem estudadas e desenvolvam-se estratégias adequadas a cada situação.

A indústria da farinha e da fécula de mandioca deverá enfrentar desafios relevantes, caso queira aproveitar todo o potencial que a natureza destes produtos oferece a seus usuários. O desenvolvimento tecnológico é uma das áreas que deve receber maior atenção por parte dos processadores, na forma de adoção de máquinas mais eficientes e que possibilitem a obtenção de produtos de melhor qualidade. A produtividade está estreitamente ligada à competitividade dos agentes da cadeia.

Outra preocupação que deve ser trabalhada entre todos os agentes envolvidos na produção e comercialização de farinha e fécula é a estabilização dos preços. Oscilações abruptas e freqüentes no custo da matéria-prima afetam as condições de planejamento e maximização dos retornos dos investimentos. O resultado são farinheiras e fecularias que precisam lidar constantemente com ociosidade e prejuízo. O fortalecimento da cadeia, por meio de trabalhos cooperativos entre seus diversos elos, vem aprimorar os resultados obtidos pela rede como um todo.

Os micro e pequenos produtores e processadores precisam ser apoiados em suas atividades para sobreviver e crescer frente às mudanças que o setor vem sofrendo. Esse apoio tem forte motivação social, uma vez que a mandiocultura representa o principal meio de sustento para milhares de famílias. Além disso, a mandioca constitui fonte privilegiada de alimentação dado seu baixo preço e alta concentração de carboidratos.

Porém, não se pode restringir a cadeia da mandioca a apenas uma forma de subsistência por parte de seus atores; ela pode, como já comprovado nos maiores pólos produtores, ser responsável pelo desenvolvimento econômico de toda uma região, por vezes até marcada pela inserção internacional de suas empresas. Neste contexto, micro e pequenos empresários têm seu papel a desempenhar e, com o apoio adequado, têm condições de contribuir significativamente para a prosperidade do país.

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9. ESpECIALISTAS pARA CONTATO

Durante a pesquisa documental realizada, alguns nomes ligados ao setor apareceram de maneira mais freqüente. Abaixo, encontram-se os nomes de cinco especialistas na indústria de mandioca e derivados, acompanhados de suas principais atividades. Suas produções bibliográficas, entrevistas e atuação no setor indicam uma visão detalhada e precisa sobre a mandiocultura, o que os torna importantes fontes de consulta para pesquisas futuras.

Carlos Estevão Leite Cardoso – pesquisador da Embrapa e pesquisador convidado do CEPEA (ESALQ/USP). Pesquisa prioritariamente o mercado de mandioca e derivados, além de gestão de cadeias agroindustriais.

Ivo Pierin Júnior – Fundador e proprietário da empresa Podium Alimentos, no Paraná. Ocupa atualmente o cargo de presidente da ABAM.

Methodio Groxko – Economista, técnico da Secretaria de Agricultura e do Abastecimento do Paraná/ Departamento de Economia Rural (SEAB/DERAL). Tem sido interlocutor entre diversos setores ligados à mandiocultura.

Nivaldo Peroni – Engenheiro agrônomo, atualmente desenvolve pesquisas na Universidade Federal de Santa Catarina, com ênfase em genética e ecologia. A mandioca está entre os temas pesquisados por ele.

Olivier Francois Vilpoux – Professor pesquisador da Universidade Católica Dom Bosco, onde desenvolve um grande número de investigações envolvendo a mandioca e seus derivados.

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10. GLOSSÁRIO

ABAM: Associação Brasileira de Produtores de Amido de Mandioca.

Ácido cianídrico (HCN): mesmo que cianeto de hidrogênio. Composto químico encontrado na mandioca, em maiores ou menores proporções, gerando seu potencial tóxico. É eliminado (quase totalmente, no caso das mandiocas mansas) pelo cozimento da raiz.

Amido (nativo e modificado): polissacarídeo sintetizado em estruturas vegetais. A fécula é denominação mais restrita do amido, aplicável apenas aos produtos derivados de tubérculos ou raízes. Amidos podem ser comercializados de duas maneiras: o amido nativo (da forma como é extraído, por processos mecânicos) ou modificado (que sofre alterações em suas características, acrescentando-lhe propriedades específicas para cada aplicação).

ANVISA: Agência Nacional de Vigilância Sanitária.

Arranjos produtivos Locais (ApL): aqui assumido como sinônimo de cluster, refere-se a uma concentração geográfica de empresas dedicadas a um setor específico.

Beneficiamento: processos pelos quais passam certos produtos agrícolas, antes da industrialização ou comercialização.

Cadeia produtiva: concepção da produção de bens como um sistema em que as atividades de diversos atores são interdependentes.

Carboidrato: substância orgânica relacionada ao armazenamento energético. É um dos elementos essenciais na alimentação humana.

Casas de farinha e farinheiras: estabelecimentos dedicados à produção de farinha. “Casas de farinha” geralmente se refere a empreendimentos de pequeno porte, em contraste com as grandes farinheiras.

CEASA: Central de Abastecimento S.A., importante atacadista de produtos hortifruti.

CEpEA: Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, ligado à Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ/USP).

CIAT: Centro Internacional de Agricultura Tropical, sediado em Cali, na Colômbia.

Cluster: ver “Arranjos Produtivos Locais”.

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Commodity: bem homogêneo em estado bruto, geralmente produzido e comercializado em escala mundial.

Conab: Companhia Nacional de Abastecimento.

Concorrência perfeita: estrutura de mercado na qual os seus atores são muito numerosos, homogêneos e equilibrados,

CTM: Centro de Tecnologia em Mandioca, unidade de apoio e pesquisa da mandiocultura, ligada à Embrapa na Bahia (Cruz das Almas).

Cultivar: variedades da planta. Exemplos de cultivares de banana são: Prata, Caipira, Ouro, Nanica, Grande Naine.

Cultura rústica (ou de quintal): plantações que não necessitam de cuidados muito sofisticados e, devido à facilidade de seu cultivo, encontra-se bastante disseminado em lavouras de pequeno porte, destinadas ao consumo próprio.

Diagnóstico Setorial: análise das condições econômicas e competitivas de um determinado setor.

Economia de escala: redução dos custos unitários em função da quantidade produzida. Quanto maior o volume de produção, maiores os descontos.

Embrapa: Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, instituição pública ligada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

Espessantes: substâncias utilizadas para engrossar misturas, em especial na indústria alimentícia.

FAO: Food and Agriculture Organization, órgão da ONU dedicado a estudos e ações relativos à alimentação.

Farinha de mandioca: principal derivado da mandioca no Brasil, é o produto obtido pela trituração e secagem da raiz. Pode ser classificada em grupo, subgrupo, classe e tipo, dependendo do processo produtivo e de suas características finais.

Fécula de mandioca: carboidrato extraído da raiz da mandioca. Sua aparência é de um pó branco inodoro e sem sabor, utilizado em diversas indústrias para variadas aplicações. Féculas são amidos gerados de tubérculos ou raízes.

Fecularias: estabelecimentos dedicados à produção da fécula.

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Forças competitivas de porter: modelo de análise setorial criada por Michael Porter. Identifica cinco forças que determinam a estrutura de uma indústria, diagnosticando as principais dificuldades encontradas pelas empresas dela participantes.

Germoplasma: recurso genético utilizado para a pesquisa em geral, e especialmente para programas de melhoramento genético.

Granulometria: especificação do tamanho das partículas, neste caso, constitutivas da farinha de mandioca.

Hibridização: cruzamento de espécies diferentes de planta.

IAC: Instituto Agronômico de Campinas.

IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

In natura: comercializada sem ou com um mínimo de processamento. Aplica-se comumente, no caso da mandiocultura, à raiz fresca ou seca.

Leis fitossanitárias: regulamentações que dizem respeito as condições sanitárias de produtos extraídos de plantas.

Mandiocas bravas: variedades que contêm altos níveis de cianogênicos, tornando-as tóxicas quando consumidas in natura.

Mandiocas Mansas (de mesa ou doces): variedades com baixo nível cianogênico, o que as tornam propícias ao uso in natura. Deve-se observar que, mesmo assim, é necessário o cozimento da raiz para se eliminar o HCN.

Manipueira: líquido gerado a partir do processo produtivo da fécula de mandioca. É tóxico e poluente, o que exige tratamento adequado antes do seu descarte.

Matriz pFOA (SWOT): modelo de análise de uma empresa. Lista as forças, fraquezas, ameaças e oportunidades de uma organização.

Melhoramento genético: pesquisa cuja finalidade é a criação de variedades para cultivo superiores em determinados aspectos, como valor nutritivo, resistência a pragas, sabor ou durabilidade.

Oligopólio: estrutura de mercado na qual apenas algumas empresas competem entre si, com significativas barreiras de entrada para novos concorrentes.

OMC: Organização Mundial do Comércio, entidade supranacional dedicada à regulação das relações comerciais internacionais.

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player: participantes de um determinado setor, tipicamente os competidores.

poder de barganha: força na negociação.

pOF: Pesquisa de Orçamento Familiar, levantamento realizado pelo IBGE.

produto substituto: produto que satisfaz a mesma necessidade de outro, porém com formas materiais distintas.

pubagem: processo de fermentação, pelo qual passa a farinha d’água.

SIMp: Sindicato de Indústrias de Mandioca do Paraná.

UE: União Européia.

Valor agregado: conjunto de valores adicionados ao preço de um produto, em função de benefícios agregado.

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11. ANEXOS

Texto integral da Portaria n° 554, de 30 de agosto de 1995.

PORTARIA nº 554, de 30 de Agosto de 1995

O Ministro de Estado da Agricultura, do Abastecimento e da Reforma Agrária, no uso das atribuições que lhe confere o artigo 87, Parágrafo único, II da Constituição da República, tendo em vista o disposto na Lei nº 6.305, de 15 de dezembro de 1975, e no Decreto nº 2.110, de 14 de agosto de 1978, e

Considerando a necessidade de serem estabelecidas novas especificações para a Padronização e Classificação da Farinha de Mandioca, destinada à comercialização no mercado interno, RESOLVE:

Art. 1º - Aprovar a anexa Norma de Identidade, Qualidade, Acondicionamento, Armazenamento e Transporte da Farinha de Mandioca, para fins de comercialização.

Art. 2º - Esta Portaria entra em vigor quinze dias após a sua publicação, quando ficará revogada à Portaria nº 244, de 26 de outubro de 1981, deste Ministério.

JOSÉ EDUARDO DE ANDRADE VIEIRA

(Publicada no D.O.U - de 01/09/95.)

NORMA DE IDENTIDADE, QUALIDADE, APRESENTAÇÃO, EMBALAGEM, ARMAZENAMENTO E TRANSPORTE DA FARINHA DE MANDIOCA

1 OBJETIVOA presente Norma tem por objetivo definir as características de identidade, qualidade, apresentação, embalagem, armazenamento e transporte da farinha de mandioca, para fins de comercialização interna.

2 DEFINIÇÃO DO PRODUTOEntende-se por farinha de mandioca, o produto obtido de raízes provenientes de plantas da Farinha Euforbiácea, gênero Manihot, submetidas a processo tecnológico adequado de fabricação e beneficiamento.

3 CONCEITOPara efeito desta Norma, considera-se:

3.1 AcidezÉ o percentual de ácidos orgânicos, encontrados na farinha de mandioca.

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3.2 AmidoGrânulos translúcidos, característicos da raiz de mandioca, constituídos de carboidratos, sendo este a substância básica do produto.

3.3 CascaPelícula que envolve a entrecasca.

3.4 CinzaResíduo mineral fixo, resultante da incineração da amostra do produto.

3.5 Cilindro Central (polpa)Raiz de mandioca desprovida da casca e entrecasca.

3.6 Cepa ou FibraFeixe lenhoso da raiz de mandioca, proveniente da inserção (ligação) entre a raiz e o caule da planta.

3.7 ColoraçãoCor uniforme e característica do produto, variando segundo a qualidade e a variedade da planta, e a tecnologia de fabricação.

3.8 ConglomeradoAglutinação irregular, ocasionada pela gelatinização do amido, quando submetido à temperatura acima de 70% C, em qualquer parte do processo de fabricação da farinha de mandioca, e que não se desfaz quando comprimido manualmente.

3.9 DesidrataçãoRetirada do excesso de água da massa de mandioca.

3.10 EntrecascaCamada protetora da raiz de mandioca, situada entre a casca e o cilindro central.

3.11 Farinha BeneficiadaProduto de granulação uniforme, obtido da trituração da farinha seca, podendo ou não ser torrada, sofrer mudança de coloração e granulometria.

3.12 FiapoFio tênue, oriundo da nervura central da raiz de mandioca, podendo ter ramificações.

3.13 GelatinizaçãoTransformação que ocorre no amido contido na massa de mandioca úmida, quando submetida a ação da temperatura acima de 70ºC.

3.14 Impureza

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Material proveniente da raiz de mandioca, tais como: cascas, cepas ou fibras, raspas, fiapos, pontos pretos e entrecascas.

3.15 MandiocaNome popular da raiz da planta da família Euforbiácea e do gênero Manihot.

3.16 MaceraçãoProcesso utilizado para obtenção da farinha d’água, onde as raízes, com ou sem casca são submersas em água.

3.17 Matérias EstranhasTodo material não proveniente da raiz de mandioca, tais como: partículas metálicas, argila, areia, sujidades, insetos mortos, pêlos de roedores, e outros.

3.18 Odor e Sabor EstranhosCheiro e sabor não característicos do produto.

3.19 Odor e Sabor CaracterísticosCheiro e sabor característicos do produto.

3.20 PóProduto amiláceo resultante da fabricação ou beneficiamento da farinha de mandioca seca, que vaza na peneira nº 200.

3.21 Pontos PretosResíduos triturados de cascas e entrecascas da raiz de mandioca, ou as partículas da farinha de mandioca queimada durante a secagem do produto.

3.22 RaspasPedaços ou fragmentos do cilindro central da raiz de mandioca mal moída.

3.23 SecagemDesidratação artificial da massa ralada e prensada à temperatura superior a 50º C.

3.24 TorraçãoDesidratação artificial, tornando o produto tostado (levemente queimado ou muito seco).

3.25 UmidadePercentual de água contida na amostra de farinha de mandioca, em seu estado natural.

4 CLASSIFICAÇÃO

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A farinha de mandioca será classificada em grupo, subgrupo, classe e tipo, de acordo com o processo tecnológico de fabricação utilizado, sua granulometria, sua coloração e sua qualidade, respectivamente.

4.1 GrupoA farinha de mandioca, segundo a tecnologia de fabricação utilizada, será classificada em 03 (três) grupos:

4.1.1 Farinha de Mandioca D’águaÉ o produto obtido das raízes de mandioca sadias, devidamente limpas, maceradas, descascadas, trituradas (moídas), prensadas, desmembradas, peneiradas, secas à temperatura moderada, podendo ser novamente peneirada ou não.

4.1.2 Farinha de Mandioca MistaÉ o produto obtido mediante a mistura, antes da prensagem, da massa de mandioca ralada com a massa de mandioca fermentada, na proporção de 75 a 80% da primeira massa e 20 a 25% da segunda, de acordo com a preferência do mercado consumidor, seguindo após a mistura das massas, o processo tecnológico da farinha de mandioca d’água.

4.1.3 Farinha de Mandioca SecaÉ o produto obtido das raízes de mandioca sadias, devidamente limpas, descascadas, trituradas (moídas), prensadas, desbrembadas, peneiradas, secas à temperatura moderada ou alta e novamente peneirada ou não, podendo ainda ser beneficiada.

4.2 SubgrupoA farinha de mandioca, segundo a sua granulometria, será ordenada em subgrupos:

4.2.1 Na farinha de mandioca d’água, segundo a sua granulometria, será ordenada em 2 (dois) subgrupos:

4.2.1.1 Farinha FinaQuando a farinha de mandioca ficar retida, no máximo, 30% na peneira nº 10; e

4.2.1.2 Farinha GrossaQuando a farinha de mandioca ficar retida em mais de 30% na peneira nº 10.

4.2.2 Na farinha de mandioca mista, segundo a sua granulometria, será ordenada em 2 (dois) subgrupos:

4.2.2.1 Farinha FinaQuando a farinha de mandioca ficar retida, no máximo, 30% na peneira nº 10; e

4.2.2.2 Farinha Grossa

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Quando a farinha de mandioca ficar retida em mais de 30% na peneira nº 10.

4.2.3 Na farinha de mandioca seca, segundo a sua granulometria, será ordenada em 6 (seis subgrupos:

4.2.3.1 Farinha Extra FinaQuando a farinha de mandioca vazar 100% na peneira nº 10 e ficar retida no máximo 15% na peneira nº 18, e apresentar mais de 3% a 25% de pó.

4.2.3.2 Farinha Fina BeneficiadaQuando a farinha de mandioca vazar 100% na peneira nº 10, e ficar retida no máximo 3% na peneira nº 18, e apresentar no máximo, 3% de pó.

4.2.3.3 Farinha FinaQuando a farinha de mandioca vazar 100% na peneira nº 10, e ficar retida mais de 3% e até 20% na peneira nº 18, e apresentar no máximo 3% de pó.

4.2.3.4 Farinha MédiaQuando a farinha de mandioca não se enquadrar em nenhum dos subgrupos anteriores e apresentar, no máximo, 3% de pó; e

4.2.3.5 Farinha GrossaQuando a farinha de mandioca ficar retida em mais de 10% na peneira nº 10 e apresentar no máximo, 3% de pó.

4.2.3.6 Farinha BijusadaQuando a farinha de mandioca ficar retida em mais de 15% na peneira nº 10, e apresentar, no máximo, 2% de pó.

4.3 ClasseA farinha de mandioca, de acordo com a sua coloração, será ordenada em 3 (três) classes:

4.3.1 Farinha BrancaÉ a farinha de cor branca, natural da própria raiz.

4.3.2 Farinha AmarelaÉ a farinha de cor amarela, natural da própria rais, ou decorrente da tecnologia de fabricação (torração); e

4.3.3 Farinha de Outras CoresÉ a farinha cuja coloração não se enquadra nas cores anteriores.

4.4 Tipo

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A farinha de mandioca de qualquer grupo, subgrupo e classe segundo a sua qualidade, será ordenada em tipos, conforme elementos contidos no quadro sinóptico (Anexo I).

4.5 Abaixo do PadrãoA farinha de mandioca, de qualquer grupo, subgrupo, classe e tipo, que, pelas suas características ou atributos qualitativos, não se enquadrar em nenhum dos tipos mencionados no Anexo I, será classificada como “Abaixo do Padrão”, podendo ser:

4.5.1 Comercializada como tal, desde que identificada com a expressão Abaixo do Padrão, de forma clara, precisa e ostensiva, colocada em lugar de destaque, de fácil visualização e de difícil remoção; e

4.5.2 Rebeneficiada, desdobrada e recomposta, para ser submetida a nova classificação.

4.6 DesclassificaçãoSerá desclassificada e proibida a sua comercialização para consumo humano, a farinha de mandioca que apresentar:

4.6.1 Mau estado de conservação, caracterizado pelo aspecto geral de fermentação e mofo;

4.6.2 Presença de aditivo (corante), não classificado e aprovado pela legislação em vigor, do Ministério da Saúde;

4.6.3 Odor e sabor estranhos ao produto;

4.6.4 Presença de matérias estranhas ao produto, em desacordo com a legislação em vigor, do Ministério da Saúde;

4.6.5 Presença de substâncias nocivas à saúde humana; e

4.6.6 Presença de insetos vivos.

4.7 Será de competência do Ministério da Agricultura, do Abastecimento e da Reforma Agrária, decidir sobre o destino do produto desclassificado.

5 AMOSTRAGEMA retirada ou extração de amostra para classificação será feita observando os seguintes critérios:

5.1 Em produto ensacado a coleta será feita por furação ou calagem, em no mínimo, 10% dos sacos que compõem o lote, escolhidos ao acaso, sempre representando a expressão média do lote, numa quantidade mínima de 30 gramas de cada saco;

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5.2 Em produto a granel - a coleta será feita em diferentes ponto do lote estocado, na relação de 30 kg de amostra por tonelada ou fração; e

5.3 Em produto empacotado - a coleta será em 1% do número total dos pacotes que compõem o lote.

6 HOMOGENEIZAÇÃO E ACONDICIONAMENTO DAS AMOSTRAS

6.1 As amostras extraídas serão homogeneizadas, quarteadas no local da amostragem e acondicionados em embalagens, plásticas, em no mínimo 4 (quatro) alíquotas, com o peso mínimo de 1 kg (um quilograma) cada, devidamente identificadas, lacradas e autenticadas.

6.2 Será entregue 1 (uma) alíquota para o interessado, 3 (três) alíquotas ficarão com o órgão de classificação e o restante da amostra coletada será obrigatoriamente recolocada no lote ou devolvida ao proprietário do produto.

7 APRESENTAÇÃOA farinha de mandioca, destinada a comercialização, poderá ser apresentada: a granel, ensacada e empacotada.

8 EMBALAGEM E MARCAÇÃO

8.1 EmbalagemA embalagem utilizada no acondicionamento da farinha de mandioca ensacada poderá ser de algodão branco ou similar, papel, plástico ou qualquer outro material que tenha sido previamente aprovado pelo Ministério da Agricultura, do Abastecimento e da Reforma Agrária.

8.1.1 Será obrigatório que a embalagem seja nova e resistente, e que permita a conservação das características do produto.

8.1.2 O material utilizado para a confecção da embalagem para farinha de mandioca, destinada à comercialização a varejo, será transparente e incolor, para permitir a perfeita visualização do produto, podendo ser de outro material, desde que tenha sido aprovado pelo Ministério da Agricultura, do Abastecimento e da Reforma Agrária.

8.1.3 A farinha de mandioca, quando comercializada no atacado ou varejo, deverá ser acondicionada em sacos ou pacotes, cuja capacidade esteja de acordo com a legislação em vigor do Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial - INMETRO.

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8.1.4 Dentro de um mesmo lote, será obrigatório que todas as embalagens sejam do mesmo material e tenham idêntica capacidade de acondicionamento.

8.2 MarcaçãoA marcação nas embalagens da farinha de mandioca deve assegurar informações corretas, claras, precisas e ostensivas, em língua portuguesa, referentes às suas especificações quantitativas e qualitativas, retiradas do Certificado de Classificação, além dos dados de identificação da empresa embaladora ou responsável pelo produto.

8.2.1 Ao nível de atacado, a marcação da embalagem deverá trazer, no mínimo, as seguintes indicações: número do lote, grupo, subgrupo, classe, tipo, safra, peso líquido do produto, identificação do responsável pelo produto (nome ou razão social, CGC, endereço e número de registro do estabelecimento no MAARA), impressas originalmente quando da confecção da embalagem, não aceitando-se marcação complementar por etiquetas adesivas ou carimbo.

8.2.2 Ao nível de varejo, a marcação da embalagem deverá trazer as mesmas indicações constantes do subitem anterior, excetuando a safra do produto.

8.2.3 No caso específico da comercialização da farinha de mandioca a granel ou em conchas, o produto exposto deverá ser acondicionado em recipientes adequados e identificados, com no mínimo, as seguintes indicações: grupo, subgrupo, classe e tipo.

8.2.4 Não será permitido, na marcação das embalagens, o emprego de dizeres, gravuras ou desenhos que induzam a erros ou equívoco quanto a origem geográfica, qualidade e quantidade do produto.

8.2.5 Os indicativos de grupo, subgrupo, classe e tipo, utilizados na marcação serão gravados em cores contrastantes às do produto ou “fundo” das embalagens, quando for o caso, em caracteres do mesmo tamanho, segundo as dimensões especificadas no quadro abaixo:

QUADRO

8.2.6 A proporção entre a altura e a largura das letras e números, não pode exceder a 3x1 mm. Exemplo: se a altura for 3 mm, a largura deve ser 1mm.

9 ARMAZENAMENTOOs depósitos para armazenamento da farinha de mandioca e os meios para o seu transporte devem oferecer plena segurança e condições técnicas imprescindíveis as exigências da legislação em vigor.

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10 CERTIFICADO DE CLASSIFICAÇÃOO Certificado de Classificação da farinha de mandioca será emitido pelo Órgão Oficial de Classificação devidamente credenciado pelo Ministério da Agricultura, do Abastecimento e da Reforma Agrária, em modelo oficial, de acordo com a legislação vigente.

10.1 O prazo de validade do Certificado de Classificação para a farinha de mandioca, será de (90) noventa dias, contados a partir da data de sua emissão.

10.2 No Certificado de Classificação devem constar as informações padronizadas, os resultados das análises dos requisitos de qualidade, além das seguintes indicações:

10.2.1 Motivos que determinaram a classificação do produto como “Abaixo do Padrão”;

10.2.2 Motivos que determinaram a “desclassificação” do produto;

10.2.3 Nome do técnico responsável pelas análises, bem como o seu número de inscrição no Conselho Regional.

11 FRAUDESerá considerada fraude toda alteração dolosa de qualquer ordem ou natureza, praticada no produto, na classificação, na marcação, no acondicionamento, no transporte e na armazenagem, bem como nos documentos de qualidade do produto, conforme normas em vigor.

12 DISPOSIÇÕES GERAISÉ proibido o comércio de farinha de mandioca, em desacordo com esta Norma.

12.1 Será de competência exclusiva do Órgão Técnico do Ministério da Agricultura, do Abastecimento e da Reforma Agrária, resolver os casos omissos porventura surgidos na utilização da presente Norma.