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    Estudos Feministas, Florianpolis, 23(1): 312, janeiro-abril/2015 11

    Ecofeminismo e comunidadeEcofeminismo e comunidadeEcofeminismo e comunidadeEcofeminismo e comunidadeEcofeminismo e comunidadesustentvelsustentvelsustentvelsustentvelsustentvel

    Copyright 2015 by RevistaEstudos Feministas.

    Brbara Nascimento FloresUniversidade Estadual de Santa Cruz/ UESC

    Salvador Dal Pozzo TrevizanUniversidade Estadual de Santa Cruz/ UESC

    Resumo:Resumo:Resumo:Resumo:Resumo: O movimento de ecovilas representa uma alternativa de organizao social debaixo impacto sobre os componentes naturais e de novos valores condizentes com o bem-estarde vida social. O movimento ecofeminista, por sua vez, sustenta que a defesa do meio ambienteconstitui parte essencial do movimento feminista. Esta pesquisa investiga se, na organizao edinmica da ecovila, os princpios do ecofeminismo esto presentes e se contribuem para asustentabilidade ambiental da comunidade nas dimenses social, econmica e doscomponentes naturais. Para efetuar esta avaliao, tomou-se como base emprica a Ecovila dePiracanga, localizada no municpio de Mara, litoral sul da Bahia, Brasil. Os resultados sustentam

    o pressuposto de que o ecofeminismo tem estreita relao com a sustentabilidade do meioambiente, em nvel local, e apontam para a possibilidade de solues inovadoras norelacionamento entre sociedade e natureza.Palavras-chavePalavras-chavePalavras-chavePalavras-chavePalavras-chave: ecofeminismo; ecovilas; comunidades sustentveis; desenvolvimento local.

    ArtigosArtigosArtigosArtigosArtigos

    1 Introduo1 Introduo1 Introduo1 Introduo1 Introduo

    O discurso da sustentabilidade do meio ambiente temse tornado hegemnico, permeando desde mentes altrustasem defesa da conservao da natureza e da melhoria dascondies de vida humana at aquelas que se utilizam desse

    mesmo discurso para se mostrarem simpticas opiniopblica e, dessa forma, tirar proveitos prprios. O certo queorganismos internacionais constatam que grande e crescen-te o nmero de pessoas, movimentos, empresas e governosque buscam alternativas de atuao em conformidade coma sustentabilidade em suas diversas dimenses, resultantesdos movimentos de reformas sociais e polticas que, nas dca-das de 1960 e 1970, questionaram as bases que sustentama sociedade atual.1So movimentos que esto fazendo1Muhammad YUNUS et al., 2010.

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    nascer um novo paradigma de organizao social frente aosproblemas ambientais. Argumenta-se2 que tais mudanasseriam o prenncio de uma tica de abandono da perspec-tiva antropocntrica, em favor de uma perspectiva global esistmica, na busca de valores mais integrativos, como cuida-do, cooperao e conservao, os quais, no paradigma do-minante, foram negligenciados e associados s mulheres. nesse contexto que surgem movimentos com novas propostasde vida e de organizao social, como o ecovila e ecofe-minismo.

    As primeiras ecovilas surgiram na dcada de 19703

    como alternativas de comunidades nas quais as pessoas seesforam por levar uma vida em harmonia consigo mesmas,

    com os outros seres animados e inanimados e com a Terra.4No mesmo perodo, surgiram tambm as primeiras

    manifestaes do movimento feminista em defesa do meioambiente. O termo ecofeminismo teria sido utilizado pela pri-meira vez em 1974, por Franoise dEaubonne, que, em 1978,fundou, na Frana, o movimento Ecologia e Feminismo. Arelao entre cincia, mulher e natureza estaria entre as primei-ras preocupaes do movimento ecofeminista.5Destaca-seno movimento6que ecologia um assunto feminista, masque as semelhanas entre feminismo e ecologia tm sidoesquecidas pela cincia ecolgica, e essa vertente do movi-mento feminista, unindo o movimento das mulheres com omovimento ecolgico, traz uma nova viso de mundo, desvin-

    culada da concepo socioeconmica e de dominao.Sherry Ortner7chama ateno ao fato de que, emtodas as culturas, as mulheres tm sido alvo da subordinao,e prope uma investigao profunda da origem da violncianas diferenas dos corpos entre homem e mulher. Argumentaainda que a falta de uma funo criativa no homem o levoua produzir uma funo destrutiva de forma artificial, pelatcnica.

    Nessa abordagem, o ecofeminismo identifica nosistema patriarcal a origem da catstrofe ecolgica atual,tendo sido a natureza e as mulheres, ambas associadas reproduo da vida, o alvo das agresses desse sistema.8

    Nessa perspectiva, o patriarcado se exprime com a mesmalgica do poder machista, opressor e totalitrio da agroin-

    dstria, atacando os fundamentos da vida, na sua expressosimblica mais profunda: a fecundidade do ser vivo. Da aluta de feministas pela libertao da mulher oprimida, narelao de gnero, estar associada ao movimentoecofeminista de libertao da mulher e da natureza, ambasexploradas. De acordo com Franoise DEaubonne9 eRosemary Ruether,10no passado, a agricultura teria sido umatarefa feminina, mas, com a inveno do arado e da irrigao,os homens se apropriaram de dois recursos que pertenciam

    9Franoise DEAUBONNE, 1974.10Rosemary RUETHER, 1995.

    8 DEAUBONNE, 1974; MURARO,2002.

    7Sherry ORTNER, 1974.

    5BIANCHI, 2012.6 WARREN e CHENEY, 1991;WARREN, 1994 e 2005.

    4 Karen SVENSSON and HildurJACKSON, 2002.

    3 Ross JACKSON, 2004; MarcoAurlio P. JORGE, 2008.

    2 Fritjof CAPRA, 2000; MoniqueHBRARD, 1994.

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    ECOFEMINISMO E COMUNIDADE SUSTENTVEL

    mulher: a agricultura e a fecundidade. Estudos apontam11

    que o sistema patriarcal tem suas origens na filosofia da Grciaantiga e na tradio racionalista. Antes de invases nmadesvindas da Eursia, o que havia na sociedade indo-europeiaera um sistema familial, caracterizado como matrifocal oumatrilinear, numa era agrria de paz. Riane Eisler12destacacomo a parceria entre sexos, o cuidado com a beleza, a est-tica, a arte e a criatividade dominavam naqueles temposreafirmando uma tica feminina.

    Haveria, pois, necessidade urgente de vincular a lutapelos direitos das mulheres luta em defesa da natureza.Pressupe-se, segundo Susan Griffin,13que a lgica da cinciaseja contra a vida e contra a mulher, e que a superao de

    tal cenrio de opresso seja feita de forma positiva elibertadora. Com o conhecimento de nossas origens, do nossopresente e dos nossos desejos, prope a autora, pode-seconhecer as conexes entre a vida de cada planta, animal eser humano, formando um s corpo com o planeta.

    Ruether14adverte que as mulheres precisam ver queno haver libertao para elas nem soluo para a criseecolgica, numa sociedade com relaes de dominao,sendo necessrio unir o movimento feminista com o movi-mento ecolgico para vislumbrar mudana radical nasrelaes socioeconmicas e nos valores da moderna socie-dade industrial. Mary Mellor15acrescenta que as mulheressofrem desproporcionadamente as consequncias dos

    impactos ambientais no seu corpo (resduos de dioxina naamamentao e distrbios na gravidez) e no seu trabalho,como alimentadoras e cuidadoras.

    Yayo Herrero16sintetiza as propostas ecofeministas paraum ambiente sustentvel, da seguinte forma: oposio a umdesenvolvimento de maximizao de benefcios monetrios,em detrimento da sade das comunidades humanas e dosecossistemas; incorporao e valorizao dos saberes e tra-balhos das mulheres envolvidas em atividades de subsistn-cia; concentrao na organizao econmica e poltica davida e do trabalho das mulheres que apresente alternativas crise ecolgica e melhoria das condies de vida das mu-lheres e dos pobres; busca da autossuficincia, da descentra-lizao e da auto-organizao, mediante a busca dos equil-

    brios. Esse rol de propostas ecofeministas em defesa do meioambiente, sintetizadas por Herrero, so contempladas por du-as tendncias ecofeministas: a espiritualista e a construtivista.

    De acordo com Rosngela Angelin,17existem trs ten-dncias ecofeministas: a clssica, a espiritualista e a construti-vista. A clssica v no homem uma predisposio naturalpara a competio e a destruio, e sua obsesso pelo podero leva a guerras suicidas, ao envenenamento e destruiodo planeta, enquanto a tica feminina de proteo dos seres

    12 Riane EISLER, 2007.

    11WARREN, 2005.

    13Susan GRIFFIN, 1978.

    14 RUETHER, 1975.

    15Mary MELLOR, 1997.

    16Yayo HERRERO, 2007.

    17Rosngela ANGELIN, 2006.

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    vivos se ope a essa agresso, buscando a igualdade, opacifismo e a conservao da natureza. A espiritualista, fun-damentada nos princpios religiosos de Ghandi e da Teologiada Libertao, argumenta que o desenvolvimento tem geradoum processo de violncia contra a mulher e o meio ambiente,e luta contra a dominao, o sexismo, o racismo, o elitismo eo antropocentrismo, atribuindo mulher uma tendncia prote-tora da natureza. A construtivista, embora no se identifiquecom as duas primeiras, compartilha com elas ideias antirra-cistas, antiantropocntricas e anti-imperialistas, negando, po-rm, a relao da mulher com a natureza como uma ca-racterstica intrnseca do sexo feminino, mas sim da responsa-bilidade de gnero resultante da diviso social do trabalho,

    da distribuio do poder e da propriedade.Embora partam de pressupostos conflitantes, particu-

    larmente a abordagem clssica e a construtivista, presume-se, nas trs tendncias, uma forte relao entre mulher/femi-nilidade-natureza, mais intensa do que a relao homem/masculinidade-natureza, fazendo da mulher mais cuidadosacom a natureza. O que difere nas trs abordagens a origemdessa relao: enquanto na tendncia clssica a explicaodas diferenas est na prpria natureza do homem/masculinoser agressivo e destrutivo, na tendncia espiritualista, a expli-cao das diferenas encontra-se no processo do desenvolvi-mento selvagem, que teria descuidado da finitude e capaci-dade de resilincia da natureza, e, na tendncia construtivista,

    a explicao cultural, produto da diviso social do trabalhoe de uma estrutura social marcada pela desigualdade.Embora as tendncias espiritualista e construtivista neguema relao de gnero com o meio ambiente como um fenme-no natural, como ocorre na abordagem clssica, nas trstendncias, independentemente de mitos ou da realidadeque envolve o discurso de cada abordagem, todas admitemhaver uma forte relao do ecofeminismo com a proteo domeio ambiente.

    Para Bruna Bianchi,18o ecofeminismo, especialmentenas abordagens culturalista (ou construtivista) e espiritualista,tornou-se objeto de estudo acadmico, de cursos universi-trios e de conferncias, nas dcadas de 70 e 80 do sculo

    XX, reunindo representantes de movimentos ambientalistas

    de todo o mundo. Nos protestos contra lixo txico e pesticidas,descreve Bianchi, as mulheres tm desempenhado um papelde vanguarda. Segundo ela, os movimentos espontneosde mulheres em todo o mundo revelaram a ligao entresade e vida das mulheres com a destruio da natureza. Apossvel destruio do planeta pelo uso da tecnologia temestado entre as principais preocupaes nas manifestaesdos movimentos ecofeministas, tanto nos Estados Unidosquanto na Inglaterra, nos anos 80. No Brasil, referindo-se

    18 Bruna BIANCHI, 2012.

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    ECOFEMINISMO E COMUNIDADE SUSTENTVEL

    Rio-92, Beatriz Carneiro destaca que, antes desse evento, asmulheres j estavam presentes e atuantes na mobilizaopela proteo ambiental, na construo das polticasambientais.19Ynestra King20enfatiza que para a maior partedas mulheres do mundo o interesse na preservao da terra,gua, ar e energia no uma abstrao, e sim uma claraparte do esforo para simplesmente sobreviver.

    Essa relao de vnculo entre mulher e natureza no algo pacfico no movimento feminista, nem no movimentoecofeminista. Segundo Sandra Garcia, a dicotomia cultura/natureza no universal, e nem h uma uniformidade designificados atribudos natureza, cultura, ao masculino eao feminino.21Catriona Sandilands22argumenta que o foco

    do ecofeminismo no est na identidade mulher-natureza,mas na relao democrtica entre gnero e natureza. Poroutro lado, Emma Siliprandi,23entre outras, sustenta que ine-gvel a associao entre mulher e ecologia, pois existe umaconvergncia entre a forma como o pensamento ocidentalhegemnico v as mulheres e a natureza, ou seja, a domina-o das mulheres e a explorao da natureza como doislados da mesma moeda. Nessa mesma linha de pensamento,argumenta-se ainda24que mulheres e natureza tm tido umalonga associao atravs da histria, mas somente agoraessa profunda associao vem sendo compreendida.

    No contexto da sociedade tcnico-cientfica-informa-cional da dcada de 90 do sculo XX, as comunidades

    conhecidas como ecovilas tornam-se experincias institucio-nalizadas, tendo como parmetro a sustentabilidade.25Se aconstruo de novas relaes de gnero e de novas relaeshumanas com a natureza condio sine qua nonpara aconstruo de comunidades sustentveis,26 de se esperarque as ecovilas sejam contextos sociais favorveis para aprtica dos princpios ecolgicos do movimento ecofeminista,no qual se inserem relaes de igualdade respeitando asdiferenas, contrrias dominao de gnero, assim comodos princpios de sustentabilidade ambiental, defendidospelo movimento das ecovilas.

    Para esta pesquisa, o foco da ateno est emidentificar na comunidade em que medida esto presenteso discurso e as prticas ecofeministas, quaisquer que sejam

    as tendncias, e poder associar a elas prticas em defesado meio ambiente.

    O pressuposto ecofeminista de que haja uma intrnse-ca conexo desse movimento com a conservao do meioambiente permite supor que, uma vez caracterizada a presen-a do ecofeminismo na ecovila, desenvolvam-se ali prticasambientalmente sustentveis. Essa relao entre os doismovimentos constitui o referencial para avaliar em que medidaas propostas para a construo de uma sociedade mais

    24DI CIOMMO, 2003; PLANT, 1990.

    19CARNEIRO, 2012, p. 1.20 Ynestra KING, 1997.

    21GARCIA, 1992, p. 164.22Catriona SANDILANDS, 1999.

    23Emma SILIPRANDI, 2009.

    25 SVENSSON e JACKSON, 2002;SANTOS JR., 2006.

    26PLANT, 1990.

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    condizente com o respeito natureza e s relaes humanasse aproximam do real concreto, e no apenas do real pensa-do idealmente. Mais especificamente, busca-se avaliar emque medida os princpios do ecofeminismo esto presentesna dinmica da ecovila e em que medida tais princpiosesto relacionados com prticas de sustentabilidadeambiental desse tipo de comunidade. Tal avaliao podeser implementada mediante a identificao de indicadoresque representem valores defendidos pelo ecofeminismo, asso-ciados com indicadores que representem a sustentabilidadeambiental da comunidade.

    2 F2 F2 F2 F2 Fundamentao Tundamentao Tundamentao Tundamentao Tundamentao Tericaericaericaericaerica

    O ponto de partida para analisar a relao entreecofeminismo e a sustentabilidade ambiental de comuni-dades nasce do pressuposto de que a existncia de prticassustentveis est na base da organizao e da dinmicada ecovila, e do pressuposto de que os princpios que nortei-am as aes do movimento ecofeminista esto em estreitasintonia com a sustentabilidade do meio ambiente. A ideiade sustentabilidade, por sua vez, traz consigo a noo dedurao no tempo: o desenvolvimento que no esgota osrecursos para o futuro.27Assim, o conceito de sustentabilidadelimita-se conservao dos recursos no correr do tempo, isto, uma reproduo vegetativa. Tal concepo satisfatriaquando nos referimos ao uso dos recursos naturais, mas, com

    a presena humana, a sustentabilidade ambiental no serealiza com a reproduo vegetativa: depende tambm demelhoria nas condies de vida, em funo das expectativasque forem sendo geradas.De acordo com Oluf Langhelle,28oprimeiro objetivo do desenvolvimento sustentvel o atendi-mento das necessidades humanas. A sustentabilidade ambi-ental est associada s condies de vida dos indivduosou das comunidades.29Referindo-se aos princpios do ecode-senvolvimento, Ignacy Sachs30relaciona: satisfao das ne-cessidades bsicas, solidariedade com as geraes futuras,participao da populao envolvida, preservao dosrecursos naturais, elaborao de um sistema social quegaranta emprego, segurana social e respeito a outras

    culturas. Portanto, alm da durabilidade dos componentesnaturais, a sustentabilidade ambiental de uma comunidadeenvolve a sensao de bem-estar e de felicidade individuale coletiva. Tal sensao, entretanto, no se d no abstrato,mas nas possibilidades reais de atendimento s necessida-des, materiais e no materiais, sentidas pelos membros dacoletividade, como habitao, alimentao, sade, edu-cao, segurana, informao, entre outras. Assim, o capitalsocial da comunidade entendido como o conjunto das

    27BRUNDTLAND, 1991.

    29ALTIERI and NICHOLLS, 2005; andZAMBERLAN and FRONCHETI,2001.30Ignacy Sachs, 1993.

    28 Oluf LANGHELLE, 2000.

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    ECOFEMINISMO E COMUNIDADE SUSTENTVEL

    instituies que oferecem esses servios e o acesso que osmembros da comunidade tm aos servios, tornando-lhespossveis as condies de bem-estar e de felicidade defineo nvel de sustentabilidade ambiental da comunidade. Asinstituies sociais tm sido vistas como um tipo de capitalsocial fundamental para o desenvolvimento das condiesde vida individual ou em comunidade.31 Instituies fisica-mente estabelecidas so as que tornam concretamente vivelo acesso aos bens e servios. Como exemplo, James S. Coleman32

    destaca o papel das normas eficazes como foras poderosaspara evitar o interesse prprio e levar a agir pelo interesse co-letivo. Robert Putnam33identificou, na densidade de associa-es e na existncia de relaes sociais de reciprocidade,

    as principais premissas para prosperidade.Em sntese, no que se refere dimenso dos compo-

    nentes naturais da comunidade, a sustentabilidade ambien-tal diz respeito durao deles; no que diz respeito dimen-so econmica, a sustentabilidade refere-se capacidadede reproduo da vida e satisfao das necessidades aolongo do tempo; e, no que se refere dimenso social, a sus-tentabilidade diz respeito s possibilidades de vida social ede bem-estar na comunidade, ao longo do tempo. Tanto oecofeminismo quanto as ecovilas propem: (a) descentra-lizao do poder, no hierarquizao e democracia direta;(b) apoio ao comrcio justo e a uma economia ecolgica esolidria como modelo de desenvolvimento; (c) insistncia

    em tecnologia de baixo impacto e no agressiva ao meioambiente; (d) nfase no carter local das aes para garantira segurana alimentar e a moradia; (e) relaes equilibradasentre sexos, classes e raas, e com o meio ambiente.34

    3 Procedimentos metodolgicos3 Procedimentos metodolgicos3 Procedimentos metodolgicos3 Procedimentos metodolgicos3 Procedimentos metodolgicos

    Delineou-se uma metodologia para avaliar a intera-o entre indicadores de sustentabilidade ambiental, nasdimenses social, econmica e dos componentes naturaisenvolvidos nas atividades produtivas e de consumo dacomunidade, com indicadores que representam os princpios(valores) defendidos pelo ecofeminismo. A partir da literaturasobre ecofeminismo considerada neste trabalho, particular-

    mente da sntese de propostas ecofeministas apresentadaspor Herrero35e das tendncias ecofeministas de Angelin,36

    foram selecionados valores ecofeministas, independente-mente de suas tendncias passveis de observao emprica,tais como: incluso social, organizao no hierarquizada,ausncia de prticas discriminatrias quanto raa, classesocial, religio e ao gnero nas famlias e na comunidade,processos de tomada de deciso e exerccio do poder;capacidade de desenvolvimento de uma economia em nvel

    31NORTH, 1990; PUTNAM, 1993.

    32James S. COLEMAN, 1988.

    33Robert PUTNAM, 1993.

    34 CUNHA, 2010; EAST, 2005;SVENSSON and JACKSON, 2002;OLIVEIRA, 2003; e SILIPRANDI,2000.

    35HERRERO, 2007.36ANGELIN, 2006.

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    local, igualdade de oportunidades de acesso aos bens eservios, igualdade de gnero na diviso do trabalho; e apresena ou no de prticas e/ou atitudes conservacionistas,especialmente em termos de investimento em tecnologias debaixo impacto e de relaes de interdependncia com anatureza, de forma a respeitar a capacidade de regeneraodos componentes naturais dentro do ecossistema. A partirdesses valores, elaborou-se uma matriz de indicadores ecofe-ministas, constantes da Tabela 1.

    Paralelamente, foram definidos indicadores de susten-tabilidade ambiental da comunidade, nas trs dimensesindicadas, para serem correlacionados com os indicadoresde ecofeminismo. Para a sustentabilidade ambiental, na

    dimenso social, foram definidos indicadores relacionados melhoria das condies de vida, participao no planopoltico, cooperao e identidade local. Na dimensoeconmica, considerou-se a capacidade da comunidadena gerao de renda e emprego. Na dimenso dos compo-nentes naturais, considerou-se o uso/gesto de recursos envol-vidos nas atividades de produo e consumo da comuni-dade, como uso da gua, gesto de efluentes lquidos e deresduos slidos.

    Como mecanismo de validade interna das matrizesde indicadores de sustentabilidade ambiental da comuni-dade, utilizou-se a correlao de Spearman para eliminarindicadores que no apresentassem correlao significante

    com, pelo menos, um indicador, dentro da mesma dimenso(os indicadores constantes das Tabelas de 2 a 4, apresenta-dos no item 4. Resultados e Discusso, so os que apresenta-ram correlao significante com, pelo menos, um indicadordentro da respectiva matriz). A mtrica de cada indicador foiestruturada numa escala de cinco categorias de respostas,com pontuao variando de 0 a 4.

    Optou-se por tomar como base emprica de anliseuma ecovila j consolidada, localizada na regio de influn-cia da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), no litoralSul da Bahia, a Ecovila de Piracanga, no municpio de Mara,nas coordenadas 141252.09 S e 385931.74 W.A impor-tncia do local como escala de anlise e de intervenotem sido destacada por autores como Sachs37e Amartya Sen.38

    O nvel de sustentabilidade ambiental, nas trs dimen-ses, pode ser formalmente representado na seguinte equao:

    Nvel de sustentabilidade ambiental da comunidade,

    na dimenso y= (XPij/N)/n (1)

    sendo Xi o entrevistado, j o indicador de sustentabilidade, Pa pontuao obtida pelo entrevistado i, referente ao indica-dor j, que varia de 0 a 4, No nmero de entrevistados que

    37SACHS, 1993.38

    Amartya SEM, 2000.

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    ECOFEMINISMO E COMUNIDADE SUSTENTVEL

    responderam ao indicador j, e no nmero de indicadores darespectiva dimenso.

    Em sntese, o nvel de sustentabilidade ambiental emcada dimenso dado pela mdia aritmtica de pontosobtidos, considerando as respostas dos entrevistados, narespectiva dimenso. Sendo 4 o escore mdio mximo possvel,em cada dimenso, para fins comparativos, considera-setil dividir o escore obtido pelo escore mximo possvel. Nestecaso, o ndice de sustentabilidade varia de 0 a 1.

    A tomada de dados foi realizada em um perodo devivncia contnua de 4 meses na comunidade, no ano de 2012,efetuando observao direta com registros dirios, registrosfotogrficos, entrevistas semiestruturadas e aplicao de ques-

    tionrios estruturados, tudo com a anuncia prvia da lideran-a da comunidade e consentimento prvio, livre e esclarecidode cada entrevistado, assim como a aprovao do comitde tica em pesquisa da Universidade Estadual de SantaCruz (UESC), BA.

    4 Resultados e discusso4 Resultados e discusso4 Resultados e discusso4 Resultados e discusso4 Resultados e discusso

    4.14.14.14.14.1 Caracterizao das atividades naCaracterizao das atividades naCaracterizao das atividades naCaracterizao das atividades naCaracterizao das atividades nacomunidadecomunidadecomunidadecomunidadecomunidade

    As pessoas envolvidas diretamente com o sistemaeconmico interno prestavam servios comunitrios relativos produo ou sade, educao e rea administrativa

    (46%); 27% eram crianas e adolescentes, e outros 27% tinhamrendimentos independentes do sistema econmico interno.Como se trata de uma comunidade envolvida em serviostursticos, sua infraestrutura capaz de oferecer lazer, daratendimento sade e espiritualidade, com hospedagem,transporte, alimentao, cursos e terapias, num centro holstico,dando assistncia para os membros da comunidade epessoas externas que o procuram. Os servios oferecidos sopagos, o que movimenta a economia interna do Centro.

    O setor administrativo concentra o maior nmero depessoas da comunidade, predominando as do sexo feminino,com funes de coordenao, gerncia, recepo e adminis-trao financeira. Os setores divididos mais equilibradamenteentre homens e mulheres eram os relacionados cozinha,carpintaria, marcenaria, motorista, babysiter,jardinagem, eservios relacionados sade e educao. O nico setorcom maior nmero de pessoas do sexo masculino era o rela-cionado produo (construtores, permacultores e agricul-tores). No setor das artes, somente pessoas do sexo femininoestavam envolvidas, exercendo atividades de dana, pintura,teatro, artesanato, entre outras.

    No perodo da pesquisa, a comunidade era consti-tuda de 92 pessoas (adultos e crianas), habitando 42 unida-

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    des residenciais, numa rea de 100 ha. Dentre estas unidades,32 adultos, participaram espontaneamente das entrevistas.Nas unidades residenciais pesquisadas, foram identificadas67 pessoas de diferentes nacionalidades, das quais 69%estavam na faixa etria entre 19 e 60 anos, e os demais erambebs, crianas e adolescentes, entre 0 e 18 anos, com exce-o de uma pessoa na categoria de idosa. O nvel de escolari-dade encontrado relativamente elevado, se considerarmosque 67% concluram o ensino mdio para cima, e 33% fre-quentavam o ensino fundamental, sendo crianas 27% daspessoas das residncias pesquisadas, muitas das quais forada idade escolar.

    Em termos econmicos, a primeira vista, parece que

    se trata de uma populao de baixa renda, j que em 50%das unidades residenciais informou-se uma renda familiar percapita de um salrio mnimo ou menos. Entretanto, consideran-do que 27% de residncias pesquisadas tinham rendimentosoutros, independentes da comunidade, esses quantitativos,em termos de salrios mnimos, no do um retrato da realsituao econmica da comunidade.

    Foram identificadas atividades tipicamente agrcolas,tais como o cultivo de hortalias e o plantio agroflorestal, eatividades no agrcolas, como ecoturismo e turismo religioso,desenvolvidas na ecovila. No entanto, ainda no existia pro-duo significativa, a ponto de abastecer as necessidadesinternas. Isto se explica pela recente implantao de ativida-

    des que requerem preparo do solo, que arenoso, para oplantio mais intensivo no futuro. Sendo assim, grande partedos alimentos consumidos na ecovila eram adquiridos nosmunicpios vizinhos.

    4.2 A presena do ecofeminismo na4.2 A presena do ecofeminismo na4.2 A presena do ecofeminismo na4.2 A presena do ecofeminismo na4.2 A presena do ecofeminismo naorganizao social da comunidadeorganizao social da comunidadeorganizao social da comunidadeorganizao social da comunidadeorganizao social da comunidade

    Analisando-se indicadores consistentes com os valoresdefendidos pelo ecofeminismo (Tabela 1), foram destacadosaspectos, como a diviso de tarefas em casa e na comu-nidade, e os valores associados a cada tarefa, indicandopapis sociais no rgidos; a igualdade na expanso dosdireitos civis, ou seja, autonomia quanto participao no

    mundo poltico, econmico e social; a valorizao da par-ceria, cooperao e instituies vinculadas entre si (famlia,governana, escola), em que predomina a governana circu-lar; a diversidade e flexibilidade de deciso e ao; o agrupa-mento de unidades sociais menores (cooperativas, gruposde compartilhamento de conhecimentos, etc.); a valorizaode servios comunitrios e voluntrios (cuidado com crianas,escola, manuteno etc.); os adultos como responsveis portodas as crianas (o mais precioso produto social); as polticas

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    sociais para os mais necessitados; a valorizao da beleza,da esttica, da arte e da criatividade.

    De acordo com relatos obtidos dos moradores, o ecofe-minismo est relacionado produo da vida, ao equilbrioe respeito natureza, assim como valorizao da mulherdentro de suas comunidades e promoo dos direitoshumanos. Para outros, a presena de ecofeminismo nacomunidade est relacionada ao cuidado, sensibilidadee cooperao. Uma moradora assim se manifesta:

    O ecofeminismo est relacionado com o novo modelocivilizatrio que se busca; precisamos reaprender oque gerar a vida e cuidar da vida. O grande valor denossa poca o cuidado e quando homens e

    mulheres entram em contato com este valor, o vnculoentre todas as relaes restabelecido.

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    Em Piracanga, as mulheres podem ser vistas atuandoem diferentes ambientes e funes; elas so bastante repre-sentativas e ativas dentro da comunidade; ocupam postosde liderana, inclusive, de liderana espiritual. O pressupostode que a comunidade est organizada de forma no hierar-quizada (indicador 7) o nico, entre os 13 indicadores, emque mais de 50% dos entrevistados discordam. Apenas 11(35%) dos que responderam entrevista concordam geral-mente ou completamente que tal caracterstica se manifestana comunidade. Quanto aos demais indicadores, a maioriaconcorda geralmente ou completamente, destacando-se arecuperao dos ecossistemas e a percepo do planetaTerra como um organismo vivo (indicadores 9 e 13), ambos

    com 29 (93%) dos entrevistados. Alm destes, ainda se desta-cam, na concordncia dos moradores, os indicadores 6 e10, com a valorizao da diversidade e um empenho paraestabelecer relaes entre eles e a natureza, com 81% deaprovao.

    Mesmo que haja uma inteno de governana circu-lar, isto , de alternncia de pessoas exercendo funes dedeciso, ainda prevalece na comunidade a concentraodas decises em alguns membros. Apenas 17 (55%) concor-dam geralmente ou completamente que h na comunidadeuma distribuio justa do poder (indicador 12). visvel, naecovila, a prevalncia de decises autoritrias de um peque-no grupo, mais prximo aos fundadores. Outros se sentem

    excludos deste processo de decises por no pertenceremao grupo dominante, identificado como Inkiri, ou por sesentirem constrangidos em expor suas opinies.

    Quanto s tarefas e funes dentro da comunidade,no possvel identificar com clareza alguma diviso degnero. A predominncia de mulheres na maior parte dastarefas e funes deve-se, principalmente, ao fato de que,nesta comunidade, elas representam o maior nmero dosmoradores. O grande nmero de reunies com a participaodos membros da comunidade sugere que ali vigora o respeito diversidade e a flexibilidade de deciso e ao. Entretanto,nem todos podem participar onde prevalecem decisesunilaterais dos lderes, conforme observao direta feita emcampo e relatos de alguns moradores que levantam a questo

    de uma inverso das formas de dominao. Sobre isso, ummorador se manifesta nos seguintes termos:

    Piracanga uma comunidade que, at o momento, temcaractersticas dominantes de uma comunidade ma-triarcal. As mulheres dominam, detm o poder de deci-so e o poder espiritual, controlam as foras produtivas,assim como o destino das pessoas, enfatizam a hierar-quia espiritual e social, e os homens trabalham paramanter a estrutura.

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    As observaes e depoimentos revelam que a lide-rana da comunidade das mulheres. Alm de ser numeri-camente expressivo, o quantitativo de mulheres atuantes utilizaprticas de dominao entre pessoas e controle do poderinterno, traduzindo-se em segregao de grupos e, muitasvezes, em viso utilitarista da natureza, no mesmo estilo aoque, segundo Fritjof Capra,39ocorre nas instituies dasociedade hegemnica, dominada pelos homens.

    A diviso de tarefas dentro de casa, com relao aosentrevistados casados, predominantemente compartilhada,nas principais atividades, como limpar a casa, lavar a loua,preparar a comida, cuidar das crianas e exercer trabalhosfora de casa. Nesse aspecto, os entrevistados concordam

    que no existe na comunidade tarefa especfica de homemou de mulher, como defendido pelo ecofeminismo. A imagembastante comum de pais cuidando dos filhos e de mesexercendo tarefas exteriores ao ambiente domstico pode seridentificada como um indicador de que os papis sociais dehomens e mulheres na Ecovila de Piracanga no so rgidos.

    Existe cooperao e parceria entre as instituies (fam-lias, governana, escola) que buscam manter vnculos entresi para o desenvolvimento das atividades comunitrias, eainda iniciativas dos moradores de se juntarem para compar-tilhar conhecimentos e prticas em agrupamentos de unida-des sociais menores, como os grupos de mes e gestantes,de estudos e prticas permaculturais, de artes e danas

    circulares, de espiritualidade, de esporte e lazer, de educao,entre outros. As tarefas de cuidado com crianas dentro e forado ambiente escolar, bem como a prestao de servioscomunitrios, so prticas disseminadas na comunidade.No se observaram prticas de explorao de mulheres, nemde utilizao de componentes naturais sem custos, a serviodo acmulo de capital, pois as mulheres possuem lugar dedestaque nessa organizao social e h incentivo ao desen-volvimento de tecnologia para a produo artesanal e inicia-tivas para contabilizar os custos ambientais de produtos. Almdisso, os entrevistados descrevem o trabalho na comunidadecomo prazeroso, contribuindo para o bem coletivo. No entanto,no h uma proposta sistematizada de responsabilidadesocioambiental e de economia solidria, com o intuito de

    fortalecer a economia e o desenvolvimento locais, o que repre-senta um risco s oportunidades de gerao de renda, me-dida que a populao da comunidade aumenta.

    Apesar das iniciativas de equidade social, ainda pre-valecem relaes de trabalho em que o centro holstico, do-minando os principais meios de produo, beneficia-se des-proporcionadamente da oferta de servios, como moradia ealimentao, do trabalho voluntrio e da mo de obra baratalocal. Existem questionamentos quanto prestao de contas

    39Fritjof CAPRA, 2000.

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    e s restries ao fomento de atividades internas para agerao de renda.

    As pessoas do grupoInkiriconcordam que a comuni-dade est preparada para apoiar aqueles com necessi-dades especiais, em caso de pobreza e/ou deficincias, poispossuem apoios e financiamentos relacionados moradia,alimentao e participao em projetos da comunidade etm acesso a fundos comunitrios ao contriburem com servi-os comunitrios. J os no Inkirisno concordam com esseindicador, pois no tm acesso a nenhum dos benefcios e,conforme relatos, j houve casos em que pessoas tiveram dese retirar da ecovila por no se enquadrarem ao perfil exigido.

    Quanto presena do ecofeminismo em aes que

    promovem a vida, levando em considerao o valor intrnsecoda natureza, onde as pessoas enxergam o planeta como or-ganismo vivo, destacam-se aquelas que priorizam tecnolo-gias de baixo impacto nas construes, como tcnicas debioarquitetura; preveno e uso da medicina natural (fitote-rapia, massagens, terapias holsticas); investimentos em agro-floresta e permacultura, enfatizando o carter local das aes,no plantio e colheita, considerando a diversidade, a comple-mentariedade e os ciclos naturais (observando fases da luae estaes do ano); e a realizao de experincias alternativasde recuperao ambiental e segurana alimentar. A inte-grao e interdependncia com a natureza pode ser percebi-da por meio do entrelace de antigos mitos com ideias moder-

    nas de interdependncia entre tudo e todos, no qual expres-ses do planeta como a Me-Terra podem ser ouvidas frequen-temente, principalmente nos momentos de espiritualidade,nos quais os moradores se juntam para celebrar a vida e oamor, por meio de rituais da lua cheia, crculos de mulheresda lua nova, retiros espirituais dos quatro elementos (fogo,terra, gua e ar), batizados, nascimentos e casamentos.

    Em sntese, o desequilbrio na distribuio de poderentre homens e mulheres, e a estrutura hierarquizada dacomunidade so os grandes desafios que ainda persistem,no sentido de contemplar os princpios e valores defendidospelo movimento do ecofeminismo, na Ecovila de Piracanga.

    4.3 A sustentabilidade ambiental da4.3 A sustentabilidade ambiental da4.3 A sustentabilidade ambiental da4.3 A sustentabilidade ambiental da4.3 A sustentabilidade ambiental da

    comunidadecomunidadecomunidadecomunidadecomunidadeO nvel de sustentabilidade ambiental, na dimenso

    social, foi avaliado mediante indicadores que expressassema percepo dos residentes quanto s possibilidades de vi-da social e de bem-estar na comunidade, com foco nas rela-es interpessoais e coletivas, na segurana, na discrimina-o social, no acesso a bens e servios da comunidade,como sade, educao, transportes, entre outros, conforme a

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    Tabela 2. Dentro de uma escala que varia de 0 a 4, a comu-nidade atingiu mdia de 2,916, com variao que vai de2,156, para o indicador 8 O sistema de comunicao atendeos interesses da comunidade , a 3,750, para o indicador 3

    Ascrianas podem brincar e passear livremente pelas ruas epraas da comunidade , indicando que 29 (90%) concor-dam que se trata de uma comunidade na qual reina asegurana e a tranquilidade nos espaos pblicos. Numavariao de 0 a 1, o nvel de sustentabilidade de 0,729.

    Os indicadores relacionados sustentabilidade nadimenso econmica foram selecionados para dimensionara capacidade de acesso aos bens e servios e s atividadesgeradoras de renda dos membros da comunidade. Para tanto,

    considerou-se o nvel de renda familiar per capita, a absorode mo de obra local e a satisfao das necessidades bsi-cas de moradia e alimentao, conforme a Tabela 3. Obteve-se a mdia de 2,499 pontos, numa escala que varia de 0 a 4,ou 0,6247, numa escala de 0 a 1. Merecem especial desta-que os indicadores 1, 6 e 7, em razo da situao contrriaque representam: no primeiro caso, 28 (87%) dos entrevistadosconcordam que satisfazem suas necessidades de alimenta-o e de moradia na comunidade, enquanto, no segundocaso, 24 (75%) discordam que os alimentos consumidos soproduzidos na comunidade ou, no terceiro caso, 16 (50%)discordam que o nvel de renda familiarper capitana ecovilapermite um padro de vida digno. Essa controvrsia pode ser

    entendida quando 50% dos entrevistados informam um baixonvel salarial, enquanto 27% dos moradores tm rendimentosprovindos de fora da comunidade.

    Para dimensionar o nvel de sustentabilidade na di-menso dos componentes naturais, foram selecionados in-dicadores envolvendo atividades relacionadas com gua,solo, energia, gesto dos resduos e dos efluentes, entre outros,conforme a Tabela 4. A mdia de pontuao obtida parasustentabilidade ambiental da comunidade nessa dimen-so foi de 3,276, numa escala de 0 a 4, o que corresponde a0,819, numa escala de 0 a 1. uma pontuao relativamenteelevada, com variao oscilando entre o mnimo de 2,000,no caso do indicador 3, referente percepo da degrada-o do solo, at o mximo de 3,967, no indicador 8, referente

    ao consumo de energia renovvel. A total concordncia como uso de energia de fontes renovveis na comunidade deve-se ao fato de que a totalidade dos moradores entrevistadosutiliza energia solar em suas residncias.

    Os dados sugerem que a sustentabilidade dos com-ponentes naturais recebe maior ateno por parte das lide-ranas e dos moradores da comunidade, que demonstramgrande preocupao com o equilbrio ecolgico entre a loca-lidade e o meio ambiente, no que diz respeito qualidade

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    da gua, ao tratamento dos efluentes, produo orgnicade alimentos, utilizao de bioarquitetura nas construese correta destinao dos resduos slidos. Tem-se observadoque significativos investimentos, tanto de mo de obra quantode aes e verbas, so destinados para estes indicadores.Grande parte dos entrevistados concorda que as guas resi-duais de Piracanga recebem o devido tratamento e que ocultivo orgnico utilizado quando se trata de produointerna de alimentos. Os resduos orgnicos vo para a com-postagem e, posteriormente, se transformam em adubo parao plantio e jardinagem dos espaos internos. A reciclagemde resduos para cooperativas da cidade vizinha de Itacar utilizada por praticamente todos os moradores de Piracanga.

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    4.4 Relao entre ecofeminismo e susten4.4 Relao entre ecofeminismo e susten4.4 Relao entre ecofeminismo e susten4.4 Relao entre ecofeminismo e susten4.4 Relao entre ecofeminismo e susten-----tabilidade ambiental na comunidadetabilidade ambiental na comunidadetabilidade ambiental na comunidadetabilidade ambiental na comunidadetabilidade ambiental na comunidade

    Os dados da pesquisa confirmam no apenas a pre-sena de grande parte dos valores ecofeministas na Ecovilade Piracanga como tambm apresentam correlao signifi-cante com a sustentabilidade ambiental, nas trs dimensesconsideradas (Tabela 5). A ausncia total de correlao oude correlao significante ocorre nos casos em que a totali-dade ou quase totalidade dos entrevistados concordam, co-mo no indicador 9 o manejo e a recuperao dos ecossiste-mas uma preocupao da comunidade , e no indicador13a comunidade considera que o planeta um organismo

    vivo , ou no indicador 8 do uso/gesto dos recursos, sobre oconsumo de fontes de energia renovveis. Nesses casos, oindicador transforma-se numa constante ou quase constante.

    Esses resultados confirmam, portanto, o pressupostode que os princpios e valores defendidos pelo ecofeminismocontribuem para fortalecer e potencializar a sustentabilidadeambiental da comunidade. Tais resultados mostram que,quanto mais forem investidas aes para o fomento dos princ-pios e valores do ecofeminismo, provavelmente se ter maiorsucesso no alcance da sustentabilidade ambiental da comu-nidade, mas, sendo negligenciados, podero refletir negati-vamente. Nesse sentido, vale insistir na relevncia de a comu-nidade investir no princpio da no hierarquizao da orga-nizao, considerando que este foi um dos indicadores demenos concordncia dos moradores, mas que tem efeito posi-tivo significante, isto , quanto menos hierarquizada, maiorser a sustentabilidade ambiental da comunidade. oportu-no observar tambm que os que tm menor nvel de rendafamiliar so os que mais discordam da existncia de apoios pessoas, de oportunidades iguais para o desenvolvimentode talentos, de valorizao da esttica, da arte e da beleza,de valorizao da diversidade e de organizao no hierar-quizada na comunidade, de onde resultam correlaesnegativas significantes.

    5 Concluso5 Concluso5 Concluso5 Concluso5 Concluso

    Os princpios e valores que orientam o ecofeminismoem favor do ambiente sustentvel encontram suporte empricona Ecovila de Piracanga que, por sua vez, se apresenta comouma organizao social alternativa, de baixo impacto sobreos componentes naturais e de novos valores de bem-estarsocial. Princpios do ecofeminismo e prticas da ecovilaapresentam-se consonantes com a tentativa de mitigarimpactos antrpicos sobre o meio ambiente, em diferentesdimenses, em nvel local, e questionar padres culturaisdominantes.

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    Os resultados obtidos permitem concluir que, tanto aecovila pesquisada ainda tem muito a evoluir comoorganizao social alternativa que busca uma forma maisintegrada de relacionamento humano com a natureza, e umaforma de convivncia humana fundada na solidariedade ecooperao, quanto o movimento ecofeminista tem aindamuito a trabalhar na sua prtica para tornar concretos osprincpios e valores defendidos em favor da sustentabilidadedo meio ambiente. Entretanto, os resultados no deixamdvidas quanto persistente relao positiva que existe entreindicadores de sustentabilidade ambiental e indicadoresde ecofeminismo, sinalizando que esse movimento pode trazerrelevantes contribuies para a formao de comunidades

    mais sustentveis. Acima de tudo, os resultados apontam paraa possibilidade de solues inovadoras em busca de umnovo padro no relacionamento sociedade-natureza.

    Como o movimento de ecovilas vem se expandindono mundo e no Brasil, altamente recomendvel ampliar asavaliaes empricas de como se estrutura e como funciona,em diferentes contextos socioambientais, essa modalidadede organizao social alternativa.

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    34 Estudos Feministas, Florianpolis, 23(1): 11-34, janeiro-abril/2015

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    [Recebido em 13 de novembro de 2013e aceito para publicao em 9 de outubro de 2014]

    EEEEEcofeminism and Sustainable Communitycofeminism and Sustainable Communitycofeminism and Sustainable Communitycofeminism and Sustainable Communitycofeminism and Sustainable CommunityAbstractAbstractAbstractAbstractAbstract: It is assumed that the ecovillage movement represents a social organization alternativewith low impact on natural environment and new values in accordance with the social lifewelfare. The ecofeminist movement, on its turn, sustains that the main concern of the movementis towards environmental protection and against destructive technology. It is investigated, in thisresearch, if the ecofeminism principles are present at the ecovillage organization and dynamics,and if ecofeminist indicators impact on the quality of local environment. The Piracanga Ecovillage,located at municipality of Marau, South Cost of Bahia, Brazil, has been taken for empiricalobservation. Findings support the assumption that there is a significant correlation betweenenvironmental sustainable indicators and ecofeminism indicators at the local level, pointingtowards innovative solutions for society-nature relationship.Key WordsKey WordsKey WordsKey WordsKey Words: Ecofeminism. Ecovillages. Sustainable Communities. Local Development.