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13/04/19 CAPA

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13/04/19 CAPA

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13/04/19 REPORTAGEM

“O amigo do amigo de meu pai”

Em documento a que Crusoéteve acesso, o empreiteiro MarceloOdebrecht revela à Lava Jato ocodinome usado para se referir aDias Toffoli na empreiteira

Rodrigo RangelMateus Coutinho

Na última terça-feira, umdocumento explosivo enviado peloempreiteiro-delator MarceloOdebrecht foi juntado a um dosprocessos da Lava Jato que

tramitam na Justiça Federal deCuritiba. As nove páginas trazemesclarecimentos que a PolíciaFederal havia pedido a ele, a partirde uma série de mensagenseletrônicas entregues no curso de suadelação premiada.

No primeiro item, MarceloOdebrecht responde a umaindagação da Polícia Federal acercade codinomes que aparecem em e-mails cujo teor ainda hoje é objetode investigação. A primeira dessas

mensagens foi enviada peloempreiteiro em 13 de julho de 2007a dois altos executivos daOdebrecht, Irineu Berardi Meirelese Adriano Sá de Seixas Maia. Otexto, como os de centenas de outrase-mails que os executivos daempreiteira trocavam no auge doesquema descoberto pela Lava Jato,tinha uma dose de mistério.

Marcelo Odebrecht pergunta aosdois: “Afinal vocês fecharam com oamigo do amigo do meu pai?”. É

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Adriano Maia quem responde,pouco mais de duas horas depois:“Em curso”. A conversa foi incluídano rol de esclarecimentos solicitadosa Marcelo Odebrecht. Eles queriamsaber, entre outras coisas, quem é otal ”amigo do amigo do meu pai”. Epediram que Marcelo explicasse,“com o detalhamento possível”, os“assuntos lícitos e ilícitos tratados,assim como identificação deeventuais codinomes”.

A resposta do empreiteiro, queapós passar uma longa temporada naprisão em Curitiba agora cumpre o

restante da pena em regimedomiciliar, foi surpreendente.Escreveu Marcelo Odebrecht nodocumento enviado esta semana àLava Jato: “(A mensagem) Refere-se a tratativas que Adriano Maiatinha com a AGU sobre temasenvolvendo as hidrelétricas do RioMadeira. ‘Amigo do amigo de meupai’ se refere a José Antonio DiasToffoli”. AGU é a Advocacia-Geralda União. Dias Toffoli era oadvogado-geral em 2007.

O empreiteiro prossegue,acrescentando que mais detalhes do

caso podem ser fornecidos à LavaJato pelo próprio Adriano Maia. “Anatureza e o conteúdo dessastratativas, porém, só podem serdevidamente esclarecidos porAdriano Maia, que as conduziu”,afirmou no documento, obtido porCrusoé.

Adriano Maia se desligou daOdebrecht em 2018, depois doturbilhão que engoliu a empreiteira.Ex-diretor jurídico da construtora,seu nome já havia aparecido nosdepoimentos da delação premiadade Marcelo Odebrecht. Ele é citado

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como conhecedor dos negóciosilícitos da empresa. O empreiteiro dizque Adriano Maia sabia, porexemplo, do pagamento de propinaspara aprovar em Brasília medidasprovisórias de interesse daOdebrecht. Ele menciona, entre oscasos, a MP que resultou nochamado “Refis da Crise” e permitiua renegociação de dívidas bilionáriasapós acertos pouco ortodoxos comos ex-ministros Guido Mantega eAntonio Palocci.

Adriano Maia também apareceem outras trocas de mensagens comMarcelo Odebrecht que jáconstavam nos inquéritos da LavaJato. Em uma delas, também de2007, Odebrecht o orienta aestreitar relações com Dias Toffoli naAdvocacia-Geral da União. Àquelaaltura, a Odebrecht tinha interesse,juntamente com outras construtorasparceiras, em vencer a licitação paraconstrução e operação da usinahidrelétrica de Santo Antônio, no rioMadeira. Na AGU, Toffoli haviamontado uma força-tarefa com maisde uma centena de funcionários pararesponder, na Justiça, às ações queenvolviam o leilão.

Havia um esforço grande dogoverno para dar partida às obras.O leilão para a construção da usinade Santo Antônio foi realizado emdezembro de 2007, cinco mesesapós a mensagem em que MarceloOdebrecht pergunta aos doissubordinados se eles “fecharam como amigo do amigo de meu pai”. Adisputa foi vencida pelo consórcioformado por Odebrecht, Furnas,Andrade Gutierrez e Cemig. A LavaJato trabalha para destrinchar o que

há por trás dos e-mails – e doscodinomes que, agora, a partir dosesclarecimentos de MarceloOdebrecht, são conhecidos.

A menção a Dias Toffolidespertou, obviamente, a atençãodos investigadores de Curitiba. Umacópia do material foi remetida àprocuradora-geral da República,Raquel Dodge, para que ela avaliese é o caso ou não de abrir umafrente de investigação sobre oministro – por integrar a SupremaCorte, ele tem foro privilegiado e sópode ser investigado pela PGR.

Os codinomes relacionados àsamizades de Marcelo e do pai dele,Emílio Odebrecht, já apareciam nasprimeiras mensagens da empreiteiraàs quais a Polícia Federal teveacesso, ainda na 14ª fase da LavaJato, deflagrada em junho de 2015.No material, havia referênciasfrequentes a “amigo”, “amigo de meupai” e “amigo de EO”.

Demorou pouco mais de um anopara que os investigadorescolocassem no papel, pela primeiravez, que o “amigo de meu pai” a queMarcelo costumava se referir eraLula – o ex-presidente conheciaEmílioo Odebrecht desde os temposem que era sindicalista. Asmensagens passaram a fazer aindamais sentido depois. Elas quasesempre tratavam de assuntosrelacionados ao petista.

Se havia a certeza de que o“amigo de meu pai” era Lula, aindaera um enigma quem seria o tal“amigo do amigo de meu pai”. Sabia-se que, provavelmente, era alguémpróximo a Lula. Mas faltavamelementos para cravar o “dono” docodinome e, assim, tentar avançar naapuração. A alternativa que restavaera, evidentemente, perguntar aopróprio Marcelo Odebrecht. E assimfoi feito.

Há fundadas razões, como se diz

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no jargão jurídico, para Dias Toffoliser tratado por Marcelo Odebrechtcomo “amigo do amigo de meu pai”– amigo de Lula, portanto. O atualpresidente do Supremo foi, duranteanos a fio, advogado do PT. Com achegada de Lula ao poder, ascendeujuntamente com os companheiros.Sempre manteve ótima relação como agora ex-presidente, que estápreso em Curitiba.

Em 2003, Dias Toffoli foiescolhido para ser o subchefe deassuntos jurídicos da Casa Civil.Naquele tempo, o ministro era JoséDirceu. Toffoli ocupou o posto atéjulho de 2005. Em 2007, foinomeado por Lula chefe daAdvocacia-Geral da União, um doscargos mais prestigiosos da máquinafederal. Em 2009, deu mais um saltona carreira: Lula o escolheu para umadas onze vagas de ministro doSupremo Tribunal Federal.

Nesta quinta-feira, Crusoéperguntou a Dias Toffoli que tipo derelacionamento ele manteve com osexecutivos da Odebrecht no períodoem que chefiava a AGU e, emespecial, quando a empreiteiratentava vencer o leilão para aconstrução das usinas hidrelétricas norio Madeira. Até a publicação destaedição, porém, o ministro não haviarespondido.

Os outros e-mails listados naresposta de Marcelo Odebrecht aopedido de esclarecimentos feito pelaPolícia Federal trazem maisbastidores da intensa negociaçãotravada entre a empreiteira e ogoverno em torno dos leilões para aconstrução das usinas na região

amazônica – projetos que, naocasião, eram tratados por Brasíliacom grande prioridade e que, comoa Lava Jato descobriria mais tarde,viraram uma fonte generosa depropinas para a cúpula petista.

Ao explicar uma das mensagens,Marcelo Odebrecht volta a envolvero ex-presidente Lula diretamente nascontroversas negociações com acompanhia. Ao se referir à decisãoda empresa de abrir mão de umcontrato de exclusividade com seusfornecedores no processo delicitação da usina de Santo Antônio,Marcelo afirma que a medida foiadotada a partir de uma conversaprivada entre Lula e EmílioOdebrecht.

Diz ele: “Esta negociação foi feitaentre Emílio Odebrecht e opresidente Lula (‘amigo de meu pai’)que prometeu compensar aOdebrecht em dobro (de algumaforma que só Emílio Odebrecht podeexplicar)”. Também há menção aDilma Rousseff, tratada em um dose-mails como “Madame”. A entãoministra da Casa Civil de Lula era

vista, àquela altura, como umempecilho aos projetos daOdebrecht na área de energia naregião norte do país. As mensagenstrazem, ainda, referências aospedidos de propina relacionados aosleilões, que chegavam por intermédiode João Vaccari Neto, ex-tesoureirodo PT.

Com as respostas do empreiteiro-delator, a Lava Jato deverá dar maisum passo nas investigações sobre osleilões das hidrelétricas. Uma dasfrentes de apuração, que mira aconstrução da usina de Belo Monte,já está avançada. Quanto à mençãode Marcelo Odebrecht a DiasToffoli, não se sabe, até aqui, se aProcuradoria-Geral da Repúblicapedirá algum tipo de esclarecimentoao ministro antes de decidir o quefazer. Como advogado-geral daUnião, Toffoli tinha a atribuição delidar com o tema. Até por isso, nãoé possível, apenas com base namenção a ele, dizer se havia algo deilegal na relação com a empreiteira.Mas explicações, vale dizer, sãosempre bem-vindas.

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13/04/19 REPORTAGEM

O ocaso de Dirceu

A melancolia do outrora todo-poderoso chefe petista nos dias queantecedem a sua volta à prisão

Caio Junqueira

Chefe do mensalão, expoente dopetrolão e condenado a mais de 30anos de prisão, o ex-ministro JoséDirceu vive seus últimos emelancólicos dias de liberdade antesdo certo retorno à cadeia.

A influência no PT, o partido que

ajudou a estruturar e achegar ao poder, seesvaiu. As vendas dolivro no qual apostoupara pagar suas contasficou aquém dasexpectativas. Sua festade aniversário, emmarço, foi esvaziada. Oscompanheiros de partidomais próximos atétentam agradá-lo, comconversas frequentes,mas ele já não é maisnem a sombra do que foino auge da era petista nopoder. As alegrias quevem tendo são poucas,como a provocação demau gosto que seu filho,o deputado Zeca Dirceu,fez há duas semanas aoministro da Economia,Paulo Guedes, ao dizerque ele era “tchutchuca”com os abastados do

país.

A volta à prisão é iminente. Embreve, ele será recolhido àpenitenciária da Papuda, onde jáesteve por uma longa temporada. Oretorno ao cárcere se daráprovavelmente em maio, quando oTribunal Regional Federal da 4ªRegião julgará seu último recurso emuma ação da Lava Jato na qual ele éacusado de receber 2,1 milhões dereais em propinas decorrentes de umcontrato da Petrobras com uma

fornecedora de tubos.

Esse é apenas mais um entrevários processos a que o ex-todo-poderoso ministro petista respondepor sua participação no petrolão.Nesse caso, foi condenado peloscrimes de corrupção passiva elavagem de dinheiro. A pena é deonze anos e três meses de prisão.

Dirceu está solto desde junho de2018, graças a uma iniciativa do atualpresidente do Supremo TribunalFederal, Dias Toffoli, seu ex-subordinado no PT e no governoLula. Àquela altura, Toffoli integravaa Segunda Turma da corte e decidiurever a pena do petista de ofício –sem que houvesse pedido da defesa.A decisão foi acompanhada porGilmar Mendes e RicardoLewandowski.

O processo era distinto daqueleque o TRF deverá julgar no próximomês. Referia-se ao recebimento de15 milhões de reais em propinaspagas pela Engevix. Por essa frentede investigação da Lava Jato, Dirceufoi condenado a 23 anos e três mesesde prisão por lavagem de dinheiro,corrupção ativa e organizaçãocriminosa.

Às condenações pelo esquemade corrupção na Petrobras sesomam os sete anos e onze mesesde prisão da pena por corrupçãoativa que lhe foi imposta pelo

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Supremo no processo do mensalão.No total, Dirceu cumpriu um ano decadeia pelo mensalão e mais dezmeses pelo petrolão — menos de10% do somatório de todas ascondenações.

O horizonte para o petista estálonge de ser dos melhores. Além dassentenças que já carrega nas costas,ele é réu em outro processo, em queé acusado de receber 2,4 milhões dereais de empreiteiras por meio decontratos fictícios firmados com a suaempresa, a JD Consultoria.

Como se não bastasse, umrelatório técnico do MPF apontouque a Odebrecht repassou, entre2008 e 2012, pelo menos R$ 13milhões a “Guerrilheiro”, umcodinome atribuído a José Dirceupelos delatores da construtora. Odocumento, de novembro de 2018,foi juntado a uma investigação sobreo petista e seu filho, o deputado ZecaDirceu, que tramitava no STF, masacabou remetida à Justiça Eleitoraldo Paraná em março deste ano porEdson Fachin. Ante a profusão deacusações, ele já admite que, destavez, vai ficar um longo período emregime fechado.

Nas conversas com amigos ecolegas de partido, Dirceu temdeixado transparecer o desânimo.Embora ainda insista em tratar depolítica, e se esmere na distribuiçãode recomendações a serem seguidaspelo PT na oposição, ele gasta amaior parte do tempo falando sobrea expectativa do retorno à prisão.

Estranhamente, gosta de lembrardas temporadas que passou naPapuda. Fala da rotina, da disciplinae das amizades. Principalmenteaquelas que fez com políticos comos quais compartilhou a vida nocárcere, seja na Papuda, seja emCuritiba, onde também esteve preso.É o caso dos ex-senadores LuizEstevão e Gim Argello, do ex-deputado Pedro Correa e do ex-tesoureiro petista João Vaccari Neto.

A relação com Estevão,especialmente, tornou-se estreita.Adversários políticos no passado, osdois ficaram muito próximos nacadeia. Conversavam diariamente.Tratavam de política e de estratégiasde defesa. O ex-senador chegou aoferecer a Dirceu a posição dearticulista político em um site de suapropriedade. Depois, foiaconselhado a recuar da ofertaporque a parceria não soaria bem.

Ao desfiar suas memórias daPapuda, Dirceu gosta de contar queLuiz Estevão, condenado pelo desviomilionário das obras do TribunalRegional do Trabalho de São Paulo,bancou uma reforma no presídio paraque detentos como ele tivessem umavida menos insalubre – as obras, quepassaram a ser alvo de investigaçãodo Ministério Público, foram feitasna ala da penitenciária para ondecostumam ser levados os presosfamosos.

“Chega na prisão, não dá parabrigar com ela. Porque chega lá e teminsônia, depressão, toma remédio,chora, quer a mãe. Eu resolviescrever. Mas tinha companheirosque só choravam. Não faziam abarba. Eu falava: ‘Você vai receberseus filhos assim? Vai se arrumar.Para de chorar’. É duro ficar preso.Mas a cadeia tem que ser umatrincheira”, diz.

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Para além das conversasreservadas e da rotina de quaseclausura (ele evita frequentarambientes onde possa correr, o ex-ministro tem se dedicado a sessõesde divulgação de seu livro, “ZéDirceu Memórias – volume I”. Desdeo lançamento, em novembro, ele jápassou por 22 capitais e dezenas decidades do interior do país. Assessões costumam ocorrer emsindicatos, centros culturais e atémesmo em circos. A aliados, ele juraque a venda dos livros é, hoje, suaprincipal fonte de renda.

“Ele está seguindo a vidanormalmente, esperando as decisõesjudiciais. Está aí como camelô delivro, vendendo o livro dele pelasruas”, diz Luiz Fernando Emediato,o editor de Dirceu. Até agora, jáforam vendidos 30 mil exemplaresdo livro, cada um a 60 reais. Opetista recebe em torno de 10% dovalor bruto de cada unidade, o quepermite concluir que, até agora, elejá faturou aproximadamente 180 milreais pela obra – quase nada pertodos milhões apurados por ele nos

esquemas de corrupção descobertospela Lava Jato. As vendas ficaramabaixo do esperado. “Foram umpouco menos que as projetadas”,admite o editor, atribuindo o fracassoà situação de penúria das maioreslivrarias do país.

Além da renda com o livro, porter sido deputado, Dirceu tambémrecebe uma aposentadoria deaproximadamente 10 mil reais. Seusbens, avaliados em mais de 11milhões de reais, estão bloqueados.O petista vive com a filha e a mulherem um apartamento emprestado pelasogra em um bairro nobre de Brasília.

Os encontros para divulgar o livro– e levantar dinheiro – sãoorganizados por militantes quegarantem atuar voluntariamente. Emmuitas ocasiões, o PT oferece ajudacom o espaço de seus diretórios paraas sessões de autógrafos. Maspoucos dos figurões petistascomparecem, o que só confirma quea influência de outrora se esvaiu.Dirceu é ouvido, mas suas posiçõesjá não são determinantes. “Não é

alguém que o PT vai tomar umadecisão a partir do que ele fala”,disse a Crusoé um dirigente dopartido.

Na noite desta quinta-feira, 11,Crusoé acompanhou uma dessassessões de lançamento do livro noGama, cidade-satélite de Brasíliasituada a 35 quilômetros daEsplanada dos Ministérios. Era oretrato perfeito da nova fase deDirceu. Na “Casa 5”, um espaçopara eventos típico das periferias dascapitais, encravado em uma ruaescura, com calçamento irregular erepleta de bares com idososjogando dama nas calçadas tendoao fundo o som de cânticos deigrejas evangélicas vizinhas, nãohavia mais que 50 pessoas.

No salão de cerca de 300 metrosquadrados, o petista falou por quaseuma hora sobre a formação doestado brasileiro enquanto criançasaproveitavam, bem ao lado, umpula-pula. Pouco antes de Dirceucomer a falar, Chico Vigilante,deputado distrital e fundador do PTno Distrito Federal, fez um apelo aospresentes, repetindo a história deque o companheiro está necessitado:“É importante adquirir o livro porqueo Zé não tem patrimônio e querdeixar uma poupança para a filha.Ele não sabe a situação dele nospróximos meses porque ninguémrespeita a Constituição”.

Dirceu discorreu sobre a históriado país (sob a ótica petista, claro),fez ataques ao presidente JairBolsonaro e abordou os dilemas doPT. “Se a situação mudou, nós temos

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que mudar. É ilusão pensar quenão podem surgir outros partidose lideranças. Quem aqui sabe onome de alguém da direção doPT?”, provocou. Ninguém sabia.Para ele, tudo está mudando e opartido precisa se adaptar. Citoucomo exemplo da mudança aproximidade do petismo comgrupos que, até há pouco, quandoo partido estava no poder, eramtratados como inimigos: “Quemdiria há seis meses que estaríamoshoje defendendo o STF? Queestaríamos defendendo a Globo e aFolha contra o Bolsonaro? Que aCNA (Confederação Nacional daAgricultura) iria nos chamar paraconversar?”. Ele se negou a falarcom Crusoé.

O papel diminuído de Dirceu noPT é bem exemplificado pelo espaçoque Dirceu terá no seminário que opartido realiza neste final de semana.Batizado de “O PT e os desafios daesquerda no século 21: utopia eresistência”, ele participará de umamesa que discutirá “EstratégiaSocialista e defesa da democracia noBrasil”. Ao seu lado estarão gente doquilate do ex-senador LindberghFarias, derrotado na eleição de2018, e Juliano Medeiros, presidentedo PSOL. Outro exemplo é a festamirrada para comemorar seus 73anos, em março. O clima era dedespedida. O petista se emocionoupor diversas vezes. Em um claro sinalde vacas magras, foi pedido quecada convidado levasse aquilo quefosse beber. Não havia nenhumexpoente petista na confraternização.

Apesar da perda de influência,Dirceu tem mantido relaçãopermanente com os correligionários,

em especial deputados e senadoresdo PT. Fala com alguns deles aotelefone pelo menos uma vez ao diae participa de reuniões informais,sempre fora do partido, onde evitapassar. Está alinhado a ummovimento crescente para que alegenda se descole da pauta “LulaLivre” e passe a atuar em outrasfrentes, com o objetivo de evitar oisolamento político.

A avaliação desse grupo é a deque a pauta única em torno dalibertação do ex-presidente pode atésegurar o terço do eleitorado que ospetistas acreditam ter, de qualquermodo, em todas as eleições. Noentanto, o samba de uma nota só,dizem, impede a sigla de romper essabolha e, consequentemente, voltar aser uma alternativa de poder em2022 – um sonho que os petistasainda acalentam, apesar da fragorosaderrota em 2018.

Se prevalecer, esse movimentoprovavelmente resultará noafastamento da deputada GleisiHoffmann, a maior entusiasta daagenda “Lula Livre”, do comandopartidário na eleição interna, previstapara outubro. Nas últimas semanas,diversos petistas, como o deputadoJosé Guimarães, os senadores Jaques

Wagner e Humberto Costa, ogovernador do Piauí, WellingtonDias, e o ex-ministro Luiz Dulcidesembarcaram na cadeia emCuritiba para medir o ânimo deLula em relação a uma eventualmudança na linha de atuação dopartido.

O ex-presidente, que antesestava fechado com a

recondução de Gleisi, agora tem ditoque “ainda é cedo para falar disso”.Para quem conhece o chefão petista,trata-se de um sinal claro de que elejá começa a aceitar a substituição deGleisi. Dirceu, porém, embora apoieessa estratégia, está longe de liderá-la. Sinal dos tempos.

O ocaso do ex-ministro tem feitotambém com que ele ensaie umaespécie de autocrítica sobre operíodo em que o PT governou opaís, algo que ele mesmo sempre serecusou a fazer. “Uma coisa é caixa2 de campanha e relação comempresas para campanhas eleitorais.Se temos que fazer uma autocrítica,é aqui. Mas sabemos que Lula estápreso pela esquerda, pelo PT”, disseele no evento desta quinta. Em umjantar recente com parlamentares,questionou: “Lula precisou criarmaioria e trouxe junto os vícios dapolítica, Haveria outro caminho?”.Defendeu ainda que o partido serenove e se repense. Aproveitou parase defender das inúmeras acusaçõese condenações contra ele na Justiça.Refutou ter cometido qualquer crimee apontou que quem o acusa, osdelatores, foram os que maisganharam dinheiro por meio dele. AJustiça, como é sabido, pensadiferente.

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13/04/19 DIOGO MAINARDI

Aposentadoria? Nem pensar

Jair Bolsonaro vai gastar maisdinheiro com propaganda da reformaprevidenciária. Não adianta nada. Éum mau produto. Quanto mais eleexplicar, pior. Ninguém quer seaposentar mais tarde, ganhandomenos. A única defesa que se podefazer da reforma é que, sem ela, oBrasil quebra.

Eu já me aposentei uma vez, em2010. Larguei a imprensa e fiquei emcasa escrevendo um livro. Foi amelhor fase da minha vida. Aaposentadoria é ótima. Depois disso,para me penitenciar, porque é umsacrilégio ter tanto prazer assim,arrumei um trabalho que toma 14horas do meu dia. E, dessas 14horas, umas 7 são dedicadas àreforma previdenciária, o assuntomais aborrecido de todos os tempos,ao qual O Antagonista dedica umaquantidade desmedida de postsigualmente aborrecidos, em geralfeitos por mim.

Apesar de ser essencial para aeconomia, a reforma previdenciária

é ruim para os negócios. Ninguémquer ler sobre ela. É a PEC mata-cliques. Para me penitenciar, deciditrazer o tema também para a Crusoé.Mas é ainda pior do que isso. Daquia alguns dias, vamos abrir outra frentede trabalho. Além de O Antagonistae da Crusoé, que vão continuaridênticos – ou seja, com a mesmacarga horária -, poderei falar sobrea reforma previdenciária igualmenteno A+, nosso novoempreendimento, que vai cobrir umaárea do jornalismo que o site e arevista não cobrem.

Em breve, portanto, minhas 14horas de trabalho vão se transformarmagicamente em 18 ou 19. Não poracaso, a primeira providência quemeu sócio e amigo fraterno MarioSabino tomou foi obrigar-me a fazer,assim como ele, um seguro de vida.Desde então, estamos numa disputaentusiasmante para saber quemmorre mais cedo, ele ou eu. Éprovável que dê empate.Aposentadoria? Nem pensar.

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13/04/19 ENTREVISTA

“O ruído está sendo superado”

Às vésperas da votação dareforma da Previdência na CCJ,o presidente da comissão defendeque o Planalto converse mais comos deputados e diferencie os que“têm bons objetivos” da “minoriaque não tem”

Igor Gadelha

Em um churrasco no Paraná emoutubro do ano passado, logo apóssua primeira eleição para deputadofederal, Felipe Francischini disse aamigos e aliados: vou ser o próximopresidente da Comissão deConstituição e Justiça da Câmara.A maioria riu. Achava que umdeputado de 27 anos de idade, e emprimeiro mandato, jamaisconseguiria presidir a comissão maisimportante da casa. Felipe ignorou.E passou a estudar o perfil de cadaum dos 52 deputados eleitos peloseu partido, o PSL, que poderiareivindicar o comando da CCJ porter a maior bancada. Analisou oeleitorado, a região em que cada umhavia sido mais votado e a área deatuação de cada um doscorreligionários. Com asinformações na cabeça, passou aligar para os colegas pedindo apoio.

Àquela altura, a deputada BiaKicis, do PSL do Distrito Federal,propagava pelos quatro cantos quetinha o apoio de Jair Bolsonaro paraassumir o posto. Isso acabouajudando o paranaense, queconquistou apoios também fora do

PSL, justamente com o discurso deque não era o candidato do Paláciodo Planalto. Antes de ir paraCâmara, Felipe havia cumprido umúnico mandato como deputadoestadual pelo Paraná, entre 2015 e2019. Até então, só ia a Brasília paravisitar o pai, o delegado da PolíciaFederal Fernando Francischini, queera deputado federal. Na últimaeleição, os dois trocaram de lugar.Fernando, que queria ficar mais noestado porque pretende disputar aPrefeitura de Curitiba em 2020,agora despacha na AssembleiaLegislativa do Paraná.

Formado em direito, FelipeFrancischini sempre focou suaatuação na área de segurança, aexemplo do pai. A pauta oaproximou da família do hojepresidente Jair Bolsonaro. Entre um

cigarro e outro (ele fuma, em média,dois maços por dia), o presidente daCCJ falou a Crusoé na última quarta-feira. Disse que falta uma “habilidademais aguçada” da equipe dearticulação política do Planalto,cobrou ações mais coordenadas,mas observou que, de duas semanaspara cá, a relação do palácio com oCongresso tem melhorado. “Pelomenos o diálogo está fluindo demaneira mais tranquila. O governo jánão tem dado mais tanta barrigadapor aí”, afirmou. Eis os principaistrechos da conversa:

A articulação política dogoverno está ruim mesmo ou oque se viu na audiência com oministro Paulo Guedes foi umacidente de percurso?

É um processo muito natural que

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tem acontecido, na minha visão.Bolsonaro ganhou a eleição comapenas dois partidos, o PSL e oPRTB do vice-presidente HamiltonMourão. Geralmente, no Brasil,quando um presidente se elegia tinhadez, quinze partidos ao lado dele. Oato de sair da eleição e sentar nacadeira presidencial era muito fácilquando se trazia tantos partidos paradentro da base do governo, com adistribuição de ministérios, comindicações políticas. Com Bolsonarofoi diferente: já houve uma ruptura.No caso da construção da base noCongresso, o que aconteceu? Naprimeira semana, já chegou a PECda Previdência, que é uma propostabastante polêmica. Vários fatoresajudaram a fazer com que aarticulação inicial fosse muito difícil.É claro que falta uma habilidade maisaguçada da equipe que foi montadana articulação política. Não que elesnão sejam boas figuras, mas falta umaação integral, uma coordenaçãomaior. Mas tenho percebido que, deduas semanas para cá, temmelhorado bastante essa relação.Acho que as coisas estão seassentando um pouco no Congresso.Pelo menos o diálogo está fluindo demaneira mais tranquila. O governo jánão tem dado mais tanta barrigadapor aí. É preciso que se comece adistinguir quem tem bons objetivosda minoria que não tem.

Qual é o real motivo doincômodo dos parlamentares como presidente? É falta de cargo, deemendas, de atenção?

Na experiência brasileira, oLegislativo sempre entendeu que erauma prática natural fazer indicaçõespolíticas para o Executivo. Temgoverno que abre para a corrupção,tem governo que não abre. Mas

sempre foi um processo natural naconstrução da política brasileira.Quando o presidente Bolsonaroentra e tenta fazer uma ruptura nessesistema, querendo mudar algunscritérios, é claro que há um certodesconforto com a mudança. Sóvejo que muitos parlamentaresficaram, talvez, um pouco irritadoscom algumas posturas, não dopresidente, mas do governo como umtodo, de tentar criminalizar ou tentarcolocar como se essas indicaçõesfossem sempre uma prática ilícita.Essa relação está sendo recosturadaagora. Muitos parlamentares hojenem querem indicar para cargos nogoverno. Querem ser atendidos pelosministérios, para levarem seusprefeitos, governadores. Querem terportas abertas junto ao presidentepara poder levar questões deprojetos de lei. Agora o governotambém dá a entender que abrirá (apossibilidade de indicações), comcurrículo, com pessoas técnicas,obedecendo a muito critério econtrole. Não será mais comoantigamente, quando se loteavaministério O presidente estáimplementando esse processo demudança. O discurso inicial gerouesse ruído, mas está sendo superado.

O líder do governo, MajorVitor Hugo, enfrenta resistênciasaté mesmo dentro do PSL. Umaeventual saída dele poderiamelhorar a articulação política?

Acredito que a troca não altera.No começo da nossa legislatura,havia muitas críticas ao Major VitorHugo. Expus isso a ele. Vejo que odesgaste criado no início é justamentedecorrente desse processo natural deque falei, que é o da construção deuma base que não existia, de rupturade um sistema de distribuição de

cargos. Qualquer líder do governoteria um problema muito grandediante dessa ruptura, porque até ascoisas se ajeitarem, é um processodifícil.

O bate-cabeça dentro dabancada do PSL podeatrapalhar?

O PSL era um partido que tinhaum deputado federal e passou a ter55, na conta de hoje. Geralmente, opartido do presidente, dogovernador ou do prefeito tem umaforte relação com o Executivo.Nesse caso, não acontece. Todos osnossos deputados são alinhados àspautas do presidente Bolsonaro. Noentanto, o presidente nunca foi umdirigente partidário. Ele nuncaexerceu comando formal sobre essaspessoas. Muitos deputados foramconhecer o presidente após a eleição.Concordavam com ele, defendiam,mas foram conhecer depois. Noinício, havia muito bate-cabeçadentro do PSL, havia muitadivergência em pontos nevrálgicos.Hoje, vejo que está havendo umconsenso maior, um direcionamentode ações mais efetivo que nãodemonstramos na sessão da leiturado parecer (da PEC da reforma daPrevidência), mas acredito que issovai ser corrigido com o tempo.

A oposição tem feito bastantebarulho na CCJ. O governo terámuita dificuldade na votação dareforma da Previdência nacomissão?

A oposição faz o seu papel. Sevocê analisar historicamente, emprojetos como reforma daPrevidência, como reformatributária, a oposição sempre vemcom argumentos veementes, comuma postura mais rígida, cobrando

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aspectos do regimento interno queàs vezes nem estão no regimento.Eles querem, às vezes, sobrestaressas discussões para ensejar umdebate maior. Então, encaro commuita naturalidade a oposição fazertodas esses questionamentos e atéum pouco de barulho na comissão.No entanto, espero que o governo ea oposição façam um acordo parahaver menos obstruções na votação.O acordo não depende de mim, esim da liderança do governo com aliderança da oposição. Se nãohouver acordo, claro que as cenasde ontem (terça-feira, 9) se repetirão,com muito debate, muita discussãoe, eventualmente, a suspensão dasessão por alguns minutos. Mas, seacontecer o acordo, tudo serádiferente.

Há possibilidade de aproposta ser alterada já na CCJ?

A chance sempre existe. Noentanto, em uma questão de ordemque respondi, deixei assentado oprecedente aqui da Câmara de quenão se admite destaque em propostade emenda à Constituição, muitomenos emenda supressiva. O quepode acontecer é, no parecer dorelator, ele retirar alguns trechos emvirtude de desconformidade com aConstituição. Então, caso a comissãoentenda que isso deve acontecer, ouo relator vai mudar seu relatório paraprestigiar o entendimento, ou podemfazer outro relatório paralelo eaprovar esse relatório. É possível amodificação. Não por emenda, masapenas via texto do relator. Nãoacredito que vai acontecer.

Outros temas polêmicospassarão pela CCJ, entre eles,uma proposta do senador JoséSerra para implementar o

parlamentarismo no país. O quepensa sobre isso?

Sou favorável aoparlamentarismo. De todos osestudos que fiz, acredito que é osistema mais adequado. Não é,porém, uma transição fácil. Qualquerdiscussão sobre parlamentarismotem que ser com muito pé no chão,com muita responsabilidade. Soufavorável, desde que coloque algunslimites e nuances brasileiras dentrodo parlamentarismo.

Outro tema que poderá passarpela CCJ é a prisão apóscondenação em segundainstância. O senhor é favorável?

Sou favorável. Na nossa reuniãona CCJ, inclusive, alguns deputadospediram para eu designar logo umrelator. O relator antigo era odeputado Rubens Bueno. Vou avaliaressa questão. Os deputados sãofavoráveis, em sua maioria, à prisãoapós condenação em segundainstância, mas têm a certeza de queisso precisa ser feito por propostade emenda à Constituição, e não porprojeto de lei. É algo que vamosanalisar depois da reforma daPrevidência.

Também há uma discussão naCâmara sobre criminalizar ocaixa 2. Se a criminalizaçãopassar, os deputados tentarãoanistiar quem recorreu a essaprática no passado?

Não vejo uma anistia como algopossível, até porque que isso já foitentado em anos anteriores e adiscussão foi retirada, por pressãoda opinião pública. Sempre digo queconcordo com o objetivo do ministroSergio Moro de combatar o crime ea corrupção, mas acho que o assuntodo caixa 2 tem que ser bem estudado

para que não cometamos nenhumailegalidade ou inconstitucionalidade.

O que seria cometerilegalidade ouinconstitucionalidade?

Temos que analisarprimeiramente a decisão do SupremoTribunal Federal sobre essa questãoda Justiça Eleitoral e da Justiçacomum. Depois, temos que analisartudo que já foi feito no Brasil e quaisseriam os reflexos disso em termosde ampla defesa, de contraditório,quanto a essas pessoas que cometemcrimes na área eleitoral. É um temasobre o qual ainda não formei umaconvicção mais forte, porqueacredito que tem que ser maiselucidado.

Concorda com a decisão doSupremo de transferir osprocessos para a JustiçaEleitoral?

A priori, fui favorável, mas nãoestou fechado a uma possíveldiscussão. Há projetos que já estãotramitando na Casa. A deputada BiaKicis (do PSL) é uma que temtrabalhado muito essa questão. Eoutros deputados querem, passadaa Previdência, começar a discutir arevisão dessa decisão do Supremo.

A PEC da reforma tributáriatambém deve passar pelacomissão que o sr. preside. Achaque será uma discussão maisfácil?

Claro que reforma tributárianunca é um tema fácil, porque háinteresses de todos os lados. Masacredito que é um debate que oBrasil espera há décadas. Obrasileiro não aguenta mais políticoprometer reforma tributária e nãoconcretizar a votação dessa reforma.

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Minha prioridade na CCJ, passadaa Previdência, com certeza será estaratento à PEC tributária, para poderdesignar um relator que tenhaconhecimento jurídico e tributário aomesmo tempo, a fim de avançarmoslogo e mandar para a comissãoespecial começar a analisar. Soufavorável à unificação de impostos.Em qualquer país que tem umalegislação coerente, os impostos sãounificados, não há tantos impostoscomo no Brasil. Hoje no Brasil quemmais paga tributo sobre sua renda éo pobre. O pobre contribui com maisde 50% do que ganha. Temos quefazer uma reforma que seja justapara todos, mas que tambémsimplifique a vida do empresário,desburocratize e que possa, namedida do possível, reduzir a cargatributária como um todo.