01 - texto dissertativo argumentativo

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O texto dissertativo-argumentativo Se descrever é caracterizar e se narrar é contar, o que é dissertar? Dissertar é o mesmo que desenvolver ou explicar um assunto, em princípio, sem compromisso com a persuasão e sim com a transmissão de conhecimentos. Os textos argumentativos, por sua vez, têm por finalidade principal persuadir o leitor sobre o ponto de vista do autor a respeito do assunto em questão. Essa divisão é muito tênue porque em tese todo ato de comunicação envolve certo grau de persuasão em seu objetivo. Os textos dissertativo-argumentativos em geral, além de explicar, também buscam influenciar o interlocutor por meio da defesa de um ponto de vista. À defesa do ponto de vista, à organização dos motivos que o justificam, à exposição dos fundamentos em que uma posição está baseada chamamos argumentação. Defender uma opinião com argumentos coerentes e adequados é o aspecto mais importante do texto dissertativo. Além da argumentação articulada, a dissertação deve apresentar também uma linguagem clara e uma estruturação lógica (com introdução, desenvolvimento e conclusão). A dissertação é, então, composta de dois elementos básicos: argumentos e ponto de vista, inseridos num tema. Articular esses dois elementos representa uma das atividades fundamentais da nossa prática de linguagem e da nossa condição de seres humanos. Com as experiências dissertativas, pensamos e repensamos a vida, questionamos o que nos é apresentado, interrogamos e criticamos a realidade, defendemos os nossos direitos, fazemos propostas de transformação do mundo. Escrevendo um texto dissertativo-argumentativo... Para escrever lucidamente, é preciso, em primeiro lugar, delimitar e contextualizar o tema. Depois, assumir uma posição e defendê-la com coerência, argumentando de modo organizado com a linguagem adequada, lógico-expositiva. Assim, os elementos estruturais de um texto dissertativo são: Tema: O assunto sobre o qual se escreve. Ponto de vista: A posição que se assume diante do tema. Argumentação: A fundamentação do posicionamento, a defesa do ponto de vista. Veja, agora, como esses elementos se distribuem na dissertação clássica: Introdução, que apresenta o assunto e o posicionamento do autor. Ao se posicionar, o autor formula uma tese ou a ideia principal do texto (que pode coincidir ou não com o ponto de vista expresso na frase ou no trecho em que é apresentado o tema); Colégio Pedro II - Unidade Tijuca II Departamento de Língua Portuguesa Coordenadora: Rosângela Abraão Professoras: Vanessa, Patrícia e Andreia

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Page 1: 01 - Texto dissertativo argumentativo

O texto dissertativo-argumentativo

Se descrever é caracterizar e se narrar é contar, o que é dissertar? Dissertar é o

mesmo que desenvolver ou explicar um assunto, em princípio, sem compromisso com a

persuasão e sim com a transmissão de conhecimentos. Os textos argumentativos, por sua

vez, têm por finalidade principal persuadir o leitor sobre o ponto de vista do autor a respeito

do assunto em questão. Essa divisão é muito tênue porque em tese todo ato de comunicação

envolve certo grau de persuasão em seu objetivo. Os textos dissertativo-argumentativos em

geral, além de explicar, também buscam influenciar o interlocutor por meio da defesa de

um ponto de vista. À defesa do ponto de vista, à organização dos motivos que o justificam,

à exposição dos fundamentos em que uma posição está baseada chamamos argumentação.

Defender uma opinião com argumentos coerentes e adequados é o aspecto mais

importante do texto dissertativo. Além da argumentação articulada, a dissertação deve

apresentar também uma linguagem clara e uma estruturação lógica (com introdução,

desenvolvimento e conclusão).

A dissertação é, então, composta de dois elementos básicos: argumentos e ponto de

vista, inseridos num tema. Articular esses dois elementos representa uma das atividades

fundamentais da nossa prática de linguagem e da nossa condição de seres humanos. Com as

experiências dissertativas, pensamos e repensamos a vida, questionamos o que nos é

apresentado, interrogamos e criticamos a realidade, defendemos os nossos direitos, fazemos

propostas de transformação do mundo.

Escrevendo um texto dissertativo-argumentativo...

Para escrever lucidamente, é preciso, em primeiro lugar, delimitar e contextualizar o

tema. Depois, assumir uma posição e defendê-la com coerência, argumentando de modo

organizado com a linguagem adequada, lógico-expositiva. Assim, os elementos estruturais

de um texto dissertativo são:

Tema: O assunto sobre o qual se escreve.

Ponto de vista: A posição que se assume diante do tema.

Argumentação: A fundamentação do posicionamento, a defesa do ponto de vista.

Veja, agora, como esses elementos se distribuem na dissertação clássica:

Introdução, que apresenta o assunto e o posicionamento do autor. Ao se posicionar, o

autor formula uma tese ou a ideia principal do texto (que pode coincidir ou não com o

ponto de vista expresso na frase ou no trecho em que é apresentado o tema);

Colégio Pedro II - Unidade Tijuca II

Departamento de Língua Portuguesa

Coordenadora: Rosângela Abraão

Professoras: Vanessa, Patrícia e Andreia

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Desenvolvimento, formado pelos parágrafos que fundamentam a tese. Normalmente, em

cada parágrafo é apresentado e desenvolvido um argumento. Cada um deles pode

estabelecer relações de causa e efeito ou comparações entre situações, épocas e lugares

diferentes; pode também se apoiar em depoimentos ou citações de pessoas especializadas

no assunto abordado, em dados estatísticos, pesquisas, alusões históricas;

Conclusão, que geralmente retoma a tese, sintetizando as ideias gerais do texto ou

propondo soluções para o problema discutido. Mais raramente, a conclusão pode vir na

forma de interrogação ou representada por um elemento-surpresa. No caso da interrogação,

ela é meramente retórica e deve já ter sido respondida pelo texto. O elemento-surpresa

consiste quase sempre em uma citação científica, filosófica ou literária, em uma formulação

irônica ou em uma ideia reveladora que surpreenda o leitor e, ao mesmo tempo, dê novos

significados ao texto.

A linguagem do texto dissertativo-argumentativo costuma ser impessoal,

objetiva e denotativa. Mais raramente, entretanto, há a combinação da objetividade com

recursos poéticos, como metáforas. Predominam formas verbais no presente do indicativo e

emprega-se o padrão culto e formal da língua.

CARACTERÍSTICAS DO TEXTO DISSERTATIVO-ARGUMENTATIVO

• expõe uma ideia ou um ponto de vista sobre determinado assunto;

• pode também conceituar ou definir um objeto, seja ele concreto ou abstrato;

• apresenta intenção persuasiva;

• convencionalmente, apresenta três partes essenciais: introdução (com a apresentação da

tese ou ideia principal), desenvolvimento e conclusão;

• usa linguagem geralmente clara, direta, objetiva e impessoal;

• há predomínio do padrão culto e formal da língua;

• são usados verbos predominantemente no presente do indicativo.

Analisando um texto dissertativo-argumentativo...

Teatro e escola: o papel de educar

Teatro e escola, em princípio, parecem ser espaços distintos, que desenvolvem

atividades completamente diferentes. Em contraposição ao ambiente normalmente fechado

da sala de aula e aos seus assuntos pretensamente "sérios", o teatro se configura como um

espaço de lazer e diversão. Entretanto, se examinarmos as origens do teatro, ainda na

Grécia antiga, veremos que teatro e escola sempre caminharam juntos, mais do que se

imagina.

O teatro grego apresentava uma função eminentemente pedagógica. Com suas

tragédias, Sófocles e Eurípedes não visavam apenas à diversão da platéia mas também e,

sobretudo, pôr em discussão certos temas que dividiam a opinião pública naquele momento

de transformação da sociedade grega. Poderia um filho desposar a própria mãe, depois de

ter assassinado o pai de forma involuntária (tema de Édipo rei)? Poderia uma mãe

assassinar os filhos e depois matar-se por causa de um relacionamento amoroso (tema de

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Medéia e ainda atual, como comprova o caso da cruel mãe americana que, há alguns anos,

jogou os filhos no lago para poder namorar mais livremente)?

Naquela sociedade, que vivia a transição dos valores míticos, baseados na tradição

religiosa, para os valores da polis, isto é, aqueles resultantes da formação do Estado e suas

leis, o teatro cumpria um papel político e pedagógico, à medida que punha em xeque e em

choque essas duas ordens de valores e apontava novos caminhos para a civilização grega.

"Ir ao teatro", para os gregos, não era apenas diversão, mas uma forma de refletir sobre o

destino da própria comunidade em que se vivia, bem como sobre valores coletivos e

individuais.

Deixando de lado as diferenças obviamente existentes em torno dos gêneros teatrais

(tragédia, comédia, drama), em que o teatro grego, quanto a suas intenções, diferia do teatro

moderno? Para Bertolt Brecht, por exemplo, um dos mais significativos dramaturgos

modernos, a função do teatro era, antes de tudo, divertir. Apesar disso, suas peças tiveram

um papel essencialmente pedagógico, voltadas para a conscientização de trabalhadores e

para a resistência política na Alemanha nazista dos anos 30 do século XX.

O teatro, ao representar situações de nossa própria vida — sejam elas engraçadas,

trágicas, políticas, sentimentais —, põe o homem a nu, diante de si mesmo e de seu destino.

Talvez na instantaneidade e na fugacidade do teatro resida todo o encanto e sua magia: a

cada representação, a vida humana é recontada e exaltada. O teatro ensina, o teatro é escola.

É uma forma de vida de ficção que ilumina com seus holofotes a vida real, muito além dos

palcos e dos camarins.

Que o teatro seja uma forma alternativa de ensino e aprendizagem é inegável. A

escola sempre teve muito a aprender com o teatro, assim como este, de certa forma, e em

linguagem própria, complementa o trabalho de gerações de educadores, preocupados com a

formação plena do ser humano.

Quisera as aulas também pudessem ter o encanto do teatro: a riqueza dos cenários, o

cuidado com os figurinos, o envolvimento da música, o brilho da iluminação, a perfeição

do texto e a vibração do público. Vamos ao teatro!

(Ciley Cleto, professora de Português)

Segundo a autora do texto lido, o teatro tem e sempre teve uma função pedagógica.

Esse ponto de vista pode não ser o de outras pessoas, o que obriga a autora a fundamentar

sua tese com argumentos consistentes, que possam persuadir o leitor. A esse tipo de texto,

que desenvolve ou explica um assunto e, ao mesmo tempo, tem uma intencionalidade

persuasiva, chamamos texto dissertativo-argumentativo.

No texto lido, para fundamentar a tese de que o teatro tem uma função pedagógica,

a autora lança mão de exemplos históricos (a tragédia grega e o teatro de Brecht), da

comparação, da exemplificação e da definição. A conclusão, ao mesmo tempo que retoma a

idéia principal, sintetizando as idéias gerais do texto, também surpreende com o parágrafo

final.