01 capa 99 ok.indd

76

Upload: votu

Post on 09-Jan-2017

230 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

Page 1: 01 CAPA 99 ok.indd
Page 2: 01 CAPA 99 ok.indd
Page 3: 01 CAPA 99 ok.indd
Page 4: 01 CAPA 99 ok.indd
Page 5: 01 CAPA 99 ok.indd
Page 6: 01 CAPA 99 ok.indd
Page 7: 01 CAPA 99 ok.indd

Patti Smith sobreviveu ao apogeu,

à morte e à ressurreição do punk

Karina Buhr quer carnavalizar o dia a dia

e transformar a segunda em sábado

Eles lutam para �car of�ine e provam

que a vida pode ser doce sem wi-�

| expediente |

REDAÇÃOPublisher Pedro Herz Editor-chefe Gustavo Ranieri Diretora de arte Carol Grespan Editora Clariana Zanutto Repórter Renata VomeroRedatora Mirian Paglia Costa Assistente de redação Lucas RolfsenRevisora Carina Matuda

COLABORAM NESTA EDIÇÃOTextoAdriana Paiva, Adriana Terra, Alan de Faria, Camila Azenha, Guilherme Bryan, Junior Bellé,Mauricio Duarte, Thiago Domenici, Tuna DwekFotografiaRafael RoncatoIlustraçãoJoão Montanaro, Marcelo Cipis, Mauricio PlanelColunistas Jairo Bouer, Karina Buhr Projeto gráfico Carol GrespanImpressão Log & Print Gráfica e Logística S.A.

Jornalista responsável Gustavo Ranieri | MTB 59.213

ISSN 2358-5781

Contato [email protected]

Anuncie na Revista da Cultura:

[email protected].: (11) 3078 5840

Publicidade em Brasília(61) 3326 0110 e (61) 3964 2110Para ativar sua marca no Cultura Indica, em uma das lojas e no website da Livraria Cultura, entre em contato por email:[email protected]

Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução sem autorização prévia e escrita. O conteúdo dos anúncios é de responsabilidade dos respectivos anunciantes. Todas as informações e opiniões são de responsabilidade dos respectivos autores, não re�etindo a opinião da Livraria Cultura.

Fomos a la playa de sunga e biquininho

com o novíssimo Marcello Martins

74Juarez Machado não tem medo de dizer

que é completo quando está trabalhando

62

Todo o talento e o humor que salvaram

a trágica vida de Grande Otelo

Para Jairo Bouer, quem está na moda

é quem segue seu próprio caminho

50

22

46

SP, outubro de 2015. Prezado leitor,

você está lendo o sumário com atenção?

25

34 37

Page 8: 01 CAPA 99 ok.indd

| drops |

EM TRÂNSITO

FOTO

: FO

TO: P

IER

RE

VER

GER

CO

PY

RIG

HT/

FU

ND

ÃO

PIE

RR

E VE

RG

ER

FOTO

: RO

MU

LO F

IALD

INI

Muitos dos mais importantes registros fotográ�cos de diferentes ci-

vilizações ao longo do século 20 saíram do olhar e das lentes de

Pierre Verger (1902-1996). O fotógrafo e etnólogo francês, que fez do

Brasil sua moradia a partir de 1946, se dedicou a circular os quatro

cantos do mundo documentando as mais distintas culturas, mas,

especialmente, a in�uência do trânsito de negros entre África, Brasil

e vice-versa. É justamente a mais completa exposição de seu tra-

balho que o público pode conferir até 30 de dezembro no Museu

Afro Brasil, em São Paulo. Intitulada As aventuras de Pierre Verger,

a mostra reúne 270 imagens, além de vídeos, e também explora o

paralelo entre a obra de Verger e As aventuras de Tintim, clássico do

belga Hergé. (GR)

8

O pernambucano Tuca Andrada assina a direção de Nordestinos, espetáculo que, a partir de histórias reais, costura diferentes trajetórias de migrantes em busca de uma

vida melhor na capital �uminense. Em cartaz no Sesi Rio de Janeiro e com elenco formado

exclusivamente por atores nordestinos que trabalham na Cidade Maravilhosa, a

peça é elemento central de um projeto que engloba ainda um livro homônimo e um

documentário. (Lucas Rolfsen)

OXENTE!

CONVERSAS COM O ANTES

DO ANTESUm vasto número de esculturas em pedra

polida foi produzido no que hoje é o sudeste do Brasil de 4.000 a 1.000 anos

a.C. Cerca de 60 delas são exibidas, pela primeira vez, no 34º Panorama da Arte

Brasileira – Da pedra da terra daqui, mostra bienal do Museu de Arte Moderna de São

Paulo. Mais do que isso, elas dão o mote à exposição: inspirar artistas contemporâneos

a criar peças que dialogam com elas. Com curadoria de Aracy Amaral e em

cartaz até 18 de dezembro, os artistas contemporâneos escolhidos são Berna

Reale, Cao Guimarães, Cildo Meireles, Erika Verzutti, Miguel Rio Branco e Pitágoras

Lopes. De gerações, linguagem e regiões diferentes, todos têm produção que

provoca a re�exão sobre território, paisagem e passagem do tempo. (Gustavo Ranieri)

Page 9: 01 CAPA 99 ok.indd

9rev is tadacul tura.com.br

ÁFRICA QUE NOS HABITAEm cartaz até 26 de novembro na Caixa Cultural São Paulo,

a mostra individual Terciliano Jr. 50 anos – A matriz africana

em arte tem curadoria de Matilde Matos e reúne 45 telas, 20

objetos em madeira e 40 obras em papel do artista plástico –

que evocam e retratam Orixás, guias, adereços, instrumentos

e objetos ritualísticos ligados às culturas da África Ocidental.

Já no Museu Afro Brasil está acontecendo, até 31 de janei-

ro, a exposição Carolina em nós, que homenageia a escritora

Carolina Maria de Jesus e tem curadoria de Roberto Okinaka.

Idealizada pelo grupo Ilú Obá de Min, que há dez anos busca

promover a cultura afro-brasileira, a mostra apresenta vida e

obra da escritora em diversos painéis, fotos e cenários monta-

dos na lateral do prédio do museu. (Renata Vomero)

FOTO

S: D

IVU

LGA

ÇÃ

O

POR DÉCADAS A FIO

A retrospectiva Godard inteiro ou o mundo em pedaços é uma boa oportunidade para ver ou rever a obra completa do diretor franco-suíço Jean-Luc Godard. Quem for aos cen-tros culturais do Banco do Brasil localizados nas capitais paulista, �uminense e federal, entre os dias 21 deste mês e 30 de novembro, e ao CineSesc em São Paulo, entre 26 de novembro e 2 de dezembro, poderá desfrutar de 104 realizações – longas, médias e curtas-metragens, além de séries televisivas, �lmes publicitários e videocartas. (LR)

DO VENTRE AO CHÃO Em cartaz no Sesc Bom Retiro, na capital paulista, até o dia 8 de novembro, a peça Agora eu vou �car bonita traz Regina Braga dividindo o palco com o cantor Celso Sim. Com direção de Isabel Teixeira e roteiro do médico e escritor Drauzio Varella e da própria atriz, o espetáculo aborda a arte de envelhecer, tratando o tema a partir de diferentes sambas, poemas e textos. “Na verdade, não estamos falando sobre a velhice; estamos falando sobre o envelhecer, que começa na concepção e acompanha a gente pela vida inteira”, aponta Regina. (LR)

Page 10: 01 CAPA 99 ok.indd
Page 11: 01 CAPA 99 ok.indd
Page 12: 01 CAPA 99 ok.indd

12

PERDIDO EM MARTE, de Ridley Scott

Durante uma feroz tempestade, o astronauta Mark Watney, interpretado por Matt Damon, é deixado em Marte por sua tripulação, que acredita que ele não tenha sobrevivido. Quando Mark é descoberto vivo, começa uma longa e emocionante jornada para o seu resgate, tanto dos cientistas da Terra, que se unem para ajudá-lo, quanto de sua equipe, que está em missão no espaço. Os pontos altos do longa se dão pelo carisma de Mark, que, apesar de estar em situação extrema de sobrevivência, não deixa o humor de lado em nenhum momento. Imperdível! (Renata Vomero)

O QUE É A SUBJETIVIDADE?, de Jean-Paul Sartre

Será que a resposta para esta pergunta

seria subjetiva? Nesta obra,

inédita no Brasil, Sartre inicia um debate

com grandes intelectuais e dirigentes

da esquerda italiana para

responder “a�nal, o que é a subjetividade?”. A pergunta o assombrava

desde os anos 1930, mas ainda hoje é capaz de gerar imensas discussões.

O livro lança luz sobre o tema, sabendo que nele há a característica peculiar do

“não saber”. (Carina Matuda)

“Se a subjetividade é efetivamente o não objeto,

se ela escapa como tal ao conhecimento, como

poderemos pretender a�rmar verdades a seu respeito?”

LIÇÕES, de Vitor e Lu Cafaggi

Segunda contribuição dos irmãos Vitor e Lu Cafaggi para o selo Graphic MSP – projeto em que quadrinistas convidados reinterpretam os

clássicos personagens de Mauricio de Sousa –, Lições mostra o valor da amizade após Mônica, Cebolinha, Magali e Cascão aprontarem uma travessura daquelas na escola e terem que

encarar as consequências de seus atos. Com desenhos encantadores, a história emociona não

só pelo roteiro, mas também pela delicadeza dos ilustradores ao trabalhar o tema sem perder a essência dos clássicos gibis da

Turma da Mônica. (Clariana Zanutto)

| lançamentos |

PERIPHERAL VISION, de Turnover

Na estrada desde 2009, a banda formada em Virgina Beach, nos Estados Unidos, lança seu segundo trabalho sem ter medo de dizer a verdade. A honestidade emocional nas letras do Turnover tem sido uma fórmula de sucesso para o grupo, que tem na bagagem mais um álbum de estúdio, dois EPs e diversos singles. Com raízes no pop punk, os garotos acrescentaram uma pitada de indie rock a Peripheral Vision, trazendo canções serenas e ensolaradas, ao mesmo tempo sinceras e profundas. Bom para ouvir enquanto coloca o pé na estrada e pensa no que de melhor (e pior) a vida proporciona. (CZ)

UMA TEMPORADA FORA DE MIM, de Helio Flanders

Os fãs de Vanguart podem se surpreender com o primeiro trabalho solo do vocalista Helio Flanders. Neste álbum, o músico traz seus mais diversos devaneios e incômodos navegando por um caminho muito mais denso e obscuro do que as já conhecidas canções de sua banda. As músicas são tocantes e re�exivas, levando-nos para uma intensa e profunda viagem interior. O álbum combina com a melancolia e a nostalgia provocadas pelas manhãs de domingo. Vale a experiência. (RV)

FOTO

S: D

IVU

LGA

ÇÃ

O

FOTO

: IA

N H

UR

DLE

Page 13: 01 CAPA 99 ok.indd

13

A POSSESSÃO DO MAL, de David Jung

Michael King é um homem cético que decide desa�ar o

demônio após a morte trágica de sua esposa. A intenção dele é documentar todo o seu trabalho de invocação da entidade malé�ca para

provar que nada disso existe. No entanto, ele não esperava

que seus chamados fossem respondidos. Michael, então, passa a ser perseguido e tomado por uma diabólica entidade que coloca em risco a vida de sua irmã e sua

pequena �lha. A possessão do mal não é para os fracos; com cenas fortes e diálogos assustadores, o �lme cumpre a promessa de aterrorizar o público. Dica: escolha uma

sala de cinema confortável, pois o �lme provoca diversas inquietações! (RV)

EXPERIMENTAMOS E GOSTAMOS

UM SENHOR ESTAGIÁRIO, de Nancy Meyers

Jules Ostin, papel de Anne Hathaway, é a criadora de um

bem-sucedido site de venda de roupas e tem uma rotina bastante

corrida e atarefada. Já o viúvo Ben Whittaker, interpretado por

Robert De Niro, leva uma vida monótona após se aposentar, mas, quando consegue uma vaga como

estagiário sênior na empresa de Jules, vê uma oportunidade para

se reinventar. Os dois acabam trabalhando juntos e, por mais que

enfrentem o inevitável choque das gerações, se aproximam e viram grandes amigos. Prepare os lenços: apesar de ser leve, ter ótimas tiradas e momentos engraçados, a

comédia dramática é daquelas que emocionam mesmo! (CZ)

A DIFICULDADE DE SER, de Jean Cocteau

Exaurido depois da �lmagem de A Bela e a Fera em 1946 – clássico do cinema francês – e tentando se curar de uma agoniante urticária, o poeta, romancista, dramaturgo, desenhista e fotógrafo Jean Cocteau (1889-1963) se pôs a escrever 31 pequenos ensaios sobre temas diversos. Tratam-se de re�exões muitas vezes minimalistas, que ora parecem conversar com todos, ora com ele mesmo apenas. A honestidade de se expor e a inteligência de observar seu próprio ser como se olhasse do lado de fora encantam no livro. (Gustavo Ranieri)

“Eu sinto uma di�culdade de ser. É o que responde o centenário Fontenelle quando ele vai morrer e seu médico pergunta: Senhor Fontenelle, o que o senhor sente? Só que a sua é da última hora. A minha data de sempre.”

ROMANCE PRA DEPOIS, de Daniel Groove

A casa, a rua, o bairro, a cidade, o estado, o país, o mundo. Imerso em tudo, ecoa com beleza a voz de Daniel Groove pelas nove faixas deste seu excelente segundo álbum. Letras como “girando pelo mundo com coragem de ter medo do amanhã /como quem canta versos sem mágoa sobre o que é amar” inspiram e fazem do disco um convite para um mergulho interior. Com direção artística de Saulo Duarte, Romance pra depois dá continuidade à trajetória solo que o artista pavimentou com o elogiado Giramundo. (GR) FO

TO: E

DU

AR

DO

ES

CA

RIZ

Page 14: 01 CAPA 99 ok.indd
Page 15: 01 CAPA 99 ok.indd
Page 16: 01 CAPA 99 ok.indd

16

Você tem uma biogra�a que vai sair em breve, um reality sobre a sua vida e, neste mês, começa o MasterChef Júnior. Como você encara estar no centro das atenções da mídia? Acho normal. Es-tou fazendo um trabalho que gosto. Acho que o programa [Mas-terChef] deu muito certo, pegou muita gente e acabou chamando essa atenção. Vou lidando da forma que consigo.

Mas como é ter a sua vida pessoal e pro�ssional abertas na série e no livro? Em ambos, vou limitar o que pode ser mostrado ou não, para preservar um pouco. Apesar de que não tenho nada a esconder. Minha vida é bem tranquila. É corrida, mas tranquila.

Toda essa exposição gerou uma diversidade enorme de públi-co em seus negócios, do que está interessado em conhecer um “chef da moda” ao que se interessa por conhecer seu trabalho mais a fundo, além daquele que já frequentava seus estabeleci-mentos antes desse boom... Tem de tudo! Sem credo, raça ou cor. Tem todo mundo: criança, adulto, adolescente etc.

Justamente. E você pensa nesses diversos públicos quando está cozinhando? De que forma eles in�uenciam seu trabalho? Não! Faço a comida essencialmente – não sou egoísta, mas... – para mim. Não penso no outro na hora da criação. Ali re�ete o que sou. Se a pessoa vai gostar ou não... Eu desenvolvo o meu per�l, a minha característica no prato, harmonia. Dali, ponho para as pessoas e elas dão o feedback se gostam ou não. Mas 90% gostam. Então, estou no caminho certo!

E como você costuma pensar seus pratos? Primeiramente nas cores – a gente come com os olhos, depois olfato, depois degusta. Então, tem que ter harmonia entre os ingredientes. O apelo visual é impor-tante também. Desenvolvo assim: sem perder a coerência do prato.

Quais são os pontos negativos e positivos que você sente com toda essa atenção, tanto nos seus projetos pessoais quanto pro-�ssionais? Positivo é que aparece bastante coisa para fazer, mas dou uma selecionada. Negativo é que, de vez em quando, você �ca “a bola da vez”. Qualquer coisa que você fala se transforma, vira polêmica. Então, às vezes, esse lado não é muito preservado.

A gente segue você no Instagram e sabe que você posta bastan-te conteúdo. O que acha dessa onda de pessoas que, assim que o prato chega à mesa delas, já saem fotografando? É o mundo moderno de hoje, do Instagram. É tudo muito rápido! E não me importo. A pessoa deve ser livre para fazer o que quiser: tirar foto, falar, criticar, elogiar.

Você faz isso também? Tira foto de pratos que faz ou come por aí? Tiro, lógico! Sou uma pessoa normal, como qualquer um (risos).

Comer fora, muitas vezes, virou questão de status, além de ser artigo de ostentação. Como você enxerga esse caminho que a gas-

tronomia tomou? A gastronomia está muito na moda já faz algum tempo. Acho que as pessoas querem mostrar o que estão comen-do, que estão naquele lugar. Essa mídia eletrônica serve para isso.

Te dá arrepio ouvir alguém falar em comida gourmet ou gour-metização, né? Sim, porque �cou muito banalizado! Para as pes-soas, qualquer coisa é gourmet, gourmetização e o caramba. Acho que a comida gourmet é importante, é legal. Mas, para mim, gour-met é você pegar um ingrediente simples e o transformar, fazer um prato diferenciado. Não �car usando a palavra gourmet para qualquer coisa: pega uma pipoca, joga um caramelo, joga um mel e fala que é uma “pipoca gourmet”. Fica muito chato esse discurso!

Para você, o que é comer bem? Comer bem! Preço justo, comida que satisfaz, que você tenha prazer, que você saia satisfeito. Não aquele restaurante a que você vai, come, daí paga a conta e fala: “É, legal, mas não...”. Não! Não é isso! É ser bem atendido, estar em um lugar agradável, comer bem. Um momento de prazer ali.

Você acha justos os preços dos restaurantes de alta gastrono-mia? Não! O Sal, por exemplo, não é caro e nem barato. Mas pro-curo trabalhar com uma margem para que eu consiga sobreviver e pagar as minhas contas. Tem muito restaurante caro, e isso acaba prejudicando um pouco a nós, cozinheiros. Apesar de que a gente vive em um país em que é tudo muito caro, tudo aumenta, tem muito imposto. Então, é complicado também.

Mas você vai a esse tipo de restaurante? Não, não frequento mui-to restaurante, não... Passo raiva, às vezes, em alguns.

O que você curte comer, então? Onde gosta de ir? Ah, as coisas mais simples que você possa imaginar: batata frita, sanduíche – em padaria. Também curto bastante sushi.

E foi pensando nisso, na questão dos altos preços, principal-mente em São Paulo, que você criou O Mercado? Sim, O Merca-do é acessibilidade a todos. Comida não pode ter classe social, tem que ser para todo mundo. E a ideia d’O Mercado é fazer preços mais baixos com uma comida diferenciada do trivial que tem pela rua: hot dog, hambúrguer. E tem alguns cozinheiros, alguns chefs.

E como você acabou se envolvendo com os outros projetos, como o Chefs Especiais? Estou com eles desde 2010, porque te-nho uma �lha especial também, então na época entrei. É uma coi-sa que me faz bem. Acho que, se a gente puder doar um pouco da gente, o que a gente sabe, e puder ensinar para alguém, é muito positivo. Tem alguns projetos solidários também dentro do moto-clube [In’ Omertà MC] de que faço parte.

Inclusive, em um dos programas da última temporada do Mas-terChef, você falou da sua �lha, e foi bem emocionante. Por que você resolveu falar sobre ela naquele momento? Porque a Olívia

| entrevista | henrique fogaça

Page 17: 01 CAPA 99 ok.indd
Page 18: 01 CAPA 99 ok.indd

| entrevista | henrique fogaça

estava no hospital naquele dia; ela tinha �cado a semana toda. Eu estava gravando o programa e com isso na cabeça. Daí, o [partici-pante] Marcos fez uma comida sem gosto, e lembrei dela no hos-pital... A [participante] Aritana também sempre falava dos �lhos dela, aí resolvi falar. Foi uma coisa natural, estava ali com aquilo na cabeça e a devolução que dei foi aquela. Não foi nada combinado, pensado. Foi uma coisa na hora, ali, que me veio.

E para você, qual é o poder transformador da gastronomia na vida das pessoas? Acho que é muito grande! A pessoa pode ter uma pro�ssão, enxergar um futuro pela frente, porque a pro�ssão de cozinheiro é muito bonita. Sempre foi desvalorizada, discrimi-nada, as pessoas nunca olharam com bons olhos. Agora, com o MasterChef, com essa exposição, as pessoas estão tendo outra vi-são e vendo que é legal você trabalhar com cozinha, ser cozinhei-ro. Acho que as crianças vão se in�uenciando. É uma nova era do nosso país, da nossa cultura. Que a gente consiga mudar, por meio da gastronomia, a visão das pessoas.

Além de todos os seus projetos, você também é vocalista da banda Oitão. O que veio antes na sua vida: a gastronomia ou a música? A música! Música sempre! Sou roqueiro desde moleque. Então, o som está presente antes da gastronomia.

De que maneira uma coisa in�uencia a outra na sua vida? Ou são coisas muito distintas? Não tem distinção. São coisas que estou bem à vontade fazendo, coisas que amo: música e comida.

Em um dos episódios do programa, vocês (os jurados) fala-ram que não é legal cozinhar com raiva, porque isso acaba re-�etindo nos pratos. Já as letras de sua banda são carregadas de protestos. Cantar foi a maneira que você encontrou para dar vasão a esse sentimento sem ter que descontar na comida? Sim! Não é nem na comida, mas é no nosso dia a dia. A gente passa muito veneno: na situação política do país escancarada, essa roubalheira, o tanto de imposto que a gente paga, a violên-cia – porque a gente sai pela rua com medo de qualquer hora tomar um tiro na cara ou ser assaltado. E procuro estar sempre bem comigo mesmo quando vou desenvolver um prato. Se vou trabalhar muito virado, irritado, a energia já vem ruim. Acho que o estado de espírito é importante em qualquer situação, tanto na cozinha quanto na banda.

Quais são os sentimentos que a�oram enquanto você cozinha? Sentimento? Ai, amor e paixão (gargalhadas). Não, cara! Sentimento de realização, de vontade, adrenalina. Sentimento gostoso de fazer.

E como a gente pode encontrar a sua personalidade nos pratos que você faz? O que tem de você ali? Acho que tem generosidade. Sou muito generoso, quero sempre ajudar as pessoas. Tem esse lado meu – que não sei de onde veio, mas desde sempre existiu. E isso re-�ete na comida, na minha forma de agir, na minha forma de viver.

Antes de cozinhar, você trabalhava em um banco. Como foi essa transição para o mundo da gastronomia? Trabalhei na [Avenida] Paulista, por cinco anos, com banco. Trabalhava com cheque sem fundo. Eu digitava muito. Mas foi bom o tempo que �quei lá. Con-segui conquistar algumas coisas, �nanceiramente: pagava minhas contas, tinha uma vida estável. Mas fazendo conta toda hora... É um trampo muito automático. Ficar passando cheque, digitando, somando, grampeando listagem. Umas paradas assim.

E nesse meio-tempo você começou a preparar sua própria ali-mentação porque comia muita comida congelada... Isso! Daí eu comecei a fazer em casa, comecei a levar comida ao banco para vender para o pessoal. Até que um dia abri uma Kombi na [Rua] Augusta e falei para o meu gerente: “Olha, quero sair, começar a mexer com comida”. Ele falou: “Beleza!”. Fizemos um acordo e saí. Comprei uma mesa de inox e uma moto. E tenho essa mesa até hoje, no Sal, para fazer hambúrguer.

Além da música, da gastronomia, da moto e dos projetos so-ciais, o que mais você gosta de fazer? Gosto de andar de skate, sair com o meu �lho, fazer luta [muay thai], andar de bicicleta, gosto de cachoeira, de mato. De um monte de coisa (risos).

E você arruma tempo para tudo isso? Ultimamente, tenho muita coisa para fazer toda hora, e acabo não conseguindo fazer algumas coisas que eu queria, como, por exemplo, treinar muay thai. Acor-do, tem coisa para fazer, tem que vir aqui [no Sal Gastronomia], depois tem coisa à tarde, depois tem evento, tem viagem. Tem um monte de coisa! Não estou conseguindo encaixar um horário para treinar. Mas, se consigo, �co muito bem emocionalmente. É endor-�na, né? Então, é essencial arrumar esse horário. Estou nessa busca.

Algum chef te in�uenciou ou você nunca se importou muito com isso? Sou muito autodidata, pesquiso muito. Saio pela rua, pergunto, testo muito. Erro bastante, depois acerto. Mas teve o Alex Atala, quando �z estágio lá [no D.O.M.]. Ele é um cara muito bom, faz muito pela gastronomia. É um cara que conhece muito. E gosto muito do trabalho dele!

E como foi essa experiência? Fiquei um mês só lá. Na época, co-nheci o pessoal, os cozinheiros que trabalhavam lá, daí o conheci e um dia falei: “Deixa eu fazer um estágio?”. E ele: “Lógico! Chega aí amanhã”. Daí fui, �quei um mês na cozinha, e já estava nessa pegada de fazer os hambúrgueres e tal.

E só um mês foi suficiente para ter uma base? Como só fica-va vendo as coisas, ajudando ali, já deu para dar uma pescada de como era uma cozinha pro�ssional funcionando.

Como que surgiu o seu lado empreendedor? Foi automático. As coisas acontecem e vou fazendo. “Vamos fazer aí?” “Vamos, va-mos.” Vou aprendendo, vou me virando nos 30 e aí vai.

18

Page 19: 01 CAPA 99 ok.indd
Page 20: 01 CAPA 99 ok.indd

20

Você topa tudo, então? Topo! Mas agora comecei a falar “não”, porque não dou conta. Sou muito de querer abraçar o mundo. Mas agora estou: “Não, acho que não dá”.

E para o futuro, você tem projetos além do livro e da série? Ou só desacelerar um pouco? É, desacelerar um pouco. Ah, con-tinuar com o trabalho bem-feito aqui no Sal, no Cão Véio, no Admiral’s Place, no restaurante que quero abrir em Miami. Focar nessas coisas que faço, mas sem perder a essência, a verdade das coisas. Por isso que não dá para ter trilhões de coisas, senão, você acaba não focando em nenhuma, fica tudo no ar.

Aliás, falando de Miami, você está indo bastante para lá nos últimos tempos. É mais pelo restaurante ou você também gosta da cidade? Tinha ido para lá quando era moleque. Ago-ra, fui um tempo atrás para dar uma olhada, ver uns lugares. Tenho um amigo que mora lá há 20 anos, que é cozinheiro, teve restaurante. Então, a ideia é abrir um negócio lá e ele ficar na linha de frente. Fico indo e voltando. Estou um pouco cansado aqui do Brasil... A gente é daqui, amo o meu país e tudo, mas a ideia é ficar com um pezinho lá, um pé aqui. Uma hora que encher o saco aqui, vai e mora lá. Sei lá. Aqui, a gente é rou-bado, não consegue trabalhar, paga muito imposto, se fode pra caralho! Lá nos Estados Unidos as coisas funcionam mesmo, o governo te incentiva! Se eu mostrar toda a minha história no MasterChef, os restaurantes e tal, os caras veem isso aí e falam: “Meu, traz para cá”, porque gera emprego no país, é legal para os Estados Unidos. Então, você tem incentivo. Dá vontade de trabalhar. As coisas funcionam!

Como você é na cozinha, com os seus funcionários? Muito legal! Só que não dá mancada, porque daí viro o maior chato. (risos)

Recentemente, você postou uma foto sua brincando que estava apontando uma arma para um funcionário... Deu o que falar! Vocês lembram? O pessoal da Record fez a maior polêmica. Não, aquela é uma foto antiga de quando eu tinha uma espingardinha de chumbo e tirei e fiquei zoando. Estava vendo minhas fotos, daí vi a imagem e falei: “Ah, vou pôr a foto de novo”. Aí, gerou a maior po-lêmica. Escrevi: “Ah, aqui no @salgastronomia padrão e qualidade 100%”, zoando. Aí o R7 põe: “Jurado do MasterChef aponta arma para os funcionários de seu restaurante”, “Fogaça não-sei-o-quê”.

E você nem imaginava que ia virar essa polêmica... Não, mas depois postei um negócio falando como a mídia é sensacionalista e oportunista.

Te deixou bem puto, né? E com razão! É, porque nego quer te derrubar. Está incomodando, né? Devo estar incomodando al-guém para a pessoa fazer uma matéria sensacionalista.

| entrevista | henrique fogaça

Page 21: 01 CAPA 99 ok.indd
Page 22: 01 CAPA 99 ok.indd

| tecnologia |

22

ELES FICAM TÃO BEM LONGE DE SEUS TELEFONES CELULARES E SEM INTERNET QUE É COMUM SEREM VISTOS COMO EXCÊNTRICOS. MAS, ATENTOS ÀS CONSEQUÊNCIAS DA HIPERCONECTIVIDADE, O QUE ELES BUSCAM É O USO CONSCIENTE DAS VANTAGENS DO MUNDO DIGITAL

DESCONECTADOS. COM MUITO PRAZER

P O R A D R I A N A P A I V A I L U S T R A Ç Õ E S J O Ã O M O N T A N A R O

Page 23: 01 CAPA 99 ok.indd

23rev is tadacul tura.com.br

O processo é inexorável: e s t a m o s imersos em u m a e r a de altíssi-ma conec-t i v i d a d e . C ab e-nos aprender a

lidar com as implicações de uma realida-de que está longe de ser compreendida em sua magnitude. Se nossos smartphones, por exemplo, já nos possibilitam a reali-zação de tarefas inimagináveis até poucos anos atrás, a quantidade de dispositivos aos quais esses aparelhos estão aptos a nos conectar só tende a crescer.

No Brasil, segundo levantamento da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), o número de linhas de telefonia móvel ativas no país, até o fechamento des-ta edição, era de 281,4 milhões. Já no que diz respeito à comercialização de aparelhos celulares, embora as vendas tenham expe-rimentado uma queda no trimestre junho/agosto, isso se deu apenas em relação aos modelos mais simples e de baixo custo. De acordo com dados de duas das maiores fa-bricantes do país, os brasileiros estão com-prando aparelhos cada vez mais so�stica-dos. Aqui, como em outros países, o que se observa é que tarefas antes realizadas em computadores pessoais, laptops ou tablets estão migrando, em ritmo acelerado, para os smartphones. E assim, à distância da mão ao bolso e com desempenho cada vez mais turbinado, passamos a ter, além da-queles recursos já banalizados, os serviços �nanceiros, a “carona remunerada”, nossos programas e séries de TV preferidos e uma lista interminável de distrações e regalias. E por que ainda reservaríamos ao telefone móvel a função para a qual ele foi original-mente concebido, se podemos conversar por um sem-número de aplicativos e redes sociais?

O fato é que existe um contingente cada vez mais numeroso de pessoas in-clinadas a esquecer um pouco de seus smartphones e a afrouxar as amarras com

o mundo digital, trocando parte de suas decantadas maravilhas por prazeres sim-ples como a boa e velha comunicação tête--à-tête e – por que não dizer? – o silêncio.

Há quem procure soluções temporá-rias, como contratar pacotes de “desinto-xicação digital” em hotéis e resorts espa-lhados pelo planeta, locais onde, assim que chegam, os hóspedes são instados a desli-gar seus gadgets. E ali, além de se dedica-rem a atividades como ioga e meditação, revivem práticas que já não eram capazes de ter senão pela mediação de câmeras de celular, como, por exemplo, estar em contato com a natureza. Em Paraty, litoral �uminense, uma pequena vila de pescado-res, também conhecida como a “Praia do Detox Digital”, a�na-se com essa proposta, recebendo hóspedes por períodos de três a quatro dias.

SE REEDUCANDOHá também quem, partindo para so-

luções duradouras, já tenha conseguido reformular, completamente, sua relação com a internet e outras ferramentas digi-tais. Este é o caso da artista plástica Renata

de Andrade, 55 anos, nascida em Barre-tos (SP) e radicada em Amsterdã desde 1988. “Fui usuária pesada de todas as re-des: Facebook, Twitter, Google+”, conta. E tal era o volume de informações que ela postava em seus per�s que era frequente seus contatos demonstrarem desconforto. Renata, entretanto, não tardou a concluir que também ela não vinha sendo capaz de aproveitar da melhor maneira as infor-mações que por ali circulavam. “Me viciei rapidamente nos sites de notícias”, revela. “E não apenas notícias sobre o que estava acontecendo mundialmente, mas também conteúdos relacionados a interesses que eu tenho em áreas como ecologia, arte e literatura. Essas coisas que te ocupam e, quanto mais conhecimento se tem, mais prazer você obtém com elas.” A essa altura, Renata admite, suas principais fontes de leitura estavam na internet. A constatação de que o tempo excessivo passado online já a impedia de dispensar atenção a outras atividades importantes foi o que a levou, no �nal do ano passado, à medida radical de abandonar a maioria das redes na quais ainda mantinha per�l. Ela lista ganhos ad-

COMO FICA A NOSSA MEMÓRIA?

De que maneira a nossa memória vem sendo afetada pelo avanço exponencial da tecnologia? Essa é uma questão que, volta e meia, ressurge na rotina de atendimentos da psicoterapeuta cognitiva Dora Sampaio Góes, vice-coordenadora do Grupo de Dependências Tecnológicas do Ambulatório Integrado dos Transtornos do Impulso, vinculado ao Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas. Pioneiro, no Brasil, em estudo e tratamento de impactos e consequências do uso desordenado de tecnologia, o grupo, que atende pacientes de diversas faixas etárias, tem, segundo Dora, recebido especial procura por jovens adultos e adolescentes levados por seus pais. Um dos motivos da busca são problemas relacionados ao desempenho nos estudos. Não raro, prejudicado pela sobrecarga de informações e por uma ilusão muito comum entre os mais jovens: a de que eles seriam capazes de conciliar várias tarefas simultaneamente. Não são. Pelo menos não se a meta for realizar todas as tarefas com e�ciência, costuma advertir a psicoterapeuta. Sobre a maneira como as informações são apreendidas, ela diz: “Enquanto na leitura via internet as áreas cerebrais ativadas relacionam-se à tomada de decisão – abro ou não aquele link? –, ao ler um livro, eu ativo partes do cérebro ligadas à re�exão e à memória de longo prazo”. E �naliza, recorrendo à analogia: “Quando absorvo um monte de informações de uma vez, tudo no meu armário cerebral �ca uma bagunça. Assim, na hora em que preciso puxar determinada informação, puxo errado. Ou, na hora em que puxo, não vem”.

Page 24: 01 CAPA 99 ok.indd

24

| cinema | | tecnologia |

vindos da decisão: “Agora, estou lendo cin-co livros ao mesmo tempo. Livros impres-sos”, reforça. “Quanto mais você faz, mais tempo você quer. Então, as prioridades vão se empurrando.”

Outro fator que também colaborou para Renata se tornar menos assídua na internet foi a necessidade de dedicar mais tempo e energia a cuidados com a chácara que ela e sua companheira man-têm nos arredores de Amsterdã. “É um terreno com uma casinha e o resto é tudo vegetal – legumes, verduras, flores. A gente está plantando, o que também passa a ser uma rotina. Faz bem ter de ir para esse lugar lindo, tranquilo e fora da cidade”, ressalta, acrescentando que, do loft onde moram, no centro da capital holandesa, até o sítio, elas não pedalam por mais do que 15 minutos. E tão con-veniente quanto: lá não tem wi-fi.

Em São Paulo para cuidar de detalhes referentes ao lançamento de Cavalo das almas, seu segundo livro, a artista tam-bém realiza, neste mês, intervenções em grafite pelas ruas da metrópole.

GESTÃO DO TEMPOO paulistano Alexandre Franzin, 36

anos, terapeuta e coach em desenvol-vimento pessoal e de carreiras, relata também já vir, há algum tempo, em-preendendo esforços no sentido de estar menos à mercê da internet e de outros aparatos tecnológicos.

Ação que se re�ete tanto em seu traba-lho com grupos e nos atendimentos indivi-duais quanto no seu dia a dia. Entre as me-didas que lhe possibilitam se manter em relação saudável com a tecnologia, ele cita a disciplina de desligar o computador mui-to antes de ir dormir para conectar-se con-sigo mesmo e meditar. “Tomo nota da mi-nha rotina em um caderno, descrevo como o tempo foi consumido positivamente e onde tive gasto desnecessário de energia. Este exercício me ajuda a ficar atento.”

Alexandre conta ainda que, há pouco menos de três meses, trocou um celular de limitados recursos por um iPhone,

mas somente porque o ganhou de pre-sente. E que suas tentativas de manter um per�l pro�ssional no Facebook, por exemplo, não foram adiante. Seu telefone, ele diz, continua a cumprir a função bá-sica de fazer e receber chamadas. Função que, por uma questão de economia, hoje também é combinada ao uso do Whats- App, um dos poucos aplicativos instala-dos no aparelho. Afora por esse conforto, seu aparelho poderia ser confundido com o de um frade franciscano. “Vez ou outra, acesso e-mails. Mas não tiro fotos, não gravo vídeos, não tenho Instagram, nem Waze ou Facebook. E me sinto muito feliz por isso”, assegura.

Embora crítico à onipresença dos smartphones, Alexandre diz que tenta não ser incisivo quando percebe, por exemplo, que os jovens com quem trabalha excedem--se no uso dos celulares. “Evito: ‘João, des-ligue o celular, ou: ‘ Você não sai do celular, né?’ Procuro ir por outro caminho: ‘Galera, vamos rever o que estamos fazendo com o nosso tempo e com a nossa atenção!’”

Sem pretender modificar muito o ritmo em que vem se aproximando das vantagens do mundo digital, o terapeuta lança, ainda neste mês, um projeto online de educação e desenvolvimento pessoal intitulado A arte do simples. “Vai ser um desa�o pra mim, mas aqui estamos!” c

Page 25: 01 CAPA 99 ok.indd
Page 26: 01 CAPA 99 ok.indd
Page 27: 01 CAPA 99 ok.indd
Page 28: 01 CAPA 99 ok.indd
Page 29: 01 CAPA 99 ok.indd

29rev is tadacul tura.com.br

MUITO ALÉM DE UM HIT DE VERÃO

DE LUIZ CALDAS A IVETE

SANGALO, O AXÉ MUSIC, CRIADO HÁ

30 ANOS, PROVA QUE

SOBREVIVEU A MUITOS

CARNAVAIS

P O R

A L A N

D E

F A R I A

Page 30: 01 CAPA 99 ok.indd
Page 31: 01 CAPA 99 ok.indd
Page 32: 01 CAPA 99 ok.indd

32

P O R L U C A S R O L F S E N

SEGUIR OU NÃO

SEGUIR?

| depoimentos |

FOTO

: DIV

ULG

ÃO

FOTO

: NAT

ALI

ZA

RTH

FOTO

: DIV

ULG

ÃO

FOTO

: SIL

MA

RA

CIU

FFA

PERGUNTAMOS A VÁRIAS PESSOAS QUAIS MODAS – DO VESTIR AO COMPORTAMENTO – ELAS JÁ ADERIRAM COM CONVICÇÃO E SE HOJE SE ARREPENDEM, OU NÃO, DE UM DIA AS TEREM COLOCADO EM SUAS VIDAS. AFINAL, ATÉ QUE PONTO VALE A PENA ESTAR NA MODA?

“Naturalmente, olhando fotos antigas, sempre vamos nos perguntar o que estávamos fazendo com uma calça boca de sino lilás e um par de óculos espelhado. Acho que nunca adotei uma moda que depois merecesse arrependimento; tudo foi inútil e, de certa forma, belo.”MARCIO SCAVONEFOTÓGRAFO

“Sinceramente, não sou de seguir modas. Dos meus amigos, fui uma das últimas a ter celular, não frequento academia, até porque agora existe a moda da ditadura do corpo. Não sou uma atleta. E hoje tem muita gente que toma algum ansiolítico para dormir e eu também não uso. A�nal, a moda passa e o estilo �ca.”NANY PEOPLEATRIZ E HUMORISTA

“Já embarquei em muita coisa nesses últimos 40 anos, desde que era adolescente. Já fui roqueiro cabeludo, careca, punk e passei por momentos muito agitados ao longo da carreira. Posso dizer que não me arrependo de ter seguido nada do que �z da minha vida e nem dos meus excessos. Isso porque cada momento passava, mas deixava uma mensagem.”PAULO MIKLOSMÚSICO E ATOR

“Uma moda que me arrependi muito de ter seguido foi a da franja, aquela para a frente, bem tradicional. Ficou lindo... No salão. Secar todo dia era trabalhoso e, mesmo com o secador, eu achava superdifícil deixá-la no lugar. Quando, com muito custo, ela �cava boa, já deixava de se comportar lá pela hora do almoço.”LILIANE PRATAESCRITORA

Page 33: 01 CAPA 99 ok.indd

33rev is tadacul tura.com.br

FOTO

:FER

NA

ND

O A

LVES

FOTO

: A

ND

BAT

ISTA

FOTO

: CA

LU T

REV

IZA

NI

FOTO

: DIV

ULG

ÃO

FOTO

: LEN

IZE

PIN

HEI

RO

FOTO

: LU

IS V

IDA

LES

/ RED

BU

LL C

ON

TEN

T P

OO

L “Nunca me prendi a tendência de moda, sempre tive um estilo próprio e marcante e procurei adequar o modismo ao que gosto de usar. Todas as modas passaram e voltaram e fui me adaptando. Não tenho arrependimentos até agora de ter seguido uma ou outra.”SIDNEY MAGALCANTOR, COMPOSITOR E ATOR

“Me arrependo de ter seguido a moda do cigarro! Quando tinha 14 anos, meus amigos começaram a fumar e entrei nessa. Até hoje fumo. Pouco, mas fumo!”NATALIA GONSALESATRIZ

“Me lembro de usar camiseta com gola alta, e ainda dobrava. Ficava ridículo! Isso há uns 23 anos. Nem sei se tenho fotos; talvez na casa da minha mãe. Era uma época em que eu já andava de skate, mas estava afastado desse universo que, na verdade, tem uma �loso�a de não seguir modas.”SANDRO DIASSKATISTA

“O modismo do deixa para lá e o excesso de tolerância com o errado são o que mais me arrependo de ter seguido. Hoje, entendo que é somente por meio da nossa capacidade de indignação e coragem de ação que mudaremos o agora.”JUM NAKAODESIGNER

“Me lembro da calça boca de sino, calça saint-tropez, do cabelo comprido, dos �lmes cabeça, do tropicalismo, modas da juventude, esse período fértil em que você confronta com toda vontade o desejo e a realidade. Olhando para essas modas – de costumes, �gurinos e pensamentos –, vejo que elas estavam ligadas à atitude, uma espécie de máscara social, que você põe para contracenar com o mundo. Usei e abusei de muitas e não me arrependo de nenhuma delas.”PASCOAL DA CONCEIÇÃOATOR

“A atitude punk me chamou bastante atenção, mas não segui de imediato. Antes de sair usando tudo quanto é tipo de roupa pra lá e pra cá, �z minha lição de casa para entender o motivo do movimento, que é a ideia do faça você mesmo. Minhas roupas, em geral, eu mesmo faço ou desenvolvo em parceria com uma estilista, justamente para defender uma ideia por trás daquilo que estou vestindo.”SUPLACANTOR, COMPOSITOR, ATOR E APRESENTADOR

Page 34: 01 CAPA 99 ok.indd

34

uando Clinton Heylin lançou o livro reportagem From the Velvets to the Voidoids – A Pre-Punk His-tory for a Post-Punk World, em 1993, uma declara-ção de Patti Smith – a mais bonita encruzilhada no caminho das pedras entre a poesia e o punk – re-verberou pelo mundo como uma revoada de aspas libertárias pelas cinzas magazines culturais: “Eu não considero que escrever seja um ato quieto e solitá-rio. Eu o considero um ato realmente físico. Quando estou em casa escrevendo na minha máquina, vou à loucura. Me mexo como um macaco, me molho inteira. Já molhei as calças escrevendo... Em vez de dar uns tecos, eu me masturbo – 14 vezes seguidas”. É possível que o vigor tenha ajudado, mas foi a ácida e doce verve da poesia de Patti, dos rifes de Smith, que a �zeram sobreviver ao apogeu, à morte e à res-surreição do punk. E ainda permanecer viva para contar toda essa história no livro de memórias Só garotos (tradução para o título original Just Kids), lançado em 2010 e vencedor do National Book Award na categoria não �cção, um dos mais impor-tantes prêmios literários dos Estados Unidos.

Só garotos não foi apenas um sucesso de críti-ca: permaneceu 37 semanas na lista dos mais ven-didos do �e New York Times. A história se passa em uma efervescente Nova York do �m dos anos 1960, onde o punk crescia como erva daninha no coração do Central Park. Na época, Patti e Robert Mapplethorpe eram apenas dois adolescentes que migraram para a metrópole perseguindo o sonho de se tornar artistas: ela queria ser poeta, ele que-ria ser fotógrafo. Não compartilhavam somente o mesmo sonho, por vezes também o mesmo quar-to, a mesma cama, o mesmo prato, o mesmo tesão de carne, amor de impulso e devoção de amigo. Só garotos é o cumprimento de uma promessa que Patti fez a Robert de contar ao mundo a história que traçaram juntos. Entre os �gurantes da trama constam lendas como Jimi Hendrix, Janis Joplin, William Burroughs e Allen Ginsberg, cujos encon-tros com Patti foram arquivados em detalhes na cachola das fortes lembranças da poeta.

Mary Austin Speaker trabalhava como direto-ra de arte na Ecco, editora que publicou a versão original da obra, e por isso foi uma das primeiras pessoas a botar as mãos no original. “Não conhe-cia a Patti antes de começarmos a trabalhar no Só garotos. Minha função era encontrar um designer para o livro, mas decidi fazê-lo eu mesma, já que

também sou poeta e admiradora do trabalho dela. Gostaria de registrar que desenhei apenas o in-terior da publicação, a capa foi feita pela Allison Saltzman.” Mary lembra do dia em que Patti entrou na editora e explicou, em linhas gerais, suas ex-pectativas com relação ao desenho da publicação: “Nós temos sensibilidades semelhantes e compar-tilhamos uma inquietação com a iconogra�a cató-lica e com os livros antigos, por isso não foi difícil encontrar uma estética que agradasse a nós duas”.

A partir de então, o trabalho duro começou. Mary conta que Patti aparecia frequentemente no escritório da Ecco. Ela gostava de puxar uma cadeira e sentar-se ao seu lado para dar pitacos. A autora estava particularmente preocupada em aprimorar as quebras de linhas e os parágrafos ori-ginais. “Ela brincou e mexeu com o texto e a or-denação da arte até o último minuto. Ficou muito claro desde o princípio que o livro era extrema-mente importante para ela em um nível pessoal, por conta da promessa feita a Robert. Ela foi extre-mamente exigente, mas também sabia recompen-sar e ser generosa quando precisava ser.” Uma lem-brança que não sai da cabeça de Mary é a do dia em que ela levou os layouts de Só garotos até a casa de Patti. A autora estava ensolarada, distribuindo sorrisos e comentários brilhantes. Mas ela tinha uma observação a fazer: queria incluir, em algum lugar ainda misterioso no meio do livro, a última foto tirada por Robert em vida: uma polaroide de Patti e sua �lha. “Ela me pediu para levar a foto-gra�a original comigo, só que eu estava apenas de passagem, indo para outro compromisso, e estava aterrorizada com a possibilidade de perder aquela foto. Ela foi enviada depois, por um mensageiro. Mas a con�ança que ela depositou em mim teve um grande impacto em minha vida.”

No Brasil, o livro saiu pela Companhia das Le-tras, com tradução de outro poeta, Alexandre Bar-bosa de Souza. “Nunca tinha traduzido uma auto-biogra�a, adorei. Por ser poeta, a pessoa em geral escolhe palavras mais densas de significado, ou mais precisas, ou mais bonitas simplesmente, mas há sempre uma emoção transformada no texto. O tradutor não pode deixar por menos.” Como um tabloide nova-iorquino da mais crua cena artística do �nal dos 1960, Só garotos desperta prazeres bas-tante primitivos, como conhecer detalhes da vida privada. Por isso, fã confesso do mais clássico dos

| perfil | patti smith

Page 35: 01 CAPA 99 ok.indd
Page 36: 01 CAPA 99 ok.indd
Page 37: 01 CAPA 99 ok.indd
Page 38: 01 CAPA 99 ok.indd
Page 39: 01 CAPA 99 ok.indd
Page 40: 01 CAPA 99 ok.indd
Page 41: 01 CAPA 99 ok.indd
Page 42: 01 CAPA 99 ok.indd

42

| comportamento |

Page 43: 01 CAPA 99 ok.indd

rev is tadacul tura.com.br

Na carta em que Pero Vaz de Caminha narra a chegada da esquadra de Pedro Álvares Cabral à Bahia em 1500, após descrever com deslum-bramento tudo o que seus olhos haviam visto, ele sutilmente aproveita a oportunidade para pe-dir ao rei Dom Manuel I

emprego para um parente. “E nesta maneira, Senhor, dou aqui a Vossa Alteza conta do que nesta vossa terra vi. E, se a algum pouco alonguei, Ela me perdoe, que o desejo que tinha de vos tudo dizer me fez assim pôr pelo miúdo. E, pois que, Senhor, é certo que assim neste cargo que levo, como em outra qualquer coisa que de vosso serviço for, Vossa Alteza há-de ser de mim mui-to bem servida, a Ela peço que, por me fazer singular mercê, mande vir da Ilha de São Tomé Jorge de Osório, meu genro, o que d’Ela receberei em muita mercê”, diz o trecho �nal da missiva. Há historiadores que acham um excesso de malícia a�rmar que foi um pedido de emprego, mas é o su�ciente para criar uma lenda de que o Brasil nasceu junto com a corrupção.

“Está ali, portanto, um registro o�cial de nepotismo, que é uma forma velada de corrupção. Obviamente, essa era uma prática comum e relativamente aceitável na época, mas, ainda assim, não deixa de ser simbólico que, na própria certidão de nascimento do Brasil, haja um registro dessa natureza”, diz Laurentino Gomes, autor de livros como 1808, sobre a fuga da família real portuguesa para o Rio de Janeiro; 1822, sobre a Inde-pendência do Brasil; e 1889, sobre a proclamação da República.

Com os recentes escândalos de corrupção estam-pando diariamente as manchetes dos jornais, especial-mente a Operação Lava Jato, que investiga o desvio de recursos na Petrobras, o brasileiro se acostumou a en-carar isso quase de forma automática, como se estives-se incorporada ao seu cotidiano. Será, no entanto, que essa visão de que a corrupção, de certa forma, moldou

o caráter nacional corresponde à realidade? É possível rastrear a origem da prática no país?

Caso estejamos pensando na corrupção praticada por homens públicos, podemos falar em corrupção no Brasil a partir do momento em que começou a ser for-mado o Estado com os organismos públicos. Contudo, temos de levar em consideração que, na colônia, a pa-lavra corrupção não existia e o sentido de desvio dos recursos públicos era outro. Como no período colonial o Brasil fazia parte de uma monarquia, a portuguesa, o sentido de recurso público era, em primeiro lugar, aquele ligado à �gura do rei e que sustentaria o Império. “Nas duas situações, tanto dos tributos régios, como dos municipais, há muitas denúncias na documentação de época sobre desvios ou apropriação indevida dos recur-sos que geravam e que deveriam ou ser enviados para o rei ou se dirigir para alguma obra pública nas vilas e ci-dades do Brasil”, explica a historiadora Denise A. Soares de Moura, professora do Departamento de História da Unesp e estudiosa do tema.

Para o jornalista Pedro Doria, autor dos livros 1565 – Enquanto o Brasil nascia: A aventura de portugueses, franceses, índios e negros na fundação do país, e 1789 – A história de Tiradentes e dos contrabandistas, assassinos e poetas que lutaram pela independência do Brasil, que abordam dois períodos intensos da história brasileira, a corrupção, da maneira que a tratamos, é um conceito novo, mas sempre presente. “Nenhum português, em 1500, estava particularmente preocupado com corrup-ção. Esta tampouco é uma preocupação particular nos anos 1700. No século 20, já começa a aparecer com for-ça”, explica, arrematando que a corrupção não tinha o peso moral que lhe atribuímos atualmente. Ela era vista como parte do salário. Ter poder queria dizer, essen-cialmente, que parte do ganho do Estado lhe pertencia. E o rei não veria motivos para reclamar, desde que o desvio fosse razoável e o grosso parasse nos cofres reais. “A prática como a conhecemos hoje estava na estrutura de como se geria um Império. Mais do que isso: o des-vio de dinheiro do Estado era parte aceita da política de governo. Quando um governador-geral ou um vice--rei era mandado para o Brasil, ao longo de nossos três

43

P O R M A U R I C I O D U A R T E I L U S T R A Ç Õ E S M A U R I C I O P L A N E L

BEM LONGE DE SER UM FENÔMENO RECENTE, A CORRUPÇÃO SEMPRE ESTEVE PRESENTE NO BRASIL. CONTUDO, DE UNS ANOS PARA CÁ, FALAR SOBRE O TEMA VIROU MANIA ENTRE MUITOS BRASILEIROS, QUE PARECEM TER MEMÓRIA CURTA QUANDO SE TRATA DA NOSSA HISTÓRIA

Page 44: 01 CAPA 99 ok.indd
Page 45: 01 CAPA 99 ok.indd

RANKING DA CORRUPÇÃO NO MUNDOApesar do momento turbulento, o Brasil melhorou três posições no Índice de Percepção da Corrupção (IPC) da Transparência Internacional, ocupando a 69ª colocação entre 175 países, segundo estudo divulgado em dezembro de 2014. Os dados coletados pela organização referem-se aos 24 meses anteriores à divulgação da pesquisa e é baseado em dados de instituições como o Banco Mundial e o Fórum Econômico Mundial, além de instituto de pesquisas, que medem a percepção de empresários, investidores e população em relação à corrupção.O Brasil obteve a nota 43, em uma escala que vai de 0 (setor público visto como extremamente corrupto) a 100 (extremamente íntegro). A pontuação do país se situa na média mundial, de acordo com o estudo. Nas Américas como um todo, a média é 45 pontos. A Dinamarca é a primeira colocada no ranking, com 92 pontos. Empatados com o Brasil estão Grécia, Bulgária e Itália.

45rev is tadacul tura.com.br

Page 46: 01 CAPA 99 ok.indd

4646

| perfil | grande otelo

P O R G U I L H E R M E B R Y A N

A PERSONIFICAÇÃO DA ALMA NACIONALÍCONE DA CHANCHADA BRASILEIRA – UMA DAS MAIS POPULARES FASES DO NOSSO CINEMA –, GRANDE OTELO, QUE COMPLETARIA 100 ANOS NESTE MÊS, TEVE UMA VIDA MARCADA POR PRECONCEITOS E TRAGÉDIAS

Page 47: 01 CAPA 99 ok.indd

47rev is tadacul tura.com.br

Grande Otelo, vestido de Julieta, discute com Osca-rito, fantasiado de Romeu, a respeito da presença ou não de uma cotovia no local. O primeiro encon-tra-se na sacada de uma casa e o segundo na parte de baixo. Essa cena, que é engraçadíssima e uma das mais conhecidas das chanchadas, um gêne-ro de filmes tipicamente

brasileiro, faz parte do filme Carnaval no fogo (1949), dirigido por Watson Macedo. Sem saber, naquele mo-mento, Grande Otelo perdia o enteado, envenenado pela própria mãe e esposa do ator, que se suicidou em segui-da. Essa é apenas uma passagem que mistura tragédia e glória na vida do artista, falecido em 26 de novembro de 1993 e que completaria 100 anos dia 18 deste mês.

“Faz parte da construção narrativa de estrelas cine-matográ�cas a divulgação das tragédias pessoais. Isso dava ibope e ainda hoje chama atenção do público. Na minha tese, revelo como a exploração desse tipo de tragédia estava relacionada ao preconceito sofrido por Grande Otelo e seus familiares”, comenta Luis Felipe Hi-rano, autor da dissertação de doutorado defendida na Universidade de São Paulo, Uma interpretação do cinema brasileiro através de Grande Otelo. O antropólogo social defende que a maior tragédia da vida do ator – o suicí-dio de sua esposa, após ela assassinar o próprio �lho – tem relação com o racismo da época. “Ele rememora, por exemplo, que sua esposa, afrodescendente de pele clara, não conseguiu matricular o �lho em uma escola particular do Rio de Janeiro devido à cor de sua pele. Vale lembrar que ela ascendeu socialmente quando ca-sou com Otelo, pois era empregada doméstica. Ao que parece, ela não conseguia ter a mesma entrada que o ator no espaço da classe média carioca”, acrescenta.

Com todas as condições adversas, foi a maior bata-lha da vida do artista, que morreu na glória no aeropor-to Charles de Gaulle, em Paris, na França, vítima de um ataque fulminante no coração. Ele seria homenageado no Festival dos Três Continentes, em Nantes, no mesmo país. “Ali ele já estava para o cinema como um Charles Chaplin. Estava como uma personagem importante. Os franceses pretendiam homenageá-lo naquela ocasião. Foi uma pena que ele não tenha presenciado essa homenagem”, avalia Sérgio Cabral, autor de Grande Otelo – Uma biografia.

Filho de um pai que morreu esfaqueado e de uma mãe alcoólatra, Sebastião Bernardes de Souza Prata, seu verdadeiro nome, nasceu em Uberlândia (MG), onde

viveu até conhecer uma companhia de teatro mam-bembe e fugir com ela para São Paulo. Após ir várias vezes ao Juizado de Menores, acabou adotado pela fa-mília do político Antonio de Queiroz, que o matriculou no Liceu Coração de Jesus, onde cursou até a terceira série ginasial. Com 8 anos, participou da Companhia de Comédia e Variedades Sarah Bernhardt e, na déca-da de 1920, fez grande sucesso como estrela infantil na Companhia Negra de Revistas, regida por Pixinguinha. “Ele foi equiparado a Mozart pelos críticos, pois nessa época ele era uma criança que cantava árias de ópera e declamava poesias em diferentes línguas. Depois desse período, ele retorna ao teatro na adolescência por volta dos 16 anos. Essa fase é um pouco difícil, pois ele teria que se adequar às novas vogas do momento, que eram a representação do negro sambista e jazzista. Mas, já em 1937, ele é considerado uma grande atração dos teatros de revista de Jardel Jércolis e Cassino da Urca. Além de atuar, ele trabalhava como sta� da trupe, ajudando até a passar roupa”, conta Hirano.

O antropólogo garante que há registros históricos con�rmando que Grande Otelo era alvo de discrimina-ção, recebia salário menor que atores brancos de mes-mo destaque e era a única estrela do Cassino da Urca proibida de entrar pela porta de entrada. Foi barrado em vários estabelecimentos. “Obviamente, essa discri-minação racial se articula a outras características como, por exemplo, sua baixa estatura, mas há fortes indícios que a cor da pele desempenhava um papel importante nas discriminações que sofreu”, opina.

Sua estreia no cinema aconteceu em 1935, no �lme Noites cariocas, dirigido pelo argentino Enrique Cadíca-mo para a produtora Cinédia. Em 1942, já relativamente conhecido, foi convidado para atuar no inacabado É tudo verdade, do cineasta norte-americano Orson Welles, que considerava Otelo ‘o melhor ator da América do Sul’, por sua versatilidade. “Nos palcos, de um esquete para outro, ele conseguia tirar risadas da plateia e depois levá-la aos prantos, como bem documentado em diversas críticas de jornais da época. Por essa característica, ele conseguiu destaque em um mercado em que historicamente há uma distribuição desigual e desproporcional de espaços e personagens para brancos e negros. Nem é necessário dizer, mas há uma sobrerrepresentação de brancos e uma sub-representação de negros em nosso cinema, teatro e televisão”, opina Hirano.

RECONHECIMENTOA consagração veio mesmo com a dupla que for-

mou com Oscarito nas chanchadas da produtora Atlân-tida. Dentre as mais famosas estão Aviso aos navegantes (1950), Carnaval Atlântida (1952) e Matar ou correr A

CE

RV

O C

INE

MAT

EC

A B

RA

SIL

EIR

A/S

AV/M

INC

/ IM

AG

EM

RE

TIR

AD

A D

O F

ILM

E T

UD

O É

BR

AS

IL, D

E R

OG

ÉR

IO S

GA

NZE

RLA

/AC

ER

VO

ME

RC

ÚR

IO P

RO

DU

ÇÕ

ES

Page 48: 01 CAPA 99 ok.indd
Page 49: 01 CAPA 99 ok.indd
Page 50: 01 CAPA 99 ok.indd

50

Atecnologia é a onda do momento. De cada dez jovens para quem você pergunta qual o sonho de consumo, dez vão res-ponder que é um telefone celular multifuncional, um tablet ou mesmo um computador. Não há competição!

Esse domínio tecnológico tem imposto algumas mudanças com-portamentais a uma geração que passa cada vez mais tempo na frente das telas. Algumas delas? Eles têm uma atenção capaz de se ocupar de vários focos simultaneamente (mas com uma tremenda di�culdade de se deter em um único objeto), se expõem de forma mais ostensiva, não medem esforços para serem curtidos e visualizados e trocam de produto, de aplicativo, de série e de rede social de maneira muito fácil.

Mas será que esta di�culdade de se manter �el a uma escolha por um período mais longo de tempo e essa extrema volatilidade de há-bitos e costumes podem estar impactando a forma como esses jovens também constroem suas relações afetivas? Haveria um novo modo e, talvez, até mesmo uma nova moda, de se relacionar com o outro?

Na cultura dos sites e aplicativos de relacionamento, nos quais o que separa o desconhecimento da intimidade pode ser um punhado de toques na tela de um celular ou de um teclado, como se de�ne o que é estar na moda no campo do sexo e do namoro?

Talvez o que mais caracterize o momento que vivemos é uma diversidade de possibilidades e a coexistência de modelos distintos. Assim, da mesma forma que um jovem tem uma parceira sexual dife-rente todos os dias, que conhece pelo Tinder, em contatos que duram pouco mais do que algumas horas, um outro que estuda na mesma classe pode passar anos namorando a mesma pessoa que conheceu em sua igreja e só vai fazer sexo com ela depois do casamento. Exem-plos extremos? Talvez, mas, entre essas duas pontas, existe uma gama imensa de possibilidades, todas elas ocorrendo embaixo dos nossos olhos, a todo o momento.

Outro fenômeno dos dias atuais é a maleabilidade dos padrões de relacionamento e a possibilidade constante de mudanças. Assim, aque-le jovem do parágrafo anterior, depois de anos trocando de parceiras como quem muda de roupa, encontra alguém por quem se interessa. A partir daí, reorienta sua bússola dos afetos, tendo que abrir mão da variabilidade e se adaptar a um novo modo de se relacionar, em que passa a lidar com questões que nunca imaginou.

Quem, então, está mais na moda? Será que são aqueles que mudam o tempo todo de parceria? Ou são os que, na contramão dessa mo-dernidade, apostam em relações mais tradicionais? Ou, ainda, aqueles que navegam de um modelo para outro ao sabor das novidades que aparecem em sua vida?

Mais do que se preocupar com quem anda mais na moda, quem tem um comportamento mais atual, quem é mais inovador, talvez seja importante a gente perceber que a autenticidade e a individualidade das escolhas de cada um é que fazem toda a diferença.

Nesse sentido – se é que existe uma moda nos modos de se relacionar –, está mais na moda quem segue seu próprio caminho, sua forma de en-tender o que são os relacionamentos afetivos. Estar na moda é ter liber-dade de fazer suas escolhas e não criticar quem pensa diferente. Certo? c

| coluna | jairo bouer

JAIRO BOUER ACREDITA QUE ESTAR NA MODA É SER FELIZ E DEIXAR OS OUTROS SEREM TAMBÉM, CADA UM DO SEU JEITO. O QUE EXISTE É A MODA DE CADA UM!

ILU

STR

ÃO

: MA

RC

ELO

CIP

IS

CADA UM NO SEU QUADRADO

Page 51: 01 CAPA 99 ok.indd
Page 52: 01 CAPA 99 ok.indd
Page 53: 01 CAPA 99 ok.indd
Page 54: 01 CAPA 99 ok.indd
Page 55: 01 CAPA 99 ok.indd
Page 56: 01 CAPA 99 ok.indd
Page 57: 01 CAPA 99 ok.indd
Page 58: 01 CAPA 99 ok.indd

58

JOAQUINA, FILHA DO

TIRADENTES, DE MARIA JOSÉ DE

QUEIROZ“Estou lendo o

livro para entrar no universo do meu

próximo trabalho.”

AO LADO DE NOMES COMO CLEO PIRES, MARCOS CARUSO E THIAGO MARTINS NO FILME DE AÇÃO OPERAÇÕES ESPECIAIS – NOS CINEMAS A PARTIR DO DIA 15 DESTE MÊS –, FABÍULA NASCIMENTO INTERPRETA ROSA, UMA MANICURE QUE TRABALHA NA CIDADE FICTÍCIA DE SÃO JUDAS DO LIVRAMENTO, NO INTERIOR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, E PASSA A CONVIVER COM UMA EQUIPE ESPECIAL DE POLICIAIS 100% HONESTOS QUE VEM DA CAPITAL PARA AJUDAR A ACABAR COM O AUMENTO DA CRIMINALIDADE NA REGIÃO. “ROSA É UMA TÍPICA BRASILEIRA QUE TRABALHA, SUSTENTA A CASA E O IRMÃO MAIS NOVO – QUE DÁ MUITO TRABALHO. [O DIRETOR] TOMÁS PORTELLA ME DEU LIBERDADE PARA DAR VIDA A ELA DA MANEIRA QUE EU QUERIA, E APROVEITEI PARA TRAZER O SOTAQUE DE CURITIBANA À TONA.” À PRIMEIRA VISTA, ROSA PARECE UMA PESSOA “DE BEM”, MAS, AO LONGO DA HISTÓRIA, ELA REVELA QUE CONHECE OS ESQUEMAS DE CORRUPÇÃO DA CIDADE. “A TRAMA MOSTRA QUE NÓS NÃO ESTAMOS PREPARADOS PARA UMA POLÍCIA HONESTA. ENQUANTO A SOCIEDADE BURLAR LEIS E ABUSAR DO FAMOSO ‘JEITINHO BRASILEIRO’, NÃO TEMOS SALVAÇÃO.” NA PELE DA CONFEITEIRA PAULUCHA, NA NOVELA DAS 19H DA REDE GLOBO I LOVE PARAISÓPOLIS, E TAMBÉM EM OUTRO FILME NOS CINEMAS, S.O.S. MULHERES AO MAR 2, FABÍULA, QUE JÁ SE PREPARA PARA GRAVAR A NOVA NOVELA DAS 23H, JOAQUINA, ESPERA QUE “UM DIA A CORRUPÇÃO NÃO FAÇA MAIS PARTE DO DIA A DIA DO NOSSO PAÍS E QUE ESSE ESTIGMA SE TORNE COISA DO PASSADO, MAS, INFELIZMENTE, AINDA ESTAMOS BEM LONGE DISSO”. (CLARIANA ZANUTTO)

FOTO

FA

BÍU

LA: D

AN

BE

HR

/ F

OTO

S D

ICA

S: D

IVU

LGA

ÇÃ

O

| preferidas | fabíula nascimento

FICHA LIMPA

RESTAURANTE APRAZÍVEL“Jantar nesse restaurante, em Santa Teresa [no Rio de Janeiro], é sempre delicioso. Quando posso, corro para lá!”

NOW: IN THE WINGS ON A

WORLD STAGE, DE KEVIN SPACEY

“Amei o documentário

do Kevin Spacey sobre a temporada

de um ano da montagem do

espetáculo Ricardo Terceiro.

É imperdível!”

“Neste mês, teremos a Paula Cohen em cartaz com o monólogo no Teatro do Leblon, no Rio. É um espetáculo divertidíssimo!”

AS LÁGRIMAS QUENTES DE AMOR QUE SÓ O MEU SECADOR SABE ENXUGAR, DE PAULA COHEN E PEDRO GRANATO

Page 59: 01 CAPA 99 ok.indd
Page 60: 01 CAPA 99 ok.indd

60

STAND UP PADDLE“Gosto de fazer na praia do Arpoador. É só alugar a prancha para ver o Rio do mar. Uma beleza!”

SKELLIG, DE DAVID ALMOND“Livro juvenil do autor inglês que li recentemente e amei!”

COMER BEM“Adoro o arroz de frutos do mar do Borogodó, no Horto, pertinho do Jardim Botânico. E amo os bolos do restaurante Da Casa da Táta.”

FOTO

: DO

LLA

RP

HO

TOC

LUB

.CO

M

FOTO

S:D

IVU

LGA

ÇÃ

O

| preferidas | flávia lins e silva

DE MALAS PRONTASPILAR, BRENO E O GATO SAMBA ESTÃO PRONTOS PARA UMA NOVA AVENTURA, DESSA VEZ AO LADO DE ZEBRAS E ELEFANTES, PERCORRENDO MUITAS RE-GIÕES AFRICANAS, DA NIGÉRIA A ANGOLA. AS PERSONAGENS, CRIADAS PELA ESCRITORA E ROTEIRISTA FLÁVIA LINS E SILVA, FAZEM PARTE DA SÉRIE DIÁRIO DE PILAR, QUE CONTA COM ILUSTRAÇÕES DE JOANA PENNA E JÁ REGISTROU AS VIAGENS DA GAROTA EM LOCAIS COMO MACHU PICCHU, EGITO, AMAZÔNIA E GRÉCIA. “SEMPRE FIZ DIÁRIOS NA MINHA ESCOLA PRIMÁRIA, ENTÃO, CRIAR A PI-LAR NESSE FORMATO FOI ALGO BEM NATURAL. TUDO COMEÇOU QUANDO ESTA-VA ESTUDANDO MITOLOGIA GREGA E, PARA NÃO ESQUECER O QUE LIA, RESOLVI FAZER RESUMOS. E ELA COMEÇOU A SE INTROMETER, PALPITANDO AQUI E ALI.” EM DIÁRIO DE PILAR NA ÁFRICA, A TURMA AJUDA A PRINCESA FUNMILOLA, DE ORIGEM IORUBÁ, A PROCURAR SUA FAMÍLIA, QUE FOI APRISIONADA E VENDIDA PARA TRAFICANTES DE ESCRAVOS. ROTEIRISTA DO PROGRAMA DETETIVES DO PRÉDIO AZUL, BASEADO EM SEUS LIVROS HOMÔNIMOS E QUE EM BREVE TERÁ A SÉTIMA TEMPORADA TELEVISIONADA PELO CANAL PAGO GLOOB, FLÁVIA REVELA QUE, ASSIM COMO PILAR, TEM “MUITA VONTADE DE CONHECER TODO O MUN-DO, A FAMOSA ‘GULODICE GEOGRÁFICA’, ALÉM DO AMOR AOS ANIMAIS, CLARO! GOSTARIA QUE ELA FOSSE CONHECER A CHINA... E ME LEVASSE JUNTO!”. (CZ)

FEIRA DE ANTIGUIDADES DA GÁVEA“Aos domingos, o senegalês Cherif vende tecidos africanos belíssimos.”

CHÁ“Sou louca por chá. Adoro tomar no Instituto Moreira Salles, um lugar que amo visitar.”

Page 61: 01 CAPA 99 ok.indd
Page 62: 01 CAPA 99 ok.indd

LOUVRE“Frequento há 30 anos. Vou de três em três meses, e não é nem para ver coisas novas. Há uma relação quase de namoro com obras que me tocam.”

VENEZA“Morei lá por um ano. É uma cidade que nem todo mundo gosta, porque a acha uma porcaria, úmida, molhada, com cheiro de mofo. Eu a achei encantadora.”

GASTRONOMIA“Gosto da cozinha, adoro cozinhar. E o ato de comer é outro grande prazer. Como qualquer coisa, desde que seja bem feita, com o sabor correto.”

| preferidas | juarez machado

62

SOIXANTE-DIX, QUE SIGNIFICA 70 EM FRANCÊS, É O NOME DA EXPOSIÇÃO

QUE, DESDE 2011, JÁ PASSOU POR PARIS E DIFERENTES CIDADES BRASI-

LEIRAS E AGORA ESTÁ EM CARTAZ NA CAIXA CULTURAL BRASÍLIA ATÉ O

DIA 8 DE NOVEMBRO. O HOMEM POR TRÁS DAS 41 PEÇAS, ENTRE ÓLEOS,

DESENHOS, ESCULTURAS E TRAJES, É O ARTISTA PLÁSTICO JUAREZ MA-

CHADO, DE 74 ANOS, ALGUÉM QUE TEM A CERTEZA DE SER FELIZ QUANDO

ESTÁ TRABALHANDO. “EM CADA QUADRO ESTÁ O ANIVERSARIANTE, QUE

SOU EU, EM CORES, REPRESENTADO POR MIM OU POR OUTRAS FIGURAS.

E OS CONVIDADOS, MEIO GOZANDO DELE, ESTÃO EM PRETO E BRANCO.

É UM DEBOCHE DE MIM MESMO, E A TURMA SE DIVERTE VENDO ISSO.” É

EM SEUS ATELIÊS – LOCALIZADOS NO RIO DE JANEIRO, JOINVILLE E PARIS –

QUE O ARTISTA MAIS AMA FICAR. “DENTRO DELES ESTOU CERCADO DE

ESTÍMULOS: LIVROS, TINTAS, O CHEIRO DA TEREBINTINA E, QUANDO OLHO

PARA ALGUMA COISA, JÁ VEJO UM QUADRO, UMA OBRA. MEU UNIVERSO É

QUASE UMA FANTASIA. SÓ SINTO PRAZER DENTRO DO MEU ATELIÊ, CRIAN-

DO, DESENHANDO, PINTANDO, PROCURANDO.” (LUCAS ROLFSEN)

MILLÔR FERNANDES“Na época em que o

conheci, eu deveria ter uns 20 anos. Perguntei

qual a receita para ser um artista e ele

respondeu: ‘Observe, apenas observe’.”

ETERNO AMANTE

FEIRA ARTRIO“O que me chamou a atenção na edição deste ano foi um sapato amarelo feito por um japonês em 1962 ou 1963. Vim para casa querendo produzir algo inspirado nele.”

FOTO

: DO

LLA

RP

HO

TOC

LUB

.CO

M

FOTO

: DO

LLA

RP

HO

TOC

LUB

.CO

M

FOTO

S:D

IVU

LGA

ÇÃ

O

Page 63: 01 CAPA 99 ok.indd
Page 64: 01 CAPA 99 ok.indd
Page 65: 01 CAPA 99 ok.indd
Page 66: 01 CAPA 99 ok.indd
Page 67: 01 CAPA 99 ok.indd
Page 68: 01 CAPA 99 ok.indd
Page 69: 01 CAPA 99 ok.indd
Page 70: 01 CAPA 99 ok.indd
Page 71: 01 CAPA 99 ok.indd
Page 72: 01 CAPA 99 ok.indd
Page 73: 01 CAPA 99 ok.indd
Page 74: 01 CAPA 99 ok.indd
Page 75: 01 CAPA 99 ok.indd
Page 76: 01 CAPA 99 ok.indd