003 - céu de bronze

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Céu de bronze é uma história que é construída em um período mitológico distinto, mas especificamente o período antediluviano. Existe um vazio na concepção do mito do dilúvio, concepções que se formaram em cima de registros existentes em diversas culturas. Não só na cultura judaica, mas como também na cultura babilônica, grega, hindu, inca, etc. Encontramos diversas referências sobre este evento, e o mais interessante é que podemos identificar diversas similaridades na formação deste mito.

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CEU DE BRONZE

LEANDRO BARBOSA

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Mapa de Haddad1

1 O mapa ainda esta incompleto

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Capítulo I

O GRANDE CARVALHO

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stávamos todos sentados em volta da fogueira abaixo de um grande carvalho, a noite estava perfeita. Como uma silueta de uma linda mulher surgia na escuridão às curvas delineadas da montanha apontadas pela luz da lua,

reluzindo em tons azuis tornando a noite em um evento especial e nostálgico para mim. De súbito Danti me olhou com um sorriso debochado passando a mão sobre sua barba ruiva e encrespada, dizendo:

- Um bocado de pão preto e um pouco de vinho cairia bem melhor do que os carinhos daquela velha, não é Damon?

Danti se referia a três noites anteriores a ronda, onde em uma taberna eu me passei no vinho e acordei pelo amanhecer deitado ao lado de uma velha maluca desprovida dos dentes, que me disse confiantemente que eu havia a tomado como esposa.

Olhei para ele com um olhar revoltado e falei: - Até quando vais torturar minha alma com esta lembrança

horrível? Sua é a culpa por me servir tantas taças de vinho! Danti com uma grande gargalhada e um sorriso no rosto

respondeu: - Lembranças boas têm de ser trazidas a nossa memória

meu caro Damon! Bem sei que a pior de suas memórias não são nada se comparadas as deste velho grisalho e rabugento, não é Tamar?

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Com um olhar despreocupado Tamar trançava a sua barba, e como que de momento, olhou fixamente para Danti respondendo:

- Sim meu querido e fedido jovem, tão certo quanto o tempo em que não te banhas, eu posso dizer que dentre as péssimas memórias que possuo, uma das piores foi a noite que encontrei na taberna a sua gloriosa mãe, isso quando ainda nem eras nascido!

Com a resposta de Tamar todos menos Danti seguramente, caíram em gargalhadas enquanto ele levantou-se com a cara emburrada, e se enrolando nas peles de carneiro pegou o arco e disse:

- Velho, eu ainda te corto a língua! Vou dar uma olhada para ver como andam as coisas por ai! Saindo irado de nossa roda.

Ao ver Danti sair gritei, com intuito de consolá-lo: - Não se perca por ai amigo, amanha saímos antes do

amanhecer! Ele emburrado nem olhou para traz, sendo que logo o vulto

de Danti foi sumindo de diante da fogueira em meio à escuridão. Tamar olhou para mim sorrindo sarcasticamente, dizendo: - Ele tem de aprender a respeitar os meus cabelos

branqueados, detesto estes jovens mancebos que acham que já sabem todos os segredos de todos os mistérios e não respeitam os anciões, um pouco de humildade vai lhe cair bem.

Olhei para Tamar com o respeito que lhe era devido e disse;

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- Grande verdade Tamar. A todos nós digo! Ainda mais os jovens, indiferente ao que aprendemos dos que nos ensinam, devemos reconhecer nosso lugar.

Tamar era um dos guerreiros mais antigos que eu conhecia, embora muitas de suas histórias não fizessem nem menção à grandeza de seus feitos, sabe-se que desde os tempos dos pais de meu pai ele já pegava na espada. Tamar foi amigo e companheiro em batalhas de meu avo, foi mentor nas artes de guerra de meu falecido pai e agora nesta ronda eu tinha o prazer de ter ele como companheiro, amigo e mentor. Embora já de avançada idade, ainda possuía muita força e negava-se a abandonar a vivência e a Campânia dos soldados. Poucos se igualavam em habilidades com a espada como Tamar. Ele era um homem velho e muito solitário, constantemente atormentado pelas más lembranças. Do pouco que sabia sobre sua família, era que seus filhos mais velhos morreram em batalha lutando nas guerras de Haddad. Mas este fato parecia ser pequeno diante da dor que ele demonstrava sentir quando suas memórias eram assombradas pelas lembranças do dia em que os soldados arkhalamitas haviam assassinado sua mulher e filho menor durante a invasão de da grande cidade.

Como maioria dos soldados, todos sabíamos que a guerra era a única forma de ascensão para camponeses como nós, embora trabalhássemos no campo desde a infância, nos meses de solstício éramos treinados nas artes do combate, pois sabíamos que a guerra

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era parte de nossa tarefa como servos do rei. A guerra para mim é tão antiga, que desde menino tenho as minhas primeiras memórias assombradas por varias histórias e eventos relacionados a ela.

Foram vinte anos de guerra, e tenho por sorte não ter presenciado o pior dela, isso pelo fato de eu ser jovem demais e estar alistado em tempos de paz. Já faz dois anos que o reino do norte Arkhal silenciou, e não investe em campanhas contra Haddad e reinos vizinhos, penso que parte disso se deve graças às alianças militares entre os três reinos, fato que tornou possível a resistência aos bem armados exércitos dos Arkhalamitas. A respeito de Arkhal ouvem-se muitos rumores negativos sobre um grande mau que se abateu por aquelas regiões devido à obsessão por poder de Athadara filho de Auhyn. Ele era conhecido como o esmagador, por ter na invasão de Haddad covardemente afrontado o grande rei Theorn. Neste dia ele posicionou sua carruagem diante das portas da cidade, e cruzou pela entrada passando por cima das mulheres e crianças que haviam sido capturadas, as esmagando apenas por escárnio e prazer pessoal.

De tudo isso o que tenho por bom, é que depois de tanto terror, Haddad esta livre e vivemos tempos de paz e tranqüilidade. Como soldados os nossos deveres são na maioria das vezes servir de escolta aos recolhedores de tributos e cumprir três vezes por ano com rondas nos limites de nossas terras. Amanhã pelo entardecer creio que chegaremos aos limites do vilarejo de Hann. É nosso

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objetivo seguir com nossa jornada até a grande cidade de Mellid, finalizando nosso trajeto no acampamento de soldados que fica próximo da floresta de Urartu, uma pequena fortaleza que fica nos limites de Mellid.

Despertamos logo antes do alvorecer, quando ainda nem se podia ouvir o barulho do canto dos pássaros matutinos pelas arvores, e nem as aves noturnas haviam se recolhido em seus recantos sombrios, foi neste tempo que levantamos acampamento. Fui acordado aos gritos eufóricos de Danti dizendo;

- Vamos Damon, se não se levantar vai ficar aqui fazendo companhia as corujas! Coma um pouco de pão antes de seguirmos viagem! Vou dar um pouco de água para os cavalos.

Logo levantei e me assentei em volta do braseiro que ainda queimava vivo, restante da fogueira da noite anterior, e percebi um pouco de carne que havia sobrado e a comi com o pão que havia escondido de Danti em minha bolsa. Logo a minha frente estava Tamar junto a Darus recolhendo as panelas, e fechando as bolsas. Darus era nosso guia, ele tinha muita experiência em perseguição, parecia um lobo quanto a identificar rastros. Darus era alto e tinha longos cabelos negros que não combinavam em nada com seu rosto nada amigável. Depois de Tamar ele era o mais velho e experiente de nosso pequeno grupo. Enquanto Tamar junto a Darus recolhiam as panelas, Sillie vinha recolhendo as bolsas, e as amarrando nos cavalos. Sillie era um fazendeiro que havia perdido suas terras por

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causa da seca no verão, agora ele cumpria as rondas como forma de pagar suas dívidas, isso para não ter que dar seus filhos como escravos para quitá-las.

Como que em um instante Sillie olhou para mim e disse: - Vamos seu vadio, pelo menos recolha as nossas armas! E eu respondi; - Calma Sillie, estou comendo! Novamente Sillie me olhou com um olhar nervoso dizendo; - Podes comer e trabalhar, pois se não nos ajudar, sairemos

muito tarde e não chegaremos a tempo na entrada de Hann! Ainda com o pão na boca me levantei logo e fui colocando

as armas adequadamente presas nos cavalos, enquanto Danti corria como um doido trazendo um cavalo ao qual havia levado até o riacho próximo ao acampamento. Logo que estávamos com tudo pronto, montamos em nossos cavalos e seguimos viagem. Esta era minha segunda ronda desde que chegara o tempo de me tornar soldado, a minha primeira havia sido mais curta, segui o caminho até o território de Sahs que eram quatro luas de tempo em todo o percurso. Quando chegou a meu conhecimento que Tamar estaria nesta ronda, logo me candidatei para estar nesta patrulha até Urartu. Esta viaje era a mais longa e temida de todas, pois levávamos em torno de nove luas para apenas chegar ao fim do percurso. Muitas eram as histórias que surgiam sobre este caminho, se dizia que fora os ladrões e feras que habitavam nas

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florestas, muitos que cruzaram as montanhas ficavam loucos e seus agrupamentos nunca voltavam completos. Por isso quando eram enviados os grupos, eles não passavam de cinco soldados. Em compensação aos temores, a ronda até Urartu era o que pagava mais peso em ouro, penso que isso se devia ao fato de que eram poucos os que acreditavam que voltariam para recebê-lo.

Agora diante de tal desafio já faziam quatro luas que estávamos de viagem pelo caminho em direção a nosso objetivo, e meu coração estava irrequieto e atormentado por um sentimento estranho ao qual nunca sentira em minhas poucas viagens. Percebi que pouco a pouco a emoção aventureira que me motivou, ia sendo substituída por uma sensação que me tirava à paz causando-me uma inquietação curiosa. Danti o gordo ruivo que esteve comigo na minha primeira ronda até Sahs, embora fosse mais velho que eu, tinha muita simpatia por mim. Logo percebeu que eu estava com a expressão carregada, e resolveu me chamar à atenção com a sutileza de um touro, me atirando um caroço de maçã e dizendo:

- Que cara de bunda de jumenta é esta Damon? Já com saudades de casa? Ainda nem tens mulher ou filhos e já ficas com esta cara de sofrimento, imagina a hora que escolher uma para esquentar a cama! Vai esquecer até seu próprio nome!

Olhei para ele, com um sorriso esmaecido e disse:

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- Não sei amigo, sinto-me inquieto! Mas não consigo entender o porquê! Bem, penso que pode ser aquele pedaço de carne de porco, acho que não me fez bem!

Dante com um sorriso debochado respondeu; - Devias ter aproveitado o rabo da porca, esta é a parte mais

leve! Diante da declaração de Danti eu só podia rir, pois entendi

que ele a sua maneira queria me animar. Seguindo a nossa à frente estava Tamar sempre atento, e percebendo nossa conversa gritou!

- Danti para de perturbar o garoto, e fique atento! Olhe para as pedras ao chão!

Eu e Danti ligeiramente olhamos e percebemos vários rastros de sangue seco que se interrompiam em pequenas distâncias. Danti olhou assustado para Tamar que seguia cavalgavando logo atrás de Sillie, este que há muito tempo já estava atento e cobrindo as costas de nosso rastreador Darus. Ele foi seguindo o rastro até uma encosta escarpada, que era coberta por um túnel natural de galhos secos contorcidos. Daruz com um olhar desconfiado voltou-se para traz com seu cavalo, e olhou para Tamar e perguntou:

- Então velho, vamos ver o que esta oculto nesta passagem, ou seguimos adiante em nosso caminho?

Tamar que também estava desconfiado, disse:

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- Bem rapazes, é nossa função descobrir e relatar qualquer evento estranho que suceda por estas bandas, então sigamos para dentro da passagem e vejamos o que nos aguarda.

Em seguida que entramos, já sentimos um cheiro terrível de carne apodrecida, e quanto mais nos achegávamos para dentro da passagem, o cheiro se tornava ainda mais insuportável.

Seguimos cavalgando por um bom tempo até que chegamos a uma clareira que estava escondida pelas arvores que a circulavam. No meio dela havia um grande circulo alto de pedras fechadas como uma muralha. Tamar foi circulando com seu cavalo até que observou que não havia uma entrada naquele circulo, o cheiro daquele lugar era fortíssimo e fedia a morte. Sobre o circulo de pedra era enorme a quantidade de corvos que voavam, e depressa descemos dos cavalos tentando descobrir do que se tratava.

Danti preocupado analisava a parte superior da muralha com os olhos, pensando num meio de subir teve uma idéia e me chamou e dizendo:

- Já que não há uma entrada, eu te faço um apoio Damon e vê se consegue subir por esta parede!

Darus que também tentava encontrar uma entrada olhou para Tamar e perguntou:

- O que achas ser isso Tamar? Tamar com sua voz grave e rouca prontamente respondeu:

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- Amigo, ouvi falar de algo semelhante há muito tempo, isso quando eu era mais jovem. Diziam que estas muralhas pedregosas eram lugares malignos dos cultos dos adoradores dos deuses da natureza, disso ainda muita coisa ouvi falar, sobre eles e seus altos de pedra, mas nunca havia visto e nem soube de alguém que os tenha observado até agora! Pensava eu, que o seu culto havia sido extinto e não mais havia de seus altares em Haddad.

Sillie que já não estava mais suportando estar naquele lugar, regurgitando se senta e diz:

- Não suporto este cheiro horrível, prefiro aturar pelo resto da vida o cheiro de Dante a ter que sentir isso por mais tempo!

Ao ouvir as reclamações de Sillie, Tamar logo respondeu: - Fique tranqüilo amigo, é nossa função saber do que se

trata! E digo para você, que o cheiro do campo pós uma batalha não se faz muito diferente deste!

Eu que já não suportava mais a curiosidade, pedi a ajuda de Danti e dizendo:

- Me de um apoio, que eu vou subir! Preciso saber o que tem ai dentro.

Em seguida Danti se posicionou e eu subi em suas costas, e logo que encontrei uma pequena fenda, comecei a subir me apoiando pela parede até que me aproximei do topo. Quando coloquei minha mão na parte Superior das pedras senti minha mão

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como que sendo molhada por gordura, quando a olhei, vi que era sangue e gritei para eles dizendo:

- Tem sangue aqui! Sillie ouvindo o meu grito, indignado respondeu: - Que obvio! Pensei pelo cheiro que havia flores! Segui me apoiando até conseguir olhar para dentro, e digo,

tive a visão mais horrível que poderia ter presenciado em vida. O circulo de pedras era banhado por todos os lados com sangue apodrecido, ao meio havia um altar erguido, em cima dele havia pedaços de corpos espalhados. Eram todos como que se tivessem sido devorados por bestas do campo, em sua volta havia diversas ossadas e corpos de homens, mulheres e crianças apodrecendo.

Quando vi aquela cena, fui tomado por um pavor tão grande que escorreguei e resvalando no sangue podre vim a cair, despencando muro abaixo. Graças a proteção de Gibbor que abaixo de mim estava Danti olhando para cima, vindo amortecer minha queda, sendo que caí em cima dele.

Danti que havia sido esmagado com minha queda se levantou esbravejando aos gritos:

- Seu idiota, não tinha outro lugar para cair! Ai! Eu acho que arrebentei meu nariz!

Eu estava completamente apavorado, olhei com os olhos esbugalhados para todos gritando:

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- Este lugar é amaldiçoado! Demônios pisam sobre este lugar, a corpos por todos os lados! É a mesa de banquete dos demônios!

Tamar assustado com minha descrição, falou; - Saiamos daqui! O que quer que esteja fazendo isso,

possivelmente pode voltar e nós estamos em um pequeno grupo. Sillie que já estava a muito tempo desconfortável com

aquele lugar, foi o primeiro a subir em seu cavalo seguido por nós que rapidamente o acompanhamos a trote para fora daquele ambiente. Descemos uma colina, chegando logo à beira de um riacho que estava próximo, sendo que eu nem havia descido de meu cavalo e logo pulei, gritando:

- Que nojo! Meu Deus! Que imundice! Meu corpo esta imundo!

Enquanto me limpava nas águas correntes do riacho, ouvi a voz de Tamar a me chamar:

- Jovem, venha aqui! Assim que sai do lago estavam os quatro, Tamar, Sillie,

Darus e Danti, assustados comentando o acontecido! Danti me com uma expressão de enojo me olhou e disse:

- Estava com muita sede, mas prefiro morrer a beber água deste riacho agora!

Fiquei revoltado pelo comentário de Danti e indignado respondi:

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- Se tens nojo da água que é corrente, imagines o que é ter aquela imundice sobre o corpo!

Sillie como que interrompendo nosso dialogo chama nossa atenção e diz:

- Que maldição é esta que anda acontecendo por estas bandas, temos que voltar e relatar isso a nossos superiores!

Tamar ao que ouvia o comentário de Sillie, prontamente respondeu:

- É importante antes de tudo chegarmos a nosso destino primeiro, pois estamos próximos aos limites de Hann, e imagino que o que presenciamos é apenas uma parte do que anda acontecendo por estas bandas. Lá em Hann conseguiremos apoio e provisões para que com tranqüilidade possamos ver que decisão se tomará em relação a isso.

Darus com um olhar sério, coloca a mão sobre o ombro de Tamar e diz:

- Ajamos como que não sabemos nada deste lugar e sigamos logo em nosso caminho até Hann, lá procuraremos coletar mais informações sobre o que anda sucedendo.

Tamar que procurava acalmar o nervosismo de todos, e tentando parecer não estar abalado diz:

- Bem amigos, subamos em nossos cavalos, sem parada e poucas palavras, vamos seguir pela estrada do vale, e creio que em breve chegaremos à Garganta que abre caminho a vila de Hann,

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acredito que antes do anoitecer, e se não demorarmos, haverá grandes possibilidades de chegarmos a nosso próximo destino. Todos concordaram unanimemente com a palavra de Tamar, e seguimos a trote rápido tomando o caminho em direção a Hann.

Enquanto partíamos pelo caminho, eu sentia meu coração como que sendo apertado em uma tensão cada vez maior. Este incômodo ia se tornando mais pesado de acordo com a proximidade de Hann. Seguimos em direção ao vale de Indsor, também conhecida como a porta de Hann, descendo pelas encostas pedregosas do ancião, também conhecida por este nome devido às muitas histórias que contavam sobre aquele lugar. Mas o que se sabe é que um velho eremita vendedor de panelas escorregou e caiu do alto da encosta, e muito tempo depois foi encontrado morto por pastores nas pedras abaixo da ladeira. Alguns dizem que foram os espíritos que mataram o velho, outros que foram demônios que habitam nos cumes, mas para mim o velho caiu por estar bêbado.

Depois do presenciado, ninguém ousava falar uma palavra, todos estavam calados e apavorados pelo que havíamos visto no circulo de pedras. Quando já se havia passado um bom tempo do caminho em silencio, Danti ousou romper com ele dizendo:

- Amigos! Tenho algo a dizer, e acredito ser muito importante para todos:

- Diga! Falou Tamar. - Estou com muita fome! Respondeu Danti!

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Subitamente aquela afirmação foi como que se magicamente fosse quebrado aquele sentimento fúnebre em nosso coração e todos caímos em gargalhadas!

- Danti, logo nós vamos parar e comer alguma coisa, mas antes disso precisamos atravessar logo esta estrada, pois sabemos que tal lugar é perigoso para os cavalos, e vamos ter que caminhar conduzindo-os a pé. - Respondeu Tamar;

Chegando à entrada da encosta, descemos dos cavalos e um a um fomos cruzando pelas laterais da montanha de Indsor. Enquanto subíamos pela encosta olhei para baixo e vi que era uma visão assustadora, falo isso pela altura! Não saia de minha cabeça a lembrança do velho que caíra por elas, me levando a pensar ser aquela uma das mortes mais dolorosas possíveis para um homem, a verdade era que eu detestava grandes alturas. Sillie percebendo meu nervosismo, com um olhar debochado falou:

- Meu jovem nunca sonhou em voar? Esta é uma oportunidade de conhecer o segredo do coração dos pássaros! Aproveite!

Eu logo respondi! - Não vês penas sobre meu corpo e nem asas em minhas

costas! Dos pássaros só quero agora é velos em espetos a rodear em brasas!

Danti logo se atinou ao ouvir que nosso assunto era comida e gritou dizendo:

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- Concordo plenamente com Damon! Uma pombinha agora seria uma ótima resposta dos céus para acalmar a fúria que consome o meu interior!

Darus que sempre seguia a frente de nosso grupo ao ouvir o nosso assunto comentou com Tamar:

- Este homem só pensa em comer, seria bom ele aprender a conter toda esta fome, pois não sabemos o que nos aguarda neste vilarejo, isso quando lá chegarmos.

- Com certeza Darus, bom agora é que cruzemos rápido por este lugar! Respondeu Tamar.

Chegamos ao topo da estrada, uma parte afunilada de onde podíamos a distância vislumbrar uma linda visão diferente da sequidão pedregosa do inicio da encosta. Era uma visão deslumbrante do vale para qual estávamos seguindo, de longe podia se observar os animais e arvores e um lindo bosque que era cortado pela estrada principal.

Darus foi como de costume seguindo a frente, sempre atento descendo cuidando para que nós atrás tivéssemos o caminho seguro de qualquer imprevisto. Em um momento na descida ele teve que se distanciar razoavelmente de nós, que vínhamos logo atrás mantendo uma distancia segura, para que os cavalos não ficassem arredios, vindo a causar perigo no caminho. Em uma parte do declive onde havia uma curva da estrada, Darus levantou os olhos e viu sobre os galhos de uma arvore ressequida, uma jóia com um

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rubi amarelo raríssimo que estava amarrado em um dos seus galhos. Puxando o seu cavalo pelas rédeas se aproximou e estendendo a mão arrancou a pedra do galho. Com um gesto desconfiado olhou para traz vendo se estava sendo observado e observando que ainda estávamos à distância, escondeu a pedra dentro de suas vestes pondo-a em uma pequena bolsa de tecido que levava amarrada em baixo do colete de couro duro. Em seguida veio Tamar e vendo Darus, nem desconfiou do que se passara e continuou seguindo seu caminho como que nada houvesse acontecido.

Não demoramos muito para atingir o fim do caminho da encosta e todos demonstravam estar felizes por chegar. Darus voltando-se para Tamar que era o líder de nossa expedição e disse:

- Tamar logo vai estar esta anoitecendo, e o caminho se estendeu mais do que prevíamos! Não seria melhor acamparmos por aqui e pela manha sairmos em direção a Hann, falo isso porque não sabemos o que nos aguarda naquela vila, e se chegarmos à noite a situação pode nos complicar!

- É verdade Darus! Respondeu Tamar. - Meninos, vamos descer nossas coisas, pois ficaremos esta noite por aqui, Já esta ficando tarde e todos estão com fome. Precisamos recolher madeira para fogueira e ver se encontramos alguma caça para nossa refeição, falo isso porque da carne que tínhamos Damon comeu o que sobrara.

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Ao ouvir o que Tamar havia falado, soltei uma grande risada e respondi:

- por Certo que já que me culpas pela pouca carne, então me encarrego da caça, visto que percebi que a mesma também é farta por aqui!

Darus e Sillie arriaram seus cavalos em arvores e logo foram abrindo as bolsas e montando nosso acampamento. Danti tratou de pegar as bolsas de couro e ir à busca de água para nós e para os animais. Enquanto Tamar recolhia a madeira, eu saí em direção ao bosque em busca de caça.

Na entrada do bosque marquei o meu caminho, e fui entrando floresta adentro. Como uma raposa segui a espreita por entre as arvores na esperança de encontrar um coelho, codorna ou galinha silvestre. Em minha mente, e também pelo tamanho de minha fome, pensava que minha sorte estaria em encontrar um javali. Falo isso se for um javali jovem e solitário, pois nenhum homem em sã consciência gostaria de encontrar uma alcatéia de javalis, seria melhor encontrar uma ursa roubada dos filhotes do que uma malhada de javalis. Caminhei por um longo tempo até que encontrei alguns coelhos e os cacei com arco, e conforme os caçava os amarrava pelas orelhas em meu sinto.

Depois de muito tempo caçando, havia capturado apenas cinco coelhos e pensei que seria bom conseguir alguns vegetais para fazer deles um bom ensopado. Comecei a caminhar por uma parte do

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bosque onde havia uma caverna, olhei para o alto e vi pelo ton alaranjado do céu que o sol começava a se por e pensei:

- Se eu não voltar agora enquanto ainda é dia, no escuro é capaz de que eu me perca.

Na esperança de ainda encontrar mais alguma caça resolvi voltar por outro caminho, que não era o mesmo pelo qual havia vindo. Seguindo por ele eu cheguei a uma parte do bosque onde havia muitas flores, uma espécie de jardim natural em meio ao bosque. As cores alaranjadas do céu unidas com as cores das flores faziam daquele lugar um espetáculo especial criado pelo Senhor dos céus Gibbor!

Admirando o lugar segui caminhando por entre as arvores que cercavam aquele espaço, como que de surpresa vi um movimento que me pareceu estranho surgindo por entre as arvores em direção ao centro do lugar. Logo que vi a agitação me escondi deitado ao chão fiquei a observar algo que se mexia por entre as arvores e flores. Rastejando segui por entre as arvores até que encontrei um bom lugar para observar. Escondi-me atrás de uma pedra e fiquei a observando a espera, para ver do que se tratava.

De súbito vi brotar do meio das arvores uma pequena bruma negra que percorria sobre a superfície do lugar, em meio a ela surgia como que caminhando sobre a bruma uma donzela cujos cabelos eram vermelhos como o sangue, vestindo um vestido azul escuro como o céu de uma noite sem lua, em uma aparência muito

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macabra. Ela possuía sobre os braços um véu negro que se movimentava sobre o seu corpo de forma como se tivesse vida própria. Não pude observar o seu rosto, pois parecia não me ser permitido por mais que tentasse. Ela estava distante e eu inocentemente acreditei que ela estava ali para ver a beleza do final da tarde. Fiquei atento e escondido a fim de ver se havia mais alguém próximo e me pus a vasculhar com os olhos eu não encontrei sinal de nada. Aquilo que estava a assistir era tão misterioso e assustador que me permiti por alguns segundos me descuidar do que estava a minha volta. De súbito ouvi um barulho de galhos se quebrando próximo onde eu estava ao chão. Rapidamente me ergui Assustado olhando para traz vi que se tratava apenas de um pequeno pássaro que espalhava as folhas ao chão a procura de galhos que com seu bico levava em direção ao todo das arvores.

Senti meu coração disparado com o susto, mas o pior não foi o assombro com o pássaro, mas sim que no mesmo instante em que me movi fui descoberto por aquele ser medonho que assustadoramente no instante que me descobriu soltou um grito horripilante, estridente e ensurdecedor como o de um animal feroz. O Grito era tão forte que me desnorteou como uma bebedeira de vinho, levando-me em um ato de desespero a sair correndo mata adentro sem saber para qual direção estava correndo.

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Eu Corri sem olhar para traz como nunca havia corrido em toda minha vida, segui me cortando por entre os galhos e espinhos, mas não parei por um instante. Depois de muito tempo correndo, tropeçando e caindo como que por muita sorte cheguei ao local ao qual havia marcado como entrada de minha caçada. Mesmo aliviado por ter encontrado o lugar de onde havia saído, continuei Nervoso e eufórico Seguindo pela estradinha. Depois de caminhar por certo tempo, como que por um milagre pude ver a distância a fumaça do acampamento. Quando a vi sai novamente correndo em direção a meus amigos com uma sensação de alívio no coração, como se a Companhia deles fosse a grande diferença diante daquele demônio em corpo de mulher que havia encontrado na mata.

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Capítulo II

O CAMINHO DE HANN