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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL ESCOLA DE ENGENHARIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL Luca Brochier Parmeggiani HABITABILIDADE EM EDIFICAÇÕES SEGUNDO A NBR 15575-1: FUNCIONALIDADE, ACESSIBILIDADE E CONFORTO ANTROPODINÂMICO Porto Alegre dezembro 2014

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

    ESCOLA DE ENGENHARIA

    DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL

    Luca Brochier Parmeggiani

    HABITABILIDADE EM EDIFICAES SEGUNDO

    A NBR 15575-1: FUNCIONALIDADE, ACESSIBILIDADE E

    CONFORTO ANTROPODINMICO

    Porto Alegre

    dezembro 2014

  • LUCA BROCHIER PARMEGGIANI

    HABITABILIDADE EM EDIFICAES SEGUNDO A NBR

    15575-1: FUNCIONALIDADE, ACESSIBILIDADE E

    CONFORTO ANTROPODINMICO

    Trabalho de Diplomao apresentado ao Departamento de

    Engenharia Civil da Escola de Engenharia da Universidade Federal

    do Rio Grande do Sul, como parte dos requisitos para obteno do

    ttulo de Engenheiro Civil

    Orientador: Ruy Alberto Cremonini

    Porto Alegre

    dezembro 2014

  • LUCA BROCHIER PARMEGGIANI

    HABITABILIDADE EM EDIFICAES SEGUNDO A NBR

    15575-1: FUNCIONALIDADE, ACESSIBILIDADE E

    CONFORTO ANTROPODINMICO

    Este Trabalho de Diplomao foi julgado adequado como pr-requisito para a obteno do

    ttulo de ENGENHEIRO CIVIL e aprovado em sua forma final pelo Professor Orientador e

    pela Coordenadora da disciplina Trabalho de Diplomao Engenharia Civil II (ENG01040) da

    Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

    Porto Alegre, 4 de dezembro de 2014

    Prof. Ruy Alberto Cremonini

    Dr. pela Universidade de So Paulo

    Orientador

    Profa. Carin Maria Schmitt

    Dra. pelo PPGA/UFRGS

    Coordenadora

    BANCA EXAMINADORA

    Prof. Ruy Alberto Cremonini (UFRGS)

    Dr. pela Universidade de So Paulo

    Prof. Cristiane Sardin Padilla de Oliveira (UFRGS)

    Dr. pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul

    Prof. Luciani Somensi Lorenzi (UFRGS)

    Dr. pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul

  • Dedico este trabalho a todos os meus colegas de

    Engenharia Civil, especialmente queles que ingressaram

    na faculdade em 2010/2, que para mim so grandes

    exemplos de vida.

  • AGRADECIMENTOS

    Agradeo ao Prof. Ruy Alberto Cremonini, orientador deste trabalho, pela ajuda que

    desempenhou em todo ano de 2014, pois sem este auxlio o presente trabalho no seria

    possvel.

    Agradeo Profa. Carin Maria Schmitt, coordenadora dos trabalhos de diplomao, pelo

    empenho com que desenvolve suas atividades de acompanhamento aos alunos de Engenharia

    Civil da UFRGS nesta disciplina.

    Agradeo s professoras Juliana Fronza, Marion Diverio Faria Pozzi e Luciani Somensi

    Lorenzi pelas suas vidas, que me enchem o corao de inspirao e amor ao prximo.

    Aos amigos da biblioteca da Escola de Engenharia, Vera Longaray, Gabriele Horn, Alana

    Meirelles, Cristian Jean Pinheiro e Slvia Rossi pela pacincia e mensagens confortantes nas

    horas de estudo mais difceis.

    Aos amigos mais importantes da minha vida, Hlia Favalle, Monsenhor Alfredo Hoff, Marlise

    Kappaun, Bernardo Camargo, Friedrich Weber, Luciano Selbach, Orlando Rocha, Paula Pian,

    Rogrio Castro, Rafael Henrique Jantsch e Raquel Brinkhus, pois no sei como seria minha

    existncia sem as alegrias que vocs me proporcionam.

    Gostaria tambm de agradecer a todas as pessoas entrevistadas durante o ms de pesquisa da

    Avaliao Ps-Ocupao, que foi fundamental para a execuo deste trabalho.

    Por fim, agradeo aos meus pais Jos e Marra Rbia que me apoiam em toda e qualquer que

    seja minha trajetria, no cabem palavras para descrever o amor que sinto por vocs.

  • A amizade uma alma com dois corpos.

    Aristteles

  • RESUMO

    Este trabalho versa sobre os requisitos de habitabilidade estabelecidos pela NBR 15575-

    1:2013 verificados em um condomnio horizontal de interesse social localizado em Porto

    Alegre, especificamente sobre os requisitos de funcionalidade, acessibilidade e conforto

    antropodinmico. Em auxlio ao parmetro de acessibilidade tambm foi estudada a NBR

    9050:2005. De posse das exigncias normativas de habitabilidade, desejou-se, como questo

    de pesquisa do trabalho, verificar se existia correlao entre estas exigncias e o grau de

    satisfao dos usurios do condomnio horizontal de interesse social estudado. Para isto,

    primeiro buscou-se durante a reviso bibliogrfica os conceitos mais importantes relativos a

    habitaes de interesse social, dentre eles, o que conforto, desempenho, Avaliao Ps-

    Ocupao e habitao evolutiva. Depois foi realizado o estudo do condomnio horizontal de

    interesse social citado acima, atravs da aplicao de Avaliao Ps-Ocupao e tambm com

    a anlise das NBR 15.575-1:2013 e NBR 9050:2005, especialmente sobre os itens

    funcionalidade, acessibilidade e conforto antropodinmico. De posse dos resultados da

    Avaliao Ps-Ocupao foram expostas as estatsticas referentes s questes diversas

    contidas no instrumento de levantamento de dados, o questionrio. Tambm, aps a realizao

    da anlise normativa foram expostos os resultados das conformidades e no conformidades

    com as Normas citadas. Finalmente, chegou-se ao final do trabalho, respondendo questo de

    pesquisa que norteou a execuo do mesmo. A concluso deste trabalho diz que, nas

    habitaes de interesse social estudadas, no h correlao entre as exigncias normativas de

    funcionalidade, acessibilidade e conforto antropodinmico previstas na NBR 15.575-1 e o

    grau de satisfao dos usurios destas habitaes. Ou seja, mesmo que as casas estudadas no

    atendam Norma quanto aos parmetros de acessibilidade, funcionalidade e conforto

    antropodinmico, os usurios que nelas vivem esto satisfeitos com as caractersticas fsicas e

    funcionais de suas moradias.

    Palavras-chave: NBR 15.575-1/2013. NBR 9050/2005.

    Habitabilidade em Edificaes Habitacionais. Anlise de Funcionalidade.

    Anlise de Acessibilidade. Anlise de Conforto Antropodinmico.

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 Diagrama do delineamento do trabalho .......................................................... 17

    Figura 2 Inter-relao entre funcionalidade, acessibilidade e ergonomia 28

    Figura 3 Vista geral das habitaes estudadas ...................................................... 37

    Figura 4 Distribuio de grau de escolaridade do condomnio horizontal estudado ..... 40

    Figura 5 Distribuio de renda familiar entre as residncias estudadas ........................ 41

    Figura 6 Distribuio de idades no condomnio horizontal estudado ........................... 42

    Figura 7 Opinies dos usurios sobre suas casas atuais em comparao com suas casas antigas .......................................................................................................

    44

    Figura 8 Porcentagem de usurios que percebem falta de espao para realizao de tarefas nas suas casas .........................................................................................

    45

    Figura 9 Porcentagem das casas em que usurios dormem em lugar que no seja dormitrio ...........................................................................................................

    46

    Figura 10 Projeto de arquitetura do pavimento inferior ................................................ 47

    Figura 11 Projeto de arquitetura do pavimento superior ............................................... 48

    Figura 12 Conflito de uso do sof com a poltrona ........................................................ 51

    Figura 13 Conflito de uso devido porta do banheiro .................................................. 51

    Figura 14 Falta de acessibilidade na entrada das casas ................................................. 53

    Figura 15 Falta de acessibilidade entre os dois pavimentos .......................................... 53

    Figura 16 Rampa com inclinao suave no condomnio estudado ............................... 55

    Figura 17 Diferena de rugosidade entre pisos internos e externos .............................. 55

    Figura 18 Disposio das gavetas rente ao cho prejudicando a ergonomia ................ 56

    Figura 19 Sinalizao ttil de alerta em apenas um ponto do condomnio estudado .... 56

  • LISTA DE QUADROS

    Quadro 1 Resumo do mobilirio exigido por Norma e verificao de conformidade .. 49

    Quadro 2 Resumo das dimenses do mobilirio exigido por Norma e verificao de conformidade ......................................................................................................

    50

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 Dados sobre a opinio dos usurios sobre a funcionalidade, conforto antropodinmico e tamanho dos cmodos e mobilirio das habitaes

    estudadas ............................................................................................................

    44

  • LISTA DE SIGLAS

    APO Avaliao Ps-Ocupao

    BID Banco Interamericano de Desenvolvimento

    Demhab Departamento Municipal de Habitao

    OP Oramento Participativo

    UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul

  • SUMRIO

    1 INTRODUO ........................................................................................................... 13

    2 DIRETRIZES DA PESQUISA .................................................................................. 15

    2.1 QUESTO DA PESQUISA ...................................................................................... 15

    2.2 OBJETIVOS DA PESQUISA .................................................................................... 15

    2.2.1 Objetivo Principal ................................................................................................. 15

    2.2.2 Objetivos Secundrios ........................................................................................... 15

    2.3 HIPTESE ................................................................................................................. 16

    2.4 PREMISSA ................................................................................................................ 16

    2.5 DELIMITAES ...................................................................................................... 16

    2.6 LIMITAES ............................................................................................................ 16

    2.7 DELINEAMENTO .................................................................................................... 16

    3 CONFORTO E DESEMPENHO ............................................................................... 19

    3.1 CONFORTO .............................................................................................................. 20

    3.2 DESEMPENHO ......................................................................................................... 23

    4 HABITAES EVOLUTIVAS ................................................................................. 29

    5 AVALIAO PS-OCUPAO ............................................................................. 33

    6 ESTUDO DE CONDOMNIO HORIZONTAL DE INTERESSE SOCIAL ........ 36

    6.1 CARACTERIZAO DO CONDOMNIO HORIZONTAL ESTUDADO ............ 36

    6.2 PROPOSTA DE APLICAO DE PR-TESTE ..................................................... 38

    6.3 LEVANTAMENTO DE DADOS COM APO E SEUS RESULTADOS ................. 39

    6.3.1 Dados sobre a escolaridade dos moradores ........................................................ 40

    6.3.2 Dados sobre a renda mdia das famlias ............................................................. 41

    6.3.3 Dados sobre a distribuio de idades no condomnio horizontal estudado ..... 42

    6.3.4 Dados sobre origem das famlias do condomnio horizontal estudado ............ 43

    6.3.5 Dados sobre o tamanho dos cmodos e reas de convivncia e lazer do

    condomnio horizontal estudado do ponto de vista dos moradores ......................

    44

    6.4 PESQUISA DOCUMENTAL .................................................................................... 46

    6.4.1 Inspeo in loco de funcionalidade ...................................................................... 48

    6.4.2 Inspeo in loco acessibilidade ............................................................................. 52

    6.4.3 Inspeo in loco de conforto antropodinmico ................................................... 54

    7 CONCLUSO ............................................................................................................. 57

  • REFERNCIAS ............................................................................................................... 59

    APNDICE A .................................................................................................................. 60

    APNDICE B .................................................................................................................. 64

  • __________________________________________________________________________________________

    Habitabilidade em edificaes segundo a NBR 15575-1:

    funcionalidade, acessibilidade e conforto antropodinmico

    13

    1 INTRODUO

    Habitabilidade diz respeito s condies como os indivduos interagem com uma edificao.

    Os parmetros que permitem aferir tais condies, por exemplo, so a estanqueidade gua,

    ar e animais, a funcionalidade e acessibilidade, os confortos termoacstico, lumnico, ttil e o

    antropodinmico, e a sade, higiene e qualidade do ar.

    A habitabilidade importante porque d a uma edificao a qualidade de ser habitvel, de

    forma que, para ser estudada, deve levar em conta o desempenho das habitaes e o conforto

    dos usurios. Neste texto, alguns tpicos de habitabilidade foram explorados sob o prisma de

    um condomnio horizontal de interesse social.

    Um condomnio horizontal de interesse social caracteriza-se por abrigar pessoas de baixa

    renda. Quando a disposio dos cmodos nas residncias no adequada ao nmero de

    moradores das mesmas, tais moradores transformaram seus lares em habitaes evolutivas. A

    estrutura familiar, neste caso, tem efeito sobre a tipologia inicial prevista para o condomnio

    estudado.

    Portanto, as questes de adequao socioeconmica e de diferenas regionais contextualizam

    a evoluo do interesse brasileiro pela busca de melhores condies de habitabilidade. Sobre a

    diversidade das edificaes, o Instituto de Pesquisas Tecnolgicas do Estado de So Paulo

    (1987, p. 8) afirma que:

    O esforo da populao para adaptar a moradia s suas necessidades e modo de vida

    realizado qualquer que seja a tipologia do ncleo inicial. Frequentemente, porm,

    esse processo oneroso e difcil, acarretando demolies, justaposies e solues

    mal resolvidas.

    Estas solues de habitaes evolutivas nem sempre conduzem a experincias positivas,

    podendo acarretar, do ponto de vista funcional, na no soluo do problema inicial de falta de

    espao, gerando problemas ergonmicos e de conforto. Aliadas s adequaes ergonmicas e

    estticas surge o conceito de lifetime homes12

    , atravs do qual pequenas mudanas em projeto

    1 Do ingls, lares para toda a vida (traduo nossa).

    2 Este conceito foi criado em 1990 por um grupo de arquitetos ingleses.

  • __________________________________________________________________________________________

    Luca Brochier Parmeggiani. Porto Alegre: DECIV/EE/UFRGS, 2014

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    e no processo construtivo de uma edificao fornecem uma possibilidade de adaptao s

    vrias fases da vida de uma pessoa com pouca interveno futura. Para que exista harmonia

    entre lar e moradores, as expectativas do usurio devem ser prioridade. Pedro et al. (2011, p.

    1) afirmam que As habitaes devem [...] proporcionar um ambiente seguro, com condies

    de higiene e conforto, adequado aos usos dos moradores e que seja motivador de satisfao

    esttica..

    Da mesma forma que habitar implica uso, este uso determina que os usurios devem interagir

    entre si e com equipamentos e mobilirio, deste modo, As dimenses do mobilirio e do

    equipamento so informao tcnica essencial para a anlise e a elaborao de projetos de

    edifcios habitacionais. (PEDRO et al., 2011, p. 1).

    Desta forma, a partir dos hbitos dos usurios so determinados os espaos e os equipamentos

    necessrios ao bom cumprimento das necessidades humanas. Sobre a importncia do

    mobilirio e equipamentos no dimensionamento de edificaes, Pedro et al. (2011, p. 8)

    afirmam que estes tm maior influncia em pequenas habitaes.

    Dado o interesse do autor pela ABNT NBR 15575-1: Edificaes habitacionais

    Desempenho Parte 1: Requisitos Gerais, foi realizado um estudo em que foram verificados a

    funcionalidade, a acessibilidade e o conforto antropodinmico em habitaes de interesse

    social na cidade de Porto Alegre, estado do Rio Grande do Sul. Para isto, nas habitaes

    visitadas, foi aplicada uma Avaliao Ps-Ocupao visando aferir o atendimento NBR

    15575-1.

    Neste captulo Introduo, h a justificativa e contextualizao do tema proposto. No captulo

    Diretrizes de Pesquisa so explicados os procedimentos que tornam o trabalho cientfico

    logicamente encadeado, como as definies de hiptese e questo da pesquisa. Nos trs

    captulos seguintes, atravs de reviso bibliogrfica so colhidas informaes sobre a ideia de

    conforto, desempenho, habitaes evolutivas e medio do grau de satisfao dos usurios via

    Avaliao Ps-Ocupao. No sexto captulo, descrito o condomnio horizontal de interesse

    social estudado, onde se encontram os resultados do levantamento de dados em campo e da

    pesquisa documental que culminam no captulo stimo, a concluso deste trabalho. Por fim,

    mesmo que tenha sido usada a NBR 15575-1, cita-se que ela entrou em vigor em 19 de julho

    de 2013, poca em que j tinha sido aprovada a construo do condomnio horizontal

    estudado, o que significa que no h obrigao deste condomnio atender a esta Norma.

  • __________________________________________________________________________________________

    Habitabilidade em edificaes segundo a NBR 15575-1:

    funcionalidade, acessibilidade e conforto antropodinmico

    15

    2 DIRETRIZES DA PESQUISA

    As diretrizes para desenvolvimento do trabalho so descritas nos prximos itens.

    2.1 QUESTO DE PESQUISA

    A questo de pesquisa do trabalho : existe correlao entre o atendimento s exigncias de

    funcionalidade, acessibilidade e conforto antropodinmico da NBR 15575-1/2013 e o grau de

    satisfao dos usurios nas habitaes de interesse social estudadas?

    2.2 OBJETIVOS DA PESQUISA

    Os objetivos da pesquisa esto classificados em principal e secundrios e so descritos a

    seguir.

    2.2.1 Objetivo principal

    O objetivo principal do trabalho a anlise da concordncia entre o atendimento s exigncias

    de habitabilidade previstas na NBR 15575-1 (ASSOCIAO BRASILEIRA DE NORMAS

    TCNICAS, 2013) e a satisfao dos usurios baseada em Avaliao Ps-Ocupao nas

    habitaes de interesse social estudadas.

    2.2.2 Objetivos secundrios

    Os objetivos secundrios do trabalho so:

    a) inspeo in loco das habitaes estudadas segundo as exigncias de

    habitabilidade da Norma;

    b) elaborao de instrumento para levantamento na Avaliao Ps-Ocupao;

    c) anlise dos resultados da Avaliao Ps-Ocupao realizada.

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    Luca Brochier Parmeggiani. Porto Alegre: DECIV/EE/UFRGS, 2014

    16

    2.3 HIPTESE

    A hiptese do trabalho que existe correlao entre as exigncias de habitabilidade da NBR

    15575-1/2013 e o grau de satisfao dos usurios nas habitaes de interesse social estudadas.

    2.4 PREMISSA

    O trabalho tem por premissa que o avano da Construo Civil aponta para melhorias nos

    sistemas construtivos e projeto de edificaes, levando em considerao fatores que garantam

    um nvel de desempenho que pode ser observado pelos habitantes das edificaes de interesse

    social estudadas.

    2.5 DELIMITAES

    O trabalho delimita-se ao estudo de um condomnio horizontal de interesse social composto

    por 6 Casas Tipo Trreas e 27 Casas Tipo Sobrados totalizando 33 moradias situado na Zona

    Sul da cidade de Porto Alegre, estado do Rio Grande do Sul.

    2.6 LIMITAES

    So limitaes do trabalho o contedo da Avaliao Ps-Ocupao que se restringe aos

    parmetros funcionalidade, acessibilidade e conforto antropodinmico sobre as edificaes

    habitacionais e, por fim, o mtodo escolhido para anlise Normativa, que foi a anlise de

    projeto, dispensando-se o uso de ensaios de prottipos para aferir a habitabilidade.

    2.7 DELINEAMENTO

    O trabalho foi realizado atravs das etapas apresentadas a seguir, que esto representadas na

    figura 1, e so descritas nos prximos pargrafos:

    a) pesquisa bibliogrfica;

    b) apresentao do condomnio horizontal estudado;

    c) estruturao da Avaliao Ps-Ocupao (APO);

    d) aplicao da Avaliao Ps-Ocupao;

  • __________________________________________________________________________________________

    Habitabilidade em edificaes segundo a NBR 15575-1:

    funcionalidade, acessibilidade e conforto antropodinmico

    17

    e) inspeo in loco do condomnio horizontal;

    f) comparao entre APO e inspeo in loco do condomnio;

    g) concluses.

    Figura 1 Diagrama do delineamento do trabalho

    (fonte: elaborado pelo autor)

    A pesquisa bibliogrfica foi realizada ao longo do primeiro semestre do ano de 2014 para

    obteno dos conceitos de desempenho, conforto, normas aplicveis a habitaes de interesse

    social e, tambm, para que fosse embasada a estruturao da Avaliao Ps-Ocupao. Esta

    APO foi antecedida por um pr-teste realizado no mesmo condomnio horizontal estudado,

    pois foi necessrio pesquisar a melhor forma de como poderia ser aplicada tal avaliao, que

    levou a resultados satisfatrios, do contrrio, esta pesquisa poderia se revelar ineficiente.

    Depois da APO, e de posse dos projetos de arquitetura das habitaes estudadas, foi realizada

    a anlise dos mesmos, para saber se estes cumprem os requisitos de funcionalidade,

    acessibilidade e conforto antropodinmico estabelecidos pela NBR 15575-1.

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    Luca Brochier Parmeggiani. Porto Alegre: DECIV/EE/UFRGS, 2014

    18

    Por fim, foram comparados os resultados da Avaliao Ps-Ocupao com os resultados da

    anlise de projeto, e como consequncia foram obtidas e reveladas as informaes que dizem

    respeito a este trabalho, entre elas, se h concordncia entre as exigncias de habitabilidade

    previstas na NBR 15575-1 e o grau de satisfao dos usurios destas moradias.

  • __________________________________________________________________________________________

    Habitabilidade em edificaes segundo a NBR 15575-1:

    funcionalidade, acessibilidade e conforto antropodinmico

    19

    3 CONFORTO E DESEMPENHO

    Neste captulo, so apresentados os conceitos de desempenho e conforto. Embora sejam

    diferentes quanto definio, estes dois elementos esto relacionados ao bem-estar dos

    usurios da edificao. Enquanto o conforto subjetivo, o desempenho pode ser medido, alm

    disso, mesmo sendo este estabelecido pela NBR 15575, no um fator estacionrio, pois de

    tempos em tempos seus parmetros so atualizados de acordo com as necessidades dos

    usurios.

    Um aspecto a ressaltar, que ocorre no Brasil, que se d maior importncia s normas

    prescritivas s normas de desempenho, aqui referidas como o conjunto das NBR 15575

    (partes 1 a 6). Isto ocorre pelo carter subjetivo em que na maioria das vezes se revelam as

    condies de habitabilidade. Contudo, o conjunto de normas ABNT NBR 15575 deu

    materialidade ao Cdigo de Defesa do Consumidor, fazendo com que as normas de

    desempenho passassem a ter suas aplicaes equiparadas s normas prescritivas. Tambm,

    dever dos profissionais projetistas se preocupar tanto com o processo construtivo quanto com

    o usurio final.

    A NBR 15575-1, nos seus itens 3.29 e 3.30, respectivamente, define norma de desempenho

    como [...] conjunto de requisitos e critrios estabelecidos para uma edificao habitacional e

    seus sistemas, com base em requisitos do usurio, independentemente da sua forma ou dos

    materiais constituintes [...] e norma prescritiva como [...] conjunto de requisitos e critrios

    estabelecidos para um produto ou um procedimento especfico, com base na consagrao do

    uso ao longo do tempo [...] (ASSOCIAO BRASILEIRA DE NORMAS TCNICAS,

    2013, p. 9).

    Para a NBR 15575 existem trs nveis de desempenho aplicveis maioria de seus itens, a

    saber, mnimo, intermedirio e superior. No entanto, em relao aos parmetros de

    habitabilidade observados neste trabalho, a mesma Norma apenas classifica os itens em

    conforme ou no conforme, isto porque estes itens so verificados atravs de anlise de

    projeto, diferentemente daqueles outros itens que so aferidos via ensaios com instrumentos.

    Uma observao que deve ser feita que a NBR 15575-1, intitulada Edifcios habitacionais

  • __________________________________________________________________________________________

    Luca Brochier Parmeggiani. Porto Alegre: DECIV/EE/UFRGS, 2014

    20

    de at cinco pavimentos Desempenho Parte 1: Requisitos gerais cita a NBR 9050 quando

    se trata de acessibilidade. Este fato de invocar outras Normas acontece na norma de

    desempenho sempre que seus itens no so exaustivos.

    Ento, para o desempenho mnimo de habitaes relacionado acessibilidade a portadores de

    deficincia, deve ser observada integralmente a NBR 9050/2005 Acessibilidade de pessoas

    portadoras de deficincias a edificaes, espao, mobilirio e equipamentos urbanos, para que

    se possa obter um dimensionamento universal, resultando na satisfao de todos os usurios.

    Segundo a NBR 9050 (ASSOCIAO BRASILEIRA DE NORMAS TCNICAS, 2005, p.

    2), em seu item 3.1, acessibilidade a Possibilidade e condio de alcance, percepo e

    entendimento para a utilizao com segurana e autonomia de edificaes, espao, mobilirio,

    equipamento urbano e elementos..

    3.1 CONFORTO

    O conforto remete ideia de bem-estar, de comodidade. , portanto, uma noo pessoal

    subjetiva relacionada ao desempenho em uso. Enquanto o desempenho uma exigncia

    normativa, o conforto exigncia de cada usurio, em cada lugar ou regio em que est

    inserido. Estes conceitos no so estacionrios, pois se alteram com o passar do tempo, de

    modo que o projetista deve possuir sensibilidade em saber as reais necessidades dos usurios,

    tanto no presente quanto no futuro.

    O conforto tem origem aps a Revoluo Industrial, Schmid (2005, p. 50) afirma que:

    Tudo leva a crer que o conforto era, no sculo XVIII, aquilo que hoje se denomina

    uma demanda latente, algo que no se expressa de forma espontnea, por alguma

    razo que pode ser desconhecimento ou uma obstruo no acesso aos produtos. O

    conforto teria sido, enfim, conscientemente percebido, a comear nos crculos

    materialmente capazes: a nobreza e, principalmente, a burguesia. Com o passar das

    dcadas, o conforto se tornou acessvel a uma faixa maior da populao.

    Conforme o pargrafo anterior, o conforto surgiu como um ideal burgus, e era distinto do

    que se entende por conforto nos dias de hoje. O conforto muito relacionado ao desempenho.

    Se determinada edificao for habitvel, ento ela transmite a seus usurios certeza de

    segurana, conforto, bem estar e satisfao. Neste contexto, o desempenho trazido por Norma,

    sem sentido amplo, significa dotar as edificaes de um nvel mnimo de desempenho, e

    consequentemente, mnimo de conforto. Pode-se citar a limitao da medida de uma flecha

  • __________________________________________________________________________________________

    Habitabilidade em edificaes segundo a NBR 15575-1:

    funcionalidade, acessibilidade e conforto antropodinmico

    21

    em uma viga, que mesmo no sendo motivo de runa estrutural, se elevada pode no trazer

    satisfao esttica pela moradia ao usurio. A disseminao do conforto se deu medida que

    uma maior faixa da populao teve acesso a bens de consumo, tais como mobilirio e

    equipamentos de uso domstico. Para o parmetro funcionalidade, um fator importante o

    espao disponvel nas dependncias e a disposio do mobilirio, pois assim preconiza a NBR

    15575-1 quando exige dimenses mnimas para mveis e espaos funcionais.

    Pedro et al. (2011, p. 5, grifo do autor) fazem a seguinte definio:

    Entende-se por mobilirio o conjunto de objetos mveis utilizados no

    desenvolvimento das funes domsticas. O mobilirio usualmente serve para apoiar

    o corpo humano (por exemplo: cama, cadeira), arrumar ou apoiar objetos (por

    exemplo: cmoda, estante) [...]. O mobilirio pode tambm ter uma funo de

    decorao [...].

    O uso do mobilirio se d junto com equipamentos. Segundo Fonseca3 (2010 apud PEDRO et

    al., 2011, p. 5, grifo do autor):

    Entende-se por equipamento o conjunto das mquinas, aparelhos e outros

    componentes da construo utilizados no desenvolvimento das funes domsticas

    [...]. O equipamento pode ser mvel (por exemplo: geladeira, televisor), estar fixo

    em zona especialmente reservada para o efeito (por exemplo: exaustor, lavatrio,

    armrio de cozinha) ou estar fixo por se encontrar embutido em caixa ou local

    especialmente concebida para o efeito (por exemplo: lareira, banheira, roupeiro

    embutido).

    Para exemplificar a interao entre usurio e mobilirio, Schmid (2005, p. 186) afirma que:

    O revestimento em couro de um sof [no ato de sentar-se] por vezes impede as

    pessoas de se aconchegarem em sua posio preferida; elas deslizam passivamente

    at a posio que lhes impe a forma do mvel. [...]

    O deitar-se pede mveis macios, que sugerem pronto relaxamento. Entretanto, a

    maciez pode trair uma rigidez insuficiente, deixa o conjunto formado entre o corpo e

    o mvel tomar uma forma indesejvel. O apoio para a cabea ao dormir deve manter

    sua integridade de forma para que a coluna cervical no seja danificada.

    Sobre a ideia de conforto, Schmid (2005, p. 50) sustenta que: Em sociedades prsperas do

    sculo XIX, [...] atingiu-se o exagero na preocupao com o conforto. [...] A casa cmoda e

    decorada [...] passou a ser vista, de modo especial nos EUA, como smbolo de status..

    3 FONSECA, M. S. Curso sobre regras de medio na construo. Lisboa: LNEC, 2010. Coleo Formao,

    Especializao e Aperfeioamento.

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    22

    So muitos os aspectos a serem considerados numa edificao que podem interferir no

    conforto dos usurios. No contexto de famlias de baixa renda, como neste estudo, ocorre que

    as pessoas moram em casas fornecidas por programas sociais governamentais que guardam a

    propriedade de no possuir projetos diferenciados entre as unidades do condomnio horizontal

    de interesse social estudado. Ou seja, todas as residncias ali so iguais, elas so formadas por

    mdulos idnticos. Assim, no foram consideradas as necessidades particulares de cada

    famlia, rebaixando o status das casas a quase que somente de abrigo. Deste modo, a funo

    da edificao mais do que apenas moradia. Romro e Ornstein (2003, p. 14) afirmam que:

    A questo da habitao de interesse social vem sendo focalizada principalmente

    como a necessidade de abrigo. Fica claro que essa uma necessidade vital, mas

    tambm preciso entender que o homem, como um ser que vive em sociedade, no

    pode dispensar outras caractersticas que so inerentes sua cidadania e, portanto,

    sua necessidade habitacional.

    A desvantagem da criao de mdulos idnticos nas casas populares a tendncia a

    desenvolvimento de monotonia. Segundo Pereira et al. (2002, p. 184):

    A padronizao dos projetos para o desenvolvimento habitacional voltado para a

    populao de baixa renda tem dificultado a insero social, a apropriao espacial,

    enfim, a fixao das famlias em seu local de moradia. Isso tem perpetuado um

    xodo interno com contingentes populacionais migrando de um bairro a outro da

    cidade a procura de um lar onde fixar razes, onde fazer histria. A adequao do

    projeto habitacional dirigido s populaes de baixa renda deve levar em conta, alm

    do atendimento das necessidades humanas mnimas de segurana e higiene da

    famlia, suas necessidades sociais vinculadas s caractersticas familiares, suas

    habilidades e potencialidades, como forma de qualificar o projeto.

    Juntando a ideia do pargrafo anterior, Pereira et al. (2002, p. 185) destacam sobre habitaes

    evolutivas:

    A adequao dos projetos voltados para a habitao popular passa pela

    flexibilizao4 do projeto. A forma como as populaes modificam suas casas ao

    longo do tempo pode nos fornecer um indcio claro de como alcanarmos um nvel

    adequado de flexibilidade no projeto sem incorrermos em solues inadequadas ao

    contexto retratado. A anlise dos espaos criados pelos usurios nos permitir recri-

    los com maior eficincia, com maiores chances de sucesso, sempre preservando a

    qualidade dos espaos e a estabilidade do conjunto construtivo.

    4 Entendida aqui como a capacidade da edificao de se adequar a um leque diversificado de necessidades

    familiares.

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    Habitabilidade em edificaes segundo a NBR 15575-1:

    funcionalidade, acessibilidade e conforto antropodinmico

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    Sobre o dimensionamento dos espaos de uma habitao, Boueri5 (2008 apud PEDRO et al.,

    2011, p. 15) explica que: Sendo as funes domsticas desempenhadas por pessoas, o

    dimensionamento do mobilirio, do equipamento e dos espaos da habitao deve ter como

    ponto de partida as dimenses e os movimentos do corpo humano..

    Sobre mobilirio e equipamentos, Pedro et al. (2011, p. 5, grifo do autor) afirmam que as

    dimenses prprias dos equipamentos e mobilirio (dimenses fsicas) devem estar de acordo

    com os espaos disponveis assim como as dimenses necessrias ao uso (dimenses de uso),

    por exemplo para a funo de abrir portas, de forma a no prejudicar a funcionalidade do

    local.

    Da leitura do pargrafo anterior depreende-se que todos os sistemas e acessrios de uma

    edificao devem estar alocados de forma a favorecer a circulao e uso por parte dos

    usurios. Toda a informao disponvel acerca do mobilirio de uma edificao importante,

    pois, como citam Pedro et al. (2011, p. 8):

    Quando um comprador pretende adquirir uma habitao lhe usualmente

    disponibilizada a respectiva planta. Para aferir a adequao da habitao s suas

    necessidades, o comprador por vezes utiliza esta planta para ensaiar a disposio do

    mobilirio e do equipamento nos compartimentos. Este ensaio realizado

    considerando o mobilirio que possui e o que pretende vir a adquirir. Nesta segunda

    situao, a informao disponibilizada permite ao comprador saber as dimenses

    usuais dos elementos de mobilirio disponveis no mercado. Observa-se que as

    dimenses dos elementos de mobilirio e equipamento representados nas plantas dos

    folhetos publicitrios dos empreendimentos imobilirios nem sempre esto ajustadas

    realidade.

    3.2 DESEMPENHO

    A NBR 15575-1 (ASSOCIAO BRASILEIRA DE NORMAS TCNICAS, 2013, p. 6) no

    seu item 3.10 define desempenho como [...] comportamento em uso de uma edificao e de

    seus sistemas [...]. Neste trabalho, no so analisados os sistemas da edificao

    separadamente, mas a edificao como um todo (tratada aqui principalmente por seu arranjo

    espacial). So exemplos de sistemas de uma edificao as suas fundaes, sua estrutura, suas

    vedaes verticais, entre outros.

    5 BOUERI, J. J. Antropometria aplicada arquitetura, urbanismo e desenho industrial. So Paulo: Estao

    das Letras e Cores, 2008.

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    Neste ponto surgem os conceitos de critrios de desempenho e requisitos de desempenho.

    Para a NBR 15575-1 (ASSOCIAO BRASILEIRA DE NORMAS TCNICAS, 2013, p.

    9), em seu item 3.36, requisitos de desempenho so [...] condies que expressam

    qualitativamente os atributos que a edificao habitacional e seus sistemas devem possuir, a

    fim de que possam atender aos requisitos do usurio [...] enquanto que critrios de

    desempenho, segundo o item 3.7 da NBR 15575-1 (ASSOCIAO BRASILEIRA DE

    NORMAS TCNICAS, 2013, p. 6), so [...] especificaes quantitativas dos requisitos de

    desempenho, expressos em termos de quantidades mensurveis, a fim de que possam ser

    objetivamente determinados [...].

    Nota-se que a ideia de requisito qualitativa enquanto que a de critrio quantitativa.

    Finalmente, tambm explicitado o interesse nos requisitos pelos usurios. Por isto justifica-

    se este trabalho, que props correlacionar o atendimento s exigncias da Norma com o grau

    de satisfao dos usurios. As quantidades mensurveis citadas no pargrafo anterior, para

    este trabalho, so as unidades de comprimento e rea no Sistema Internacional de Unidades,

    respectivamente, o metro (m) para medidas lineares e o metro quadrado (m) para quantificar

    espaos.

    Todos os critrios de desempenho devem estar vinculados s condies de exposio da

    edificao. Como afirma a NBR 15575-1 (ASSOCIAO BRASILEIRA DE NORMAS

    TCNICAS, 2013, p. 6) no item 3.5, condio de exposio o [...] conjunto de aes

    atuantes sobre a edificao, incluindo cargas gravitacionais, aes externas e aes resultantes

    da ocupao [...]. Juntando-se as condies de exposio com os critrios de desempenho,

    determinam-se as especificaes de desempenho.

    Especificaes de desempenho so definidas na NBR 15575-1 (ASSOCIAO

    BRASILEIRA DE NORMAS TCNICAS, 2013, p. 19) como [...] uma expresso das

    funes requeridas da edificao ou de seus sistemas e que correspondam a um uso claro

    definido [...]. Dessa maneira, uma edificao s pode ser classificada de acordo ou no com

    a Norma, qual seja neste trabalho, a NBR 15575-1 ou a NBR 9050, se forem conhecidas tais

    especificaes de desempenho.

    Para ser habitvel, segundo a NBR 15575-1 (ASSOCIAO BRASILEIRA DE NORMAS

    TCNICAS, 2013, p. 35), a habitao estudada deveria apresentar [...] espaos mnimos dos

    ambientes da habitao compatveis com as necessidades humanas [aqui entendidas como as

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    Habitabilidade em edificaes segundo a NBR 15575-1:

    funcionalidade, acessibilidade e conforto antropodinmico

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    condies de habitabilidade descritas na Introduo].. Segundo a funcionalidade, no deve

    haver conflito de uso ao abrir portas e janelas, isto , toda porta aberta no deveria prejudicar

    a abertura de outra porta ( frente ou ao lado desta) causando interrupo de seu curso de

    abertura ou fechamento. Tambm, mesas e cadeiras em uso no deveriam obstruir a passagem

    de pessoas no interior de uma edificao, como se verifica quando os espaos internos

    habitao so pequenos.

    H casos em que os puxadores das persianas se encontram em altura superior quela que um

    indivduo de estatura mdia alcanaria e s vezes as alturas dos ps-direitos6 so menores do

    que o mnimo exigido por Norma. Para a NBR 15575-1 (ASSOCIAO BRASILEIRA DE

    NORMAS TCNICAS, 2013, p. 35), no seu item 16.1.1, tem-se que A altura mnima de p-

    direito no pode ser inferior a 2,50 m. e continua dizendo que Em vestbulos, halls,

    corredores, instalaes hidrossanitrias e despensas, permitido que o p-direito seja reduzido

    ao mnimo de 2,30 m. (ASSOCIAO BRASILEIRA DE NORMAS TCNICAS, 2013, p.

    35). No captulo 6 esto descritas as conformidades e no conformidades de funcionalidade

    do condomnio horizontal estudado, entre elas os dados sobre os ps-direitos l encontrados.

    Em alguns casos, entretanto, pode-se fazer exceo regra da funcionalidade, pois A

    sobreposio das reas de utilizao dos equipamentos pode dar-se desde que prevalea a

    maior, respeitando-se [...] os espaos destinados circulao de um ambiente ao outro e os

    que representam riscos segurana, como [...] reas prximas ao fogo. (INSTITUTO DE

    PESQUISAS TECNOLGICAS DO ESTADO DE SO PAULO, 1987, p. 12).

    Passando a falar agora em desempenho de acessibilidade, que a garantia de boas condies

    de uso de uma edificao por pessoas com mobilidade reduzida, tem-se que, para a

    acessibilidade no ser prejudicada, deve haver acessos suaves edificao, atravs de rampas,

    com piso antiderrapante e corrimos adequados. Quando esta situao no se verifica, as

    pessoas de mobilidade reduzida so prejudicadas, pois estando sozinhas no teriam como

    andar livremente pela sua prpria moradia. Para a NBR 9050 (ASSOCIAO BRASILEIRA

    DE NORMAS TCNICAS, 2005, p. 4) pessoa de mobilidade reduzida [...] aquela que,

    temporria ou permanentemente, tem limitada sua capacidade de relacionar-se com o meio e

    de utiliz-lo. Entende-se por pessoa de mobilidade reduzida, a pessoa com deficincia, idosa,

    obesa, gestante entre outros.. 6 Por p-direito entende-se a distncia vertical entre o piso do andar considerado e a parte de baixo da laje acima.

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    Pela leitura do pargrafo anterior, entende-se que todo espao que recebe pessoas de

    mobilidade reduzida deve ser adaptvel, pois segundo a NBR 9050 (ASSOCIAO

    BRASILEIRA DE NORMAS TCNICAS, 2005, p. 2), no seu item 3.3, adaptvel todo

    Espao, edificao, mobilirio, equipamento urbano ou elemento cujas caractersticas

    possam ser alteradas para que se torne acessvel.. No est dito na Norma, mas

    imprescindvel que essa capacidade adaptvel seja a maior possvel, pois do contrrio, essa

    adaptao pode gerar alta mobilizao de materiais e mo de obra e, sobretudo,

    inconvenincia ao proprietrio da edificao, que durante o perodo da adaptao teria de se

    deslocar para outro imvel.

    Importante destacar que o fato de seguir as orientaes da NBR 9050 no significa

    dimensionar pensando apenas no uso de pessoas com mobilidade reduzida, e sim no uso

    universal da habitao. A NBR 9050 (ASSOCIAO BRASILEIRA DE NORMAS

    TCNICAS, 2005, p. 5), no seu item 4, afirma que, para a referida Norma, [...] foram

    consideradas as medidas entre 5% a 95% da populao brasileira, ou seja, os extremos

    correspondentes a mulheres de baixa estatura e homens de estatura elevada.. Por esta razo, o

    argumento de que no existem indivduos de mobilidade reduzida em determinado edifcio

    no motivo para no serem seguidas as recomendaes da NBR 9050, at porque qualquer

    pessoa pode se tornar, em algum momento, de mobilidade reduzida.

    Itens que valem a pena serem instalados, porque ajudam na acessibilidade e ao mesmo tempo

    no representam custos elevados em relao construo, so os corrimos e guarda-corpos.

    Sobre a instalao destes componentes, a NBR 9050 (ASSOCIAO BRASILEIRA DE

    NORMAS TCNICAS, 2005, p. 46) no seu item 6.7 salienta que Os corrimos e guarda-

    corpos devem ser construdos com materiais rgidos, ser firmemente fixados s paredes,

    barras de suporte ou guarda-corpos, oferecer condies seguras de utilizao, [e] ser

    sinalizados [...]. Olhando pelo prisma da segurana na edificao, os itens citados no s

    auxiliam na locomoo e transposio de degraus, como na segurana em uma eventual

    queda.

    Outra soluo que visa a funcionalidade e acessibilidade a adoo de um sutil aumento de

    rea em espaos de grande utilizao, como salas, dormitrios e banheiros (como no conceito

    de lifetime homes). Isto importante porque, se algum dia a habitao necessitar receber, por

    exemplo, um cadeirante, o espao necessrio ao acesso da cadeira de rodas est assegurado

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    funcionalidade, acessibilidade e conforto antropodinmico

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    pelos poucos metros quadrados extras anexados a estes espaos. Este pensamento remete

    quela ideia anterior de proporcionar condies de adaptabilidade s reas de utilizao da

    edificao.

    Finalmente, o ltimo tpico de habitabilidade a ser abordado neste trabalho o conforto

    antropodinmico. O conforto antropodinmico (ou antropomtrico) diz respeito s condies

    ergonmicas com que o homem interage com sua moradia.

    Ergonomia uma cincia aplicada que estuda a interao de seres humanos com objetos de

    uso geral, como ferramentas e partes constituintes de um sistema de edificaes (por exemplo:

    maanetas, puxadores, estantes e outros). Dentro do escopo ergonomia subentendem-se

    antropometria, biomecnica, engenharia e fisiologia. Basicamente, o estudo da ergonomia

    auxilia a otimizao de tarefas manuais, a preveno de doenas ocupacionais e o

    dimensionamento de ambientes ocupados por seres humanos. Este estudo ergonmico gera

    requisitos e critrios antropodinmicos, aqui tratados pelos respectivos itens da NBR 15575-1.

    A NBR 15575-1 (ASSOCIAO BRASILEIRA DE NORMAS TCNICAS, 2013, p. 37),

    no seu item 17.2, aponta que as caractersticas antropodinmicas no devem [...] prejudicar

    as atividades normais dos usurios, dos edifcios habitacionais, quanto ao caminhar, apoiar,

    limpar, brincar e aes semelhantes. e complementa que no devem [...] apresentar

    rugosidades, contundncias e depresses ou outras irregularidades nos elementos,

    componentes, equipamentos e quaisquer acessrios ou partes da edificao..

    A ergonomia deve proporcionar conforto aos usurios de maneira que os dispositivos no os

    machuquem e, ao mesmo tempo, atendam forma adequada ao manejo dos mesmos. Por fim,

    observa-se que muitas das exigncias acima so semelhantes a algumas daquelas referentes

    acessibilidade.

    Uma habitao pode ser funcional, tendo espaos amplos e ao mesmo tempo acessveis, sendo

    capaz de abrigar um ser humano em diversas fases de sua vida; no entanto, se no houver

    ergonomia, no h conforto para o usurio, de forma a tornar intil tal funcionalidade e

    acessibilidade. Neste ponto cita-se a importncia da inter-relao entre os trs tpicos de

    habitabilidade que foram abordados neste trabalho, descrita na figura 2.

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    Figura 2 Inter-relao entre acessibilidade, funcionalidade e ergonomia

    (fonte: elaborado pelo autor)

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    4 HABITAES EVOLUTIVAS

    Por habitaes evolutivas, entendem-se habitaes que possuem suas tipologias alteradas com

    o passar do tempo, seja atravs de reformas, demolies ou ampliaes, tanto no sentido

    vertical quanto no sentido horizontal. Esta tcnica bastante utilizada em famlias que

    habitam residncias de interesse social por facilitar (no sentido monetrio) o desenvolvimento

    e aprimoramento das suas moradias. Isto ocorre porque a maioria destas famlias no possui

    capital suficiente para arcar com as despesas do incio ao final de uma construo. No

    obstante, algumas das famlias mesmo recebendo casas prontas de programas governamentais

    acabam por fazer ampliaes sem projeto ou superviso de profissionais habilitados em suas

    habitaes. Muitas das habitaes de interesse social so tambm habitaes evolutivas, no

    em sua maioria concebidas desta forma, mas como decorrncia do uso e de desejos dos

    usurios das mesmas. Devido capacidade de influenciar a habitabilidade de edificaes, foi

    inserido o conceito de habitaes evolutivas neste trabalho.

    Sobre o dimensionamento de habitaes evolutivas, o Instituto de Pesquisas Tecnolgicas do

    Estado de So Paulo (1987, p. 21, grifo nosso) afirma que:

    Alm dos fatores de ordem funcional, outras variveis exercem papel preponderante

    no dimensionamento das habitaes. Do ponto de vista econmico, a

    compatibilizao entre recursos disponveis e custo da moradia na etapa inicial deve

    ser feita ao longo do desenvolvimento do projeto atravs de oramentaes

    expeditas mais precisas que o ndice genrico de custo/m, visto que este ndice

    diminui medida que a rea global da habitao aumenta. Assim, um aumento de

    rea que venha a representar uma sensvel melhoria no uso da habitao pode

    incidir relativamente pouco no custo final.

    Ainda sobre alterao da tipologia de habitaes evolutivas, o Instituto de Pesquisas

    Tecnolgicas do Estado de So Paulo (1987, p. 8) afirma que as modificaes se do atravs

    das seguintes formas:

    a) ampliao da rea construda, pelo aumento do nmero de ambientes ou pelo

    aumento da rea dos ambientes;

    b) subdiviso de ambientes, para evitar sobreposio de funes consideradas

    incompatveis;

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    c) execuo de acabamentos, visando melhorar as condies de habitabilidade ou

    mesmo para adaptar as moradias s preocupaes de ordem esttica de cada

    famlia.

    Sobre a possibilidade de ampliao da unidade habitacional, a NBR 15575-1 (ASSOCIAO

    BRASILEIRA DE NORMAS TCNICAS, 2013, p. 36), em seu item 16.4, cita que Para

    unidades trreas e assobradadas de carter evolutivo, j comercializadas, com previso de

    ampliao, a incorporadora ou construtora deve fornecer ao usurio projeto arquitetnico e

    complementar juntamente com manual de uso, operao e manuteno [...] e ainda sugere

    que de preferncia sejam utilizados recursos disponveis na regio e que no seja alterada a

    tcnica de construo original do imvel. O contedo da ltima frase visa atender

    sustentabilidade e o equilbrio construtivo, de forma a evitar emendas e manifestaes

    patolgicas.

    Da mesma forma que no pargrafo anterior, entende-se, segundo o item 16.4.1 da NBR

    15575-1 (ASSOCIAO BRASILEIRA DE NORMAS TCNICAS, 2013, p. 36), que No

    projeto e na execuo das edificaes [...] de carter evolutivo, deve ser prevista pelo

    incorporador ou construtor a possibilidade de ampliao, especificando-se os detalhes

    construtivos necessrios para ligao ou continuidade de [sistemas] [...]. Para finalizar este

    raciocnio, consta, no final deste mesmo item supracitado, que As propostas de ampliao

    devem ser devidamente consideradas nos estudos de arquitetura, devendo atender aos nveis

    de funcionalidade previstos nesta Norma [NBR 15575-1]. (ASSOCIAO BRASILEIRA

    DE NORMAS TCNICAS, 2013, p. 37).

    Sobre uso, operao e manuteno de edificaes, a NBR 15575-1 (ASSOCIAO

    BRASILEIRA DE NORMAS TCNICAS, 2013, p. 13) afirma que O usurio no pode

    efetuar modificaes que prejudiquem o desempenho original entregue pela construtora,

    sendo esta ltima no responsvel pelas modificaes realizadas pelo usurio..

    Sobre a ideia de que mais vantajoso quando as reas iniciais do projeto so maiores, nem

    que sejam compostas por poucos metros quadrados a mais, e que as intervenes futuras so

    menos necessrias, o Instituto de Pesquisas Tecnolgicas do Estado de So Paulo (1987, p.

    18) refora que:

    A experincia tem mostrado que o subdimensionamento dos ambientes do ncleo

    inicial, geralmente, leva a demolies de paredes, no previstas em projeto, para

    ampli-los nas etapas subsequentes. Os desperdcios materiais e os riscos potenciais

    segurana que tais demolies acarretam, levam a recomendao de que, uma vez

    estimada a rea possvel de ser construda na etapa inicial, esta rea no seja

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    funcionalidade, acessibilidade e conforto antropodinmico

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    compartimentada em ambientes subdimensionados. Nesse sentido, salienta-se

    tambm que, embora o ncleo inicial provavelmente no venha a ter todos os

    ambientes necessrios s famlias, os arranjos para subdividir os espaos a nvel

    provisrio (armrios, cortinas, tabiques) so facilitados quando as reas so maiores.

    As noes de mnimo (tanto em rea til, quanto em mobilirio) em habitaes de interesse

    social so difceis de definir, pois, sobre o assunto, Portas (2006, p. 7, grifo do autor) defende

    que esta noo de mnimo refere-se, em geral, ao espao mnimo habitvel, e h exigncias

    psicolgicas do ser humano que se sobrepe a este espao; por isso a rea mnima no deve

    ser simplesmente a soma das menores reas para cada fim especfico, assim como quando em

    casos de extrema pobreza ou quando ocorrem catstrofes so admitidos espaos habitveis

    substancialmente reduzidos.

    Considerando-se as prprias habitaes evolutivas, sabe-se que no to simples de se

    realizar uma ampliao em determinada residncia, pois existe, dentre outros fatores,

    limitaes por parte do terreno, capacidade estrutural da prpria edificao e limitao

    determinada pelo Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano Municipal. Sobre a

    funcionalidade das habitaes, Portas (2006, p. 7) afirma que:

    [...] para [...] um bem de caractersticas fixas e durveis como a casa urbana,

    acabada, dos tipos correntes, isto , com reduzidas possibilidades de crescimento,

    assegure ao investimento inicial, sempre relativamente alto, um rendimento

    econmico satisfatrio, parece necessrio assegurar que desde logo resista, no seu

    consumo, a uma obsolescncia funcional prematura adaptando-se, por folga inicial e

    concepo apropriada a mais de uma gerao de habitantes (atribua-se 50 a 70 anos

    como perodo mnimo de servio para a habitao social). Note-se, de passagem, que

    uma caracterstica do bem habitao o defasamento entre a atual durao

    construtiva, a durao econmica ou urbanstica e a ainda mais curta durao

    funcional ou de utilizao aceitvel.

    Ocorre, por exemplo, nos andares superiores das casas tipo sobrados do condomnio

    horizontal estudado, que o nico acesso a eles se d atravs de escada em forma helicoidal

    (popularmente conhecida por escada caracol). Ora, dependendo da idade dos moradores, isto

    pode vir a ser um entrave no uso habitacional, no caso a falta de acessibilidade.

    Outro exemplo, agora referente a defasamento econmico diz respeito valorizao ou

    desvalorizao de imveis, que podem influir tambm no fator funcional da regio, como

    quando construda uma avenida de trfego intenso nos entornos do local observado, gerando

    alteraes (em geral positivas) de infraestrutura.

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    Luca Brochier Parmeggiani. Porto Alegre: DECIV/EE/UFRGS, 2014

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    Neste ponto surge o conceito de insero urbana, segundo Abiko e Ornstein (2002, p. 9): Por

    insero urbana entende-se a forma que as unidades habitacionais unifamiliares ou

    multifamiliares se articulam no espao urbano, considerando a sua localizao, [...], as suas

    conexes com as infraestruturas e o atendimento por servios pblicos..

    Sobre a indevida ampliao (sem projeto) de habitaes evolutivas, Malard et al. (2002, p.

    260) afirmam que:

    A expresso expanso no programada designa todo tipo de ampliao ou acrscimo

    edificao, que no tenha sido previsto no projeto original. Quando os espaos

    disponveis so inadequados ao bom desempenho das atividades do cotidiano, ou

    quando inexistem espaos necessrios a essas atividades, a habitabilidade afetada,

    surgindo conflitos entre os usurios e os espaos que so exguos ou inexistentes.

    Tais conflitos motivam as intervenes para ampliao ou acrscimo de cmodos.

    Complementando esta ideia, Malard et al. (2002, p. 261) afirmam ainda que:

    Algumas dessas intervenes, por sua vez, causam novas disfunes, que acabam

    por ser fontes de outros conflitos. A expanso pode-se dar internamente ao permetro

    da moradia, isto , atravs da fuso de dois cmodos j existentes, ou pode-se dar

    por acrscimo de mais cmodos moradia. Os motivos pelos quais ocorrem as

    intervenes so variados: criao de um cmodo de trabalho profissional;

    instalao de um pequeno comrcio na frente da casa; ampliao ou construo de

    uma nova cozinha; construo de uma cobertura para veculos; construo ou

    ampliao de rea de servio, e outros mais.

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    Habitabilidade em edificaes segundo a NBR 15575-1:

    funcionalidade, acessibilidade e conforto antropodinmico

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    5 AVALIAO PS-OCUPAO

    Neste captulo desenvolvido o tema Avaliao Ps-Ocupao (APO) como reviso

    bibliogrfica, indicando sua importncia na investigao das condies de habitabilidade. No

    trabalho foram desenvolvidas duas Avaliaes Ps-Ocupao, a primeira como pr-teste e a

    segunda para aplicao definitiva, no entanto, ainda no so abordadas as particularidades de

    cada uma neste captulo. De acordo com Abiko e Ornstein (2002, p. 7):

    A APO definida como um conjunto de mtodos e tcnicas de avaliao de

    desempenho aplicado no decorrer do uso de qualquer tipo de ambiente construdo

    (por exemplo: empreendimentos habitacionais, escolas, [...]) visando aferir e

    estabelecer diagnsticos que levem em considerao o parecer dos especialistas e as

    necessidades e/ou nveis de satisfao dos usurios finais destes ambientes.

    Percebe-se que o uso de Avaliao Ps-Ocupao pressupe uso da edificao e avaliao

    deste uso no tempo. No se pode, pois, comparar determinada edificao a outra sem

    especificar as condies de ocupao e sem consequentemente possuir a caracterizao dos

    usurios. Neste contexto, a APO se revela positivamente no quesito de diferenas regionais e

    na retroalimentao de dados para auxiliar a concepo de novos empreendimentos

    habitacionais. Segundo Abiko e Ornstein (2002, p. 8):

    Estes diagnsticos [APOs] pautados num conhecimento sistemtico do que ocorre

    com os fatores fsicos e nas relaes entre comportamento humano e ambiente

    construdo no decorrer do uso demonstram, de modo constante, erros e acertos,

    podendo assim subsidiar no s intervenes, melhorias e programas de manuteno

    para o estudo de caso em questo, mas tambm realimentar diretrizes para futuros

    projetos semelhantes. Trata-se portanto de um instrumento de controle de qualidade

    do processo de produo e uso do ambiente construdo, aplicvel nesta ltima etapa.

    Contrapondo o carter objetivo das avaliaes de desempenho Normativas, como os itens da

    NBR 15575-1, Romro e Ornstein (2003, p. 26) afirmam que:

    A APO [...] diz respeito a uma srie de mtodos e tcnicas que diagnosticam fatores

    positivos e negativos do ambiente no decorrer do uso, a partir da anlise de fatores

    socioeconmicos, de infraestrutura e superestrutura urbanas dos sistemas

    construtivos, conforto ambiental, conservao de energia, fatores estticos,

    funcionais e comportamentais, levando em considerao o ponto de vista dos

    prprios avaliadores, projetistas e clientes, e tambm dos usurios.

    Mais do que isso, a APO se distingue das avaliaes de desempenho clssicas

    formuladas nos laboratrios dos institutos de pesquisa, pois considera fundamental

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    Luca Brochier Parmeggiani. Porto Alegre: DECIV/EE/UFRGS, 2014

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    tambm aferir o atendimento das necessidades ou o nvel de satisfao dos usurios,

    sem minimizar a importncia da avaliao do desempenho fsico ou clssica.

    Para a aplicao do questionrio definitivo, como o presente no Apndice A deste trabalho,

    Romro e Ornstein (2002, p. 85) julgam importantes que existam os seguintes blocos de

    perguntas:

    a) caracterizao do entrevistado, abrangendo nome, idade, escolaridade, profisso,

    renda familiar aproximada, nmero de integrantes por famlia, quantidade de

    membros por faixa etria, endereo, tempo de residncia, local anterior de

    residncia e tipo de moradia anterior;

    b) caracterizao comportamental, que trata da qualidade da moradia anterior em

    relao atual, no conjunto habitacional, focalizando a aparncia do edifcio, das

    reas comuns livres, do centro de convivncia e do prprio conjunto

    habitacional.

    Outro ponto a citar so as diferenas entre projeto concebido e projeto as built 7. Nesta tica, a

    Avaliao Ps-Ocupao assume papel ainda mais importante, pois demonstra a realidade, e

    no a concepo arquitetnica de forma virtual. Sobre os programas habitacionais de interesse

    social, Romro e Ornstein (2002, p. 27) afirmam que:

    [...] tm-se adotado solues urbansticas [...] e construtivas repetitivas em larga

    escala, para atender uma populao, via de regra, muito heterognea, cujo repertrio

    cultural, hbitos, atitudes e crenas so bastantes distintos j no prprio conjunto, e

    mais ainda em relao aos projetistas. No caso dos fatores positivos, estes devem ser

    cadastrados e recomendados para futuros projetos semelhantes [...]

    A respeito da observao in loco de edificaes, Malard et al. (2002, p. 265) justificam que:

    A grande vantagem da abordagem fenomenolgica procurar ver e compreender o

    objeto tal qual ele se apresenta nossa percepo. Com isso conseguimos enxergar

    novos ngulos e perceber situaes nunca imaginadas. Nesse aspecto, a abordagem

    fenomenolgica complementar os procedimentos consagrados nas metodologias de

    APO, pois, sendo exclusivamente interpretativa, oferece perspectivas avaliativas que

    as demais metodologias no abarcam.

    Sob os aspectos negativos registrados nas Avaliaes Ps-Ocupao, a medida que servem

    para correo de problemas e futuras recomendaes de projeto, Romro e Ornstein (2002, p.

    27) argumentam que sejam definidas recomendaes que:

    a) minimizem ou at mesmo possibilitem a correo dos problemas detectados no

    prprio ambiente construdo submetido avaliao, por meio do estabelecimento

    7 Do ingls, como construdo (traduo nossa).

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    Habitabilidade em edificaes segundo a NBR 15575-1:

    funcionalidade, acessibilidade e conforto antropodinmico

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    de programas de manuteno fsica e da conscientizao dos usurios/moradores

    da necessidade de alteraes comportamentais, tendo em vista a conservao do

    patrimnio pblico (praas, escolas, etc.), semipblico (reas condominiais) ou

    privado (a prpria unidade habitacional); e

    b) utilizem os resultados dessas avaliaes sistemticas e interdisciplinares,

    embasadas em pesquisas aplicadas a estudo de caso, para realimentar o ciclo do

    processo de produo e uso de ambientes de futuros projetos com a formulao

    de diretrizes, contribuies para normas existentes e outros.

    Com relao melhoria dos processos produtivos em canteiros de obras e retroalimentao

    de dados construtivos proporcionados por Avaliaes Ps-Ocupao, Abiko e Ornstein (2002,

    p. 5) afirmam que:

    O setor da construo Civil vem apresentando mudanas significativas, com vrios

    esforos para a melhoria da qualidade na cadeia produtiva e para o incremento da

    produtividade atravs do desenvolvimento de planos organizacionais e inovaes

    tecnolgicas, tais como a reviso e a produo de normas tcnicas, a reduo do

    desperdcio em canteiros de obras, a utilizao de sistemas industrializados e a

    formao de um sistema nacional de certificao.

    Porm, vrias barreiras ainda precisam ser vencidas, especialmente no tocante ao

    atendimento das demandas habitacionais sociais, sendo uma delas a implementao

    de inovaes tecnolgicas de produtos e processos construtivos, que devero resultar

    na reduo de custos e na melhoria da qualidade. Alm de suplantar essas barreiras,

    necessrio avaliar com profundidade os empreendimentos implantados tanto nos

    aspectos referentes s unidades habitacionais quanto nos aspectos de sua

    implantao e urbansticos. Esta avaliao pode nos indicar caminhos a serem

    percorridos em novos empreendimentos e projetos, atravs de um contnuo processo

    de retroalimentao.

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    6 ESTUDO DE CONDOMNIO HORIZONTAL DE INTERESSE

    SOCIAL

    Neste captulo descrito o condomnio horizontal que foi o objeto de estudo deste trabalho.

    Posteriormente, so apresentados os mtodos relativos ao levantamento de dados com a

    aplicao da APO sobre habitabilidade e o tratamento dos dados obtidos com a pesquisa

    documental deste condomnio.

    6.1 Caracterizao do condomnio horizontal estudado

    O conjunto habitacional estudado localiza-se na Zona Sul da cidade de Porto Alegre/RS e

    constitui-se em 33 moradias populares. Destas, 27 so casas de dois pisos com cerca de 41,2

    m de rea til8; as demais casas so trreas e possuem a mesma rea til que as anteriores. Os

    terrenos onde esto localizadas estas casas possuem dimenses 18 m de comprimento por 3,3

    m de largura.

    O rgo responsvel pela construo destas moradias foi o Departamento Municipal de

    Habitao da Prefeitura Municipal de Porto Alegre (Demhab). Em termos de layout, este

    conjunto habitacional composto por um condomnio horizontal, sendo todas as suas casas

    geminadas. Este empreendimento teve como ponto de partida o projeto de reurbanizao de

    uma comunidade onde moravam 122 famlias, que se situava no mesmo local onde esto hoje

    as casas supracitadas. Com relao ao tempo de construo, tem-se que o condomnio

    horizontal foi construdo em dois anos, perodo de 2012 e 2013, tendo a obra sido entregue

    em novembro de 2013, momento em que tais famlias passaram a viver neste condomnio.

    Na APO deste trabalho foram levantadas as reas teis por dependncia (definindo assim uma

    tipologia bsica dominante) e as reas teis mdias por morador. Por rea til mdia por

    morador de uma casa (em particular) do condomnio horizontal estudado entende-se a rea

    til (que j foi definida anteriormente) dividida pelo nmero de moradores desta casa em

    particular, tendo como unidade m/morador.

    8 rea til so as reas internas de uma edificao, medidas a partir do piso, excluindo-se as paredes.

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    Habitabilidade em edificaes segundo a NBR 15575-1:

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    de se esperar, neste estudo, que a rea til mdia por morador seja uma quantidade de valor

    baixo, pois moram muitas pessoas por unidade habitacional, situao verificada nestes lares

    de famlias de baixo poder econmico.

    A Avaliao Ps-Ocupao que foi aplicada como censo (pois contou com a participao de

    pelo menos um representante de cada moradia, dispensando, portanto, o nvel de significncia

    do tratamento estatstico) no condomnio horizontal estudado sob a forma de questionrio foi

    desenvolvida segundo o roteiro adaptado de Romro e Ornstein (2002, p. 40):

    a) obteno dos projetos arquitetnicos e executivos do condomnio horizontal de

    interesse social estudado;

    b) visita ao condomnio horizontal estudado, com registro fotogrfico;

    c) aplicao do pr-teste para testar o questionrio da futura APO;

    d) aplicao do formulrio definitivo em todas as moradias estudadas (censo);

    e) anlise comparativa entre satisfao dos usurios (via questionrio) e anlise de

    projeto;

    f) anlise final e concluses;

    A figura 3 mostra uma vista geral das habitaes estudadas.

    Figura 3 Vista geral das habitaes estudadas

    (fonte: foto do autor)

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    Sobre o processo de reurbanizao desta comunidade, Bavaresco (2013) afirma que:

    [...] uma demanda dos moradores apresentada no Oramento Participativo (OP) da

    regio Cristal de 2001 e reafirmada em 2003. A obra recebeu infraestrutura

    completa, com rede de drenagem para evitar alagamentos no local. O valor total do

    investimento foi de R$ 4,1 milhes, financiados pelo Banco Interamericano de

    Desenvolvimento (BID).

    Ao serem lidas as plantas dos projetos de arquitetura e projetos executivos das Casas Tipo

    observou-se que a composio das moradias era da seguinte forma: dois dormitrios

    (somando 20,3 m), banheiro (2,7 m), sala (10,2 m), cozinha (4 m) e rea de servio (4 m).

    Com relao ao processo construtivo adotado para a execuo das paredes internas e externas,

    foi escolhido o de alvenaria estrutural em blocos de concreto. Importante citar que no Manual

    do Proprietrio entregue aos moradores foi destacado que no poderiam ser retiradas, total ou

    parcialmente, paredes e que no poderiam ser executadas reformas ou demolies na

    alvenaria sem a prvia consulta ao projetista do Demhab.

    6.2 Proposta de aplicao de pr-teste

    Esta seo descreve os critrios escolhidos para a aplicao do pr-teste referente Avaliao

    Ps-Ocupao aplicada no condomnio horizontal de interesse social estudado. So descritas

    parte das perguntas utilizadas no pr-teste de forma a tornar claros os objetivos pretendidos

    com a aplicao do mesmo.

    O presente pr-teste foi uma verso inicial da APO aplicada s edificaes estudadas. Para

    isto, procedeu-se ao levantamento de dados in loco com questes do tipo fechadas, isto , para

    cada resposta do usurio havia possibilidade de respostas com contedo previamente

    estabelecido pelo pesquisador. A materializao deste pr-teste se deu atravs de um

    questionrio de mltipla escolha composto por 28 perguntas aos moradores entrevistados. As

    perguntas eram, tambm, do tipo absolutas (compostas por sim e no) ou do tipo de escala ( 1

    = timo, 2 = bom, 3 = ruim e 4 = pssimo).

    O motivo de o pr-teste ter apresentado nmero par de alternativas para as questes do tipo

    escala era apresentar tendncia positiva ou negativa resposta do entrevistado, pois se

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    funcionalidade, acessibilidade e conforto antropodinmico

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    houvesse uma opo intermediria entre bom e ruim, o resultado poderia ser inconclusivo

    (por exemplo: indiferena em relao ao item). O questionrio foi dividido em trs blocos. O

    primeiro bloco dizia respeito caracterizao do entrevistado, pois cada morador, por suas

    caractersticas, possui diferente percepo sobre o objeto de estudo.

    O segundo e terceiro blocos eram compostos por perguntas aos moradores sobre as dimenses

    e facilidade de acesso de suas moradias, de reas comuns e do condomnio como um todo. As

    respostas referentes a esta parte do questionrio indicaram, ainda que subjetivamente, o grau

    de satisfao dos usurios quanto aos quesitos funcionalidade, acessibilidade e conforto

    antropodinmico da NBR 15575-1.

    Como exemplo do bloco 1, pediu-se ao entrevistado sua idade, o grau de escolaridade, o

    nmero de ocupantes na sua moradia e a ocupao do mesmo. No bloco 2, o usurio foi

    questionado sobre o espao para abrir portas e janelas e manusear equipamentos, tamanho

    (percebido) da cozinha, banheiro, sala, entre outros. J no bloco 3, em uma das perguntas, era

    solicitado ao morador que qualificasse as reas de convivncia para as crianas, adultos,

    idosos e deficientes fsicos. Por fim, havia espao ao final do pr-teste para que o entrevistado

    fizesse comentrios adicionais. Na fase de pr-teste, foram aplicados trs questionrios a

    moradores diferentes. Na aplicao dos pr-testes percebeu-se a necessidade de tornar mais

    simples os enunciados das questes, visto que o grau de escolaridade e a fluncia em leitura

    da lngua portuguesa dos habitantes entrevistados eram baixos. Aps terem sido corrigidos

    estes pormenores, partiu-se para a aplicao da APO definitiva. importante dizer que na

    aplicao da APO definitiva, estes moradores que responderam ao pr-teste no entraram no

    novo grupo de questionados, pois poderiam ter suas respostas alteradas pela influncia do

    questionrio anterior.

    6.3 Levantamento de dados com APO e seus resultados

    O mtodo de estudo que foi aplicado s habitaes estudadas foi composto pela aplicao de

    APO, registro fotogrfico in loco das moradias, seguido de anlise de projeto dos parmetros

    funcionalidade, acessibilidade e conforto antropodinmico previstos na NBR 15575-1. A

    anlise dos critrios de desempenho da Norma foi realizada atravs de leitura das plantas de

    arquitetura e comparao dos critrios apresentados na NBR 1557-1 com os medidos em

    projeto de arquitetura.

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    Assim como no pr-teste, a APO tambm foi composta por trs blocos de perguntas. Desta

    maneira, foi possvel determinar qual o perfil de moradores que consideram suas casas timas,

    boas, ruins ou pssimas. A APO utilizada no condomnio horizontal estudado consta no

    apndice A deste trabalho. Junto da Avaliao Ps-Ocupao apresentada ao condomnio

    seguiu-se a carta aos moradores, que um documento formal com contedo descritivo sobre o

    trabalho que foi mostrado a cada morador no momento de resposta ao questionrio da APO. A

    carta aos moradores se encontra no apndice B. A seguir so apresentados os resultados das

    questes fechadas contidas no questionrio da Avaliao Ps-Ocupao.

    6.3.1 Dados sobre a escolaridade dos moradores

    Foram perguntados aos moradores que responderam ao questionrio quais eram seus graus de

    escolaridade. Esta pergunta corresponde ao item 1.2 da APO definitiva. O objetivo deste item,

    junto com outras perguntas sobre renda e nmero de ocupantes por moradia foi tentar

    identificar um fator social no condomnio horizontal estudado. Dito isto, das respostas dos

    moradores obteve-se a seguinte distribuio de escolaridade, mostrada na figura 4.

    Figura 4 Distribuio de grau de escolaridade do condomnio horizontal estudado

    (fonte: elaborado pelo autor)

    Importante dizer que o grfico da figura 4 indica apenas a escolaridade dos entrevistados, que,

    em geral, eram os chefes das famlias. Quando considerada a populao total do

    condomnio, que so pelo menos 133 habitantes relatados na APO, ento indicada esta

    situao (figuras 6 e 7).

    Da figura 4, percebe-se que o grau de instruo dos entrevistados do condomnio horizontal

    de interesse social estudado baixo. Somam 57% aquelas pessoas que ou tem Ensino

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    Habitabilidade em edificaes segundo a NBR 15575-1:

    funcionalidade, acessibilidade e conforto antropodinmico

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    Fundamental Incompleto ou possuem Ensino Fundamental Completo. Tambm, se for

    considerado 96,67% da populao estudada, pode-se dizer que o grau de escolaridade mximo

    o Ensino Mdio Completo. Este fato tem implicao sobre o item renda das famlias.

    6.3.2 Dados sobre a renda mdia das famlias

    Como dito no item 6.3.1 deste trabalho, o nvel de escolaridade tem influncia sobre a renda

    das pessoas. Foram perguntados aos moradores que responderam ao questionrio quais eram

    seus valores mdios mensais de renda. Esta pergunta corresponde ao item 1.8 da APO

    definitiva, que consta no apndice A deste trabalho.

    Tambm, foram indagadas aos moradores quais eram suas profisses. Era de se esperar que,

    sendo o grau de escolaridade baixo, as profisses exercidas pelos moradores fossem de baixa

    especializao, o que levaria a baixas remuneraes mensais. De fato, segundo o item 1.7 da

    APO definitiva, constatou-se que as profisses mais comuns eram as de estudante, tcnicos

    em servios diversos, pintor, diarista, auxiliar de pedreiro, metalrgico, cozinheira, porteiro,

    entre outros. Outra decorrncia do fator renda a caracterstica de forma e tamanho da

    famlia. No condomnio horizontal estudado, verificou-se uma mdia de cinco pessoas por

    casa, sendo este fato uma caracterstica particular das habitaes inspecionadas. A figura 5

    mostra a distribuio de renda familiar entre as residncias estudadas.

    Figura 5 Distribuio de renda familiar entre as residncias estudadas

    (fonte: elaborado pelo autor)

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    Como se percebe da figura 5, 63% dos pesquisados possuem renda mdia familiar mensal

    entre 1 e 3 salrios mnimos. Alm disto, aqueles que responderam a opo outra, na

    realidade, omitiram suas respostas, de maneira que se pode fixar a cota mxima aproximada

    dentre as rendas familiares daquele condomnio estudado em 5 salrios mnimos.

    6.3.3 Dados sobre a distribuio de idades no condomnio horizontal

    estudado

    O item 1.3 da APO definitiva, que est no apndice A deste trabalho, revelou a distribuio de

    idades entre os moradores do condomnio horizontal estudado. Pode-se perceber a questo

    social das famlias de baixa renda por haver grande nmero de crianas, indicando falta de

    planejamento familiar. Tambm, alm do fato de haver grande populao jovem, observou-se

    que no condomnio estudado as pessoas possuem muitos filhos, tambm jovens, ou seja, as

    habitaes recebem mais pessoas do que foram concebidas para acomodar, de forma que a

    soluo encontrada pelas famlias , na maioria das vezes, tornar suas casas, habitaes

    evolutivas, conforme discutido no captulo 4 deste trabalho. A figura 6 mostra a referida

    distribuio de idades, desta vez, o grfico de pizza se refere populao total, ou seja, aos

    133 habitantes.

    Figura 6 Distribuio de idades no condomnio horizontal estudado

    (fonte: elaborado pelo autor)

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    6.3.4 Dados sobre origem das famlias do condomnio horizontal estudado

    A APO definitiva, nos seus itens 1.9 a 1.12 revelou que, na poca da pesquisa, todos os

    usurios do condomnio estudado residiam nele no intervalo de 6 meses a um ano, prazo em

    que haviam sido entregue estas residncias. Todas as famlias que ali se encontram moravam

    na mesma rea, que antes da construo do condomnio pertencia a uma favela, com casas

    simples de alvenaria aparente ou casas de madeira. As famlias proprietrias das antigas casas

    em rea de favela foram beneficiadas com um programa habitacional do Demhab de Porto

    Alegre, passando ento a morar no condomnio horizontal estudado.

    Um dado curioso advindo da APO foi o resultado do item 1.12. Mesmo sendo as casas do

    condomnio maiores do que suas casas antigas, nem todos os moradores a consideraram

    melhor do que seus antigos lares. Outra vez apareceu o fator social. Este dado indica que as

    antigas casas dos moradores eram mais apropriadas aos seus estilos de vida e necessidades

    que eles consideravam primrias. Nos comentrios adicionais dos entrevistados leu-se que

    no havia espao suficiente para todos os habitantes das casas e que o layout proporcionado

    pelas casas no se adequava exatamente aos desejos de todos os moradores. A figura 7 mostra

    a opinio dos usurios (totalidade de moradores) sobre suas casas atuais em comparao

    quelas da poca antes do programa habitacional do Demhab. De fato, 62,96% daqueles que

    responderam ao questionrio consideram suas casas atuais pelo menos melhor do que suas

    casas antigas; entretanto, tambm tem de se dizer que existem aqueles que as acham inclusive

    pior do que as moradias anteriores.

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    Figura 7 Opinies dos usurios sobre suas casas atuais em comparao com suas casas antigas

    (fonte: elaborado pelo autor)

    6.3.5 Dados sobre o tamanho dos cmodos e reas de convivncia e lazer do

    condomnio horizontal estudado do ponto de vista dos moradores

    Os dados a seguir so a reproduo fiel das estatsticas obtidas no bloco 2 do questionrio

    definitivo da Avaliao Ps-Ocupao utilizada por este trabalho, conforme apndice A.

    Desta forma, primeiro so apresentados os resultados de cada questo para, na sequncia,

    alguns pontos serem detalhados. Os itens referidos na tabela 1 so aqueles que iniciam no 2.1

    e terminam no item 2.15 do apndice A.

    Tabela 1 Dados sobre a opinio dos usurios sobre a funcionalidade, conforto antropodinmico e tamanho dos cmodos e mobilirio das habitaes estudadas

    AVALIAO

    FUNCIONAL

    TIMO

    (%)

    BOM

    (%)

    RUIM

    (%)

    PSSIMO

    (%)

    Tamanho da casa 20,00 46,67 23,33 10,00

    Tamanho da cozinha 13,33 53,33 26,67 6,67

    Tamanho do banheiro 24,13 48,28 24,13 3,46

    Tamanho da sala 23,08 38,46 26,92 11,54

    Tamanho dos dormitrios 31,03 44,83 13,79 10,35

    Tamanho da rea de servio 29,63 48,15 11,11 11,11

    Disposio das peas da casa 30,00 33,33 30,00 6,67

    continua

  • __________________________________________________________________________________________

    Habitabilidade em edificaes segundo a NBR 15575-1:

    funcionalidade, acessibilidade e conforto antropodinmico

    45

    continuao

    AVALIAO

    FUNCIONAL

    TIMO

    (%)

    BOM

    (%)

    RUIM

    (%)

    PSSIMO

    (%)

    Espao para distribuir mveis

    na sala

    22,22 48,14 22,22 7,42

    Espao para distribuir mveis

    no quarto

    13,33 56,67 23,33 6,67

    Espao para distribuir mveis

    na cozinha

    26,67 40,00 26,67 6,66

    Espao para distribuir mveis

    no banheiro

    23,33 50,00 16,67 10,00

    Espao para abrir e fechar

    portas na sala

    21,43 57,14 14,29 7,14

    Espao para abrir e fechar

    portas no quarto

    16,67 63,33 13,33 6,67

    Espao para abrir e fechar

    portas na cozinha

    13,33 63,33 20,00 3,34

    Espao para abrir e fechar

    portas no banheiro

    10,00 63,33 23,33 3,34

    (fonte: elaborado pelo autor)

    Ao serem observados os dados da tabela 1, tem-se que o ndice de respostas positivas

    (alternativas timo e bom) somou pelo menos 60% das respostas de todos os itens. Ou

    seja, para o mobilirio presente nas moradias estudadas, os usurios se sentem confortveis

    quanto ao espao para manuseio dos mesmos. Entretanto, os itens 2.16 e 2.17, que so

    exemplificados pelas figuras 8 e 9, indicam haver falta de espao para realizao de algumas

    tarefas e falta de lugares para dormir para alguns moradores, devido ao fato de haver, em

    mdia, 5 habitantes por moradia no condomnio horizontal estudado.

    Figura 8 Porcentagem de usurios que percebem falta de espao para realizao de tarefas nas suas casas

    (fonte: elaborado pelo autor)

  • __________________________________________________________________________________________

    Luca Brochier Parmeggiani. Porto Alegre: DECIV/EE/UFRGS, 2014

    46

    Figura 9 Porcentagem das casas em que usurios dormem em lugar que no seja dormitrio

    (fonte: elaborado pelo autor)

    Dentre os espaos para atividades arrolados pelos moradores questionados foi citada a

    necessidade de ter um ptio maior, espao para estender roupa, espao para fazer churrasco,

    salo de festas, espao para brincar e por ltimo, espao para possuir mais privacidade.

    A figura 9 revelou um aspecto importante, em 56,67% das moradias estudadas existe pelo

    menos uma pessoa que dorme em cmodo que no seja dormitrio, isto , algumas pessoas,

    devido ao pequeno tamanho dos dormitrios so obrigadas a dormir nas suas salas.

    Para finalizar o item 6.3.5, cita-se que a aprovao dos usurios quanto s reas comuns de

    lazer para crianas e adultos foi maior do que 50%. De fato, para pessoas com boa sade, no

    continham as reas comuns prejuzos aos parmetros de funcionalidade, acessibilidade e

    conforto antropodinmico. Contudo, foi reconhecido no item 3.4 da APO definitiva um

    descontentamento de 65,22% dos moradores (resultados ruim ou pssimo) com relao s

    reas de lazer para deficientes fsicos, pois as condies de acessibilidade so bastante

    precrias nestas reas comuns deste condomnio.

    6.4 Pesquisa documental

    Aps realizao da Avaliao Ps-Ocupao, realizou-se a pesquisa documental via anlise

    de projeto previsto na NBR 15.575-1. Neste item 6.4 so ilustradas as situaes encontradas

    quando do registro fotogrfico in loco no condomnio horizontal estudado sendo

    apro