00033 industria brasileira de petroleo uma analise da cadeia de valor agregado

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Programa PRH 21/ Agncia Nacional do Petrleo ANP Autor: Renata Kimura ([email protected])

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO - UFRJ INSTITUTO DE ECONOMIA IE/UFRJ MONOGRAFIA DE BACHARELADO EM ECONOMIA

INDSTRIA BRASILEIRA DE PETRLEO: UMA ANLISE DA CADEIA DE VALOR AGREGADO

Autora: RENATA MEGUMI KIMURA e-mail: [email protected]

ORIENTADOR: Professora Margarida Gutierrez

ABRIL 2005

Programa PRH 21/ Agncia Nacional do Petrleo ANP Autor: Renata Kimura ([email protected])

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE ECONOMIA MONOGRAFIA DE BACHARELADO

INDSTRIA BRASILEIRA DE PETRLEO: UMA ANLISE DA CADEIA DE VALOR AGREGADO

____________________________________________

RENATA MEGUMI KIMURA Matrcula n 099227500

ORIENTADOR: Professora Margarida Gutierrez

ABRIL 2005

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As opinies expressas neste trabalho so de exclusiva responsabilidade do autor

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Dedico este trabalho minha famlia, em particular a professora Carmen Alveal (in memoriam), que sem to dedicado apoio no poderia realizar este trabalho.

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AGRADECIMENTOS Primeiramente, agradeo minha famlia pelo apoio e estmulo, que foram de extrema importncia para a concluso deste trabalho. Ao meu namorado Felipe, por sua compreenso e estmulo. Aos meus amigos do Instituto de Economia da U.F.R.J pelo companheirismo e amizade durante o curso. Em especial aos amigos que se tornaram parte de minha famlia Carlos Pacheco, Leandro Arajo, Marcelo Cavalcanti, Marcos Santiago e Vanessa Mesquita pelos momentos inesquecveis que passamos juntos. A Margarida Gutierrez pelo amparo com que me recebeu na finalizao desta etapa de minha vida. A Carmen Alveal que num dos momentos mais difceis esteve ao meu lado, minha eterna gratido, sua lembrana sempre permanecer em nossos coraes. Ao grupo de energia do Instituto de Economia da U.F.R.J por sua competncia e apoio na realizao deste trabalho. Ao Programa de Recursos Humanos da ANP (PRH-21) pelo financiamento da bolsa de estudos.

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RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo avaliar o VA (Valor Adicionado) gerado na indstria de petrleo no Brasil e, em segundo momento, analisar a parcela deste valor correspondente ao pagamento de impostos. Pretende-se ainda, realizar um estudo da diviso dos impostos gerados na indstria petrolfera nas trs esferas de governo: Federal, estadual e municipal.

Deste modo, realizou-se um estudo sobre o valor agregado desta indstria, nos ltimos anos. As anlises sobre os setores sero feitas tendo como referncia a empresa estatal Petrobrs e Ipiranga.

Ainda, foi elaborado um estudo acerca dos impostos incidentes sobre os combustveis, para analisar o peso deste gravame sobre esta atividade, tendo como referncia o mercado de So Paulo.

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SUMRIO INTRODUO................................................................................................................8 I. A CADEIA DE VALOR INDUSTRIAL NA ECONOMIA MODERNA..............11

I.1 Mensurao do valor agregado na cadeia produtiva................................................11 I.1.1 O conceito de valor agregado...........................................................................11 I.1.2 Mtodos de mensurao do valor agregado......................................................13 I.2 A cadeia de valor na perspectiva estratgica das empresas.....................................14 I.2.1 A Integrao Vertical........................................................................................16 I.2.2 A Internacionalizao........................................................................................19 I.2.3 A Diversificao................................................................................................20 II. A CADEIA DE VALOR DA INDSTRIA DE PETRLEO.................................25 II.1 Geologia do petrleo................................................................................................25 II.2 Explorao e produo.............................................................................................26 II.2.1 Desenvolvimento...............................................................................................30 II.2.2 Perfurao .........................................................................................................31 II.2.3 Explorao e produo em terra (onshore).......................................................32 II.2.4 Explorao e Produo no mar (offshore).........................................................33 II.2.5 Produo............................................................................................................34 II.3 Refino ......................................................................................................................35 II.4 Transporte ................................................................................................................39 II.5 Distribuio e revenda de derivados.........................................................................41 II.6 Dinmicas de organizao estratgica e logstica na indstria do petrleo..............42 II.6.1 O papel da logstica na organizao de estratgia de cadeia de valor das firmas..........................................................................................................................42 II.6.2 A organizao estratgia e a logstica na estrutura petrolfera..........................44III.1

III. A ATIVIDADE PETROLFERA NO BRASIL.......................................................47 Metodologia de clculo do VA.................................................................................49 III.2 O PIB do setor petrolfero ......................................................................................72 IV. A TRIBUTAO INCIDENTE NO SETOR PETROLFERO BRASILEIRO.....76

IV.1 Uma anlise da tributao incidente na estrutura de preos no Brasil ...................83 IV.2 Os impostos e contribuies incidentes na cadeia de petrleo..............................90 CONCLUSO................................................................................................................101 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS...........................................................................1037

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INTRODUO

A indstria petrolfera marcada por inmeras especificidades, dentre de tais caractersticas destaca-se o fato de ser um recurso mineral no-renovvel e a principal fonte de energia consumida no mundo. Neste contexto, o petrleo tornou-se um produto estratgico para muitos pases, principalmente aps os choques do petrleo durante a dcada de 70, quando o mundo sofreu graves conseqncias econmicas e polticas com o aumento abrupto do preo do barril de petrleo. Pois, este mercado possui uma demanda inelstica com relao ao preo do petrleo, ou seja, apesar do aumento do preo o consumo continuou o mesmo no curto prazo. Por outro lado, o aumento do preo viabilizou a produo de alguns campos, que at ento no eram produzidos por serem economicamente inviveis, devido ao custo de produo que era maior em relao aos pases do Oriente Mdio.

Outra caracterstica importante reside no fato de que o petrleo por ser um recurso mineral, encontra-se distribudo pelo mundo de forma desigual. Portanto, nem todos os pases possuem esse recurso em abundncia, ou mesmo na quantidade que necessitam para suprir sua demanda. Alm disso, o mercado mundial est voltado quase que completamente para o consumo de petrleo e seus derivados, desta forma este se tornou um recurso estratgico para todos os pases, principalmente para os pases desenvolvidos que mais consomem este produto.

Portanto, a produo de petrleo uma das atividades mais rendosas, j que possui caractersticas que o tornam valioso para o mercado. Mas por outro lado, so necessrios elevados investimentos para encontrar um poo de petrleo e iniciar a produo. Pois esse processo carece de muitos recursos, principalmente no que tange aos estudos geolgicos e equipamentos.

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A cadeia petrolfera est dividida em 3 grandes grupos que englobam vrias atividades. O upstream est relacionado s atividades de explorao e produo de petrleo e gs natural, nesta fase onde h maiores riscos de investimentos, que compensado pela possibilidade de obter elevados lucros. O midstream compreende as atividades de refino, transporte e a importao e exportao de petrleo, gs natural e derivados. Neste grupo destaca-se o refino por ser uma das atividades menos lucrativas, onde se pode obter at mesmo grandes prejuzos. J o downstream inclui a distribuio e revenda de derivados, nestas h muitas possibilidades de ganhos e menores riscos, alm de um vasto mercado consumidor a ser explorado. E, onde conseqentemente concentra-se mais empresas no caso brasileiro.

De forma a realizar o pretendido, o captulo 1 apresentar a definio e exemplificao do processo de gerao do valor agregado. A seguir, estudaremos o mtodo de mensurao do valor agregado e as estratgias utilizadas pelas empresas em geral (integrao vertical, internacionalizao e diversificao). Com o intuito de fornecer ao leitor, ferramentas e conceitos bsicos utilizados para o clculo do VA das principais empresas Petrolferas Brasileiras: Petrobras, Ipiranga, Shell, Esso e Texaco. Assim como, analisar os impactos da estratgia adotada por cada empresa aps a abertura do mercado e os ganhos obtidos atualmente na distribuio de combustveis.

No captulo 2 analisaremos os segmentos da cadeia petrolfera (upstream, midstream e downstream) e as especificidades que abrange este setor. Alm disso, realizado um estudo acerca da logstica deste setor com objetivo de destacar os ganhos que as empresas petrolferas auferem com as estratgias empregadas. Com isto o leitor se familiarizar com esta atividade e poder compreender e analisar os valores adicionados apresentados e a taxa de impostos cobrados sobre os combustveis durante toda a cadeia petrolfera que ser apresentada no capitulo a seguir.

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No captulo 3, pretende-se examinar o mercado brasileiro, o produto interno bruto (PIB) gerado nesta atividade com nfase na distribuio e comercializao de combustveis. Isto ser realizado atravs de uma anlise dos valores adicionados pelas empresas petrolferas. Alm disso, apresentar-se- no captulo 4, o peso da tributao sobre os combustveis e a margem que cada atividade detm na cadeia.

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I. A CADEIA DE VALOR INDUSTRIAL NA ECONOMIA MODERNA

I.1 Mensurao do valor agregado na cadeia produtiva

A sociedade moderna tem como caracterstica marcante a grande escala do consumo de alimentos como tambm de outros bens e de servios que proporcionam conforto e bem estar. No processo produtivo moderno tem-se o processo de gerao de renda em cada etapa, com a respectiva e conseqente criao de renda. O que enfatizado pela viso da anlise econmica, que considera que o fruto do trabalho somente cria valor quando tem-se no extremo, produto ou servio final do processo produtivo que se torna insumo ou matriaprima para a produo de outros bens ou para o consumo final.

O produto final de cada etapa da produo possui um valor maior do que os seus insumos, pois no processo de produo so incorporados fatores de produo, matriasprimas, assim como a depreciao das mquinas e equipamentos empregados na fabricao destes produtos. Esta diferena entre o valor do produto final e os insumos utilizados no processo denominada VA (valor adicionado ou valor agregado). I.1.1. O conceito de valor agregado Para facilitar o entendimento sobre este conceito, exemplificaremos atravs da fabricao de papis, cuja principal matria-prima utilizada a celulose, originada de um recurso natural renovvel (florestas). Neste exemplo, supe-se que uma empresa A, obtenha a celulose somente atravs de eucaliptos e no incorpore a reciclagem de papis ao seu processo produtivo. A plantao de eucaliptos gera valor adicionado, na medida em que, utiliza-se de vrios insumos para o cultivo, tais como: sementes, mo de obra e equipamentos. Portanto, a madeira torna-se um insumo para a produo de papel. Logo, no valor do papel estar embutido o valor da madeira, em cujo valor, por sua vez, est embutido o custo de plantar e extrair o eucalipto, bem como outras matrias primas e fatores de produo tais como os salrios pagos aos trabalhadores da fbrica, a depreciao das mquinas. Enfim, todos os11

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recursos utilizados para a fabricao do papel. Como a produo de papel destinada ao mercado, quando este for vendido para o consumidor ser utilizado como bem final e o processo de gerao de renda e de valor agregado termina nesta fase.

Mas, se o papel for vendido para uma fbrica de cadernos ou uma grfica de livros, ento o produto ser considerado um bem intermedirio para a fabricao de cadernos ou livros. Logo, no preo do caderno ou do livro estar incluso o valor do papel, alm de outros insumos e recursos usados na fabricao destes produtos. Neste caso, gera-se maior valor adicionado e o processo continua at que o produto seja consumido.

A partir deste exemplo, observa-se que a explorao de um recurso, no caso o eucalipto, deu origem a outros produtos que agregaram valor ao longo da cadeia. Inicialmente, o valor da madeira inferior ao valor do papel e este por sua vez inferior ao valor do caderno ou do livro. J que, durante o processo produtivo o produto inicial agrega valor enquanto esto sendo demandadas mo de obra e a utilizao de mquinas e equipamentos, que conseqentemente aumentam o valor do produto. O processo produtivo possibilitou a criao de renda e, por conseguinte, de valor agregado ao longo de cada etapa da cadeia de produo de cadernos ou livros.

Atravs do exemplo descrito anteriormente examinamos o processo de criao do valor agregado ou adicionado na economia. E, conclui-se que toda e qualquer atividade econmica pode gerar valor em toda a cadeia produtiva. A seguir, apresentamos os mtodos utilizados para mensurar o VA a nvel macroeconmico (Pas) que pode ser empregado tanto do ponto de vista mesoeconmico (atividade econmica) como microeconmico (empresa). Este mtodo de mensurao ser utilizado para calcular o VA das empresas selecionadas (Petrobrs, Ipiranga, Shell, Esso, Texaco) que operam no setor petrolfero brasileiro.

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I.1.2. Mtodos de mensurao do valor agregado Em todo e qualquer processo produtivo a quantificao do VA em cada etapa de produo, pode ser realizada atravs de trs ticas, metodologia tambm utilizada para a medio do Produto Interno Bruto (PIB): renda, dispndio e produo (ROSSETI, 1979).

Na tica da renda, o VA obtido atravs do somatrio da renda apropriada pelos agentes econmicos ao longo da cadeia produtiva, durante um perodo determinado. Neste caso, trata-se das remuneraes pagas aos agentes na forma de: salrios, lucros e dividendos aos empresrios e scios, juros aos detentores de capital financeiro, aluguis e outras rendas a detentores de direito de propriedade.

Na tica da produo, calcula-se o valor agregado por meio da diferena entre o valor bruto da produo (VBP) e o somatrio relativo aos bens e servios utilizados como insumo ou de consumo intermedirio (CI), no processo produtivo dessa economia para o mesmo perodo. Considerando o VBP a soma dos valores da produo dos bens e servios numa economia em um dado intervalo de tempo. Atravs deste clculo evita-se o problema de dupla contagem dos bens e servios de consumo intermedirio e, portanto, da superestimao do VA. Desta forma, obtm-se o valor agregado, atravs da diferena entre o VBP e o CI. Sendo possvel realizar tambm uma anlise por setor, atravs da mensurao do valor da produo, deduzido o consumo intermedirio de cada atividade econmica, obtm-se o VA por setor.

Na tica do dispndio, somam-se os valores da produo de bens e servios finais produzidos em um perodo determinado. Para o fim deste clculo, consideram-se somente os bens e servios destinados a demanda final, ou seja, os que sero diretamente consumidos pelo mercado, sem servir de insumo para a fabricao de nenhum outro produto. Esta tica, em alguns casos, apresenta um problema relacionado classificao dos bens em finais ou intermedirios. Como por exemplo, os pneus que so vendidos diretamente para o consumidor so considerados bens finais. Por outro lado, quando so vendidos para uma montadora de

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carros sero avaliados como bens de consumo intermedirio. Desta forma, quando se trata de mensurar o VA de um setor complexo o clculo pode se tornar complicado.

A partir dos elementos apresentados anteriormente examinamos que o processo produtivo gera valor, o que possibilita a empresa auferir lucros. Afinal, ningum investe em um projeto, se no h esperana de ganhos imediatos ou futuros. No entanto, o resultado financeiro das empresas est diretamente ligado s tticas empregadas e as condies do mercado, alm dos recursos disponveis. Segundo o capitalismo, as empresas tm como objetivo principal obter lucros no mercado e para isto utilizam diversas estratgias de mercado que examinaremos em seguida.

Pode-se concluir que o VA em cada etapa produtiva de diversos produtos um dos fatores que influenciam na tomada de deciso de investimento. J que, esta quantia representa no s a remunerao do capital empregado, mas o produto gerado nesta atividade. Alm disso, interessante avaliar o montante de VA que as empresas auferem em determinadas atividades e confrontar com a capacidade de tributao do governo. Isto permite analisar a repartio e o emprego destes recursos pelo governo.

I.2

A cadeia de valor na perspectiva estratgica das empresas

Para superar os limites impostos ao crescimento da firma no mercado em que atua e ao mesmo tempo garantir financiamento para os investimentos planejados, as empresas tem como objetivo estratgico: a integrao vertical (que consiste na entrada em outros segmentos que compem a cadeia produtiva), a internacionalizao de suas atividades e a diversificao de seus servios e produtos (com a entrada em outros ramos de atividade). Associada a condies macroeconmicas e institucionais favorveis, estas estratgias se desenvolveram devido necessidade de alargamento dos mercados.

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Primeiramente, antes de expor as estratgias, definiremos o risco, incerteza, economia de escala e escopo, que esto diretamente relacionadas com as tticas empregadas pelas empresas.

O risco a possibilidade de haver um custo extra ou imprevisto que acarrete em prejuzos contra o qual a firma pode segurar-se. (SALVATORE,1980)

A incerteza quanto ao futuro da economia, envolvendo os suprimentos, os padres e a regularidade do abastecimento, a ocorrncia ou no de crises e de perturbaes da ordem poltico institucional estabelecida. (ROSSETTI,1988)

A economia de escala tambm referida como rendimentos crescentes, se caracteriza, quando o aumento da escala de produo gera resultados mais eficientes. Ou seja, na economia de escala, o dobro de insumos de uma indstria ir mais que dobrar a produo da mesma. (KRUGMAN P., OBSTFELD M.,1999)

Considerando que uma fbrica de papel possui economia de escala, com uma funo de produo F(W,P), onde W e P so os nicos insumos utilizados para a produo de papel. Se dobrarmos os insumos desta fbrica a produo ir aumentar mais que o dobro, assim temos que: F(2W,2P) > 2F(W,P).

A economia de escopo se caracteriza quando o aumento do escopo de produo gera resultados mais eficientes. Onde a produo de dois tipos de produtos numa mesma estrutura ser superior a soma da produo das duas fbricas.

Agora, analisaremos uma fbrica de papel ofcio e de cartolina, ambas possuem economia de escopo. A fbrica de papel ofcio e de cartolina tem respectivamente, as seguintes funes de produo F(A,B) e F(A,C), onde os nicos insumos utilizados nas15

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fbricas so A, B e C. Assim, se adaptarmos a fbrica de papel ofcio para produzir cartolina, a produo ser maior do que a soma do produto das duas fbricas. De forma que: F(A,B,C) > F(A,B) + F(A,C).

I.2.1 A Integrao Vertical

A integrao vertical foi uma ttica predominante, devido as vantagens apresentadas, tais como: ganhos de economia de escala, e em alguns casos economia de escopo. No entanto, h vantagens e desvantagens no processo de verticalizao de uma indstria. Algumas das vantagens esto associadas a valorizao de recursos excedentes em mercado especfico, apropriao da renda, a reduo dos custos ao longo da cadeia produtiva, devido ao menor nmero de intermedirios e a fixao de contratos entre os agentes. A possibilidade de subsdio cruzado permite que um setor da cadeia compense um outro setor, mais ou menos lucrativo, assim a firma pode auferir um maior potencial de crescimento e ganhos de economia de escala e escopo. De modo geral, as vantagens esto associadas economia de escala, pois uma empresa verticalizada tem o domnio parcial ou total do processo produtivo. Deste modo, possvel aumentar a produo e obter custos decrescentes no processo, na medida em que h capacidade instalada ociosa, que permite o aumento da produo com custos marginais cada vez menores. Onde o acrscimo na produo em uma unidade diminui os custos de produo

Segundo Iootty, atravs de ganhos relacionados a economia de escala possvel reduzir os custos. Como por exemplo, se duas firmas complementares passarem por um processo de fuso. A verticalizao poderia ajudar na reduo dos custos de produo ao combinar firmas cujos processos produtivos requerem maior integrao, ou ao reduzir a incerteza que envolve estgios sucessivos de produo.

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De acordo com Hay e Morris (1991) as F&A (Fuses e Aquisies) verticais poderiam auxiliar na reduo de custos de produo de trs formas bsicas:

Reduzindo diretamente os custos de operao, ou custos de transporte, ao concentrar

em uma mesma planta, dois processos produtivos verticalmente integrados.

Eliminando sucessivas margens calculadas sobre custos com a integrao, quando

uma empresa cobra um preo acima do seu custo marginal. Logo, reduziria o custo marginal total de produo, e elevando assim os lucros reais da firma combinada.

Evitando a cobrana de um preo monopolista para o insumo, no caso da demanda

ser maior que a oferta no mercado. Com isso, reduz o custo total de produo e eleva os ganhos reais da firma combinada.

Para esclarecer, retomaremos o exemplo da fbrica de celulose, supondo que capaz de produzir duas toneladas de papel por dia, a empresa no ir produzir somente 0,5 toneladas se houver demanda no mercado para absorver a produo. Ou seja, no h interesse em operar abaixo da capacidade operacional se houver possibilidade de explorar e obter maiores ganhos. Considerando que h custos fixos em capacidade instalada e custos variveis com mo de obra e insumos. Deste modo, se a fbrica decidir produzir mais, poder vender mais produtos e auferir uma receita maior, que cobriria no s os custos, como proporcionaria uma boa remunerao ao capital investido.

Alm disso, a integrao vertical facilita a funo do regulador de monitorar o poder de mercado dessas firmas e reduz o problema de assimetria de informao. Tornando a regulao menos complexa, quando comparada a necessidade de regular centenas de firmas, onde cada uma possui diversas caractersticas diferentes e distores de informao.17

que conseqentemente aumentaria as

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Uma outra estratgia a integrao para trs que consiste no investimento na matriaprima que utilizada durante o processo produtivo. Na viso de Iootty, a integrao de uma firma, com grande market-share, pode criar um mercado cativo de outro segmento. Desta forma, aumentaria a competio entre as empresas que atuam no mercado fornecedor ao mesmo tempo em que reduziria seu poder de barganha. Com isto, a empresa garante o suprimento do bem essencial ao processo, evitando o risco inerente de boicote por parte dos fornecedores. Pois, no mercado em que o insumo monoplio de um ou de poucos fornecedores, cria condies favorveis a formao de cartis com o intuito de conseguir maiores vantagens na negociao do produto.

Alm disso, a integrao elimina processos intermedirios, como transaes financeiras, negociaes, que representam custos para as empresas. Contudo, so necessrios altos investimentos para se realizar a integrao para trs.

Por outro lado, h desvantagens associadas ao processo de verticalizao de uma firma, que esto relacionadas ao funcionamento interno da firma. Na medida em que a firma incorpora mais etapas da produo, esta se torna maior e mais complexa no que tange ao gerenciamento da empresa e conseqentemente a criao de diversos departamentos. A interao entre estes departamentos se torna essenciais para o bom funcionamento da empresa, pois, uma falha de comunicao pode acarretar em erros graves na tomada de decises da firma. Desta forma, a terceirizao de um servio se torna mais vantajoso em um ambiente competitivo, que no seja dominado por poucas empresas deste ramo. Uma vez que, a delegao de responsabilidades reduz o risco de erros relacionado ao mau gerenciamento dentro da empresa.

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I.2.2 A Internacionalizao

A perda de flego dos mercados nacionais nas economias amadurecidas, onde a demanda limita os investimentos, fez com que as empresas buscassem novas estratgias, tal como a internacionalizao. Este processo realizado por meio de fuses e aquisies transfronteirias, que segundo Iootty(2002), possibilitariam a reduo dos riscos de investimentos, j que os retornos dos investimentos em atividades produtivas localizadas em diferentes mercados geogrficos tendem a ser menos correlacionados do que dentro de um mesmo pas (Iootty, 2002, pg31). Ou seja, o risco de investimento realizado em diversos pases relativamente menor se comparado ao investimento concentrado em um nico pas. Uma vez que ocorra inflao ou distrbios polticos dentro de um pas em que a empresa possui investimentos, o risco relativamente elevado. Assim, se os investimentos estivessem distribudos em diversos pases, os riscos poderiam ser consideravelmente menores.

Estas estratgicas foram impulsionadas com o processo de desregulamentao, que removeu as barreiras institucionais entrada e promoveu a abertura s empresas de energia. Nos pases onde h mercado potencial e com dotaes de recursos promissores de petrleo, como o Brasil, formaram-se alianas estratgicas entre as empresas. Isto foi realizado com o intento de aproveitar a economia de escala na cadeia produtiva e conseqentemente, minimizar os riscos e custos ligados aos pesados investimentos. Em alguns casos, tambm h economia de escopo, em setores como o petrleo. Assim como, a possibilidade de diversificao em outros negcios da cadeia produtiva. Estas empresas possuem vantagens competitivas que possibilitam seu crescimento: seja no que se refere ao tamanho pertinente ao porte ou a parcela do mercado dominante, seja pela base financeira com lucros estveis ou maiores quando os investimentos j esto amortizados.

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I.2.3 A Diversificao

O processo de reforma dos setores de infra-estrutura de vrios pases e a convergncia tcnica induz a diversificao com objetivo de: reduzir os riscos relacionados ao investimento, aproveitar as economias de escala e escopo com a possibilidade de subsdio cruzado.

Na viso de Iootty (2002), as firmas diversificam para aproveitar os seus recursos excedentes na procura pela realizao do seu potencial de crescimento. Por outro lado, Penrose considera que a diversificao, enquanto poltica geral de crescimento, ocorre como uma forma natural de superar o entrave que os mercados e produtos existentes definem para a capacidade de crescimento da firma. Portanto, a diversificao pode ser empregada para solucionar problemas especficos, ou ento como uma poltica deliberada de crescimento. No primeiro caso a diversificao seria uma forma de minimizar riscos e incertezas associadas a flutuaes cclicas de demanda. No segundo caso, uma firma em processo de crescimento sempre encontrar incentivo para diversificar, quando a sua capacidade de crescimento superior quela permitida pelo mercado em que ela opera (Penrose, 1959,p.144).

Da mesma forma, Guimares (1982) considera que a diversificao tenderia a ser o caminho natural adotado pela firma que procura superar os limites impostos pelo ritmo de crescimento de seu mercado corrente (Guimares, 1982, pg62).

Para exemplificar, utilizaremos a empresa de celulose que fabrica papel. Esta obteria, maior ganho se ampliasse a oferta de produtos para o mercado, ou seja, se passasse a produzir no s um nico tipo de papel, mas vrios outros. Como o papel manteiga, sulfite, crepom, cartolina, dentre outros. A diversificao dentro de um mesmo ramo pode gerar economias de escopo, se o custo com o processo de adequao para a produo de uma gama de produtos for menor do que o custo de construir outras fbricas que somente produzam um tipo de papel. Neste caso, a aquisio de uma fbrica de papel crepom, por exemplo, teria que ser mais caro do que o custo de diversificao, pois seria necessrio realizar gastos com a20

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contratao de novos trabalhadores, a compra de novos equipamentos, o pagamento de aluguel, a construo de instalaes, os dispndios com transaes legais, dentre outros. Portanto, a abertura de uma nova fbrica um processo muito oneroso, se comparado com a expanso das instalaes dentro da fbrica existente. Ademais, a diversificao de uma determinada empresa no pode ser interessante se esta no proporciona bons rendimentos em relao ao capital empregado.

Portanto, a partir desta anlise possvel analisar que a diversificao realizada com objetivos industriais e financeiros.

Os objetivos industriais esto relacionados a: primeiro: diversificao concntrica, que consiste em atuar em mercados com base tcnica semelhante1 e implementar a diversificao conglomerada onde os investimentos sejam promissores. Com isso, evita-se a reduo abrupta das margens de lucro de um setor, que pode ser compensado pelo aumento em outro, obtendo um subsdio cruzado. Logo, isto possibilita a ampliao da base produtiva e dos tipos de consumidores, com a oferta de um maior leque de produtos e servios diferenciados. No entanto, para operar com custos competitivos no mercado imprescindvel adotar uma tecnologia moderna. Segundo: objetiva-se ampliar/aumentar a capacidade de atrair os consumidores das firmas existentes atravs de promoes ou servios diferenciados. Ou seja, a diversificao uma ferramenta que possibilita aumentar o market-share das firmas atravs de um diferencial em relao a outras empresas. Terceiro, a capacidade de se ajustar ao padro de competio prevalecente no mercado, para ao menos manter sua fatia de mercado. Para isto necessrio acompanhar a demanda e as especificidades do mercado.

1 Tanto na diversificao concntrica, como na diversificao via F&A possvel obter ganhos com a economia de escopo.

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Na viso penrosiana, haveria duas possveis direes para a diversificao da firma. Na primeira, a diversificao aprofundaria a rea de especializao j existente, caracterizandose, mais especificamente, pelo movimento da firma em direo s industrias no interior das suas bases tecnolgica e/ou de mercado e na direo de industrias vizinhas do ponto de vista destas bases de mercado e tcnica. (Guimares,1982,pg 64) . Na segunda, a diversificao relacionada ou concntrica como denominou Wood (1971), representaria a diversificao em direo ou ao mercado existente da firma (mercado-concntrica) ou ao uso de uma tecnologia similar a anualmente utilizada (tecnolgica-concntrica) (wood, 1971,p 428 e 429)

Desta forma, Iootty define que a diversificao estaria relacionada natureza dos recursos existentes e aos tipos de servios produtivos que eles podem gerar.

O processo de diversificao das atividades produtivas na viso de Penrose (1959), se daria em torno das reas de especializao da firma, definidas pela base tcnica/tecnolgica2 utilizada e pelos mercados para os quais a produo direcionada.

No caso de algumas empresas a diversificao procurada para auferir economias de escopo. De modo que a empresa aufira maiores lucros na diversificao de seus produtos, uma vez que a firma j se encontra no ramo e tem conhecimento de seu mercado, torna-se mais fcil expandir suas atividades. Neste caso a empresa possuiria vantagem na diversificao de seu produto, produzindo com custos menores do que outras empresas que trabalham com um nico produto.

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Neste contexto, entende-se como base tecnolgica, cada tipo de atividade produtiva da firma que utiliza mquinas, insumos,

processos, capacitaes e conhecimentos complementares no processo de produo. J que, tanto indstrias diferentes podem possuir a mesma base tcnica, quanto a mesma indstria pode possuir diferentes bases tecnolgicas. A base de mercado, por sua vez, consiste em cada grupo de consumidores que a empresa pretende influenciar com um mesmo programa de vendas. E os mercados seriam definidos de acordo com o tipo de consumidor que a empresa atende, portanto, um mesmo mercado pode incluir vrias bases de mercado. (Penrose, 1959,p.109)

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O aproveitamento dos mercados relacionados em torno dos quais a firma diversifica, segundo Kay, (1007, p 69) possibilitaria a explorao de esforos comuns entre as atividades de origem e destino - em termos de propaganda, pesquisa de mercado, departamento de marketing e vendas. (Iootty,2004)

Diversificao no relacionada ou conglomerada corresponderia entrada em novas reas de especializao que no se relacionam com as suas antigas bases tecnolgicas e de mercado. Desta forma, pode ser realizada com o intuito de reduzir os riscos operacionais, obter ganhos de sinergia financeira, derivados da formao de um mercado de capitais interno. A diversificao conglomerada garantiria a estabilidade dos ganhos futuros da firma diversificada, pois os perfis de retorno das atividades desempenhadas seriam no correlacionados. Desta forma, uma eventualidade sobre uma atividade no necessariamente influenciaria diretamente a outra. Exceto, claro, se ocorrerem eventos externos que afetem tanto uma atividade como a outra.

A diversificao financeira visa minimizar os riscos de perda do aplicador, realizada atravs da diversificao do portflio de aes em ativos distintos. Com isso, o agente se defende das oscilaes do mercado, atravs de firmas multi-utilites que atuam em diversos setores de infra-estrutura.

A separao de linhas produtivas no relacionadas em diferentes divises, de acordo com Iootty (2002), permitem que sejam acessadas como centro de lucro individuais possibilitando, desta forma, a realocao de fluxos de renda de divises pouco dinmicas que requerem investimentos. Deste modo, a forma multidivisional de organizao poderia agir como um mercado de capitais interno. Com isso o acesso aos recursos advindos de uma unidade adquirida no ocasionaria elevao dos custos de transao e outras conseqncias associadas ao pagamento de impostos sobre dividendos. Um outro fator teria origem no aproveitamento de recursos e competncias (habilidades) no totalmente utilizados pela firma em questo como o capital humano, por exemplo.

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Para Iootty (2002), as economias de escopo obtidas atravs da diversificao so baseadas no uso do recurso capital humano (ou no conhecimento, de modo geral) e, portanto, haveria um limite decorrente do congestionamento no acesso a esse recurso produtivo. No entanto, possvel obter economia de escopo baseada no compartilhamento de ativos fsicos indivisveis.

Desta forma, apresentamos os conceitos fundamentais do valor adicionado e os mtodos de mensurao. Assim como, as estratgias atualmente utilizadas pelas empresas para expandir seus mercados e auferir maiores ganhos. No prximo captulo pretende-se apresentar os segmentos da cadeia petrolfera (upstream, midstream e downstream) e as especificidades que abrange este setor. Alm disso, realizaremos um estudo a cerca da logstica deste setor que promove ganhos de escala e escopo.

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II.

A CADEIA DE VALOR DA INDSTRIA DE PETRLEO

Na indstria petrolfera, tem-se uma cadeia produtiva com algumas especificidades que a tornam complexa comparada com outros produtos. A comear por uma caracterstica especial dos minerais, como o petrleo: so recursos no renovveis e conseqentemente, no podem ser produzidos artificialmente como os alimentos. No caso do petrleo, este se tornou um produto valioso por ser a principal fonte de energia utilizada no mundo. Ao mesmo tempo, em que esse mineral se encontra em reservas irregularmente distribudas, em quantidade e qualidade, em todo planeta. Isso permite, que as firmas possuam grandes diferenas na estrutura de custos de produo entre firmas e os mercados. E conseqentemente, a gerao de altas rendas diferenciais e vantagens competitivas na industria petrolfera em todos os segmentos da cadeia. Por outro lado, essa indstria marcada por riscos de natureza especfica, oriundos da incerteza de descobertas de jazidas economicamente rentveis e do risco poltico no pas onde a firma opera, pois isso se refletiria no volume de investimento, alm de outros riscos existentes em outras atividades econmicas.

A seguir apresentaremos as caractersticas naturais do petrleo, assim como as atividades envolvidas no processo produtivo, com a finalidade de promover informaes acerca desta indstria que permitam compreender as especificidades e a importncia da logstica neste setor.

II.1 Geologia do petrleo

Do ponto de vista fsico-qumico, o petrleo uma combinao de molculas de carbono e hidrognio, de origem orgnica, encontrado em bacias sedimentares. Estas so depresses na superfcie da terra preenchidas por sedimentos que se transformaram, em milhes de anos, em rochas sedimentares. Contudo, a presena de uma bacia sedimentar no garante, por si s, a existncia de jazidas de petrleo, pois, necessrio que haja condies propcias para a formao e acumulao do leo, como as rochas geradoras -que contm a25

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matria-prima que se transforma em petrleo- e rochas reservatrio- que possuem poros ou fissuras, capazes de armazenar o leo. Estas rochas so envolvidas em armadilhas, chamadas rochas de cobertura, caracterizada por compartimentos isolados no subsolo onde o petrleo se acumula e que impede a migrao do leo para outras reas.

A seguir, analisaremos os segmentos da cadeia petrolfera, que so: upstream, midstream e o downstream. O upstream est relacionado s atividades de explorao e produo de petrleo e gs natural. O midstream compreende as atividades de refino, transporte e a importao e exportao de gs natural, petrleo e seus derivados. E finalmente, o downstream inclui a distribuio e revenda de derivados. Cada segmento ser analisado a seguir:

II.2

Explorao e produo

A atividade de explorao de petrleo pode ser considerada uma atividade essencialmente arriscada e de custo elevado. Devido necessidade de volumosos investimentos para financiar os gastos com uma extensa e multidisciplinar base de conhecimento. Estes custos esto relacionados aos levantamentos geolgicos e estudos necessrios para constatar a possibilidade de existncia de petrleo, atravs da geofsica, sismologia, modelagem, processamento de dados e a ampla multiplicidade de tecnologias sofisticadas, como a sondagem e a perfurao. Alm disso, necessrio um estudo para avaliar as reas descobertas, identificar as jazidas e viabilizar as atividades de extrao do leo. Mas, para operar nesta atividade imprescindvel que a firma obtenha uma licena para a explorao.3

A produo de petrleo realizada na terra chamada onshore. No caso das reservas encontradas na gua, em mares e oceanos, a produo chamada de offshore. A produo3

No caso brasileiro, isso realizado atravs da rodada de licitaes promovida pela ANP (Agncia Nacional do Petrleo), rgo responsvel pela regulao desta atividade. 26

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offshore mais complexa devido profundidade em que se encontra o leo. Desta forma, a perfurao necessita de alta tecnologia, assim como um severo sistema de segurana para evitar os riscos de derramamento de leo na gua. Entretanto, a produo onshore tambm possui riscos de acidentes relacionados a exploses que acarretariam na perda do poo. J que este permaneceria queimando por muito tempo at consumir o combustvel, que por natureza inflamvel, considerando que o custo para controlar este tipo de incndio extremamente elevado. Atualmente com a tecnologia moderna os riscos de acidentes so reduzidos, mas ainda existentes.

A explorao se divide em duas partes: a primeira, constituda de estudos geolgicos e geofsicos, e a segunda, que envolve a perfurao de um ou mais poos de prospeco. Este processo demanda muito tempo podendo levar em mdia oito anos para a realizao de todas as etapas.

A Geologia de superfcie analisa as caractersticas das rochas nas superfcies e pode ajudar a prever seu comportamento a grandes profundidades, analisando desta forma a presena de leo e o volume estimado de reservas. J, a Geofsica estuda as caractersticas das rochas e identifica as estruturas geolgicas. Para isso, utiliza-se de sofisticados equipamentos para realizar uma radiografia do subsolo, por meio do qual obtm maiores informaes sobre o solo, o que permite delimitar uma rea com maiores probabilidades de existncia de um campo de petrleo.

Outra ferramenta utilizada nesta fase a ssmica, que compreende pequenos terremotos artificiais, provocados geralmente atravs de explosivos, produzem ondas sonoras que so interpretadas na busca de formaes geolgicas tpicas de armadilhas para o petrleo. Atualmente, utiliza-se a ssmica tridimensional que permitiu um aumento da velocidade e preciso da explorao ssmica. Alm de permitir uma visualizao dos mapas de qualquer ngulo, facilitando desta forma as anlises dos dados.

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A prospeco ssmica pode ser dividida em diferentes fases. A primeira fase consiste no levantamento de dados atravs de campanhas ssmicas. Atualmente existe um mercado bem desenvolvido de dados ssmicos. O custo da prospeco ssmica depende muito do tipo de regio estudada, em mar (off-shore) o custo chega a ser de 5 a 10 vezes menor do que em terra. Atualmente, existem navios ssmicos, que realizam o levantamento de dados ssmicos de grandes extenses com baixo custo e num curto perodo de tempo. No caso da prospeco em terra, o custo afetado pela disponibilidade de transporte de equipamentos regio de explorao. (Almeida, 2003)

A segunda fase da atividade de pesquisa ssmica trata do processamento dos dados levantados para a posterior anlise da estrutura geolgica do subsolo. A anlise dos dados ssmicos crucial para o sucesso econmico das empresas de petrleo porque no processamento de dados podem ser identificados grandes campos de petrleo. Por esta razo que as empresas de petrleo no terceirizam esta atividade. (Almeida, 2003)

A terceira fase da ssmica a interpretao do perfil geolgico das reas analisadas para determinar se dever haver ou no perfurao. Estes estudos so de grande importncia, para determinar com algum grau de preciso onde se encontram os reservatrios de petrleo e gs, pois cada poo perfurado custa em mdia de um a cinco milhes de dlares e pode levar meses para ser realizado. No entanto, apesar da sofisticao dos estudos realizados para delimitar uma rea favorvel para a formao de leo, estes no so suficientes para garantir a presena, pois, esta somente poder ser confirmada com a perfurao dos poos. E, portanto, corre-se o risco de perfurar um poo e no encontrar petrleo. Atualmente, a maioria das perfuraes resulta em poos secos. (Almeida, 2003).

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Em um estudo realizado recentemente, a probabilidade de sucesso de 1 a cada 5. Ou seja, necessrio perfurar 5 poos para encontrar 1 que possua petrleo. Alm disso, a extrao e a produo de leo pode no ser lucrativo, pois isso depende da relao competitiva entre custos e preos praticados internacionalmente. A intensidade do esforo exploratrio depende dos resultados inicialmente obtidos, onde uma rea inicialmente abandonada pode ser retomada com um re-estudo das informaes e com emprego de novas idias ou mtodos. .

A atividade de explorao muito arriscada e onerosa, entretanto, uma vez encontrado um poo de petrleo economicamente rentvel, os rendimentos obtidos com a produo so muitos elevados e vantajosos. Dependendo da reserva encontrada e a quantidade possvel de extrao, pode-se obter lucros extraordinrios. Portanto, essa fase marcada por incertezas quanto ao retorno de investimentos, alm dos riscos de mercado relacionado aos preos instveis. Por outro lado, h a possibilidade de elevados rendimentos e lucros exorbitantes. A fase de produo de petrleo geralmente realizada pela mesma empresa ou consrcio que realiza os investimentos em explorao. Apesar dos elevados custos envolvidos nessa fase com o sistema de segurana e os equipamentos necessrios para o incio da produo, no caso de poos offshore (plataformas) e no onshore (gafanhotos), ainda h riscos, mas so menores se comparados com a fase de explorao.

Devido a estes fatores, as empresas petrolferas investem na integrao vertical no s para amenizar os riscos do setor e obter maior lucratividade como tambm, para garantir o suprimento do leo necessrio em toda cadeia. Neste contexto, segundo Alveal, a adoo da estratgia de integrao se d por vrios fatores:

O sentido racional da integrao, porm obedece basicamente a natureza esgotvel do petrleo e incerteza caracterstica da atividade de explorao e produo. Esta atividade concentra cerca de 70% dos dispndios de capital da industria, d origem a toda sua cadeia de valor, e, sobretudo, centraliza as suas possibilidades de gerao e apropriao de renda. (Alveal, 2003)29

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II.2.1 Desenvolvimento

Aps a avaliao dos dados obtidos na fase de explorao, analisada a viabilidade econmica para desenvolver o campo de petrleo. Nesta fase, prepara-se o campo para a produo comercial de petrleo. Na fase de explorao, apesar dos riscos serem menores, esta atividade tambm caracterizada por riscos no desprezveis, que esto associados possibilidade de se obter um volume de leo inferior ao estimado na fase de explorao. (Almeida, 2003) Subestimando o valor da receita que seria auferida com a explorao do campo, que poderia ser insuficiente para compensar os custos despendidos no processo.

As principais atividades da fase do desenvolvimento do campo so a perfurao dos poos de desenvolvimento, instalao de equipamentos necessrios extrao, tratamento e estocagem do leo produzido.

Geralmente, as atividades de explorao, desenvolvimento e manuteno das principais empresas de petrleo so terceirizadas por meio de empresas de servios, de engenharia e de fornecedores de equipamentos. As empresas que atuam como fornecedoras ou contratadas das empresas de petrleo constituem a indstria para-petrolfera. Esta indstria est sujeita as empresas que possuem elevado poder de mercado. Alm disso, devido flutuao dos preos do petrleo e do volume de investimentos realizados pelas empresas, a indstria parapetrolfera possui um nvel de atividades extremamente cclico, pois esto altamente correlacionados. Para amenizar estes efeitos este setor adotou uma estratgia de concentrao industrial atravs da diversificao correlata. (Almeida, 2003)

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II.2.2 Perfurao

Os estudos geolgicos e geofsicos permitem identificar a possibilidade de presena de leo. De acordo com os resultados obtidos, as empresas de petrleo podem optar por avanar no trabalho de explorao perfurando um ou mais poos exploratrios. Logo, a perfurao uma tecnologia-chave na explorao e produo de petrleo. Os custos de perfurao podem representar entre 40 a 80% dos custos de explorao e desenvolvimento de um campo de petrleo. (Almeida, 2003)

A despeito da maioria das vezes, a perfurao resulte em poo seco, isto no significa que a campanha exploratria sofreu um fracasso. Isto porque, cada poo perfurado pode aumentar o conhecimento geolgico da rea em explorao. Atravs de equipamentos por meio de raio laser ou via ultra-som capazes de identificar as caractersticas fsicas e qumicas das rochas analisadas.(Almeida, 2003)

A perfurao realizada atravs da sonda de perfurao, composto pela torre, tubulaes de ao, broca e a sonda. H vrios tipos de sondas de perfurao, as primeiras sondas utilizavam a tcnica de perfurao por percusso, ou seja, as sondas so iadas por cabos e perfuravam o solo atravs do impacto de seu peso no solo. Atualmente, existem vrios tipos de brocas, tal como a broca de roletes (ou Tricone), brocas de diamante e a broca de lmina. O tipo de broca utilizada depende das condies especficas do solo. (Almeida, 2003)

O trabalho de perfurao de um poo exige uma boa coordenao entre as atividades e deve ser realizada de forma ininterrupta. Uma vez que, a paralisao da atividade acarreta custos elevados para se recolocar a sonda em operao, pois esta atividade demanda muita mo de obra para a operao da sonda, j que grande parte do trabalho feita manualmente. Neste processo, uma atividade muito importante e altamente custosa, alm de trabalhosa a troca da broca, porque necessrio iar toda a tubulao e desmontar todas as emendas (juntas) e realizar o processo inverso para entrar novamente em operao.31

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O trabalho de perfurao envolve muitos riscos, como as erupes de gs e leo que podem provocar danos nos equipamentos de perfurao e perigos de exploso. Alm disso, o custo de controle de incndio elevado. Portanto, para prevenir este tipo de acidente foram desenvolvidas vlvulas especiais, que so parafusadas na boca do poo, conhecidas como BOPs ou (Blow-Out Preventers).

Os custos de perfurao de um poo de petrleo variam de acordo com a regio explorada. O custo pode ser de at cinco milhes de dlares em terra e vinte milhes no mar. Devido aos elevados riscos inerentes a esta atividade, dificilmente as instituies financeiras financiam este tipo de operao. Desta forma, os empreendedores necessitam de um alto grau de autofinanciamento.(Almeida, 2003)

H muitos contratos de perfurao entre as operadoras e as prestadoras de servios, onde o preo estabelecido por metro perfurado ou por dia de operao de sonda. J que os equipamentos so extremamente caros as empresas optam por terceirizar esta atividade.

II.2.3 Explorao e produo em terra (onshore)

A perfurao em terra realizada atravs de uma sonda de perfurao, constituda de uma estrutura metlica de mais de 40 metros de altura (a torre) e de equipamentos especiais. No processo de perfurao utilizada a lama de perfurao4 a fim de manter a presso ideal no poo, evitar o desmoronamento das paredes, remover os detritos da rocha perfurada e para lubrificar e arrefecer a broca, alm de deter a subida do gs e do petrleo, em caso de descoberta.

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A lama de perfurao um fluido especial, composto basicamente de uma mistura de argila, aditivos qumicos e gua. 32

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Atravs da anlise dos detritos removidos pela broca, no processo de perfurao, possvel ter certeza da existncia ou no leo no campo em perfurao. A perfurao de um poo nem sempre revela a presena de petrleo no subsolo, onde mais de 80% dos poos pioneiros no Brasil e no mundo no resultam em descobertas aproveitveis.Apesar de uma perfurao no obter sucesso, esta pode fornecer indicadores e informaes importantes para o prosseguimento das perfuraes, porque permitem maiores informaes sobre a rea explorada.

Os poos exploratrios classificam-se em pioneiros, delimitao ou extenso. Os poos iniciais so chamados pioneiros e tm por objetivo testar reas ainda no produtoras. Os poos de delimitao ou extenso so perfurados para estabelecer os limites do campo. Se for confirmada a presena de leo, em volume comercialmente aproveitvel, inicia-se o processo de perfurao dos poos de desenvolvimento e o campo posto em produo. Em geral, os poos pioneiros e de delimitao so aproveitados para produzir.

II.2.4 Explorao e Produo no mar (offshore)

No mar, as atividades so praticamente idnticas s de terra. No entanto, as perfuraes martimas so realizadas atravs de plataformas fixas ou flutuantes, sondas do tipo barcas, plataforma auto-elevadora, sondas semi-submersveis e navios-sonda.

As plataformas mais comuns so de dois tipos: as semi-submersveis e auto-elevveis. Os navios-sonda parecem navios convencionais, mas possuem, uma torre e uma abertura pela qual realizada a perfurao. No litoral brasileiro houve perfurao de um poo, em lmina de gua, de 2.777 metros de profundidade, que consiste no atual recorde mundial.

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II.2.5 Produo

No caso do campo se revelar comercial, comea a fase de produo. O leo produzido pode ser vendido como uma commodity no mercado internacional. E o preo definido no mercado spot nas grandes praas mundiais. (Almeida, 2003)

Por outro lado, o custo do leo varia muito, devido s diferenas de condies geolgicas de cada regio produtora. Esta grande diferena no custo do leo gera grandes rendas (ou lucros extraordinrios) para as regies de menor custo de produo de leo. Devido a este fato, os governos dos pases com grandes reservas de petrleo tentam estabelecer impostos elevados sobre o petrleo produzido, visando se apropriar de parte desta renda. (Almeida, 2003)

De acordo com Almeida (2003), o custo tcnico de extrao do leo engloba as despesas na fase de explorao (entre 10 a 20% do custo total), desenvolvimento (cerca de 50% do custo total) e a produo e transporte do leo (entre 30 a 40% do custo total).

Os poos urgentes so casos em que o leo emerge para a superfcie espontaneamente, impelido pela presso interna dos gases. Em outros casos, so utilizadas tecnologias de recuperao de petrleo para promover a elevao artificial dos fluidos. Segundo Almeida estas podem ser divididas em:

Recuperao primria: utilizao da energia prpria do campo e estimulao atravs

da fratura da rocha ou perfurao horizontal.

Recuperao secundria: injeo de gua e gs para manter a presso (aumento da

energia do campo). Estas duas tcnicas so utilizadas de forma freqente.

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Recuperao terciria ou assistida: que contempla outros mtodos de recuperao

utilizados aps a injeo de gua e gs: processos trmicos para diminuir a viscosidade (injeo de vapor ou combusto parcial do gs ou leo), injeo de solventes (gs carbnico, gs hidrocarbonado) e injeo de produtos qumicos dissolvidos em gua.

O tempo decorrente entre a descoberta de uma jazida e o incio da produo necessrio uma mobilizao de centenas de profissionais e a aplicao de bilhes de reais, com o intuito de montar uma complexa infra-estrutura que permita a extrao do petrleo e seu escoamento at as refinarias. Portanto, so necessrios enormes investimentos para a construo de plataformas de produo martima, oleodutos, gaseodutos, estao coletoras de petrleo, instalaes de tratamento e terminais petrolferos.

II.3 Refino

No processo de refino obtm-se diversos derivados de petrleo, dentre os quais se destacam os combustveis. Cada refinaria se adapta o processo de refinamento ao mercado em que atua, de forma a produzir os derivados demandados pelos seus consumidores. Este processo complexo, como destacado por Almeida (2003):

O princpio bsico do refino de petrleo a separao dos diferentes tipos de hidrocarbonetos que compe o leo cru, atravs do aquecimento progressivo do leo. J que, os hidrocarbonetos possuem diferentes temperaturas de ebulio possvel atravs do aquecimento do petrleo separar os componentes mais volteis dos mais pesados.(Almeida,2003)

Os processos utilizados nas refinarias variam de acordo com o tipo de leo. H vrios tipos de tcnicas utilizadas para promover a separao dos componentes mais leves dos mais pesados. Como por exemplo, a destilao primria (onde se obtm a gasolina, leo diesel,35

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nafta, solventes, querosenes e uma parte de glp), destilao a vcuo (diesel e gasleo), craqueamento cataltico (gasleo = glp, gasolina e leo diesel).

No processo de refinamento, o petrleo separado em fraes desejadas, processado e transformado em produtos rentveis. Dentre dos quais se destacam os combustveis que so vitais para a atividade econmica mundial. Uma vez que estes so a principal fonte de energia que abastecem os meios de transporte, as mquinas e equipamentos das industrias.

Esta atividade marcada por uma complexa tecnologia que necessita de constantes investimentos para atender no s, a demanda do mercado e a qualidade exigida pela legislao ambiental, como tambm para aumentar a produtividade do barril processado de leo. Otimizando o processo de refino, de forma a obter uma parcela maior de combustveis que so os mais consumidos pelo mercado. Mas, devido s especificidades desta atividade o custo muito elevado, destacando-se como a mais baixa rentabilidade de toda a cadeia produtiva.

Desta forma, importante conhecer a qualidade do petrleo, pois o conhecimento prvio dessas caractersticas facilita a operao de refino. J que, sua composio varia muito de acordo com as condies geolgicas para a sua formao, que podem ser classificados em petrleo leve5, petrleo pesado6, petrleos com alto ou baixo teor de enxofre, etc.

A quantidade e qualidade dos derivados obtidos com o processamento do leo dependem do tipo de petrleo e da tecnologia disponvel na refinaria. Os principais combustveis derivados so: gasolina, glp, querosene de aviao, leo diesel e leo combustvel.

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O petrleo leve possui elevado rendimento em nafta e leo diesel. O petrleo pesado tem alto rendimento em leo combustvel. 36

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Os derivados de petrleo mais valorizados comercialmente so os produtos brancos (menos viscosos e mais volteis). A produo destes torna-se privilegiada, induzindo as refinarias a utilizarem processos de converso de molculas pesadas em produtos brancos, como o craqueamento e a hidrocracagem.

A localizao da refinaria vital para a logstica de distribuio, portanto consideram-se diversos fatores, tais como: a regio de grande consumo de derivados e a proximidade das reas produtoras de petrleo. Para reduzir os custos de transporte e garantir a disponibilidade do produto nos principais centros de consumo. As empresas de petrleo recorrem a uma estratgia de verticalizao com o intento de aproveitar as economias de escala e escopo existentes no processo produtivo, alm de obter um maior rendimento do investimento aplicado. Neste contexto, a refinaria considerada parte de um negcio, assim sua margem pode ser inclusive negativa, se no conjunto de todos as atividades o negcio for lucrativo.

No entanto, com a nacionalizao das reservas da OPEP, as empresas sofreram uma desverticalizao parcial, devido perda de grande parte de suas reservas. E conseqentemente, suas atividades ficaram focalizadas no downstream e o refino passou a ser uma atividade que as empresas buscam transparncia de custos e lucratividade.

O segundo choque do petrleo no incio dos anos 80, provocou um excesso na capacidade de refino nestes pases, ou seja, a oferta de derivados de petrleo foi superior a demanda. Isto est associado ao primeiro choque do petrleo que elevou os preos no mercado internacional estimulando os investimentos em energia alternativa e viabilizando vrios campos de petrleo, cujo custo de produo eram extremamente elevados em comparao com a concorrncia. O aumento da produo de petrleo aliado a queda de demanda com o surgimento da energia alternativa refletiram negativamente na margem do refino. Segundo Almeida, esse evento acarretou no fechamento de cerca de 30% das refinarias ao longo dos anos 80.

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Para contornar a situao e aumentar a rentabilidade das refinarias, as empresas petrolferas investiram no desenvolvimento tecnolgico adaptando o perfil do refino evoluo da demanda e as especificidades do mercado. Isto se refletiu principalmente, no aumento da produo de produtos brancos em relao aos escuros, por meio da adoo de tecnologias de converso. De acordo com Almeida, a tecnologia permitiu aumentar de 55% para 80% a participao dos derivados leves na produo.

Por outro lado, na dcada de 90, houve uma evoluo do padro de qualidade do produto, no que tange as externalidades ambientais. As restries de consumo de derivados pesados aumentaram e as normas se tornaram mais rgidas em relao qualidade do produto.

Na viso de Almeida, a reduo da rentabilidade das refinarias devido as constantes necessidades de inovaes tecnolgicas e a legislao ambiental cada vez mais rgida acarretou no fechamento de vrias instalaes, conservando apenas algumas consideradas estratgicas para o acesso ao mercado. Apesar dos desafios intrnsecos nesta atividade, estes riscos so necessrios, pois a refinaria a atividade chave porque a etapa intermediria entre a explorao/produo e a distribuio da indstria petrolfera, sendo responsvel pela produo de vrios derivados, tais como os combustveis que possuem um alto valor comercial no mercado. Logo, a empresa que domina esta atividade est garantindo o abastecimento de seu produto na comercializao, e ainda auferindo ganhos de economia de escala e escopo. J que, quanto maior a escala da planta do parque de refino, menor ser os custos de produo, pois o custo de construir uma refinaria, com uma capacidade de produo ou processamento de grande escala, menor do que o custo de produzir os produtos individuais. Alm disso, a relativa indivisibilidade dos fatores de produo mobilizados permite o aproveitamento comum de matrias primas, processos e equipamentos nas diferentes unidades da planta de refino. Esse segmento ainda beneficiado por outras economias de escala: de financiamento, de operao e de volume de vendas que esto associados ao aumento de dimenso das plantas.

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II.4 Transporte

Se por um lado, a rentabilidade na atividade de refino baixa, a economia de escala obtida em outras atividades significativa, desta forma, possvel compensar em outras atividades. A rede de transportes do petrleo responsvel pelo deslocamento do produto desde as reas de produo at as refinarias, como tambm dos produtos derivados do refino para os mercados consumidores.

Os meios de transporte mais utilizados pela indstria petrolfera so os navios petroleiros, dutos e terminais Martimos. Os dutos so classificados em oleodutos (transporte de lquidos) e gasodutos (transporte de gases) que por sua vez se dividem em terrestres (construdos em terra) ou submarinos (construdos no fundo do mar). Os oleodutos tambm so chamados de polidutos, pois transportam derivados de petrleo e lcool. Os navios petroleiros transportam gases, petrleo e seus derivados, alm dos produtos qumicos. A transferncia da carga dos navios para a terra ou vice-versa realizada atravs dos terminais martimos.

O transporte do petrleo dos campos de produo terrestres e martimos para as refinarias realizado principalmente atravs de oleodutos. Quando importado, ele descarregado nos terminais martimos e transferido para as refinarias atravs de oleodutos.

O transporte para longas distncias realizado principalmente atravs de navios que representam o menor custo, enquanto que, os oleodutos, gasodutos e polidutos so considerados mais seguros e econmicos para transportar grandes volumes de petrleo, derivados e gs natural em pequenas distncias.

Os petroleiros so capazes de armazenar grandes quantidades de petrleo. Isso aumenta a economia de escala no processo, pois possvel transportar num nico navio uma

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quantidade maior do que antes, quando era necessrio dois ou mais navios. Ao longo do tempo, o tamanho dos petroleiros foi aumentando, a fim de obter economia de escala, que viabilizasse o transporte em distncias cada vez maiores a custos menores. Contudo, esses ganhos dependem no s do volume de carga, mas tambm da distncia a ser percorrida pelo produto at o seu destino.

Alm disso, este sistema permite a retirada de circulao de centenas de caminhes, economizando combustvel e reduzindo o trfego de veculos pesados nas rodovias. Resultando na melhoria do trnsito, preservao das estradas e reduo da emisso de gases txicos.

No caso do transporte a curta distncia, os menores custos esto no modal dutovirio, ou seja, o transporte realizado por meio de dutos. No entanto, a construo de oleodutos muito onerosa, pois exige a construo de instalaes subterrneas que somente vo ser utilizadas para o transporte de leos. O que restringe a economia de escopo deste meio, apesar disso, h a possibilidade de ganhos de escala, pois o custo do transporte atravs de oleodutos depende da capacidade destes, ou seja, quanto maior o dimetro do oleoduto, menor o custo de transporte do leo. A construo de dutos com grande capacidade demandariam gastos com mo de obra e instalaes, da mesma forma que um duto com pequena capacidade demandaria. Visto que o tamanho do dimetro do duto que determina a capacidade de transporte.

Ao mesmo tempo, os avanos tecnolgicos beneficiaram o setor com a inveno de motores e turbinas de propulso, automao e aumento de velocidade dos navios e criao de computadores. Estas tecnologias otimizam tempo e trabalho, tanto a nvel organizacional como estrutural, gerando desta forma maior segurana e reduo da mo de obra. Por outro lado, a forma natural do leo (lquido) torna o transporte mais fcil se comparado com outros combustveis como o carvo ou a lenha.

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Logo, devido aos avanos tecnolgicos e a caracterstica da natureza fsica do leo, que facilmente transportado, possibilitaram a reduo dos custos com a economia de escala obtida no transporte.

II.5 Distribuio e revenda de derivados

A distribuio e revenda de derivados so atividade que possuem menos riscos de investimento de toda a cadeia petrolfera, mas que demandam tambm valores elevados. O investimento necessrio para a construo de um posto pode chegar a um milho de reais, dependendo da localizao, do tamanho e dos servios oferecidos, como lojas de convenincia. Alm disso, atualmente as normas ambientais so mais severas e exigem instalaes modernas e seguras. Este um fator diferencial na concorrncia, na medida que um posto construdo atualmente tem que atender as especificidades impostas pela ANP, os outros postos que esto decadentes no so pressiomados a atender as mesmas exigncias. Portanto, o posto novo tem que cobrar um preo maior do que os outros para obter o retorno do investimento aplicado. Assim, a maioria das grandes distribuidoras investem na construo dos postos em parceria com terceiros. A distribuio e revenda de combustveis so consideradas um grande negcio j que os derivados de petrleo possuem alto valor comercial, principalmente os combustveis que so a principal fonte de energia da economia.

Com os elementos apresentados acima sobre a indstria petrolfera analisaremos a seguir a logstica e interao entre os setores. E aplicaremos os conceitos expostos no captulo 1 sobre as estratgias utilizadas pelas empresas em busca de maiores receitas e poder de mercado.

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II.6 Dinmicas de organizao estratgica e logstica na indstria do petrleo

Originalmente a logstica estava ligada s operaes militares, pois, durante as batalhas, as estratgias militares eram utilizadas para monitorar as atividades de ataque e defesa. Objetivando a otimizao dos recursos militares e das tropas, de forma a obter o melhor aproveitamento dos recursos disponveis. Em uma empresa, esta estratgia empregada para aprimorar sua performance no mercado, empregando de forma produtiva os seus recursos, alm de reduzir os principais custos que esto relacionados estocagem.

II.6.1 O papel da logstica na organizao de estratgia de cadeia de valor das firmas

O Council of Logistics Management norte americano, define logstica como: um processo de planejar, implementar e controlar de maneira eficiente o fluxo e armazenagem dos produtos, bem como dos servios e informaes associados, cobrindo desde do ponto de origem at o ponto de consumo, com o objetivo de atender aos requisitos do consumidor.

Segundo NOVAES (2001) a cultura, as caractersticas de interdependncia entre rgos internos, a maturidade do mercado e indstrias do ambiente, so fatores chaves da formatao organizacional logstica.

O produto da logstica resultado da interao entre os diversos setores em um processo integrado, que envolve a produo at a distribuio no mercado. Desta forma, as empresas se classificam com trs caractersticas principais: i) a tecnologia que caracterizada pela alta densidade, complexidade e grandes investimentos em pesquisa e desenvolvimento; ii) a transformao/produo que mais incorpora a logstica durante o processo produtivo; iii) logstica/distribuio so as atividades cujo gerenciamento dos fluxos logsticos realizado de forma harmoniosa.(NOVAES, 2001).

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Durante o processo produtivo tem-se a logstica de entrada de matria prima, e a de sada do produto, que est relacionada com a distribuio dos produtos para o mercado. Dentro deste sistema h trs nveis de movimentos, que so os fluxos fsicos (de matria e produto), financeiros e de informao.

Grande parte do problema relacionado ao processo produtivo a distncia entre os centros produtores da indstria e os mercados consumidores; e a distancia entre a fbrica dos pontos de origem das matrias primas e dos componentes necessrios aos processos produtivos. Isto se reflete, em primeiro lugar, nos custos de transportes, dado a complexidade do deslocamento do produto. Alm disso, um outro fator importante est ligado a dinmica da produo, que relaciona o processo produtivo ao mercado consumidor. Ou seja, devido defasagem de tempo e a dificuldades de interligao entre as cadeias de produo pode haver problemas para atender a demanda do mercado.

Por muito tempo, as atividades logsticas foram confundidas com transporte e armazenagem, na medida em que o valor do produto depende do custo do transporte da fbrica at chegar ao consumidor final. No entanto, apesar do transporte ser essencial para a comercializao dos produtos, o valor do tempo tambm um elemento importante. Na medida em que a entrega no prazo estipulado pelo revendedor pode ser essencial, tanto para repor os estoques e disponibilizar produtos aos consumidores evitando problemas de falta de produto, bem como ser capaz de atender a um aumento de demanda inesperada pelos consumidores em um determinado perodo.

Um outro elemento essencial a qualidade do produto, pois o principal diferencial utilizado pelas as empresas. Portanto, para garantir o valor da qualidade do produto, at que este chegue ao consumidor, necessrio adequar boas condies de transporte e manuseio do produto, assim como de estocagem. Enfim, neste processo, a informao torna-se um elemento chave na cadeia logstica, porque quando aplicada no sistema otimiza o conhecimento entre as cadeias de produo, permitindo uma correo rpida e eficaz dos

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problemas que surgem durante a cadeia, como nas situaes de emergncia que ocorrem de ltima hora.

A logstica empresarial agrega o valor de lugar, tempo, qualidade e informao cadeia produtiva, ao mesmo tempo em que elimina do processo o que no tem valor para o cliente. Este conceito envolve tambm elementos humanos, materiais, tecnolgicos e de informao aos seus servios.

Desta forma, devido concorrncia no mercado e a busca pela eficincia, as firmas implementam a logstica empresarial, visto que, esta estratgia otimiza os recursos, reduz os custos e melhora a qualidade dos servios prestados. Neste sentido, atravs da moderna logstica possvel: incorporar prazos a serem cumpridos, realizar uma integrao efetiva, otimizar o processo com a racionalizao das etapas e obtendo com isso a satisfao plena do cliente. Alm disso, com os avanos na organizao, no planejamento, na tecnologia e na engenharia de processos pode-se reduzir a necessidade de infra-estrutura e de capacidade de armazenagem nas plantas.

II.6.2 A organizao estratgia e a logstica na estrutura petrolfera

Devido s vantagens apresentadas, aliadas as caractersticas tcnico-econmicas e as estruturas empresariais da atividade do petrleo estimulam a maioria das firmas a integrar verticalmente suas atividades, com o intento de distribuir e reduzir os riscos e os custos, alm de obter ganhos ao longo da cadeia produtiva.

A logstica empresarial aplicada conjuntamente a outras estratgias, tais como a integrao vertical, internacionalizao e diversificao, otimiza as atividades da empresa no mercado em que atua. Ao proporcionar os elementos essenciais na conquista do mercado relacionados rapidez, qualidade, estrutura de distribuio e informao. O pleno

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funcionamento da empresa e a parcela de mercado dependem do bom funcionamento destes fatores em todo o segmento.

A integrao vertical concentra o controle total ao longo de todos os segmentos, atravs da troca de informao entre os setores que garantem a qualidade e o fornecimento do produto ao mercado. O conhecimento do funcionamento da complexidade de toda cadeia gera o desenvolvimento tecnolgico e fornece uma viso privilegiada na tomada de decises da firma. Alm disso, a atuao da empresa na ponta, ou seja, o relacionamento junto ao consumidor garante a simpatia do pblico e possibilita a troca de informaes. Isto permite a empresa adaptar o produto de acordo com as exigncias do mercado consumidor criando um diferencial em relao concorrncia.

A internacionalizao fundamentalmente a busca por novos mercados, que pode ser realizada por diversos motivos, tais como a busca de um mercado consumidor, ganhos de escala na produo de derivados ou o aumento de reservas minerais. A procura por novas reservas minerais uma necessidade intrnseca no setor, pois na medida em que o leo extrado, as empresas precisam repor suas reservas para garantir a oferta de produto no mercado. A logstica torna-se um elemento diferenciador no processo para determinar a localizao das instalaes da empresa e do mercado que atende, pois desta forma possvel aumentar a escala, como em alguns casos em que a capacidade ociosa de uma refinaria pode atender um mercado em outro pas, considerando que as polticas vigentes no pas hospedeiro sejam favorveis.

A diversificao das atividades ou dos produtos que uma empresa produz pode se tornar mais rentvel se for bem gerenciada. Neste cenrio a logstica possui um papel importante no s porque permite o aproveitamento da estrutura existente, como tambm a aplicao da informao disponvel gera conhecimento do mercado em que a atua.

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Em cada etapa da cadeia petrolfera a logstica um elemento essencial. Tanto na explorao e produo, onde o planejamento para o escoamento do produto at as refinarias, assim como as localizaes da refinaria em relao ao mercado consumidor e ao campo produtor so extremamente importantes no que tange ao fator tempo e custo de deslocamento do produto para atender o mercado consumidor.

A logstica de distribuio importante na atividade de transporte, porque para explorar as economias de tcnicas de escala, as empresas de petrleo devem manter um grande nmero de pontos de vendas para atender o mercado. Para alcanar este objetivo necessria, uma logstica em termos de bases de armazenamento e distribuio de derivados. Desta forma possvel obter importantes economias de escopo, j que a mesma logstica pode ser utilizada para comercializar outros tipos de derivados.

A interao e coordenao de todas as reas envolvidas no processo de produo at o consumo final so vitais para que a empresa obtenha um bom desempenho no mercado. A logstica empresarial permite as empresas promovam uma sintonia entre todas as reas internas, em especial a troca de informaes que permitem bons resultados financeiros e econmicos.

No prximo captulo apresentaremos a evoluo da indstria petrolfera no Brasil e o impacto desta sobre a economia do pas. Ademais, analisaremos as principais empresas que atuam no mercado brasileiro em regime de competio principalmente na distribuio e comercializao de combustveis e derivados. Destacando a importncias das estratgias empregadas por cada empresa na disputa por uma fatia do mercado.

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III. A ATIVIDADE PETROLFERA NO BRASIL

No Brasil a atividade petrolfera marcada pela presena da Petrobrs no mercado, que at ento detinha o monoplio do mercado brasileiro em todas as atividades do setor petrolfero. A criao da Petrobrs foi a soluo que o governo Brasileiro encontrou para reduzir os riscos frente s adversidades do mercado petrolfero mundial, como o choque do Petrleo em 1973 e 1979.

Desta forma, o governo investiu pesadamente na criao de uma empresa estatal, pois as empresas privadas no se arriscavam a investir neste setor, apesar dos estmulos fiscais e financeiros concedidos pelo governo. Devido aos elevados riscos intrnsecos a atividade e ao alto volume de capital necessrio para investimento.

Segundo Leite, a falta de interesse privado est relacionada ao desconhecimento das formaes geolgicas do Pas e principalmente pelas distores da Constituio de 1891, onde os proprietrios de terra tinham direitos sobre os bens minerais existentes no subsolo. A Constituio de 1934 reverteu este quadro estabelecendo que as minas e demais riquezas do subsolo, constituem propriedade distinta do solo.(LEITE, 1997)

Alm disso, o incio da dcada de 50, o ps-guerra foi marcado pela descoberta de vrios poos de petrleo de alto rendimento que estavam sendo explorados em vrias partes do mundo. Neste contexto, o Brasil no despertou o interesse das empresas estrangeiras, apesar de possuir condies propcias para a formao de leo (trs milhes de quilmetros quadrados de bacias sedimentares).

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A Shell e a Esso j atuavam no Brasil 40 anos antes da criao da Petrobrs, na distribuio de derivados de petrleo importado. Com a criao da Petrobrs em 1954 e a proibio de explorar ou refinar petrleo no territrio brasileiro, as empresas investiam na distribuio e optaram pela diversificao em outros setores.

A crise econmica internacional no final da dcada de 80 e incio da dcada de 90 abalou estas empresas em todo mundo. Para tentar contornar a situao as empresas focaram os investimentos no seu core-business (setor de energia) e venderam participaes em outros setores, bem como se iniciaram vrias fuses e aquisies com outras empresas do setor para reduzir custos e ganhar escala.

A Lei 9.478 retirou o monoplio da Petrobrs e autorizou outras empresas a atuarem nas atividades de explorao e refino. Com o aumento da concorrncia na distribuio, as empresas multinacionais privilegiam seus investimentos no upstream, onde possuem tecnologia de explorao.

A abertura do mercado brasileiro atraiu outras empresas, promovendo a concorrncia na atividade de distribuio e comercializao de derivados de petrleo. Por outro lado, ainda no h uma concorrncia significativa nas atividades de explorao e produo, pois nestas atividades so demandados altos investimentos com elevado risco em toda a cadeia petrolfera.

Alm disso, neste setor a informao acerca do tipo de solo e as condies propcias para a formao de petrleo so imprescindveis para decidir o investimento. Neste contexto, apesar da ANP disponibilizar as informaes sobre vrias reas que foram estudadas anteriormente pela Petrobrs, as empresas geralmente preferem fazer consrcios e parcerias com a Petrobrs, que j detm o know-how sobre as especificidades do solo brasileiro. Contudo, nos processos de licitao algumas empresas tm arriscado sozinhas, ainda que timidamente, em alguns lances sem o apoio da Petrobrs ou em consrcios com outras48

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empresas. A diferena de Know How e o risco de investimento inerente no Brasil garantem uma grande vantagem para a Petrobrs. Estes fatores so agravados pelas caractersticas do setor que necessita de elevados volumes de investimentos e proporcionam rendimentos de longo prazo com possibilidade de grandes perdas. Logo, as empresas petrolferas so bastante cautelosas com relao aos seus investimentos. E nas rodadas de licitao a presena de consrcios significativa, frente s empresas que se arriscam a entrar sozinha nos lances. Com exceo, claro, da Petrobrs que investe pesado em explorao, j que possui a vantagem comparativa frente a outras empresas e Know How obtido com 50 anos de operao no territrio brasileiro e, portanto, domina as especificidades de cada tipo de solo.

A gerao de valor agregado depende de todos os fatores expostos acima e, alm disso, ainda influenciado pelo preo do barril de leo que cotado no mercado internacional e pelas condies macro e micro econmicos do pas em que atua ao mesmo tempo em que est sujeita a oscilao internacional. Principalmente relacionados ao cambio que influi diretamente no preo do petrleo e seus derivados, e indiretamente sobre a importao de equipamentos e mo de obra especializada do exterior.

A competio entre as empresas, somente pode ser analisada na atividade de distribuio e comercializao, com a presena da Petrobrs e de outras empresas como a Shell, Esso, Ipiranga e a Texaco. No entanto, a Texaco mais centrada para o mercado de lubrificantes enquanto que as outras distribuidoras concorrem pesadamente no mercado de combustveis, especificamente na gasolina, diesel, lcool e recentemente o gs natural.

III.2

Metodologia de clculo do Valor Adicionado

A partir dos relatrios financeiros das empresas foi possvel agregar as contas apresentadas na tica da renda e da produo, a fim de mensurar o VA e analisar os resultados obtidos nos ltimos anos. Este trabalho ter como foco principal a tica da renda,

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classificando as contas apresentadas em quatro grupos: Pessoal, Entidades Governamentais., Instituies Financeiras e Acionistas.

O grupo Pessoal refere-se aos salrios, vantagens, encargos e participaes dos empregados e administradores. As entidades Governamentais so os impostos, taxas, contribuies, participaes governamentais, impostos de renda e contribuies sociais diferidos. A conta Instituies Financeiras contempla as despesas financeiras, juros, aluguis e afretamentos. E por fim, os acionistas so os dividendos, participao minoritria, lucros/prejuzos retidos.

Na tica da produo destacam-se as contas referentes a Receitas, Insumos Adquiridos de Terceiros, retenes e Valor Adicionado recebido em Transferncia. Desta forma, tem-se o valor total arrecadado em receitas (Valor Bruto da Produo) e os gastos com os insumos, retenes e transferncias (Consumo Intermedirio).

As receitas referem-se as vendas de produtos e servios, receitas no operacionais e proviso para crditos de liquidao duvidosa. Os Insumos Adquiridos de Terceiros so as matrias-primas, produtos e insumos consumidos, custos das mercadorias, materiais, energia, servios de terceiros e outros. As retenes englobam a depreciao, amortizao e custo de abandono. O VA recebido em transferncia constitui no resultado de participaes em investimentos relevantes, receitas financeiras7, amortizao de gio e desgio, correo monetria do balano, receitas de aluguis, proviso para perda de investimento.

Para efeito de anlise, consideramos o VAB (Valor Adicionado Bruto) como a diferena entre as receitas e os insumos. E o VAT (Valor Adicionado Total) a distribuir o resultado do VAB menos as retenes e o VA recebido em transferncia.

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Esta conta inclui as variaes monetria e cambial. 50

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Logo, por meio desta metodologia possvel mensurar o VA gerado por estas empresas, assim como a distribuio deste valor entre os quatro grupos destacados anteriormente. Com isto, pretende-se analisar a capacidade das empresas em apropriar do VA gerado nesta atividade e posteriormente estudar a contribuio destas empresas para a formao do PIB do Petrleo e do Brasil.

A) A Petrobrs

A Petrobrs foi criada pelo governo com o intuito de atender as necessidades do mercado brasileiro que no eram preenchidas pelo setor privado. Na viso de Matz ainda h outros fatores envolvidos durante este processo.

A dinmica dos interesses estruturais de poder nacional deu origem a Petrobrs. Tal resultado adveio de um complexo conjunto de fatores econmicos e polticos que se iniciaram na dcada de 30 e que se consolidou no segundo governo Vargas. (Matz,2000)

A Petrobrs (Petrleo Brasileiro S.A.) constitui uma empresa de sociedade por aes de economia mista com o controle acionrio do Governo Federal, instituindo o monoplio estatal do petrleo sancionado pela lei n2.004 em agosto de 1953. (ALVEAL,1994)

Com a criao da Petrobrs foi implementado o monoplio da explorao e produo de petrleo no Brasil. Durante este perodo, de acordo com Matz ... a Petrobrs detinha o monoplio de explorao, refino de petrleo e demais atividades correlacionadas, com a responsabilidade constitucional de distribuir os derivados em toda a expanso territorial do pas. Apesar disso, as outras empresas presentes no mercado poderiam agir como distribuidoras e refinarias de derivados, como a Ipiranga (RS) e a refinaria de Manguinhos (RJ). (MATZ, 2000)

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