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DANILO SANTANA DA SILVA
EFEITOS DA PERDA AUDITIVA NO DESEMPENHO
DE ADULTOS EM ATIVIDADES DE VIDA DIÁRIA
Dissertação apresentada ao curso de Pós-Graduação da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo para obtenção do Título de Mestre em Saúde da Comunicação Humana.
São Paulo 2018
DANILO SANTANA DA SILVA
EFEITOS DA PERDA AUDITIVA NO DESEMPENHO
DE ADULTOS EM ATIVIDADES DE VIDA DIÁRIA
Dissertação apresentada ao curso de Pós-Graduação da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo para obtenção do Título de Mestre em Saúde da Comunicação Humana. Área de Concentração: Saúde da Comunicação Humana Orientador: Profa. Dra. Katia de Almeida.
São Paulo 2018
FICHA CATALOGRÁFICA
Preparada pela Biblioteca Central da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo
Silva, Danilo Santana da Efeitos da perda auditiva no desempenho de adultos em atividades de vida diária./ Danilo Santana da Silva. São Paulo, 2018.
Dissertação de Mestrado. Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo – Curso de Pós-Graduação em Saúde da Comunicação Humana.
Área de Concentração: Saúde da Comunicação Humana Orientadora: Katia de Almeida
1. Perda auditiva 2. Audição 3. Pessoas com deficiência
4. Questionários 5. Avaliação da deficiência BC-FCMSCSP/43-18
Dedico este trabalho a meus pais e esposa,
por todo incentivo e apoio. Sem vocês, eu
não teria chegado até aqui.
"Eu espero que eu possa sempre possuir firmeza e virtude suficiente para manter o
que eu considero o mais desejável dos títulos: o caráter de um homem honesto."
(George Washington)
Agradecimentos
Ao Grande Arquiteto do Universo, que por sua honra e bondade possibilitou a
minha chegada até este momento tão especial da minha vida,
À minha querida orientadora, Profa. Dra. Katia de Almeida, que me concedeu
a honra de ser seu orientando, por me acolher com muito carinho, pela paciência e
disponibilidade em todos os momentos e por contribuir para o meu crescimento
pessoal, intelectual e profissional,
Aos meus queridos e amados pais, Regina e Antonio Faustino, pelo amor
incondicional, incentivo, apoio e o exemplo de vida,
À minha amada esposa Marina Souza, pelo amor, incentivo, paciência e por
sempre me apoiar em todos os meus sonhos,
À banca examinadora de qualificação, Profa, Dra. Liliane Desgualdo Pereira,
Profa. Dra. Elisiane Crestani de Miranda Gonsalez e Profa. Dra. Ana Luiza Gomes
Pinto Navas, que foram primorosas em suas relevantes contribuições,
À Profa. Erika Fukunaga, que realizou primorosamente a análise estatística
deste trabalho,
Às professoras Dra. Lúcia Kazuko Nishino, Esp. Maria do Carmo Redondo e
Dra. Margarita Bernal Wieselberg, que gentilmente possibilitaram a realização da
coleta de dados deste trabalho em seus estágios supervisionados,
À equipe do CEDIAU: Géssi Pires do Rosário, pela amizade, carinho e
incentivo; aos Fonoaudiólogos: Ms. Anderson Alves da Silva Pereira, Dra. Káris
Ester Dong Creste e Esp. Mariana Pinheiro Brigatto, pela amizade, incentivo e
contribuição com este trabalho,
À minha sócia Fga. Ana Carolina Iacuzio Claro, pela parceria, incentivo e
compreensão de minha ausência na clínica,
A todos meus amigos do mestrado, em especial: Fga Ms. Aliaska Aguiar, Fga
Daniela Soares de Brito e Fga Lara Lopez, pela amizade, incentivo e momentos de
descontração,
A todos os membros da A.R.L.S. Arnaldo Alexandre Pereira - 636, pelo apoio
e compreensão de minha ausência.
A todos os professores do Mestrado Profissional em Saúde da Comunicação
Humana, pelos ensinamentos e contribuição para o meu crescimento profissional,
À Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e à
Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, por me cederem seus
pacientes e seu espaço físico,
A todos os indivíduos que constituíram voluntariamente a casuística desse
estudo.
ABREVIATURAS
AASI – Aparelho de Amplificação Sonora Individual
APHAB – Abbreviated Profile of Hearing Aid Benefit
CIF – Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde,
CEP – Comitê de Ética em Pesquisa
dB – Decibel
DP – Desvio Padrão
GC – Grupo Controle
GE – Grupo Estudo
HHIA – Hearing Inventory for The Adults
HHIE – Hearing Inventory for the Elderly
HRAC – Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais
Hz – Hertz
ISO – International Organization for Standardization
IPRF – Índice Percentual de Reconhecimento de Fala
LRF – Limiar de Reconhecimento de Fala
kHz – Kilohertz
N – Número de Indivíduos
NL – Normal
OMS – Organização Mundial da Saúde
PA – Perda Auditiva
Q1 – Domínio (Audição para Fala) do questionário SSQ
Q2 – Domínio (Audição Espacial) do questionário SSQ
Q3 – Domínio (Qualidade da Audição) do questionário SSQ
SCL-90-R – Escala de Avaliação de Sintomas
SSD – Single Sided Deafness
SSQ – Speech, Spatial and Qualities of Hearing Scale
TCLE – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
USP – Universidade de São Paulo
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Box Plot das respostas ao questionário SSQ por domínio (Audição para
Fala) segundo GE e GC (N=90)................................................................................
Figura 2. Box Plot das respostas ao questionário SSQ por domínio (Audição
Espacial) segundo GE e GC (N=90).........................................................................
Figura 3. Box Plot das respostas ao questionário SSQ por domínio (Qualidade da
Audição) segundo GE e GC (N=90)...............................................................................
Figura 4 – Box Plot das respostas ao questionário SSQ por domínio segundo
audição normal, perda auditiva unilateral e bilateral (N=90)........................................
Figura 5. Box Plot das respostas ao questionário SSQ por domínio (Audição para
Fala), perda de audição unilateral e bilateral (N=49).....................................................
Figura 6. Box Plot das respostas ao questionário SSQ por domínio (Audição
Espacial), perda de audição unilateral e bilateral (N=49)...............................................
Figura 7. Box Plot das respostas ao questionário SSQ por domínio (Quantidade da
Audição), audição unilateral e bilateral (N=49)..............................................................
Figura 8. Box Plot das respostas ao questionário SSQ por domínio e grau de perda
(N=90)............................................................................................................................
Figura 9. Box Plot das respostas ao questionário SSQ por domínio (Audição para
Fala) segundo o grau de perda auditiva (N=49).............................................................
Figura 10. Box Plot das respostas ao questionário SSQ por domínio (Audição
Espacial) segundo o grau de perda auditiva (N=49)......................................................
Figura 11. Box Plot das respostas ao questionário SSQ por domínio (Qualidade da
Audição) segundo o grau de perda auditiva (N=49).......................................................
Figura 12. Box Plot das respostas ao questionário HHIA de acordo com o GE e GC
(N=68)............................................................................................................................
Figura 13. Box Plot das respostas ao questionário HHIA de acordo com a audição
do GE.............................................................................................................................
Figura 14. Box Plot das respostas ao questionário HHIA segundo o grau de perda
auditiva...........................................................................................................................
Figura 15. Scatter Plot das respostas aos questionários HHIA e SSQ por domínio
Audição para Fala (A), Audição Espacial (B) e Qualidade da Audição (C)....................
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Distribuição dos indivíduos que participaram do estudo, de acordo com a
idade e sexo nos GE e GC. (N=90)................................................................................
Tabela 2. Distribuição dos indivíduos que participaram do estudo, de acordo
escolaridade (anos) nos grupos controle e estudo (N=90)............................................
Tabela 3. Distribuição dos indivíduos que participaram do estudo, de acordo com as
características da audição – normal e lateralidade da perda auditiva (N=90)...............
Tabela 4. Distribuição dos indivíduos que participaram do estudo (GE), de acordo
com o grau de perda auditiva (N=49).............................................................................
Tabela 5. Distribuição dos indivíduos que participaram do estudo, de acordo com o
grupo sem perda auditiva (GC) e com perda auditiva (GE) (N=90)...............................
Tabela 6. Distribuição das respostas ao questionário SSQ por domínio segundo
audição normal, perda auditiva unilateral e bilateral (N=90)..........................................
Tabela 7. Distribuição das respostas ao questionário SSQ por domínio nos GE
segundo a lateralidade da perda auditiva (N=49)..........................................................
Tabela 8. Distribuição das respostas ao questionário SSQ por domínio de acordo
com o grau de perda auditiva (N=90).............................................................................
Tabela 9. Respostas ao questionário SSQ por domínio de acordo com o grau de
perda auditiva (N=90).....................................................................................................
Tabela 10. Respostas ao questionário SSQ por domínio de acordo com o grau de
perda auditiva (N=49).....................................................................................................
Tabela 11. Respostas ao questionário HHIA de acordo com GE e GC (N=68)............
Tabela 12. Respostas ao questionário HHIA de acordo com a população
bilateral...........................................................................................................................
Tabela 13. Respostas ao questionário HHIA de acordo com o grau de perda
auditiva...........................................................................................................................
Tabela 14. Correlação de Pearson para as respostas dos questionários HHIA e SSQ................................................................................................................................
SUMÁRIO
1- INTRODUÇÃO ........................................................................................................1
1.1- Revisão da Literatura ...........................................................................................5
2. OBJETIVOS ..........................................................................................................17
3- CASUÍSTICA E MÉTODO ....................................................................................19
4- RESULTADOS ......................................................................................................24
4.1- Caracterização da amostra.................................................................................25
4.2- Resultados da aplicação dos questionários de auto avaliação...........................27
5- DISCUSSÃO .........................................................................................................41
6- CONCLUSÃO .......................................................................................................49
ANEXOS ...................................................................................................................51
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .........................................................................59
RESUMO ...................................................................................................................63
ABSTRACT................................................................................................................64
1. INTRODUÇÃO
2
Perdas auditivas adquiridas na idade adulta impactam negativamente a
vida de seus portadores, levando a dificuldades na comunicação e
comprometendo aspectos sociais e emocionais. Esse impacto resulta,
primariamente, dos déficits nas habilidades de percepção de fala que interferem
na comunicação oral e as limitações impostas por esses déficits na participação
nas interações pessoais, sociais, profissionais e de lazer (Almeida, 2014).
A Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde-
CIF (OMS, 2003) proposta em 2001, focaliza o seu interesse no conceito "vida",
considerando a forma como as pessoas vivem os seus problemas de saúde e
como estas podem melhorar as suas condições de vida para que consigam ter
uma existência produtiva e enriquecedora. Considera os aspectos sociais da
deficiência e propõe um mecanismo para estabelecer o impacto do ambiente
social e físico sobre a funcionalidade da pessoa. Descreve a funcionalidade e a
incapacidade relacionadas às condições de saúde, identificando o que uma
pessoa é capaz de fazer na sua vida diária, tendo em vista as funções dos órgãos
ou sistemas e estruturas do corpo, assim como as de atividades e participação no
meio ambiente que a pessoa vive.
Há duas importantes consequências da deficiência auditiva: a limitação em
atividades e a restrição de participação. A primeira refere-se a qualquer limitação
ou falta de habilidade para desempenhar uma atividade devido aos problemas
auditivos vivenciados pelo individuo em função da perda auditiva. Já a restrição
de participação está relacionada aos aspectos não auditivos resultantes da
deficiência e da incapacidade auditivas, os quais restringem a participação do
indivíduo nas atividades de vida diária e comprometem suas relações sociais.
Portanto, os efeitos negativos da perda auditiva envolvidos na limitação em
atividades, incluem a redução da habilidade de compreensão de fala,
especialmente em ambientes com condições acústicas adversas como ruído,
além de dificuldade de localização de fontes sonoras importantes, como buzinas
de veículos e outros sinais de alerta, que acarretará restrição de participação nas
diversas situações de vida diária com consequente diminuição em qualidade de
vida (Almeida, 2014).
3
Testes audiológicos são eficientes para quantificar a perda auditiva, porém,
seus resultados não refletem a dificuldade comunicativa enfrentada pelas pessoas
com deficiência auditiva em suas atividades de vida diária (Gonsalez e Almeida,
2015; Vannson et al. 2015). Desse modo, é fundamental utilizar outros
instrumentos, que possam avaliar as limitações em atividades auditivas em
situações mais próximas do cotidiano, e refletir a percepção do indivíduo frente às
dificuldades comunicativas geradas pela perda auditiva (Gonsalez e Almeida,
2015).
Questionários são uma excelente ferramenta de auto avaliação em adultos,
pois quantificam e qualificam o impacto da perda auditiva nas atividades de vida
diária.
Com o intuito de mensurar as incapacidades auditivas, Gatehouse, Noble,
(2004) desenvolveram um questionário, chamado de Speech, Spatial and
Qualities of Hearing Scale (SSQ), que tem como objetivo, avaliar as habilidades e
experiências que envolvem a audição em situações complexas de escuta do
cotidiano. Utilizado com grande confiabilidade em diversas populações e idiomas,
foi traduzido e adaptado para o português brasileiro por Gonsalez e Almeida
(2015).
A restrição de participação, relaciona-se aos aspectos não auditivos e as
implicações emocionais e sociais desencadeadas pela deficiência auditiva
(Marques et al, 2004).
O Hearing Handicap Inventory for Adults – HHIA (Newman, 1990) é um
questionário que tem como objetivo, avaliar a restrição de participação de adultos,
com idade inferior a 65 anos, foi traduzido e adaptado para o português brasileiro
por Almeida (1998).
Estes questionários foram selecionados exatamente por serem meios
efetivos de caracterizar as dificuldades apresentadas por sujeitos com perda
auditiva, e fornecer ao fonoaudiólogo subsídios para a compreensão das
limitações em atividades e restrição de participação presentes nesses indivíduos.
Temos como hipótese que a lateralidade e severidade da perda auditiva
podem predizer o desempenho do indivíduo no que se refere as suas limitações
em atividade e restrição de participação.
4
Sendo assim, este estudo tem por objetivo caracterizar a limitação em
atividades/incapacidade auditiva e restrição de participação em adultos com perda
auditiva, por meio dos questionários SSQ e HHIA, verificando se a lateralidade e o
grau da perda auditiva são fatores de variabilidade.
5
1.1. REVISÃO DE LITERATURA
6
Os textos utilizados na fundamentação teórica deste estudo foram
apresentados conforme o encadeamento de ideias. Optou-se por apresentar a
revisão de literatura em assuntos para facilitar a leitura e compreensão. Os
tópicos abordados neste capítulo são:
I – Perda auditiva em adultos e suas implicações
II – Questionários de auto avaliação da limitação em atividades e da
restrição de participação
I – Perda auditiva em adultos e suas implicações
Monzani et al (2008) avaliaram a suposição global de que os adultos
trabalhadores com perda auditiva neurossensorial leve a moderada experimentam
reações emocionais e limitações sócio-situacionais mais negativas do que
indivíduos ouvintes normais. Ao comparar e investigar a dimensão do sofrimento
psicológico de 96 sujeitos com audição normal e 73 sujeitos com deficiência
auditiva, por meio da Lista de Verificação de Sintomas (SCL-90-R), resultou que
os sujeitos com deficiência auditiva são mais propensos à depressão, ansiedade,
sensibilidade interpessoal e hostilidade do que indivíduos sem perda de audição
(p <0,05). Argumentaram que a deficiência sensorial pode desencorajar indivíduos
com deficiência auditiva de se exporem a situações de desafio social, produzindo
isolamento que leva a depressão, irritabilidade e sentimentos de inferioridade.
Francelin et al (2010) estudaram as implicações da deficiência auditiva
adquirida em adultos, na vida familiar, social e condições de trabalho.
Participaram 16 adultos, com diagnóstico de perda auditiva súbita na faixa etária
de 18 a 60 anos. Utilizaram a entrevista e a análise de conteúdo. Os resultados
demonstraram que a perda auditiva ocorreu entre os 40 e 44 anos, 37,5%; 62,5%
dos que perderam a audição eram do sexo masculino, 62,5% não tinham o ensino
fundamental; 62,5% eram da classe baixa superior; 75% apresentaram perda
auditiva bilateral, 18,75% de grau moderado/profundo. Dos 13 que estavam
trabalhando quando perderam a audição, 30,77% pararam de trabalhar e 15,38%
mudaram de profissão. Foram relatadas situações como: afastamento do
trabalho, demissão a pedido e demissão pelo empregador, dificuldade de
aceitação, cobranças, falta de esclarecimentos e desconhecimento dos próprios
7
profissionais de saúde. Os dados sugerem a necessidade dos recursos de
reabilitação, de apoio terapêutico, respeito e alternativas de conhecimentos.
Caporali e Silva (2017) realizaram um estudo com a finalidade de pesquisar
os efeitos da perda auditiva e da idade no reconhecimento de fala na presença de
ruído, utilizando dois tipos de ruído. Três grupos experimentais foram
organizados, sendo um composto por adultos sem alteração auditiva, outro por
sujeitos com perda auditiva em frequências altas e, por último, um grupo de
idosos, com configuração audiométrica semelhante ao grupo de adultos com
perda auditiva. Todos os sujeitos realizaram tarefas de reconhecimento de fala no
silêncio, na presença de ruído branco e ruído cocktail party, na mesma relação
sinal/ruído (0 dB), em ambas as orelhas. Os resultados mostraram que o ruído
interfere negativamente no reconhecimento de fala em todos os grupos. O
desempenho dos sujeitos com audição normal foi superior aos grupos com perda
auditiva. Contudo, o grupo de idosos teve pior desempenho, sendo mais evidente
com o ruído cocktail party. Observou-se também que todos os sujeitos
apresentaram melhores resultados na segunda orelha testada, mostrando o efeito
de aprendizagem. Os autores concluíram que a idade, além da perda auditiva
contribuiu para o baixo desempenho de idosos na percepção de fala na presença
de ruído.
Lucas et al (2017) examinou os efeitos psicológicos e sociais subjetivos da
perda auditiva assimétrica (surdez unilateral) em adultos. Três entrevistas em
grupo foram conduzidas usando técnica de análise psicológicas. Participaram oito
adultos com diagnóstico clínico de perda auditiva moderadamente severa, severa
ou profunda em uma orelha e audição normal ou com perda auditiva leve na outra
orelha. Os autores observaram que dificuldades auditivas funcionais associadas à
surdez unilateral, incluindo dificuldades para compreender a fala na presença de
ruído e redução da consciência espacial, afetaram o bem-estar social e
psicológico dos indivíduos participantes do estudo. As consequências sociais da
surdez unilateral resultaram em limitações de atividade e restrições de
participação. Os participantes relataram efeitos psicológicos, incluindo a
preocupação em perder a audição na outra orelha, redução da confiança e
constrangimento relacionado ao estigma social associado à perda auditiva. A
surdez unilateral pode ser associada a muitas consequências negativas, o
8
aconselhamento pode ajudar a superar as consequências psicológicas da perda
de audição, independentemente do suporte tecnológico, como o uso de uma
prótese auditiva. O gerenciamento audiológico desses indivíduos deve apoiar o
desenvolvimento de estratégias de escuta e estabelecer expectativas adequadas
para a participação em situações de audição diárias.
II – Questionários de auto avaliação da limitação em atividades e
restrição de participação
Newman et al. (1990) modificaram o Hearing Handicap Inventory for the
Elderly - HHIE, para que este pudesse ser aplicado em adultos deficientes
auditivos com idades inferiores a 65 anos, para documentar os efeitos da
reabilitação auditiva, incluindo o benefício fornecido pelo uso das próteses
auditivas. O novo questionário recebeu o nome de Hearing Handicap Inventory for
Adults - HHIA e possui os mesmos 25 itens divididos em duas sub escalas:
Social/Situacional e Emocional. Apenas três questões do HHIE foram
substituídas: duas delas focalizam os efeitos ocupacionais da perda de audição e
a terceira está relacionada com atividades de lazer. Os índices do HHIA. são
idênticos aos do HHIE, em que cada resposta “sim” recebe 4 pontos, “às vezes”
recebe 2 pontos e “não” nenhum ponto. Os índices finais podem variar de 0%,
sugerindo uma não percepção da restrição de participação, a 100%, indicando
uma restrição significativa. Esta nova versão do questionário foi então aplicada
em 67 adultos deficientes auditivos e os resultados obtidos demonstraram alta
confiabilidade e baixo erro padrão de mensuração do questionário, o que atestou
sua adequação psicométrica. Os autores ressaltaram ainda que a aplicação do
HHIA pode: 1) ajudar a substanciar as queixas auditivas do paciente não
prontamente aparentes a partir dos resultados dos testes audiométricos; 2)
facilitar as decisões com relação ao candidato ao uso da amplificação; 3) auxiliar
no aconselhamento do paciente; 4) servir como guia no programa de reabilitação
do deficiente auditivo e 5) fornecer documentação dos efeitos do processo de
reabilitação, incluindo o benefício com o uso de próteses auditivas.
The Speech, Spatial and Qualities of Hearing Scale (SSQ) foi desenvolvido
para quantificar a auto percepção das dificuldades advindas da deficiência
9
auditiva em vários aspectos. Por meio deste questionário habilidades como:
compreensão de fala em diferentes situações de escuta, a audição espacial e
outras qualidades auditivas são avaliadas pelo deficiente auditivo conforme sua
própria percepção em ouvir no dia-a-dia. Os 153 participantes responderam a dois
questionários diferentes: o SSQ 50 e o Handicap Questionnaire, todos eram
candidatos ao uso de próteses auditivas. A entrevista foi realizada por dois
profissionais treinados pelos autores, para garantir que os entrevistados
entendessem os questionamentos. Os resultados mostraram que a maior
dificuldade ocorreu com fluxos simultâneos de voz, escuta em grupos, no ruído e
avaliar a distância do som. Apenas 37 dos 153 participantes responderam à
questão de compreensão de fala quando dirige um carro. A pontuação média
geral foi de 5,5. A correlação de Spearman entre a melhor e a pior orelha foi de
0,72, a correlação entre a melhor orelha e a média geral no SSQ foi de 0,51, a
correlação entre a pior orelha e a média geral no SSQ foi de 0,52. Concluíram que
o SSQ é um instrumento satisfatório para quantificar as queixas auditivas e que
bem avalia qualidades auditivas, principalmente as que demandam função
auditiva binaural (Gatehouse e Noble, 2004).
Macedo et al (2006) investigaram o conhecimento e a aplicabilidade pelos
fonoaudiólogos sobre questionários de auto avaliação do impacto social e do
benefício da amplificação em adultos e idosos com deficiência auditiva. Foram
entrevistados 45 fonoaudiólogos que trabalhavam na cidade de São Paulo em
seleção e adaptação de aparelhos de amplificação sonora individuais. A maioria
desses profissionais não utilizavam os questionários regularmente, apesar de
conhecê-los, e a justificativa mais apontada foi o longo tempo despendido na sua
aplicação. Todos os clínicos docentes utilizavam os questionários nas situações
de docência e pesquisa, mas nem todos o faziam na sua prática clínica, sendo o
Hearing Handicap Inventory for the Elderly - HHIE e o Abbreviated Profile of
Hearing Aid Benefit - APHAB os questionários mais utilizados.
Rosa et al (2006) verificaram o nível de satisfação que usuários de
próteses auditivas antes e depois da aplicação de um programa de
acompanhamento denominado: SOS Prótese Auditiva, caracterizando a restrição
de participação e o benefício do uso do dispositivo. Foi aplicado dois
questionários em 15 idosos com perda auditiva. Dentre os participantes 33%
10
apresentaram maior restrição de participação devido à perda auditiva, 53%
referiram dificuldade em compreender a fala na presença de ruído quando
estavam sem a prótese auditiva, sendo apenas 13% quando usam o mesmo. 49%
da amostra referiram problemas para entender a fala em ambiente silencioso ou
em situações ótimas de escuta quando estão sem a prótese auditiva, usando o
mesmo este número reduziu para 21%. Observaram que 66% da amostra tiveram
dificuldades para compreender a fala (sem a prótese auditiva) em ambientes
amplos, e ao colocarem seus aparelhos auditivos somente 33% dos entrevistados
continuaram a referir esse tipo de dificuldade. O estudo permitiu verificar que o
trabalho em grupo minimizou as dificuldades de manuseio da prótese auditiva que
muitas vezes inviabilizam o uso dos mesmos. Além de constatar a importância
dos questionários de auto avaliação para o fonoaudiólogo no acompanhamento
da adaptação desses dispositivos, bem como para o usuário por meio de
fornecimento de informações sobre suas dificuldades e facilidades frente à
utilização destes.
Amorim e Almeida (2007) caracterizaram o benefício de curto prazo em
adultos novos usuários de próteses auditivas, por meio de procedimentos
objetivos (ganho funcional) e subjetivos (questionários de auto avaliação) e
estudar o fenômeno de aclimatização, a partir da análise dos índices percentuais
de reconhecimento de fala (IPRF) dessa população antes da adaptação e após
quatro e 16/18 semanas de uso da amplificação. Métodos: participaram deste
estudo 16 indivíduos portadores de perda auditiva bilateral simétrica
neurossensorial ou mista de grau moderado a severo, novos usuários de próteses
auditivas, na faixa etária entre 17 a 89 anos. Nos três momentos da pesquisa:
antes da adaptação das próteses auditivas, após quatro semanas e 16/18
semanas, foi realizada audiometria tonal liminar, o IPRF, o limiar de
reconhecimento de fala e a aplicação dos questionários: Hearing Handicap
inventory for Elderly Screening Version ou Hearing Handicap Inventory for the
Adults Screening Version e Abbreviated Profile of Hearing Aid Benefit. Após a
adaptação, foi realizado o ganho funcional. Revelaram diferenças estatisticamente
significantes nas medidas objetivas e subjetivas após o uso das próteses
auditivas, indicando benefício de curto prazo. Contudo, ao longo do tempo de uso
da amplificação não ocorreu uma melhora significante do benefício, sugerindo que
11
este não aumenta com o tempo. Foi observada melhora da média dos IPRF e das
medidas subjetivas do benefício auditivo ao longo do tempo de uso da
amplificação, contudo estas diferenças não foram estatisticamente significantes.
Ocorreu benefício a curto prazo com o uso das próteses auditivas, contudo não foi
possível verificar a ocorrência do fenômeno da aclimatização por meio do IPRF.
Araújo et al (2010) avaliaram a auto percepção da restrição de participação
em sujeitos adultos, em indivíduos deficientes auditivos não usuários de próteses
auditivas. Participaram do estudo 52 sujeitos adultos, com média de 34,5 anos e
de ambos os gêneros (26 do gênero feminino, 26 do masculino) com deficiência
auditiva neurossensorial unilateral, de graus variados; por meio da aplicação do
questionário “Hearing Handicap Inventory for Adults” (HHIA). Foram pontuadas as
subescalas dos aspectos emocionais e sociais/situacionais sendo encontrados
73,1% de presença de restrição de participação de graus leve, moderado e
significativo e em maior porcentagem (88,5%) no gênero feminino. A aplicação do
questionário mostrou-se um procedimento eficiente, pois a perda auditiva
unilateral pode comprometer aspectos sociais e emocionais do sujeito adulto e
indivíduos com o mesmo grau de perda podem reagir de forma diferente,
indicando que a grande variabilidade na autopercepção da restrição de
participação está associada a aspectos não audiológicos.
Lima et al (2010) verificaram as relações entre a autopercepção da
restrição de participação, os achados audiométricos e dados sociodemográficos
em adultos deficientes auditivos. Participaram do estudo, 113 adultos jovens
portadores de deficiência auditiva pós-lingual, neurossessorial bilateral de graus
variados. O questionário de HHIA foi aplicado no formato de entrevista. A
pontuação total e das subescalas “social” e “emocional”, do questionário foram
correlacionadas com as médias dos limiares audiométricos (ISO, baixa, média e
alta frequência) e limiar de reconhecimento de fala (LRF). Também foi obtida
correlação entre as pontuações do questionário e tempo de surdez, escolaridade
e nível socioeconômico. A comparação dos resultados do HHIA entre homens e
mulheres foi realizada pelo teste t-Student. Correlações fracas, porém,
significantes foram obtidas entre os dados audiométricos e a pontuação do HHIA.
Não houve correlação entre o tempo de surdez, escolaridade e nível
socioeconômico com a pontuação do questionário. Não houve diferença
12
significativa da pontuação entre homens e mulheres. Os dados deste estudo
reforçam a necessidade de utilização de um instrumento de avaliação da restrição
de participação, já que esta não pode ser inferida a partir dos dados audiológicos
e/ou sociodemográficos.
Singh e Pichora-Fuller (2010) examinaram as propriedades teste-reteste do
questionário Speech, Spatial and Qualities of Hearing Scale (SSQ) e verificaram
se o método de administração de teste afetou essas propriedades. Quatro grupos
de 40 participantes de adultos mais velhos completaram o SSQ duas vezes em
um intervalo de cerca de meio ano, usando métodos de administração iguais ou
diferentes nos dois tempos de teste. O SSQ foi administrado usando um método
de entrevista e ou foi auto-administrado e depois retornado por correio. Embora o
método de administração do teste não tenha afetado sistematicamente os escores
no SSQ, a correlação teste-reteste mais alta (r 0.83) foi observada usando o
método da entrevista em ambos os tempos de teste, tornando-se a melhor
escolha para demonstrar a eficácia de intervenções. As outras três combinações
de administração dupla neste estudo também forneceram resultados confiáveis e
podem ser preferíveis porque o método de auto administração é mais rapido. Em
conclusão, recomenda-se a entrevista e os métodos de auto administração, mas
com a escolha dependendo dos objetivos do avaliador.
Aiello et al (2011) avaliaram a facilidade de leitura e propriedades
psicométricas da tradução brasileira do questionário The Hearing Handicap
Inventory for Adults – HHIA, incluindo sua validade e confiabilidade. O
questionário foi aplicado a 30 pessoas normais de audição (Grupo A) e 113
deficientes auditivos (Grupo B). Trinta e dois participantes (grupo B) responderam
o questionário pela segunda vez. O índice de legibilidade Flesch foi calculado
para cada item no questionário. A consistência interna, a confiabilidade test-retest
e a validade discriminante foram avaliadas. As pontuações de Flesch mostraram
que o questionário era fácil de ler. O alfa de Cronbach e a correlação de Pearson
apresentaram alta consistência interna. Não houve diferença significativa entre o
teste e os resultados do teste. Além disso, a correlação entre esses dois escores
também foi alta e significativa. O teste t-Student indicou diferença significativa
entre os escores para os grupos A e B (validade discriminante). O questionário de
deficiência auditiva para adultos traduzido para o português brasileiro manteve a
13
confiabilidade e validade da versão em inglês. São necessários mais estudos para
determinar a validade convergente e a validade de construção para este
instrumento.
Banh et al (2012) realizaram um estudo com o objetivo de investigar, como
adultos mais jovens e idosos que passaram por triagem auditiva e que tinham
limiares considerados "normais" responderiam ao questionário Speech, Spatial
and Qualities of Hearing Scale (SSQ). O questionário foi aplicado em 48 adultos
jovens (idade média = 19 anos, DP = 1) e 48 idosos (idade média = 70 anos, DP =
4,1) adultos com limiares audiométricos clinicamente normais até 4 kHz. As
correlações foram usadas para comparar o padrão de resultados entre itens para
os dois grupos etários e avaliar a relação entre os índices do SSQ e as medidas
objetivas da audição. Comparações também foram feitas com os resultados
publicados para adultos mais velhos com perda auditiva. O padrão de dificuldade
relatado em todos os itens foi semelhante para ambos os grupos etários, mas os
adultos mais jovens apresentaram valores significativamente maiores que os
adultos mais velhos em 42 dos 46 itens. Em média, os adultos mais jovens
obtiveram escores de 8,8 (DP = 0,6) e adolescentes 7,7 (DP = 1,2). Por
comparação, foram observados escores de 5,5 (SD = 1,9) para adultos mais
velhos (idade média = 71 anos, DP = 8,1) com perda auditiva moderada. Ao
estabelecer os melhores resultados que poderiam ser esperados na avaliação de
adultos mais jovens e de adultos mais velhos com limiares de audição "normais",
esses resultados fornecem aos profissionais informações que devem ajudá-los na
avaliação e intervenção de adultos de diferentes idades.
Noël et al (2014) avaliaram os efeitos da comunicação cotidiana entre
adultos ouvintes unilaterais usando o Speech, Spatial and Qualities of Hearing
Scale (SSQ). Participaram 87 adultos sendo sessenta e seis ouvintes unilaterais
que tinham uma perda auditiva severa ou profunda sem uso de dispositivo
eletronico e foram agrupadas com base no modo auditivo da orelha melhor: 30
participantes apresentavam audição normal em uma orelha (perdas auditivas
unilaterais); 20 possuíam implante coclear unilateral; e 16 eram usuários de uma
prótese auditiva unilateral. Os dados também foram coletados de 21 indivíduos
com audição normal, bem como um subconjunto de participantes que
posteriormente recebeu implante coclear na pior orelha e assim se tornaram
14
ouvintes bilaterais. Os indivíduos com deficiência auditiva apresentaram
classificações piores em todas as áreas em comparação com aqueles com
audição normal bilateral. Os autores concluíram que, os adultos que dependem
de uma única orelha, estão em desvantagem em todos os aspectos da escuta e
comunicação diária.
Gonsalez e Almeida (2015) traduziram e adaptaram culturalmente, o
questionário Speech, Spatial and Qualities of Hearing Scale (SSQ) para o
Português Brasileiro. Foi realizada a tradução, retrotradução, avaliação por comitê
de especialistas e adaptação cultural (pré-teste). A fase de adaptação cultural
constou da aplicação do questionário em 40 brasileiros adultos, normo-ouvintes e
alfabetizados em português. Foram elaboradas duas versões do SSQ em
português, a primeira aplicada no Grupo Piloto 1 (20 sujeitos) e, após revisão do
comitê de especialistas, uma segunda versão foi aplicada no Grupo Piloto 2 (20
sujeitos). Para haver equivalência cultural do questionário, é necessário que 85%
dos indivíduos não apresentem dificuldades para compreender as questões. Foi
identificada dificuldade de compreensão na questão 14 da Parte 2 e na questão 5
da parte 3. As demais questões foram compreendidas por mais de 85% dos
participantes. As questões problemáticas foram revistas e modificadas, de forma a
não alterar o contexto. Na aplicação da versão final do SSQ foi obtida uma boa
equivalência cultural para o Português Brasileiro, já que 91,6% dos participantes
relataram fácil entendimento de todas as questões. A análise estatística revelou
alto coeficiente alpha de Crombach (>0,8), demonstrando boa consistência interna
entre os diversos itens do questionário. Concluíram que a metodologia
empregada foi eficaz para estabelecer a tradução e equivalência cultural do SSQ
para o Português Brasileiro.
Moulin e Richard (2016) identificaram e quantificaram fontes de
variabilidade nos índices do questionário Speech, Spatial and Qualities of Hearing
Scale (SSQ) e suas versões curtas, entre indivíduos com deficiência auditiva e
audição normal, usando uma versão em francês do SSQ. As análises múltiplas
dos índices do SSQ foram realizadas utilizando idade, gênero, anos de
escolaridade, perda de audição e assimetria de perda auditiva como preditores.
Análises semelhantes foram realizadas para cada subescala (Fala, Espacial e
Qualidades), para várias formas curtas SSQ e para diferenças nos índices de
15
cada subescala. Participaram do estudo 100 indivíduos com audição normal (NL)
e 230 indivíduos com deficiência auditiva (PA). A perda auditiva na melhor orelha
e a assimetria da perda auditiva foram os dois principais preditores de pontuação
no SSQ geral, as três principais subescalas e as formas curtas do SSQ. A maior
diferença entre o grupo NL e o grupo PA foi observada para na subescala de
Audição para fala, o NL apresentou índices abaixo da pontuação máxima. Os
autores concluíram que, existem fortes semelhanças entre os índices obtidos em
diferentes populações e línguas, e entre SSQ versão completa e a versão
encurtada, sublinhando o seu potencial uso internacional.
Aguiar (2016) verificou a confiabilidade teste e reteste do questionário SSQ
em português brasileiro. Foram entrevistados 35 indivíduos, sendo 21 do gênero
feminino e 14 do gênero masculino, com idade média de 61 anos e escolaridade
média de sete anos de estudo. A média dos limiares auditivos foi de 44,29 dB NA
(DP 12,3) na melhor orelha e 58,04dB NA (DP 16,5) na pior orelha. O SSQ em
português foi aplicado em dois momentos diferentes, o teste (1ª entrevista) e o
reteste (2ªentrevista). Foi estabelecido um intervalo de no mínimo sete dias e no
máximo 20 dias entre as entrevistas. O nível de significância estabelecido foi de
0,05 ou 5%. A análise revelou alto coeficiente alpha de Cronbach (>0,7) nos três
domínios e no Geral no questionário, demonstrando boa consistência interna
entre os itens. Além disso, houve uma correlação significante de grau forte na
análise por domínio e Geral entre o teste e o reteste do SSQ (p <0,001). Na
análise por questão, houve correlação significante de grau moderada a forte entre
teste e reteste (0,401 a 0,889). Apenas a questão 2 da Parte I não se obteve
correlação significante entre as duas avaliações (p=0,06), sugerindo uma
modificação de vocábulo nesta questão. Os indicadores de confiabilidade do
teste e reteste apontam para uma boa estabilidade da versão do SSQ em
português, indicando que o questionário pode ser utilizado na população de
deficientes auditivos no Brasil.
Gonsalez e Almeida (2017) realizaram um estudo piloto da versão
abreviada do questionário SSQ em Português Brasileiro, a fim de medir a
limitação auditiva resultante da perda de audição. Participaram do estudo 30
indivíduos, sendo 12 do gênero masculino e 18 do gênero feminino, com idades
entre 18 e 89 anos, e escolaridade média de nove anos. Os indivíduos foram
16
submetidos à avaliação audiológica e distribuídos em dois grupos, segundo a
audibilidade, sendo 15 com audição normal (NL) e 15 com perda auditiva (PA).
Em seguida, todos responderam ao questionário SSQ, na sua versão abreviada
com 12 itens, na forma de entrevista, pontuando de 0 a 10 o seu desempenho
comunicativo, em cada situação questionada. Obtiveram escores médios de 6,68
e 4,13 para os grupos NL e PA, respectivamente. Os indivíduos com perda de
audição apresentaram escores menores que os sujeitos com audição normal.
Verificou alto coeficiente alpha de Cronbach em ambos os grupos, demonstrando
boa consistência interna entre os diversos itens do questionário. Concluíram que
a versão reduzida com 12 itens do SSQ em Português Brasileiro mostrou-se
sensível para diferenciar o desempenho de indivíduos com e sem perda auditiva,
confirmando o seu potencial para avaliar as restrições em atividades auditivas e
comunicativas enfrentadas pelo deficiente auditivo, no seu cotidiano.
Pennini (2017) verificou a aplicabilidade do Speech, Spatial and Qualities of
Hearing Scale (SSQ) na avaliação do benefício em usuários de próteses
auditivas. Participaram do estudo 30 adultos deficientes auditivos, candidato ao
uso (novatos) ou usuários em fase de troca de suas próteses auditivas
(experientes). Estes participantes realizaram a avaliação audiológica completa,
indicação e adaptação das próteses auditivas e as avaliações de benefício do uso
das próteses auditivas, por meio de medidas objetivas com microfone sonda e
avaliação subjetiva utilizando o questionário Speech, Spatial and Qualities of
Hearing Scale (SSQ). Inicialmente, foi aplicado o questionário SSQ Base, em
forma de entrevista e após o término do período de 4 semanas de uso das
próteses auditivas novas foram aplicados novamente os questionários SSQ de
auto avaliação, na versão B (para os novatos) e C (para os experientes). Foi
identificada maior dificuldade de compreensão no domínio Audição para fala, do
que os outros domínios Audição espacial e Qualidades da audição. As questões
foram bem compreendidas pela maioria dos participantes, que referiam ser
compatíveis com as situações do seu cotidiano. A análise estatística revelou alto
coeficiente alpha de Cronbach (>0,9), demonstrando boa consistência interna
entre os diversos itens do questionário. Demonstrou ser uma valiosa ferramenta
para avaliar subjetivamente o desempenho comunicativo com e sem próteses
auditivas.
17
2. OBJETIVO
18
2.1. Objetivo Geral
Caracterizar a limitação em atividades/incapacidade auditiva e restrição de
participação em adultos com perda auditiva, por meio dos questionários SSQ e
HHIA, verificando se a lateralidade e o grau da perda auditiva são fatores de
variabilidade.
Objetivos específicos
1. Caracterizar a limitação em atividades e a restrição de participação em
adultos por meio da aplicação dos questionários Speech Spatial Qualities
of Hearing Scale e Hearing Handicap Inventory for Adults.
2. Verificar se a lateralidade e grau de severidade da perda auditiva são
fatores de variabilidade.
19
3. CASUÍSTICA E MÉTODO
20
O trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Santa Casa
de São Paulo sob o nº 1.907.162 (Anexo 1). Todos os participantes assinaram o
termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE – Anexo 2) atestando a sua
participação no trabalho e publicação dos dados obtidos. Os dados foram
coletados na clínica de Fonoaudiologia da Santa Casa de São Paulo.
Casuística
Para realização da pesquisa participaram 90 indivíduos, de ambos os
sexos de acordo com os seguintes critérios de elegibilidade para a composição da
amostra: idade entre 18 a 59 anos; audição normal ou com perda auditiva
neurossensorial ou mista, bilateral, de grau leve a profundo, apresentar audição
normal (média 500, 1000, 2000 e 4000 Hz ≤ 25 dB) ou perda de audição (média
500, 1000, 2000 e 4000 Hz ≥ 26 dB), conforme classificação da (OMS, 2014); não
possuir problemas de saúde que impedissem a participação em todas as
avaliações e procedimentos propostos para a pesquisa; ausência de problemas
cognitivos, mental ou neurológico diagnosticados, declarados ou evidentes.
Os indivíduos foram divididos em dois grupos: Grupo Estudo (GE)
composto por 49 indivíduos com perda auditiva permanente e Grupo Controle
(GC) com 41 indivíduos com audição normal, todos com idades entre 18 a 59
anos.
Para compor o GE, foram convidados a participar do estudo, indivíduos
adultos encaminhados pelo Departamento de Otorrinolaringologia, para avaliação
audiológica ou para seleção e adaptação de próteses auditiva.
Para compor o GC, foram convidados a participar do estudo, alunos de
graduação do curso da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São
Paulo e acompanhantes dos indivíduos deficientes auditivos encaminhados para
avaliação audiológica ou para seleção e adaptação de próteses auditiva.
21
Procedimentos
Avaliação audiológica
Inicialmente, todos os indivíduos foram submetidos à Anamnese, para
obter informações relacionadas a audição, ocupação e escolaridade. Em seguida,
foram submetidos à Audiometria Tonal Liminar, Logoaudiometria e Medidas de
Imitância Acústica.
A audiometria tonal liminar foi realizada com a finalidade de obter os
limiares de audibilidade por via aérea dos indivíduos nas frequências de 250 Hz a
8000 Hz. Quando encontrados limiares superiores a 25 dB, foram pesquisados os
limiares de via óssea nas frequências de 500 Hz a 4000 Hz, caracterizando a
presença ou não da perda de audição.
Os testes logoaudiometricos LRF- Limiar de Reconhecimento de fala e IRF-
Índice de Reconhecimento de fala foram também obtidos. Ambos os
procedimentos foram realizados em cabina acusticamente tratada com
audiômetro da marca GN Otometrics, modelo Itera, com fones de via aérea TDH-
39 e vibrador ósseo B- 71.
As medidas de instância acústica que são a timpanometria, para análise da
mobilidade do sistema tímpano ossicular, e a pesquisa dos reflexos acústicos
contralaterais nas frequências de 500, 1000, 2000 e 4000 Hz, foram obtidas por
meio do equipamento da marca Interacoustics modelo AZ7-R.
Todos os equipamentos encontram-se devidamente calibrados de acordo
com a norma ISO 8253-1, 2010.
Avaliação das limitações em atividades e da restrição de participação
Para avaliação da incapacidade auditiva foi aplicado em forma de
entrevista o questionário Speech, Spatial and Qualities of Hearing Scale – SSQ
(Gatehouse e Noble, 2004), em sua versão 5.6, traduzida e adaptada para o
português brasileiro (Gonsalez e Almeida, 2015).
O questionário (anexo III) inclui uma variedade de domínios, como
situações de audição direcional relacionada a diferentes distâncias e ao
movimento, segregação de sons e fluxos de vozes simultâneas, facilidade de
22
escuta, naturalidade e clareza dos sons do cotidiano e de diferentes peças
musicais e instrumentos. O SSQ é composto por 49 questões, divididas em três
partes, sendo 14 relacionadas à audição para sons da fala, 17 que investigam
diferentes componentes da audição espacial e 18 sobre as qualidades da
audição.
O pesquisador apresentou oralmente cada questão e os participantes
pontuaram de 0 a 10 o seu desempenho comunicativo. Sendo que todos foram
informados de que, na escala de respostas, o 10 significa que são perfeitamente
capazes de executar o que está descrito na questão e o 0 (zero), que são
incapazes de realizar a situação investigada. Além disto, existe a opção
denominada “não aplicável”, nos casos em que a pergunta não se refere a sua
situação cotidiana vivenciada. Desse modo, quanto menor o índice, maior é a
auto percepção do indivíduo em relação a incapacidade auditiva nas atividades de
vida diária, ou seja, maiores são as dificuldades auditivas causadas pela perda
auditiva.
Para avaliação da restrição de participação, foi aplicado o questionário The
Hearing Handicap Inventory for Adults - HHIA (Newman et al, 1990), traduzido e
adaptado para o português brasileiro (Almeida, 1998) que tem como objetivo
avaliar o impacto da perda auditiva no ajuste emocional e social do indivíduo.
O questionário (anexo IV) é composto de 25 questões divididas em duas
subescalas: Social/Situacional com 12 perguntas, que medem os efeitos da perda
auditiva em diferentes situações, e Emocional com 13 perguntas, que estimam o
comportamento e as respostas emocionais do indivíduo em relação à sua perda
auditiva.
Os participantes tiveram três possibilidades de resposta: "sim" (4 pontos),
"às vezes" (2 pontos) e "não" (0 pontos). A pontuação total pode variar entre 0 e
100 %; divididos entre escala Social/Situacional (0 e 48) e a escala Emocional (0
e 52). A classificação quanto ao índice obtido indica que de 0 a 16 pontos, não há
percepção da restrição de participação; de 18 a 40 pontos, percepção de leve a
moderada da restrição de participação e acima de 40 pontos, percepção
severa/significativa de restrição de participação. Desse modo, quanto maior o
índice, maior é a auto percepção do indivíduo em relação ao impacto psicossocial
23
e emocional da perda auditiva em sua participação nas atividades de vida diária,
ou seja, maiores são as dificuldades auditivas causadas pela perda auditiva.
Todos os procedimentos foram realizados em uma mesma sessão, com
duração média de 40 minutos após a realização da avaliação audiológica.
Análise dos Resultados
A análise estatística dos resultados, foram realizadas por um estatístico da
Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, através do
programa SPSS (13.0).
Os dados obtidos foram compilados e submetidos à análise estatística
descritiva e inferencial.
Inicialmente, foi realizada uma análise descritiva para as variáveis
qualitativas com frequências, no valor absoluto (n) e no valor relativo (%), como:
escolaridade, tipo de audição, grau da perda e para as variáveis quantitativas
foram calculadas as medidas de resumo, como o caso da variável idade.
Levando-se em conta a natureza da distribuição das variáveis
estudadas, foram utilizados os seguintes testes:
1) Para variáveis quantitativas foi utilizada a correlação de Pearson ou
Spearman quando necessário.
2) Para comparar os domínios do SSQ49 e os tipos de perda foi utilizado o
teste não paramétrico de Kruskal-Wallis e foram feitas comparações múltiplas
pelo teste de Mann-Whitney quando necessário.
Foi adotado o nível de significância p 0,05 para a rejeição da hipótese de
nulidade.
24
4. RESULTADOS
25
Neste capítulo, encontram-se os resultados obtidos na aplicação dos
questionários Speech, Spatial and Qualities of Hearing Scale – SSQ e Hearing
Handicap Inventory for Adults – HHIA, traduzidos para o Português Brasileiro. Para
melhor compreensão dos resultados obtidos, esse capítulo foi organizado nos
seguintes tópicos:
4.1 – Caracterização da amostra
4.2 – Resultados da aplicação dos questionários de auto avaliação
4.1 - Caracterização da amostra
A amostra do estudo foi composta por 90 adultos, divididos em dois grupos,
a saber: (GE) composto por 49 indivíduos com perda auditiva permanente (GC)
com 41 indivíduos com audição normal, com idades entre 18 e 59 anos, de ambos
os sexos sendo 67 mulheres e 23 homens, conforme demonstrado na Tabela 1.
Tabela 1. Distribuição dos indivíduos que participaram do estudo, de acordo com a idade e sexo nos GE e GC. (N=90).
Masculino Feminino Total
Idade GE GC GE GC
N % N % N % N % N %
18 ˧ 24 0 0 1 1,1 6 6,7 21 23,3 28 31,1
25˧ 59 17 18,9 5 5,6 26 28,9 14 15,6 62 69
Total 17 19 6 6,7 32 35,5 35 38,9 90 100
Legenda: GE= grupo estudo; GC= grupo controle, N= número de sujeitos.
Nessa tabela, observa-se que os participantes do sexo feminino
representaram 74,4% da amostra, com proporção similar nos dois grupos, sendo
que no GC a maior porcentagem foi na faixa entre 18 a 24 anos e no GE na faixa
entre 25 a 59 anos.
Na Tabela 2, pode-se verificar a distribuição dos grupos quanto à
escolaridade em anos de estudo.
26
Tabela 2. Distribuição dos indivíduos que participaram do estudo, de acordo escolaridade (anos) nos grupos controle e estudo (N=90).
Escolaridade
GE GC Total
N % N % N %
S/Escolaridade 2 2,2 2 2,2 4 4,4
1 ˧ 9 24 26,6 2 2,2 26 28,9
10 ˧ 12 18 20 7 7,8 25 27,8
13 ˧ 16 5 5,6 30 33,3 35 38,9
Total 49 54,4 41 45,6 90 100
Legenda: GE= grupo estudo; GC= grupo controle, N= número de sujeitos.
Quanto à escolaridade, observa-se uma distribuição equilibrada entre os
indivíduos do GE, já no GC houve predominância de indivíduos com mais de 13
anos de estudo.
A seguir, apresenta-se a distribuição dos indivíduos, de acordo com audição
normal, perda auditiva unilateral e perda auditiva bilateral (tabela 3).
Tabela 3. Distribuição dos indivíduos que participaram do estudo, de acordo com as características da audição – normal e lateralidade da perda auditiva (N=90).
GC GE Total
Audição N % N % N %
Normal 41 45,6 0 0 41 45,6
Perda unilateral 0 0 15 16,7 15 16,7
Perda bilateral 0 0 34 37,8 34 37,8
Total 41 45,6 49 54,5 90 100
Legenda: N= número de sujeitos.
Na tabela 4, demonstra-se a distribuição dos indivíduos do grupo estudo
(GE), de acordo com o grau de perda auditiva.
27
Tabela 4. Distribuição dos indivíduos que participaram do estudo (GE), de acordo com o grau de perda auditiva (N=49).
Perda auditiva
Grau
Orelha direita Orelha esquerda Total
N % N % N %
Leve 8 9,6 6 7,2 14 16,9
Moderada 22 26,5 18 21,7 40 48,2
Severa 8 9,6 13 15,7 21 25,3
Total 42 50,6 41 49,4 83 100
Legenda: N= número de sujeitos.
4.2 - Resultados da aplicação dos questionários de auto avaliação
A seguir, demonstram-se na tabela 5 e figura 1, 2 e 3 a distribuição dos
indivíduos que participaram do estudo, de acordo com o grupo sem perda auditiva
(GC) e com perda auditiva (GE).
Tabela 5. Distribuição dos indivíduos que participaram do estudo, de acordo com o grupo sem perda auditiva (GC) e com perda auditiva (GE) (N=90).
SSQ Grupo Média Mediana DP Mínimo Máximo P*
Audição para Fala
Com Perda 4,9 5,1 2,1 0,6 8,7
< 0,001 *
Sem Perda 7,6 8,1 1,5 4,5 9,6
Audição Espacial
Com Perda 4,7 4,9 2,4 0 9
< 0,001 **
Sem Perda 8,1 8,9 1,9 2,9 9,9
Qualidade da Audição
Com Perda 6 6,2 2,1 0 9,6
< 0,001 **
Sem Perda 8,8 9,3 1,4 3,5 9,9
*t-Student /**Mann Whitney
Pode-se observar a ocorrência de significância estatística nos três domínios
do questionário SSQ, na comparação dos grupos sem perda auditiva e com perda
auditiva.
28
Figura 1. Box Plot das respostas ao questionário SSQ por domínio (Audição para Fala) segundo GE e GC (N=90).
Figura 2. Box Plot das respostas ao questionário SSQ por domínio (Audição Espacial) segundo GE e GC (N=90).
29
Figura 3. Box Plot das respostas ao questionário SSQ por domínio (Qualidade da Audição) segundo GE e GC (N=90).
A seguir, demonstram-se na tabela 6 e figura 4 os valores médios, mediana,
desvio padrão, mínimo e máximo obtidos na aplicação do questionário SSQ por
domínio, no GC (audição normal) e GE (perda auditiva).
Tabela 6. Distribuição das respostas ao questionário SSQ por domínio segundo audição normal, perda auditiva unilateral e bilateral (N=90).
Domínio Tipo de audição Média Mediana DP Mínimo Máximo p *
Audição
para
Fala
Normal 7,6 8,1 1,5 4,5 9,6
< 0,001 Perda unilateral 5,6 5,9 1,6 3,3 8,4
Perda bilateral 4,6 4,7 2,2 0,6 8,7
Audição
para
Espacial
Normal 8,1 8,9 1,9 2,9 9,9
< 0,001 Perda unilateral 5 5,1 2,1 1,7 8,1
Perda bilateral 4,6 4,9 2,6 0 9
Qualidades
da
Audição
Normal 8,8 9,3 1,4 3,5 9,9
< 0,001 Perda unilateral 6,5 6,6 2,2 0,9 8,8
Perda bilateral 5,7 5,7 2,1 0 9,6
* Teste de Kruskal-Wallis
30
Figura 4 – Box Plot das respostas ao questionário SSQ por domínio segundo audição normal, perda auditiva unilateral e bilateral (N=90).
Observa-se que, o grupo com audição normal (GC) apresentou pontuações
mais elevadas nos três domínios do questionário SSQ. No grupo com perda
auditiva, indivíduos com perdas auditivas unilaterais tiveram índices maiores que os
com perda auditiva bilateral.
Na tabela 7 e figura 5, 6 e 7 demonstram-se os valores médios, mediana,
desvio padrão, mínimo e máximo obtidos na aplicação do questionário SSQ por
domínio, de acordo com a lateralidade da perda auditiva.
31
Tabela 7. Distribuição das respostas ao questionário SSQ por domínio nos GE segundo a lateralidade da perda auditiva (N=49).
SSQ Grupo Média Mediana DP Mínimo Máximo P*
Audição para Fala Unilateral 5,6 5,9 1,6 3,3 8,4
0,126 Bilateral 4,6 4,7 2,2 0,6 8,7
Audição Espacial Unilateral 5 5,1 2,1 1,7 8,1
0,605 Bilateral 4,6 4,9 2,6 0 9
Qualidades da Audição Unilateral 6,5 6,6 2,2 0,9 8,8
0,132 Bilateral 5,7 5,7 2,1 0 9,6 * t-Student / ** Mann-Whitney
Verificou-se que os valores médios não apresentaram diferenças para os
três domínios, sendo assim não houve significância entre a lateralidade da perda
auditiva e os domínios do questionário SSQ.
A seguir, o Box Plot apresenta as diferenças encontradas entre os domínios
do questionário SSQ, segundo a lateralidade da perda auditiva.
Figura 5. Box Plot das respostas ao questionário SSQ por domínio (Audição para Fala), perda de audição unilateral e bilateral (N=49).
32
Figura 6. Box Plot das respostas ao questionário SSQ por domínio (Audição Espacial), perda de audição unilateral e bilateral (N=49).
Figura 7. Box Plot das respostas ao questionário SSQ por domínio (Quantidade da Audição), audição unilateral e bilateral (N=49).
33
Na tabela 8 demonstra-se os valores médios, mediana, desvio padrão,
mínimo e máximo obtidos na aplicação do questionário SSQ por domínio, de
acordo com o grau da perda auditiva.
Tabela 8. Distribuição das respostas ao questionário SSQ por domínio de acordo com o grau de perda auditiva (N=90).
Domínio
Grau da
Perda Média Mediana DP Mínimo Máximo p *
Audição
Fala
Normal 7,6 8,1 1,5 4,5 9,6
< 0,001 Leve 5,3 4,6 2,1 3,1 8,4
Moderada 4,8 5,3 2,1 0,6 8,7
Severa 4,1 4,5 2,2 0,9 6,5
Audição
Espacial
Normal 8,1 8,9 1,9 2,9 9,9
< 0,001 Leve 4,9 5,1 2,7 1,1 8,9
Moderada 4,9 5,1 2,2 0 8
Severa 4,0 3 2,7 1,1 9
Qualidade
Normal 8,8 9,3 1,4 3,5 9,9
< 0,001 Leve 6,5 5,7 1,7 4,5 9,6
Moderada 6,0 6,2 2,1 0 8,8
Severa 4,8 4,6 2,8 0,9 9,2
* Teste de Kruskal-Wallis. Legenda: DP= desvio padrão
Verificou-se que os valores médios apresentaram diferenças para os três
domínios, entre os grupos (audição normal e perda auditiva leve), (audição normal
e perda auditiva moderada) e (audição normal e perda auditiva severa).
Na tabela 9 e figura 8 verifica-se as comparações múltiplas entre o GC e os
graus de perda auditiva no GE.
34
Tabela 9. Respostas ao questionário SSQ por domínio de acordo com o grau de perda auditiva (N=90).
Comparações Fala Espacial Qualidade
Normal X Leve 0,001 <0,001 < 0,001
Normal X Moderada < 0,001 < 0,001 < 0,001
Normal X Severa 0,001 0,001 0,001
Leve X Moderada 0,555 0,988 0,639
Leve X Severa 0,318 0,65 0,103
Moderada X Severa 0,549 0,263 0,207
* Teste Mann-Whitney
Após as comparações múltiplas, verificou-se que houve significância
apenas para o grupo com a audição normal (GC) em relação aos grupos com
perda auditiva (GE).
Figura 8. Box Plot das respostas ao questionário SSQ por domínio e grau de perda (N=90).
Na tabela 10 e figuras 9, 10 e 11 verificam-se as comparações múltiplas
entre os graus de perda auditiva no GE.
35
Tabela 10. Respostas ao questionário SSQ por domínio de acordo com o grau de perda auditiva (N=49).
SSQ Grau da Perda Média Mediana DP Mínimo Máximo p *
Fala
Leve 5,3 4,6 2,1 3,1 8,4
0,616 Moderada 4,8 5,3 2,1 0,6 8,7
Severa 4,1 4,5 2,2 0,9 6,5
Profunda 6,6 6,6 2,6 4,8 8,4
Espacial
Leve 4,9 5,1 2,7 1,1 8,9
0,612 Moderada 4,9 5,1 2,2 0,0 8,0
Severa 4,0 3,0 2,7 1,1 9,0
Profunda 4,0 4,0 3,2 1,7 6,3
Qualidade
Leve 6,5 5,7 1,7 4,5 9,6
0,293 Moderada 6,0 6,2 2,1 0,0 8,8
Severa 4,8 4,6 2,8 0,9 9,2
Profunda 7,3 7,3 1,4 6,4 8,3
* Teste Kruskall-Wallis
Observa-se que, não houve significância na relação grau de perda auditiva e
domínios do SSQ. A seguir, podemos verificar o Box Plot, das respostas do
questionário SSQ, por domínio de acordo com o grau de perda auditiva.
Figura 9. Box Plot das respostas ao questionário SSQ por domínio (Audição para Fala) segundo o grau de perda auditiva (N=49).
36
Figura 10. Box Plot das respostas ao questionário SSQ por domínio (Audição Espacial) segundo o grau de perda auditiva (N=49).
Figura 11. Box Plot das respostas ao questionário SSQ por domínio (Qualidade da Audição) segundo o grau de perda auditiva (N=49).
A seguir, na tabela 11 e figura 12 apresentam-se a estatística descritiva
(média, mediana, desvio padrão, mínimo, máximo e valor de p*) do questionário
HHIA entre os indivíduos do GE e GC.
37
Tabela 11. Respostas ao questionário HHIA de acordo com GE e GC (N=68).
Grupo Média Mediana DP Mínimo Máximo p *
GE 57,2 58 31,2 4 100
< 0,001
GC 10,7 4 19,5 0 96
* Teste Mann-Whitney Legenda: DP – desvio padrão; GE – grupo estudo, GC – grupo controle.
Houve significância na relação grupo estudo (GE) versus grupo controle
(GC), nas respostas do questionário HHIA.
Figura 12. Box Plot das respostas ao questionário HHIA de acordo com o GE e GC (N=68).
Observa-se que o GE apresentou piores respostas em relação ao GC.
A seguir, na tabela 12 e figura 13 apresentam-se a estatística descritiva
(média, mediana, desvio padrão, mínimo, máximo e valor de p*) do questionário
HHIA entre os indivíduos do GE.
38
Tabela 12. Respostas ao questionário HHIA de acordo com a população bilateral.
Audição Média Mediana DP Mínimo Máximo p*
HHIA Unilateral 43,8 30,0 33,8 4,0 98,0 0,044
Bilateral 66,7 74,0 25,7 28,0 100,0 *Mann-Whitney
Figura 13. Box Plot das respostas ao questionário HHIA de acordo com a audição do GE.
Após a comparação da lateralidade no (GE), verificou-se que houve
significância entre as respostas do questionário HHIA, como podemos visualizar na
(Tabela 12) e na (Figura 14).
Na (tabela 13) visualiza-se os valores em porcentagem quanto ao grau da
perda auditiva, na qual observa-se significância dos valores entre GE e GC.
39
Tabela 13. Respostas ao questionário HHIA de acordo com o grau de perda auditiva.
Grau de Perda Média Mediana DP Mínimo Máximo p *
Normal (GC) 10,7 4 19,5 0 96
< 0,001
Leve (GE) 46 44 28,9 4 96
Moderada (GE) 56,7 71 33,6 6 98
Severa (GE) 78,8 88 19,5 58 100
* Teste de Kruskal-Wallis Legenda: DP – desvio padrão; GE – grupo estudo, GC – grupo controle.
Houve significância na relação grupo com audição normal (GC) versus
grupos com diferentes graus de perda auditiva (GE). Na comparação entre os
graus de perda auditiva, somente o grau leve versus grau severo, foi significante.
A seguir será apresentado o Box Plot com os resultados obtidos na
aplicação do questionário HHIA para melhor visualização (Figura 14).
Figura 14. Box Plot das respostas ao questionário HHIA segundo o grau de perda
auditiva.
40
A seguir, na tabela 14 e figura 15 apresentam-se as correlações dos
questionários HHIA e SSQ.
Tabela 14. Correlação de Pearson para as respostas dos questionários HHIA e SSQ.
Correlação de Pearson p r
HHIA x Audição para Fala < 0,001 -0,676
HHIA x Audição Espacial 0,002 -0,547
HHIA x Qualidades da Audição < 0,001 -0,697
Houve correlações negativas de grau moderado para os três domínios,
sendo mais fraca delas para o domínio Audição Espacial.
A seguir, nos Scatter Plot apresentam-se as correlações encontradas entre
os domínios do questionário SSQ versus o questionário HHIA.
Figura 15. Scatter Plot das respostas aos questionários HHIA e SSQ por domínio Audição para Fala (A), Audição Espacial (B) e Qualidade da Audição (C).
41
5. DISCUSSÃO
42
A discussão foi organizada de maneira a relacionar os achados deste estudo
com aqueles dos autores referidos anteriormente, seguindo a mesma divisão
apresentada nos resultados para o estabelecimento de possível relações entre os
dados e pretendendo cumprir os objetivos do estudo.
Seguindo a mesma disposição utilizada para expor os resultados,
dividiremos este capítulo em duas partes distintas, a saber:
5.1 - Caracterização da amostra
5. 2 – Discussão dos resultados da aplicação dos questionários de auto
avaliação
5. 1 - Caracterização da amostra
A amostra foi composta por 90 indivíduos adultos, divididos em dois grupos:
Grupo Estudo (GE) composto por 49 indivíduos com perda auditiva permanente e
Grupo Controle (GC) com 41 indivíduos com audição normal.
Para caracterizar a amostra, utilizou-se a análise estatística quantitativa, os
grupos foram analisados quanto a idade, sexo e escolaridade; e comparados
quanto a audição (normal, perda auditiva unilateral e bilateral) e grau de perda
auditiva.
Em relação a faixa etária (Tabela 1), a amostra foi composta por indivíduos
com idades entre 18 a 59 anos. A maioria dos participantes do estudo estavam na
faixa etária de 25 a 59 anos, sendo 47,8% do grupo com a perda auditiva.
Ainda que não tenha sido objeto de nosso estudo, é importante destacar que
há evidencias de que os índices do SSQ sejam afetados pela idade dos
respondentes. Uma vez que adultos jovens (idade média de 19 anos) tiveram
escores significantemente mais elevados que idosos com idade média de 70 anos
(Banh et al, 2012).
43
Quanto ao sexo dos participantes (Tabela 1), houve predominância do sexo
feminino 74,4%, em ambos os grupos.
Os indivíduos foram classificados quanto a escolaridade em quatro
categorias: “sem escolaridade” quando os indivíduos nunca frequentaram escola,
“1 a 9 anos de estudos” para os indivíduos que cursaram o ensino fundamental, “10
a 12 anos de estudos” para os indivíduos que cursaram o ensino médio e “acima
de 13 anos de estudos” os indivíduos com nível superior. Houve uma distribuição
equilibrada dos níveis de escolaridade entre os indivíduos do GE (Tabela 2),
enquanto que no GC houve predominância de indivíduos com mais de 13 anos de
estudo. Como foi utilizada uma amostra de conveniência, verificou-se uma
discrepância entre grupos nesse quesito.
Todos os participantes foram submetidos à audiometria tonal liminar,
logoaudiometria e medidas de imitância acústica, apresentando audição normal
(média 500, 1000, 2000 e 4000 Hz ≤ 25 dB) ou perda de audição (média 500, 1000,
2000 e 4000 Hz ≥ 26 dB), conforme classificação da (OMS, 2014). Observou-se
que 37,8% do GE apresentaram perda auditiva bilateral e 16,7% com perda
auditiva unilateral (Tabela 3). No que se refere ao grau de perda auditiva, a maioria
dos indivíduos 48,2% apresentaram grau moderado, 25,3% grau severo e 16,9%
com grau leve (Tabela 4).
5. 2 - Aplicação dos questionários de auto avaliação.
A audição é um dos principais sentidos para os seres humanos, além de nos
manter em estado de vigília, possibilita a interação com nossos pares por meio da
comunicação oral. Dentre as principais consequências da deficiência auditiva,
podemos encontrar a limitação em atividades e restrição de participação, sendo
que a limitação em atividades está relacionada à falta de habilidade para a
percepção de fala em ambientes ruidosos e a restrição de participação, que está
ligada ao quanto a deficiência impede o indivíduo de desempenhar suas atividades
em sociedade (Gonsalez e Almeida,2017). Nesse estudo, avaliou-se a limitação em
atividades usando o questionário Speech, Spatial and Qualities of Hearing Scale -
SSQ e a restrição de participação com o questionário HHIA.
44
O SSQ tem sido usado mundialmente e foi desenvolvido com o objetivo de
caracterizar a relação da deficiência e os prejuízos da experiência auditiva em uma
variedade de situações complexas de escuta do cotidiano. É um instrumento de
auto avaliação do indivíduo em uma variedade de domínios como situações de
audição direcional relacionada a diferentes distâncias e ao movimento, segregação
de sons e fluxos de vozes simultâneas, facilidade de escuta, naturalidade e clareza
dos sons do cotidiano e de diferentes peças musicais e instrumentos (Gatehouse,
Noble, 2004; Singh, Pichora-Fuller, 2010; Banh et al, 2012; Dwyer, 2014; Moulin,
Richard, 2016).
O SSQ foi aplicado em todos os indivíduos, e analisados comparativamente
os índices obtidos no Grupo Estudo (GE) e Grupo Controle (GC). As médias do GE
para os domínios Audição para fala, Audição Espacial e Qualidade da Audição
foram respectivamente 4,9; 4,7 e 6. Enquanto que para o GC as médias foram 7,6;
8,1 e 8,8. Observou-se significância estatística (< 0,001) nos três domínios do
questionário, demonstrando que as pontuações do SSQ foram inferiores nos
indivíduos com perda auditiva. Resultados similares foram observados em outros
estudos, ou seja, foram obtidos índices piores em todas as questões do SSQ, no
grupo com perda auditiva em relação ao grupo com audição normal (Gatehouse,
Noble, 2004; Gonsalez, Almeida, 2017).
Ao analisarmos a pontuação em cada domínio do SSQ comparando o
grupo com audição normal versus grupo com perda de audição considerando a
lateralidade da perda auditiva - bilateral e unilateral - observou-se significância
estatística nos três domínios (< 0,001), sendo que o grupo com audição normal
apresentou pontuações mais elevadas nos três domínios em comparação aos
grupos com perda auditiva tanto bilateral quanto unilateral. Quando comparados os
escores dos indivíduos com perda auditiva bilateral versus perda auditiva unilateral,
não foi observada significância estatística para nenhum dos três domínios do
questionário (p ≤ 0,126), (p ≤ 0,605) e (p ≤ 0,132), ainda que as pontuações dos
indivíduos com perda auditiva unilateral tenham sido melhores que a dos com
perda auditiva bilateral. Esse fato não foi observado em estudo que avaliou os
efeitos auditivos na comunicação diária utilizando os dominios do SSQ, audição
espacial e qualidade da audição para comparar o desempenho de indivíduos
45
adultos com perdas auditivas unilaterais. Os autores concluiram que os adultos
dependentes de uma única orelha, estão em desvantagem em todos os aspectos
da audição e comunicação diária (Dwier et al, 2014).
É importante ressaltar que ainda que os escores tenham sido melhores que
nas perdas auditivas bilaterais, a perda auditiva unilateral pode estar associada a
consequências negativas, independentemente do suporte tecnológico, como o uso
de uma prótese auditiva. O gerenciamento audiológico desses indivíduos deve
apoiar o desenvolvimento de estratégias de escuta e estabelecer expectativas
adequadas para a participação em situações de audição diárias (Lucas et al, 2017).
Os sujeitos com assimetrias na audição podem apresentar déficits auditivos
binaurais que impõem desvantagens em sua qualidade de vida cotidiana (Vannson
et al, 2015).
Ao analisarmos por meio de comparações múltiplas os graus de perda
auditiva versus audição normal, verificou-se significância estatística apenas para o
grupo com audição normal em relação aos grupos com perda auditiva nos três
domínios do questionário SSQ (p < 0,001). Quando foi analisado se haveria
diferença nos escores do questionário SSQ considerando apenas os diferentes
graus de perda auditiva, verificou-se que não houve significância em nenhum dos
três domínios do questionário (p 0,639; 0,103; 0,207). Esperava-se encontrar maior
limitação de atividades (incapacidades) quanto mais severa fosse a perda auditiva.
Os resultados desse estudo demonstram, que independentemente do grau da
perda auditiva, haverá uma limitação auditiva que interferirá em suas atividades de
vida diária.
Como o SSQ é um questionário de uso recente em nossa realidade,
importante destacar que o mesmo se mostrou de fácil compreensão e
aplicabilidade clínica, como já demonstrado na literatura (Banh, 2012; Gonsalez,
Almeida, 2015). Em nossa pesquisa, 90% dos participantes não apresentaram
dificuldades para compreender as perguntas do questionário. Apenas dez
participantes do GE usaram a opção “não se aplica”, sendo que desse total, sete
participantes tiveram dificuldades para compreender as questões 15 e 16 do
domínio Audição Espacial. Os questionários são instrumentos de autorrelato, sus-
cetíveis a erros aleatórios inerentes às avaliações subjetivas. Quanto menor a
46
ocorrência destes erros e maior a estabilidade das respostas entre itens, maior é a
precisão nas medições e, consequentemente, maior a confiabilidade do
instrumento (Gonsalez, Almeida, 2017).
A aplicação do questionário foi realizada em forma de entrevista e teve um
tempo médio de 40 minutos, fato que pode desmotivar o uso da ferramenta por
parte dos profissionais. Outros estudos evidenciaram que o tempo de aplicação do
questionário é um fator importante para determinar a sua utilização em ambiente
clínico. Há versões reduzidas do SSQ que podem ser utilizadas na prática clínica e
já traduzidas para o português brasileiro (Gonsalez e Almeida, 2017). Também foi
sugerido o uso da forma autoadministrada, ou seja, o próprio participante responde
e marca seu escore na escala, o que diminuiria significativamente o tempo de
aplicação, podendo ser de no mínimo 14 minutos e no máximo 40 minutos (Singh,
Pichora-Fuller, 2010; Aguiar, 2016).
A deficiência sensorial pode levar indivíduos com deficiência auditiva, a se
isolarem, o que leva a depressão, irritabilidade e sentimentos de inferioridade. O
gerenciamento audiológico desses indivíduos deve apoiar o desenvolvimento de
estratégias de escuta e estabelecer expectativas adequadas para a participação
em situações de audição diárias (Monzani et al, 2008; Francelin et al, 2010;
Vannson et al, 2015; Lucas et al, 2017).
Com objetivo de caracterizar a restrição de participação utilizou-se o Hearing
Handicap Inventory for Adults – HHIA (Newman, 1990). Tal questionário em sua
versão em portugues brasileiro possui facilidade de leitura, boas propriedades
psicométricas (incluindo sua validade e confiabilidade) com o alfa de Cronbach e a
correlação de Pearson demonstrando alta consistência interna (Aiello et al, 2011).
No presente estudo, analisou-se comparativamente os índices obtidos no
Grupo Estudo (GE) e Grupo Controle (GC). Observou-se significância estatística
(p< 0,001), demonstrando que as pontuações do HHIA foram maiores nos
indivíduos com perda auditiva, isto é, 57,2% enquanto que a do grupo sem perda
auditiva foi 10,7%, concordando com a literatura pesquisada (Almeida, 1998;
Amorim e Almeida, 2007; Araújo et al, 2010).
Em seguida, verificou-se diferença quanto às respostas do questionário de
acordo com a lateralidade da perda auditiva, sendo que a população unilateral
47
obteve melhores respostas, média 43,8 e com significância estatística (p≤ 0,044).
Desse modo, verificou-se que tanto os indivíduos com perdas auditivas bilaterais
quanto unilaterais apresentaram uma percepção severa de restrição de
participação uma vez que o índice médio obtido se encontrava acima de 40%.
(Newman et al, 1990). Dentre a população estudada, 23 sujeitos apresentaram
restrição de participação de grau severo
Esses achados suportam o uso de medidas de restrição de participação de
autorrelato com adultos, uma vez que as medidas audiométricas isoladas são
insuficientes para descrever o impacto quer a perda auditiva gera em seu portador
(Newman et al, 1990). Os dados audiométricos e demográficos não permitem
estimar a restrição de participação de modo que tenha utilidade clínica para
indicação ou planejamento de algum tipo de intervenção para um dado paciente.
Sabendo-se que este processo frequentemente baseia-se apenas nos resultados
dos limiares auditivos, tais achados também servem de alerta para a revisão das
práticas clínicas, com a inclusão de algum instrumento específico para a avaliação
da restrição de participação no processo de reabilitação do indivíduo (Almeida,
1998; Lima et al, 2010)
Na comparação do grupo com audição normal versus os diferentes graus de
perda auditiva, verificou-se que ocorreu significância estatística entre os grupos. Na
comparação entre os graus de perda auditiva, verificou-se diferença estatística
entre grau leve e grau severo. Já na comparação entre os demais graus de perda
auditiva, verificou-se que não houve significância (p< 0,141).
A aplicação do HHIA mostrou-se um procedimento eficiente, pois tanto a
perda auditiva bilateral quanto a unilateral, pode comprometer aspectos sociais e
emocionais do indivíduo, que não estão necessariamente associados a aspectos
audiológicos, considerando a grande variabilidade na autopercepção da restrição
de participação encontrada (Araújo et al, 2010).
Para verificar a ocorrência de possíveis correlações das respostas dos
questionários HHIA versus SSQ em seus três domínios, utilizou-se a correlação de
Pearson. Os resultados revelaram uma correlação negativa de grau moderado para
os três domínios do SSQ (r -0,676, -0,547, -0,697), sendo mais fraca para o domínio
Audição Espacial (r -0,547). Considerando a forma de pontuação do SSQ - quanto
48
menor o escore maior a limitação em atividades – e do HHIA – quanto maior o
escore maior a restrição de participação – infere-se que quanto menor for o escore
do SSQ maior será a pontuação do HHIA, ou seja, indivíduos com grande limitação
em atividade provavelmente também apresentarão grande restrição de
participação.
49
6. CONCLUSÃO
50
Considerando o objetivo do presente estudo que foi caracterizar a limitação
em atividades/incapacidade auditiva e restrição de participação em adultos com
perda auditiva, por meio dos questionários SSQ e HHIA, verificando se a
lateralidade e o grau da perda auditiva são fatores de variabilidade, pudemos
concluir que:
1) a limitação em atividades expressa pelos escores do SSQ, foi maior em
indivíduos com perda auditiva, não havendo diferenças quanto a lateralidade
e grau de perda da audição;
2) a restrição de participação expressa pelos escores do HHIA, foi maior em
indivíduos com perda auditiva, sendo que os indivíduos com perda auditiva
bilateral possuem maior autopercepção da restrição de participação que os
com perda unilateral, e na comparação entre os diferentes graus de perda
auditiva, somente o grau severo teve significância estatística;
3) Indivíduos com menores pontuações no SSQ (maior limitação em
atividades) tenderão a apresentar maior pontuação no HHIA (maior restrição
de participação).
51
ANEXOS
52
ANEXO I – Comprovante de Pesquisa – Parecer do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP)
53
ANEXO II – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)
Prezado (a) Sr. (a).
Estamos desenvolvendo uma pesquisa chamada “Efeitos da Perda Auditiva no Desempenho de Adultos em Atividades de Vida Diária” que tem como objetivo de avaliar o desempenho auditivo de adultos com perdas auditivas, usuários e não usuários de prótese auditiva, por meio dos questionários SSQ 49 e HHIA.
A sua participação voluntária na pesquisa, envolve a realização dos seguintes procedimentos:
1) Realizar audiometria tonal que é um teste para avaliar sua audição que consiste na apresentação de diferentes sinais por meio de fones, em uma cabine silenciosa;
2) Realizar a imitanciometria que é um teste simples que avalia por meio de uma pequena sonda se existe comprometimento da membrana timpânica e dos reflexos.
3) Responder a dois questionários relacionados a sua dificuldade auditiva nas atividades do dia-dia;
Todos os procedimentos serão realizados na Clínica de Fonoaudiologia da Santa Casa de São Paulo.
Não há nenhum risco associado ao estudo, apenas possível desconforto pelo tempo exigido para aplicação dos testes e questionários.
Os dados coletados serão usados somente para pesquisa, os resultados serão divulgados em artigos científicos ou congressos, porém seu nome não será divulgado.
Você pode recusar sua participação agora ou em qualquer momento durante a pesquisa, e caso faça isso você continuará com seu acompanhamento nesta clínica sem nenhum problema.
A qualquer momento você poderá procurar os pesquisadores para receber informações e esclarecimentos adicionais sobre o estudo.
Esta pesquisa será realizada pelo aluno Danilo Santana da Silva, RG 33.950.021-9, do Curso de Mestrado Profissional em Saúde da Comunicação Humana da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, sob orientação da Profa. Dra. Katia de Almeida.
Os pesquisadores podem ser encontrados no Curso de Fonoaudiologia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, localizado na Rua Dr. Cesário Motta Júnior, 61 - 8º andar, Vila Buarque – SP, telefone (11) 3367-7785 e celular (11) 99900-3664.
O endereço do Comitê de Ética em Pesquisa é Rua Santa Isabel, 305 – 4º andar, São Paulo CEP: 01221-010, telefone: (11)2176-7689.
Se você entendeu tudo que lhe foi explicado e aceite participar deste estudo, por favor, assine esse Termo, uma via ficará com você.
Desde já agradecemos a sua colaboração, e colocamo-nos à sua disposição para qualquer esclarecimento.
Eu, _____________________________________________, RG nº_______________________
Declaro que todas as minhas dúvidas foram retiradas e aceito participar da pesquisa “Efeitos da Perda Auditiva no Desempenho de Adultos em Atividades de Vida Diária” por minha livre vontade. Recebi ainda a garantia que em nenhum momento meu nome será divulgado.
São Paulo, _____ de ____________ de_______
_________________________________ Nome e assinatura do participante
________________________________________ Nome do responsável por obter o consentimento
54
Anexo III - Speech, Spatial and Qualities of Hearing Scale (SSQ ) – Versão Traduzida e Adaptada para o Português Brasileiro
55
56
57
58
Anexo IV – The Hearing Handicap Inventory for Adults (HHIA)
59
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
60
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RESUMO
INTRODUÇÃO: A deficiência auditiva pode causar grande impacto na vida do
sujeito adulto, levando a limitações nas atividades comunicativas e acometendo
aspectos sociais e emocionais do portador. O uso e aplicação de questionários é
uma excelente ferramenta de auto avaliação em adultos, pois quantifica e qualifica o
impacto da perda auditiva nas atividades de vida diária, pois o audiograma por si só
não pode refletir com precisão os prejuízos na audição subjetiva ou como certos
indivíduos podem lidar melhor com a perda auditiva do que outros. OBJETIVO:
Caracterizar o perfil da limitação em atividades/incapacidade auditiva e restrição de
participação em adultos ouvintes e com perda auditiva, por meio dos questionários
SSQ e HHIA, verificando se a lateralidade e o grau da perda auditiva são fatores de
variabilidade. MÉTODO: Participaram da pesquisa 90 indivíduos, de ambos os
sexos, com idade entre 18 a 59 anos; divididos em dois grupos: Grupo Estudo (GE)
composto por 49 indivíduos com perda auditiva permanente, e Grupo Controle (GC)
com 41 indivíduos. Todos os indivíduos foram submetidos à Anamnese, para obter
informações relacionadas a audição, ocupação e escolaridade. Em seguida, foram
submetidos à Audiometria Tonal Liminar, Logoaudiometria e Medidas de Imitância
Acústica. Para avaliação da incapacidade auditiva foi aplicado em forma de
entrevista o questionário Speech, Spatial and Qualities of Hearing Scale – (SSQ).
Para avaliação da restrição de participação, foi aplicado o questionário The Hearing
Handicap Inventory for Adults – (HHIA). RESULTADO: Verificou-se diferenças
significantes entre os grupos com audição normal (GC) e o grupo com perda auditiva
(GE), nas pontuações dos questionários SSQ e HHIA. Não houve diferenças
significantes nos escores nos três domínios do SSQ quanto a lateralidade e o grau
da perda auditiva. No que se refere ao HHIA, foi encontrada diferença significante na
comparação dos subgrupos com perdas auditivas unilaterais e bilaterais; e quanto a
severidade da perda auditiva houve significância apenas na comparação entre a
perda auditiva de grau leve versus severo. CONCLUSÃO: A limitação em atividades
foi maior em indivíduos com perda auditiva, não havendo variabilidade quanto a
lateralidade e grau de perda da audição; a restrição de participação foi maior em
indivíduos com perda auditiva, sendo mais elevada na perda auditiva bilateral que na
unilateral; e nas perdas auditivas de grau severo; indivíduos com maior limitação em
atividades tenderão a apresentar maior restrição de participação.
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ABSTRACT
INTRODUCTION: Hearing impairment can have a great impact on the life of the
adult, leading to limitations in communicative activities and affecting the social and
emotional aspects of the individual. The use and application of questionnaires is an
excellent tool for self-evaluation in adults because it quantifies and qualifies the
impact of hearing loss on daily life activities, since the audiogram alone cannot
accurately reflect subjective hearing losses or as certain individuals can deal better
with hearing loss than others. OBJECTIVE: To characterize the profile of the
limitation in activities / hearing incapacity and restriction of participation in normal
hearing adults and with hearing loss, through the SSQ and HHIA questionnaires,
verifying if the laterality and the degree of the hearing loss are factors of variability.
METHOD: A total of 90 individuals of both genders, aged between 18 and 59 years,
participated in the study; divided into two groups: Group Study (GE) composed of 49
individuals with permanent hearing loss, and Control Group (CG) with 41 individuals
with normal hearing thresholds. All subjects were submitted to anamnesis,
audiometry, Speech tests (SRT and SR) and Acoustic Immitance Measurements. To
evaluate activity limitation was used The Speech, Spatial and Qualities of Hearing
Scale - (SSQ) questionnaire. The Hearing Handicap Inventory for Adults - (HHIA)
was applied to evaluate the participation restriction. RESULTS: There were
significant differences between the groups with normal hearing (CG) and the group
with hearing loss (SG), in the SSQ and HHIA questionnaire scores. There were no
significant differences in the scores of the three domains of SSQ regarding laterality
and degree of hearing loss There were no significant differences in the scores of the
three domains of SSQ regarding laterality and degree of hearing loss. Concerning
HHIA, a significant difference was found in the comparison of subgroups with
unilateral and bilateral hearing loss; and the severity of hearing loss was only
significant in the comparison between mild to severe hearing loss. CONCLUSION:
The activity limitation was higher in individuals with hearing loss, and there was no
variability regarding the laterality and degree of hearing loss; the participation
restriction was higher in individuals with hearing loss, being higher in bilateral than in
unilateral hearing loss and severe hearing loss; individuals with greater limitations in
activities will tend to present a greater restriction of participation.