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CÂMARA LEGISLATIVA DO DISTRITO FEDERAL 3ª SECRETARIA – DIRETORIA LEGISLATIVA DIVISÃO DE TAQUIGRAFIA E APOIO AO PLENÁRIO SETOR DE TAQUIGRAFIA NOTAS TAQUIGRÁFICAS Data Horário Início Sessão/Reunião Página 28 08 2017 8h Seminário da Educação - Surdo em Foco 1 MESTRE DE CERIMÔNIAS – Senhoras e senhores, bom dia. Gostaríamos de convidar todos aqueles que ainda se encontram do lado de fora a adentrarem o plenário, para que possamos dar início a este seminário. Pedimos ainda a gentileza de prestarem atenção aos degraus quando se deslocarem dentro do auditório. Obrigado. Senhoras e senhores, sejam bem-vindos à Câmara Legislativa do Distrito Federal, nesta oportunidade, para participarem do seminário que tem como tema Surdo em Foco. Convidamos para compor a Mesa e conduzir os trabalhos o Exmo. Sr. Presidente da Câmara Legislativa do Distrito Federal, Deputado Joe Valle. PRESIDENTE (DEPUTADO JOE VALLE) – Bom dia a todos. Eu gostaria de começar dizendo que estou muito feliz de poder fazer este trabalho aqui. Estamos com o seminário que vem desdobrado da audiência pública. Então, ele é um desdobramento da audiência pública em que se discutiu a institucionalização do Centro de Atendimento ao Surdo – CAS e tem como proposta dar protagonismo às pessoas surdas. Considerando que as pessoas com deficiência devem ter a oportunidade de participar ativamente das decisões relativas a programas e políticas, inclusive as que lhes dizem respeito diretamente, como determina a Convenção dos Direitos das Pessoas com Deficiência, que se tornou Emenda Constitucional através do Decreto nº 6.949, de 2009, nós estamos trabalhando para que este seminário internalize essa discussão sobre legislação nesta Casa. E, como a legislação é base para tudo, queremos e agradecemos a participação de todos vocês nas decisões da política pública do Distrito Federal. Essa é a lógica de estarmos aqui. Nós vamos passar o dia construindo soluções para os problemas existentes. Quero agradecer a todos vocês por participarem conosco, e a Câmara, então, a partir desta gestão, que iniciou no começo deste ano, já vem desdobrando as ações para que nós possamos

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MESTRE DE CERIMÔNIAS – Senhoras e senhores, bom dia. Gostaríamos de convidar todos aqueles que ainda se encontram do lado de fora a adentrarem o plenário, para que possamos dar início a este seminário. Pedimos ainda a gentileza de prestarem atenção aos degraus quando se deslocarem dentro do auditório. Obrigado.

Senhoras e senhores, sejam bem-vindos à Câmara Legislativa do Distrito Federal, nesta oportunidade, para participarem do seminário que tem como tema Surdo em Foco. Convidamos para compor a Mesa e conduzir os trabalhos o Exmo. Sr. Presidente da Câmara Legislativa do Distrito Federal, Deputado Joe Valle.

PRESIDENTE (DEPUTADO JOE VALLE) – Bom dia a todos. Eu gostaria de começar dizendo que estou muito feliz de poder fazer este trabalho aqui. Estamos com o seminário que vem desdobrado da audiência pública. Então, ele é um desdobramento da audiência pública em que se discutiu a institucionalização do Centro de Atendimento ao Surdo – CAS e tem como proposta dar protagonismo às pessoas surdas.

Considerando que as pessoas com deficiência devem ter a oportunidade de participar ativamente das decisões relativas a programas e políticas, inclusive as que lhes dizem respeito diretamente, como determina a Convenção dos Direitos das Pessoas com Deficiência, que se tornou Emenda Constitucional através do Decreto nº 6.949, de 2009, nós estamos trabalhando para que este seminário internalize essa discussão sobre legislação nesta Casa. E, como a legislação é base para tudo, queremos e agradecemos a participação de todos vocês nas decisões da política pública do Distrito Federal. Essa é a lógica de estarmos aqui. Nós vamos passar o dia construindo soluções para os problemas existentes.

Quero agradecer a todos vocês por participarem conosco, e a Câmara, então, a partir desta gestão, que iniciou no começo deste ano, já vem desdobrando as ações para que nós possamos avançar, mesmo que devagar, nesse processo da legislação, da fiscalização da execução da política pública e da representação de vocês aqui nesta Casa.

Então, eu sou Presidente da Câmara Legislativa e aqui represento os 24 Deputados. Todos os Deputados desta Casa estão sabendo do que está acontecendo e têm os seus representantes que vão participar do nosso seminário, criando uma verdadeira Frente Parlamentar de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência, ok? Agradeço a todos vocês e espero que seja um seminário muito produtivo para a nossa cidade.

Eu gostaria de chamar para tomar assento à Mesa o Exmo. Sr. Secretário de Estado de Trabalho, Desenvolvimento Social, Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos – SEDESTMIDH, Gutemberg Gomes; o

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Exmo. Sr. Subsecretário de Educação Básica, Daniel Damasceno Crepaldi; o Sr. Diretor da Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos – FENEIS, João Renato Dias Rodrigues; o Sr. Professor de Linguística, Português e Línguas Clássicas da Universidade de Brasília, João Paulo Vitório Miranda; a Sra. Professora de Libras do Instituto Federal de Brasília, Renata Resende; a Sra. Professora Doutora e Pesquisadora da Universidade Federal de Santa Catarina, Ronice Müller de Quadros. (Palmas.)

Eu vou passar a palavra para os componentes da Mesa e gostaria que a gente ficasse no tempo regulamentar de três minutos, na Mesa, para que possamos iniciar rapidamente os nossos trabalhos que são a parte técnica do seminário.

De antemão, é muito importante - eu estou aqui com o Subsecretário Daniel Crepaldi, representando o Secretário de Educação - que nós tenhamos a institucionalização do CAS – Centro de Capacitação de Profissionais de Educação e de Atendimento às Pessoas com Surdez.

Essa é uma demanda importante, Daniel, que nós tiramos da audiência pública e será certamente uma discussão muito forte dentro do nosso seminário. A gente vai demandar ao Governo do Distrito Federal, até porque nós tivemos uma sinalização muito positiva durante a audiência pública por parte da Secretaria de Educação.

Então, eu gostaria de passar a palavra à Mesa. Vamos começar com a Mesa. Passo a palavra para a Professora de Libras do IFB – Instituto Federal de Brasília, Renata Resende, que fará sua intervenção por três minutos.

SRA. RENATA RESENDE – Bom dia. Meu nome é Renata. Sou professora do IFB e estou representando o Instituto Federal de Brasília. Agradeço o convite da Câmara Legislativa.

Eu tenho trabalhado com surdos no IFB. Nós temos seis surdos e dois ouvintes trabalhando lá, ensinando curso nas faculdades, na FIC. São alunos que vão para o IFB aprender Libras.

Nós temos um grupo de pesquisa de materiais didáticos e de sinais. O Instituto Federal de Brasília tem essa intenção também de trabalhar a acessibilidade e divulgar a língua de sinais. É um dos pressupostos.

Estou representando aqui o Instituto Federal de Brasília e agradeço a participação.

PRESIDENTE (DEPUTADO JOE VALLE) – Muito obrigado.Passo a palavra ao Sr. João Paulo Vitório Miranda, professor de

Linguística, Português e Línguas Clássicas da Universidade de Brasília.

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SR. JOÃO PAULO VITÓRIO MIRANDA – Bom dia. É um orgulho grande estar aqui neste evento nesta manhã com familiares de surdos, surdos, surdos-cegos. É uma honra muito grande participar aqui também com a presença da Professora Ronice, Doutora da Universidade Federal de Santa Catarina.

Meus cumprimentos principalmente hoje aos surdos e aos surdos-cegos que estão presentes e interessados na política e no desempenho, no desenvolvimento de um governo melhor para os surdos aqui no DF.

Quero agradecer também ao Deputado Joe Valle pelo convite e dizer que nós queremos fazer uma parceria entre a UnB e a Câmara Legislativa para passo a passo irmos sanando as dificuldades ali no curso de PBSL – Português do Brasil como Segunda Língua de libras e português como segunda língua para surdos e surdos-cegos e para a comunidade ouvinte também.

Nós tivemos um curso de especialização em português como segunda língua para professores da Secretaria de Estado de Educação e trabalhamos na UnB também com quatorze professores de libras e de português como segunda língua.

A UnB tem mais de dez intérpretes e são intérpretes também que estão atuando tanto na graduação quanto no mestrado quanto no doutorado. E nós temos alunos surdos no mestrado e no doutorado com foco em linguística. O LIP, Departamento de Linguística, tem parceria também com o Departamento de Psicologia e com o Departamento de Educação da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília no sentido de melhorar e incentivar o crescimento das pesquisas na área de educação de surdos.

Então, hoje à tarde nós teremos discussão nos grupos de trabalho com a presença de surdos. São necessidades que os surdos precisam com urgência. Nós passaremos isso para os senhores para que se tornem projetos de lei e, quem sabe, leis distritais para a melhoria da vida dos surdos, porque os surdos vêm esperando há muito tempo e nós tentamos dar a eles um futuro melhor

Tomara que o nosso trabalho hoje seja propício à comunidade surda e também a todos os familiares dos surdos. Um bom evento para todos nós.

PRESIDENTE (DEPUTADO JOE VALLE) – Muito obrigado, João Paulo. É muito importante a participação de vocês no evento, principalmente, na questão dos grupos de trabalho para que saiamos daqui com coisas concretas, claras, para que possamos realmente executar.

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Eu gostaria de passar a palavra ao Sr. Diretor da Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos – FENEIS, João Renato Dias Rodrigues.

SR. JOÃO RENATO DIAS RODRIGUES – Muito obrigado por estar presente aqui, a Feneis está sempre trabalhando ao lado do surdo, sempre. Há três anos, há muito tempo, não só a Feneis... As associações de surdos se juntaram e criaram a Feneis, que vem se movimentando até agora e conquistando leis, como a Lei de Libras, leis em favor da educação de surdos – no caso a criação da escola bilíngue. Então a Feneis está sempre preocupada com a comunidade surda, com mudanças. Nós não estamos parados, estamos constantemente lutando.

Também começamos a nos preocupar agora com os surdos cegos, porque falta legislação específica, porque a acessibilidade para os surdos é diferente da acessibilidade para os surdos cegos. Então nós estamos, como no passado, até hoje trabalhando.

Eu agradeço a presença de todos, agradeço aos Deputados e a todos os participantes da Mesa, ao Deputado Joe Valle. Agradecemos ao Presidente por estar presente aqui.

Torcemos para que tenhamos um bom resultado deste trabalho.PRESIDENTE (DEPUTADO JOE VALLE) – Muito agradecido, prof. João.

Teremos um bom resultado, já temos um bom resultado. Eu sou muito otimista, porque, quando vejo a participação das pessoas que são apaixonadas, não tenho dúvida de que vamos mudar para melhor. Por isso, sempre agradeço a participação de todos vocês aqui.

Eu gostaria de passar a palavra agora ao Subsecretário de Educação Básica, Sr. Daniel Crepaldi.

SR. DANIEL CREPALDI – Bom dia, gente! Eu já dou bom dia parabenizando a presença da Câmara Legislativa na pessoa do Deputado Joe Valle, pela organização do seminário, por ter trazido a Profa. Ronice, que é uma referência nacional no assunto.

Bom dia ao representante do IFB, ao João da UnB, ao Guto – Gutemberg –, ao João da Feneis e, principalmente, aos estudantes das nossas escolas – chegou uma leva agora, aqui – e aos professores e professoras, que compõem hoje aqui essa plateia 100% qualificada e interessada nessa temática. Então, quando as pessoas são interessadas e há conteúdo a ser transmitido, o evento não tem como dar errado.

Parabenizo a Beatriz e a Ana Cristina também, da assessoria do gabinete do Deputado Joe Valle, pela organização do evento, as pessoas que ficam mais à frente do processo.

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Claudia Madoz, Carolina Grande, nossas gestoras da pasta de Educação Especial da Secretaria de Educação também estão aqui, e quero parabenizá-las pelo auxílio na organização deste evento.

Na Secretaria de Educação, muitas vezes até nesse fato específico de educação especial, a gente contraria um pouco a política definida pelo MEC, que vai tanto no que diz respeito ao fim de centro de ensino especial e às salas de recurso mais generalistas. A gente contraria essa lógica federal. Reforçamos os nossos centros de ensino especial porque esperamos e acreditamos que isso é essencial para o bom atendimento à comunidade e à população em geral. Também temos atendimento em salas de recursos exclusivas para surdez, para deficientes visuais, além das nossas turmas regulares nas escolas regulares, e o atendimento complementar e suplementar.

Estes eventos, estes seminários, estas participações sociais dentro da Câmara Legislativa... O Presidente da Casa nos colocou que, dentro da conversa que ocorreu na última consulta pública, na última audiência pública da institucionalização do caso, a Secretaria de Educação, no dia posterior a essa consulta, já passou a discutir internamente com as entidades qual é a melhor forma de se fazer essa institucionalização. Independentemente da institucionalização que vai sair, nós já levamos para dentro da secretaria o IFB – Instituto Federal de Brasília, a Feneis – Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos e a UnB – Universidade de Brasília para participar da seleção dos professores, da seleção da aptidão dos nossos professores para trabalharem com os nossos estudantes com deficiência auditiva.

Então, o movimento, as federações, as instituições que participam do movimento da surdez já estão dentro da Secretaria de Educação. A Proeduc – Promotoria de Justiça de Defesa da Educação também presta muita atenção nessa temática, e a gente está sempre junto com os movimentos, a partir de agora, de portas abertas na Secretaria de Educação, e com a Câmara Legislativa podendo contar com a Secretaria de Educação como parceira.

Obrigado pela presença de todos. Parabéns pela organização do evento, pela realização e aproveitem bastante o seminário agora pela manhã e também na parte da tarde para ajudarmos a implementar políticas públicas voltadas para o segmento que vocês representam.

Um abraço. Bom dia e obrigado. (Palmas.)PRESIDENTE (DEPUTADO JOE VALLE) – Agradeço ao Subsecretário.Concedo a palavra ao Secretário Gutemberg Gomes.

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SR. GUTEMBERG GOMES – Bom dia a todos e a todas. Eu saúdo a Mesa em nome do Deputado Joe Valle, Presidente desta Casa, um Deputado de fato sensível aos problemas sociais da cidade.

Daniel Crepaldi, Subsecretário de Educação Básica, eu fico muito feliz porque ao ouvir o Daniel vejo que ele aponta a percepção e a sensibilidade do Governo de Brasília em estar discutindo e executando as políticas do segmento. João Renato Dias Rodrigues, diretor da Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos Feneis. Sr. João Paulo Vitório Miranda, que é professor de línguas clássicas da Universidade de Brasília, e, aí, ouvindo o professor, tenha certeza, professor, de que o Senhor terá visita na Universidade de Brasília da SEDESTMIDH para que, de fato, tenhamos aí um termo de colaboração técnica, um convênio, vamos ver qual é o instrumento, porque essa política é uma política que ou a gente faz com parcerias concretas ou ela não acontece. Professora Renata Resende, professora de libras do IFB. Professora, Doutora e pesquisadora da Universidade Federal de Santa Catarina, Dra. Ronice Muller de Quadros, é um prazer conhecê-la.

Muito rapidamente quero dizer que a política pública ela só se constitui e é executada a contento para transformar a vida das pessoas quando nós conseguimos ouvir a população, e esta Casa tem mostrado isso, tem se mostrado como orientadora das políticas públicas do DF porque aqui é o fórum para discussão, para ouvir, para debater e para propor. Então, um bom gestor, o gestor talvez aí com consciência de que de fato só se faz política com a sociedade e não para a sociedade, deve estar presente e atento a esses debates.

Eu costumo dizer o seguinte: o Presidente Deputado Joe Valle faz de fato esses debates, mas ele é danado, ele cobra mesmo os resultados, e nós já tivemos muitos resultados. Agora, nós temos o CAS, que é o Centro de Apoio aos Surdos, esse, de fato, precisa de atenção. Eu me proponho, juntamente com você e o secretário Júlio Gregório, a fazer uma articulação para, de fato, regulamentarmos o CAS aqui, porque é fundamental para nós ter essa instituição regulamentada.

Bom, no mais, eu desejo a todos e todas um bom debate e uma boa palestra.

Muito obrigado.PRESIDENTE (DEPUTADO JOE VALLE) – Muito obrigado, Secretário.Eu gostaria agora de convidar para participar da nossa Mesa, que

acaba de chegar, o Presidente da Fecomércio, o nosso ex-Senador Adelmir Santana, que já chega com a palavra por três minutos para fazer a

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saudação para esse seminário, essa instituição que tanto ajuda o Distrito Federal. (Palmas.)

SR. ADELMIR SANTANA – Bom dia a todos e todas. Eu quero saudar inicialmente nosso Presidente da Câmara Legislativa, Deputado Joe Valle, autor desta iniciativa e dirigente desta Mesa.

Saudar o Exmo. Sr. Secretário de Estado, Gutemberg Borges; o Exmo. Subsecretário de Educação Básica, Daniel Crepaldi; o Sr. Diretor da Federação Nacional de Educação e Integração de Surdos – FENEIS, João Renato Dias Rodrigues; o Sr. Professor de Linguística do Departamento de Linguística Português e Línguas Clássicas da UnB, João Paulo Vitório Miranda; a Sra. Professora de Libras do IFB, Renata Resende; a Sra. Professora Doutora e Pesquisadora da Universidade Federal de Santa Catarina, Ronice Muller de Quadros. Saúdo a todos.

Eu estou surpreso de vir aqui, na verdade, vim para um outro evento, que é um evento da área comercial, da área empresarial, pois faz-se uma homenagem daqui a alguns minutos. A Câmara Legislativa homenageia os corretores de imóveis do Distrito Federal. Mas, sabendo desta sessão, e até para cumprimentar o nosso Presidente, passei aqui para louvar esse tipo de ação. Na verdade, preocupando-se com políticas públicas voltadas para esse segmento.

Então, merece todo o nosso aplauso, todas as nossas considerações por ter essa sensibilidade de buscar alternativas, de buscar a discussão de políticas públicas futuras voltadas para as pessoas que tanto necessitam de políticas nesse sentido. Parabenizo não apenas o Deputado Joe Valle, mas toda a sua equipe; os membros da Secretaria de Educação e os secretários de Estado que estão voltados para essa questão de fundamental importância quando se trata, eu não diria de minoria, mas de pessoas que precisam de atenção especial. Os nossos parabéns pela iniciativa. Quero agradecer pela oportunidade de me dirigir aos senhores na certeza de que estamos no caminho certo. Parabéns.

PRESIDENTE (DEPUTADO JOE VALLE) – Muito agradecido, Senador. Obrigado pela presença. Sei que o senhor tem compromisso e está querendo se retirar.

Passo a palavra, agora, para uma saudação inicial, até porque ela terá uma palestra logo em seguida, à Professora e Pesquisadora Ronice Müller.

SRA. RONICE MÜLLER DE QUADROS – Eu cumprimento o Presidente da Câmara Legislativa do Distrito Federal, Deputado Joe Valle, e também os demais componentes da Mesa; é um prazer. Eu percebo aqui no Distrito Federal a luta por parceria com a FENEIS – Federação Nacional de

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Educação e Integração dos Surdos, que é muito importante para o protagonismo dos surdos, que sabem se organizar por conta da experiência sobre a subjetividade. Os surdos são protagonistas. Como também pela parceria com a UnB Acadêmica – IFB/DF e com o CAS – Centro de Capacitação de Profissionais da Educação e de Atendimento às Pessoas com Surdez na área de educação, com a Secretaria de Educação. São muito importantes essas parcerias, porque assim é possível se trabalhar e se melhorar a educação de surdos em geral. Eu acredito nisso e tomara que dê certo. Uma boa palestra e um monte de trabalho a todos.

PRESIDENTE (DEPUTADO JOE VALLE) – Muito agradecido, professora.

Dentro da nossa programação, agora, nós faremos homenagens, com moções de louvor, a algumas pessoas que são importantes nesta cidade no segmento.

Procederemos assim: ficaremos de pé, o Cerimonial chamará as pessoas que estarão recebendo as moções e nós, então, as entregaremos. Logo em seguida, daremos sequência ao nosso trabalho.

Passo a palavra ao Cerimonial para que possa chamar as pessoas que receberão as moções.

MESTRE DE CERIMÔNIAS – De ordem do Sr. Presidente, passamos, neste instante, a chamar aqueles que estarão sendo homenageados nesta manhã, por meio de moção de louvor.

A Câmara Legislativa do Distrito Federal, mediante proposição do Exmo. Sr. Deputado Joe Valle, confere a presente moção de louvor à Professora Ronice Müller de Quadros, pelos seus trabalhos na área de surdez, dedicando sua vida em pesquisa e divulgação dos seus trabalhos na defesa das pessoas surdas, de seus direitos humanos, políticos e linguísticos.

Brasília, 25 de agosto de 2017, 129º da República e 58º de Brasília.Assina o Exmo. Sr. Presidente da Câmara Legislativa do Distrito

Federal, Deputado Joe Valle. (Palmas.)Moção de Louvor à Federação Nacional de Educação e Integração

dos Surdos – FENEIS. Convidamos o Sr. João Renato para receber a moção. (Palmas.)

Moção de Louvor à Associação de Pais e Amigos dos Deficientes Auditivos do Distrito Federal pelos relevantes serviços em benefício proporcionando ao povo surdo do Distrito Federal, por meio de intervenção educacional, social, acadêmica e política.

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Convidamos a Professora Soraia para receber em nome da instituição. (Palmas.)

Moção de Louvor ao Centro de Apoio ao Surdo – CAS/DF. Convidamos a Professora Jenaína para receber a moção em nome da instituição. (Palmas.)

Moção de Louvor à Escola Bilíngue de Libras e Português Escrito de Taguatinga. Convidamos a Diretora Maristela para receber a moção em nome da instituição. (Palmas.)

Moção de louvor ao Instituto Federal de Brasília – IFB. Convidamos a Professora Renata para receber a moção de louvor em nome da instituição. (Palmas.)

Moção de louvor à Universidade de Brasília, Faculdade de Educação. Convidamos o Professor João Paulo para receber a moção em nome da instituição. (Palmas.)

PRESIDENTE (DEPUTADO JOE VALLE) – O Deputado Robério Negreiros acaba de chegar. Eu gostaria de chamá-lo para vir entregar essa moção.

MESTRE DE CERIMÔNIAS – Moção de louvor à Secretaria de Educação do Distrito Federal, Diretoria de Educação Especial. Convidamos o Subsecretário Daniel Crepaldi para receber a moção em nome da instituição. (Palmas.)

Encerradas as homenagens, retornamos a palavra ao Presidente desta Mesa e da Câmara Legislativa do Distrito Federal, Deputado Joe Valle.

PRESIDENTE (DEPUTADO JOE VALLE) – Estou muito agradecido. Hoje é segunda-feira, então vamos trabalhando dentro da possibilidade.

Eu quero chamar, para tomar assento à Mesa, o Segundo-Secretário desta Casa, o Deputado Robério Negreiros, que também tem um trabalho forte na área das pessoas com deficiência.

Concedo a palavra ao Deputado Robério Negreiros. Logo em seguida, daremos sequência ao nosso trabalho.

DEPUTADO ROBÉRIO NEGREIROS – Bom dia a todos. Eu gostaria de saudar a Mesa em nome do nosso Presidente, o Deputado Joe Valle. Na oportunidade, parabenizo-o pela propositura de discutir um tema tão importante nos dias atuais. A gente fala tanto em acessibilidade, e a própria Câmara Legislativa, até hoje pelo menos, Deputado, não deu exemplo no sentido de disponibilizar intérpretes de libras na própria Casa.

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Sou o Segundo-Secretário, responsável pela administração e finanças da Casa. A atual gestão, com muito orgulho, com total apoio do Presidente Deputado Joe Valle, está implementando, já está na fase final. Então, não é promessa. Consultei agora o diretor de administração e finanças, o contrato está sendo minutado. Já foi licitado, já temos uma instituição, e está sendo minutado, para ser assinado ainda esta semana, esse contrato de disponibilização de intérpretes de libras para o plenário e as comissões permanentes desta Casa.

Eu entendo isso como um avanço necessário, oportuno, que vai dar dignidade para que todos os surdos possam acompanhar as sessões desta Casa. Temos feito um trabalho em conjunto, enquanto Mesa Diretora, de ressignificação da Casa. Esse tema foi proposto na eleição da Presidência do Deputado Joe Valle. Temos feito esforços nesse sentido.

Eu gostaria apenas de mencionar para a assessoria do Deputado Joe Valle, que nas próximas reuniões possa convidar também o ICEP – Instituto Cultural, Educacional e Profissionalizante de Pessoas com Deficiência do Brasil. O Presidente do Icep, que está aqui presente, faz um trabalho muito dedicado nessa questão dos surdos. Muitos acabam se esquecendo dos surdos. Na próxima reunião, para abrilhantar ainda mais todos os temas, debates e seminários, convidem a gerência ou a coordenação de libras. Peço ao secretário Gutemberg, que aqui se encontra, que dê celeridade a um processo, o mesmo da Câmara que já está em tramitação na secretaria, com disponibilização de emenda parlamentar de minha autoria, que trata de contratação de intérpretes por hora, para que se possa dar efetividade ainda maior na coordenação.

Eu só tenho elogios à Secretaria. Eu converso muito com o seu Chefe de Gabinete, o Sr. Tales. Ele tem olvidado esforços no sentido de dar condução e efetividade, porque, todos sabem, o GDF passa por um momento delicado e muitos cargos estão bloqueados, inclusive cargos que são de interpretes de Libras.

Então, é muito importante também dar cabo a isso, para dar uma efetividade de atendimento na coordenação de deficiência. Eu fiz um discurso bem breve, até para facilitar a compreensão dos surdos que aqui se encontram. Eu gostaria só de fazer esse discurso.

A Constituição Brasileira, logo no seu primeiro artigo, já trata da dignidade da pessoa humana. No entanto, pelo que parece, trata-se de letra morta. Embora a boa vontade legislativa, o Brasil ainda trata as pessoas de forma desigual. Não há tratamento isonômico na criação de oportunidades, de educação e emprego. As pessoas com deficiência ainda são alijadas dos cursos de capacitação, de qualificação e, consequentemente, do mundo de trabalho.

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É verdade que algumas iniciativas têm tentado mudar essa triste realidade. Recentemente a própria Câmara Legislativa contratou os serviços de tradução em Libras para que as pessoas com deficiência possam acompanhar o processo legislativo – como eu disse, esse contrato já está sendo assinado esta semana –, para exercerem plenamente sua cidadania. Eu mesmo tenho apresentado diversos projetos de lei e indicações que têm esse mesmo objeto. Posso destacar, por exemplo, a Lei Distrital nº 5.682, de 2016, que dispõe sobre a obrigatoriedade de presença de intérprete de Libras nos centros de formação de condutores em todo o âmbito do Distrito Federal. Vale destacar também a Indicação n° 20.223, de 2014, que sugere ao Executivo a criação do Centro de Capacitação de Profissionais de Educação às Pessoas com Deficiência. Mas ainda é pouco.

Nosso mais recente embate diz respeito à educação bilíngue. Para falar de inclusão para pessoas surdas, é essencial falar da educação bilíngue, pois as dinâmicas em sala de aula devem ser adaptadas para o atendimento das pessoas surdas. É fundamental a formação de professores bilíngues para a educação infantil, ensino médio e ensino básico. A educação bilíngue não é um favor do Estado, está positivada na lei desde 1993, com a regulamentação, e desde 2002, com o reconhecimento oficial da Libras como uma forma de comunicação e expressão.

Em 2005, um decreto a determinou como disciplina curricular obrigatória para todos os cursos de licenciatura das diferentes áreas de conhecimento. Portanto, o que a Constituição Brasileira preconiza começa a sair do papel em função da luta incansável das pessoas com deficiência, mas o verdadeiro exercício da dignidade e da cidadania plena só chegará se jamais cansarmos dessa luta. Vamos juntos.

Sr. Presidente, mais uma vez, parabéns por todo o seu empenho como Presidente desta Casa em melhorar a imagem desta Casa, mesmo alguns querendo – digamos assim, por mais que seja dura a palavra – tentar sabotar, mentir em alguns temas de nossa gestão. Essas pessoas não conseguirão porque, no nosso trabalho, o limite é a legalidade e a forma proba e austera de se trabalhar.

Eu vejo esse contrato não como um gasto a mais, mas como um investimento no sentido de dar acessibilidade a esta Casa. Teremos muito mais ainda de acessibilidade no sentido de procurar dar uma efetividade maior a isso. Parabéns, Presidente.

PRESIDENTE (DEPUTADO JOE VALLE) – Muito obrigado, Deputado Robério Negreiros, quero lhe agradecer pela ajuda que V.Exa. tem dado na Segunda Secretaria, fazendo um trabalho exemplar lá também.

Page 12:  · Web viewNo entanto, pelo que parece, trata-se de letra morta. Embora a boa vontade legislativa, o Brasil ainda trata as pessoas de forma desigual. Não há tratamento isonômico

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Eu agradeço aos membros da Mesa pela importante abordagem aqui colocada. Passaremos agora para o segundo momento do nosso seminário, lembrando que é um seminário de trabalho. Então, nesse segundo momento, ouviremos algumas falas sobre os projetos desenvolvidos pelas instituições públicas que servirão de inspiração para a construção coletiva que acontecerá nos grupos de trabalho. Peço às autoridades que levem em consideração que há muita coisa para acontecer, que usem o seu tempo de cinco minutos para falarem com bastante afinco e que não passem de cinco minutos.

Vamos trabalhar então e convidar para fazer o uso da palavra a Sra. Professora da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília, Edeilce Buzar. (Pausa.)

SRA. EDEILCE APARECIDA SANTOS BUZAR – Bom dia a todos. Meu nome é Edeilce, esse é meu sinal. (A oradora sinaliza em Libras.)

Quero agradecer o convite e dizer que sou da Universidade de Brasília, Faculdade de Educação, e trabalho na área de surdez. Nós temos lutado muito por projetos, por trabalhos dentro da Universidade de Brasília, na Faculdade de Educação, porque a UnB não é uma universidade que trabalha junto; é uma universidade com muitos departamentos, variadas atividades, variadas ações, e são diferentes as fórmulas de interação e as estratégias.

Por exemplo, lá na Faculdade de Educação, nós somos organizados por diferentes áreas. Na área de educação especial, temos a inclusão, temos trabalho para cegos, com tecnologias, com a questão da linguística; na área da educação de surdos, eu sou professora junto com o professor surdo, o professor Davi, e lá nós começamos uma disciplina que primeiro era disciplina optativa, a Libras, em 2010. Daí por diante, até hoje, nós não temos parado. Recentemente, em 2013, começamos como disciplina obrigatória a Língua de Sinais, porque é diferente o nome – a disciplina para a escolarização de surdos e a questão da língua de sinais.

(Intervenção fora do microfone.)ORADORA NÃO IDENTIFICADA – Ela não é uma disciplina de Libras.

Por quê? É uma disciplina obrigatória, e os alunos de Pedagogia têm que fazer essa disciplina.

(Intervenção fora do microfone.)ORADORA NÃO IDENTIFICADA – É uma disciplina presencial, os

alunos precisam se dirigir à universidade para isso, mas nós só temos dois professores na FE – Faculdade de Educação. Por quê? Houve um concurso há um tempo, um ouvinte passou, mas não havia nenhum surdo inscrito, inclusive.

Page 13:  · Web viewNo entanto, pelo que parece, trata-se de letra morta. Embora a boa vontade legislativa, o Brasil ainda trata as pessoas de forma desigual. Não há tratamento isonômico

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Agora temos uma professora surda que teve um contrato... O Professor Davi, que chegou agora, e também já começamos com a orientação de pesquisa em diversos temas relacionados a área da surdez. Temos, mais ou menos, quinze monografias sobre o tema da surdez.

Os alunos de Pedagogia, são, mais ou menos, setecentos. Eles estudam na Faculdade de Educação, já aprenderam e já sabem como é a pessoa surda, como é a cultura, como é o movimento do surdo, a língua de sinais. As pessoas estão percebendo que o surdo participa dos diversos ambientes e estão se abrindo para o conhecimento.

Temos estagiários na área de Pedagogia que vão para as escolas que têm surdos e também para a escola bilíngue, a fim de observar, adquirir conhecimento, aprender e perceber como é ensinar ao surdo no futuro.

Também estamos preparando monitores na FE, em diversas áreas. Tem estudos de PIBIC – Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica, familiares de surdo... Há um tempo, começamos também a organizar... Há pouco tempo, foi aprovado o projeto do laboratório para a escolarização de surdos na área de língua de sinais. Nós não temos um grupo muito grande de professores para atuar. Não temos surdos estudantes ali, e isso nos preocupa bastante.

Precisamos criar esse ambiente, esse espaço de pesquisa para desenvolver. É necessário também que as pessoas venham, procurem e lutem por esse trabalho com a surdez, intérpretes e vários outros profissionais.

Nós também tentamos provocar essas lutas diversas. Por exemplo, futuramente, os alunos surdos que quiserem estudar na Faculdade de Educação, fazer mestrado... Na área de línguas de sinais, não, mas na educação de surdos, crianças, na área de Pedagogia... É um desafio para a gente que esses surdos nos procurem, que entrem em contato conosco.

Na Pedagogia, não temos acessibilidade, não temos intérprete, é uma dificuldade, é uma falta de comunicação. Então, ficamos pensando: como podemos fazer? Como resolver esse problema?

Primeiramente, estamos esperando que tenhamos acessibilidade na Pedagogia, para poder empoderar e mudar essa situação futuramente. Queremos que isso aconteça. O grupo de discussão, hoje, com certeza, vai pensar em como fazer para ajudar a FE também a superar e implementar esse tipo de desejo que nós temos, de respeito, e parabenizar o surdo, a cultura surda, a comunidade.

Muito obrigada a todos pelo convite, aos presentes, ao Davi. (Palmas.)

Page 14:  · Web viewNo entanto, pelo que parece, trata-se de letra morta. Embora a boa vontade legislativa, o Brasil ainda trata as pessoas de forma desigual. Não há tratamento isonômico

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PRESIDENTE (DEPUTADO JOE VALLE) – Muito agradecido, professora. Muito bom o trabalho e, precisando de apoio, claro.

Eu gostaria de chamar o Professor da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília, Domingo Sávio.

SR. DOMINGO SÁVIO – Bom dia a todos. Eu vou chamar a estudante Agnes Naomi da UnB. Ela vai apresentar o projeto Ciclo de Cultura Surda, do Instituto de Psicologia.

Muito obrigado a todos, tenham um bom seminário.SRA. AGNES NAOMI – Bom dia a todos. Meu nome é Agnes, o meu

sinal é esse. Eu também estou aqui participando do seminário e participo juntamente com o Projeto de Cultura Surda, o sinal é esse.

Bom, agora eu gostaria de explicar um pouquinho como funciona esse projeto. Nós temos surdos participantes nesse projeto e também nós temos ouvintes que desenvolvem diversos trabalhos dentro desse projeto. Eu participo de um projeto no qual eu desenvolvo um trabalho na área de dança. Também há outros projetos ali dentro, outras maneiras que estão sendo desenvolvidas. Vou mostrar um vídeo rapidamente para vocês.

Bom, agora eu vou falar um pouco sobre o projeto. Esse projeto tem diversas áreas e é bem legal, é muito bom. E como é que ele funciona? Bom, ele funciona no computador. Há o surdo estudante do ENEM e do PAS e também os que passaram no vestibular ou os que vão fazer o vestibular. Então, eles trocam experiências, há uma troca.

Aí, estamos mostrando um pouquinho do nosso trabalho, como funciona nosso trabalho diariamente, como acontece as filmagens, os recortes dos vídeos, a edição. Aí, os movimentos. Bom, nosso software simula prova de vestibular e esse software apresenta textos, Libras, filmes e imagens e o estudante compara e responde. O software apresenta as alternativas a, b, c e d.

Animação. O rapaz vai até a prateleira e escolhe algo, escolhe um medicamento. Um rapaz surdo vai até uma prateleira de uma farmácia com duas caixas de remédio, entretanto o atendente não o compreende porque ele sinaliza. Agora, duas meninas, uma em frente a outra, conversando. Uma está chorando e a outra está perguntando o que acontece. Agora, a menina que está chorando carrega sua colega de cabelos loiros e vai mostrar que uma casa está pegando fogo. A colega pega o celular e liga para o Corpo de Bombeiros. A imagem mostra o Corpo de Bombeiros chegando e um bombeiro conversando com as duas amigas. Ele parece que está dando uma explicação. Entretanto, elas são surdas e falam que não estão entendendo o que o bombeiro está dizendo. Neste momento, a imagem mostra a casa pegando fogo e explodindo.

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A próxima imagem mostra desenho de duas pessoas andando de bicicleta, uma atrás da outra. A pessoa atrás cai e parece que se machuca, o colega da frente para a bicicleta e vai correndo ao seu socorro. Eles estão conversando. O colega que caiu pega a bicicleta, monta nela novamente e volta a andar. O colega que se machucou chega até uma casa mancando. Dirige-se até uma mesa que tem uma cadeira ao lado. Uma mulher chega correndo e parece estar conversando com ele. Ela traz uma caixa de primeiros socorros e pega um remédio para ajudá-lo com o machucado na perna.

A imagem muda. Aparece uma pessoa com uma tomada na mão, colocando-a na parede. Desenhos coloridos mostram o movimento de caixas de som ligadas. Existem duas mulheres paradas e dançando.

Venha conhecer o nosso projeto. Obrigada. (Palmas.)PRESIDENTE (DEPUTADO JOE VALLE) – Muito agradecido.Eu gostaria de chamar a Diretora da Diretoria de Educação Especial

da SEEDF, Claudia Madoz, para falar rapidamente sobre o trabalho. SRA. CLAUDIA MADOZ – Bom dia a todos. Bom dia ao Presidente da

Mesa.O meu nome é Claudia Madoz. Sou conhecida por este sinal entre

os surdos. Eu quero parabenizar o grupo organizador deste seminário e parabenizar, igualmente, todos os professores, pessoas e alunos presentes, inclusive os surdos.

É com grande alegria que eu estou aqui participando deste seminário. Eu sou da Secretaria de Educação do Distrito Federal, Secretária de Educação.

Eu respeito a educação e, em relação à minha opinião sobre o surdo, eu respeito a opinião do surdo, assim como eu respeito todos os familiares também.

A escolha relativa à educação que faz esse familiar, essa família que tem a ver com o surdo, deve ser respeitada.

Eu me lembro agora de uma frase que diz o seguinte: “O direito de ser surdo é meu. E o direito de respeitar é obrigação de vocês”.

Muito obrigada. (Palmas.)PRESIDENTE (DEPUTADO JOE VALLE) – Muito agradecido.Concedo a palavra à Coordenadora do Centro de Atendimento ao

Surdo – CAS, Profa. Jenaína Carvalho. (Palmas.)

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SRA. JENAINA CARVALHO – Bom dia a todos os presentes. Eu gostaria hoje de fazer um breve resumo do que é o CAS. O CAS

constitui-se como um local de formação continuada de professores, de professores intérpretes, de instrutores de surdos e dos demais profissionais que atuam na área da surdez.

É um espaço para confecção e criação de materiais didáticos específicos para a atuação dos surdos. Além disso, presta atendimento direto aos surdos oferecendo um leque de serviços como alternativa para dinamizar e melhorar a educação, pois atua na complementação curricular, bem como em triagens e estudos de casos dos alunos matriculados nas escolas públicas do Distrito Federal e surdos da (Falha na gravação.) Realiza banca de aptidão para professores efetivos e temporários atuarem na Secretaria de Educação.

Nosso público alvo são os alunos surdos das escolas públicas e da comunidade, professores regentes de classes comuns, de classes especiais, salas de recursos, classes bilíngues, professores intérpretes educacionais, instrutores e professores surdos, estagiários de cursos de licenciatura, profissionais da área da saúde, assistência social e segurança.

Quais são nossos objetivos? Atuar como centro de referência na educação do surdo, proporcionando workshops, cursos de formação, capacitação, preparação de profissionais da comunidade escolar em geral na atuação junto ao surdo. Garantir ao estudante surdo acesso aos recursos específicos necessários ao atendimento: vídeos em Libras, legendas, dicionários bilíngues, jogos pedagógicos e outros materiais adaptados.

Atender as demandas das escolas e da Secretaria de Educação referentes às solicitações de serviços e de orientação; garantir o atendimento curricular específico visando a aquisição da Libras e da Língua Portuguesa escrita e outras atividades que têm como objetivo o desenvolvimento cognitivo, principalmente a abstração e a lógica; prestar atendimento aos pais e familiares dos surdos quanto à forma de comunicação e aprendizado da Libras.

Quais os atendimentos que o CAS oferece? O atendimento de Português como segunda língua, desde os anos iniciais, finais, Ensino Médio e Ensino Superior; desenvolvimento global da linguagem, também em todos os níveis; raciocínio lógico; acompanhamento educacional pedagógico e psicopedagógico; educação psicomotora; artes educativas; Libras; informática educativa; atualidades na área da política, economia, conflitos contemporâneos.

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Quais são os atendimentos que nós prestamos aos professores? Cursos de Libras; intérpretes; educação de surdo; Português como segunda língua; palestras, oficinas e seminários; atendimento a surdos cegos; atendimento a surdos com outros comprometimentos, por exemplo, o surdo com autismo, o surdo com DI, o surdo DMU; orientação para atividades da vida diária; acesso à informação; adaptações e orientação para o mercado de trabalho.

No momento, nós estamos aqui fazendo uma captação de voluntários. A professora Elen, que é coordenadora do Núcleo de Convivência, está articulando, na base do voluntariado, um pré-vestibular. Já houve a primeira aula, serão aulões que acontecerão todo sábado no INOSEB – Instituto Nossa Senhora do Brasil. Esse pré-vestibular é todo voluntário, tanto os professores, quanto os intérpretes. Está sob a coordenação da professora Elen. Então, a gente convida profissionais da área para estar dando uma cota de voluntariado e também a todos os alunos surdos da rede, que já são egressos da rede, a estarem participando desse pré-vestibular que é todo adaptado para o aluno surdo.

Agradeço a presença de todos, agradeço também a iniciativa do Deputado Joe Valle. Obrigada.

PRESIDENTE (DEPUTADO JOE VALLE) – Muito obrigado, Jenaína. Na realidade, esta é uma iniciativa da Câmara Legislativa resultado de uma audiência pública que nós fizemos aqui.

Eu gostaria de chamar agora a Sra. Diretora da Escola Bilíngue Libras e Português Escrito de Taguatinga, Maristela Oliveira.

SRA. MARISTELA OLIVEIRA – Bom dia a todos. Sejam todos muito bem-vindos. Sou diretora da Escola Bilíngue e o meu nome é Maristela. Eu gostaria de agradecer imensamente pela iniciativa da Câmara Legislativa em relação a Escola Bilíngue em Brasília.

Agradeço a todos os profissionais que trabalham com surdos em Brasília, um grupo bem importante e representativo. Agradeço a todos que têm essa preocupação e buscam a melhoria da educação dos surdos. Agradeço imensamente os professores da Escola Bilíngue que têm feito um trabalho diferenciado no sentido de oferecer essa instrução em libras para os nossos alunos. Esse é um grande esforço diário para todos, professores estudando o tempo inteiro para cumprir com a lei direitinho. Agradeço muito também a DIEE, a Secretaria de Educação, por todo o apoio; agradeço os familiares dos nossos alunos presentes aqui hoje por se preocuparem com a educação bilíngue; e agradeço os nossos alunos que estão na Escola Bilíngue, porque acreditam nessa proposta.

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Para apresentar a proposta da Escola Bilíngue – nós temos como foco o surdo naquela instituição – eu chamo agora, convido, a minha amiga Adriana, para apresentar a nossa proposta. Muito obrigada a todos. (Palmas.)

SRA. ADRIANA BATISTA – Bom dia a todos. Eu sou professora na Escola Bilíngue Libras e Português Escrito. Na Escola Bilíngue, nós trabalhamos com a educação bilíngue ensinando desde a estimulação precoce. Trabalhamos educação linguística precoce, que foi fechada; trabalhamos os anos iniciais, mas temos também os anos finais, o ensino médio; como também o EJA – Educação de Jovens e Adultos que funciona no período noturno. Dentro da escola, nós usamos mais a Libras, mas também o Português escrito, como segunda língua. Nós temos também inclusão, porque nós temos crianças ouvintes, e essas crianças interagem e estão aprendendo Libras para se comunicarem com os colegas surdos.

Nós temos alunos surdos, alunos Coda – Children of Deaf Adults –, filhos de pais e mães surdos. Temos outros alunos também que sabem língua de sinais. É uma escola que funciona em período integral com projetos complementares. Quais são esses projetos complementares? Capoeira, xadrez, educação física. Os surdos dos anos finais e do ensino médio ficam para almoçar na escola. À tarde, vão para essas atividades complementares. As crianças vão para o Centro Olímpico e também para a capoeira e para os diversos projetos que nós temos. Participam, então, de tudo.

Na educação integral, nós temos a capoeira, o Centro Olímpico ali embaixo e o Projeto Horta. Temos um de nossos alunos com cinco anos, que é surdo, cuidando da alface. Isso visa ao crescimento e desenvolvimento do aprendizado do aluno. Trabalhamos com a pedagogia visual. Por exemplo, em todas as salas é obrigatório o uso do datashow e da lousa digital, porque é muito visual. E os surdos são pessoas visuais. Assim, os surdos vão se apropriando do Português como segunda língua. Temos o laboratório de informática onde os surdos também fazem pesquisas. Em todas as salas nós usamos datashow. Também temos o estúdio na escola. E para que serve o estúdio? O estúdio é para produção de convites, de vídeo-provas, vídeo-aulas que vão para o YouTube. Também temos aula de vocabulário em Libras e provas avaliativas em Libras.

Vamos falar agora da formação. Nós temos cursos de Libras. Para quem? Para a comunidade escolar, para os familiares dos surdos, dos alunos surdos, para os professores, para os familiares se comunicarem com os surdos. Temos teatro. Os surdos dos anos finais apresentam, fazem teatro, e visitam também. Nós temos surdos participando de

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atividades no museu, porque são atividades complementares previstas dentro do currículo, e também visitando o laboratório no SESC – Serviço Social do Comércio. Os surdos dos anos finais do ensino fundamental participaram ali de aulas de ciências. Os surdos do ensino médio também tiveram, no laboratório do Sesc, aulas referentes à Biologia e às ciências exatas.

A escola bilíngue tem diferentes áreas de atuação, desde a precoce até o ensino médio, passando pela EJA. Também temos a educação integral. Os professores sabem Libras. Também temos monitores que sabem a língua de sinais. Isso para quê? Para ajudar os surdos, estimular o aprendizado deles, desenvolver projetos, jogos, atividades de psicomotricidade dentro da escola bilíngue.

Muito obrigada.PRESIDENTE (DEPUTADO JOE VALLE) – Muito agradecido. Chamo agora a Sra. Presidente da Associação de Pais e Amigos dos

Deficientes Auditivos do Distrito Federal, APADA, Luciana Marques Vale, e a Professora Soraia Rodrigues.

SRA. LUCIANA MARQUES VALE – Bom dia a todos os presentes. É um prazer estar participando representando a Apada. Agora vou falar resumidamente, rapidinho, sobre como funciona a Apada e como é o nosso trabalho. Eu vou pedir a Soraia para falar por mim.

SRA. SORAIA RODRIGUES – Bom dia a todos. Meu nome é Soraia. Eu sou professora da Apada, que funciona por um convênio junto à Secretaria de Educação. Nosso grupo de professores é todo da Secretaria de Educação.

Nós desenvolvemos um trabalho que tem por objetivo o letramento de adultos. Nós temos uma turma de adultos com mais de quarenta anos que estiveram no isolamento linguístico e que, neste momento, a família os trouxe até nós para que pudéssemos trabalhar com eles uma socialização e eles pudessem ser introduzidos com cidadania, com respeito e com autoestima melhor dentro da sociedade. A gente procura sempre dar a eles um ensino que tenha por objetivo torná-los independentes e autônomos, pelo menos dentro da família.

Nós também temos cursos de Libras que oferecemos a familiares e à comunidade. Entretanto, no momento, infelizmente nós estamos sem um professor surdo que possa trabalhar com os familiares dos nossos alunos que estão lá. Temos também cursos de disciplinas específicas como Física, Química, Matemática. Temos Francês, Inglês. E nossos professores também são bilíngues.

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Nós temos um projeto este ano para uma conversa com alunos da rede pública. Temos parceria com três psicólogos, que irão falar com esses alunos um pouquinho a respeito de como é o mercado de trabalho, como se colocar no mercado de trabalho, para ver a aptidão, o almejo deles em relação à aptidão de cada um, para que possam se encaixar dentro do mercado de trabalho.

Muito obrigada. (Palmas.)PRESIDENTE (DEPUTADO JOE VALLE) – Muito agradecido. Muito

bom. Nós teremos agora a nossa convidada fazendo a palestra.Antes disso, eu gostaria de agradecer a presença dos intérpretes

voluntários, que são muito importantes para todos nós. Agradeço à professora Amaralina Miranda de Souza, coordenadora da área de educação especial e inclusão da Universidade de Brasília; à professora Andreia Nascimento, coordenadora da extensão da Universidade Estadual de Goiás, Campus Formosa, juntamente com os alunos que estão aqui – muito agradecido a todos vocês –; ao nosso conhecido e amigo Suede Miranda, do Instituto Icep Brasil, que está sempre aqui fazendo um trabalho; ao professor Antônio Leitão, Secretário Executivo do CODDEDE – Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência. Muito obrigado, Antônio Leitão.

Agradeço a nossa amiga Arabela, que está aqui, militante e membro do Movimento Nada Sobre Nós Sem Nós. Arabela está sempre na Câmara ajudando em todos os espaços. Professores das Salas de Recursos do Gama, de Samambaia, e demais professores aqui presentes, vocês são muito importantes. Muito agradecido pela presença. Agradeço também aos professores da Escola Bilíngue de Taguatinga; ao Fernando de Campos Ribeiro, assessor especial da Secretaria de Educação; ao Joaquim Emanuel, Presidente da Associação Brasileira de Surdos Oralizados, e representante do Presidente da Codhab, muito agradecido.

Que possamos desfazer a Mesa, para que nossa palestrante, a professora Ronice Müller, possa fazer a sua palestra. Agora eu tenho minhas tarefas de Presidente da Casa, vou participar delas, mas vejo a minha participação com vocês o tempo inteiro. O que eu quero deixar claro é que, com a minha participação aqui, estão presentes os 24 Deputados acompanhando este seminário. O Deputado Robério Negreiros, como Segundo Secretário, esteve aqui. É prioridade para a nossa gestão todo esse tipo de atividade trazendo esses temas prioritários e importantes para discussão dentro da Câmara.

Sejam muito bem-vindos, fiquem à vontade, e que a gente possa ter um excelente seminário com resultados claros e efetivos para todos vocês e para a nossa cidade. Muito agradecido.

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SRA. RONICE MÜLLER DE QUADROS – Bom dia a todos. É uma satisfação enorme estar com todos neste evento aqui na Câmara Legislativa do Distrito Federal, com a presença do Deputado Joe Valle, Presidente da Câmara, organizando esse evento. É muito importante esse contato com a comunidade surda. Muito obrigada, Deputado Joe Valle.

Eu fui convidada para fazer uma palestra aqui, para falar sobre a educação bilíngue para surdos, caminhos para a implementação das políticas públicas. É um tema muito importante. Vocês sabem que nós temos leis há muitos anos, mas parece que ações em favor dessas leis faltam. É preciso muito trabalho de todos. É preciso ainda que as instituições, os representantes consigam implementar essas políticas, para que realmente se efetive essa educação bilíngue. É sobre isso que eu falarei hoje.

Por gentileza, passe o slide. É muito importante lembrarmos que, nas políticas de educação, as

ações precisam estar implementadas em vários níveis. Então, nós precisamos ter a Libras. É preciso todos pensarem... Todos os ouvintes aqui estudam. Eles precisam ver como é que vai acontecer essa educação. É muito natural a educação linguística. Ela parece que está pronta, mas ela não está. É preciso fazer muitas discussões, é preciso discutir qual é a posição do português, como vai acontecer, o currículo. Já está tudo pronto para os ouvintes. Quando nós entramos, parece muito natural, só que, para os surdos, como é que isso acontece? Para os surdos, é necessário discutir, falar da Libras. É muito importante isso. Também o português como segunda língua. Também é preciso falar como é que a educação bilíngue acontece, o que significa educação bilíngue, o que significa bilinguismo. Muitas vezes, nós vamos pensar nesses três pontos que envolvem e são partes da política na intervenção social no nível das línguas e das culturas.

O status que a língua de sinais tem. A maioria das pessoas veem a Libras como se estivesse em desigualdade e ela continua inferior para as pessoas. Parece que as pessoas não valorizam a Libras, pensam que a Libras é só um apoio para os surdos, só uma ajuda, um auxílio. E a Libras é muito importante, é uma língua de fato. Ela é uma língua e tem status de língua assim como o português, o inglês, o espanhol e qualquer outra língua. A Libras tem o mesmo status. Então, é importante nós termos atenção a isso. Em todo esse contexto também, nós vamos entender o status como atitude de reconhecimento do povo. Essa atitude é bastante positiva para a língua de sinais, porque ela designa esse status, ela atribui esse status, esse reconhecimento.

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Na Libras, também tem a forma. Nós temos de entender como é que ela acontece. Então, em português, há muitas pesquisas já prontas, muitas publicações, muitas e muitas, isso parece pronto, mas, na Libras, as pesquisas são muito poucas ainda. Nós estamos começando, ainda estamos com os primeiros passos. Então, é muito importante que nós tenhamos essa forma, esse corpus, que vai ser representado e vai mostrar como é que a língua de sinais funciona. O português já tem um corpus muito grande, muito extenso. No Google, por exemplo, quando você entra, você tem uma série de elementos sobre aquilo que você pesquisa, o corpus está lá prontinho. Quando você começa a pesquisar a Libras, não tem. Então, é muito incipiente ainda esse trabalho. As pessoas precisam dar visibilidade à Libras para que esse corpus se amplie. É muito importante que ele também seja extenso, porque ele vai apoiar o status da língua de sinais, assim como a Língua Portuguesa já tem. Então, é importante implementar e ajudar a educação.

Um terceiro aspecto muito importante é a aquisição. Dentro das discussões políticas, no âmbito geral, é preciso combinar, organizar, ampliar, documentar tudo isso, saber como se vai ensinar a língua. A educação linguística já tem muitas discussões no mundo, mas como se vai ensinar? É preciso intervenção social no nível da língua e da cultura nesses espaços. Como é que isso vai acontecer? Como é que isso acontece dentro da escola? A língua de sinais, como é que ela vai ser adquirida pelo estudante? Como é que vai ser ensinada para o estudante?

Há vários pontos que eu vou mostrar para vocês a respeito disso. Por exemplo, nós vamos ver como é que ele se desenvolve e também vamos ver como nós vamos implementar e incentivar essas políticas.

Aqui, de uma maneira geral, as políticas de educação vão sendo implementadas e precisam de planejamento. Nós temos a legislação. Nós temos a Lei nº 10.436, de 2002, que reconhece a Libras como língua. Temos também o Decreto nº 5.626, de 2005. E agora temos o Plano Nacional de Educação – PNE, que é recente, foi aprovado em 2014. Esses três pontos, essas três leis, esses três documentos legais são muito importantes, porque agora nós estamos começando a discutir a política e como implementar essas leis, que ações podem ser feitas para que essas leis sejam cumpridas.

Ações foram criadas, por exemplo, no curso de Letras/Libras. Já foi implementado na UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina e também houve vários polos em todo o Brasil. E foi a universidade federal que deu início a todo esse trabalho de implementação e de criação desses polos nas 27 unidades da federação e também do curso de Pedagogia Bilíngue, que começou a ser criado em vários pontos, vários lugares. Com

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o INES – Instituto Nacional de Educação de Surdos, ele já tem o início. Também há um polo de educação bilíngue no Instituto Federal de Santa Catarina – IFSC Palhoça, o IFSC Bilíngue. Também há um curso de Pedagogia Bilíngue lá. Há algumas iniciativas, mas muitas faltam ainda. É preciso implementar essa política da Pedagogia Bilíngue. Também o Português como segunda língua precisa ser implementado. Já temos ações que se iniciaram. Aqui na Universidade de Brasília, por exemplo, já foi criado o Curso de Português como segunda língua. Falta agora ampliar para o Brasil todo.

Também é preciso discussão para que haja muitas ações que vão se desenvolver e ser implementadas em todos os lugares, mas é preciso perceber que há uma tensão, há sempre uma tensão até hoje.

Eu percebo, por exemplo, o movimento surdo de um lado. Quando o movimento surdo está lutando por seus direitos, ele mostra uma pauta, uma agenda de uma série de elementos que eles querem que sejam discutidos no Ministério da Educação, por exemplo, na SESU – Secretaria de Educação Superior, no SECAD – Sistema de Educação Continuada à Distância, na Educação Especial. Lá dentro, como é feita essa discussão?

Eles falam que dá para implementar a inclusão. Eles pensam em educação bilíngue dentro da educação inclusiva. Só que o movimento surdo discorda dessa posição. Essa não é a posição do movimento surdo, e ele mostra isso para o Ministério da Educação. Isso é um problema. Ele diz isso. Então, há uma tensão nesse espaço.

Há muitos problemas por quê? Por que existem esses problemas? É porque, na verdade, a inclusão tem uma escola em qualquer lugar. Você tem escolas inclusivas em qualquer espaço. O planejamento básico de todas essas instituições é com base no Português, e o surdo precisa ter o foco na Libras. Como é que isso vai acontecer em uma escola inclusiva, que não pensa nisso? É muito difícil isso acontecer. Não há clareza nisso. E os surdos sabem disso.

Estudos acadêmicos de há muitos anos comprovam isso. As pesquisas mostram que não adianta educação bilíngue dentro da escola inclusiva, de qualquer jeito, espalhada em espaços que são elaboradas com base no Português.

Como é que o surdo vai se desenvolver e se valorizar? Ele precisa da educação bilíngue. Para que isso aconteça, ele precisa da Libras. O principal eixo é a Libras.

Também agora vamos pensar e colocar diante de nós o curso de Letras/Libras, por exemplo. Temos o curso de Pedagogia Bilíngue.

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Também, nesses espaços, temos a formação de profissionais que vão para o mercado de trabalho atuar na educação, nas escolas.

Aí esse profissional que é formado, por exemplo, no curso de Letras/Libras, no curso de Pedagogia Bilíngue, nesses dois espaços, vai entrar na escola bilíngue. Onde é que ele vai trabalhar? Ele precisa estar na escola bilíngue.

Também essa escola e as outras precisam ter escolas polos. É possível ter escolas polos? Sim. Há a escola bilíngue, que tem o foco no planejamento todo com a educação em Libras, Português como segunda língua. O ambiente tem de ser um ambiente em língua de sinais, para interação dos estudantes em uma educação bilíngue e também nos espaços das escolas polos. Nessas escolas também tende a acontecer a mesma coisa. Elas precisam ter dentro delas a língua de sinais acontecendo com ambiente bilíngue, um ambiente sinalizado. E a escola precisa ter profissionais que vão ser colocados lá dentro e que tenham formação na licenciatura em Letras Libras, nos cursos de Pedagogia bilíngue e em outros cursos que também precisam da Libras! Isso é muito importante!

Então, vejam o exemplo do curso de licenciatura em Letras Libras da Universidade Federal de Santa Catarina. Passe por favor. Lá tem um projeto político-pedagógico dentro da universidade federal e há uma coisa muito importante dentro do projeto político-pedagógico, que é o empoderamento dos surdos. Os surdos protagonizam, é um protagonismo surdo, os surdos são os autores, eles é que definem, eles é que dizem como é que tem de ser a política, e há uma discussão, porque, por exemplo, pela experiência de anos que eu tenho, o empoderamento do surdo acontece na relação que as pessoas têm. Às vezes, o surdo, sozinho, não sabe como é que vai acontecer, mas, pela experiência, ele pode saber, e você vai negociando com ele, conversando com ele, combinando. Ele capta, ele percebe como é que tem de ser a proposta. Aí ele passa a sua opinião, negocia, aprende, e nós aprendemos com ele também.

Portanto, é muito importante o aprendizado. Nessa troca de experiências, ambos aprendem. E, entre surdos e ouvintes, ele passa a ensinar crianças como? Ele ensina como é que vai ser e a criança vai aprender. Dá! É possível, sim! Nós temos que olhar a perspectiva do surdo, o empoderamento surdo, o protagonismo surdo, e isso tem de ser ampliado. Hoje, na Universidade Federal de Santa Catarina, no Departamento de Libras, há um grupo de trinta professores, dos quais dezoito são surdos. Todos eles são concursados. Nós fazemos a reunião sempre em língua de sinais. Sempre é em Libras. Tudo o que é negociado é em língua de sinais. Todo o contato, todo o desenvolvimento do trabalho

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é com os surdos. Os surdos têm ampliado e hoje temos doze doutores surdos, outros mestres, outros mestrandos, alguns terminaram. Somos quase uma equipe toda de alta qualidade de doutores formados. Isso é muito bom. É uma satisfação muito grande poder falar sobre isso, ver sujeitos surdos, as pessoas surdas estarem nesse protagonismo. Dezoito surdos.

Também esse empoderamento revitaliza a língua de sinais, ele dá o status à língua de sinais. O empoderamento com a língua de sinais revitaliza o status. É preciso perceber que dentro da universidade, como a língua de sinais é constante, todas as discussões são feitas por meio dela. Esse status está sendo reconhecido, está revitalizado e está tendo visibilidade.

As discussões acadêmicas, as pesquisas no mestrado e doutorado tem sido em línguas de sinais, elas têm apresentado diretamente em línguas de sinais. Isso tem revitalizado, a instituição tem conseguido seu status e tem respeitado bastante, tirado o chapéu para todas essas instituições.

A Libra é como Inglês, o Português, o Espanhol, ela tem o mesmo status. Lá fora, as pessoas não acreditam nisso, acham que ela é inferior. Continua sendo considerada inferior, mas a gente percebe que no ensino das crianças surdas... Nossa, quantas dificuldades! Porque o profissional de Libras, às vezes, é fraco, ele desconhece a Libras, ele não tem fluência em língua de sinais. A língua de sinais deles é fraca e dá a sensação de que é fraca porque o profissional não tem fluência. Mas, a língua de sinais não é fraca. É preciso dar qualquer tema e com a língua de sinais você pode dizer qualquer coisa. Vocês estão vendo aqui, eu estou falando em língua de sinais, os doutores, as pesquisas são profundas e todas são fluentes em Libras e conseguem falar sobre qualquer tema. A língua tem o mesmo valor, tem o mesmo status. É preciso respeitar a Libras como se respeita as outras línguas. Ela não é inferior a nenhuma outra.

Um outro aspecto muito importante é que o Português não é fator de exclusão. Às vezes, o surdo tem uma história de vida com vários prejuízos, eles perdem sempre. Por quê? Porque o Português está sendo valorizado e ele tem que responder a uma prova de concurso em português. Ele é surdo e vai fazer uma redação em português, e aí ele acaba ficando. É diferente, dá para ele fazer essa redação em Libras: mostra o que você quer dizer, fala desse conteúdo para mim, vem contar sobre esse assunto em Libras para você ver. Ele vai ter uma fluência e vai passar. Ele consegue explicar tudo o que ele precisa, vai passar na prova, não vai reprovar. É assim como acontece com os ouvintes que têm competência na língua. Então, alguns ouvintes também não conseguem

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passar. Os surdos, alguns também, poucos, não conseguem passar. Aqueles que estudam pouco não passam. É preciso mostrar Libras para aqueles que estudaram, que sabem Libras. Eles passam, eles têm condições de entrar, de se envolver, de serem aprovados. É uma luta muito importante essa de que a Libras tenha visibilidade, todo o conhecimento, as provas sejam todas diretamente em Libras.

Com todos esses aspectos, nós temos de entender que a lógica da educação tem que ser a partir da perspectiva surda, porque o surdo está no mercado de trabalho.

Importante também entender que a Libras é a língua diretamente de instrução. É com ela que se ensina todas as disciplinas, todos os temas, todos os conteúdos. É a Libras que vai dar ao surdo a informação de todo o conhecimento do mundo. O Português é segunda língua. Ele é importante? Sim, é importante, ele também empodera o surdo na sociedade. É preciso desenvolver esse português, também, como segunda língua. O surdo olha, ele começa a fazer língua de sinais, ele entra no Letras Libras e ele também tem interesse, ele amplia o interesse dele em aprender mais ainda o Português. Então, isso tem aumentado muito, porque a educação bilíngue vai aumentar, ampliar o status das duas línguas, formar surdos que são sujeitos bilíngues.

E as pessoas surdas vão aprendendo. O Português só não dá. Ele precisa ter a Libras, porque a Libras amplia, ela promove o surdo, ela eleva o surdo como um sujeito bilíngue.

Próxima, por favor.Aqui eu estou mostrando exemplos de materiais que são

organizados visualmente em Libras.Passe para o próximo, por favor.Aqui são materiais que foram feitos em libras para a coleção do

Letras Libras, material de tradução. Ele foi feito diretamente em Libras, uma instrução. Esse glossário é um glossário que ajuda, mostrando a configuração de mãos. E aí ele vai pesquisando como é o sinal a partir dessas configurações de mão.

Passe, por favor, para o próximo slide.Esse trabalho, agora, é um trabalho que começou recentemente. É

o primeiro vídeo livro. Ele já está enorme e foi todo traduzido em Libras. É um material que não foi feito em português, não tem texto em português, tem só tópicos em português. Daí, ele é todo traduzido em Libras. Então, nós chamamos de livro book ou vídeo book, vídeo livro, vídeo libras.

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Esse material, o tema dele envolve aquisição, ele fala de aquisição. Em dezembro a gente já vai publicar e divulgar esse material. Ele é gratuito, público, vai estar disponível na web e o tema primeiro é a aquisição na língua de sinais.

Próximo, por favor. Também é importante falar de materiais de literatura que falam em

antologia. Vocês sabem que sinal é este e por que antologia? Antologia tem a lógica de seleção de trechos de produções dos indivíduos que têm habilidade. Você escolhe esses elementos de alguns livros e monta a antologia de literatura em Libras. E ele é em português, mas, com a seleção, os surdos fazem uma poesia e essa literatura... Primeiro nós vamos escolher poesias e depois nós vamos conseguir um...

Em português nós temos as crônicas e aí nós vamos ter uma antologia primeiramente com poesias em língua de sinais. Nós vamos incluir essas poesias que vão mostrar, por exemplo, a Profa. Fernanda Machado... No final eu vou mostrar para vocês... Não? Desculpa. A Profa. Fernanda já terminou esse trabalho de antologia que fala de poesia, ela já fez a seleção e já está para publicar agora, em setembro, esse material. Ela é a primeira pessoa a organizar o material, e agora nós já vamos para o segundo material, que é a segunda antologia, que vai ser da literatura. A primeira foi poesia, que vai ter contos, vai ter narrativas. Nós vamos escolher algumas narrativas dos surdos, vamos incluí-las nessas antologias e publicar. Também essas antologias vão poder, dentro da escola, ser utilizadas para ensino.

É importante que essas avaliações em Libras sejam da primeira, segunda, terceira, quarta, todas as séries precisam ter. O aluno não pode reprovar porque está tendo provas em português. As provas têm que ser diretamente em Libras também. Então quero ver o aluno com conhecimento em Libras e com o conteúdo dele em Libras. O português é a segunda língua, ele vai ter o conteúdo em português, mas como segunda língua, escrito. O português também vai estar, mas em segunda língua. A Libras é a primeira. Então há muitas informações que precisam estar passadas diretamente em Libras.

Próximo. As provas em Libras. Aqui nós temos a prova do vestibular da

UFSC.Passe, por favor. Aqui, agora nós temos o Enem que vai ser em Libras! Parabéns!

Conseguimos! O Enem vai ser em Libras. O movimento surdo lutou e

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conseguiu que, pela primeira vez, nós tivéssemos agora, em 2017, as provas do Enem traduzidas em Libras. Isso vai acontecer este ano.

Próximo, por favor.Aqui a gente tem um exemplo do Inep, que já começou a organizar

esse trabalho. Já organizou, está em finalização.Agora eu vou dar para vocês um exemplo que escolhi, uma prova

de seleção de mestrado. Escolhi uma questão para vocês verem como o status da língua de sinais é grande, uma vez que com ela você consegue falar qualquer língua.

Por favor, é o filme dentro do eslaide.Essa é a questão número 2, o tema é teoria e análise linguística.

Como a fala se articula com a oralidade e a audição e com o paradigma fonológico. Vamos observar o quadro 1. Esse quadro apresenta de um lado pares de unidades lexicais e do outro lado, espaços em branco.

Bem, o processo fonológico é constituído de seis conceitos, são esses relacionados aqui embaixo. Então, você vai imaginar cada um desses processos relacionados às unidades lexicais registradas nesse quadro, fazendo a transcrição fonética de cada um desses pares lexicais registrando a transcrição nos espaços em branco. Assim, você terá de um lado do quadro as unidades lexicais com a transcrição fonética do outro lado.

Concluída essa etapa, você vai escolher, desses seis conceitos, só dois deles e explicar em vídeo com suas palavras. Vai escolher dois processos fonológicos, somente dois, que combinam com os exemplos que estão ali. Você vai linkar esses exemplos aos conceitos, fazer uma síntese e explicar esses processos.

É difícil, não é? É difícil mesmo! Envolver isso em uma questão de mestrado não é simples, mas um surdo consegue, ele consegue responder essa questão perfeitamente, com toda clareza. Já conseguiu, ele já conseguiu. Ele já passou. Essa prova já foi aplicada e ele teve uma nota excelente. Ele sabia fonologia, ele sabia responder as questões do Letras Libras, onde ele estudou. Ele já sabia como organizar essas questões. Ele se preparou para responder; então, ele sabia o conteúdo. Fiquei pensando em como aquele surdo iria conseguir fazer uma questão de fonologia, que é da língua oral, mas ele conseguiu. Ele mostrou para mim que consegue. Com Libras é possível falar qualquer coisa. Vocês estão vendo que o surdo consegue. Ele conseguiu, porque estudou, claro.

Agora, falando dessa intervenção social, vamos falar da aquisição da língua de sinais dentro da educação bilíngue para surdos. As

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discussões linguísticas são muito importantes. É preciso entender como as políticas irão intervir nesse processo para que o estudante adquira a língua de sinais. Há também um outro aspecto importante que é como ele irá aprender a língua dentro da escola. A Libras é uma língua de ensino e deve ser vista como disciplina também. Ela deve ser ensinada como disciplina, assim como o português deve ser ensinado como uma segunda língua. É preciso haver todas as disciplinas em Libras, mas também é preciso haver a disciplina de Libras.

Nós não vamos fazer confusão nesses dois caminhos, porque são duas coisas diferentes. Aula em Libras, em que se recebe a informação em Libras, é com a instrução diretamente em Libras, porque o aluno está aprendendo em Libras e ele vai ter o conhecimento. Mas ele também precisa ter a disciplina para conhecer como é a estrutura da Libras. Ela se organiza como disciplina em diversos níveis. Os ouvintes também precisam dessa disciplina, porque o status, a importância de todos é igual.

Vocês sabem que há a Lei nº 10.436, o decreto, que fala da educação bilíngue, já sabemos disso. O Plano Nacional de Educação também fala da educação bilíngue. Nós temos de lembrar que a Convenção Internacional da ONU já foi amplamente divulgada. É uma declaração na convenção internacional sobre os direitos das pessoas com deficiência e, dentro dela, a língua também é valorizada, a educação bilíngue também existe. As crianças surdas precisam crescer com uma língua, e a língua delas deve ser ensinada dentro da escola. É um direito que elas têm. A Declaração Universal dos Direitos Linguísticos fala sobre isso. É igual ao ouvinte, a criança tem de crescer e se desenvolver com a língua dela. A criança surda tem que crescer, se desenvolver e se apropriar da língua de sinais. Nós precisamos respeitar a Declaração Universal dos Direitos Linguísticos da pessoa surda, assim como a convenção.

Falando da Meta 4 do Plano Nacional de Educação, PNE, de uma maneira geral, diz que para ensinar, para a educação bilíngue, é preciso que aconteça dentro da escola, dentro de escolas bilíngues, escolas polos em classes bilíngues e também em escolas inclusivas. É muito importante entender que essa educação começa de 0 e vai aos 17 anos nesses espaços que mencionei. Do zero ano? Você disse antes que a escola bilíngue fechou a turma de precoce? Isso é muito importante! Como assim? Era o mais importante? Não era possível fechar. A responsabilidade da escola é incluir. Está dito no PNE que é muito importante essa base. As crianças surdas precisam adquirir a língua de sinais. Eu não posso fechar esse atendimento. É preciso abrir de novo. Agora é preciso abrir. Vamos incentivar isso. É uma questão muito importante que eu preciso explicar, e que nós precisamos entender sobre a aquisição da língua de sinais.

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Também, complementando essa legislação, existe um relatório de um grupo de trabalho que foi designado pelo MEC com a escolha de profissionais surdos, pesquisadores surdos, acadêmicos surdos com educação bilíngue, profissionais bilíngues, pesquisadores bilíngues da Libras. Dessa comissão, foram escolhidos alguns. Eles se reuniram para essa comissão e discutiram temas sobre educação bilíngue, onde deve acontecer, como deve acontecer, a importância, o que é necessário. Tudo com detalhes. Foi organizado e foi guardado na gaveta. Está engavetado. Como assim? Eu não entendo. O documento está pronto. Foi discutido por uma comissão. Ele precisa ser implementado. Ações precisam ser feitas para que ele seja implementado. É preciso que nós cobremos isso. Hoje eu pretendo ir lá no Ministério da Educação e dizer: “Opa, tire isso da gaveta. Não pode ficar aí”. Eu vou lá hoje à tarde. É preciso tirar esse documento da gaveta. Ele está pronto. As pessoas já discutiram. Estão querendo discutir novamente para quê? Já está pronto. A discussão já foi feita com uma comissão. É importante que os surdos estejam representados. Os surdos acadêmicos já estão representados, já fizeram a discussão, já houve um trabalho. Por que está engavetado? Eu não consigo entender isso. O PNE – Plano Nacional de Educação – já fala sobre isso. Ele já incluiu a educação, já falou dos concursos. O relatório já traz isso. Então, nós precisamos implementar essas ações para que se possa desenvolver a educação bilíngue.

Dentro da educação bilíngue, nós temos, principalmente, de entender uma coisa muito importante, que a educação bilíngue é um agrupamento de surdos. Ela não acontece com surdos espalhados um em cada canto, com os surdos que estão discriminados em seus espaços isolados, distantes. Por quê? Os surdos precisam estar agrupados. Eles precisam estar juntos. Eles precisam de contato um com o outro. Eles precisam se relacionar um com o outro.

Você tem de imaginar os ouvintes. Eles estão num espaço dentro da escola e eles têm os filhos em outros lugares. Os filhos de vocês vão para essa escola e ficam superfelizes porque lá eles conversam, eles falam, encontram com os amigos, comunicam-se. A aula começa. Eles aprendem, interagem, se desenvolvem. Sempre acontece o contato. Eles estão sempre em contato. Não é assim que acontece? Então, a escola de ouvinte é assim. Lá todo mundo fica quietinho e o professor falando, falando? É assim? Não é assim. Existe uma interação o tempo inteiro.

E o surdo, gente, como fica? O surdo chega nessa escola e já há interação prévia entre os ouvintes. Ele quer se comunicar e, aí, ele olha para as pessoas e ele vê uma palestra, por exemplo.

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Eu vi uma palestra, muito tempo atrás, num congresso lá no MEC – Ministério da Educação – em que se falou sobre a inclusão e que os surdos poderiam ser incluídos. Daí, passaram um filme muito bonito. Eram crianças mais ou menos de três, quatro anos de idade e eles estavam brincando e se relacionando. Ah, estavam juntos! Muito bonito! Claro! Eles tinham relação um com o outro. Eles brincavam juntos, eles se relacionavam, uma integração social acontecia. Eles se relacionavam.

A escola é só isso? Não, é preciso comunicação, não é só brincar com o outro. Essas crianças foram crescendo, crescendo, crescendo e aí eu fui para a escola que era inclusiva, onde estavam essas crianças antes. Fui convidada em São Paulo para ir a uma escola dessas onde as crianças já tinham crescido. Fui olhar como era feita a discussão dentro da escola, como é que acontecia essa inclusão.

Então, um surdo estava no meio de tantos ouvintes, um único surdo. E o professor falava, falava oralmente e aquele surdo ficava olhando, só olhando. Aí eu olhei para a fisionomia daquele surdo, para o rosto dele, para a expressão daquele surdo. Ele tinha uma expressão de que não estava entendendo nada. O tempo foi passando, passando e de repente chegou o intérprete. Ele era um apoio, só para dar um apoio. Ele sentou ao lado do surdo e falou... E o surdo não queria muito aquele contato, porque ele estava com vergonha, porque tinha uma pessoa junto com ele. Ele falou: “Isso não está muito claro.”

Eu percebi claramente o que estava acontecendo, porque o professor não sabia muito Libras e ele não queria aquele contato. Ele queria a interação como acontece com os ouvintes. Então, era melhor fingir que era ouvinte ali. Não precisava o professor intérprete estar perto e ele ser diferente.

Então, no planejamento, é preciso mostrar... Eu estava sentada ali perto e, naquele contexto todo, eu vi que havia uma apresentação de música. Tinha violão, tambor, uma série de instrumentos musicais. Depois chamaram os surdos para virem aqui, ficaram as crianças perfiladas, e o único surdo, que era aquele menino, juntinho das crianças. Eu fiquei olhando aquilo. Eu, sentada lá atrás, olhando aquilo, e os alunos tocavam, tocavam, e aquele surdo oralizando, fingindo que cantava. Ele não tinha voz. Ele só copiava, imitava o que os outros faziam.

Gente, é possível acreditar num aprendizado desse dentro da escola? Você acha que ele aprendeu alguma coisa dentro da inclusão? Claro que não. Coitada dessa criança. Esse aluno foi discriminado. Ele foi oprimido. Não se respeitou o direito dele. Isso é um ouvintismo. Ele não entendeu nada do que acontecia. Ele só copiava. Não tinha um modelo surdo para ele seguir. Só tinha o modelo ouvinte. E ele ainda não queria

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ficar perto do intérprete porque ele só queria apoiar. Ele não queria destoar daquele grupo que ele estava tentando ter como modelo e copiando e sendo igual. Ele não tinha uma identidade surda.

Então, é preciso nós estarmos atentos a esse aluno. Não podemos deixar a inclusão do jeito que ela está. Vamos acabar com isso. Vamos deixar isso de lado. O professor se esforça muito. A gente tira o chapéu para o professor, mas é preciso ver que é importante o surdo agrupado com o surdo. O surdo precisa estar em contato com outro surdo. Ele precisa interagir com os outros surdos.

Outro exemplo é numa escola, um grupo, com meus colegas de trabalho. Uma colega tem um filho surdo. Tenho uma colega que tem um filho surdo.

Santa Catarina não tem escola bilíngue, Santa Catarina não tem nada. Florianópolis não tem nenhuma escola, só escola inclusiva. O filho dela foi colocado na escola, ele era bem pequenininho, então tudo bem: foi brincar, interagir. Ele foi crescendo, crescendo, e de repente começou a ter problemas de comunicação na escola. Ele já não conseguia se comunicar mais. Ele começou a ficar nervoso, e começou a se irritar com aquilo. Sempre ficava de castigo na escola, toda hora estava indo para o castigo. Ele começou a ficar muito angustiado, magoado, nervoso, agitado, revoltado, e o professor...

Aquela minha colega de trabalho, que é surda também, via a situação do filho dela sofrendo, e dizia: e agora, como vou fazer com ele? Ela conseguiu um intérprete para ele nessa escola, com um projeto. Foi feito um contrato temporário. Esse intérprete ia lá tentar ver se conseguia melhorar. Melhorou um pouquinho, ela ficou um pouco mais aliviada. Mas aquele contrato terminou, aquele intérprete foi embora, e o menino voltou a ficar angustiado, revoltado. Tudo aconteceu novamente, meus colegas ficaram angustiados com aquilo, e minha colega resolveu então tirar. Foi com o filho para uma escola bilíngue em Curitiba. Ela tem família lá, e foi um alívio para ela, porque agora ele está feliz. Ele se comunica, interage, aprende e já começou a ler. Lá na escola ele estava na quarta série e não sabia ler nada.

Para que essa inclusão? O que significa essa inclusão para o surdo? Ela significa exclusão, porque o surdo está deixado de lado. É preciso ver esse contexto e mudar. A escola bilíngue é muito importante, a educação bilíngue é importante para que haja contato, e no final essa criança consiga crescer feliz, desenvolver a sua identidade e consiga identificar-se com os outros pares, porque ela encontra outros assim como ela, são todos com o mesmo tipo de comunicação. Isso é importante para a vida deles.

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A educação é um acontecimento em relação ao outro. Dentro da escola, os professores surdos, agora, já têm aumentado muito na educação bilíngue. Há muitos professores surdos. Antigamente a escola bilíngue só tinha ouvintes. Olhávamos, só havia professores ouvintes. Agora, na escola bilíngue, tem um professor surdo. Pensem: a criança, sendo modelo de uma pessoa só, como assim?

Vocês lembram no passado, quando iam crescendo, como era? Vocês olhavam os professores e tinha um que você se apaixonava por ele. O outro você não gostava, com esse você não se identificava. Tinha outro que era mais ou menos, tem aquele ali, com cada um você interagia de forma diferente. Você vai desenvolvendo, construindo sua identidade a partir do que vê no outro. Você vai se empoderando, você sabe, tem um modelo. Foi isso que me formou. Essa informação que eu fui tirando das pessoas me tornou a pessoa que eu sou.

Mas ser modelo de um professor, ter um professor surdo como modelo? Não dá. Não dá, gente! É preciso ter muitos professores surdos que sejam referência para a criança. A escola bilíngue é muito importante. É nesse espaço que eu tenho que ter o professor surdo. A maioria dos professores surdos têm de estar ali dentro, e a maioria dos professores têm de ser surdos. Eu tenho que ter professor ouvinte? Sim, desde que seja bilíngue. Esses sujeitos, os professores surdos, vão ajudar as crianças a se relacionarem com o ouvinte, a se comunicarem com o surdo, a se relacionarem com o ouvinte e saberem como interagir. Entender como é o mundo de cada um, as diferenças e as semelhanças que há entre ser surdo e ser ouvinte, assim eu vou me construindo e vou me desenvolvendo.

Esse contexto em que eu tenho o profissional surdo, o educador surdo, vai ser referência para a criança surda, e a criança vai seguir esse modelo. Eu preciso ter um modelo de língua, preciso ter um modelo da cultura, um modelo da identidade. Ele precisa interagir com a comunidade surda. Precisa também desenvolver e conhecer a literatura surda, e ele vai aprender como se relacionar com o ouvinte. Não é uma situação igual ou diferente, é como ele se constrói, é como ele vai se sentir bem, é como ele vai se sentir feliz. Essa identidade é uma construção que ele vai fazer a partir desses modelos de professores surdos que vão ser referências e vão ajudar a construir, a crescer como sujeito, com uma identidade.

Os colegas vão ajudar a se relacionar, e também com os colegas ele pode conseguir uma referência, ter uma referência. Se os colegas são ouvintes, eles também vão se relacionar e vão aprender a se comunicar. Nesse espaço, os ouvintes olham o professor surdo, vão saber e entender que aquele profissional é diferente. Eu sou ouvinte, eu tenho um pai

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surdo. Meu pai, surdo; minha mãe, surda. Eu chegava para eles e... Eu ia aos meus professores? Eu ia oralizar com os meus pais? Não. Eu sabia que meus pais não eram surdos. Quando eu precisava conversar com um ouvinte, eu falava. Quando os meus pais precisavam, chamavam. Não adiantava gritar. Eu tinha de chamar meu pai assim: olha para mim. (Gesticula.) O ouvinte chama como? Ele fala, ele grita, ele tem som. Ele fala papai, mamãe e vai aprendendo. Agora, eu, criança, tive de aprender que eu tinha de chamar meu pai de outro jeito. É assim que funciona com o surdo. Ele também vai se acostumando e vai entendendo como é que o mundo funciona. Não precisa ensinar isso. Em contato, ele vai adquirindo naturalmente e aí ele aprende como conviver.

Esse é o contexto a que eu fui, uma escola bilíngue. Essa escola bilíngue fica lá nos Estados Unidos. Eu tinha uma professora surda. Nessa imagem, vocês estão vendo uma professora surda e um menininho. Com que idade? Quatro anos. Esse menininho tem 4 anos. E ela está dando a disciplina de língua de sinais americana. Então, ela começa a disciplina de língua de sinais americana desde cedo. Os alunos pequenininhos vão todos caminhando para a sala de aula de língua de sinais americana. É muito lindo. E eles vão caminhando para lá. Aí eu sentei e fiquei vendo aquela situação, fiquei observando o que estava acontecendo. A professora marcou um tempo para eles e disse assim: “Olha, vamos combinar.” Eles combinaram antes, sentaram num círculo e discutiram um tema. Discutiram, discutiram. “Pronto, discutimos? Agora cada um vai ser filmado, vai fazer um vídeo e, nesse vídeo, vai falar sobre aquele tema.” Cada estudante tinha um momento. Esse é o momento do estudante de 4 anos. A professora falou assim: “Você está pronto já? Posso começar a filmar?” Ele disse: “Não, espera aí só um pouquinho.” Aí ele ficou pensando como é que ele organizava. Foi bonitinho, porque ele ainda virou para trás, escondeu-se e ficou tentando, em língua de sinais, organizar, treinando o que ele ia falar. Ele ficou organizando as ideias, depois ele olhou para a frente e disse: “Estou pronto. Estou pronto. Posso começar.” Aí a professora começou a filmar. Foi bem curtinho. Ele tem 4 anos. Isso é normal. Mas, olhem, com 4 anos!

Aqui no Brasil, como acontece quando a criança adquire a língua de sinais? Era para ser do zero ano, gente! Não acontece, não adquire, não se tem esse trabalho. É preciso que isso aconteça, para que a criança tenha a disciplina de Libras desde cedo.

Professor surdo também tem responsabilidade com a comunidade escolar. Ele assume o papel de ensinar a Libras também para os professores, para os funcionários da escola, para toda a comunidade escolar. Então, ele também vai orientar quem? Como é que acontece a

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comunicação com as crianças surdas? Ele também tem esse papel de mostrar como a Libras deve ser ensinada e assim por diante.

Também o professor surdo é responsável por todos esses itens que estão ali. Aquisição da língua de sinais dos alunos. Ele começa a aprender a língua de sinais junto com um professor surdo. Ele vai seguindo o modelo dessa língua de sinais.

Depois ele é professor de língua de sinais para os familiares, nas disciplinas. Ele vai crescendo, não é? Então, também nas famílias dos alunos, os professores, os tradutores e intérpretes de língua de sinais e também uma coisa muito importante, que é o professor regente, que tem a sua turma e que vai ensinar – ele é um pedagogo bilíngue – as disciplinas todas de todas as séries.

Hoje a gente tem um professor ouvinte, mas eu posso ter um professor surdo dando aulas nas atividades. Isso é ótimo. Eu tenho de aproveitar esse espaço. O professor surdo também dá aula de atividades da primeira à quarta série.

Um tema que é muito importante e que eu preciso complementar aqui é a responsabilidade que a FENEIS – Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos tem, a representação que a Feneis tem e que seus líderes surdos têm. As lideranças surdas de todo o País precisam estar atentas, precisam estar em parceria com a Feneis, associadas à Feneis e têm que estar em contato com as associações. Esse contato é muito importante porque essa liderança surda é que vai ajudar a despertar e saber como é que vai funcionar a escola. Eles têm de estar atentos, porque, às vezes, eles têm um contato fora da escola e não sabem o que está acontecendo lá dentro. Então, essas lideranças surdas precisam buscar informações para saber como é que acontece, interagir com a escola. Essas lideranças surdas precisam ajudar a escola também a despertar para a importância de saber como é a vida dos surdos e como é que deve ser desenvolvido o ensino.

Muitas vezes, o professor não conhece quem é o surdo adulto. Como assim? Só conhece a criança surda. No futuro, como é que essa criança surda vai ser? Quem ela vai ser no futuro? Ele não sabe. Ele não conhece. A família também. Às vezes, a família olha a criança e fala assim: “Meu filho é surdo.” E, aí, no futuro, o que vai ser dele? Eu preciso ter modelos de surdo adulto dentro da escola. Essas lideranças surdas são muito importantes para ajudar a despertar e mostrar como é que a vida do surdo funciona na sociedade.

Então, por exemplo, nós temos uma agenda muito grande da Feneis, que também está vinculada à Federação Mundial dos Surdos, a WFD, que tem responsabilidade por todos esses tópicos. Nós precisamos

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incentivar o direito à língua de sinais, ao contato, à cultura surda, a identidade linguística precisa ser promovida, a educação bilíngue precisa acontecer, tem de ter uma agenda para a educação bilíngue, já está na agenda da Feneis essa discussão da educação bilíngue, acessibilidade, as oportunidades de trabalho devem existir e precisam ser igualitárias, a participação igualitária dos surdos, o surdo não pode ser discriminado, ele tem direitos iguais, também o trabalho, o serviço de tradução e interpretação de língua de sinais precisa acontecer com acessibilidade para os surdos, para garantir a acessibilidade dos surdos nos diversos contextos.

É preciso respeitar a Convenção da ONU, porque isso está escrito na Convenção da ONU, ela fala que as suas entidades representativas da pessoa com deficiência estarão lá, trazendo e definindo as ações que vão ser feitas juntamente com a política. Não se pode deixar a liderança surda e essas representações de fora, senão vai ser um prejuízo para todos. É importante estarem todos juntos nesse trabalho.

Esse slide mostra que lá a Federação Mundial dos Surdos tem um trabalho maravilhoso.

A Libras na vida da criança surda. Então, você tem a Libras, como é que ela acontece dentro do espaço escolar.

Vou mostrar para vocês uma pesquisa que fizemos. Nós chamamos surdos de todo o Brasil. Oitocentos e sessenta e um surdos responderam a uma pesquisa, em todos os estados e o Distrito Federal. Os 26 Estados e o Distrito Federal responderam a essa pesquisa, e eu vou mostrar para vocês os dados.

Olha o que aconteceu aí, gente: a idade de aquisição da Libras. Os surdos pesquisados disseram que aprenderam a Libras... De 0 a 12 anos, teve um número de surdos. A maioria dos surdos aprendeu Libras após os 12 anos. É muito tarde, gente! Precisamos acordar para isso! É um atraso muito grande! Eles precisam ir para a escola! Eles estão adquirindo a língua de sinais na escola. Então, dá um atraso na escolarização também.

Aquisição da Libras. Onde é que eles adquiriram a língua de sinais? A maioria deles adquiriu a língua de sinais na escola. Incrível! Como assim? É dentro da escola que o surdo adquire a língua de sinais, porque a família é ouvinte. Então, ele vai para a escola e aprende a língua de sinais. É o professor que vai ser o modelo. Se ele é só um que sabe de língua de sinais, só o interprete sabe um pouquinho, é um pouquinho só que ele vai adquirindo. Já pensou? Aí, ele vai tendo que fazer seleção... Parece que ele está colhendo migalhas da língua para adquirir a língua de sinais? Isso não é possível. A maioria dos estudantes aprendem a língua de sinais dentro da escola, muitas vezes junto com o interprete, porque, às vezes, não há

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professor surdo. A maioria das escolas não tem professor surdo. Então, é uma responsabilidade muito grande a nossa, sabendo que a escola é o espaço onde ele mais aprende. O PNE fala que é de 0 a 17 anos, de zero até o fim da vida. Então, é preciso ter muita responsabilidade para que a escola brasileira possa incluir, sim. É possível e é muito importante que a aquisição da língua de sinais aconteça dentro da escola, a partir do zero. É uma responsabilidade muito grande da escola. Aqui no DF também. É preciso abrir essa oportunidade. Não se pode fechar, é preciso abrir a precoce da escola bilíngue.

Outro ponto muito interessante foi a questão da língua de sinais, com quem eles utilizam mais a língua de sinais. Eles disseram que foi com os amigos, e esses amigos surdos dentro da escola, no contato com os amigos surdos que eles adquiriram, com alguns poucos professores e alguns familiares. E, dentro dos colegas ouvintes, praticamente é nula essa aquisição, essa comunicação. Com quem eles utilizam a Libras? Eles não utilizam com os ouvintes colegas. Como assim, gente? Então, a escola precisa ser bilíngue. O que significa isso? Criar um ambiente bilíngue. Se a escola polo, por exemplo, tem ouvintes e surdos, eu preciso colocá-los juntos, ampliar esse espaço para que os alunos interajam, consigam se desenvolver e se comunicar em um ambiente linguístico no qual surdos e ouvintes se comunicam em Libras.

Então, a Libras, dentro da escola, no espaço escolar, como é a aquisição, como acontece a aquisição? A aquisição é o primeiro ponto, é muito importante, é primordial. Também é preciso que a língua de instrução aconteça, que os conteúdos sejam ministrados diretamente em língua de sinais.

Um outro aspecto importante é o currículo para o ensino da disciplina de Libras como primeira língua em todas as séries, em toda a escolarização.

O currículo também para o ensino de Português como segunda língua é igual com o ouvinte. Não, não. Não é igual com o ouvinte. Por quê? Porque é preciso criar um currículo próprio para o ensino de Português como segunda língua para os surdos.

E o que vai envolver esse currículo? A Libras, como primeira língua para os surdos vai precisar da literatura em libras, dos gêneros textuais em libras, da tipologia textual em libras para que o surdo possa se comunicar e saber qual é a forma que ele vai utilizar em cada contexto, os tipos de texto que ele vai utilizar em cada momento, a produção textual em libras, que vai ser filmada, como vai ser filmada; como é a situação formal, o contexto formal, o contexto informal; como é a produção que eles vão criar, a interação que eles vão fazer, a coesão e a coerência;

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também a edição de textos em libras, como é que vai acontecer. Dentro da escola, todos os dias eu vou filmar. Eu também vou precisar aprender a editar um filme, um vídeo que eu fizer, porque eu vou precisar fazer recortes nele.

Um outro aspecto importante é a assinatória. O que é assinatória? Não tem oratória, que é como você vai falar bem em público, qual vai ser a fluência, que seleção você vai fazer para se comunicar? Eu também preciso disso em libras, eu também preciso da assinatória. É a mesma questão.

E a escrita de sinais, como é que acontece? A escrita de sinais, dentro do currículo, é muito importante. Ela precisa seguir o currículo todo, ela é transversal ao currículo.

Próximo, por favor.Sim, a literatura surda. A literatura em libras é muito importante

porque eu tenho os gêneros textuais, a tipologia textual com narrativas, poesias, contos, performance, a arte surda, imagética. Eu preciso ter a questão da estética. As antologias dos textos em libras, como é que acontecem? A literatura em língua de sinais, porque existe a literatura em línguas de sinais no mundo também. Ele precisa conhecer também dentro da escola. Então, o currículo precisa envolver todos esses aspectos.

E daí a gente também questionou para esses surdos pesquisados se eles utilizam e se eles conhecem a língua de sinais escrita. E alguns disseram, 80% dos surdos disse que utiliza ou conhece a língua de sinais escrita. A gente às vezes pensa que a língua de sinais escrita está deixada de lado, que os surdos não têm interesse por ela. Mas são 80% dos surdos, gente. Esse é um dado muito importante, são muitos surdos que conhecem e utilizam a escrita de sinais. Então nós precisamos nos interessar por isso nesse contexto educacional.

Por favor, o próximo. E com relação às questões que envolvem a escrita de sinais, as principais são as seguintes: eu estou dentro da escola e preciso e vou escrever a libras, e ela vai me ajudar a escrever e separar os sinais do meu corpo porque a criança surda vai filmar, ela está vendo o corpo dela, mas como é que ela separa esse corpo do que é língua? Então ela vai fazer o sinal da casa e ela só vai desenhar o que é em libras. Ela vai se olhar e vai fazer o registro. É uma questão metalinguística que ela vai conseguir entender, ela vai favorecer esse conhecimento metalinguístico para poder ajudá-la também a conhecer o português. Ela não vai ouvir o português, mas esse conhecimento que ela vai adquirir vai ajudá-la na escrita de sinais a se auto conhecer, a entender como é que é esse conhecimento metalinguístico e a registrar também o português depois.

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Próximo. Então aqui é um exemplo muito bom. Essa criança tem 7 anos. É uma criança bilíngue e fez uma produção escrita de sinais em que ela acrescentou a língua portuguesa junto. Olha só, ela fez escrita de sinais e português.

Próximo. Então o ambiente bilíngue dentro da escola é muito importante. É preciso criar esse ambiente bilíngue entre Libras e o Português como segunda língua para que aconteça de uma forma clara no espaço escolar e que a escrita de sinais também esteja nos cartazes da escola. Eu tenho o português escrito na escola, mas a língua de sinais também tem de estar. Além do vídeo interagindo, ela também precisa estar ali em libras registrada porque as pessoas surdas dentro da escola também precisam conhecer libras. É preciso haver essa interação todo o tempo. Não é verdade que estou aqui explicando e alguns surdos ficam sonhando e profetizando como é que vai ser? “Ah eu quero ir lá para a UFSC”. Porque o ambiente na Universidade Federal de Santa Catarina é um ambiente bilíngue em que flui a língua de sinais tranquilamente. Têm alguns intérpretes, sim, mas a aula é diretamente em língua de sinais. Isso é maravilhoso, os surdos do Brasil inteiro querem ir para a Universidade Federal de Santa Catarina. Por quê? Porque lá nós temos esse ambiente bilíngue em que o ensino é diretamente em libras. Os ouvintes estão ali também, mas a maioria dos ouvintes que estão entre nós também falam em língua de sinais. Então tem aumentado também esses ouvintes interessados em línguas de sinais.

O próximo, por favor. Agora vou mostrar um vídeo muito importante para vocês que fala da segunda língua pelo professor surdo, vocês conhecem, é o Nelson Pimenta. O sinal dele é esse, enfim, ele me liberou, ele me autorizou a mostrar para vocês esse vídeo. E ele fala muito da questão do Português como segunda língua.

No segundo ponto é uma questão relacionada ao Português escrito. No passado, havia uma divisão, Libras era a própria língua dos surdos e Português era própria para os ouvintes. Eram dois contextos separados e seus falantes não interagiam. Faltava o quê? Faltava interação, faltava o currículo em Libras. O Português também faz parte da vida do surdo.

A escola não ensinava nada, o professor, de uma maneira geral, não ensina como deveria, fica parecendo que Libras é própria do surdo e a segunda língua ele deixa para lá. Não é assim, não, isso é opressão linguística! O surdo precisa, sim, aprender a ler e a desenvolver-se em Língua Portuguesa. O que falta é discussão. É muito importante que essa discussão... É preciso criar congressos nos quais se fale sobre a temática do surdo. É preciso também parar de dizer que o surdo não sabe. O Português é difícil, eu preciso tematizar, problematizar as dificuldades do

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ensino. Eu preciso parar de dizer que o surdo é distraído, entre uma série de outras coisas que não eram ditas. Antes era diferente, tudo era uma miscelânea, é preciso mudar essa realidade, é preciso discutir como deve ser.

O ponto principal que o Nelson Pimenta quis destacar é que nós, professores, no passado... Nós estamos ultrapassados, por quê? Porque as crianças surdas não conseguem aprender o Português. Mas por quê? Nós não ensinamos Português para eles porque nós não sabemos ensinar. O problema não é nas crianças surdas que não sabem aprender; o problema tem que ser voltado para nós, professores, que não sabemos nos olhar e não sabemos planejar adequadamente para saber como ensinar. Alguns surdos, muitas vezes, desenvolvem muito bem a leitura. Por quê? Porque os professores deles eram bons, eles tiveram sorte, tiveram bons professores.

Próximo.Um desafio que nós temos para a implementação da educação

bilíngue é o estabelecimento das escolas bilíngues. O estabelecimento de escolas polos bilíngues, os polos precisam também existir. O planejamento dos projetos político-pedagógicos bilíngues dentro das escolas precisa ter clareza do que é educação bilíngue, quais os pontos importantes a serem destacados.

É preciso contratação de educadores surdos qualificados nas diferentes áreas de formação de professores. Contratação de professores, pedagogos, tradutores, intérpretes de Libras qualificados e bilíngues. É preciso que a língua de sinais esteja presente no ambiente bilíngue, e o português não pode nunca ser fator de exclusão do surdo. Os surdos têm a língua de sinais e é com ela que eles se comunicam.

O contexto nos mostra que dá. É possível educação bilíngue. Muito obrigada. (Palmas.)ORADORA NÃO IDENTIFICADA – Agora, nós iremos abrir para

algumas perguntas, lembrando que nós temos ainda 25 minutos, não é, Profa. Ronice? Nós gostaríamos que as perguntas fossem feitas de maneira bem sucinta para não demorarmos muito tempo nelas.

Quem quiser perguntar pode vir aqui. A gente pode fazer uma fila. Quem quiser fazer por escrito levante a mão, por favor.

As escolas já estão indo. Muito obrigada, professores das salas de recursos, professores da escola bilíngue e todos que vieram prestigiar nosso tão importante seminário para discutir esses caminhos possíveis para implementação de políticas públicas para os surdos.

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Temos perguntas?Então, vou deixar com a Soraia e a Jenaína. Jenaína, venha até aqui

ajudar a Soraia.ORADORA NÃO IDENTIFICADA – Eu gostaria de fazer uma pergunta.

Eu estou um pouco preocupada em relação à questão... São dois pontos. Primeiramente eu gostaria de perguntar se você já pensou anteriormente sobre a questão da escola – a escola dos ouvintes, as escolas regulares – no ensino de Libras nas escolas regulares. O que seria melhor: desde o começo do ensino básico ou depois só no nível superior? Como seria essa comunicação dentro das escolas regulares? Seria possível? Seria bom começar desde o início para que tenha essa questão de conhecer sobre a cultura, a história, tudo isso? Eu gostaria de saber se você já pensou sobre isso de colocar isso nas escolas do Brasil para que seja melhor. O que aconteceu comigo, por exemplo?

ORADORA NÃO IDENTIFICADA – É muito importante. Eu vou complementar. Foi bom você ter tocado nesse ponto. A Libras, como L1 para crianças surdas, eu expliquei focando nas crianças surdas. Mas nós temos também os ouvintes nas escolas polo, por exemplo, quando há presença de alunos surdos e alunos ouvintes. Os alunos ouvintes precisam aprender Libras. Então, é necessário um currículo que tenha Libras como a segunda língua. Assim como se ensina Libras e o surdo, muitas vezes, acha chato, os ouvintes têm que começar do básico porque o surdo já tem aquela fluência em Libras. Os surdos começam desde os primeiros passos. A Libras é como a segunda língua. É diferente – e eu concordo com você – a disciplina Libras para os surdos e para os ouvintes, no caso das crianças ouvintes.

ORADORA NÃO IDENTIFICADA – Bom, eu acho muito importante essa questão de se pensar para o futuro a fim de que haja uma melhor comunicação. O segundo ponto é que eu estou um pouco preocupada porque a maioria dos formandos em Letras Libras estão aí. Tudo bem, ok. Mas como pensar nas crianças que não encontraram a sua identidade, que estão em escolas inclusivas, que não se enxergam? Como se dá isso?

Por exemplo, eu como criança não percebia nada ainda. Eu fui descobrir depois de um tempo. Foi quando eu me senti de uma maneira diferente. Então, como enxergar isso no futuro?

ORADORA NÃO IDENTIFICADA – Já foi criado o Curso Superior de Pedagogia Bilíngue. A maioria dos formandos, os formados são surdos, mas temos poucos ainda porque o governo precisa incentivar, assim como no caso do Letras Libras, por exemplo, que aconteceu no Brasil. É preciso que haja cursos de pedagogia bilíngues nas faculdades também, principalmente nas federais.

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Foi colocado no PNE – Plano Nacional de Educação – de zero a dezessete anos. Então, você pode começar desde a estimulação precoce até o quinto ano sendo bilíngue. Isso é necessário.

ORADORA NÃO IDENTIFICADA – E nas universidades? Vai ter algo novo também nas universidades?

ORADORA NÃO IDENTIFICADA – Há propostas.ORADORA NÃO IDENTIFICADA – Nós precisamos melhorar o Brasil.

Nós precisamos estar aqui. Eu estou com algumas dúvidas de como fazer e de como seria melhor para apoiar. Obrigada, professora.

SR. VALDIMAR – Bom dia. Tudo bem? Meu nome é Valdimar. Eu sou professor de Libras – Língua Brasileira de Sinais – e também sou gestor de Libras dentro da central de intérpretes aqui em Brasília. Eu gostaria de fazer uma pergunta. A acessibilidade em Florianópolis pode estar pronta, mas aqui em Brasília ainda não. Temos alguns pontos, como na UnB – Universidade de Brasília –, no IFB – Instituto Federal de Brasília –, na escola bilíngue. Temos algumas coisas aqui em Brasília, mas falta essa união, falta essa interação sobre eles. A gente precisa ver o modelo de Florianópolis para ver como ficaria aqui em Brasília. Alguns surdos me chamam, mas como fazer isso, como fazer essa união entre os entes?

ORADORA NÃO IDENTIFICADA – Realmente. É verdade. Na UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina – é muito legal para os surdos. É muito prazeroso perceber o ambiente bilíngue, mas fora, em Florianópolis, não é bom. Falta como aqui. As crianças todas estão na inclusão lá em Santa Catarina, em escolas inclusivas; daí vocês pensam que Santa Catarina é ótimo. É só a UFSC? Não. É só dentro da UFSC. Fora ainda falta muita batalha, muita luta, porque em Florianópolis não há escolas bilíngues.

Em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, nós temos dezessete escolas bilíngues. No Paraná, nós temos catorze escolas bilíngues. Em Santa Catarina, não existe nenhuma. A inclusão lá é muito forte. Então é engraçado porque o governo lá diz: “Não, não precisa. Tem poucos surdos.” O que significa ter poucos surdos? Significa que os surdos já se dispersaram ou estão isolados. Surdos do Brasil todo estão vindo para a UFSC. Então, aí, sim, há uma interação. Tem alguns surdos de Santa Catarina, sim, mas a maioria são surdos que vêm de outros estados para estudar na UFSC.

ORADOR NÃO IDENTIFICADO – Obrigada. Entendi. Muito obrigada pela explicação.

SR. LUCAS – Olá, professora Ronice. Tudo bem? Você me conhece. Eu sou o Lucas. Eu gostaria de fazer uma pergunta em relação às artes.

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Desculpa, se não é Florianópolis, é esse outro, não é? Eu vou fazer uma pergunta relacionada a artes na educação. Eu tenho visto que em alguns lugares, como São Paulo, Rio, já existe um modelo, e o surdo já tem essa questão de educar e ter artes dentro da escola. Nas escolas municipais, as crianças vão até lá e vão a museus, a exposições. Eles participam disso, e explicam para o surdo de maneira maravilhosa. Mas aqui em Brasília não temos. Como fazer isso? Como se esforçar para que isso aconteça? Como seriam essas ações aqui em Brasília? É possível? Não há? Deu para entender minha pergunta?

SRA. RONICE MÜLLER DE QUADROS – Em termos de artes, sim, ela precisa constar do currículo e também para possibilitar que os surdos... Para franquear esse ensino dentro da escola bilíngue é preciso que os profissionais surdos das diversas áreas sejam não só pedagogos ou professores de Letras Libras, mas professores que sejam formados em Artes, professores surdos formados em Matemática, em Química. E isso seria muito legal, porque os professores... Ter professores surdos dentro das diversas áreas do conhecimento. São necessárias pessoas surdas também formadas em artes, porque é preciso que os surdos também estejam participando de festivais, desses locais onde há manifestações artísticas. Mas, dentro do Letras Libras, nós trabalhamos a disciplina Literatura Surda e falamos um pouco sobre arte também.

SR. LUCAS – Mas, por exemplo, tem a questão do museu, que é algo muito importante. Seria importante ter a prática nas artes dentro das escolas também. Obrigado.

ORADOR NÃO IDENTIFICADO – Bom dia. Eu gostaria de fazer uma pergunta, porque aqui nós temos vários surdos, a maioria é surda aqui hoje, e algumas pessoas que têm filhos surdos que vão ter filhos ouvintes. Então, eu gostaria de fazer uma pergunta: como os Codas vão estar inseridos dentro da educação bilíngue? Isso é bom para os Codas, é bom para a sociedade como um todo?

RONICE MÜLLER DE QUADROS - Boa pergunta. Agora estou pesquisando essa área dos Codas, e na minha pesquisa, a gente recentemente já publicou o livro Línguas de Herança, em que falamos sobre os Codas. E a minha pesquisa nessa área mostra que é possível, dentro da escola bilíngue, se tivermos um grupo de surdos e ouvintes Codas, é muito legal.

Por quê? Porque os Codas já têm como primeira língua a língua de sinais, mas o português, para eles, também pode ser a primeira língua. É diferente no caso dos alunos surdos. Por quê? No caso da língua de sinais do currículo, eles podem estudar a língua de sinais como primeira língua junto com os surdos, no caso da língua portuguesa, eles vão estudar

Page 44:  · Web viewNo entanto, pelo que parece, trata-se de letra morta. Embora a boa vontade legislativa, o Brasil ainda trata as pessoas de forma desigual. Não há tratamento isonômico

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português junto com os ouvintes. Ele não pode estudar português como segunda língua como os surdos, junto com os surdos. Porque o português é a segunda língua para os surdos, para os surdos se desenvolverem – esse é o foco. Mas, é necessário eles terem contato com o português como primeira língua também, os Codas.

Então, para eles, eles têm como primeira língua tanto a língua de sinais quanto a língua portuguesa – duas línguas. Então, se em qualquer escola – não falando de escola bilíngue, não – houver um Coda, é direito dele ter o currículo, a língua de sinais, como primeira língua, como L1.

Então como que uma escola... Depende, a escola pode aproveitar, ele pode, por exemplo, aproveitar a escola Polo, onde há um ambiente bilíngue. Ele pode estar inserido na escola Polo.

ORADORA NÃO IDENTIFICADA – Bom dia a todos, eu faço Faculdade de Licenciatura e Dança, e eu gostaria de fazer uma pergunta sobre dança. Se você tem experiência, ou não, mas em sua palestra você falou sobre... Em relação à dança, eu sou a primeira surda a fazer a faculdade no IFB – Instituto Federal de Brasília, Licenciatura em Dança. Há um tempo atrás, alguém me ensinou e eu fui aprendendo, tinha tido uma experiência. Mas eu gostaria de saber: como o surdo vai evoluir na dança, como ele vai adaptar os textos, as suas expressões para a dança? Porque o texto é para o ouvinte, mas eu leio o texto, e vou adaptar a letra da música para a dança. Por exemplo, algumas palavras, a posição da perna, do pé, os movimentos, as batidas, eu fico tentando pensar, fico tentando raciocinar como seria, e eu não tenho uma imagem. Como se daria essa questão da imagem mental, escrita, de sinais? Como seria isso?

SRA. RONICE MULLER DE QUADROS – A escrita de sinais foi criada, na verdade, pela Valerie Sutton, nos Estados Unidos. O sinal dela é esse. Valerie criou, na verdade, o registro da dança, dos movimentos de dança, de balé. Ela adaptou, registrou esses movimentos da dança. Muito legal, muito maravilhoso, e isso influenciou a escrita da língua de sinais. É muito interessante, porque tem, por exemplo, o repouso no corpo. É um material que, de repente, você pode, mas eu não conheço outro material.

ORADORA NÃO IDENTIFICADA – Aqui no Brasil, você tem conhecimento de surdos que fazem dança?

SRA. RONICE MULLER DE QUADROS – É a sua área, mas eu realmente não sei.

ORADORA NÃO IDENTIFICADA – Tudo bem? Eu gostaria de fazer uma pergunta sobre o seu livro Língua de Herança. Eu estava lendo o livro. Meus pais, minha família, eles usam mais a língua de sinais, mas é o contrário. O surdo que tem os pais ouvintes, que não sabem língua de

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sinais, o surdo vai começar a perguntar. O surdo vai ter a língua de herança, se seus pais são ouvintes? Como se daria essa questão, se a criança é surda e se relaciona só com pais ouvintes, com professores ouvintes, que sabem língua de sinais? Isso é língua de herança? Como se daria a língua de herança para esse surdo?

SRA. RONICE MULLER DE QUADROS – É uma boa pergunta. Isso é discutido? Você leu o meu livro? Tem um capítulo que explica exatamente isso e debate sobre isso. As línguas de herança estão mais ligadas ao contexto familiar, mas os surdos são diferentes, porque os surdos filhos de pai e mãe surdos recebem como língua de herança a língua de sinais, os codas recebem como língua de herança a língua de sinais, mas qual é a língua de herança do surdo? De onde ele recebe? Da comunidade surda – o filho de pais ouvintes, no caso.

Nos Estados Unidos há uma grande discussão, uma grande polêmica, porque a maioria dos surdos são filhos de pais e mães ouvintes, então quem seria o responsável por dar essa herança linguística? É a comunidade, a comunidade surda. Hoje, nós vemos e podemos perceber que as famílias também podem dar a língua de sinais como língua de herança, e alguns projetos incentivam os familiares a aprender a língua de sinais. Mas, da mesma forma como a comunidade surda dá essa língua de herança, não. Porque existe um modelo linguístico, não é? Não é só a língua, é questão identitária, é questão cultural que estão dentro dessa questão de herança.

Então, a língua de sinais é passada, sim, mas dentro da comunidade surda para essas crianças, através dos surdos adultos. Por isso, dentro da escola bilíngue, existe a necessidade da presença de surdos adultos, de os professores surdos serem a maioria dentro das escolas bilíngues.

ORADORA NÃO IDENTIFICADA – Boa tarde. É um prazer estar aqui, foi muito boa a sua palestra, professora.

Eu gostaria de fazer uma pergunta. Existem várias escolas, escolas inclusivas, diversos tipos de escolas, não é? Escolas bilíngues, diversas maneiras. Eu tenho percebido algo. Alguns surdos me falam que estão angustiados porque existem vários entraves, não existe acessibilidade dentro dessas escolas. A L1 é o português, então é prejuízo para o surdo. Eu tenho percebido que, na escola bilíngue, a L1 tem que ser a língua de sinais, mas em alguns momentos as pessoas só falam, só falam, fazem o português sinalizado, então não tem a questão da identidade. Os surdos estão angustiados, isso é muito difícil.

Como seria uma proposta de negociação para melhorar isso? Porque as pessoas, às vezes, não têm experiência. O ouvinte às vezes não

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sabe como passar isso para o surdo, como incentivar. Como a senhora falou, faltam professores surdos. É necessário que o professor surdo esteja lá para interagir, para que haja uma maneira correta, uma inclusão de maneira correta, para não haver prejuízo. Então, essa seria a minha pergunta, professora.

SRA. RONICE MULLER DE QUADROS – Muito importante esse ponto. Eu percebo que, em geral, os ouvintes não percebem isso. Há a questão da discriminação racial, a questão da homofobia, a questão do bullying, a questão do audismo.

O audismo, no caso, a opressão, muitas vezes, não é percebido. Assim como o racismo, a homofobia, o bullying, o audismo não é percebido. A pessoa diz: “Não, não estou discriminando.” Mas a criança cresce e, na sua subjetividade, ela se sente fortemente marcada por essa discriminação.

Agora há movimentos contra o bullying, contra o racismo, contra o audismo também. Quais são as estratégias para se expor isso, para fazer visível, para que a pessoa perceba que ela está sendo audista nesse sentido?

O audismo é muito forte, ele está muito ampliado, muito naturalizado também. Os surdos sofrem muito. Às vezes, vocês não percebem isso. Eu posso mostrar um exemplo. Um professor surdo e eu estamos sentados conversando dentro da UFSC. Aí alguém abre a porta, ou a porta está aberta, e a gente está conversando na língua de sinais. Um ouvinte chega, um aluno, entra, grita e sai. Não grita, não. Ele só se assusta e sai. O surdo que está sentado em frente a mim... É engraçado, porque... “Eu sou perigoso? Ele está com medo de mim?” Esse é o sentimento do surdo.

Só a expressão, só de perceber a língua de sinais – nós conversando em língua de sinais... Às vezes, a pessoa vem fazer uma pergunta, vem querer saber alguma coisa, aí se assusta e sai, vai embora. Parece que ele está com medo do surdo.

Todo dia, o surdo percebe isto: como a expressão da pessoa ouvinte muda. Todo dia. Isso é diário. A pessoa diz: “Ah, é surdo?” E muda a expressão do rosto. O surdo percebe isso. O surdo está acostumado a ler o rosto. Então, os surdos, todos os dias, sentem isso. Eles sentem! Para quê? As pessoas ouvintes não percebem, elas pensam que é normal, mas o surdo já tem aquilo, já se sente oprimido, já sente que está sendo discriminado. E os ouvintes discriminam os surdos realmente. Os surdos se revoltam. Eles precisam mostrar, os surdos querem lutar, querem tirar essa opressão de cima de si. O que é pior é que é dentro do local de trabalho. São profissionais, às vezes, que trabalham com a língua de

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sinais, que sabem língua de sinais e que querem ficar conversando na presença do surdo. O surdo entra, e não se começa a falar em língua de sinais. Isso é um audismo dos mais violentos que tem, dos mais intensos, porque os profissionais conhecem o surdo e aquilo quebra o surdo, arrebenta com a pessoa surda. É preciso que, dentro do local de trabalho, respeite-se a pessoa surda. O professor surdo, o aluno surdo que vêm, se começam a falar em língua de sinais, deixem ele ouvir a minha conversa. Não importa o que eu esteja conversando, eu começo a falar em língua de sinais. Eu devo começar em respeito à pessoa surda. Chega de audismo! Isso é destampar, isso é tirar a opressão! É responsabilidade nossa também e de vocês tirar essa opressão. (Palmas.)

ORADORA NÃO IDENTIFICADA - Ok, muito obrigada. Eu vou organizar uma proposta, professora, contra o audismo também. Muito obrigada. (Palmas.)

SRA. LAUANA – Bom dia a todos. Meu nome é Lauana. Esse é o meu sinal. Eu tenho experiência já há algum tempo como professora em curso de Libras, mas eu não tinha formação alguma. Aí eu passei no vestibular na UnB para o curso PBSL e eu estou lá, mas eu tenho algumas dúvidas, professora. Eu só posso dar aula, eu só posso ministrar aula de Libras, de português não. Eu estudo português em outro lugar, mas eu fico pensando: português como L2, eu também vou poder ensinar português para ouvintes? É possível sendo formada em PBSL?

SRA. RONICE MULLER DE QUADROS – Eu não sei como é o currículo da UnB. Eu penso que o português como L2, o foco... O foco deve ser para surdos?

SRA. LAUANA – Na sala, somos sete surdos. SRA. RONICE MULLER DE QUADROS – Não, estou falando sobre o

currículo. O português como segunda língua. Ele é focado em aulas para surdos? Então, você pode ser professora, sim, de alunos surdos.

SRA. LAUANA – Há ouvintes também. O foco é o surdo. SRA. RONICE MULLER DE QUADROS – Não. É diferente. Por

exemplo, o português, como segunda língua, é focado para surdos, porque não tem a língua falada e tudo. Os ouvintes já têm o português. Já há isso na prática, já falam português. Agora, o português como segunda língua é para surdos. Se você é formada, você vai trabalhar com alunos surdos.

SRA. LAUANA – Em uma escola bilíngue? Ok. Obrigada.Eu gostaria de... Na verdade, não é uma pergunta, é só um

esclarecimento em relação à escola bilíngue, que fechou a sala de estimulação precoce. O que aconteceu? No ano passado, foi a primeira vez

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que abrimos, na escola bilíngue, a questão da estimulação precoce. Mas só havia um surdo. O outro era ouvinte. O que aconteceu é que o surdo foi para a educação infantil e, no início deste ano, a Secretaria de Educação falou que não ia liberar, que não ia permitir que continuasse, porque precisava estar no programa e a educação precoce precisava ter surdo. Então, não tínhamos surdos. Estou aproveitando para pedir a vocês que nos ajudem. Divulguem, informem, porque precisamos de surdos ali, de até 3 anos de idade, para essa educação precoce, para que possamos abrir matrículas. Ok?

A escola chamou a televisão, divulgou essa questão e, agora no mês de agosto, já liberaram as matrículas. A DIEE já liberou algumas matrículas e a abertura da sala de estimulação precoce. Então, já temos 4 surdos e, por isso, foi liberada a matrícula. Ainda não está aberta, mas já está autorizada. É isso.

Eu quero fazer mais uma pergunta à Professora Ronice. Minha filha é coda. Ela pode entrar? Eu tenho interesse. Eu posso colocá-la lá na escola? Porque tinham dito que eu não podia, que era proibido. Porque, no ano passado, os codas estudavam com os irmãos de crianças surdas. Agora, em janeiro, tínhamos quantos surdos? Zero. Nenhum. Por isso que a Secretaria fechou. Porque se precisava ter a matrícula, precisávamos ter crianças inscritas. Então, se tem criança surda, abre. Codas, ouvintes, eles podem estar juntos ali, sim.

Mas e se não tiver surdo? Coda não pode entrar? Coda, não? Não. Coda, não. Na educação infantil, é livre, pode entrar.

Gente, só um minutinho. Um de cada vez.(Manifestação fora do microfone.)

ORADORA NÃO IDENTIFICADA – Gente, atenção. O foco aqui, agora, são as perguntas para a Professora Ronice. Eu acho que essas questões... Ela veio de longe, veio lá de Florianópolis. O tempo é curto, a gente só tem mais dez minutos.

Essas questões junto à Secretaria de Educação... Tem a escola bilíngue, a Secretaria de Educação esteve aqui. Eu sugiro que depois sejam levadas para lá.

Se a Câmara Legislativa puder ajudar em alguma coisa, a gente se coloca à disposição. Mas vamos focar agora e terminar. Só temos mais três perguntas, por favor.

SRA. RONICE MÜLLER DE QUADROS – Só vou concluir.De fato, a Secretaria de Educação tem regras, ela tem as

estratégias de matrícula. Então, não se podia matricular ouvintes, abrir a

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sala de estimulação precoce se tivesse surdos apenas. Essa foi uma regra imposta pela Secretaria de Educação. No caso da Educação Infantil, não. Aí estava aberto, era livre. Ouvintes e surdos podem estudar juntos ali, inclusive nas turmas bilíngues. Ok?

SRA. LAUANA – Muito importante tudo o que você falou aqui, hoje, Professora Ronice, mas eu escolhi apenas um ponto para fazer uma pergunta.

Fico pensando no que aconteceu muito tempo atrás, o que aconteceu sobre essa questão de estudos em relação à questão bilíngue.

Aqui em Brasília nós temos uma escola bilíngue. Eu já fiz uma prova e eu estava ansiosa esperando que fosse trabalhar na escola bilíngue como professora. Ficava sonhando, pensando em estar com aquelas crianças surdas. E depois de um tempo, quando fui ver o edital, estava dizendo que, em primeiro lugar, era um ouvinte; em segundo lugar, o surdo. Não tinha prioridade. E a prioridade do surdo? É necessário colocar para trabalhar na escola bilíngue. Os ouvintes estão indo, estão de repente pegando as vagas e eu fiquei fora.

Eu, enquanto surda, na escola bilíngue, lugar dos surdos, da língua de sinais, fiquei muito nervosa porque eu só perco, perco, perco? Então, assim, a escola bilíngue é lugar do surdo. Em primeiro lugar o surdo, em segundo lugar o ouvinte. A língua de sinais está lá, a língua de instrução. Então, assim, eu só perco? O ouvinte pega tudo? A maioria lá é ouvinte. Cadê o professor surdo? Onde ele está? (Palmas.)

SRA. RONICE MULLER DE QUADROS – O Decreto 5.626 tem a prioridade, traz a prioridade, dá prioridade para os surdos, para o professor surdo no ensino da língua de sinais, mas é preciso dizer e pensar na formação, falar a formação. Por exemplo, aqui o Deputado falou que é preciso primeiro colocar na lei, ter na lei. O quê? A necessidade, porque o principal não é só a formação, mas também o mercado de trabalho para o professor bilíngue, porque, por exemplo, o professor surdo, no caso da escola para surdos, é muito importante. É importantíssimo. Primeiro, se passou no concurso, a prioridade é do surdo. As lideranças surdas já fizeram documentos, já começaram a organizar para colocar isso e pedir que a prioridade seja dada para o surdo, para o professor surdo. O professor surdo tem que estar na escola bilíngue, não pode ter só um professor surdo. É preciso vir mais, mais, mais, mais professores surdos.

É o que eu falei antes da questão dos diversos modelos, que a criança surda possa ter vários modelos ali. Se você só tem um professor surdo e todos os demais são ouvintes, como é que vai ser? Significa o que para a criança surda? Ela vai dizer todos são ouvintes e só tem um surdo. Como? Quem vai me influenciar identitariamente? Isso traz uma questão

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negativa, não é bom, é um fator negativo. É preciso que haja diversos professores surdos, professores ouvintes, mas principalmente professores surdos. É necessário. É muito importante o respeito a você.

SRA. LAUANA – Mas muitos alunos do Letras Libras não estão empregados. Cadê? Eles se formaram e não estão empregados. É por causa dessa problemática. Então, como seria isso? Primeiro tem que ser o surdo, não é? O segundo, o ouvinte.

SRA. RONICE MULLER DE QUADROS – O principal é o surdo, prioridade para o surdo. Primeiro, a formação, depois a inserção no mercado de trabalho. Sim, eu concordo com você.

SRA. LAUANA – Obrigada.SRA. RONICE MULLER DE QUADROS – Tem uma pergunta aqui para

mim: “Professora Ronice, eu sou professora bilíngue. Qual é a proposta de desenvolvimento do currículo da educação especial?”

A minha proposta curricular a respeito de Libras é Libras como primeira língua e como segunda língua para ouvintes. Também a Língua Portuguesa curricularmente como segunda língua para surdos e a Língua Portuguesa como primeira língua para ouvintes. Isso está pronto.

A minha área é linguística, a educação especial, no geral, eu não mexo. A minha proposta é focada na educação de surdos. Educação bilíngue voltada à questão de línguas. Dentro a educação cultural, identitária, que é muito importante dentro da área das línguas, também pensando na questão social, comunitária.

Muito obrigada a todos vocês.ORADORA NÃO IDENTIFICADA – Gente, primeiramente, em nome do

Deputado Joe Valle, da Câmara Legislativa, nós gostaríamos de agradecer especialmente à professora Ronice, porque veio exclusivamente para este seminário, para estar aqui hoje de manhã com vocês. Isso não tem preço.

Muito obrigada, de coração.Eu espero que vocês tenham gostado e que o debate tenha sortido

o efeito que vocês esperavam. Agradeço a presença de todos, das escolas, dos pais, das

comunidades e colocamos esta Casa Legislativa aberta para vocês. Professora, muito, muito obrigada e obrigada a todas.

(Levanta-se a reunião às 11h00min.)