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Produtividade Total dos Fatores e desenvolvimento do agronegócio brasileiro: uma análise do Brasil em relação aos maiores países produtores agropecuários Área de Interesse: Área 2 – Economia Agrícola Autor 1: Alesandra de Araújo Benevides Titulação: Doutorado em Economia Instituição: Universidade Federal do Ceará – Campus de Sobral Doutora em Economia pelo Curso de Pós-Graduação em Economia (Caen) da Universidade Federal do Ceará (UFC) (2016). Possui mestrado em Economia pela UFC (2002) e graduou-se em Comunicação Social pela Universidade Federal do Ceará (1996). Atualmente, é professora adjunta, classe C, da Universidade Federal do Ceará - Campus de Sobral. Endereço: Rua Estanislau Frota, 563, Centro - Sobral E-mail: [email protected] Fone: (85) 99659.3818 Autor 2: Franciele de Araújo Silva Titulação: Bacharel em Finanças Instituição: Universidade Federal do Ceará – Campus de Sobral Graduada em Finanças pela Universidade Federal do Ceará, em 2017. Formou-se com a distinção acadêmica Magna Cum Laude. Foi monitora da disciplina de Contabilidade Nacional. Está cursando o MBA em Gestão em Finanças, Controladoria e Auditoria, no Centro Universitário UNINTA. E-mail: [email protected] Fone: (88) 99229.7568 Autor 3: Fernando Daniel de Oliveira Mayorga Titulação: Doutorado em Estudos de Terras Áridas Instituição: Universidade Federal do Ceará – Campus de Sobral Doutorado em Estudos de Terras Áridas na Universidade do Arizona-EUA (2015), Mestre em Economia Rural pela Universidade Federal do Ceará (2002), Graduado em Ciências Econômicas pela Universidade Federal do Ceará (1999). Atualmente é professor Adjunto I e Coordenador do Laboratório de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural da UFC - Campus Sobral. É colaborador do Mestrado Acadêmico em Saúde da Família da Universidade Federal do Ceará/Sobral. Endereço: Rua Estanislau Frota, 563, Centro - Sobral E-mail: [email protected] Fone: (85) 98429.1921 8

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Produtividade Total dos Fatores e desenvolvimento do agronegcio brasileiro: uma anlise do Brasil em relao aos maiores pases produtores agropecurios

rea de Interesse: rea 2 Economia Agrcola

Autor 1: Alesandra de Arajo Benevides

Titulao: Doutorado em Economia

Instituio: Universidade Federal do Cear Campus de Sobral

Doutora em Economia pelo Curso de Ps-Graduao em Economia (Caen) da Universidade Federal do Cear (UFC) (2016). Possui mestrado em Economia pela UFC (2002) e graduou-se em Comunicao Social pela Universidade Federal do Cear (1996). Atualmente, professora adjunta, classe C, da Universidade Federal do Cear - Campus de Sobral.

Endereo: Rua Estanislau Frota, 563, Centro - Sobral

E-mail: [email protected]: (85) 99659.3818

Autor 2: Franciele de Arajo Silva

Titulao: Bacharel em Finanas

Instituio: Universidade Federal do Cear Campus de Sobral

Graduada em Finanas pela Universidade Federal do Cear, em 2017. Formou-se com a distino acadmica Magna Cum Laude. Foi monitora da disciplina de Contabilidade Nacional. Est cursando o MBA em Gesto em Finanas, Controladoria e Auditoria, no Centro Universitrio UNINTA.

E-mail: [email protected]: (88) 99229.7568

Autor 3: Fernando Daniel de Oliveira Mayorga

Titulao: Doutorado em Estudos de Terras ridas

Instituio: Universidade Federal do Cear Campus de Sobral

Doutorado em Estudos de Terras ridas na Universidade do Arizona-EUA (2015), Mestre em Economia Rural pela Universidade Federal do Cear (2002), Graduado em Cincias Econmicas pela Universidade Federal do Cear (1999). Atualmente professor Adjunto I e Coordenador do Laboratrio de Estudos Agrrios e Desenvolvimento Rural da UFC - Campus Sobral. colaborador do Mestrado Acadmico em Sade da Famlia da Universidade Federal do Cear/Sobral.

Endereo: Rua Estanislau Frota, 563, Centro - Sobral

E-mail: [email protected]: (85) 98429.1921

Autor 4: Kilvia Helane Cardoso Mesquita

Titulao: Doutorado em Economia

Instituio: Universidade Federal do Cear Campus de Sobral

Doutora em Economia pelo curso de Ps-Graduao em Economia - CEDEPLAR da Universidade Federal de Minas Gerais. Mestre em Economia pelo curso de Ps-Graduao em Economia - CAEN da Universidade Federal do Cear. Graduada em Administrao de Empresas pela Universidade Federal do Cear. Professora Adjunta da Universidade Federal do Cear - Campus de Sobral/Cear. Experincia na rea de Economia, com nfase em Avaliao de Polticas, Mtodos e Modelos Matemticos, Economtricos e Estatsticos, Macroeconomia e Economia da Sade.

Endereo: Rua Estanislau Frota, 563, Centro - Sobral

E-mail: [email protected]: (85) 99904.0218

Produtividade Total dos Fatores e desenvolvimento do agronegcio brasileiro: uma anlise do Brasil em relao aos maiores pases produtores agropecurios

rea de Interesse: rea 2 Economia Agrcola

RESUMO: Neste estudo feita uma anlise da Produtividade Total dos Fatores (PTF) na agropecuria dos maiores produtores agropecurios no perodo de 1990 a 2003. Os coeficientes da PTF foram mensurados a partir dos insumos capital, terra e trabalho na funo de produo Cobb-Douglas, utilizando o modelo de efeitos aleatrios. Verifica-se que todos os pases apresentaram comportamento oscilante na produtividade, ou seja, apresentaram crescimento e decrescimento em termos de eficincia dos fatores produtivos agrcolas tradicionais. A maior PTF foi obtida pela China, enquanto o Mxico obteve o menor nvel de produtividade. Alm disso, foi observado que a PTF foi a responsvel pela maior parte do crescimento do produto agrcola brasileiro nos anos de 1980 a 2014. A pesquisa tem um papel fundamental no crescimento da produtividade dos fatores e da produo agropecuria, sendo indispensvel para tornar o agronegcio brasileiro competitivo.

Palavras-chave: Produtividade Total dos Fatores; pases agropecurios; modelo de efeitos aleatrios.

JEL: Q13, Q16

ABSTRACT: In this study, an analysis of the Total Productivity of Factors (TPF) in agriculture of the largest agricultural producers in the period of 1990 to 2003 is made. The coefficients of the PTF were measured from the inputs capital, land and work in the Cobb-Douglas production function, using the random effects model. It is noted that all countries have presented oscillating behavior in productivity, i.e. they have presented growth and growth in terms of efficiency of traditional agricultural productive factors. The largest PTF was obtained by China, while Mexico gained the lowest level of productivity. Furthermore, it was noted that PTF was responsible for the bulk of the Brazilian agricultural product growth in the years 1980 to 2014. And research has a crucial role in the growth of factors productivity and livestock farming, and is indispensable to make Brazilian agribusiness competitive.

Key words: Total Productivity of Factors; Agricultural countries; Random effects model.

JEL: Q13, Q16

1. INTRODUO

O agronegcio (agrobusiness) um sistema constitudo de cadeias produtivas compostas de fornecedores de insumos e servios, produo agropecuria, indstria de processamento e transformao, agentes de distribuio e comercializao, tendo como objetivo comum suprir o consumidor de produtos de origem agropecuria e florestal (EMBRAPA, 2005).

A anlise deste setor econmico tem sido foco de muitos pesquisadores, como Abbade (2014), Scolari (2006), Vicente (2004) e Elias (2011), entre outros, interessados em fazer estudos sobre desempenho e relevncia do agronegcio para a economia do pas.

O agronegcio pode ser considerado um dos setores mais importantes na economia brasileira, e tem apresentado um crescimento bastante considervel, tanto impulsionado pela globalizao dos mercados quanto pelo aumento de sua produtividade e competitividade.

Como estudos tm demonstrado, o Brasil apresenta uma srie de fatores favorveis ao desenvolvimento da agropecuria, destacando-se a oferta ambiental favorvel, a grande disponibilidade de terras, a tecnologia disponvel, recursos humanos qualificados em vrios elos da cadeia, competitividade na produo dentro da porteira da fazenda (a produo agrcola e pecuria) e grande potencial de produo de bioenergia (SCOLARI, 2006).

O pas um dos lderes mundiais do agronegcio, exportando para mais de 180 naes, segundo dados divulgados pelo Centro de Estudos Avanados em Economia Aplicada (Cepea), em 2008. No Brasil, o agronegcio responsvel por aproximadamente 20% do Produto Interno Bruto (PIB), em 2016, e considerando o perodo de janeiro a setembro do ano 2017, o pas obteve um crescimento de 5,7% no volume exportado, quando comparado ao mesmo perodo de 2016, atingindo um valor de US$ 74 bilhes (CEPEA).

Como visto, o agronegcio tem relevante participao no PIB total, apesar da queda que apresentou desde 2004. Alm de gerar riqueza e crescimento da economia, o bom desempenho do agronegcio brasileiro tem permitido mais acesso alimentao (devido reduo nos preos[footnoteRef:1], alm de diversidade de produtos disponveis no mercado) e produo de energia renovveis[footnoteRef:2]. [1: Segundo Scolari (2006), no perodo 1975 2000, a queda no preo de uma cesta bsica de produtos agropecurios foi de 5,25% ao ano.] [2: A Embrapa decompe a agroenergia em 4 grupos: o etanol e provenientes da cana de acar; biodiesel de fontes animal e vegetal; biomassa florestal; resduos e dejetos agropecurios e agroindustriais.]

De acordo com estudo da Federao das Indstrias de So Paulo (FIESP, 2016), o agronegcio brasileiro no perodo de 2016 a 2026 apresentar desempenho melhor que a mdia mundial para produtos como soja, milho, acar e carnes (bovina, suna frango), o que ir aumentar sua participao no mercado internacional.

O Brasil est entre os dez maiores pases produtores agropecurios do mundo, segundo dados de Statistic Division of Food and Agriculture Organization of United National (FAOSTAT), para 2012[footnoteRef:3]. Para figurar entre os grandes, ocupando a 3 posio, o Pas deve isso ao sucesso que o seu agronegcio obteve nas ltimas dcadas. [3: FAOSTAT, a seleo dos pases foi obtida a partir da comparao das listas de commodities de maior produo e dos pases de maior produo. Sendo eles: China, Estados Unidos, Brasil, ndia, Rssia, Frana, Mxico, Japo, Alemanha e Turquia.]

Entre outros fatores, esse sucesso pode ser explicado pelos investimentos em pesquisa, desenvolvimento e inovao (PD&I) e pelo financiamento recebido pelo setor. Em relao ao primeiro, o emprego de inovaes e tcnicas modernas no campo tem aumentado a produtividade o que explica quase que exclusivamente o crescimento da produo agropecuria. Sobre o ltimo, a atividade do agronegcio tem sido impulsionada com o financiamento de insumos recebido das agroindstrias e de instituies que oferecem crdito de custeio.

Segundo Scolari (2006), a agropecuria um dos setores na economia brasileira onde ocorre expressiva inovao tecnolgica, permitindo maior aproveitamento e melhor uso da terra, produo de alimentos de melhor qualidade e em maior quantidade. Destarte, o uso de mecanizao no campo e capacitao de agricultores tem elevado significativamente a produtividade da mo de obra rural. Sobre a inovao, Cavalcante e Negri (2015) mostraram que h uma relao positiva entre essa varivel e a produtividade.

O crescimento do setor tem sido impulsionado tambm pelo aumento da produtividade da terra e do capital. No entanto, este fato pode ser consequncia do incremento do uso destes fatores, do aumento da produtividade ou de ambos. Assim, vem sendo utilizada a abordagem fundamentada na Produtividade Total dos Fatores (PTF) para se analisar o desempenho e o crescimento agrcola. O estudo da PTF agrcola tem sido recorrente em muitos trabalhos, como o de Gasques et al. (2008) e Vicente (2004); e o seu uso tem substitudo abordagens menos adequadas, baseadas, por exemplo, em produtividades parciais de trabalho ou terra.

A PTF uma medida de eficincia agregada da economia, incluindo a tecnologia e a eficincia tcnica da alocao dos fatores de produo (VELOSO, FERREIRA e PESSOA, 2013). Esta medida permite identificar a parte da mudana do produto que pode ser atribuda aos ganhos de eficincia e a parte que pode ser atribuda acumulao de fatores de produo (terra, trabalho e capital). Ela tambm pode ser interpretada como o aumento da quantidade de produto que no explicada pelo aumento da quantidade de insumos, mas pelos ganhos de produtividade destes (JORGENSON, 1996 e CHRISTENSEN, 1970).

A anlise da PTF agrcola tem mostrado que ela uma varivel muito relevante para explicar o desempenho da agropecuria. Assim, muitos estudos tm focado neste assunto. Por exemplo, no trabalho de Gasques et al. (2008) foram obtidas estimativas sobre o papel da pesquisa e da extenso sobre a produtividade total na agricultura brasileira. Os resultados mostraram que o papel delas muito mais importante do que o do crdito. Ademais, a organizao e a gesto do agronegcio so medidas que podem afetar a PTF.

Com isso, esse trabalho pretende contribuir com os estudos existentes acerca do desempenho dos fatores de produo sobre a atividade agrcola. A conduo da anlise feita com uso de modelos economtricos adequados avaliao da produtividade dos fatores agrcolas, de onde se extrair dados sobre o comportamento da PTF no Brasil e nos demais pases agroexportadores. Verificando-se como os fatores produtivos tm sido empregados nesses pases e, como a atividade do agronegcio tem refletido sobre a economia brasileira.

Na segunda seo deste trabalho so apresentados alguns aspectos tericos referentes ao tema, trazendo uma seleo de trabalhos que apresentam resultados sobre a PTD e outros sobre o papel da inovao no crescimento econmico, tratando-se de uma reviso de literatura. Na terceira seo so detalhados os procedimentos metodolgicos adotados. Na quarta seo so apresentados os resultados dessa investigao. E as consideraes finais so apresentadas na ltima seo.

Nos pases em desenvolvimento, como o Brasil, a agropecuria uma das principais atividades econmicas e, portanto, um estudo sobre a produtividade deste setor uma forma de entender a economia do pas.

2. REFERENCIAL TERICO

As diferenas de crescimento e desenvolvimento entre os pases fazem com que surjam campos de pesquisa especficos para tratar desse assunto. Encontrar fatores que explicam essas diferenas pode proporcionar o entendimento de quais variveis afetam o ritmo de crescimento, as desigualdades de renda e a pobreza, por exemplo. Entre as estatsticas importantes a respeito de crescimento econmico est produtividade o comportamento dessa varivel est intimamente relacionado com os valores do PIB (BISPO, 2016).

A produtividade um indicador econmico que relaciona valores de produo com a quantidade de fatores empregados. A produtividade parcial dos fatores pode ser entendida como uma medida de produtividade de um nico fator, refletindo as unidades de um bem produzido por unidades de um insumo especfico, e a produtividade total (ou PTF) uma medida que agrega todos os fatores envolvidos na produo de um bem.

2.1. Produtividade Total dos Fatores

A Produtividade Total dos Fatores um tema no to recente e tem sido abordado em muitas pesquisas, tanto para comparaes de desempenho das atividades produtivas entre pases, quanto para anlises sobre os setores internos de uma economia.

Mussolini e Teles (2010) afirmam que, com o surgimento das novas teorias do crescimento econmico, nas dcadas de 1980 e 1990, passou-se a buscar uma explicao mais elaborada para os determinantes da produtividade, por meio de modelos de crescimento endgeno (BARRETO, 2014).

Ball et al. (2001) usam o ndice de Fisher para analisar e fazer comparaes de produtividade entre os estados nos Estados Unidos, sendo que, por meio desse ndice, eles mensuram o produto e insumos para, em seguida, compor o ndice da PTF. Eles concluem que os estados que possuam, inicialmente, nveis de produtividade baixos foram os que apresentaram maior crescimento da PTF.

No trabalho de Waters e Tretheway (1999), o conceito de PTF aplicado sobre anlises financeiras. Com o uso de um ndice, construdo com base nos custos e receitas, eles verificaram que o crescimento da produtividade nem sempre se deve a um bom desempenho financeiro alcanado por uma empresa ou por qualquer outra atividade.

Ferreira, Ellery Jr. e Gomes (2008) testaram como diferentes formas de medir a produtividade total dos fatores afetam o comportamento dessa varivel no Brasil entre 1970 e 2000. A concluso que variaes no clculo da produtividade no mudam os resultados principais de queda da produtividade na dcada de 1980, e uma modesta recuperao na dcada de 1990. Porm, os mesmos autores apontam que questes relacionadas a variaes de preos relativos podem impactar significativamente o clculo da PTF (ELLERY JR, 2014).

Em Braga e Rossi (1988), a evoluo da produtividade da indstria brasileira avaliada por meio da decomposio da taxa de crescimento da PTF (com uso de uma funo de custo) - sendo decomposta em progresso tcnico, utilizao da capacidade e economia de escala. So feitas estimativas para a indstria de transformao e para os 21 gneros que a compem. Os resultados obtidos mostram que a produtividade da indstria apresenta decrescimento ao longo do perodo analisado (1970 1983) e, para os gneros, apenas 11 obtiveram taxas positivas de crescimento (variando de 0,48 em couros e peles a 2,67 em metalurgia), o que indica um desempenho visivelmente insatisfatrio. Alm disso, verificaram ausncia de progresso tecnolgico e que a capacidade de utilizao e os rendimentos de escala influenciam positivamente a evoluo da taxa de crescimento da PTF.

2.1.1. A Produtividade Total dos Fatores no setor agrcola

Alguns estudos tm sido feitos por organizaes internacionais, como o da OECD (Organization for Economic Cooperation and Development, 2011). O relatrio da OECD aborda a evoluo da produtividade e da competitividade nos setores agropecurio e de produo alimentar, com foco no papel da pesquisa sobre eles.

Coelli e Rao (2005) estudam o crescimento da PTF agrcola em 93 pases, utilizando o ndice de Malmquist. As medidas de produtividade so baseadas na tcnica matemtica denominada Anlise Envoltria de Dados (DEA). Os resultados, apresentados para os anos de 1980 a 2000, mostram que a PTF obteve um crescimento anual de 2,1%, com mudanas de eficncia e mudanas tcnicas. A China surge com o melhor desempenho, com um crescimento anual mdio de 6,0% na PTF. Outros pases com forte crescimento so Arglia, Nigria e Camboja. Em termos de desempenho regional, a sia apresenta o melhor crescimento, enquanto a frica obteve o mais baixo crescimento. Ainda constatam que os pases que estavam abaixo da fronteira em 1980 (com coeficientes de eficincia tcnica de 0,6 ou abaixo) obtiveram uma taxa de crescimento da PTF de 3,6%, indincando que, tanto os pases de alto crescimento quanto os de baixo desempenho, conseguiram um bom grau de recuperao nos nveis de produtividade.

Mendes et al. (2009) verificaram os efeitos que os investimentos em infraestrutura - rodovia, energia eltrica, armazenagem e pesquisa (P&D) na agropecuria - tm sobre a produtividade da agricultura brasileira, analisando o perodo de 1985 a 2004. Eles concluem que os investimentos em rodovia tm efeito positivo maior sobre a PTF e, no geral, h retornos elevados para investimentos em infraestrutura - o que gera aumentos na PTF e na competitividade do setor.

O estudo de Bonelli e Fonseca (1998) inclui na anlise os efeitos da abertura comercial sobre a evoluo da PTF e utilizam o mtodo da contabilidade do crescimento para o clculo da PTF. Eles atribuem abertura comercial um papel importante para o aumento da eficincia, tanto do conjunto da economia quanto dos setores industrial e agrcola.

Farid Pereira et al. (2002) utilizam o ndice de Malmquist para avaliar o crescimento da PTF do setor agropecurio brasileiro e verificar se ocorre progresso tecnolgico entre 1970 a 1996. Com base nesse ndice e na tcnica de Anlise Envoltria de Dados (DEA), eles obtm resultados para o Brasil como um todo, para as regies e estados brasileiros. Os autores observam que a produtividade apresentou crescimento positivo apenas nas regies Sul e Sudeste, mas tal comportamento j era esperado, pois o desenvolvimento alcanado pelo setor agrcola no se espalhou por todas as regies do pas. Os estados de Mato Grosso, Gois, Minas Gerais, Paran, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, So Paulo e Distrito Federal obtiveram ganhos no progresso tecnolgico.

Ainda sobre a produtividade agrcola brasileira, vrios estudos tm sido publicados, principalmente, por Gasques. Para os anos mais recentes, ele e outros pesquisadores vm atualizando uma srie referente ao tema e exposta em trabalhos anteriores[footnoteRef:4]. No trabalho de 1997, mensuram o ndice da produtividade total da agricultura, alm dos ndices de produtividade da terra e do trabalho, e concluem que houve crescimento da produtividade na agricultura brasileira nos anos considerados 1976 a 1994. No geral, a metodologia utilizada nesses estudos a mesma, sendo a produtividade calculada a partir do ndice de Tornqvist. [4: Para mais detalhes ver Produtividade na agricultura brasileira (2008) de Gasques, Teles Bastos e Bacchi, e Crescimento e produtividade da agricultura brasileira (1998) de Gasques e Conceio.]

Segundo Bonelli e Fonseca (1998), a Produtividade Total dos Fatores pode ser mensurada a partir do Valor Agregado ou Adicionado (VA), do Valor Bruto da Produo (VBP) ou de outra medida representativa da produo. Geralmente, so considerados, quando se usa o VA, dois fatores primrios de produo (trabalho e capital) e, no que se refere ao setor agrcola, comum que se inclua entre os fatores de produo alguma medida que reflita a incorporao do progresso tcnico (como gastos com pesquisa) e o uso de insumos modernos (fertilizantes e defensivos agrcolas, por exemplo). Estes fatores, mesmo quando no considerados, aparecem nos resultados como o resduo da estimao (PTF).

A mensurao da PTF pode ser utilizada para a anlise de vrios setores econmicos, como o industrial e o agrcola, por exemplo. O enfoque do trabalho sobre a PTF desse ltimo e, vamos considerar no seu cmputo a reunio de todos os produtos das lavouras e da pecuria relacionando-os com alguns dos insumos usados na produo.

2.2. O Processo de Inovao Tecnolgica

Segundo o Manual de Oslo, elaborado pela OECD (Organization for Economic Cooperation and Development), uma inovao tecnolgica toda novidade implantada pelo setor produtivo, por meio de pesquisa ou de investimentos, aumentando a eficincia do processo produtivo ou implicando um novo ou aprimorado produto.

Paul Romer (1990) formalizou a relao entre a chamada economia das ideias e crescimento econmico. Este definiu que h duas caractersticas associadas s ideias: de serem no rivais e, parcialmente, excludentes. De acordo com Jones (2000), isso ajuda a explicar o fato de a economia das ideias estar ligada presena de retornos crescentes de escala e competio imperfeita.

O modelo desenvolvido por Romer (1990) se propunha a explicar como os pases com nvel tecnolgico avanado conseguiam apresentar crescimento econmico sustentado. Ele analisou todos os pases desenvolvidos em conjunto, considerando-os como um s. Como resultado, Romer observa que foram os investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D) que permitiram a esses pases alcanarem progresso tecnolgico e crescimento econmico.

Schumpeter, um dos principais estudiosos sobre o desenvolvimento tecnolgico, adotou o argumento de que, em uma economia agregada, a acumulao de tecnologia e o aumento de produtividade esto interligados. No livro, A Teoria do Desenvolvimento Econmico (publicado em 1911), o autor mostra que o desenvolvimento da inovao possibilita ou causa do crescimento econmico - este crescimento alavancado pela gerao de novos conhecimentos, pois estes sustentaro o desenvolvimento inovador efetivo. Ao longo do livro, o autor defende que no h possibilidade de desenvolvimento dentro de limites de um fluxo circular estacionrio, ou seja, devem ocorrer os fenmenos chamados de novas combinaes (termo definido depois como inovao). Assim, o desenvolvimento baseado na interrupo do equilbrio pelas novas combinaes de recursos, com o estabelecimento de novas relaes de produo (capazes de alterar o equilbrio anterior) reflete o real desenvolvimento econmico. Schumpeter tambm estuda a formao do grupo de empresrios inovadores, atribuindo a eles o papel de romper com as estruturas antigas e de realizao das novas combinaes.

Vrios trabalhos foram desenvolvidos, a partir de 1980, baseados na lgica schumpeteriana, em que a inovao assume o papel de fator principal a explicar as diferenas de desempenho econmico alcanado pelas naes (assim como as diferenas no comrcio e nvel de especializao). E muitos pesquisadores abraaram a ideia de que a inovao e a difuso tecnolgica tm um forte carter sistmico, ou seja, afetam as atividades produtivas.

De acordo com Dahlman et al. (1987), a capacidade de inovao essencial para a criao de tecnologias, com o desenvolvimento de novos produtos ou servios que atendem melhor s demandas de mercado.

Lundvall (1992) cunhou o termo sistemas nacionais de inovao [footnoteRef:5] para representar as redes de instituies, nos setores pblico e privado, cujas atividades e interaes iniciam, importam, modificam e difundem novas tecnologias. Em sua abordagem mais microeconmica, Lundvall argumentou, em concordncia com Schumpeter, que a inovao deveria ser considerada como uma nova combinao de conhecimentos provenientes de diferentes fontes. Porm, discordando de Schumpeter, Lundvall no via importncia apenas nas grandes inovaes, mas entendia que o efeito acumulado de pequenas inovaes em atividades rotineiras poderia, tambm, ter efeitos importantes na economia (MOLINA, 2016). [5: Um Sistema Nacional de Inovao (SNI) um grupo articulado de instituies dos setores pblico e privado (agncias de fomento e financiamento, instituies financeiras, empresas pblicas e privadas, instituies de ensino e pesquisa, etc.), tendo a inovao e o aprendizado como aspectos principais da interao entre esses agentes. O SNI diferencia-se em termos de padres de especializao e em termos de estrutura institucional, sendo reflexo de vrios fatores, como o poltico, social, econmico e histrico (Instituto IBMEC, 2016).]

O conceito de inovao no se refere apenas aos novos processos tecnolgicos e melhores produtos, mas inclui o aperfeioamento em reas de logstica, distribuio e marketing. E, nesse sentido, tambm pode envolver mudanas que so novas ao contexto local, embora sua contribuio para a fronteira de conhecimento global no seja significante (FAGERBERG et al., 2004).

A agropecuria um setor que incorpora, continuamente, inovaes tecnolgicas. Essas inovaes tm proporcionado a modernizao do setor, alm de reduo dos custos de produo e ganhos de produtividade eficincia e desenvolvimento do agronegcio. A mudana tecnolgica na agricultura depende da sua prpria trajetria e da acumulao do conhecimento a capacidade de absoro de conhecimento reduz os custos produtivos.

Os estudos sobre a inovao tecnolgica na agricultura, especialmente os realizados no Brasil desde a dcada de 1960, vm refletindo as profundas mudanas ocorridas no setor: da estagnao aos elevados ganhos de produtividade. Tratando-se especificamente da questo tecnolgica, h uma interessante literatura que reflete a realidade da transformao agrcola dos anos 60 e 70 (VIEIRA FILHO e SILVEIRA, 2012).

As pesquisas, no caso brasileiro, procuravam explicar as dificuldades de se aplicar e interpretar essa transformao, pois o crescimento da produo era visto como decorrente da tecnologia cristalizada nos insumos, e estes eram importados, em grande parte. Com a criao da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria (Embrapa), em 1973, o problema se desloca para a adequao da poltica tecnolgica dotao de fatores do Pas, assumindo importncia o modelo da inovao induzida[footnoteRef:6] (VIEIRA FILHO e SILVEIRA, 2012). Com a Embrapa, os pesquisadores conseguem dinamizar as atividades de pesquisa relacionadas ao setor rural brasileiro. [6: A teoria da mudana tcnica induzida representa uma tentativa de esclarecer o impacto que tem a disponibilidade de recursos sobre a intensidade e a direo da mudana tcnica. Assim, essa teoria surge como resposta dos agentes econmicos orientados em substituir recursos mais escassos ou custosos por outros abundantes ou baratos; ou na substituio de recursos por conhecimentos (RUTTAN, 1985).]

A partir de 1960, com a chamada Revoluo Verde[footnoteRef:7], se inicia o processo de modernizao da agricultura brasileira. Com a expanso da agricultura moderna, ocorre a constituio do complexo agroindustrial, modernizando a base dos meios de produo, alterando as formas de produo, alm de gerar externalidades como efeitos sobre o meio ambiente (negativa) e transbordamento de tecnologia para outras atividades econmicas (positiva). [7: A ideia da Revoluo Verde fundamenta-se, basicamente, em princpios de aumento da produtividade atravs do uso intensivo de insumos qumicos, de variedades de alto rendimento melhoradas geneticamente, da irrigao e da mecanizao (BALSAN, 2006).]

A tecnologia incorporada na Revoluo Verde uma expresso notvel da dinmica de reduo da importncia da terra como elemento material da produo rural (GOODMAN, SORJ e WILKINSON, 2000). Esse desdobramento reflete a combinao de mudanas organizacionais, uso intenso de capital, inovaes tecnolgicas e em gentica.

Entre as inovaes incorporadas ao setor agropecurio esto a biotecnologia e a tecnologia de informao. Como mencionado por Goodman (2008) esses novos conhecimentos tm criado um moderno processo produtivo na agricultura. Por exemplo, a biotecnologia agrcola promete dar um mpeto renovado ao crescimento da produtividade das safras agrcolas.

Vieira Filho, Campos e Ferreira (2005) apresentaram um modelo[footnoteRef:8] de crescimento que analisou a economia agrcola sob o enfoque da teoria evolucionria de Schumpeter. A partir dos resultados, identificaram a regio dinmica agroindustrial e os padres de mudana tecnolgica na agricultura. [8: Para construo do modelo de crescimento, definiu-se o capital como sendo uma composio de propores fixas de fatores produtivos em uma situao dinmica limitada. O modelo foi um instrumental do tipo geminado, o qual conciliou dois tipos de capital (estoque e fluxo) em uma mesma funo de produo. O capital estoque era representativo das benfeitorias, das mquinas e dos equipamentos, enquanto o capital fluxo representava os defensivos, os fertilizantes e as sementes. (VIEIRA FILHO e SILVEIRA, 2012).]

O modelo de Hayami e Ruttan (1988) mostrou que a inovao tcnica visa economizar recursos escassos e identificar os recursos abundantes. De acordo com os mesmos, a oferta de terra inelstica, ento os aumentos de produo so dependentes do desenvolvimento tecnolgico. Por exemplo, as variedades que possuem alto rendimento respondem ao uso de fertilizantes, dado o fator escasso (terra) e, em uma economia que apresenta escassez relativa de trabalho, a maneira de promover o aumento da produo se d pelo melhoramento de mquinas, equipamentos e implementos agrcolas (VIEIRA FILHO e SILVEIRA, 2012). Na viso de Shikida e Lopez (1997), esse modelo o que mais tem contribudo para o avano da abordagem da tecnologia no processo de desenvolvimento das atividades agrcolas.

Alm de inovao, o setor rural tambm tem passado por um longo processo de modernizao com a importao e uso intensivo de mquinas e equipamentos sofisticados. Como exposto por Balsan (2006), com essa difuso da modernizao ocorre um processo de especializao da agricultura em escala nacional desenvolvendo-se a produo de culturas que, embora presentes em economias familiares englobem caractersticas de uma produo comercial. Isso tem efeito sobre o crescimento de monoculturas que so quase totalmente voltadas para a agroindstria.

Ademais, o comrcio internacional tambm tem estimulado o processo inovativo no setor agrcola e pecurio. Gonalves Neto (1997) comenta que o mercado externo capaz de promover a agricultura a nveis mais elevados de produo e modernizao, uma vez que a extenso do mercado e os preos, reduzindo os riscos dessa atividade, estimulam o uso de fatores mais modernos, ou seja, que incorporam inovao.

3. MTODO DE ANLISE

3.1. Modelo Analtico

A preocupao na literatura econmica com a mensurao da PTF apontada, seminalmente, no trabalho de Solow (1957), cujo modelo terico apresenta como elementos explicativos do crescimento econmico no longo prazo, no apenas os estoques de fatores - capital (K) e trabalho (L), como tambm a evoluo da produtividade deles.

Dependendo da disponibilidade de dados, o cmputo da PTF pode ser feito por meio de diferentes metodologias. As mais utilizadas so: Mtodo da funo de produo, Mtodo das razes de produtividade (que podem ser multiplicativas ou aditivas) e Mtodo da contabilidade de crescimento. Para uso do primeiro mtodo, obviamente, tem-se que escolher uma forma funcional para a estimao. Essa forma funcional mostra o nvel de produto que pode ser alcanado para cada combinao de insumos e sua escolha depende de alguns fatores, como a caracterstica dos retornos (crescentes, decrescentes ou constantes de escala).

Neste trabalho, optou-se pelo primeiro mtodo. Assim, o ponto inicial para se estimar a PTF uma funo de produo que representa como os insumos so combinados para gerar o produto. Dentre as formas funcionais[footnoteRef:9], as mais utilizadas so a Cobb-Douglas (forma neoclssica) e a Translog (forma flexvel). Da, sua mensurao pode ser feita pela metodologia de Fronteira Estocstica de Produo (em que o clculo da PTF realizado a partir da definio e construo da fronteira de possibilidade de produo da economia) ou por meio de uma metodologia economtrica (o clculo da PTF realizado a partir de sries histricas que informam a evoluo das variveis apresentadas numa equao principal). Ainda h outras metodologias como a de Matrizes de Insumo-Produto (na qual o clculo da PTF realizado a partir dos dados das matrizes de insumo-produto da economia (CASS e RYMES, 1991)) e por meio da mensurao por nmero-ndices, como o de Tornqvist[footnoteRef:10]. [9: A principal diferena entre as funes de produo Cobb-Douglas e Translog que a primeira trabalha com retornos de escala restritos aos mesmos valores para todas as unidades da amostra e elasticidade de substituio unitria. A Translog relaxa estas suposies dando maior flexibilidade ao modelo. A ideia por trs desse pressuposto que, devido maior flexibilidade, os escores de eficincia sejam mais elevados que os da Cobb-Douglas (BARROS, COSTA e SAMPAIO, 2004).] [10: Para mais detalhes, ver trabalhos de Gasques et al. (1997) e (2000).]

A anlise da PTF, aqui, ser feita por meio de uma metodologia economtrica e com a funo de produo Cobb-Douglas com retornos de escala (em que a variao no produto pode ser proporcional, crescente ou decrescente a variaes na quantidade utilizada de todos os insumos) e progresso tcnico neutro (ou Hicks-neutral, em que mudanas na funo de produo se mantm constante devido a invarincia da taxa de substituio tcnica).

A partir do trabalho de Solow, admite-se a seguinte funo:

(1)

Onde Y o volume de produo; L o estoque de trabalho; K, o estoque de capital fsico e A o parmetro tecnolgico ou tecnologia Hicks-neutra representando a PTF.

Outra funo, representando a acumulao de capital, descrita como:

(2)

Em que, a variao do estoque de capital no tempo; sY, o investimento bruto e dK a depreciao do capital. Reescrevendo-a em termos per capita:

(3)

Representando a variao do estoque de capital em funo do investimento por trabalhador (sy), da depreciao por trabalhador (dK), da taxa de crescimento populacional (n) e taxa de progresso tecnolgico (g).

Tomando a primeira equao, diferenciando-a em relao ao tempo e dividindo por Y, tem-se:

(4)

Onde, e , representando as participaes do capital e do trabalho no produto. O termo representa o crescimento da produtividade total dos fatores.

Esta equao diz que o crescimento do produto igual a uma mdia ponderada das taxas de crescimento do capital e do trabalho mais a taxa de crescimento de A.

3.2. Modelo Economtrico

3.2.1. Descrio dos dados

Para esse estudo, os dados a serem usados foram extrados do Statistic Division of Food and Agriculture Organization of United National (FAOSTAT, 2016) e World Development Indicators (WDI), fornecido pelo World Bank, compreendendo os anos de 1990a 2003. Inicialmente, a inteno era estudar o perodo de 1961 - 2013, porm a anlise foi restringida a um perodo menor devido indisponibilidade de dados da fora de trabalho e de mquinas agrcolas para todos esses anos. A amostra composta por um painel de dados anuais, referente aos maiores pases produtores agropecurios, sendo eles: Alemanha, Brasil, China, Estados Unidos, Frana, ndia, Japo, Mxico, Rssia e Turquia.

Considerando os 10 pases agropecurios como unidades de corte transversal e o perodo de tempo de 1990 a 2003, a pesquisa utiliza dados dispostos em painel para estimar a PTF desses pases. A PTF ser verificada por meio do resduo do modelo, ou seja, a parcela do incremento da produo que no explicada pelo capital e trabalho.

A varivel de valor bruto da produo obtida atravs da soma, por perodo, de todas as culturas produzidas - os dados esto em dlares americanos constantes em 2004-2006. Essa varivel considerada como uma medida da produtividade agrcola. A produo inclui diversos produtos agrcolas (vegetais, frutas, legumes e plantas para indstia txtil), pecurios e seus agregados. Estes dados so disponibilizados no site do FAOSTAT. As terras agrcolas referem-se parcela de terra que cultivvel, sob culturas permanentes e sob pastagens permanentes. Com relao ao emprego na agricultura, esses dados fazem parte do mdulo de indicadores de emprego FAOSTAT. Esses indicadores so construdos com informaes de uma srie de estimativas diponibilizadas, principalmente, pela Organizao Internacional do Trabalho (OIT). A varivel refere-se ao nmero absoluto (sem distino por sexo ou idade) de pessoas trabalhando no setor agrcola. Para a ndia, os dados de emprego foram obtidos do site NationMaster[footnoteRef:11]- que disponibiliza dados de emprego agrcola e outras estatsticas internacionais. [11: "Countries Compared by Agriculture > Farm workers. International Statistics at NationMaster.com"]

Sobre as mquinas agrcolas[footnoteRef:12], a base de dados utilizada inclui apenas as estimativas do nmero de mquinas em uso. Os itens correspondentes a esse imput foram: tratores, colheitadeiras, mquinas de ordenha, debulhadoras, ferramentas manuais e mquinas para o solo. [12: Os dados para essa varivel no esto disponveis para todos os anos considerados (essencialmente para depois do ano 2000), pois o banco de dados da fonte (FAOSTAT) no est mais ativa - a verso mais recente desses dados tem como ano de referncia 2009 (com dados coletados em 2011). Para a Alemanha, os dados para os anos 2001-2003 foram obtidos do site NationMaster. O nmero refere-se s mquinas em uso na agricultura no final do ano civil especificado ou no primeiro trimestre do ano seguinte.]

3.2.2. O modelo

O modelo geral para dados em painel pode ser representado por:

(5)

Nessa notao, refere-se ao parmetro de intercepto e o coeficiente angular referente ensima varivel explicativa do modelo; subscritos i e t denotam os diferentes pases e perodo de tempo em anlise, respectivamente.

Esse modelo, que combina dados em corte transversal e de srie temporal, pode ser rodado considerando-se dois mtodos: Efeitos Aleatrios ou Efeitos Fixos. No modelo de efeitos fixos, supe-se que o intercepto varia entre os indivduos, mas constante ao longo do tempo. Ademais, os parmetros das variveis explicativas so constantes para cada indivduo e em todo o perodo temporal. O modelo de efeitos aleatrios possui a mesma suposio do modelo de efeitos fixos, a diferena est no tratamento dado ao intercepto.

No modelo de efeitos fixos, os interceptos so tratados como parmetros fixos (e desconhecido, que capta as diferenas de comportamento entre os indivduos que esto na amostra), j o modelo de efeitos aleatrios trata-os como variveis aleatrias, ou seja, considera que os indivduos so uma amostra aleatria de uma populao maior.

O modelo geral de efeitos fixos pode ser descrito como:

(6)

E para o modelo de efeitos aleatrios:

(7)

O intercepto nesse modelo corresponde ao intercepto populacional e que representa o termo de erro[footnoteRef:13]. Ainda, supe-se que no h correlao entre os efeitos individuais e demais variveis aleatrias, e sua estimao se d por meio dos mnimos quadrados ordinrios (MQO), corrigido para heterocedasticidade. [13: Esta definio foi mostrada no trabalho de Duarte et al. (2007), conforme suposies de Hill, Griffiths e Judge (1993) e (1999).]

Considerados os modelos, cabe-se definir qual o mais adequado ou que se ajusta melhor aos dados. Conforme realizao do Teste de Hausman[footnoteRef:14], o modelo de efeitos aleatrios se mostrou mais adequado a explicar os dados em anlise. Logo, os parmetros das variveis sero estimados pelo modelo de efeitos aleatrios. [14: Na escolha do modelo a ser utilizado, foram testados, inicialmente, o pooled contra o modelo de efeitos fixos (teste de Chow) e o pooled contra o modelo de efeitos aleatrios (teste de Breusch-Pagan). Em seguida, o modelo de efeitos fixos contra o aleatrio (dado que o pooled se mostrou inadequado para a anlise destes dados). O mtodo de efeitos aleatrios foi o mais apropriado. ]

Para o clculo da PTF agrcola, a funo a ser estimada baseia-se na equao (4). Nesta foi incorporada duas outras variveis, terra agrcola () e um termo de tendncia () para melhor explicar a varivel dependente, assim:

(8)

Onde o produto potencial da agricultura; o intercepto varivel para cada pas agropecurio. Adicionando-se a varivel de capacidade utilizada (do produto agrcola), ou seja, , e respectivo termo de erro (correspondente ao efeito aleatrio), tem-se:

(9)

Supondo que o termo erro composto () [footnoteRef:15] pode ser assumido como ; o produto agrcola observado. Logo, aplicando-se o logaritmo natural, temos: [15: O primeiro termo do erro composto refere-se ao erro de medida que explica as variaes entre os indivduos e o segundo refere-se parte aleatria do erro. Esses componentes do erro so independentes entre si, possuindo mdia zero e varincia constante.]

(10)

A varivel representa o valor bruto da produo (VBP); Kit refere-se ao capital fsico; Lit a fora de trabalho agrcola; Tit a terra agrcola; o termo de tendncia. Podemos considerar o termo de erro () como o resduo do modelo (ou PTF).

Aps os procedimentos acima, parte-se para o clculo definitivo da PTF, utilizando a equao abaixo:

(11)

Em que , ento:

(12)

4. ANLISE DE RESULTADOS

A base de dados, contendo as 140 observaes, est descrita estatisticamente na tabela 1. A estimao do modelo feita com a agregao de todos os produtos, usando como varivel dependente o valor bruto da produo agrcola, em dlares (US$), a preos constantes de 2004-2006. As variveis explicativas foram: rea agrcola, em km2; capital, que corresponde quantidade de tratores em uso; mo-de-obra, correspondendo ao trabalho na agricultura, medido em homens/ano, respectivamente, conforme tabela abaixo.

Tabela 1. Estatstica Descritiva

Variveis

Unidade

Mdia

Desvio padro

Mnimo

Mximo

Coeficiente de variao

Produo agropecuria

Mil US$

93.733.988,9

97.745.342,5

25.591.783,0

487.150.140,9

1,043

Emprego na agricultura

mil pessoas

64.376

120.875

871,1

390.980

1,878

Mquinas agrcolas

unidade

2.707.171

5.911.406

258.451

49.117.800

2,184

Terras agrcolas

km2

1.791.702

1.690.307

47.360

5.236.830

0,943

Fonte: elaborao prpria a partir de dados da pesquisa

O valor mdio da produo agropecuria corresponde a US$ 93.733.988.955, sendo o valor mximo pertencente China, US$ 487.150.140.971, em 2002, e o valor mnimo pertence ao Mxico, com US$ 25.591.783.007, em 1993.

Em relao s variveis explicativas, China aparece com os melhores resultados - o que explica o fato de o pas possuir a maior produo agrcola entre os pases aqui analisados. Japo, Mxico e Alemanha possuem os menores valores relacionados aos fatores terra, capital e emprego, respectivamente.

Podemos observar tambm que a varivel mquinas agrcolas possui os maiores desvios relativos mdia. Esses desvios, representados pelo coeficiente de variao, atingem 217%[footnoteRef:16] do valor da mdia. [16: A percentagem mostra o peso do desvio padro sobre a distribuio (REISSWITZ, 2013).]

4.1. Estimao da Funo de Produo

Na tabela 2, so apresentados os resultados correspondentes regresso do modelo apresentado na equao (10). A estimao feita com uso do Modelo de Efeitos Aleatrios, conforme apontaram os testes.

Tabela 2. Estimativa da funo Cobb-Douglas

lnVBP

Coeficiente

Std.Err

P>|t|

Mquinas

0,061435

0,0196078

0,002*

Emprego

0,1749562

0,0870887

0,045**

Terras

0,1149147

0,0995988

0,249

Tendncia

0,0155753

0,007128

0,029**

Constante

20,79779

1,052871

0,000*

sigma_u

0,38762084 (varincia de efeito aleatrio)

sigma_

0,14892797 (varincia de erro)

Fonte: resultados da pesquisa. Notas: *Significativo a 1%; ** a 5%

O capital fsico, representado pela varivel mquinas obteve coeficiente positivo e foi estatisticamente significativo, mostrando que a disponibilidade e uso de mquinas nos pases da amostra um fator determinante no nvel de produo agropecuria. O coeficiente da varivel emprego tambm resultou positivo e significante. Convm salientar que este efeito mais expressivo (ou verificvel) em pases que no dispem de tecnologias agrcolas modernas.

J a varivel terras resultou insignificante estatisticamente. Tal resultado contradiz a literatura existente de que o uso desse fator est relacionado positivamente com a produo agrcola[footnoteRef:17]. A razo para este resultado pode estar associada ao fato de que, mesmo os pases que podem utilizar mais hectares de terra na atividade agropecuria, se no dispuserem ou no conseguirem combinar com a utilizao de outros fatores ou insumos, no conseguiro obter ganhos de produo, pois a varivel apresenta produtividade decrescente. Outra explicao a existncia de valores discrepantes (outliers) dessa srie. Por exemplo, pases com grande extenso territorial usam reas maiores de terra na atividade agrcola e um pas pequeno (como o Japo) no consegue. Conforme Felema et al. (2013) a incorporao de novas reas por si s no representa o aumento de produtividade no campo. [17: Assim como o fator trabalho (mo-de-obra agrcola), a varivel terra tambm est fortemente relacionada com a produo agrcola nos pases que no possuem capital fsico adequado ou modernos.]

No momento da regresso do modelo foi adicionada uma varivel de tendncia temporal (t), pois essa consegue captar o comportamento de longo prazo da varivel dependente. O coeficiente dessa varivel apresenta sinal positivo, podendo indicar que, no perodo analisado, ocorreu uma tendncia de crescimento da produo agropecuria.

A regresso revela ainda que a variao dentro dos pases (within) menor do que a variao entre eles (between), de 9% e 50%, respectivamente. Como os pases so bem diferentes, refletindo essa heterogeneidade em termos de uso de fatores, supe-se que seja a razo para explicar essas variaes.

4.2. Produtividade Total dos Fatores

Com base na estimao do modelo, foi realizada a estimao da PTF agrcola para os 10 maiores pases produtores agropecurios, representada no grfico 1. Como os valores esto em logaritmo, tomou-se a exponencial para verificar o seu comportamento. Os desvios da PTF global so de 48,44%.

O crescimento da produtividade tem se verificado nos pases de grande representatividade na produo agropecuria, como o caso da China e Estados Unidos. Dentre as causas da maior produtividade destas regies, podem se citar as reformas econmicas (no caso da China, como a extenso agrcola) e desenvolvimento de pesquisas e incorporao de inovaes tecnolgicas.

Por todo o perodo, a China apresenta a maior produtividade de fatores, o que indica que o pas tem conseguido utilizar os fatores produtivos de forma eficiente[footnoteRef:18]. A introduo de uma srie de reformas (como a reforma agrria e a abertura econmica) aps a Revoluo Comunista e, principalmente, com a Revoluo Verde, contribuiu para esse resultado aps as reformas, tanto a agricultura quanto a prpria economia chinesa (como um todo) se desenvolveu e tem alcanado eficincia e alto desempenho. [18: Para um melhor entendimento sobre essa questo seria necessrio fazer uma anlise dos componentes da PTF, a saber, eficincia alocativa, eficincia tcnica, progresso tecnolgico e mudana de escala.]

Considerando a PTF mdia, Frana e Estados Unidos possuem a segunda e a terceira maior PTF agrcola, com 1,52 e 1,49, respectivamente. Esse resultado se deve, sobretudo, modernizao ocorrida no setor agrcola desses pases[footnoteRef:19]. De acordo com Jnior (2013), os Estados Unidos possuem o setor agropecurio mais desenvolvido do mundo, sendo que sua produtividade resultado, em grande parte, do uso de tecnologia em suas propriedades rurais (e consequente mecanizao do setor agrcola), utilizando mquinas, agrotxicos, fertilizantes, irrigao e biotecnologia. A causa de sua PTF ser menor que a chinesa pode ser explicada pelo fato de que as atividades agropecurias so amplamente subsidiadas pelo Estado, o que at permite proteger os produtores (no mercado externo), mas pode tambm os deixar acomodados. O Pas apresenta uma grande variao na produtividade dos fatores agrcolas ao longo de todo o perodo. [19: Os esforos em pesquisa agrcola desenvolvidos na Frana tm sido direcionados, sobretudo, pelo governo.]

Grfico 1. PTF Agrcola dos principais pases agropecurios

Fonte: Elaborao prpria a partir de dados da pesquisa

No Japo, a produtividade apresenta um comportamento decrescente ao longo do perodo, sendo seu melhor desempenho registrado no incio dos anos 90, quando sua PTF prxima da China. Quanto Alemanha, o pas no apresenta muita variao em sua produtividade agrcola, tendo um comportamento quase constante em todo o perodo.

Como pode se observar no grfico, ndia, Turquia, Brasil, Rssia e Mxico foram os pases que apresentaram os fatores agrcolas menos produtivos. Na Turquia, o que mais contribui para gerao do produto agrcola o uso do fator capital fsico (permitindo melhorias na infraestrutura, com a irrigao e facilidades de cultivao). A ndia utiliza bastante o fator mo-de-obra no processo produtivo. Em relao Rssia, foi apenas nas ltimas dcadas que o setor agropecurio se desenvolveu de forma intensa no pas, sendo a produo agrcola dependente, essencialmente, do uso da terra - o pas um dos lderes na produo por acres de terra usada (LUCAS, 2016). O Mxico tem a menor PTF agrcola, o que pode explicar a sua baixa produo agropecuria que a menor dos pases aqui analisados. Segundo Alves et al. (2013), as classes que obtiveram menores produtividades falharam na escolha ou gesto do uso de tecnologias, o que pode ser o caso do Mxico.

A produtividade dos fatores no Brasil semelhante apresentada por Turquia e ndia, registrando um melhor ndice no ano 2000, correspondente a 0,82. Evidencia-se com isso que, mesmo o Pas tendo obtido xito na gerao e expanso do produto agrcola, esse aumento no tem sido alcanado pelo uso eficiente de seus fatores.

Uma explicao adicional para os resultados da PTF diz respeito ao grau de desenvolvimento tecnolgico apresentado por esses pases - que apresentam diferentes nveis de capacidade de inovao e, consequentemente, o Sistema Nacional de Inovao (SNI) distinto entre os mesmos. O Brasil possui um SNI ainda imaturo e pouco eficiente quando comparado aos sistemas de inovao dos pases desenvolvidos[footnoteRef:20], tal fato pode elucidar os resultados, no favorveis, em termos de produtividade dos fatores. Quanto China, segundo o relatrio do ndice Global de Inovao (co-publicado pela Universidade de Cornell, escola de negcio Insead e Organizao Mundial da Propriedade Intelectual), o pas tem se destacado na qualidade da inovao desenvolvida internamente e, entre os BRICS, possui a melhor posio (tendo passado da 25 para 22 em 2017) [footnoteRef:21]. A China um dos principais pases em que o processo de catching up[footnoteRef:22] tecnolgico tem sido bem-sucedido, o que tem refletido no desenvolvimento de atividades inovativas e na produo econmica. Os Estados Unidos, Alemanha, Japo e Frana esto entre os pases com as maiores iniciativas em inovao tecnolgica, com um ambiente favorvel a gerao, difuso, aplicao e transformao dos conhecimentos em atividades inovadoras e lucrativas. Os demais pases dessa seleo possuem um SNI incipiente, podendo ser considerados como inovadores ineficientes. Portanto, as naes que so mais inovadoras ou que esto em pleno processo de catching up, foram as que apresentam os maiores nveis de PTF nesse trabalho. [20: O Brasil construiu uma infraestrutura mnima de cincia e tecnologia que tem contribudo muito pouco com seu desenvolvimento econmico. Alm disso, a criao de instituies de pesquisas e universidades no pas ocorreu em carter tardio (VILLELA e MAGACHO, 2009).] [21: Em 2017, a posio ocupada no ranking do ndice Global de Inovao (IGI) pelos pases dos BRICS foi a seguinte: China (22), Rssia (45), frica do Sul (57), ndia (60) e Brasil (69).] [22: O processo de catching up pode ser entendido como a reduo do hiato entre as naes subdesenvolvidas e desenvolvidas. A principal hiptese desse processo, segundo Abramovitz (1986), a possibilidade de um pas tecnologicamente atrasado crescer a uma taxa maior que aqueles que compartilham a fronteira de tecnologia mundial, utilizando conhecimentos j desenvolvidos pelos pases que esto na fronteira.]

4.3. Fatores produtivos nos pases agropecurios

Na tabela 3, apresentada a dotao dos fatores produtivos para cada unidade de corte transversal. Em relao mo-de-obra, China e ndia tm as maiores dotaes (superando em 2116% e 1276% respectivamente, a brasileira). A Frana utiliza em menor grau esse fator. O capital fsico mais intensivamente utilizado nos Estados Unidos e no Japo, que tem dotao de capital em 306% superior brasileira. O fator terra mais usado na China, e menos no Japo.

Tabela 3. Dotao dos fatores produtivos

Pas

Brasil

100

100

100

China

2216,88

110,00

202,29

Frana

6,53

181,72

11,72

Alemanha

6,65

175,76

6,72

ndia

1376,88

244,65

70,55

Japo

21,73

406,47

2,07

Mxico

45,18

36,93

41,41

Rssia

56,32

171,62

84,91

Turquia

50,41

202,06

15,63

Estados Unidos

18,41

637,06

163,16

Fonte: resultados da pesquisa

Considerando esses fatores (tradicionais), os pases que tm sua produo agropecuria explicada pelo fator capital so Estados Unidos, Japo, Turquia, Rssia, Alemanha e Frana. A produo chinesa e indiana explicada pelo fator mo-de-obra condizendo com o fato de esses pases utilizarem bastante tal fator no processo produtivo (quase metade da populao chinesa est empregada no campo e boa parte da fora de trabalho indiana tambm est empregada na agricultura e atividades afins).

Sobre esses fatores, cada um pode ter sua capacidade de explicao analisada em termos de sua produtividade (chamada de produtividade parcial). A produtividade de cada fator reflete as unidades de bem produzido por unidades de um insumo especfico utilizado.

4.4. Decomposio do crescimento do produto agropecurio brasileiro

Utilizando a decomposio do crescimento [footnoteRef:23], apresentada por Solow no artigo Technical Change and the Aggregate Production Function, e empregando dados relativos ao produto agrcola, capital fsico, trabalho e terras agrcolas, apresentado, no quadro 1, as contribuies taxa de crescimento do PIB agrcola do Brasil[footnoteRef:24]. [23: A decomposio do crescimento feita a partir da seguinte funo de produo, ; aps alguns procedimentos algbricos obtida a frmula-chave: (JONES, 2000). Neste trabalho, o clculo utilizado para a decomposio foi o seguinte .] [24: Para representar a participao de cada fator (capital, mo-de-obra e terra) no produto agrcola, foram utilizados os valores de e . Tais valores foram apresentados no trabalho de Bragagnolo et al. (2010).]

O crescimento do PIB agrcola no Brasil, de 1980 a 2014, foi em mdia, de 3,28% ao ano. Como se observa no quadro, a Produtividade Total dos Fatores (PTF), tambm chamada de fator residual (ou medida da nossa ignorncia) tem explicado a maior parte da taxa de crescimento do produto.

Quadro 1. Decomposio do crescimento do PIB agrcola no Brasil

Contribuio taxa de crescimento do PIB

Perodo

Taxa de crescimento do produto agrcola

Trabalho

Capital

Terra

PTF

1980-1990

2,14

0,18

0,50

0,15

1,31

1990-2000

2,87

0,12

0,57

0,06

2,12

2000-2014

4,41

0,19

0,24

0,35

3,63

1980-2014

3,28

0,89

0,41

0,82

1,16

Fonte: resultados da pesquisa

De acordo com Madison (1995), a PTF representa o conjunto de todos os outros fatores que contribuem para o crescimento do produto que no se devem aos fatores fsicos, como a qualificao dos recursos humanos, tecnologia, especializao produtiva, alterao da estrutura produtiva etc. Os investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D) tambm podem ser indicados como um termo da PTF, sendo um fator fundamental no processo de gerao de novas tecnologias.

O grfico tambm mostra como o crescimento do PIB agrcola e de seus componentes mudou ao longo do tempo no Brasil. O crescimento do estoque de capital foi relativamente constante nos trinta e quatro anos considerados, tendo sofrido uma reduo nos anos 2000 para 0,24% ao ano, aps o crescimento de 0,57% na dcada anterior. Em relao terra, utilizada no cultivo de lavouras permanentes e temporrias, o crescimento variou bastante. No houve expanso na fora de trabalho. A taxa de crescimento da produtividade total dos fatores significativa em todo o perodo. No geral, o crescimento do produto agrcola se deu pela contribuio da PTF. A participao do capital no produto foi mais significativa nas duas primeiras dcadas, quando houve expanso do uso de mquinas agrcolas[footnoteRef:25]. [25: No entanto, foi o perodo de 1975-1979 o auge das vendas ou aquisio das mquinas agrcolas no Brasil. ]

Em termos gerais, a produtividade est relacionada capacidade dos fatores utilizados na produo, de forma que se obtenha o melhor aproveitamento do tempo e dos recursos (eficincia). Assim, aumentos de produtividade dos fatores so importantes para a expanso do produto, estimulam a competitividade internacional e possibilitam o crescimento econmico.

A produtividade no setor agrcola brasileiro, tanto do produto quanto dos recursos produtivos, tem sido estimulada pela gerao, incorporao e difuso de conhecimentos. A Embrapa a principal responsvel pelo desenvolvimento de pesquisa na agropecuria (respondendo por 42% do P&D em agricultura, segundo Penteado e Fonseca (2016)), e formulao de polticas agrcolas, atuando tambm em parceria com universidades e empresas privadas. A empresa tem um papel decisivo na gerao de tecnologias e sobre os resultados obtidos na produo.

Entre as inovaes desenvolvidas pela Embrapa, se pode citar a transformao dos solos do cerrado, prticas sustentveis de uso da terra e a tropicalizao de culturas e animais, alm de pesquisas em gentica e controle de pragas e doenas. Segundo dados da Embrapa, existem cinco cultivares de forrageiras, desenvolvidas pela empresa, que so responsveis por quase 80% do mercado nacional e levaram o Brasil a se tornar o maior exportador de sementes forrageiras tropicais do mundo.

A importncia da pesquisa no se deve apenas ao crescimento da produtividade[footnoteRef:26], mas se verifica tambm na melhoria da qualidade dos produtos e no aumento da diversificao da produo. Segundo Buainain (2007), a produo de frutas na regio Nordeste e de soja na regio Centro-Oeste so exemplos da contribuio da pesquisa para a diversificao. [26: Segundo Gasques et al. (2014), os investimentos em pesquisa so um dos principais fatores relacionados ao crescimento da produtividade agrcola; alm da melhoria no uso e na eficincia de mquinas e equipamentos, ao uso de sementes geneticamente modificadas, da melhoria na qualificao da mo-de-obra e da utilizao de linhagens mais resistentes e adaptadas ao clima.]

Quanto ao papel que os fatores fsicos (terra, capital e trabalho) exercem na produo, tem-se verificado que, embora estes tenham contribudo significativamente para a gerao do produto ao longo do tempo, os mesmos vm perdendo participao para a tecnologia.

A utilizao da mo-de-obra tem decrescido ao longo do perodo analisado, o que se deve, sobretudo, ao processo de mecanizao implantado na agricultura (substituio deste fator pelo capital). O uso da terra tem sido crescente[footnoteRef:27], assim como o uso de capital principalmente com a utilizao de mquinas e fertilizantes. [27: No Brasil, o solo tem sido utilizado de maneira bastante diversificada, tanto pela extenso territorial quanto pela diversidade de solos e climas. Alm disso, o aumento no uso da terra se deve expanso da agricultura para novas reas, como o Centro-Oeste.]

Percebe-se que a atividade agropecuria tem se tornado depende das inovaes, utilizando intensivamente a tecnologia. Neste cenrio, o papel da pesquisa de fundamental importncia para o desempenho e produtividade no setor (dos seus insumos e da produo agrcola), alm de ser essencial para o crescimento econmico do Brasil.

5. CONSIDERAES FINAIS

Este trabalho mostra que a produtividade dos fatores na agricultura tem sido elevada nos pases que apresentaram as maiores produes agropecurias ao longo dos 14 anos analisados. A China obteve uma PTF agrcola superior dos demais pases em todo o perodo e os Estados Unidos possuem a segunda maior PTF. A produtividade dos fatores no Brasil semelhante apresentada por Turquia e ndia.

As maiores variaes no comportamento da PTF foram registradas no Japo e nos Estados Unidos. Este ltimo obteve um crescimento de 99% se comparados o primeiro e ltimo ano da srie, conseguindo uma produtividade maior no final desse perodo. J o Japo obteve uma produtividade menor no ltimo ano (menor que a apresentada no incio da anlise).

Destaque-se tambm que o agronegcio brasileiro uma atividade essencial para a economia do pas, sendo um importante setor, tanto pelos valores gerados com a exportao e gerao de empregos emprega em torno de 37% da populao economicamente ativa, quanto pela produo e distribuio de alimentos (permitiu o maior acesso pela populao, devido reduo nos preos) e produo de energias renovveis. O Brasil um dos lderes mundiais do agronegcio, exportando para mais de 180 naes.

O sucesso desse setor se deve, principalmente, ao desempenho da agropecuria, que tem se modernizado e alcanado elevada produtividade nos ltimos anos. Por meio de avanos tecnolgicos e melhores tcnicas de produo, o setor tem conseguido eficincia e maior produtividade tanto na obteno do produto quanto no uso de seus insumos.

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