convite · susete batalha, teresa moutinho, mário jerónimo, maria da luz andrade da costa...

16
Convite Ora bem, desta vez o Editorial da SOMOS leva código postal, quase perso- nalizado, no endereço dos destinatários, que é a rua dos Sorrisos, porta sim, porta sim, no bairro da Boa Vontade, onde vive a maior parte, para não dizer a to- talidade, dos artistas de variedades, jogadores de futebol e homens e mulheres das nossas televisões. O que há para dizer é simples: os jovens da CERCI adoram os moradores desse bairro, cujos habitantes os fazem também sorrir, como penso que sorri a alma. Que o digam Catarina Furtado, Fernando Mendes, Marco Paulo, Eu- sébio, Mónica Sintra, João Pinto, Marina Mota, Jéssica. Faço-me eco de um pedido de uma jovem da Casa que me escreveu um bilhetinho a dizer que gostava de conhe- cer pessoalmente... Não vou revelar quem. O que esta jovem quer é trocar sorrisos com os que cantam coisas bonitas, com os que dizem coisas bonitas, com os que fazem coisas bonitas. Com os que, outros, sorriem, com os que, no bairro da Boa Vontade, são bonitos. A SOMOS é, para o caso, a carta que vamos pôr no correio ao cuidado das agências que coordenam os afazeres profissionais dos moradores daquele bairro, mas, sobretudo, à atenção da humana disponibilidade dos que, não vindo trabalhar, vêm ESTAR, Estar com... Estar meia hora no seio da população CERCI, na sua própria casa, aqui, onde fazemos esta folha, de que gostaríamos que acusassem a recepção, se possível, com um cartãozinho a dizer quando podem vir. Obrigado! Marcial Alves NOTA DE ABERTURA

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Convite

Ora bem, desta vez o Editorial da SOMOS leva código postal, quase perso-

nalizado, no endereço dos destinatários, que é a rua dos Sorrisos, porta sim,

porta sim, no bairro da Boa Vontade, onde vive a maior parte, para não dizer a to-

talidade, dos artistas de variedades, jogadores de futebol e homens e mulheres das nossas televisões.

O que há para dizer é simples: os jovens da CERCI adoram os moradores desse bairro, cujos habitantes os fazem

também sorrir, como penso que sorri a alma. Que o digam Catarina Furtado, Fernando Mendes, Marco Paulo, Eu-

sébio, Mónica Sintra, João Pinto, Marina Mota, Jéssica.

Faço-me eco de um pedido de uma jovem da Casa que me escreveu um bilhetinho a dizer que gostava de conhe-

cer pessoalmente... Não vou revelar quem. O que esta jovem quer é trocar sorrisos com os que cantam coisas

bonitas, com os que dizem coisas bonitas, com os que fazem coisas bonitas. Com os que, outros, sorriem, com os

que, no bairro da Boa Vontade, são bonitos.

A SOMOS é, para o caso, a carta que vamos pôr no correio ao cuidado das agências que coordenam os afazeres

profissionais dos moradores daquele bairro, mas, sobretudo, à atenção da humana disponibilidade dos que, não

vindo trabalhar, vêm ESTAR, Estar com... Estar meia hora no seio da população CERCI, na sua própria casa, aqui,

onde fazemos esta folha, de que gostaríamos que acusassem a recepção, se possível, com um cartãozinho a dizer

quando podem vir. Obrigado!

Marcial Alves

N O TA D E A B E R T U R A

SOMOS Nº 9REVISTA DA CERCI • LISBOA Novembro2003/Fevereiro 2004

PropriedadeCERCI – Cooperativa de Educação e Reabilitação de Cidadãos InadaptadosRua Tomás Alcaide, Lote 62 – A1900-822 Lisboa

e-mail: [email protected]

Tel 218 39 17 00Fax 218 59 87 48

EditorCERCI – Cooperativa de Educação e Reabilitação de Cidadãos Inadaptados

DirectorMarcial Alves

Gabinete de OpiniãoAna Cristina, Anabela Cruz, Maria Alice Santos, MónicaSantos, Susana Alves, MarcialAlves

Design GráficoAtelier Ana Filipa Tainha

Redacção, Publicidade e AssinaturasCERCI – LisboaRua Tomás Alcaide, Lote 62 – A1900-822 Lisboa

Ilustração da CapaAtelier Ana Filipa Tainha

Montagem, Impressão e AcabamentosIDG

PeriocidadeQuadrimestral

Tiragem2000 exemplares

Preço – 1,5 W

Depósito Legal nº 160.915.01Registo no I.C.S. nº 123772

Fundadores da CERCI LisboaAntónio Pessegueiro, ÉliaGonçalves da Costa Pessegueiro,João Calçado, Paula Calçado,António de Oliveira Cruz, MariaSusete Batalha, Teresa Moutinho,Mário Jerónimo, Maria da LuzAndrade da Costa Jerónimo,Maria da Conceição EspinhoSempre!

Os autores dos artigos assinadossão responsáveis pelas opiniõesexpressas, podendo não coincidircom a da direcção da “SOMOS”. É permitida a reprodução dos trabalhos publicados, desde que,inequivocamente, citada a fonte.

Sumário

3 • PÓRTICO

Centro de Transiçãopara a Vida Adulta e Activa

DOS NOSSOS | OUTROS • 5

CURVA QUATRO: Um Centro de Emprego Protegido

OS ALIMENTOS • 12

Valor Nutricional das frutas, legumes e hortaliças

SOLTAS • 15

14 • MÚSICA

Arte, Música e Terapia

I-IV • DESTACÁVEIS CERCI

VAMOS CONVERSAR...Regimes Tutelares: Interdição e Inabilitação

P Ó R T I C O

3 • Novembro 2003/Fevereiro 2004

Desde 1975, ano em que foi fundada a CERCI de

Lisboa, muito caminho foi percorrido.

Sem querermos pecar pelo excesso de devoção ou

por um anacrónico saudosismo temos que admitir que

em cada um de nós reside ainda um sentimento de ca-

rinho por tantos momentos passados na azáfama da

construção e no crescimento de uma obra.

Não conseguimos, hoje à distância de quase 29 anos

dizer o que teve um maior impacte no desenrolar do cres-

cimento. Que factos se evidenciaram pela sua importân-

cia no incremento e divulgação da CERCI de Lisboa?

Foram tantos!

As primeiras reuniões onde ainda se traçavam ideias

embrionárias para o que seria o futuro?

As primeiras correrias por essa cidade, alheia às an-

siedades dos que queriam encontrar respostas para

muitos filhos, muitos amigos, muitos ignorados, procu-

rando-se o espaço, o local, o sítio adequado?

Os risos incontidos, as gargalhadas francas que

mesmo na adversidade transbordavam de cada um,

dissolvendo o desânimo que por vezes se instalava?

Os primeiros traços habilmente saídos das mãos de

um arquitecto que milagrosamente transformariam

um espaço, incaracterístico e nu, num castelinho de

sonhos?

Os primeiros tijolos passados de mão em mão, a pri-

meira pincelada, o primeiro prego?

As viagens alegres, as palavras sentidas, a experiên-

cia legada a tantos outros, por esse país fora?

As primeiras crianças chegando pela mão de pais es-

tranhamente inquietos e felizes?

A arrumação de cada sala, com cadeirinhas anató-

micas vindas da Gulbenkian, com espaços bem defini-

dos para todas as actividades: a leitura e escrita, a ex-

pressão plástica, a psicomotricidade...?

O primeiro almoço confeccionado, tão gostoso, tão

partilhado por técnicos e meninos?

As idas fugazes ao supermercado, para comprar o

estritamente necessário, contando tostão por tostão,

entre o sorriso da complacência e o cuidado do “nada

faltar”?

A necessidade de retomar a atitude do esforço e da

procura, da partilha e da solidariedade para criar mais

estruturas para outros meninos e outras famílias, pois

começava o espaço a ser diminuto para tantas solici-

tações?

O aparecimento do nosso 2º Centro?

A realização em 1977 do Primeiro Congresso Inter-

nacional que reuniu especialistas Nacionais e Estran-

geiros e onde esteve presente a equipa de Jean Piaget?

Centro de Transiçãopara a Vida Adulta e Activa

Que nos perdoem todos os que nos estão lendo, por

falhas que naturalmente acontecem, porquanto esta-

mos a escrever ao correr da pena, não consultando re-

gistos e apenas fazendo apelo ao que reside ainda na

memória de todos nós. Num simples artigo como este,

restringido ao espaço que nos é dado, importa tão só

relembrar, para melhor compreender o aqui e o agora.

Cerca dos anos 80 nasce um outro sonho! Lá, na sala

onde se reunia a Direcção, podia ver-se na vitrina uma

pequena maqueta. Era um novo Centro. Iria construir-se

um Centro de raiz, com todas as condições físicas e te-

rapêuticas que a CERCI e os nossos jovens esperavam e

mereciam! O sonho estava ali, bem idealizado, peque-

nino, calado, aguardando a sua hora, esperando pacien-

temente libertar-se daquela vitrina, saltar para qualquer

outro espaço, crescer pelas mãos habilidosas dos sabe-

dores destas coisas... Quantas vezes olhávamos a pe-

quena maqueta! Queríamos libertá-la, dar-lhe forma e

crescimento... mas havia que lutar mais um pouco para

alcançar a realização, para edificar a certeza.

Chegaram céleres os anos 90. A Europa, os progra-

mas comunitários, as parcerias, as redes, os projectos.

Crescem as ideias, nascem as respostas: a Formação Pro-

fissional, mais dois Centros de Actividades Ocupacio-

nais, a Intervenção Precoce, o Atendimento personali-

zado às pessoas com deficiência e suas famílias, o apoio

domiciliário, o apoio a jovens de risco social, os projec-

tos de parceria para o apoio a crianças e jovens inte-

grados no sistema regular de ensino.

1995 era o ano da comemoração dos 20 anos da

CERCI de Lisboa. Realiza-se, então, com grande sucesso,

o 2º Congresso com a participação de especialistas na-

cionais e estrangeiros. No mesmo ano era dado um

passo gigante: o lançamento da 1ª pedra para a tão de-

sejada construção do novo Centro. A maqueta peque-

nina dera lugar a outra bem maior, cheia de rigor nas

linhas que definiam e mostravam, no mais ínfimo por-

menor, o que viria a ser a concretização do sonho an-

tigo: O nosso Centro de Transição para a Vida Adulta e

Activa

O tempo não pára. Tijolos, cimento, madeira, tinta,

paredes que crescem, corredores que se adivinham,

rampas, espaços, gente que vai, gente que vem, reu-

niões, azáfama, preocupações e... trabalho, alegrias!

Ficou erguido. Orgulhosamente encapelado guar-

dando em cada canto uma história épica para relem-

brar no momento próprio “a Nossa História”. O mo-

mento vai chegar! No dia 2 do próximo mês de Março

ele vai ser honrosamente o palco do reencontro entre

o passado e o presente. Ele vai atentamente ouvir pa-

lavras de louvor, expressões de lealdade, vozes que dei-

xarão no ar a certeza de que a Obra irá continuar por-

que o tempo não pára e o futuro é já amanhã.

O nosso Centro de Transição para a Vida Adulta e

Activa vai ser inaugurado.

Sabemos que, orgulhoso, vai estar engalanado para

receber de portas abertas os olhares saudosos de mui-

tos, os carinhos fervorosos dos que partiram e voltam,

os alargados sorrisos dos que ali moram, os abraços de

todos os que, aqui e connosco continuarão, reco-

meçando em cada dia o sonho, com gestos imensurá-

veis de solidariedade e de dádiva! ●

A Direcção da CERCI Lisboa

4 • Novembro 2003/Fevereiro 2004

P Ó R T I C O

D O S N O S S O S | O U T R O S

5 • Novembro 2003/Fevereiro 2004

Vivem-se hoje tempos conturbados na realidade labo-

ral; mantém-se elevada uma taxa de desemprego a nível

nacional que produz um inúmero conjunto de conse-

quências sociais e económicas, na medida em que o exer-

cício de uma profissão é visto não só como fonte de ren-

dimento mas também como fonte de realização pessoal;

Giddens refere mesmo a importância do trabalho en-

quanto «elemento estruturante da personalidade dos in-

divíduos»1. A palavra de ordem é a redução da dimensão

das empresas em nome da sua capacidade competitiva.

Neste panorama, a integração sócio-profissional do

cidadão com deficiência obriga a um esforço adicional

por parte das instituições que se destinam a defender

os seus interesses e direitos. A prática do emprego pro-

tegido assume assim um papel fundamental nessa in-

tegração.

A empresa CURVA QUATRO é um exemplo de conci-

liação entre as exigências de mercado e as exigências

humanas às quais a prática do emprego protegido se

remete, apesar das dificuldades e exigências a que tal

obriga.

Foi realizado um trabalho de investigação no âm-

bito da empresa CURVA QUATRO centrado fundamen-

talmente em duas grandes áreas: por um lado, na aná-

lise da empresa e respectiva caracterização enquanto

centro de emprego protegido; por outro, e através de

um estudo empírico, na análise da motivação dos seus

trabalhadores em regime de emprego protegido.

Antes de mais, torna-se necessário clarificar o pró-

prio conceito de emprego protegido.

O emprego protegido corresponde, nos termos da

lei, a uma modalidade temporária e alternativa ao em-

prego no mercado de trabalho regular, que se destina

a pessoas com deficiência e/ou dificuldades de inserção

sócio-profissional, com uma menor capacidade produ-

tiva em comparação a outro trabalhador no mesmo

posto de trabalho.

De acordo com o artigo 2.º do Decreto-Lei 40/83 de

25 de Janeiro, a condição de Trabalhador em Regime de

Emprego Protegido, é aplicável às pessoas com defi-

ciência desde que estas reúnam um conjunto de con-

dições necessárias: idade mínima para trabalhar

(16 anos de idade); autonomia suficiente na vida diária

e uma capacidade média de trabalho não inferior a um

terço da capacidade normalmente exigida a um traba-

lhador sem deficiência no mesmo posto de trabalho.

Este regime permite, não só a atribuição de um es-

tatuto de trabalhador, que se traduz numa integração

sócio-económica, mas também uma aprendizagem que

possibilita o desenvolvimento de competências profis-

CURVA QUATRO:

Um Centro de Emprego Protegido

sionais, pessoais e sociais para uma consequente en-

trada no mercado regular de trabalho.

A EMPRESA CURVA QUATROA empresa CURVA QUATRO corresponde àquilo que,

nos termos do artigo 4.º do DL 40/83 de 25 Janeiro, se

denomina como Centro de Emprego Protegido, ou seja,

“Unidade de produção, de carácter industrial, artesa-

nal, agrícola, comercial ou de prestação de serviços, in-

tegrada na actividade económica nacional, que vise as-

segurar às pessoas com deficiência o exercício de uma

actividade remunerada, assim como a possibilidade de

formação e/ou aperfeiçoamento profissional, que per-

mitam, sempre que possível, a sua transferência para o

mercado de trabalho”.

Neste sentido, a empresa corresponde à unidade de

produção da Cooperativa de Solidariedade Social CECD

Mira-Sintra, com carácter de prestação de serviços, que

funciona em moldes empresariais comuns com objecti-

vos produtivos anuais, mas sem fins lucrativos. Criada

em 1994 surgiu, em parte, para dar resposta de tra-

balho a alguns dos formandos do Centro de Formação

Profissional do CECD Mira-Sintra que, mesmo após o

período de formação, não reuniam condições para in-

tegrar o mercado de trabalho regular.

A empresa é composta por 52 trabalhadores, dos quais

36 estão abrangidos pelo regime de emprego protegido,

e presta serviços em três áreas: Criação e manutenção de

espaços verdes, Lavandaria e Limpeza de interiores.

A integração dos trabalhadores em regime de em-

prego protegido na empresa é precedida de um está-

gio com a duração máxima de 9 meses; durante este pe-

ríodo de tempo é definido um Plano Individual de

Trabalho e Intervenção Psico-Social que tem como prin-

cipais objectivos conjugar as necessidades do estagiário

com a viabilidade económica da empresa, bem como

adaptar as tarefas ao indivíduo com vista a aumentar a

sua rentabilidade.

No final do período de estágio é atribuída a cada es-

tagiário uma taxa de capacidade para o trabalho por

uma equipa do Instituto do Emprego e Formação Profis-

sional (IEFP). Esta equipa é constituída por um médico,

um técnico de emprego, um conselheiro de orientação

profissional e um assistente social (n.º 4 do art. 1.º do DR

37/85 de 24 de Junhos). A comparticipação do IEFP no sa-

lário dos trabalhadores em regime de emprego prote-

gido fica assim estabelecida, ou seja, é idêntica à taxa de

capacidade para o trabalho atribuída a cada trabalha-

dor, e é ponderada sobre o valor do ordenado mínimo.

Mas esta questão levanta alguns problemas ao nível

do funcionamento da própria empresa. Foi desenvol-

vido um plano de carreiras para os trabalhadores em

regime de emprego protegido e para a equipa de

produção; este plano baseia-se na avaliação de desem-

penho. Verifica-se que, se a empresa decidir aumentar

o salário a um trabalhador em regime de emprego pro-

tegido, em resultado da progressão na carreira, o IEFP

elimina a sua comparticipação no salário deste. Uma

vez que a empresa não tem fins lucrativos, uma possí-

vel progressão na carreira por parte destes trabalhado-

res torna-se difícil de sustentar.

As exigências legais de viabilidade económica (alí-

nea d do artigo 7.º do DL 40/83 de 25 de Janeiro), obri-

gam a uma preocupação constante com a manutenção

de um equilíbrio entre a produtividade e o atendi-

mento às características individuais dos trabalhadores

em regime de emprego protegido, nomeadamente no

que diz respeito às suas reduzidas capacidades de tra-

balho e de adaptação. Este enquadramento passa pela

participação da empresa e dos seus trabalhadores em

alguns projectos, de cariz pedagógico, lúdico e recrea-

tivo, que têm a finalidade de desenvolver as com-

petências pessoais e sociais dos indivíduos. Dos vários

projectos destacam-se os seguintes:

• Clube Recreativo

• Auto-Representação Democrática da Pessoa com De-

ficiência Mental

• Projecto “Aprender a Conhecer-me/te”

• Projecto de Divulgação Empresarial – Boletim Infor-

mativo

• Projecto “Sexualidade e Planeamento Familiar”

• Projecto “Interculturalidade”

6 • Novembro 2003/Fevereiro 2004

D O S N O S S O S | O U T R O S

Continua _ pág.11 •

Novembro 2003/Fevereiro 2004

O homem no centro de tudo...

A globalização, é feita por todos nós. Todos nós que

vivemos estes tempos de mudança constante, em que

se avança a uma velocidade desigual, lutando para

tornar igual o que é naturalmente diferente.

Promover a inclusão social das pessoas com defi-

ciência, é sem dúvida um dos grandes objectivos que

tem acompanhado o trajecto do Movimento CERCI em

Portugal. Desta forma, só teremos uma sociedade mais

solidária, quando todos os cidadãos com deficiência

tiverem lugar à participação plena do exercício dos seus

direitos e dos seus deveres, ou seja, ao exercício pleno

de cidadania.

É nesta perspectiva que pensamos ser importante,

através da elaboração deste artigo, lançar para o

debate de todos, pais, técnicos e familiares de um modo

geral, o tema dos regimes Tutelares – Interdição ou

Inabilitação - como forma de salvaguarda dos direitos

e defesa dos interesses dos jovens/adultos com deficiên-

cia. Desta forma, iremos fornecer alguns instrumentos

de trabalho e pistas de reflexão sobre o tema.

Assim, se é familiar ou tem a seu cargo uma pessoa

portadora de deficiência, deverá estar informado que,

uma vez que esta complete a maioridade, será impor-

tante pensar num mecanismo legal que proteja estes ci-

dadãos, como é o caso dos Processos de Interdição

ou Inabilitação.

MAS, DE QUE CONSTAM ESTESPROCESSOS E PORQUE VALE A PENA TRATAR DESTAS QUESTÕES?Quando se atinge a maioridade, com todos os direitos, de-

veres e obrigações a que estão implicados todos os indiví-

duos, independentemente de serem ou não portadores

de deficiência mental, terão sempre que ser responsabili-

zados pelos seus actos (art.º 130º do Código Civil).1

Desta forma, qualquer acto ilícito e/ou punível por

lei, será imputável à pessoa deficiente, caso não tenha

sido dado encaminhamento aos referidos processos de

Interdição ou Inabilitação.

Estes processos são aplicados apenas a indivíduos

maiores de idade, podendo ser requerido o processo

um ano antes, para produzir efeitos a partir da maiori-

dade, ou seja, depois dos 18 anos.

O QUE É INTERDIÇÃO E/OUINABILITAÇÃO E QUAL A DIFERENÇA?A interdição, de acordo com o direito civil, consiste na

restrição do exercício de direitos de determinadas pes-

soas que demonstrem incapacidade de poderem go-

vernar a sua pessoa e os seus bens; enquanto que a

inabilitação se traduz apenas na incapacidade de uma

pessoa reger o seu património.

QUANDO SE PROCEDE À INTERDIÇÃO?Em caso de deficiência mental profunda/grave, a fim de

prevenir que, após a ausência do suporte familiar

(idade avançada, morte dos progenitores, etc.) esteja

assegurado um Tutor e um Conselho de Família.

Chamamos a atenção para o facto de que não é acon-

selhável a Interdição em casos de deficiência mental

ligeira e/ou com capacidade para o trabalho (em meio

normal ou protegido), na medida em que inviabiliza a

celebração de contrato de trabalho, indo contra a filo-

sofia da auto-representação.

Os factos que fundamentam a interdição, caracteri-

zam-se pela actualidade, incapacitação natural e per-

manência.

VAMOS CONVERSAR...

Regimes Tutelares:Interdição

e Inabilitação

DESTACÁVEIS CERCI

I

Novembro 2003/Fevereiro 2004

Podem ser declarados interditos do exercício dos

seus direitos, todos aqueles que se mostrem incapazes

de governar a sua pessoa e bens.

QUAIS OS EFEITOS/CONSEQUÊNCIASDA INTERDIÇÃO?A pessoa Interdita, não pode casar, perfilhar, fazer tes-

tamento, está inibido do poder paternal, não pode ser

tutor ou vogal, nem administrador de bens. Depois da

sentença, os negócios jurídicos celebrados são sempre

anulados.

QUANDO SE PROCEDE À INABILITAÇÃO?Nos casos de deficiência mental não muito grave, mas

que impossibilite a gestão do património, isto é, em

pessoas com autonomia própria mas que não sejam ca-

pazes de gerir o seu dinheiro e os seus bens.

QUEM PODE REQUERER ESTES PROCESSOS?Os pais e irmãos, outros familiares directos, qualquer

parente sucessível, o cônjuge, o curador e/ou Ministé-

rio Público.

COMO DAR INÍCIO AO PROCESSO?Os pais ou o legal representante, para dar início ao pro-

cesso, podem enveredar por três instâncias, que poderão

ser: o Ministério Público; um Patrono Oficioso, isto

é, apoio judicial suportado pelo tribunal, desde que a

família comprove que os seus rendimentos são insufi-

cientes para custear o processo; e ainda, através de um

Advogado Particular, que em conjunto com a família

realizará todos os passos necessários para efectivar o

processo.

COMO PROCEDER?A família ou o legal representante deve dirigir-se ao Tri-

bunal da sua área de residência, apresentando um re-

querimento, em impresso próprio, solicitando a

intenção de proceder à Acção de Interdição ou Inabi-

litação, fazendo-se acompanhar de um atestado mé-

dico e da certidão de nascimento.

Chamamos atenção para o facto de apenas ser soli-

citado a intenção prévia da família, visto que, quem

decide se a situação presente é um processo de Inter-

dição ou Inabilitação, é sempre o tribunal.

O QUE DEVERÁ CONSTAR DO REQUERIMENTO?Deverá constar os dados pessoais do requerente

(Bilhete de Identidade, n.º contribuinte, morada) e a sua

legitimidade para o cargo; os dados pessoais da pessoa

deficiente (Bilhete de Identidade, n.º contribuinte, mo-

rada, certidão de nascimento); mencionar os funda-

mentos invocados para interpor esta acção e juntar

VA M O S C O N V E R S A R …

II

Novembro 2003/Fevereiro 2004

declarações/relatórios médicos, psicológicos e sociais,

onde deverá constar a natureza concreta da deficiência

e/ou doença, e se esta o incapacita no todo ou em

parte, para governar a sua pessoa e bens; e por último,

indicar o nome das pessoas que deverão fazer parte do

Conselho de Família, para o exercício da tutela ou cu-

ratela.

COMO É COMPOSTO O CONSELHO DE FAMÍLIA? (NA INTERDIÇÃO?)

O Conselho de Família deverá ser composto por três

elementos, um Tutor, um Protutor e um Vogal. Estes

cargos poderão ser ocupados pelos pais, irmãos, fami-

liares, amigos, ou outras pessoas idóneas que possam

assumir a responsabilidade de zelar pelos interesses e

salvaguarda dos direitos de um cidadão portador de

deficiência.

O Tutor, será a pessoa de referência, tendo como

função cuidar do bem estar, saúde, educação do inter-

dito, assumindo os direitos e obrigações dos pais. No

entanto, só pode utilizar os rendimentos do interdito

no sustento da educação/reabilitação do mesmo, bem

como na administração dos seus bens, isto é, sempre em

prol da pessoa deficiente.

O Curador, assiste ao inabilitado na administração

do seu património.

QUER OS ELEMENTOS QUE COMPÕEMO CONSELHO DE FAMÍLIA, QUER A FIGURA DO CURADOR, DEVERÃOTER EM LINHA DE CONTA OS SEGUINTES CRITÉRIOS:

• conhecer muito bem as suas funções enquanto ele-

mentos deste órgão;

• conviver e manter um bom relacionamento com a

pessoa interditada/inabilitada;

• ter proximidade do grau de parentesco;

• serem pessoas que o interdito/inabilitado considere

como amigas;

• ter idade e aptidão para o cargo;

• agir sempre com interesse em função da salva-

guarda dos direitos da pessoa deficiente enquanto

cidadão, proporcionando o seu bem estar social;

DIFERENÇA ENTRE INTERDIÇÃO E INABILITAÇÃO:

PAPEL DAS FAMÍLIASSe não está devidamente esclarecido acerca deste as-

sunto e da atitude a tomar, deverá:

• Procurar apoio técnico.

• Ser detentor do conhecimento que lhe permita en-

contrar respostas, adequadas ao seu caso.

• Ter uma participação activa no processo.

VA M O S C O N V E R S A R …

INTERDIÇÃO

Conselho de FamíliaTutor, Protutor, Vogal

É quem decide Dá consentimento

Curador

INABILITAÇÃO

Limita Totalmentea capacidade de exercício

dos direitos e deveres

Limita em parte a capacidade

de exercício dosdireitos e deveres

III

Novembro 2003/Fevereiro 2004

• Ter exclusividade na decisão, ou seja, só a família

deve tomar a responsabilidade de dar início a este

processo.

PAPEL DOS TÉCNICOS/INSTITUIÇÕES• Informar, divulgar e acompanhar as famílias durante

todo o processo, através de documentação, apoio

social, psicológico e jurídico.

• Potencializar a capacidade das famílias, através da

sua participação activa.

• Criar grupos de Auto-Ajuda.

PERSPECTIVAS FUTURASÉ neste contexto que urge perspectivar algumas mu-

danças e reformulações, como por exemplo, na própria

lei aqui apresentada, pelo facto de esta se basear quase

exclusivamente em aspectos patrimoniais e sucessórios,

revelando-se inadequada e desajustada à realidade das

pessoas com deficiência e suas famílias.

Seria pois fundamental, simplificar o processo legal,

flexibilizar os mecanismos e a respectiva celeridade no

decurso da acção. Alterar a graduação da Interdição,

visto que os indivíduos interditos perdem todos os seus

direitos, o que não se justifica, valorizando as capaci-

dades e não as incapacidades dos sujeitos; e ainda, a re-

visão periódica das sentenças.

Não menos importante, e à luz daquilo que é já re-

alizado noutros países da Europa, seria também bené-

fico a criação de Fundações Tutelares, com o apoio de

tutores profissionais ou delegados tutelares; e um

investimento na qualificação dos representantes legais,

através da sua formação e supervisão.

A necessidade do debate e reflexão dos profissio-

nais, famílias, organizações e sociedade civil em geral,

acerca deste tema, torna-se pertinente, num momento

em que planear, perspectivar e assegurar o futuro dos

jovens com deficiência é uma prioridade. Desta forma

é fundamental acrescentar às questões da saúde, edu-

cação, transportes, barreiras arquitectónicas, emprego,

entre outras, – um plano mais elevado, ao nível dos

direitos sociais, civis e políticos para a inclusão plena

das pessoas com deficiência, naquilo a que se chama

hoje, sociedade moderna. ●

Cristina Rodrigues

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

• Associação Portuguesa de Deficientes, LIVRO BRANCO - Direitos Huma-nos das Pessoas com Deficiência: da utopia à realidade, Editorial Ca-minho, 2002

• GIDDENS, Anthony, O Mundo na Era da Globalização, 3ª Edição, Edito-rial Presença, Lisboa, 2001

• APPACDM/Delegação de Lisboa, Guia da Tutela, Gabinete de Serviço So-cial

• SNRIPD, Regimes da Interdição e Inabilitação e da Tutela, Folhetos SNRN.º 48

LEGISLAÇÃO

• Constituição da República Portuguesa

• Código Civil (artigos 138º e ss.)

• Código do Processo Civil (artigos 944 e ss.)

NOTAS1 Código Civil, art.º 130 - Efeitos da Maioridade - Aquele que perfizer de-zoito anos de idade adquire plena capacidade de exercício de direitos, fi-cando habilitado a reger a sua pessoa e a dispor dos seus bens.

VA M O S C O N V E R S A R …

IV

D O S N O S S O S | O U T R O S

11 • Novembro 2003/Fevereiro 2004

RESULTADOS DO ESTUDO EMPÍRICOO estudo empírico realizou-se através da aplicação de

um questionário a 34 dos 36 trabalhadores em regime

de emprego protegido da empresa. De uma forma

abrangente, este estudo permitiu observar três aspec-

tos fundamentais.

Em primeiro lugar, reportando para o objectivo cen-

tral da investigação realizada, a aplicação do questio-

nário permitiu concluir que os trabalhadores em re-

gime de emprego protegido da empresa CURVA

QUATRO têm um elevado nível de motivação, dado que

30 trabalhadores, num total de 34 inquiridos, revela-

ram estar motivados para trabalhar na empresa.

Um segundo aspecto a ter em conta diz respeito à

antiguidade. A este nível é de referir a importância de

dois valores: por um lado, o número de trabalhadores

com uma antiguidade superior a nove anos, que co-

rresponde a cerca de 26% do total de trabalhadores, e

também uma elevada percentagem de trabalhadores

com uma antiguidade entre um a dois anos (cerca de

21% dos inquiridos), o que significa que existem simul-

taneamente um conjunto de trabalhadores que, ao

longo de mais de nove anos de actividade na empresa,

nunca conseguiram uma integração no mercado de tra-

balho regular, e uma contínua procura de estruturas de

emprego protegido.

Por fim, é de referir que, cerca de 29% dos inquiridos

possui apenas habilitações ao nível do 1.º ciclo do ensino

básico. É de salientar também as elevadas percentagens

de trabalhadores que não sabem ler nem escrever, cerca

de 17,6%, e que sabem ler e/ou escrever mas sem habili-

tações, que correspondem a cerca de 21% dos inquiri-

dos. Este facto explica-se pelas características destes tra-

balhadores, uma vez que se trata de pessoas com

dificuldades de aprendizagem e adaptação social.

Comparando esta realidade com o relatório de activi-

dades do Mercado Social de Emprego, relativo ao pri-

meiro semestre de 2001, verifica-se uma certa aproxi-

mação de valores, uma vez que neste relatório se observa

que 15,4% dos 474 trabalhadores analisados não sabiam

ler nem escrever; 21,9% sabiam ler e escrever mas sem ha-

bilitações; e que a grande maioria, cerca de 41,4% tin-

ham habilitações ao nível do 1.º ciclo do ensino básico.

É fundamental a reflexão sobre a importância da

existência de estruturas de emprego protegido como a

empresa CURVA QUATRO, que consegue manter-se

economicamente viável e garantir aos seus trabalhado-

res um ambiente de trabalho bastante motivador.

Ao longo de dez anos de actividade, tem-se de-

monstrado útil na integração social e laboral de pes-

soas com dificuldades de inserção, através do desen-

volvimento de instrumentos de intervenção social que

vão ao encontro da noção de igualdade de oportuni-

dades e direitos de todos os cidadãos perante a lei. ●

Marco Alexandre Ribeiro

(Trabalho realizado no âmbito de um estágio curricular

para licenciatura em Sociologia do Trabalho)

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASuras e Pessoas, 2.ª Edição, ISCSP, Lisboa.Câmara, Pedro B. (2000), Os Sistemas de RecompenDL 40/83, de 25 de Janeiro – Contrato de Trabalho de Pessoas Deficien-tes.DREGUL. 37/85, de 24 de Junho – Regulamento do Regime de EmpregoProtegido.DL 299/86, de 19 de Setembro – Incentivos ao Emprego de Trabalhado-res Deficientes.Relatório de actividades do Mercado Social de Emprego, 1.º semes-tre de 2001 http://www.cmse.gov.pt/Folhas_Informativas/mse4/actividades.htmhttp://www.fenacerci.pt/http://www.cecd-mirasintra.orghttp://www.iefp.pt/Medidas/medidas/entidades/entidades_5_c.htmhttp://www.inscoop.pt/org_grau_sup/fenacerc.html#topoBilhim, João (2001), Teoria Organizacional – Estrutsas e a Gestão Estratégica de Recur-sos Humanos, Publicações D. Quixote, Lisboa.Chiavenato, I. (2000), Introdução à Teoria Geral da Administração, 6.ª Edição, Campus Edi-tora, Rio de Janeiro.Donnelly et al. (2000), Administração – Princípios Gerais de Gestão Empresarial, 10.ª Edição,McGraw-Hill, Amadora.FERREIRA, J.M. Carvalho et al. (2001),Manual de Psicossociologia das Organizações, McGraw-Hill, Lisboa.FREIRE, João (2002), Sociologia do Trabalho: Uma Introdução, 2.ª Edição, Edições Afronta-mento, Lisboa.GIDDENS (1997), Sociology, 3rd Edition, Polity Press, Cambridge.Saraiva, Pedro et al“Medição da satisfação do colaborador”, Recursos Humanos Maga-

zine, n.º 27, 2003, pp. 10-17.

NOTA1 Giddens (1997), Sociology, 3rd Edition, Polity Press, Cambridge, p. 306.

Continução _ pág.6 •

As frutas, as hortaliças (folhas ou rama) e os legumes

(raízes, talos e frutos de cozinha) são compostas por um

sem número de espécies e variedades que são conside-

rados excelentes alimentos activadores e protectores

do nosso organismo. Têm características comuns na sua

composição; todos contêm fibras vegetais, são relativa-

mente ricos em vitaminas hidrossulúveis e sais minerais.

Por unidade de peso, o seu valor calórico oscila entre

moderado e muito pequeno e 80 a 90% ou mais do

peso é água.

Geralmente dá-se o nome de frutas aos vegetais

frescos que constituem os frutos de distintas plantas,

como laranjas, maçãs, pêras, tangerinas, cerejas, etc.

Contêm hidratos de carbono simples (glucose, saca-

rose e principalmente frutose) numa concentração

aproximadamente de 10% da parte comestível, pro-

porção que é distinta segundo as espécies. São alimen-

tos ricos em alguns sais minerais essenciais (potássio,

magnésio), e algumas frutas são fonte importante de

ferro e cálcio.

A riqueza vita-

mínica é uma das

suas principais carac-

terísticas, mas há que

ver que umas espécies con-

tém vitaminas que apenas se encontram em outras.

Os citrinos (laranja, tangerina, kiwi) são muito ricos em

ácido ascórbico ou Vit. C, assim como o melão e os mo-

rangos. A maior parte das frutas contém quantidades

pequenas de beta-carotenos e vitaminas do grupo B.

O aporte diário de vitamina C, Provitamina A e outras

vitaminas hidrossolúveis só é assegurada se forem in-

geridas 2 a 3 peças de fruta por dia.

Os sumos de fruta só contém água, açúcares e pou-

cas vitaminas e sais minerais. Ao contrário, não contém

a fibra da fruta inteira. Por outro lado, um copo de

sumo pode proporcionar um valor calórico superior ao

que proporciona uma peça de fruta, para a sua elabo-

ração. Assim, é preferível fazer-se a ingestão de fruta

inteira ao invés do sumo.

12 • Novembro 2003/Fevereiro 2004

O S A L I M E N T O S

VALOR NUTRICIONAL

Das frutas, legumes e hortaliças

O S A L I M E N T O S

13 • Novembro 2003/Fevereiro 2004

Os componentes de fibra vegetal que mais frequên-

cia se encontram na parte comestível das frutas são a

pectina e a hemicelulose, e é claro, que a concentração

mais elevada de fibra vegetal está na pele destas, como

por exemplo: nas maçãs, pêras, pêssegos, etc.. Mas tam-

bém é aqui que encontramos alguns contaminantes

(pó, restos de insecticidas ) que são difíceis de eliminar

e por isso, á que lavá-las energicamente e convenien-

temente para que estes sejam eliminados.

O valor calórico das frutas oscila entre 35-45 Kcal

por 100g (laranjas, por exemplo).

Em relação aos legumes e hor-

taliças, pode-se dizer que a maior

parte das pessoas come muito

poucos legumes e hortaliças, quer

crus(saladas), quer cozidos (sopas

e em acompanhamento – cozidos

normalmente a vapor), não rece-

bendo as fibras vegetais (celulose

e hemicelulose) que fazem parte

da sua composição, em doses ade-

quadas, fundamentais para a ma-

nutenção do transito intestinal re-

gular.

Muitos trabalhos científicos

têm demonstrado a correlação

entre o diminuído consumo de le-

gumes e hortaliças e uma maior prevalência no apare-

cimento de obstipação e no desenvolvimento de certos

cancros, como por exemplo, o cancro do cólon e recto.

Por isso, é de salientar a importância da sua ingestão

na prevenção da obstipação, para manter-se o equilí-

brio da flora intestinal e de diminuir os teores de co-

lesterol sanguíneos. Os legumes e hortaliças verdes, de-

vido á clorofila, são ricos em magnésio, a maior parte

deles contém muito potássio e pouco sódio, outros pro-

porcionam uma pequena quantidade de ferro (espina-

fres, tomates), que, se absorve mal nos alimentos de

origem vegetal. A respeito do seu conteúdo em vitami-

nas, destacam-se o ácido ascórbico ou Vit. C, a Provita-

mina-A ou o Betacaroteno (principalmente nos legu-

mes de cor intensa) e, diversas vitaminas do grupo B,

destacando-se de entre elas o ácido fólico, abundante

nas folhas (daí o seu nome) mas também em outras es-

truturas dos legumes. Há que realçar aqui a importân-

cia dos cogumelos, por serem considerados vegetais de

composição parecida com os legumes.

Os cogumelos frescos contém entre 2 a 6g de prote-

ínas por 100g de peso e igual quantidade de hidratos

de carbono, o que os torna muito pouco calórico e ri-

quíssimos do ponto de vista nutricional. Devido a exis-

tirem espécies venenosas, é necessário ingerir unica-

mente os cogumelos comestíveis reconhecidos como

tais por vendedores creditados.

Das vantagens e benefícios apresentados, pode con-

cluir-se que devemos ingerir 2 a 3 peças de fruta por dia

pelo menos e aumentar a ingestão diária e em qual-

quer idade, de legumes e hortaliças, de forma a garan-

tir-se o aporte necessário em vitaminas, sais minerais e

fibra vegetal ao nosso organismo, tornando as re-

feições mais ricas e mais saudáveis. ●

Ana Paula Salgueiro

Dietista do C.D.S.S.S. de Lisboa

O problema da Educação é vasto e bastante com-

plexo. Um dos seus objectivos gerais é promover o de-

senvolvimento de tudo o que é individual em cada ser

humano, harmonizando simultaneamente a individua-

lidade e o grupo social.

Educar pela arte é fundamental e tem como princí-

pios básicos:

• A preservação da intensidade natural de todas as for-

mas de percepção e sensação;

• A coordenação das várias formas de percepção e sen-

sação e destas inscritas em determinado ambiente;

• A expressão dos sentimentos de forma comunicável;

• A expressão da comunicação de formas de experiên-

cia mental;

• A expressão correcta do pensamento.

Falemos agora de Música. Ela merece ocupar um

lugar importante na arte porque enriquece o ser hu-

mano pelo poder do som e do ritmo, através da melo-

dia e da harmonia; eleva o nível cultural e favorece o

impulso da vida interior, apelando às principais facul-

dades humanas: vontade, sensibilidade e afecto, amor,

inteligência e imaginação criadora.

Considerando a complexidade do desenvolvimento

humano, se tivermos em linha de conta que aos nossos jo-

vens é pedido que no seu percurso e projecto de vida, ad-

quiram competências técnicas para executar determinada

tarefa, exigindo-lhes também que aprendam as com-

petências sociais que obviamente facilitarão a sua inte-

gração social, perceberemos que a componente do afecto

através da arte irá ser elemento que favorece tal situação.

A associação da música a outras formas de ex-

pressão tem sido utilizada entre nós com resultados

surpreendentes. Associamo-la à dança, ao movimento

e à expressão dramática e temos simplesmente levado

os jovens a ouvirem trechos musicais. Da mesma forma

e de acordo com os gostos individuais, temos proposto

aos jovens que escolham instrumentos ( percussão, cor-

das, teclas) em conformidade com o que pensam ser ca-

pazes de exprimir através deles.

No decurso dos últimos anos, conseguimos definir

muito bem a identificação do jovem face a determi-

nado instrumento ou o desenvolvimento de uma iden-

tidade face a qualquer outra forma de expressão.

Como resultados concretos do trabalho que tem

sido desenvolvido, temos hoje um conjunto musical,

por onde têm passado diversos jovens, para despiste e

orientação musical; temos um rancho de musica tradi-

cional portuguesa, onde conjugamos dança, execução

instrumental e vozes; privilegiamos a representação

dramática e a expressão corporal associada a trechos

musicais, bandas sonoras e outras.

Concluímos sempre, que a música na sua forma mais

pura, ouvida ou executada, leva a que os nossos jovens

expressem os seus sentimentos e as suas emotividades,

de uma forma sublimada. Por outro lado, ficam evi-

denciados os sentimentos colectivos de respeito e acei-

tação do grupo no seu global.

Nesta época em que vivemos compete-nos cada vez

mais proporcionar, de modo criativo e crítico, a com-

preensão e a abertura ao mundo cultural e artístico nos

nossos jovens para que em cada um desperte o poten-

cial artístico que em cada um existe. ●

Ana Cristina Gonçalves

14 • Novembro 2003/Fevereiro 2004

M Ú S I C A

Arte, Música e Terapia

SERRA DA ESTRELANo passado dia 12 de Dezembro de2004, eu, Filipe Portugal, fui com osmeus colegas, José Carlos, André Mota,Marta Amaral, João Caras Lindas e ostécnicos, Auxiliar Pedagógica MariaLuísa Costa e a psicóloga Rosa Laran-jeira, até à Serra da Estrela. Estavamuito frio, mas foi muito divertido poisfizemos diversos jogos entre nós e ou-tras instituições, num ginásio bem bo-nito.Recebemos prémios por termos partici-pado nos jogos, e outros por termosganho!!!Dormimos numa estalagem bem bo-nita que tinha um presépio, todo feitoem palha.Eu e os meus colegas gostámos muitodo passeio à Serra da Estrela, de ver aneve, de mexer na neve, que com ocalor das nossas mãos se transforma emágua. Se for pouca neve, claro!

Filipe Portugal Serviço de Cabides C.T.V.A.A.

JARDINAGEMNuma parceria com a Câmara Munici-pal de Lisboa, tendo havido uma cola-boração extraordinária do SenhorEng.º Helder, o CTVAA ficou mais enri-quecido do ponto de vista ambiental:plantámos uma magnólia.Esta parceria resultou eficazmente,porque os nossos jovens estiveramnuma acção de colaboração muito po-sitiva e suada! Com pés e enxadas, aolado dos senhores da Câmara, não dei-xaram por nãos alheias o enchimentocom terra do canteiro, onde se colocoua nossa árvore.Agora vamos esperar que a magnóliacresça, para podermos fazer uns lan-chinhos à sua sombra.

Serviço de Jardinagem do CTVAA

S O LTA S

15 • Novembro 2003/Fevereiro 2004

NOTÍCIA DO PASSO A PASSONo concurso promovido pela “ANA-CED” sobre o tema “A COR DONATAL”, dois dos nossos jovens conco-rreram. A Raquel que pintou uma ár-vore de Natal, em que a decoraçãoeram todos os jovens com uma vela namão, e o Zé que pintou um Pai Natal.Estas pinturas seriam depois escolhidaspara postais de Natal de algumas Câ-maras do País.O Zé ganhou o 2º Prémio na Câmara deViseu, e recebeu muito material de pin-tura.Fomos convidados pelo Sr. Presidentepara um almoço seguido da entregados prémios no salão nobre da Câmarada cidade.O hotel era muito bonito e a ementaagradou-nos muito. A cerimónia da en-trega dos prémios foi com pompa e cir-cunstância. A Câmara fica num edifíciomuito rico em pinturas no centro da Ci-dade.A Raquel ganhou o primeiro prémioem Lisboa. Para a entrega do prémiofomos ao Governo Civil, onde estavamexpostos todos os trabalhos.Houve lanche e foi o Sr. Governadorque entregou os prémios.A Raquel recebeu um triplo C.D. doPedro Abrunhosa.Ficámos todos muito contentes e or-gulhosos.

S O LTA S

16 • Novembro 2003/Fevereiro 2004

CENTRO EDUCACIONAL/OCUPACIONAL DACERCI-LISBOA/OLIVAISActividades Recreati-vas – DesportivasAs actividades recreativas– desportivas previstas nonosso plano de funciona-mento têm um papel fun-damental na intervençãocom os jovens com defi-ciência mental moderada ou profunda. Actividades desta natureza,englobam diversos contextos promotores de várias componentes daintervenção: A participação ao fim-de-semana contribui para o pre-enchimento dos momentos de lazer; no decurso da prova trabalha-mos a área motora e física; a partilha da prova com pares desco-nhecidos, promove a interacção social, a auto-estima e sociliazação.No dia 24 de Janeiro, um grupo de 17 jovens acompanhados poruma técnica de reabilitação, uma auxiliar pedagógica e uma moni-tora participaram nos Campeonatos de Corta-Mato 2004 na MataNacional das Virtudes em Azambuja, organizados pela ANDDEM eCERCI Flor da Vida. O grupo participou nas equipas masculinas e femininas da Activi-dade Adaptada de 1000 metros e 2000 metros, com APERCIM-Mafra, CEERIA-Alcobaça, APPACDM-Coimbra, APPACDM-Matosin-hos, Clube de Gaia, CRIA-Abrantes. Nos resultados, todos ganharammedalhas de participação e o 3º lugar foi para o Luís.A avaliação da participação é traduzido pelas expressões dos jovens:“Corri muito e ganhei uma medalha!....” – Jorge Domingues – 18anos.“Importante é participar!...” – José António – 15 anos.

RELATÓRIO SOBRE O MÊS DE JANEIRONo dia 5 de Janeiro, começámos as nossasactividades.No dia seguinte, de manhã, fomos apre-sentar a “Poesia do Corpo” no Mosteirodos Jerónimos, na Sala do Capítulo ondeestá sepultado o historiador AlexandreHerculano.Como nesse dia, foi Dia de Reis, a escri-tora Risoleta leu um texto sobre os trêsReis Magos, feito especialmente paranós. E o coronel Durão dedicou-nos umpoema de Fernando Pessoa.À tarde, fomos cantar as Janeiras ao Se-cretariado Nacional de Reabilitação. E nofim da nossa actuação tivemos um pe-queno lanche em convívio com todos os trabalhadores, a Dr.ª Cristina Louro, a D. Julieta e outras pessoas importantes.No dia 7, veio cá ao nosso Espaço a sen-hora dietista da Segurança Social, dou-tora Ana Salgueiro, para nos ensinar afazer o bolo-rei. Eu e o João Oliveira fomos os escritoresde serviço da receita do bolo-rei. Dias depois, fomos seleccionados a parti-cipar num evento subordinado ao tema:“Vivências do nosso Espaço”. Enviámosalgumas fotografias sobre o que fazemosdentro e fora do espaço para uma expo-sição.

Noutra semana, fomos ao cinema, ver À Procura de NEMO. Foi muito bom ir aocinema!...Ainda neste mês, fomos ver duas peçasmuito giras ao Auditório de Santa JoanaPrincesa.Uma foi da “Porquinha e do Boi Ratão” ea outra foi da “Super Carteira”. Esta úl-tima peça foi trabalhada pelo grupo decolegas que estão nos C. T. T. e puseram-na de pé.Mais tarde, alguns dos meus colegas ini-ciaram a natação da piscina nova do Es-tádio Novo do Sporting. A nossa colega Cristina iniciou a sua expe-riência de trabalho numa cozinha no ATL.Depois as nossas colegas Ana Lucas eIrene começaram a trabalhar em serviçode limpezas na escola” Horta Nova”. E onosso colega João Pimenta iniciou a suaexperiência na Quinta Pedagógica dosOlivais.

Eduardo Ferreira

A BRINCAR FAZEMOS O QUE É A SÉRIO No passado dia 27 de Janeiro, alguns jovens do C.T.V.A.A. daCERCI LISBOA,participaram num evento desportivo inter-Cercis “ Actividades Gimnorecreativas “, que se realizou nopavilhão Académico da Amadora.Foi organizado pela AFID em parceria com a CERCIAMA econsistia num conjunto de estações com aparelhos gímni-cos, que os jovens deveriam percorrer e realizar com maiorou menor ajuda, consoante as suas dificuldades.Esta actividade é anual e tem como população alvo jovenscom menor disponibilidade motora; é sempre vivida commuita intensidade por todos nós, notando-se nos jovens fe-licidade e alegria, pois são nesse dia alvo de todas atenções.No final foi-lhes entregue um diploma de participação quelevaram para casa para mostrar às suas famílias.

PARTICIPAÇÕES EM EVENTOSExposição de pinturaNo espaço “GAN” pelos jovens do Passo aPasso no dia 2 de Junho de 2003SeminárioPromovido pelo Centro Regional deSaúde de Lisboa e Vale do Tejo, apoiadopor duas jovens do Passo a Passo no diavinte sete de Novembro de 2003Venda de Natalna Biblioteca do Inst. De Estudos Superio-res de Contabilidade com artigos feitospelos jovens do Passo a Passo no dia 28 deNovembro de 2003Ida A ViseuReceber 2º prémio pelo concurso promo-vido pela ANACED, “ a Cor do Natal” pelotrabalho feito por um jovem do Passo aPasso no dia 5 de Dezembro de 2003Ida Governo Civil de LisboaReceber 1º prémio pelo concurso promo-vido pela ANACED, “A Cor do Natal” pelotrabalho feito por uma jovem do Passo aPasso no dia 17 de Dezembro de 2003