- solda de ponto caseira

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circuito de maquina de soldar

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Solda de Ponto

Essa antiga, mas vale muito a pena ser mostrada. Depois que comprei minha solda de eletrodo revestido muitos problemas se resolveram, mas outros surgiram. A quase impossibilidade de encontrar eletrodos abaixo de 2,5mm, juntamente com minha insistente inabilidade para soldas tornava quase impossvel trabalhar em peas mais delicadas, principalmente chapas finas. Pensando nisso parti para uma extensa pesquisa na internet, falei com um, falei com outro, peguei o embrio da ideia no Orkut e pesquisei muito at achar a receita definitiva para fazer uma ponteadeira (solda de ponto ou soldagem por resistncia) inteiramente caseira.A solda de ponto consiste em fazer passar pelos materiais a serem soldados uma tenso baixa com corrente muito alta, ao mesmo tempo em que exercida presso, isso faz com que as duas partes metlicas se fundam. Nesse processo nenhum material, como eletrodos, arames ou filamentos, consumido.Vamos ao processo: o corao da mquina um transformador que fornecer em torno de 3 volts com aproximadamente 500 ampres, para essa funo foi providenciado um transformador de microondas.

ATENO, JAMAIS LIGUE UM TRANSFORMADOR DE MICROONDAS REDE ELTRICA, A TENSO DE SADA DELE ALTA O SUFICIENTE PARA MATAR UMA PESSOA.

Dado o recado, aqui est o transformador em questo, comprado com facilidade em qualquer boa sucata por um preo entre R$10,00 e R$15,00.

O que nos interessa nele apenas o enrolamento primrio, que o de fio mais grosso, os secundrios originais sero descartados e substitudos por um novo. A menos que voc seja ninja, a nica maneira de fazer isso abrindo a estrutura. Primeiramente prendi o transformador na morsa de bancada e usei a esmerilhadeira para cortar dois pequenos cordes de solda que unem as duas partes de ao, uma em forma de E e outra em forma de I, o que pode ser visto claramente na foto seguinte:

Como eu disse, os secundrios foram descartados, um deles apenas algumas voltas de fio encapado, o outro uma bobina bem grande de fio fino; este sobre a bancada o primrio, que til e retornar ao seu lugar em breve.O secundrio novo fornecer um volt para cada volta da espira, ento 3 delas so suficientes, quanto espessura do fio, dela depende a corrente disponvel, quanto mais grosso o fio, mais corrente e mais eficiente a solda; isso, claro, respeitando as limitaes fsicas, no d pra enrolar os cabos areos da Eletropaulo num espao to pequeno. Como estava difcil achar fio de cobre grosso eu apelei mais uma vez para a gambiarra, usei isso aqui:

Ronaldo, isso um pedao do Sputnik?No, parte do motor de arranque de uma caminhonete, gentilmente cedido pelo dono de um desmanche (sou cliente VIP, de vez em quando ganho essas regalias). Nele h fios de cobre de grosso calibre, que para me ajudar ainda so de seo retangular.

As quatro bobinas do motor foram desenroladas e novamente enroladas no formato e tamanho do ncleo do transformador, para dar a forma certa usei um pedao de madeira como molde. As bobinas novas foram presas com abraadeiras de nylon brancas (tambm chamadas de fita Hellerman, enforca gato ou tire-up) para no desenrolarem. E vale lembrar que para evitar contato, entre as espiras foi colocada uma fita de papel comum. Para ver se estava tudo do jeito correto arrumei as bobinas no ncleo do transformador; encaixou como uma luva:

Aps isso as bobinas passaram por repetidos banhos de verniz prprio para enrolamentos de motores e transformadores. Esse verniz tem por objetivo proteger os fios de agresses externas, de umidade, evitar curto entre as espiras e no deixar que haja vibraes quando altas correntes circularem pelas sees de cobre. Ao todo foram aproximadamente 10 imerses para cada bobina, com meio dia de intervalo para secar.

Depois de secas, cada bobina recebeu um enrolamento de fita crepe para melhorar a segurana e o acabamento, e mais trs camadas de verniz. J o ncleo de ferro ganhou um acabamento em esmalte sinttico azul.Hora de fechar o transformador; recoloquei o primrio original e o novo secundrio, formado pelas quatro bobinas, e com o auxlio de trs grampos C fixei as duas partes do corpo do transformador, a foi s fazer uma nova solda com eletrodo revestido comum, de 2,5mm.

Uma solda bem porca, por sinal. Os terminais do secundrio foram unidos por uma pea chamada split bolt, facilmente encontrada em lojas de material eltrico e que servem exatamente para isso, unir fios de bitola exagerada.

Depois de muito quebrar a cabea e ver modelos comerciais, optei por uma configurao fcil de fazer e que me desse liberdade de fazer soldas em objetos de formatos variados. J o alojamento para o circuito foi a caixa de um estabilizador de voltagem para PCs. Devidamente esvaziada e pintada.

Em mquinas comerciais de solda por resistncia a refrigerao feita por um radiador e gua, na minha, bem mais modesta e feita para trabalhos menos exigentes, uma ventoinha de fotocopiadora foi instalada numa abertura no topo da caixa, puxando o ar quente para fora e forando a entrada de ar novo que refresque todo o circuito.

Aqui apenas um detalhe do acabamento.

Como eu disse l em cima, esse tipo de solda no consome nada, apenas faz passar corrente pelas chapas a serem soldadas, e esse contato deve ser feito por eletrodos que no se gastam. Esses eletrodos preferivelmente deveriam ser de cobre, pois o pulo do gato o seguinte, o cobre conduz eletricidade melhor que o ferro, ento quando as ponteiras se fecham e a corrente circula, h um curto circuito. Como o cobre conduz bem e o ferro conduz mal, esse ltimo que esquente, a h a fuso. Sacou?Mas Ronaldo, e se as ponteiras da mquina fossem de ferro e eu tentasse soldar chapas de cobre, no daria certo? isso a, no daria certo de jeito nenhum.Mas Ronaldo, essa sua inveno s solda ferro?Isso, ferro, ao e algumas ligas.A deu problema. Onde conseguir cobre no formato e na quantidade que eu queria? Foi uma Via Crcis, s achei na capital e o envio era uma complicao, ento optei pela segunda opo, lato, que quase to bom condutor quanto o cobre. Isso me facilitou a vida demais, pois achei o material certo e em forma de parafusos, o que foi perfeito para uma fcil e eficiente fixao. Os parafusos, mais duas porcas para cada, e dois conectores tambm de eltrica pesada e pronto, as duas ponteiras-eletrodos estavam feitas. Ah, como a rea de contato tem que ser pequena e precisa, as pontas dos parafusos foram moldadas na lima.

Aqui o esqueleto j tomando forma. O fio que liga os terminais do secundrio at os eletrodos so ligados diretamente com cabos cuja medida agora eu no lembro, mas so os mesmos usados em mquinas de solda de 250A. No h chaves ou comutadores, todo o controle feito no primrio do transformador.

Falando em controle, vamos esmiuar esta parte. Como no secundrio as correntes so muito altas, seria impraticvel colocar ali qualquer tipo de chaveamento, ento isso ficou no primrio, onde a corrente baixa, pois a tenso mais alta (110V). Para melhorar minha vida projetei a mquina de solda de forma que eu pudesse oper-la com apenas uma das mos, assim me sobraria a outra para manusear o objeto a ser soldado. Com isso o controle de ligar e desligar a corrente foi instalado em um boto no manpulo que tambm controla a abertura e fechamento dos eletrodos, assim como a presso sobre eles. Esse boto, no entanto, por limitaes fsicas no poderia ser uma coisa muito parruda, ou atrapalharia mais do que ajudaria. Ento a ele foi dada a incumbncia de controlar um pequeno banco de rels, e estes sim, controlariam a ligao do primrio do transformador com a rede eltrica.

Fcil, no? E se voc l diagrama eletrnico, aqui est ele:

Onde:

F1 a ventoinha;D1 um retificador de meia onda, que deixa passar apenas 60V;C1 um capacitor eletroltico de filtro, com 1000 f, que evita vibraes nos rels;S1 o boto no manpulo, que aciona a corrente de solda;T1 o transformador de microondas adaptado;RL1, na verdade um banco de cinco rels com bobinas de 12 volts em srie para serem alimentadas por aqueles 60V que passaram pelo diodo D1 (12X5 = 60), e com os contatos em paralelo comutando a rede ao primrio do transformador com uma boa folga no limite de corrente. Por que isso? Porque eu no tinha um rel para 110V, o espao era pequeno para colocar uma fonte dedicada de 12V alimentando um rel forte, e eu tinha vrios destes pequenos, lembre-se, gambiarra trabalhar com o que voc tem mo.

Voltando ao assunto, tudo feito, estrutura montada, vamos aos pequenos detalhes: j que a caixa em que a montagem foi alojada era de um estabilizador, deixei uma tomada no lugar, assim se a ponteadeira estivesse ocupando a nica tomada disponvel, eu poderia ligar outro aparelho nela, como se faz com as portas USB. Toda entrada ou sada de cabo foi protegida por acabamentos de borracha que garantem a segurana e evitam possveis contatos entre as partes metlicas.

Braadeiras foram usadas para prender cabos, dando mais firmeza e melhor apresentao.

Aqui um dos eletrodos em detalhe:

Os braos da solda foram feitos com tubos de seo retangular retirados de uma mesa de escritrio, acabamentos apropriados foram colocados para tampar as extremidades.

Aqui temos o manpulo onde controlado praticamente tudo com apenas uma das mos. Ele foi feito com um pedao de cano de gua um punho de borracha para bicicletas, uma chave NA comum, e duas cantoneiras para movelaria, tudo preso ao brao mvel com quatro rebites de repuxo. O fio de controle dos rels, assim como o de corrente, correm por dentro do tubo retangular e s saem na articulao, para fazer uma lira e evitar a quebra por fadiga.

O boto em close:

E ela finalmente pronta:

Ficou um chuchuzinho!

Matando a cobra e mostrando o pau (Ui!)

Por exigncias do espao dentro da caixa, acabei dando trs voltas e meia nas bobinas do secundrio, o resultado est aqui, 3,5V cravados.

A corrente superou as expectativas, 659 ampres. No um desempenho estrondoso, mas est timo para um improviso com materiais improvveis e atende perfeitamente s minhas necessidades. E como eu costumo dizer, a melhor ferramenta aquela que te atende.