_ revolução francesa especial

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CLIO História – Textos e Documentos Revolução Francesa: ela inventou nossos sonhos Os homens nascem livres e iguais em direitos; as distinções sociais não podem ser fundadas a não ser na utilidade comum”. Pela Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, a Assembléia Constituinte estabelece os direitos básicos dos franceses: igualdade perante a lei e a obrigação do Estado de defender os direitos “naturais” dos cidadãos, como a liberdade e a propriedade. A modernidade chega definitivamente à vida social. Quando um povo é obrigado a obedecer e o faz, age acertadamente; assim que pode sacudir esse jugo e o faz, age melhor ainda, porque, recuperando a liberdade pelo mesmo direito por que lha arrebataram, ou tem ele o direito de retoma-la ou não tinham o direito de subtraí-la.” Jean-Jacques Rousseau, filósofo francês, 1712-1778 Números Em 1789, a população da França alcança 25 milhões de habitantes, sendo 20 milhões de camponeses. A nobreza constitui 1,5% da população total. Paris conta com 500 000 habitantes, dos quais 110 000 são indigentes. Desde a madrugada de 14 de julho de 1789, uma terça-feira, pelo menos 8 mil parisienses irados estavam reunidos na esplanada dos Inválidos. Eles queriam armas para enfrentar os soldados que, acreditavam, o rei Luís XVI estava mandando de Versalhes. O administrador não sabia o que fazer. A multidão, então, arrombou os portões e se apoderou de 40 mil fuzis e doze canhões. Mas e a pólvora para eles? Estava na formidável fortaleza da Bastilha, transformada em depósito e prisão. Para lá correram todos, em busca de munição. Quem teria, naquele momento, pensado em se apoderar daquela fortaleza inexpugnável? Pois antes do anoitecer a fortaleza caiu e com ela veio abaixo todo o Antigo Regime, representado na figura do rei e em sua corte de aristocratas inúteis. A multidão que cercou a Bastilha era muito maior que os 8 mil reunidos de madrugada na praça dos Inválidos. Mas, conforme cuidadoso recenseamento feito depois pela Assembléia Nacional, os "vencedores da Bastilha" foram não mais que oitocentos, registrados e cadastrados, com nome, endereço e profissão. Em dois dias, construíram-se 50 mil lanças para a milícia Assim, pode-se saber, com segurança, que entre eles estavam alguns raros burgueses (três industriais, quatro comerciantes, um cervejeiro), muitos pequenos produtores independentes, artesãos, oficiais de corporação, militares em profusão. Um terço, pelo menos, era de assalariados da manu- fatura e da construção. O mais jovem tinha 8 anos. Uma única mulher, uma lavadeira, impedira com sua presença que a queda da Bastilha entrasse para a História como uma aventura vivida apenas pelos homens. A multidão estava inquieta desde o dia 12, quando a demissão do ministro das Finanças, Jacques Necker, foi re- cebida como prenúncio de que o pão se tornaria mais raro e mais caro. Foi formada uma milícia cidadã para defender a cidade, cujo objetivo era também defender os burgueses proprietários contra os ataques do rei e contra as ameaças das classes julgadas perigosas — os trabalhadores e os miseráveis. De saída, a milícia alistou 48 mil voluntários. Como não havia armas, ordenou-se a construção de lanças — e 50 mil ficaram prontas em dois dias. As reuniões sucediam-se, e havia sempre alguém propondo o recurso à força. "As armas, às armas, cidadãos", era o que mais se ouvia nos comícios. No Palais-Royal, espécie de território livre onde tudo se podia dizer, Camila Desmoulins, orador gago que empolgava como ninguém a multidão inquieta, tentava ordenar o caos. Por sua sugestão, adotou-se o verde com emblema. A multidão desfilou pelas ruas, praticamente engoliu as tropas que tentaram detê-la. As barreiras que simbolizavam a cobrança de impostos foram destruídas; suspeitos de serem açambarcadores (entre estes o convento de Saint-Lazare) foram atacados. Assim, a multidão que na manhã do dia 14 correu para a Bastilha não tinha quem a enfrentasse, a não ser a obstinação do administrador da fortaleza, De Launay, que recusou todos os apelos (inclusive de quatro comissões enviadas pela Prefeitura) para que entregasse a munição. O primeiro disparo aconteceu por volta de 13 horas. Os mais valentes romperam as correntes da ponte levadiça, que caiu. O pátio da administração foi

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CLIO História – Textos e Documentos

Revolução Francesa: ela inventou nossos sonhos

“Os homens nascem livres e iguais em direitos; as distinções sociais não podem ser fundadas a não ser na utilidade comum”.Pela Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, a Assembléia Constituinte estabelece os direitos básicos dos franceses: igualdade perante a lei e a obrigação do Estado de defender os direitos “naturais” dos cidadãos, como a liberdade e a propriedade. A modernidade chega definitivamente à vida social.

“Quando um povo é obrigado a obedecer e o faz, age acertadamente; assim que pode sacudir esse jugo e o faz, age melhor ainda, porque, recuperando a liberdade pelo mesmo direito por que lha arrebataram, ou tem ele o direito de retoma-la ou não tinham o direito de subtraí-la.”Jean-Jacques Rousseau, filósofo francês, 1712-1778

NúmerosEm 1789, a população da França alcança 25 milhões de habitantes, sendo 20 milhões de camponeses. A nobreza constitui 1,5% da população total. Paris conta com 500 000 habitantes, dos quais 110 000 são indigentes.

Desde a madrugada de 14 de julho de 1789, uma terça-feira, pelo menos 8 mil parisienses irados estavam reunidos na esplanada dos Inválidos. Eles queriam armas para enfrentar os soldados que, acreditavam, o rei Luís XVI estava mandando de Versalhes. O administrador não sabia o que fazer. A multidão, então, arrombou os portões e se apoderou de 40 mil fuzis e doze canhões. Mas e a pólvora para eles? Estava na formidável fortaleza da Bastilha, transformada em depósito e prisão. Para lá correram todos, em busca de munição. Quem teria, naquele momento, pensado em se apoderar daquela fortaleza inexpugnável?

Pois antes do anoitecer a fortaleza caiu e com ela veio abaixo todo o Antigo Regime, representado na figura do rei e em sua corte de aristocratas inúteis. A multidão que cercou a Bastilha era muito maior que os 8 mil reunidos de madrugada na praça dos Inválidos. Mas, conforme cuidadoso recenseamento feito depois pela Assembléia Nacional, os "vencedores da Bastilha" foram não mais que oitocentos, registrados e cadastrados, com nome, endereço e profissão.

Em dois dias, construíram-se 50 mil lanças para a milícia

Assim, pode-se saber, com segurança, que entre eles estavam alguns raros burgueses (três industriais, quatro comerciantes, um cervejeiro), muitos pequenos produtores independentes, artesãos, oficiais de corporação, militares em profusão. Um terço, pelo menos, era de assalariados da manu-fatura e da construção. O mais jovem tinha 8 anos. Uma única mulher, uma lavadeira, impedira com sua presença que a queda da Bastilha entrasse para a História como uma aventura vivida apenas pelos homens.

A multidão estava inquieta desde o dia 12, quando a demissão do ministro das Finanças, Jacques Necker, foi re-cebida como prenúncio de que o pão se tornaria mais raro e mais caro. Foi formada uma milícia cidadã para defender a cidade, cujo objetivo era também defender os burgueses proprietários contra os ataques do rei e contra as ameaças das classes julgadas perigosas — os trabalhadores e os miseráveis. De saída, a milícia alistou 48 mil voluntários. Como não havia armas, ordenou-se a construção de lanças — e 50 mil ficaram prontas em dois dias.

As reuniões sucediam-se, e havia sempre alguém propondo o recurso à força. "As armas, às armas, cidadãos", era o que mais se ouvia nos comícios. No Palais-Royal, espécie de território livre onde tudo se podia dizer, Camila Desmoulins, orador gago que empolgava como ninguém a multidão inquieta, tentava ordenar o caos. Por sua sugestão, adotou-se o verde com emblema. A multidão desfilou pelas ruas, praticamente engoliu as tropas que tentaram detê-la. As barreiras que simbolizavam a cobrança de impostos foram destruídas; suspeitos de serem açambarcadores (entre estes o convento de Saint-Lazare) foram atacados.

Assim, a multidão que na manhã do dia 14 correu para a Bastilha não tinha quem a enfrentasse, a não ser a obstinação do administrador da fortaleza, De Launay, que recusou todos os apelos (inclusive de quatro comissões enviadas pela Prefeitura) para que entregasse a munição. O primeiro disparo aconteceu por volta de 13 horas. Os mais valentes romperam as correntes da ponte levadiça, que caiu. O pátio da administração foi

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“Nobres, vós sois o flagelo da sociedade, como sois também o inimigo da Pátria. Vossos exemplos e vossa moral levaram os costumes a um grau de corrupção nunca antes atingido. Para satisfazer, não vossas paixões, mas vossas fantasias, vós os transgredistes ao ponto de vos permitir comportamentos cujo preço é o cadafalso.”Panfleto anônimo, igual a milhares de outros em circulação, acusando a nobreza de corrupção, amoralidade, decadência.

Os sans-culottes são os novos personagens da cena política. Sem os “culottes” e os perfumes dos nobres, eles são os amigos da Revolução: humildes artesãos, empregados pobres do “fauborg”, usam a lança, o sabre e o fuzil para livrar a Revolução dos seus inimigos e exigir a verdadeira igualdade entre os cidadãos.

NúmerosNo início da Revolução, a posse útil da terra na França estava assim distribuída: 45%, camponeses; 20%, burguesia; 35%, nobreza e clero. Porém, em razão dos direitos feudais, a aristocracia detém a propriedade senhorial de 97% sobre todas as terras.

invadido, mas ali os revoltosos ficaram expostos.

A Bastilha não era um inferno; a vida dos presos era bem boa

Às 15:30h chegou um reforço providencial: o chefe da lavanderia da rainha Maria Antonieta, um certo Hulin, reunira 36 granadeiros, 21 fuzileiros, 400 cidadãos armados e alguns canhões e comandou o primeiro ataque organizado à fortaleza. De Launay ainda pensou em atear fogo ao depósito de pólvora e mandar tudo pelos ares. Foi impedido por seus próprios soldados, que preferiram capitular e passar para o lado da Revolução. Os invasores então entraram de uma vez, desar-maram os soldados, saquearam tudo, apoderaram-se da pólvora e libertaram os prisioneiros. Estes eram apenas sete: quatro falsários, dois loucos e um filho de família rica que desonrara seu nome. Definitivamente, a Bastilha não era o inferno criado pela imaginação popular, onde se jogavam os inimigos do rei para morrer em meio a terríveis sofrimentos. Na verdade, quem podia pagar contava ali com uma vida bem razoável, com direito a boa comida, bebida e até criados.

Uma prévia do que viria a ser a violência revolucionária foi encenada com o pobre De Launay. Na praça da Prefeitura ele foi agredido, recebeu um golpe de baioneta, um tiro e teve a cabeça cortada, porque a multidão queria vê-la. Contra todos os prognósticos, o movimento começava a andar fora dos trilhos. Apenas dois anos antes, em 1787, o pavio da mais clássica das revoluções burguesas, a Revolução Francesa, fora aceso por mãos nobres. Em outros tempos, tudo não passaria de um levante palaciano; no final do século XVIII, porém, a rebelião da nobreza foi o sinal esperado por outro protagonista poderoso, a burguesia, para subir ao palco da História. O pe-ríodo inicial da Revolução Francesa, que vai de 1787 a 1791, é a crônica desse esforço da burguesia para passar à frente dos atores antigos.

As finanças reais estavam combalidas há muito tempo, mas nos dez anos anteriores haviam chegado à beira da bancarrota porque o governo francês empenhou-se em ajudar os Estados Unidos na luta pela independência.

O governo estava falido. Então, pensou em taxar clero e nobreza

O relatório financeiro de março de 1788 mostrava que as despesas somavam 629 milhões de libras, mas a receita alcançava apenas 503 milhões. Só os juros da dívida pública, ampliada pela guerra, devoravam 318 milhões de libras. Mais da metade dos gastos, que se agravavam ainda com a necessidade de abastecer o luxo da nobreza, na corte, com supérfluos de toda ordem. O governo precisava aumentar sua receita, mas sabia que não era possível lançar nenhum novo imposto sobre a massa da população, já exaurida. Pensou, então, em acabar com os privilégios do clero e da nobreza, que não pagavam nenhum imposto, embora fossem grandes pro-prietários. A França tinha então pouco mais de 25 milhões de habitantes, dos quais 80 por cento eram camponeses. Os 20 por cento restantes amontoavam-se precariamente em povoações que mal chegavam aos 2 mil habitantes.

Paris, com 650 mil, era uma exceção — e uma das maiores cidades do mundo. Todas as outras eram modestas, pelos padrões modernos Lyon tinha 135 mil habitantes; Marselha, 90 mil; Bordéus, 84 mil; Nantes, 57 mil. Essa sociedade estava dividida em estados, a forma feudal de estratificação social, em que cada classe tinha seus estatutos, privilégios, obrigações e

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BrasilBrasilÉ enforcado no Rio de Janeiro, a 21 de abril de 1789, Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes. Único condenado à morte entre os participantes da Inconfidência Mineira, revolta contra a dominação portuguesa, fortemente influenciada pelas idéias francesas, pelas “luzes” do século XVIII.

Mais de 40 000 “Cahiers de doléances” foram escritos na campanha eleitoral para os Estados Gerais, como todo tipo de reivindicações, como esta: “Que o Terceiro Estado seja representado nos Estados Gerais por deputados escolhidos por sua ordem”.

modo de vida definidos legalmente.O Primeiro Estado era formado pelo clero, mais ou menos 1

por cento da população. Estava dividido em clero superior, formado pelos bispos, arcebispos e cardeais, tinha vida faustosa, como a nobreza, e possuía cerca de 20 por cento de todas as terras do país. O baixo clero, ao contrário, embora partilhasse dos privilégios do seu estado (por exemplo, não pagar impostos), era formado por padres muitas vezes tão pobres quanto seus paroquianos.

O Segundo Estado era formado pela nobreza, dividida em nobreza de espada, tradicional e orgulhosa de linhagens que remontavam muitas vezes à alta Idade Média, e nobreza togada, formada por plebeus enriquecidos, que compraram títulos de nobreza, e seus descendentes. Compreendia 2 por cento da população, algo entre 250 e 400 mil pessoas. Apropriava-se de um terço de todas as rendas do país e tinha o monopólio dos mais altos cargos do Judiciário, da burocracia, do clero e do Exército.

Os burgueses tinham dinheiro e sonhavam conquistar o poder

O Terceiro Estado compreendia, formalmente, todo o restante da população, mas sua facção mais destacada era a burguesia, uma classe economicamente poderosa. Apesar de participar do poder, mediante a compra de cargos e títulos, seus negócios eram tolhidos pela existência de aduanas in-ternas e pedágios, que impediam e oneravam a circulação de mercadorias dentro do país. Ressentia-se, ainda, da existência de companhias comerciais monopolistas, controladas pelo Estado, que dificultavam sua participação no comércio externo, de um lado; e de outro havia as limitações corporativas à liberdade de trabalho que impediam a livre contratação de trabalhadores. As camadas inferiores do terceiro estado eram formadas pela plebe das cidades, um conjunto de artesãos, operários, pequenos comerciantes e pequenos empresários. Eram os sans-culottes, que teriam, mais tarde, um papel decisivo na Revolução, da qual seriam, segundo o historiador inglês Eric Hobsbawn, "a principal força de choque". Ao seu lado acumulava-se, principalmente em Paris, uma formidável e explosiva massa de miseráveis.

Os camponeses formavam a classe mais numerosa e eram a base da sociedade francesa. A pobreza, entre eles, era generalizada, atingindo níveis dramáticos. O historiador Georges Lefebvre calcula que 10 por cento deles mendigavam, durante o ano todo, de propriedade em propriedade. Eram oprimidos, ainda, por mais de trezentas obrigações feudais que tolhiam completamente sua liberdade.

Na metade do século XVIII, reforçou-se o direito exclusivo da nobreza aos altos cargos da administração e do Exército. A restrição pareceu intolerável ao Terceiro Estado —e foi um erro fatal cometido pelo rei Luís XVI.

A nobreza quis convocar os Estados Gerais. Suicidou-se

Essa combinação de miséria popular e conflito entre os privilégios aristocráticos e os interesses da burguesia tornou-se explosiva quando combinada com a crise financeira da monarquia. Em 1787, o rei tentou criar um imposto a ser pago pela nobreza, que reagiu bravamente a esse ataque a seus privilégios. Foi convocada uma Assembléia de Notáveis, formado por representantes da aristocracia e do clero, os dois primeiros estados que desfrutavam as mesmas prerrogativas, e

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“Primeiramente um cavalo deve ser escovado dez vezes com a almofaça de ferro e somente então podeis vós limpá-lo com a escova macia. Terei de escovar-vos com violência, e quem sabe se chegarei jamais à escova macia.”De um proprietário de terras russo a seus servos, em 1780.

Educação públicaO Marquês de Condorcet defende na Assembléia seu projeto de “uma escola universal, para meninos e meninas, leiga e gratuita, capaz de respeitar a liberdade individual e estimular os talentos”.

ela decidiu que só a nação inteira, representada nos Estados Gerais, poderia criar novos impostos.

O rei fez de tudo para revogar a decisão — prendeu parlamentares, exilou outros tantos — em vão. A rebelião cresceu e a nobreza ameaçada tornou-se porta-voz de uma nação que já não tolerava o poder real absoluto. Em julho de 1788, isolado e pressionado de todos os lados, o governo capitulou e aceitou convocar os Estados Gerais para 1º de maio de 1789.

Para infelicidade de Luís XVI, os debates e a exigência de mudanças já tinham ido tão longe que, inadvertida-mente, ele próprio levou o movimento reformista a um novo andamento ao convocar os Estados Gerais. Os deputados deviam ser eleitos em assembléias distritais, em todas as regiões da França; assim, a crise econômica, que desencadeou a crise política, pas-sou a ser discutida por toda a nação em uma campanha eleitoral cujo tom era a denúncia do absolutismo. Formou-se então o Partido Nacional, uma frente contra a monarquia absolutista, que desejava implantar na França um regime monárquico à moda inglesa, regulado por uma Constituição. Sua organização foi eficaz, e seu comitê central, a Sociedade dos Trinta, reuniu-se desde outubro de 1788 em Paris, congregando homens unidos pela mesma vontade de mudança, como o abade Emmanuel-Joseph Sieyès; Georges-Jacques Danton; marquês de La Fayette; François VI, duque de La Rochefoucauld; Marie-Jean-Antoine-Nicolas de Caritat, marquês de Condorcet; Jacques-Pierre Brissot de Waiville; Adrien-Jean-François Duport; e Honoré-Gabriel Rigueti, conde de Mirabeau.

Com a Assembléia Nacional, o poder começou a trocar de mãos

No dia 5 de maio de 1789, em sessão solene com a presença do rei, foram abertos os Estados Gerais. Na sala de cerimônias, em Versalhes — o palácio que Luís XIV, o avô de Luís XVI, também chamado Rei Sol, construíra fora de Paris —, o clero e a nobreza ocuparam seus lugares, à direita e à esquerda do rei. Para enfatizar a posição subalterna do Terceiro Estado, seus representantes foram amontoados em banquetas, separados das ordens privilegiadas por uma barreira. Luís XVI advertiu contra o "desejo exagerado de inovação". Inutilmente; abria-se ali o cenário do segundo ato do drama revolucionário.

Um novo tema logo somou-se ao debate: os critérios de votação. Havia uma tendência clara de rejeição da forma tradicional de votação, como a adotada até a última vez que os Estados Gerais foram convocados, em 1614: um voto para cada estado. A nobreza e o clero insistiam no critério antigo que favorecia sua posição. O terceiro estado — que representava 95 por cento da nação — exigiu por sua vez o voto por cabeça, que daria posição de destaque à massa da orquestra política.

Era o impasse: a nobreza e o clero queriam uma assembléia com poderes limitados, enquanto a burguesia queria transformá-la em Assembléia Nacional para escrever uma Constituição e impor limites ao poder do rei. Assim, decidiu tocar música própria e transformou os Estados Gerais em Assembléia Nacional, em 15 de junho de 1789, para a qual convocou solene-mente os deputados dos estados privilegiados. Era a rebelião aberta contra a autoridade real.

O círculo íntimo dos colaboradores do rei aconselhou-o a tornar medidas de força, mas dividia-se quanto ao que fazer em seguida. 0 ministro Jacques Necker, um reformista da corte, recomendava algumas concessões para atrair a Assembléia Nacional.

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